Andre Passamani é co-CEO da Mutato, agência que fundou com o Eduardo Camargo e hoje é uma das maiores do Brasil. eles atendem marcas, como: Netflix, Ambev, Google, Samsung, Ipanema, Airbnb e por aí vai.

apesar do sucesso com a agência, o Passamani é um cara super pé no chão e, por isso, conversar com ele é um baita de um reality check.

no bate-papo transitamos por vários assuntos, incluindo as dificuldades da quarentena, relacionamento com clientes, viagens e muito mais. minha vontade era de ficar mais umas quatro horas com o Passa, mas acho que já dá pra tirar bastante valor dessas quase duas horas aí. espero que você goste do episódio tanto quanto gostei de gravar!

LIVROS E ARTIGOS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • José Kazi
  • Bill Murray
  • Michael Jordan
  • Pelé
  • Alvin Toffler
  • Agatha Christie
  • Rubem Fonseca
  • Francis Ford Coppola
  • Martin Scorsese
  • Zico
  • Daniel Cecconello
  • Marc Andreessen
  • Leonardo DiCaprio
  • Hitler
  • Goebbels
  • Osho
  • Jim Carrey
  • Andy Kaufman
  • Roger Stone
  • Gore Vidal
  • Richard Nixon
  • Donald Trump
FRASES E CITAÇÕES
  • “cliente bom nasceu morto” – Andre
  • “desejo é um contrato que você faz com você mesmo para se sentir feliz até você conquistar aquilo ali” – Henrique
  • “as empresas acabam por dois motivos, ou porque não tem dinheiro, ou porque tem muito dinheiro” – Andre
  • “Ser humano custa caro, ou custa caro ser humano?” – Andre
  • “It cost much, staying human” – Andre

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Fala Passamani, seja muito bem-vindo ao calma!, cara é um super prazer ter você por aqui já, tô ansioso por esse bate-papo então não vou nem perder tempo, vou perguntar como é que você tá né, como é que estão as coisas por aí, tudo certo na medida do possível?

Andre Passamani – Na medida do possível tudo certo, seguros, em casa, eu fiquei muito feliz em ser convidado para participar de um podcast que eu vou ganhar calma, então vim aqui feliz da vida

Henrique de Moraes – Vamos lá, vamos ver se eu consigo passar um pouco de calma para você e para os outros né, missão difícil, nesse momento então mas vamos lá. Queria começar perguntando o que você mais gosta e o que você não suporta no home office, já que tá todo mundo obrigado a ficar confinado é bom a gente ter um pouco dessa perspectiva

Andre Passamani – Sim, o que eu mais gosto cara são esses silêncios constrangedores quando você termina uma frase e outra pessoa vai falar, e aquelas interrupções assim, é muito bom cara é tipo The Office, nossa é muito constrangedor, várias vezes eu termino uma frases, e aquele silêncio, e era pras pessoas rirem e ninguém tá lá, e aí a pessoa liga o microfone, e o outro cara você chama e ele não fala, sabe essas coisas? Eu adoro isso, essa parte cômica. Eu vi até um filtro do Instagram que você coloca sua foto junto de uma tela compartilhada com 3 animais de estimação, e bem essa vibe né, eu gosto muito disso, da parte cômica. E a parte que eu acho que é mais difícil é essa separação, pra quem tem família, quem tem filho né, você conseguir montar uma rotina saudável, conseguir não trazer porque você tá dentro de casa trazendo estresse do trabalho e tá levando para o trabalho estresse de dentro de casa porque literalmente as coisas se misturaram, então essa dificuldade de conseguir separar as coisas. Não é nem separar porque eu não sei se as coisas se separam mas enfim, essa contaminação que você tem o tempo inteiro, agora as palavras são todas nessa linha né, contaminação, essa contaminação que você tem entre o ambiente profissional e o doméstico assim é muito difícil né, muito difícil mesmo.

Henrique de Moraes – E você já conseguiu criar algum macete pra lidar com essa situação?

Andre Passamani – Não, é por isso que eu não gosto

Henrique de Moraes – Tá aprendendo né

Andre Passamani – Acho que talvez para mim que tenho criança pequena e tal, por exemplo eu tenho uma uma tentativa que é, ela faz aulas, tá passando quase 4 horas por dia na frente do computador usando as ferramentas do Google que a escola adotou, Google Classroom, e-mail, agenda, então assim eu passo amanhã acompanhando as aulas, dando um suporte né, uma espécie de cara de TI com auxiliar de professor, tirando uma dúvida ou outra e tal, e aí depois que eu termino essa rotina lá pelas 10:30h, 11h que eu tô livre né então isso ajudou um pouco porque já tenho aquele horário para ficar com ela aí depois eu tenho os meus afazeres domésticos aqui que a gente tá dividindo as coisas mais ou menos, então eu cuido da louça, cuido de uma coisa ou outra e eu tenho a sensação de que talvez para mim o que funcionaria melhor seria trabalhar até mais tarde, só que aí de manhã não teria condição de 7:30h já preparar o café e tal, então assim até achei um caminho mas esse caminho ele é meio difícil porque aí você começa a dormir, eu tô dormindo pouco, tô dormindo lá pela 00h, 1h da manhã e 6:30h eu tô acordando, acho que fica mais difícil né e já é dormir pouco demais.

Henrique de Moraes – E ela tem quantos anos?

Andre Passamani – Ela tem 8

Henrique de Moraes – 8? Caraca, e agora fica 4 horas na frente do computador

Andre Passamani – É, não são 4, mas das 8:30h até as 10h com certeza, e às vezes vai até 11h, e à tarde das 14h às 15:30h mas às vezes tem alguma atividade e tal, 3 horas é com certeza, mas às vezes acabam sendo 4.

Henrique de Moraes – É uma mudança né que a gente tá vendo porque a pouco tempo atrás a gente tava tentando evitar que nossos filhos ficassem 3 horas na frente do computador, e agora eles precisam ir pra frente do computador né

Andre Passamani – É, mas eu tenho a sensação de que a gente vai, a escola dela, enfim, a gente é bem crítico com relação ao uso da tecnologia pelas crianças e tal, minha esposa ainda super crítica com relação à isso, e eu tenho a sensação de que a escola tá tateando, mas pra escola deixar a criança menos tempo na frente do computador precisaria de um envolvimento dos pais ainda maior do que tá demandando, isso é que eu acho que pega assim, as pessoas acho que terceirizaram demais né, por exemplo numa família comum é comum você ter pai e mãe trabalhando fora, então os dois ali responsáveis por gerar renda, e aí você tem essa dificuldade porque você não tem tempo pra conseguir administrar essas questões domésticas sem ajuda, a gente aqui tá bem difícil cara, como família assim tá bem tumultuado, tá difícil. Mas acho que é isso cara, acho que também a gente vai aprender daqui a um tempo que, eu sinto isso, que daqui a pouco as escolas também vão ver que essa carga de hora de computador, de conteúdo, ela pode ser dada de outra forma, os pais também vão, a gente vai achar outras formas né que eu acho que, eu vi alguns textos falando sobre isso, que tem muita coisa que uma criança pode aprender no meio dessa confusão que talvez não esteja claro ainda, sei lá

Henrique de Moraes – Todo mundo né, não só as crianças

Andre Passamani – É, mas eu digo assim, pelo fato de estar em casa entendeu, ter uma oportunidade de aprendizado, sabe aquele papo de você fazer aquela conta de matemática de laranjas e bananas na feira mas de repente, tem as coisas da vida mesmo que elas estão presenciando e tal que talvez sei lá, essa coisa do homeschooling é muito diferente né, minha esposa lê um pouco sobre isso e é bem diferente de você seguir uma grade de conteúdo padronizada para todo mundo, é mais difícil.

Henrique de Moraes – Verdade. Cara, voltando pra sua rotina fora quarentena né, vamos matar um pouco da saudade, se é que você tá com saudade

Andre Passamani – Cara, acho que quem não tá com saudade de sair de casa é louco né

Henrique de Moraes – Como é que é um dia na vida do Passamani, você tem alguma rotina que você segue, ou coisas que você precisa fazer pra ter um dia mais tranquilo ou mais saudável, ou mais sereno, ou seu dia é caótico, como é que funciona, você tem alguma rotina certa?

Andre Passamani – Cara então, você falou da quarentena, hoje eu tô fazendo 40 dias de prisão domiciliar voluntária auto-imposta, então é engraçado porque eu reparei assim que de fato cara eu não sei se tem alguma coisa que é tão necessária, sabe? É engraçado como você aprende a viver com menos né, eu sou uma pessoa que gosta muito de comida né, então eu preciso comer bem, sempre precisei, sempre gostei bastante então eu diria pra você que meses atrás eu ia falar “Pô, um japonesinho uma vez por semana”, 40 dias que eu não como num restaurante entendeu, então sei lá acho que a gente aprende a lidar com a vida, assim se você lembrar de onde você vem, do que você já passou, de quem você é de verdade, tem muita coisa que você constrói em volta você e que se torna tão importante e essa experiência surreal, psicodélica que a gente tá vivendo ela também foi uma oportunidade de você ver o que que importa de verdade né, tem muita coisa que a gente, eu, tem muita coisa que eu via um valor e outras coisas eu não enxergava tanto valor assim, vou dar exemplo de uma coisa que eu não dava nenhum valor, aspirador de pó, essa parada tem um valor incrível cara, a máquina de lavar louça, eu sempre dei valor a isso porque eu sempre fui responsável por lavar a louça, então significa que eu precisei de uma máquina pra isso, pra evitar trabalho manual muito grande, e eu sempre dei valor, sempre olhei pra isso tecnicamente, quais são as funções e não sei o que, bem nerd mesmo, nerd de máquina de lavar louça e sempre fui muito crítico, eu acho que ela não limpa tão bem, mas aí hoje em dia eu falo “Pô, que bom que eu tenho uma boa máquina”, ainda que eu tenha que esfregar bem a panela pra arear a panela, que é uma coisa que eu sempre me recusei enquanto eu pude ter ajuda profissional, agora não tem né, 40 dias, as panelas estão ficando deterioradas, um aspecto de panela de presidiário, então tem que ir lá e resolver, então é isso, acho que muita coisa que eu não via valor hoje eu vejo

Henrique de Moraes – Cara eu sou um defensor ferrenho do aspirador de pó, acho fundamental e não sei viver sem

Andre Passamani – Olha, eu preciso te falar que me tornei um fã e cheguei à uma situação que nós temos 2 aspiradores de pó, acho que é um nível de profissionalismo que eu nunca imaginei, numa casa você ter 2 aspiradores, pra que isso? “Um é melhor pra tal coisa, 1600 watts mas ele é muito barulhento, ele é pesado, dói a coluna”, sabe uma parada surreal?

Henrique de Moraes – Muito bom, muito bom, rei dos aspiradores, depois vou pedir pra você uns reviews. Mas cara, no seu dia a dia você faz alguma coisa assim pra manter a cabeça mais serena, você tem alguma rotina em relação à isso? Meditação, ou sei lá, escrever ou agradecer ao sol, cada um tem sua rotina aí

Andre Passamani – Cara, vou te falar que sol é uma coisa muito importante pra mim, eu tô ficando bem preocupado porque a gente vai entrar agora num período de inverno e aqui em São Paulo é mais frio e tal, quando tem um sol que eu posso parar e tomar um sol ali 10 minutinhos é uma coisa que eu me peguei nos dias que não tinha sol meio, eu sou um cara bem pouco, zero namastê, uma pessoa que precisa de calma na vida realmente, e aí eu nunca pratiquei as coisas, nunca dei prosseguimento, fiz yoga e parei, meditação tentei mas não consegui, nunca tive uma disciplina pra relaxar, sempre fui uma pessoa muito pilhada, e eu reparei isso, que o sol tem me feito dar essa, tanto essa recarregada quanto essa acalmada no coração mesmo sabe, de ficar um pouco mais tranquilo.

Henrique de Moraes – É, sol faz falta cara, eu que moro no Rio né, pessoa que gosta de praia, gosta de sol mesmo, de andar no sol inclusive

Andre Passamani – Faço ideia da sensação de prisão quem tá no Rio porque é uma cidade que te convida o tempo inteiro a sair de casa e tal

Henrique de Moraes – Verdade. Bom, pra não ficar triste aqui, deprimido, vou mudar de assunto. Cara a gente a um tempo atrás, alguns meses, teve a oportunidade de bater um papo né, lá na Mutato inclusive e a gente tava falando sobre turnover, de clientes, e você me falou uma coisa que me marcou né, que se você estiver fazendo as escolhas certas, você vai perder cliente, isso porque perder cliente significa que você tá sendo honesto com você e com o cliente também, não sei se você lembra dessa conversa

Andre Passamani – Lembro, na verdade essa frase eu não lembro mas eu gostei de ouvir isso, porque perdemos clientes o tempo inteiro, então entre aquela conversa e agora nós perdemos mais um

Henrique de Moraes – E aí eu fiquei com um questionamento que na hora acabei não fazendo e queria aproveitar a oportunidade, que é você acha que uma empresa, independente da empresa, eu tô falando aqui, nós somos da área de publicidade, agência né, mas pode ser para qualquer pessoa, acho que aplica pra qualquer pessoa né que tá empreendendo, você acha que a pessoa precisa escolher o cliente desde o dia 1 ou você acha que no início é importante aceitar qualquer tipo de job, pra ou ganhar experiência, ou criar portfólio, ou ter uma segurança financeira antes de começar a fazer uma seleção?

Andre Passamani – Eu não sei se eu acredito, é muito louco isso porque, essa frase que eu te disse eu acredito, acho que você perde cliente quando faz as coisas certas, porque é natural, você cresce e aí se você estiver fazendo um bom trabalho naturalmente algumas pessoas vão se interessar pelo seu trabalho mas não necessariamente esse interesse vai ser um interesse que dá liga né, e aí naturalmente esses clientes vão embora ou de repente o cliente com quem você tem uma relação super boa pra ambas as partes, de repente essa relação caduca. Do outro lado, eu não sei se, eu acho que assim, acho que escolher cliente, a frase “vamos escolher um cliente” para mim me dói assim sabe, é arrogante demais, tipo “sério, você quer trabalhar comigo? Que legal, vamos ver como a gente faz isso”, dito isso, eventualmente vai ter alguém que não dá, que aí não vai rolar, entendeu? Porque o cara faz alguma coisa que você não acha correto, entendeu, que você sabe né, eventualmente você conhece o mercado suficiente para descobrir que aquela determinada empresa tem aquela determinada prática que ali é meu limite então assim, mas isso é raro né, você ter alguma coisa com esse nível de problema, então assim tirando essa situação em que você tem alguma coisa muito forte e assim, quando eu falo muito forte tem que ser uma coisa muito forte mesmo, porque eventualmente uma prática comercial que você não concorda você consegue sobreviver à ela, uma questão cultural, tô falando uma coisa maior, então tirando essa exceção acho que o resto não acho que faz sentido você partir da premissa que você que vai escolher o cliente, eu acho que você tem que partir da premissa que você vai buscar ter o melhor trabalho para lá na frente ser escolhido pelo melhor cliente, é muito louco mas é isso, é o quão você consegue ser bom para aquele cliente que você quer um dia te procure, enquanto isso tem o concorrente dele que talvez precise de você e tá tudo bem, agora se você já parte da premissa de que sei lá só atende, eu não sei entendeu, eu sou muito pé no chão com relação a essas coisas, eu acho que as empresas vivem, os profissionais das empresas vivem um grande momento, mas depois aquilo ali volta para um outro lugar, todo mundo tem esse tipo de situação, e de outro lado também uma experiência que eu tive, é um cliente que chega até você e por quem você não dá nada, você estabelece uma relação e alguma coisa ali se transforma e aquele cliente pode se tornar um dos seus grandes clientes da história, isso já aconteceu conosco na Mutato mais de uma vez, então essa humildade acho que é muito necessária. Vou dar um exemplo, quando a gente começou a trabalhar pra Netflix, a Netflix tava lançando a série Hemlock Grove, que é uma série um pouco de terror assim, esse era o primeiro original da Netflix, o primeiro que saiu no Brasil, que teve alguma, e assim não foi uma repercussão positiva, não era uma série maneira, é uma série que não foi né, era uma tentativa, então aquela Netflix era uma empresa, então é muito fácil hoje você fala assim “Trabalho pra Netflix a cinco, com todas as dificuldades que tem numa relação como essa, é um cliente incrível”, a pessoa vai balançar a cabeça e concordar, 5 anos atrás se eu falasse isso o cara ia dizer “Pô mas tem a empresa tal, muito melhor”, então acho que também tem esse lado assim sabe, essa aposta e essa construção nessa relação pode te gerar que um cliente que é legal se torne um cliente incrível. Outro exemplo de um ex cliente nosso era a Avon, quando a nossa relação com a Avon começou, a Avon era percebida de uma maneira amplamente diferente como ela foi percebida à medida que a gente juntos foi construindo um trabalho com apoio de outras empresas de comunicação, mas a gente acho que colocou a Avon no mapa de uma maneira totalmente diferente em termos de publicidade, de comunicação aqui no Brasil, e eu acho que é isso, era a Mutato trabalhando para a Avon não fazia um super trabalho, a culpa era de quem? Era da Avon? Era da Mutato? Alguma coisa mudou sabe, e às vezes é um cliente que chega lá e que chega lá para sacudir o barco e você reage bem a isso e dá certo, às vezes é uma outra situação, e às vezes a sua empresa não sobrevive à esse tipo de chacoalhão né, o cara chega lá para mudar as coisas e você é identificado como parte do problema, então é muito louco porque eu acho que não é uma ciência exata mesmo assim, é uma ciência muito imprecisa

Henrique de Moraes – Foi interessante você falar sobre isso porque me veio uma questão na cabeça que é, quanto você acha, e lógico que você não vai ter um número certo na cabeça mas assim, não precisa falar de números exatos, você pode falar da percepção só né, o quanto você acha que uma marca tem no potencial também de influenciar a agência porque eu acho que, como você falou agora, é uma relação em que um tá influenciando o outro, você tá influenciando a percepção do valor da marca no mercado, você tá influenciando até às vezes a forma de trabalhar, a forma dela se perceber mas eu acho que também, dependendo da marca que você tá trabalhando, você também é influenciado por ela de certa forma né

Andre Passamani – Eu acho que muito, vou dar um exemplo pra você, a Mutato nasceu 8 anos atrás, em setembro oficialmente, a gente nasceu em setembro de 2012, a gente nasceu atendendo a Coca-Cola e o Google, a Coca-Cola era um cliente por alinhamento do WPP e o Google era um cliente com quem na agência anterior eu e meu sócio tínhamos uma relação de trabalho, eles confiavam, as pessoas que estavam lá no Google confiavam no nosso trabalho e falaram “Pô vamos aí, vocês conseguem montar um time pra nos atender”, então assim, atender a Coca-Cola é atender a marca que inventou o Papai Noel, atender o Google é atender a empresa que diz que all is better, então você tinha duas visões de comunicação que eram amplamente diferentes e acho que pra mim a grande obra da minha carreira nesse momento foi assim, entender que eu ia falhar se eu tentasse dar conta dessas duas gigantes sendo uma startup com 16 pessoas, tipo não vou conseguir dar conta disso, vai ficar esquizofrênico, então eu parti a empresa em duas e falei “Uma empresa vai atender o Google, uma empresa vai atender a Coca-Cola. Uma empresa vai se adaptar à um cliente a outra empresa vai se adaptar ao outro, e isso foi assim, libertador pras pessoas que trabalhavam na Mutato e transformador porque a gente de fato conseguiu criar ambientes quase que estanques sabe, virou uma empresa anfíbia entendeu, então tipo o cara cansou de trabalhar para esse cliente por causa de problema X, Y, Z, se eu tivesse condição de pegar esse cara e levar pro outro, ele entende uma realidade é completamente diferente, eventualmente ele vai performar melhor lá, eventualmente ele vai entender que aquilo que o incomodava naquele outro cliente é reflexo de uma cultura que tem várias coisas que ele gosta e que aquele problema pode ser tolerado entendeu, então em resumo eu acho que essa experiência de você ter um cliente com peso, com assinatura, ela é muito a oportunidade, eu gosto sempre de falar duas frases pra quem trabalha comigo na equipe né, a primeira é “cliente bom nasceu morto”, porque nunca vi ninguém gostar de cliente, o cliente é o cara que te dá grana e te cobra, não é uma relação de amizade, ainda que você desenvolva uma relação de amizade com as pessoas ela é uma relação comercial pautada pelo dinheiro, pela entrega de trabalho, tem ali uma tensão comercial muito clara, é tipo você ir no restaurante, o cara chegar na sua mesa  falar “Então, hoje não vai ter almoço, mas tranquilo”, “Não tá tranquilo amigo, eu vim almoçar”, então ela carrega em si uma tensão, porque as pessoas gostam de reclamar do cliente, pô o cliente bom nasce morto, se você trabalhar pra uma ONG, um trabalho pró bono, aquela pessoa que tá ali dedicada a salvar o mundo, no momento que ela virou cliente ela vai te cobrar da mesma maneira que um cliente que tem muita grana vai te cobrar porque o trabalho dele ali é te cobrar, “tô te cobrando, a gente combinou aqui que você ia entregar” então assim, acho que isso é a primeira coisa. A segunda coisa é, o quanto você pode aprender, o quanto esse cara te paga pra resolver um problema pra ele, o quanto esse cara te permite melhorar, aprender é incrível isso, é uma relação que obviamente tem horas que é muito dura, muito difícil, mas que quando você encaixa essas coisas ela realmente pode se tornar uma coisa assim, faz muita diferença ter um cliente bom, ter um cliente que está afim de fazer, ter um cliente que tem genuína vontade de fazer um bom trabalho, um cliente desse te dá uma oportunidade, a grana óbvio qu precisa pagar porque enfim, sistema capitalista, você não troca por amor as coisas, troca por dinheiro, e tá tudo certo, a parte comercial é uma outra que eu tô falando, mas quando você tem um cliente envolvido no negócio que te permite fazer o melhor trabalho possível, isso é muito maneiro

Henrique de Moraes – Com certeza, e essa coisa da relação comercial é engraçado né porque eu ouço muita gente reclamaram de cliente, em todas as áreas, não tô nem falando só da nossa, uma vez eu tava na pizzaria de um amigo meu e tava dando muito certo, e nesse dia ele não tava lá, tava o sócio, e tava tocando o telefone, tocando o telefone e de repente o cara “Puta que pariu, esse telefone não para de tocar o dia inteiro”, aí eu pensei “Não é isso que você quer?”

Andre Passamani – É isso, e eu acho natural que você entre na roda viva ali do trabalho, da tensão e você esqueça isso então assim, por isso que eu faço essa piada do “cliente bom nasceu morto” porque ela também desanuvia porque a pessoa que vem reclamar pra você que tá sofrendo ali com o cliente, ela não quer que você dê um discurso motivacional pra ela, ela quer que você acolha essa crítica e essa chateação, mas se você tá satisfeito ali minimamente com a escolha profissional que você tem, que por exemplo uma parte da minha carreira eu não fui publicitário, fui jornalista, comecei lá e lá eu não tinha cliente na mesa, eu tinha chefe e fontes, que são pessoas com quem troca, são quase que parceiros comerciais né, então ainda que você eventualmente tenha uma certa relação em que o cara tem mais poder e aí você vê uma correlação com o cliente, você tem uma situação ali que depois que o cara te dá o que você quer você faz o que quer com aquela informação, então tem uma relação ali que é diferente, no fim você não tem essa correlação com o cliente nessa carreira, e a dificuldade do trabalho era gigante, eram muitas dificuldades. Então assim, eu acho que o cliente ele acaba virando um avatar dos problemas que você tem porque no fim das contas ele tem um peso de dizer não ou sim para aquilo ali, mas quando não tem o cliente na mesa, quem que é esse cara? É o chefe, e se você tirar tudo isso tem um trabalho, eu passei muito tempo da minha vida olhando pra esses avatares como se fossem a coisa até entender que é um trabalho entendeu, e aí se você tira esses caras e o trabalho é ruim, a culpa é de quem? A culpa é que o trabalho ficou ruim mesmo, então temos que fazer ele ficar melhor, então tem uma parte desse jogo aí que eu acho que é conseguir entender honesta e sinceramente o que faz seu trabalho ser bom ou ruim sem botar a culpa no chefe, no cliente, no amigo, não que cada um desses atores não tenha influência direta no resultado, não é impossível fazer um trabalho ruim para um cliente bom, é possível, mas na mesma forma não é impossível fazer trabalho bom pra cliente ruim, é muito difícil só, mas não é impossível, então eu acho que é isso, o primeiro ponto dessa história é acolher essa crítica que se faz ao cliente, porque é muito doído essa relação. Pensa que o Brasil é um país criado com capitania hereditária então assim, é um país criado por gente que odiava, como cultura lá atrás, a ideia de trabalhar, a ideia de prestar serviço pro outro, o cara era filho de alguém que era amigo do rei, fidalgo, fidalgo é filho de alguém, o cara é filho de alguém que é amigo do rei e ganhava uma terra lá e vivia ali e acabou, não presta conta pra ninguém, então assim, temos na nossa cultura uma dificuldade com essa coisa de ser feirante, de ser comerciante, da pequena burguesia, a gente gosta muito de ser patrão e não gosta nem um pouco de ser prestador de serviço e frequentemente você vê boas pessoas serem muito más com um prestador de serviço né, tipo um hobby fazer uma certa maldadezinha com um garçom, e eu entendo, eu já fui muito ruim com garçom na minha vida e hoje em dia eu acho lamentável, mas eu já fui também, e eu acho que tem essa cultura nossa ou de ser muito brother das pessoas ou ser um cliente muito chato, eu acho que pra mim demorou muito até eu entender que o cliente tava funcionando com um avatar, assim como um chefe funcionava como um avatar da dificuldade que tava no trabalho, que tava em mim por exemplo, na minha dificuldade com lidar com determinadas coisas do trabalho ou em lidar com as dificuldades que são do trabalho em si, e aí eu botava na conta do cara, “então aquele cara que era o problema”, e não é.

Henrique de Moraes – Bom, hoje em dia você é patrão de alguém, mas você hoje está numa posição pra quem olha de fora, pra quem como eu tem uma agência pequena e olha pras agências grandes com admiração, pra esses olhares de fora você atingiu o sucesso né, mas a gente sabe que pra quem tá na linha de frente o termo “bem-sucedido” é meio relativo, e aí eu queria saber pra você o que é ser bem sucedido, se você já tem esse conceito na cabeça, se você se sente bem sucedido, inclusive?

Andre Passamani – Engraçado, eu ia dizer bem sucedido não e parei, respirei e eu acho que é essa coisa, esse momento que a gente vive permite que a gente olhe pras coisas na perspectiva mais correta, então talvez a palavra correta pra eu me definir eu diria que eu me sinto um cara privilegiado. Quando eu olho as pessoas que estão presas em situações assim de isolamento social sem um parente, sem um amigo né, com dinheiro apertado e tal, em situações que são muito dramáticas e tenho alguns amigos mesmo, e parentes que estão numa situação que você fala “Caramba, tá difícil”, então eu acho que eu sou um cara hoje muito privilegiado, não tem como eu dizer para você que não, perto do que eu ambicionei, do que eu sonhei, se eu falasse assim “Então o que é ter sucesso profissional?”, se eu dissesse que é o que eu tenho hoje, eu ia dizer pra mim mesmo “Cara, você tá sendo ambicioso demais, você tá botando a meta num lugar que você não vai atingir e vai se frustrar”, porque eu sempre trabalhei muito com essa questão de ser pé no chão, por outro lado a dureza desse trabalho é perceber que não tem um platô, tipo assim acho que talvez a coisa pior que a gente tem na nossa cultura é essa coisa do “viveram felizes para sempre”, então na empresa anterior que eu e meu sócio tínhamos, chamava Colméia, com meu outro sócio Kazi no grupo de comunicação, a Colmeia começou dando certo assim, a gente botou a marca e ela tava dando certo, o telefone não parava de tocar e as pessoas não sei o que, então você tinha aquela sensação de sucesso, e aí por uns 2, 3 meses eu fiquei embevecido, bêbado com esse sucesso, e aí passou 2, 3 meses e os problemas começaram a vir e eu falei “Ué, mas eu não tinha alcançado o sucesso? Porque tá dando esse monte de problema?”, e aí eu percebi que aqueles 2, 3 meses que eu fiquei bêbado com o que tava acontecendo eu não fiz o trabalho que tinha que ter feito e começou a dar problema, então aquele lugar ali na verdade é transitório, você continua tendo que voltar no dia seguinte e aprender com o que você tá fazendo e ensinar, e colaborar e pra manter aquele lugar e buscar outros lugares, e aquela visão que eu tinha do que era estar no sucesso, eu olho pra trás hoje e falo “Cara, você tava míope, aquilo era uma coisa pequena, tava vendo errado as coisas”, então é muito engraçado isso, porque eu vejo que a gente tem que ter prazer nas coisas que a gente atinge, a gente tem que ter o pé no chão para não botar meta que só vai gerar frustração e dor, eu vejo essa molecada na faixa dos 20 e cara é muito legal ver o sonho dos caras, são sonhos altos, mas me me dói um pouco ver como eles estão despreparados para lidar com as dores da realidade porque são metas que são sempre muito grandiosas, e do outro lado que se você continuar mantendo o rumo e só fazendo o que tem que ser feito, uma parte significativa do trabalho é só fazer o que tem que ser feito entendeu, é não ficar bêbado com o sucesso, não ficar deprimido com o fracasso, não se distrair com sua vida particular, que não é que você não pode sair fora do trabalho, você tem super que se ocupar mas às vezes você se mistura, tem um relacionamento amoroso e ele invade sua carreira de uma maneira avassaladora e quando ele termina também te leva pra um buraco, então conseguir manter ali um equilíbrio, uma separação mínima entre esses dois universos pra conseguir aparecer todo dia lá e entregar, e entender que as coisas tem um tempo, então também é uma outra coisa que a idade ensina, tenho 47 anos hoje e eu acho que só aprendi que as coisas tem um tempo depois dos 35, 36 anos, até essa idade eu era um cara extremamente insatisfeito como as coisas aconteciam, eu tava o tempo inteiro aflito e hoje eu vejo que eu tava aflito antes da hora, eu não tava nem terminando uma tarefa para já ficar sabe, tipo sabe o péssimo cozinheiro? O cara que não consegue terminar um prato e já começa a comer, a coisa tá meio crua, apressado come cru? É isso aí.

Henrique de Moraes – É, conheço a sensação.

Andre Passamani – É, acho que essa ansiedade ela é muito positiva, entendeu, de novo, essa ambição, essa ansiedade ela é muito positiva, o problema é conseguir controlar ela e lembrar do plano, lembrar do sonho, lembrar da realidade em volta pra você tipo, vamos pensar o seguinte, nós estamos vivendo tudo que nós estamos vivendo agora, aí o cara botou lá um sonho material para ele que sei lá qual é, não importa mas que seja, é uma viagem, um carro, é uma casa, é uma roupa e pô tá difícil entendeu, ele vai ficar triste porque ele não comprou um bem material num momento em que tem uma série de coisas muito grande acontecendo, alto lá né meu amigo, vamos refletir, e isso aí que você quer, você realmente tá entendendo o que tá acontecendo com todas as outras pessoas? Então eu acho que tem essa dimensão que às vezes a gente esquece. Se tá ruim aqui, imagina lá entendeu, se tá ruim pra mim imagina pro cara que tá numa situação muito pior do que a minha, eu acho assim que conseguir ponderar é fundamental, e entender que as coisas tem um tempo também, é difícil para caramba entender esse tempo, e eu acho que de novo, isso que tá acontecendo agora é muito interessante por isso, tá fazendo a gente refletir sobre esse tempo né, volta e meia minha esposa, você deve conhecer um filme chamado “Feitiço do Tempo”, é um filme com o Bill Murray que estava no catálogo da Netflix até recentemente, agora acho que não tá, e basicamente é um cara muito escroto, jornalista, que vai cobrir um evento bem meia boca no interiorzão lá, que é um festival da marmota, e ele vai lá fazer esse trabalho, dá um chilique, tem vários estresses e tal, e ao final desse dia ele dorme e acorda no dia seguinte e o dia começou de novo, e ele fica preso nesse dia cara por muito tempo, ele acorda e dorme todo dia, ele vê aquelas mesmas pessoas, continua sendo dia da marmota, aquela mesma festa estúpida que ele foi lá para cobrir entendeu, e ele é obrigado a ter que encontrar os mesmos idiotas que ele não suporta todos os dias e ele começa a entender a vida de uma maneira diferente, e a gente tá aqui preso aqui em casa no dia da marmota assim, porque acorda todo dia, tem que limpar o banheiro, fazer o café, tem que preparar o almoço, tem que ir pro trabalho e aí fim de semana não tem trabalho e você fala “Nossa, alguma coisa aconteceu de diferente na minha rotina”, mas de certa forma tem esse fator dia da marmota.

Henrique de Moraes – Tem uma frase que eu gosto muito que diz que “desejo é um contrato que você faz com você mesmo para se sentir feliz até você conquistar aquilo ali”, e é de certa forma né, a gente fica muito futuro nesse ideal que a gente cria do que é sucesso

Andre Passamani – Tem aquela frase lá que você sofre com eventos do passado, eu sou muito campeão nisso em sofrer com o passado, e temer o futuro, só que você esquece que o único tempo no qual você pode agir e mudar as coisas é o tempo do presente, então esse lance namastê aí de você estar no presente, viver o momento, todas essas coisas de meditação da yoga tem a ver com isso, essa para oriental, eles são muito focados nisso né, em você estar no agora. Tudo isso para mim faz todo sentido porque de fato cara eu preciso fazer planos, eu tenho dois modos de vida, o vida louca e o organizado, se eu não tiver nenhum plano cara, eu fico vida louca total e assim, quando eu era mais jovem eu era muito assim sabe, eu moro em São Paulo há 22 anos em setembro, faz 22 anos que eu moro em São Paulo, na minha vida não sei porque em setembro várias coisas acontecem, mas faz 22 anos que moro em São Paulo e eu não planejei vir pra São Paulo, eu moro há 22 anos aqui e não foi um plano então assim, eu funciono bem nos dois modos, mas são dois modos muito diferentes e eu sei que quando mais velho você fica mais você precisa se planejar pra dar conta da vida, então ao longo do tempo você vai aprendendo a fazer planos e eu vi que eu funciono bem com planos, só que não é natural pra mim, por mim eu seria modo vida louca o tempo inteiro, tipo quando eu viajo eu tô nessa, ou eu programo tudo e tal, porque você viajar com criança sem planejar é muito complicado, mas eu me divirto no dia não planejado, não sei o que vai acontecer, não tem reserva nesse dia no hotel, é muito divertido, mas o nível de estresse tende a subir muito, então pra lidar com a vida adulta, que eu acabei tendo que lidar depois dos 30 anos, eu tive que entrar nesse modo mais planejado que eu preciso botar meta, mas o tempo inteiro cara eu tô lembrando para mim que essas metas são uma obra de ficção, é tipo business plan de uma empresa que vai começar, você precisa ter um business plan porque senão você não consegue fazer uma empresa, você tá fazendo uma banda de rock, tudo bem, monta uma banda de rock e vai assim, se é uma empresa você precisa ter um business plan, só que cara, ele já caducou na hora que você terminar aquele negócio, é só pra você fazer um papel, botar na parede e lembrar qual era o plano e falar “Realmente, agora não dá mais pra fazer”, é pra gerar frustração pra você seguir adiante, eu acho.

Henrique de Moraes – Boa, e se você olhasse pro seu eu de 30 e poucos anos e pudesse falar com ele, dar uma dica ou alguma coisa assim, o que você falaria pra ele ter mais calma? E aí pode ser no sentido de se cobrar menos, de não esperar resultado tão imediato, não se estressar com alguma coisa específica

Andre Passamani – É cara, eu acho que se eu pudesse falar alguma coisa para o meu eu de 30 anos, eu tô com 47, eu queria falar para o cara de 27, seria perfeito, 20 anos, aproveita mais a viagem, não é sobre destino, você tá tenso pra caramba com medo que não vai chegar num lugar bom mas você não tá aproveitando a viagem como você deveria, eu continuo não aproveitando tanto a viagem mas com 27 anos eu poderia ter aproveitado muito mais essa viagem, porque de fato eu sofri muito na viagem, eu acho que talvez seja uma coisa boa para eu dizer para mim, porque ainda não aprendi isso, então é uma lição que talvez se eu começasse a aprender com 27 talvez agora eu estivesse melhorzinho, mas assim, aproveita a viagem, não fica o tempo inteiro remoendo o passado e com medo do futuro, você não sabe, o futuro você não sabe, o passado você não muda, não adianta, toca o barco mas aproveita, acha um prazerzinho enquanto você tá remando, “ah tá doendo pra caramba os braços, tô cansado, não tem ar, sol quente” mas para um pouquinho, esse solzinho é bom né?

Henrique de Moraes – Às vezes a vista e boa e você não percebeu, às vezes um peixinho pulando

Andre Passamani – Alguma coisa cara, alguma coisa tem, porque senão fica difícil pra caramba, você fica mais cansado, mais nervoso, mais tudo entendeu, então acho que eu gostaria muito de ser menos, não menos pilhado porque eu acho que talvez menos pilhado eu não teria energia pra ter feito as coisas, mas eu gostaria de ter aproveitado mais e brigar menos com os outros, pro cara de 30 e poucos ali certamente o que eu diria é que você já brigou tudo que você tinha pra brigar na vida, daqui pra frente cada vez que você brigar você vai perder mais do que ganha, porque essa foi a lição que eu aprendi nesses últimos sei lá, 10 anos, cada vez que eu brigo cara, pensa que eu tenho um montinho de coisa do meu lado e um montinho de coisa do lado de lá, eu brigo porque eu quero uma coisinha do lado de lá, aí eu consigo essa coisinha à muito custo, muita briga e aí eu perco 3 daqui, do que valeu essa briga?

Henrique de Moraes – É mais orgulho do que outra coisa

Andre Passamani – Dialogando, negociando eu consegui muito mais do que brigando, até perdendo, olha que loucura, até perdendo eu ganhei mais do que brigando, não é louco isso? Eu já fiz essa reflexão, eu perdi e na hora foi frustrante e tal mas aí eu ganhei uma liçãozinha ali que eu consegui usar depois e aquilo ali foi muito útil pra mim e me gerou ganhos que eu não conseguia nem imaginar

Henrique de Moraes – É, foi o que eu falei no início, às vezes acho que a gente aprende muito mais com os erros e perdendo do que com as vitórias porque você se sente arrogante ali quando você vence e você acha que é invencível, ou você simplesmente fala “Venci, vamos pro próximo”, enquanto o erro você fica remoendo

Andre Passamani – E o que eu quero dizer com brigar é vamos dizer assim, ser um bom perdedor, eu perdi, o cara é melhor? Em vez de ficar assim “Não porque esse cara, o pai dele, não porque esse cara”, assim ele ganhou, eu perdi, “Parabéns”, pô uma lição valiosíssima pra vida, dê parabéns pro vencedor, entendeu, você perdeu? “Parabéns cara”, e isso ao longo do tempo vai te fazendo forte, o cara que ganha de você passa a te respeitar também, é uma parada que, uma das coisas que eu mais tento ensinar minha filha é a ser uma boa perdedora, a minha esposa e eu ficávamos falando isso com ela, e aí um dia ela pequenininha virou pra mim e falou assim “Eu acho que posso ser uma boa ganhadora”, aí eu “Porque filha?”, aí ela falou “Porque eu já sei perder, papai, eu perco sempre”, eu acho que essa coisa é uma lição muito valiosa, aprender a perder

Henrique de Moraes – Cara, você falou de remar, eu lembrei de uma vez que eu tava na casa de uma galera da praia né, e tinha um caiaque e eu decidi pegar o caiaque e eu olhei, tinha uma ilha que parecia estar perto né, e eu falei “Vou remar até aquela ilha”, e peguei e fui sozinho que nem um maluco e comecei a remar. Chegou no meio do caminho, eu olhei e parecia que eu não tinha andado nada, parecia que a mesma distância de quando eu tava na casa, parecia que tinha pra continuar, eu falei “Não é possível”, olhei pra trás e tava na metade do caminho, eu falei “Caralho fudeu, eu não sei se eu aguento ir até lá, mas também não sei se eu quero voltar e também tô cansado pra voltar, e depois que eu voltei pra casa, eu acabei indo na ilha e voltei, fiz tudo devagarzinho, eu comecei a pensar sobre isso, como empreender é um pouco isso às vezes né, você começa, faz um plano de negócios, olha e fala “Beleza, eu sei aonde eu quero chegar, tá ali, parece perto, parece alcançável, e quando você chega no meio do caminho você fala “Puta que pariu, onde é que eu me meti?”

Andre Passamani – Esse negócio tem um nome muito bom, que é o dilema do custo investido, tá ligado? Que é exatamente isso, todo mundo passa por isso na vida, você fala “Não, agora que eu já fiz até aqui eu vou até o final”, e eu gosto muito do Falha de Cobertura, que é o programa de esportes dos caras da Tv Quase que fazem o Choque de Cultura, e tem lá o craque Daniel que é meu coach motivacional, ele fala basicamente “Não, acredite em você, desista enquanto é tempo”, ele tem frases que me pegam sempre, eu sempre que penso no tanto que investi que não posso desistir, eu penso que eu posso desistir sim, tá tudo bem

Henrique de Moraes – Verdade, e se você pudesse falar pro seu eu de 30 anos lá, de 27, alguma coisa pra ele ter pressa, pra ele ser mais acelerado, tem alguma coisa nesse sentido? Alguma coisa que de repente você poderia ter dado mais importância, que você não prestou tanta atenção?

Andre Passamani – Ah eu sei lá, eu ia dizer uma coisa que é ter filho né, mas acho que não, acho que foi bom, eu tive filho tarde com 38 anos, e acho que foi muito bom ter filho mais velho, mas eu diria pra ele que “se você tiver filho antes, você vai abrir mão de um monte de coisa que você gosta muito, meio que não tem jeito não, você vai ter que amadurecer, vai ter que virar adulto, mas se você tiver filho na época que você vai ter, você vai depois se lamentar que você não teve antes, então conviva com o fato de que esse negócio que você não acha bom, que é a ideia de ter filho, é maneiro”, porque eu só descobri que ser pai pode ser legal depois que eu tive filho, nunca tive grandes vontades de ser pai, aliás não tinha vontade nenhuma e no entanto é muito, eu não sei se eu aproveito plenamente a oportunidade por não ser um cara com essa grande vocação, mas é um negócio maravilhoso, quando você vê um ser humano aprendendo com você de verdade é muito impressionante, você alcança uma dimensão, de fato assim, professor de escola infantil é o cara que devia ganhar o melhor salário da humanidade porque cara, a missão que ele tem é inacreditavelmente importante

Henrique de Moraes – Verdade, eu tenho duas filhas né, uma tem 12 anos já, é a mais velha, e uma que tá com 8 meses e a sensação que eu tenho é que ninguém de fato aproveita 100%, porque tem todo o estresse né cara, é difícil, quando você fica o dia inteiro tem uma hora que você tá de saco cheio, ainda mais quando é bebê e aí eu comparo um pouco também com o empreendedorismo no sentido de você se estressa, reclama todo dia mas sempre quando tem um projeto que é mais legal, que dá certo, é como aquela hora que seu filho vai para dormir e você fica olhando apaixonado “Nossa senhora que coisa linda, quero acordar”, é um pouco assim.

Andre Passamani – É isso, acho que é muito difícil você, e para mim acho que colocou em perspectiva essa coisa do trabalho sabe, o peso que eu dei pro trabalho na minha vida até ter filho eu acho que ele se equilibrou, eu dei muito mais peso pro trabalho na minha vida até nascer minha filha, eu só consegui entender que o trabalho não era 100%, porque de fato para mim era tipo 90, 99%, só consegui estabelecer um peso que seja mais saudável pra lidar com o trabalho da forma que ele é porque não está sob seu controle 100%, depois do nascimento da minha filha, então eu quase que coloco em campos opostos, tipo por exemplo eu não falo sobre trabalho com a minha filha sabe, realmente eu tento separar bem as coisas porque eu não tenho nenhum desejo que ela siga minha profissão sabe, é engraçado isso, eu quero que ela meio que se ache, ache lá o caminho dela.

Henrique de Moraes – É importante né, não tem jeito até porque qualquer esforço que a gente faça eu acho que no final das contas leva pro caminho oposto, você tentar direcionar muito assim

Andre Passamani – Eu tenho receio de na hora de direcionar e ela vir a fazer as mesmas escolhas porque não tem como, ela é criada por você então partilha ali de coisas que desde o começo da vida ela ouve, de contar história, ela é muito boa, ela adora história, adora contar história, adora fantasia, adora coisas que são bem comuns de uma carreira ligada à área que eu trabalho, mas eu não fico pensando assim que seria incrível se ela fosse médica, se ela fosse engenheira, contadora talvez não, contadora não sei se ia gostar tanto, mas é isso, fico achando que tem tanta coisa que ela podia fazer que de repente, ela tem um mundo de possibilidades que eu nem consigo, de verdade não consigo nem imaginar que profissão uma menina de 8 anos vai ter quando tiver 20, qual vai ser a profissão dela, eu não consigo sabe, tipo médica ou engenheira eu consigo imaginar, o resto eu não consigo imaginar, quais são as outras opções que ela vai ter

Henrique de Moraes – E ainda assim, médica e engenheira também talvez exista mas completamente diferentes né

Andre Passamani – Super, eu realmente acho isso e eu acho que esse momento, de novo, cara pensa em toda a transformação que a sociedade vai viver nos próximos 5, 10 anos, eu acho que vai ser bizarro, essa virtualização que a gente viveu à força ela vai deixar uma herança pra gente que vai ser muito doido o que a gente vai ver daqui pra frente, pelo menos o que eu tô enfrentando pessoalmente, como profissional, tá sendo muito, várias crenças que eu tenho eu tô pondo à prova se elas são crenças mesmo ou são hábitos, que só são conformidades de convivência

Henrique de Moraes – E o mais engraçado é pensar que ela vai aprender sobre isso, vai ter vídeo aulas no iPad do futuro sobre isso. Passamani deixa eu te perguntar uma coisa, você tem algum fracasso favorito? Daqueles que te fizeram aprender tanto e te levaram pra um sucesso posterior?

Andre Passamani – Eu acho que eu tenho dois pra mim que são muito, é a mesma coisa, que são duas empresas que terminaram né, a primeira se chamava Super11, era Super11.net, era um provedor de acesso à internet, de acesso grátis, e foi uma empresa que eu saí de uma outra empresa, que era uma multinacional, ações na bolsa e tal, e fui pra essa que era uma startup pequenininha e apostei tudo, achava a equipe muito qualificada e tal, apostei tudo e 6 meses depois ela faliu, 6 meses depois, prêmio homem de visão nenhuma né

Henrique de Moraes – Ainda bem que você não investiu todo seu dinheiro nela também né, virou sócio

Andre Passamani – E de verdade assim, apesar de tudo que aconteceu eu ainda acho que era um equipe incrível. Hoje o cara que era líder técnico dessa empresa trabalha como líder técnico na parte de inteligência artificial no Spotify, o cara é muito absurdo, o principal diretor de arte do portal trabalha na Apple, eram uns caras, era uma galera muito absurda, todo mundo era muito bom, foi a visão que eu tive quando cheguei lá e conheci, obviamente não conheci todo mundo mas conheci uma galerinha e assim, era uma galera de primeira, gente muito boa. E aí acho que eu aprendi uma coisa sabe, que eu sempre dei muito valor à pessoas, equipe, eu tinha uma nóia com essa coisa da equipe, e ali eu aprendi que as coisas podem dar errado apesar de uma boa equipe, não é só a equipe, não é só talento, porque eu realmente acreditava que o talento era tudo ali, na composição de qualquer equipe e ali tinha. E a segunda foi o fim da empresa que eu criei, que eu batizei que era a Colmeia, que a primeira empresa que eu fui sócio, foi quando eu me tornei “empreendedor”, porque na verdade depois eu fui percebendo que essa autonomia que eu tinha não era real, eu não era sócio da empresa de verdade, eu tinha autonomia pra fazer toda uma série de coisas que não envolviam a empresa em si, então eu podia batizar, podia contratar as pessoas, mas eu não era sócio da empresa, me senti muito mal quando essa ficha caiu, e ali eu aprendi que a sociedade ela é uma relação difícil, ela é uma relação que não é só como começa entendeu, eu ouvi uma frase de um cara uma vez que achei muito louca, que é quase idiota a frase de tão genial que é assim, “as empresas acabam por dois motivos, ou porque não tem dinheiro”,  aí eu pensei “caralho, óbvio que elas acabam por que não tem dinheiro”, “ou porque tem muito dinheiro”, e eu pensei “Pô é óbvio que elas acabam porque tem muito dinheiro”, porque uma vez que uma empresa faz muito dinheiro ela cumpriu a função pros indivíduos que estavam ali, o dinheiro mudou a relação do cara com o trabalho na hora que ele tem uma outra relação com o dinheiro, é inevitável, pra mim isso é óbvio, tá no cerne do capitalismo. Mas aí eu entendi que na verdade não, ela muda a relação entre as pessoas, a forma como cada um vê o dinheiro faz com que a chegada do dinheiro afaste as pessoas, porque um cara acha que o dinheiro dele tem que ser guardado, outro cara acha que dinheiro tem que ser gasto, outro cara acha que o dinheiro tem que ficar no caixa da empresa pra enfrentar uma crise como essa, pô vocês vão brigar por causa de dinheiro, mas não é brigar pela mesquinharia, é brigar por uma visão de mundo, e o dinheiro permite que você construa uma visão de mundo, entendeu? Quando você pega o dinheiro você faz o que com ele, entende? E ela é tão óbvia, parece tão idiota mas na verdade ela tem uma coisa ali ue é foda porque você conhece quem é o ser humano, todos esses conflitos que você tem no ambiente de trabalho sempre é isso, um cara que é puxa-saco do chefe, o cara que não sei o que, o fundo dessa história é sempre o dinheiro, é porque o cara vai ter a promoção e um aumento, quando você tira isso fica só a visão de mundo, então imagina se trabalhasse e não tivesse dinheiro, aí vai ter a briga pela cadeira, pelo lugar, vai ter a briga por quem assina, continua entendeu, só que o dinheiro ele é uma manifestação tão absurda de tudo isso que ela extrapola, então aquela briga que talvez fosse pequena ela se torna muito grande porque o dinheiro dá a dimensão que ela pode ter né, mais dinheiro ou menos dinheiro, não ter dinheiro para trocar o computador, então isso dá uma sensação de desespero, e do outro lado você ter dinheiro pra trocar o computador e escolher não trocar porque você quer fazer outra coisa com esse dinheiro, também é uma coisa que pode te levar à um ponto de inflexão, então sei lá, o que eu mais aprendi mesmo foram coisas com esses términos, esses fracassos retumbantes assim, e nos dois o dinheiro estava presente na ausência, e depois disso quando as coisas começaram a dar certo eu percebi que de fato as coisas podem terminar e as brigas podem acontecer quando tem dinheiro porque você começa a se debater com o que que é certo de fazer, e elas por mais que moralmente você tenha uma régua na sociedade, cada indivíduo posiciona essa régua na cabeça dele onde quer, e é difícil

Henrique de Moraes – Totalmente, e desses momentos assim qual foi para você o mais difícil, você chegou a sei lá, pensar em mudar de carreira, mudar de vida completamente ou não, você mudou de certa forma né, porque você foi fazendo uma transmissão ali gradual

Andre Passamani – Tô na minha terceira carreira, então sim eu pensei. Eu diria pra você que quando terminou a Super11 eu não era publicitário, virei depois disso, então olha só mudei de carreira e da primeira pra segunda, eu trabalhava na área da publicidade mas eu tinha muita dificuldade em dizer que eu era publicitário e eu tinha muita dificuldade em achar legal que a empresa que eu tava fosse uma agência, eu queria que ela fosse tudo menos uma agência e então depois que terminou a Colmeia e a gente começou a Mutato eu cheguei à conclusão de que eu não acho que tô fazendo uma agência e no entanto, pra ocupar um lugar no mercado as pessoas vão identificar esse trabalho como um trabalho feito por uma agência e quer saber? Talvez seja isso, talvez eu esteja fazendo uma agência então, mas eu vou fazer a agência que tá na minha cabeça e não a que os outros querem ou a que os outros trabalharam, e lidar com as consequências disso, então eu acho que me levaram à mudanças muito grandes sim, eu pensei sim que eu era um fracasso, que eu era incompetente, acho que sou na verdade bem incompetente em várias coisas e eu consegui enxergar algumas coisas que eu tava fazendo muito errado nessas eventos, mas eu consegui entender também toda uma situação que é macro, assim, se eu botasse o Michael Jordan no meu lugar ali, Michael Jordan do trabalho que eu faço, o Pelé do trabalho que eu tava fazendo naquele momento, eu acho que o destino daquelas duas aventuras seriam parecidos então eu também fiz as pazes com isso, não imediatamente mas ao longo do tempo e perceber que cara, tem muita coisa que você não controla sabe? Demorou, demorou muito mas eu consegui fazer as pazes com isso

Henrique de Moraes – Tem alguma coisa específica em que você se sente incompetente ainda hoje, que te incomode muito?

Andre Passamani – Sim cara, eu tenho dificuldade com horários, atrasei pra nossa gravação, eu tento ser bem pessimista em relação aos horários pra criar uma agenda bem realista mas volta e meia eu me atraso, sempre que eu me atraso eu sei que as pessoas ficam chateadas mas eu já deixei de achar legal me atrasar, ali quando eu era vida louca eu achava muito bom me atrasar, depois eu entendi o tamanho do desrespeito que era aquilo e tal. Mas tem várias coisas, eu acho que eu podia fazer várias coisas melhor, eu não dirijo, taí uma coisa que classicamente as pessoas identificam como um problema, eu não sei dirigir.

Henrique de Moraes – Hoje em dia nem precisa, né cara?

Andre Passamani – Pois é, é interessante isso, mas de fato pode ser que num futuro Mad Max que o pós apocalipse nos traga eu precise sair dirigindo, se bem que eu acho que pro Mad Max, pro modele de dirigir Mad Max eu sei dirigir, talvez eu dirija muito bem, meu problema é dirigir cumprindo as leis de trânsito, só pra deixar claro.

Henrique de Moraes – Muito bom, a gente tá chegando aqui na parte mais final da entrevista e eu vou fazendo perguntas que são mais simples, mais rápidas e aí você não precisa responder de maneira apressada, a gente não tem hora aqui para acabar mas é que são perguntas mais genéricas, já não são mais tão focadas na sua trajetória ou coisa assim. Qual foi o livro que mais impactou sua vida, e não precisa ser só um, pode falar até 2, 3, por aí

Andre Passamani – Cara, quando eu tinha 14 anos eu tive uma crise, começa a chegar aquela fase do vestibular né, eu fiz vestibular com 17, eu entrei na faculdade com 17 e fiz 18 anos já na faculdade então eu era meio adiantado, e quando eu tinha ali de 14 pra 15 anos eu entrei numa crise, porque começou a se falar em vestibular, ter que escolher, e eu não tinha ideia do que ia fazer, ansioso como eu sou, com 14 anos eu tava preocupado pra caramba, e aí eu tinha um amigo que era filho de engenheiro, nunca mais encontrei esse cara, queria agradecer, e ele falou para mim assim “É muito simples, você é bom em que matérias?”, aí eu falei “Ah, eu sou bom em literatura, geografia e história”, aí ele falou “Pronto, humanas”, eu fiquei meio assim “Como assim, o cara escolheu minha carreira?”, e aí ele falou “Agora é só escolher os cursos, tem História, tem direito, pesquisa lá depois”, e aí foi isso, ele escolheu pra mim, e aí passou um mês ali ou dois e meu pai conhece um jornalista, e por algum motivo muito louco ficamos eu, meu pai e ele na casa dele à noite batendo papo, eu nunca tinha feito isso antes na vida e nunca fiz depois, por algum motivo estranho aconteceu isso. E aí nesse dia lá meu pai falou “Ah, inventou que quer ser escritor, inventou que quer ser jornalista”, falou pro cara, porque eu tinha saído desse papo, conversei com meu pai e falei “Ah, acho que jornalista, escritor, gosto de escrever, gosto de ver filme, então quero ser escritor, faz todo sentido, gosto de ler livro, gosto de ver filme, é legal, não preciso trabalhar, quero isso, só me divertir”, e aí meu pai “Faz um curso de verdade e vai trabalhar com o que você gosta, faz lá administração, economia”, e aí o cara ouviu que eu queria ser escritor, ele tinha um filho mas tinha uma relação muito distante com esse filho e tal, então tinha ali uma questão da paternidade dele que era dele, só que ele ouviu um moleque de 15 anos dizendo que queria ser escritor, que pensou em fazer jornalismo, o cara era jornalista. Ele me deu o livro do Sherlock Holmes, “O Cão dos Baskervilles”, e ele me deu “A Era da Informação” do Alvin Toffler, e isso meio que, quando eu olho o peso que tem essas duas coisas na minha vida, então assim essa ficção meio pulp, de consumo rápido do Sherlock Holmes, depois eu gostei de tudo de romance policial eu li, tudo, tudo tudo, Agatha Christie, tudo que imaginar eu li, Rubem Fonseca, tudo, li tudo, de bom, de ruim, de livro de história em quadrinho, tudo que me caiu na mão, todos os filmes, tudo e essa coisa mais da comunicação quase numa dimensão de ficção científica, de olhar essa comunicação do futuro que o Alvin Tofller pregava, e dali abriu um monte de coisa também de bom e de ruim e também foi uma coisa que marcou muito essa questão da comunicação, o binômio comunicação e tecnologia sabe, então foi muito curioso né como é que essas coisas que chegam na tua mão na faixa dos 14, 15 anos elas têm esse poder, e pra mim é evidente quando eu lembro que ganhei esses dois livros do cara e o quanto eu li, o quanto eu me orientei profissionalmente em cima dessas coisas.

Henrique de Moraes – Você já chegou a reler algum desses livros?

Andre Passamani – Cara, engraçado isso, eu cheguei a pegar pra começar e não quis, o Alvin Tofller eu passei o resto da vida negando, zoando e tal e depois me arrependi depois que ele morreu, fui um belo de um idiota porque enfim, eu ter lido com 14, 15 anos não quer dizer que o livro é uma bosta só porque tem um monte de coisa que não é tão bom. Tem essa coisa meio futurólogo eu não gosto de futurólogos, mas perdi uma oportunidade de ter visto mais sobre o assunto e “o Cão dos Baskervilles” eu reli com 17, 18, então não conta, mas eu peguei os dois livros na mão pra reler e não tive coragem.

Henrique de Moraes – Perfeito, sei como é a sensação, já passei por isso. Quem é a pessoa que você mais admira e porque? E assim, pode ser qualquer um, não precisa ser um cara famoso, empreendedor, não precisa ser nada na sua área, pode ser mas pode ser também na sua família, pode ser qualquer pessoa

Andre Passamani – Tem vários caras que tenho uma relação distante de ídolo, um cara específico é o Coppola, eu tenho uma admiração muito grande pelo Coppola, o Coppola e o Scorsese meio que andam juntos na minha cabeça, li bastante sobre a carreira dos caras, ítalo-americanos, Nova York e tal, mas eu alterno entre esses dois caras o tempo inteiro como ídolos do ponto de vista de cinema, gosto muito de cinema e tal, então alterna entre os dois mas é engraçado que eu penso nos dois e falo do Coppola mais, acho o Coppola um cara muito absurdo assim, agora eu não sei cara, eu tenho um negócio na minha cabeça que é o seguinte, quem tem mais de 30 anos não pode ter ídolo, entendeu? Tá errado, essa cultura do ídolo é a cultura que ferra a sua relação com o outro, você idolatrar gente porque você chegar perto de alguém, todos as pessoas por quem eu nutria uma certa idolatria e de quem eu me aproximei mais eu me decepcionei bastante, então por exemplo, meu ídolo maior na vida é o Zico, eu sou o cara que ama o Zico acima de qualquer pessoa e todas as chances que eu tive de ficar cara a cara com o Zico, e foram umas 3 ou 4, eu fiz questão de evitar o contato, porque assim, eu não sobreviveria ao Zico ser cuzão comigo, entendeu então assim, e todos os caras por quem eu nutria uma admiração muito grande prévia, e eu tive a chance de estar perto do cara profissionalmente, eu me decepcionei porque no fim eu acho que é só porque a expectativa era uma expectativa que não é possível de ser cumprida na realidade, então eu queria retirar o Coppola e o Scorsese, dizer que não quero idolatrá-los e que sou pra idolatrar alguém é só o Zico mesmo por esse eu já evitei conhecer várias vezes, já evitei me apresentar e dizer que eu queria que meu nome fosse Arthur, e umas babaquice desse tipo porque é muito constrangedor se ele for babaca comigo

Henrique de Moraes – Muito bom cara, essa opção por não estragar a imagem que você tem da pessoa, é você não permitindo ele fazer isso com ele mesmo

Andre Passamani –  É isso, deixa o cara lá, e se ele for legalzão comigo, o que ele vai estar fazendo além de confirmar a minha idolatria? Nada, então é uma relação que você não tem nada a ganhar, só tem a perder, matemática simples.

Henrique de Moraes – Muito bom, muito bom. Qual foi o melhor conselho que você já recebeu? E assim, não precisa ser de uma pessoa também, pode ser de um livro, podcast, qualquer coisa.

Andre Passamani – Olha, eu não sei, o meu pai me deu um conselho que eu não segui, então eu não sei se vale

Henrique de Moraes – Vale, com certeza, aliás nossos pais fazem muito isso, e que a gente só vai perceber depois

Andre Passamani – Exato, mas é engraçado porque eu não fui um adolescente contestador, eu achava meu pai um cara legal, então eu não contestava, tinha uma admiração, é engraçado eu nunca tive essa relação típica da adolescência, não aconteceu comigo. A coisa mais próxima que talvez tenha acontecendo foi com relação à essas escolha de vestibular aí, que ele falou “Faz economia, faz administração, faz filosofia, faz um curso clássico, mas faz um curso clássico que te dê uma carreira, acho que economia é muito legal”, mas ele abrindo, tipo “Cursos clássicos, então todos esses aqui”, ele tinha feito engenharia, administração, completou administração e não completou engenharia, “Isso que você quer na verdade não é um curso, você quer trabalhar nessa área, mas você não precisa escolher, fechar tanto, escolhendo ter diploma de jornalista”, e cara na época eu achei assim “Ele tá me enrolando”, e depois ao longo da vida foi isso, eu percebi que foi muito legal fazer minha faculdade, eu fiz comunicação social e aí eu alternei entre publicidade e jornalismo por 3 vezes, eu entrei na faculdade, escolhi jornalismo, mudei pra publicidade e voltei pro jornalismo, e me graduei depois de longos 6 anos, quase 7, e o que eu percebi é isso, que eu podia ter feito como optativa, eu tava fazendo uma federal então podia ter feito uma faculdade de economia, administração, qualquer coisa que fosse, que ia me dar uma série de ferramentas e falar “Pô, eu quero aprender sei lá, roteiro, vou lá fazer essa aula como ouvinte, como optativa”, enfim dava pra fazer isso numa faculdade pública federal, então é muito louco porque é um conselho que eu acho incrível e eu não segui.

Henrique de Moraes – Acho que essa coisa dos conselhos dos pais não necessariamente só quem tem a relação difícil ou aquela clássica relação de adolescente com os pais que não segue, acho que a gente não segue a vida inteira pra em algum momento dar um soco no estômago sabe

Andre Passamani – Faz todo sentido, faz todo sentido, vários conselhos volta e meia eu percebo

Henrique de Moraes – Pois é, e depois que a gente é pai então, aí que fode tudo mesmo

Andre Passamani – Fode tudo, você vira sua mãe e seu pai, acontece uma coisa e você fala “Cara, eu ouvi tantas vezes essa frase, que agora que a situação aconteceu eu tô repetindo ela”. Adestramento

Henrique de Moraes – É muito bom. Você tem alguma frase favorita?

Andre Passamani – Cara, eu não sei se conta como frase favorita mas eu tenho uma frase que tatuei no braço, então na falta de outra deve contar né. A frase é um inglês, eu traduzi porcamente pro português e do meu jeito, então vou falar a frase porcamente traduzida mas ela não é essa, é “Ser humano custa caro, ou custa caro ser humano?”, eu gosto muito da ideia que tá embutida nisso do ponto de vista mais humano mesmo, da dificuldade que é assim ser gente e não virar outra coisa, não virar bicho, mas a frase é uma frase meio de ficção científica que é “It cost much, staying human”, custou muito permanecer humano, e ela é uma frase quem toda uma dimensão the cyberpunk, sci-fi ali que era uma espécie de micro conto e o cara que escreveu fala muito dessa coisa da mistura da tecnologia com o ser humano e tal, essas mudanças que a gente vem vivendo.

Henrique de Moraes – Qual que é o conto? Ou o autor?

Andre Passamani – Foi uma experiência no começo do Twitter, a Wire pediu para vários escritores mandarem microcontos, eram microcontos de 140 caracteres, então era isso, uma frase que fizesse você imaginar uma história, e tinham várias que era bem apocalípticas, e essa era uma delas, e aí dessas outras coisas né, eu fui conhecer esse cara, eu tava lá no South by Southwest e de repente eu vejo esse cara dar uma palestra, e aí eu falo “Pô que incrível o cara”, aí eu falei com uma galera “Olha que louco o cara e tal”, e aí depois, o evento é um evento de rua e você circula por vários lugares, aí passou um dia, eu to andando na rua com um cara pra quem eu falei isso, e o cara falou “Não, você vai falar com o cara, olha ele ali”, e pegou e me levou pra falar com o cara, e aí eu falei, aí cara foi lá, tentou ser simpático e tal mas de novo, pra que né? Foi uma bela de uma bosta, ele tentou mas ele é um cara, escritor, não é um cara normal, e aí ele tentou no melhor que ele podia ali mas claramente ele cagou.

Henrique de Moraes – É engraçado, eu tenho esse mesmo problema que você quando eu vejo alguma pessoa que eu admiro ou algum ídolo, eu também não faço nada, eu olho e falo “Que legal, tal pessoa”, porque a minha questão é sempre essa também, uma, se eu for lá e o cara for babaca eu vou ficar puto pra caralho e vai mudar a admiração que eu tenho pela pessoa, e o segundo que às vezes por exemplo, as pessoas costumam tirar foto, mas o que eu vou fazer com uma foto dessa pessoa sabe, não tem contexto, eu tava no aeroporto, eu vi uma pessoa e queria uma foto com ela no aeroporto, eu não tiro foto com as pessoas que eu amo no aeroporto porque aeroporto é horroroso, é um ambiente de merda

Andre Passamani – Eu nunca consegui ter essa relação com autógrafo, com a foto menos ainda mas nem com autógrafo, nunca consegui ter essa relação, eu nunca consegui ver como é que o cara se apropria daquilo, sei lá um autógrafo num livro eu entendo, mas hoje eu fico pensando, se eu tivesse uma, o Zico poder assinar uma camisa clássica do Flamengo dos anos 80 eu talvez tivesse que guardar de um dia especial, fazer um quadro, alguma coisa e tal, mas vai ficar acumulando mais, já tem tanta coisa acumulada, e por mais que eu seja muito, goste muito de futebol, gosto muito do Flamengo, que coisa bizarra uma camisa emoldurada, negócio feio pra caramba, não sei também enfim, nunca consegui ver um propósito, e essa coisa de você chegar ali gaguejando, se você realmente gosta da pessoa, porque se você tem uma relação mais tranquila, tipo eu já conheci vários caras que eu tenho admiração, mas não é, é uma admiração de ídolo, sua pergunta foi sobre um ídolo, então aí eu acho que, quanto mais eu penso assim, tá errado ter um ídolo, se você tem 30 anos você já é adulto, corta esse papo de ídolo, é outra história.

Henrique de Moraes – Cara, uma vez eu viajei e eu descobri que o meu baterista preferido de todos os tempo, eu toque bateria minha vida inteira né, parei depois de velho, mas ele tava tocando em uma cidade que ficava tipo há 2 horas do lugar que eu tava né, e aí eu falei “Vou ter que ir lá”, e aí tinha um amigo meu também que era baterista e a gente foi, a gente estava em Orlando e foi pra Jacksonville, e chegamos lá cara num lugarzinho pequenininho, casa de shows pequena, dessa que toca a banda do seu amigo em São Paulo sabe, e ele tocou muito perto da gente, porque a história é a seguinte, ele tinha saído da banda que tocava que era o Dream Theater, não sei se você conhece, e ele tava tocando com uma galera, tava tocando com os amigos lá então um show bem informal, e aí quando acabou o show a gente foi falar com o cara da equipe “Pô a gente é do Brasil, é apaixonado por ele, teria como bater um papo, falar rapidinho se não for muito incômodo né, se ele não estiver muito cansado”, aí o cara falou “Pô vocês são brasileiros, vou tentar falar com ele sim”, aí resumindo a gente conseguiu falar com o cara depois de muito tempo, a gente estava cansado e aí ele saiu. Cara quando ele saiu, não saía uma palavra em inglês, é impressionante, é tosco, ridículo, queria enfiar minha cabeça num buraco ali e pedir desculpas

Andre Passamani – É, ou fala uma parada totalmente idiota né, basicamente era melhor não ter falado, mas enfim, o fato é que eu acho que no fim, depois dos 30 você passa a ter que entender as pessoas numa dimensão um pouco mais humana mas um pouco mais generosa também, de entender que tá tudo bem, o cara teve um dia ruim e não sei o quê. Então assim, acho que conhecer um ídolo seria muito incrível se houvesse uma situação propícia, tipo você foi na casa de um amigo do cara e o cara tava lá, mas é totalmente diferente, as situações que eu via era aeroporto, o cara indo gravar um comercial, então acho que é isso mesmo, um, não tenha ídolo depois dos 30 e dois, ir lá pra pedir autógrafo? Não dá né, pra que você quer um pedaço de papel?

Henrique de Moraes – Verdade, e que vai ficar numa gaveta envelhecendo, enfim. Cara, qual foi o lugar que você mais gostou de conhecer, você tava falando do SXSW e eu lembrei né de viagem, tem alguma cidade ou um país?

Andre Passamani – Olha, eu gostei de alguns, é muito engraçado você falar isso porque a gente tava falando outro dia, como é que vai ser voltar a viajar né cara, viajar pra mim é um negócio muito incrível, foi incrível pra mim viajar, tô falando considerando o fato que eu nunca mais viaje, sei lá né, não sei se vou viajar de novo, então pensando nisso, que eu não sei quando, se vai rolar de novo, todas as viagens foram incríveis, conhecer Nova York, conhecer Amsterdã, conhecer Paris, conhecer Cannes, conhecer Portugal inteiro eu conheci, Barcelona, a Itália inteira eu conheci, a América Latina não conheci inteira mas conheci substancialmente, o Brasil não conheci inteiro mas conheci substancialmente, e incrível poder viajar, pra mim é incrível poder ter ido pra Bahia e ter ido pra Portugal e perceber que essas duas viagens pra lugares que são aparentemente tão diferentes, elas se complementam entendeu? Ter ido pra São Luís do Maranhão e ter ido pra Paris porque meu amigo, elas se complementam demais, é muito louco como São Luís tem alguma coisa francesa nela que eu não sei explicar, e puta papo de pernóstico e eu acho que é doido, é doido você poder conhecer os lugares e você perceber que várias coisas que são verdadeiras sobre você ou sobre aquele lugar que você conhece, tipo assim eu conheço o Rio mais ou menos e tenho várias verdades sobre o Rio de Janeiro que eu já tinha ouvido falar antes e aí eu vou pro Rio e aprendi outras, e confirmei algumas e cancelei algumas verdades, descobri que elas não eram verdade, elas eram piadas né então a luz desse fato de que a gente não sabe quando vai voltar viajar e como vai ser viajar, porque olhando hoje né nesse cenário ficar 12 horas preso num espaço super confinado com 300 pessoas não parece uma boa ideia entendeu, deve ser uma bomba de contágio total né, então à luz disso eu não sei como é que vai acontecer viagem daqui pra frente que não seja de carro,e olha eu não sabendo dirigir que merda que não vai ser, mas eu adorei conhecer cada um desses lugares, se tenho um fato a lamentar é não ter viajado mais, não ter conhecido mais lugares, porque eu acabei voltando muito nos lugares que eu gostei, fui duas, três vezes pra Paris, pra Itália, pra Portugal, pra Bahia, pro Maranhão, cada lugar que eu gostei eu tentei voltar, e aí não fui no Peru, fui em vários lugares da América Latina mas não conheci o Peru e acho que seria incrível, não conheço o México, não conheço Cuba, são lugares que eu acho que tem tudo a ver com o Brasil, por uma coisa que eu não sei nem explicar exatamente porque, e eu não conheço, então se tem um lugar que eu gostaria de conhecer? Todos, se tem um lugar que eu queria destacar que eu conheci é inevitável dizer que São Paulo, porque minha vida virou aqui né, eu não sou daqui, ainda que eu tenha várias reservas a São Paulo, várias crises com essa, eu nem moro em São Paulo na verdade, moro em Cotia que é um município vizinho, mas do jeito mais pragmático, a cidade que eu adorei conhecer foi São Paulo porque mudou minha vida, eu não sei quem eu seria se eu não tivesse vindo morar aqui.

Henrique de Moraes – É, eu fui pouco pra São Paulo, conheço pouco mas toda vez que eu vou eu gosto muito, é um dos lugares do Brasil que eu mais gostei de visitar, mais do que algumas cidades de praia, paradisíacas e tal

Andre Passamani – Você é um carioca fora do padrão

Henrique de Moraes – É, eu curto a vibe, a coisa de você estar andando e encontrar lugares incríveis do nada, é uma coisa meio européias, meio Nova York também sabe, você vai andando, só vai caminhando ou pega uma bike e dá um rolé e você vai descobrir lugares incríveis, acho isso muito legal

Andre Passamani – É, São Paulo eu tenho vários momentos com a cidade, de gostar mais ou menos, de odiar, odiar pouco, nunca consigo chegar no meio do caminho, num ponto de dizer “Ah, isso é São Paulo”, São Paulo é muito grande, é impossível você dizer que conhece bem a cidade de São Paulo, eu descubro, por exemplo a zona leste, se você tirar a zona leste de São Paulo mais da metade ficou  na zona leste, e eu fui na zona leste sei lá, 10 vezes, 20 vezes na minha vida, sacou, não conheço 50% da cidade, a mesma coisa acontece com a zona sul, que também Santo Amaro era uma cidade, ali tem todo um pedaço que era outra coisa, então você não consegue muito conhecer a cidade de São Paulo direito, ela é muito grande

Henrique de Moraes – Você falou uma coisa engraçada, que todo lugar que você gostou você quis voltar né, e a gente tem esse hábito né, e é um hábito engraçado por exemplo, traçando um paralelo com a rotina que eu tenho com a minha esposa, que toda vez que a gente vai num restaurante eu quero experimentar coisas novas e ela quer pedir a mesma coisa sempre, e a gente tem muito isso com viagem né

Andre Passamani – Eu tenho, esse negócio do restaurante tenho uma parada que é a seguinte, tem alguns restaurantes que eu vou que eu peço o mesmo prato, por exemplo um restaurante de massas que tem aqui em São Paulo que ele tem um prato chamado strozzapreti com lula e linguiça no molho picante, essa massa chamada strozzapreti eu só vi lá, esse molho eu só vi lá, é bom demais, quando eu vou lá eu já falo “Não vou pedir outro prato”, porque assim, eu posso ir em vários outros restaurantes de culinária italiana e pedir esses outros pratos, lá eu vou comer aquele prato que eu só como lá, porque eu nunca vi esse prato no cardápio de ninguém, então eu tenho isso, tem alguns restaurantes que eu vou pra comer um prato, nem quero experimentar outro, “Ah legal, que bom que tem, experimenta aí você e depois me conta se é bom, eu já tenho um favorito”.

Henrique de Moraes – Mas com viagem isso é engraçado, eu por exemplo que também adoro viajar, eu fico às vezes querendo voltar em lugares pra levar pessoas que eu gosto, então eu tenho uma pilha por exemplo de levar meus amigos pra visitar Orlando, mas não pra ir na parte que todo mundo conhece, porque eu tenho família em Orlando, então eu conheço vários lugares que ninguém nunca foi, e tenho uma vontade de ir com meus amigos, só meus amigos e levar eles pra conhecerem todos esses lugares que eu tanto falei, que eu repito sempre, e eu já fui pra Orlando umas 7 vezes por causa da família não gasto nada, às vezes eu já fui pra lá e gastei menos do que se eu estivesse aqui, porque eu ficava preso na casa do meu primo, não tinha como sair de carro, não tinha carro pra andar, então acabava gastando menos e assim, não faz sentido se for parar pra pensar “Porque você vai voltar pra Orlando? Vai pra outro lugar”, por mais que você gaste pouco, você vai gastar alguma coisa, ainda mais hoje em dia com o dólar caro mas a gente fica com essa vontade de ver algumas coisas de novo, enfim, é uma coisa estranha porque a gente não conhecia esse lugar quando a gente foi pela primeira vez, e foi incrível conhecer né, ter esse primeiro impacto

Andre Passamani – E nunca é igual

Henrique de Moraes – Nunca é igual, e a gente continua insistindo nessa coisa de voltar

Andre Passamani – Mas eu tenho um negócio que é assim, eu acho que lugares que eu gostei muito de conhecer, primeiro que eu acho assim, o surgimento do Airbnb foi incrível, porque eu acho que realmente pra você conhecer um lugar tem que ter essa rotina meio de morar no lugar sabe, que o Airbnb proporciona, é totalmente diferente de você morar num hotel, não acho que seja uma relação de conhecer o lugar, porque a dinâmica muda muito, você descer, tomar um café na padaria, ir no supermercado, enfim, essas coisinhas eu que elas cumprem um papel, e aí acho que tem isso, eu uso como exemplo a primeira vez que eu fui pra Portugal, no dia que eu cheguei tinha um amigo que tava participando de um processo de aceleração de startups lá em Portugal, então ele estava morando lá, e aí no dia que eu pousei lá eu postei uma foto no Instagram e ele mandou a seguinte DM pra mim, “você chegou no dia mais especial que você podia chegar, eu tô aqui há dois meses e meio e os caras estavam super carrancudos e tal”, era junho então ia começar o verão, ele falou “hoje parece que eu entendo que chegou a primavera aqui porque não é o verão ainda”, pro nossos padrões, estava frio e tal “mas eu vi eles mudarem, tô vendo hoje eu não sei a cidade acordou diferente, cara você deu muita sorte”, e eu cheguei lá, achei meio frio e tal aí eu ia até Barcelona e voltava, fui e voltei e quando voltei tava quente, aí estava mais quente e as pessoas estavam diferentes, e eu percebi, falei “Cara, realmente, aqueles dias ali as pessoas estavam tão alegres, tão felizes” e com nada, só com o fato de estar começando a esquentar, e então aí depois eu voltei mais no verão, era outra época e outro lugar, enfim, eu acho que tem isso, você fica meio que querendo um pouco daquela coisa que você viveu ali mas sempre vai ser diferente, uma vez que você entende isso e não tenta repetir é muito legal, porque é muito legal você poder conhecer, que nem você que não conhece tanto São Paulo mas gosta, é a mesma coisa com o Rio, eu não conheço tanto mas eu vou e gosto, e aí ter essa recorrência de ir no Rio de vez em quando, cara é incrível, eu entendo que o Rio passa por momentos difíceis pra caramba mas é uma cidade absurda, incrível, maneira, e tem uns problemas bizarros que são incríveis também porque são meio surreais, os problemas que você tem com taxista no Rio, a prefeitura deveria criar um programa de taxista figura pra vender pro turismo, pra tornar segura a experiência de você passar por um perrengue com esse profissional, porque é incrível, é cada história inacreditável. Então assim, acho que tem umas coisas que não é o bom da cidade necessariamente, pode ser o ruim mas uma vez que você entende que o mais ou menos, o ruim, você não vai morrer com aquilo, aquilo tem um charme também, você ser xingado pelo garçom no Rio de Janeiro, as pessoas te levarem no bar Lagoa, é um negócio inacreditável, é tipo “Que porra tá acontecendo aqui?” mas é legal também entendeu, é legal uma vez que você entende que aquilo ali é o Rio, ir no Bracarense e não ser atendido porque o cara não te conhece, enfim acho que meio que você decodificar o lugar, entender minimamente e ao longo do tempo você ver aquele lugar também mudar, e é muito maneiro, muito bonito então eu sou uma pessoa que se tornou ao longo da vida, eu não era, apaixonado pela viagem, minha esposa que é uma pessoa que sempre falou para mim que eu trabalho para ter dinheiro, eu trabalho pra ter dinheiro e tempo pra viajar e estudar, ela falava isso quando eu conheci ela, e eu achava isso meio bobagem, mas ao longo do tempo eu me tornei uma pessoa fascinada por viagem eu não era

Henrique de Moraes – Passei também por isso, demorei, resisti bastante mas depois que eu fiz a primeira eu comecei a me ver que nem a sua esposa, é juntar dinheiro para viajar

Andre Passamani – Eu também, por isso que eu falo assim, tocado pelo momento que vivemos, é o podcast mais datado que você vai gravar porque eu só tô falando disso, mas tocado pelo momento que vivemos eu tô muito nessa assim “Pô, será que nunca mais eu vou viajar da mesma forma? Como é que vai ser?”, então eu já tô viúvo assim, na dúvida deixa eu já curtir o que eu curti lá e eu não consigo escolher uma cidade só, mas São Paulo porque eu moro aqui.

Henrique de Moraes – Cara, então são as duas últimas perguntas aqui, uma é você tem algum hábito bem incomum ou estranho assim que você ama e as pessoas estranham?

Andre Passamani – Eu realmente tenho o hábito de todo dia consumir conteúdo da internet que me faz mal, abrir o Twitter, abrir o YouTube e ver aqueles vídeos bizarros, aquelas notícias bizarras, aqueles comentários bizarros demais, mas tem hora que eu penso “Putz, o que eu tô fazendo, tô me envenenando com essa parada”, mas eu gosto, gosto de falar que manjo da cena do YouTube brasileira por mais bizarra que ela seja eu tenho uma boa noção, bizarra não no sentido de ruim, tem coisa muito boa mas que é muito interessante, muito psicodélica tipo, umas coisa que eu descobri recentemente foram os videos de pedreiro cara, tutorial de pedreiro, como cimentar uma laje, como fazer uma cobertura com material vinílico no piso do banheiro, umas paradas muito doidas, muito loucas e da mesma forma que tem isso tem de tudo e qualquer coisa, uma cena que eu descobri, eu não dirijo e tal, foi a cena dos carros cara, a quantidade de canal fazendo project car, cobrindo a cena de carros tunados, é muito louco, e tem isso pra tudo, pensa que eu falei duas coisas masculinas agora pensa em duas coisas femininas, unboxing de brinquedo, cara é inacreditável e acho que YouTube nessa dimensão de entretenimento e essa coisa do Twitter com relação à notícias e aos comentários ali que parecem muito fortes e na verdade é um ambiente até pequeno perto dessa sociedade, muita coisa que acontece no Twitter ninguém nem fica sabendo, enfim, volta e meia percebo que as pessoas, por esses comentários que eu faço falam “Cara, você tá jogando seu tempo fora, sério que você viu vídeo de pedreiro? Você não dirige e viu vídeo sobre mecânica, o cara reformando carro, que sentido isso faz, o que você tá fazendo?”, aprendi sobre diferenciais, que se você tiver um diferencial Dana o seu Opala não sei o quê, perda de tempo.

Henrique de Moraes – Muito bom. Vou acrescentar uma pergunta aqui cara, você tem algum filme ou documentário favorito?

Andre Passamani – Eu gosto muito de documentário cara

Henrique de Moraes – Difícil escolher um né?

Andre Passamani – Difícil para caramba escolher um, se me der um tempinho eu vou lembrar

Henrique de Moraes – Beleza, você já viu esse da Netflix que é “Don’t Fuck with Cats”?

Andre Passamani – Cara eu parei porque eu não consegui ver até o final, é perturbador demais pra mim, é tipo um catfish do mal, é perturbador cara, perturbador

Henrique de Moraes – É cara esse negócio é muito louco mas eu assisti até o final e o final é a coisa mais surpreendente e louca e incrível e tudo ao mesmo tempo que eu já vi cara, eu me senti mal depois do documentário porque eu não sabia se eu tava sendo uma pessoa decente por achar aquilo incrível, se eu tava sendo humano

Andre Passamani – Esse documentário “A Máfia dos Tigres” lá, cara esses documentários de crime da Netflix assim são assustadores, são muito bom, eu não sei se consigo escolher um, gosto de tantos, vou tentar, se eu lembrar de um aqui.

Henrique de Moraes – E por último, você tem recomendação de podcast ou apps, pessoas que você gosta de seguir online, alguma coisa assim?

Andre Passamani – Pô hoje o meu sócio Daniel Cecconello falou de um, eu gosto muito de um podcast que chama “a16z”, eu gosto muito desse nome porque esse a16z é o endereço de uma empresa de venture capital que se chama Andreessen Horowitz, e o cara pegou a primeira letra e a última letra do nome da empresa e botou que tem 16 caracteres no meio, eu achei genial esse nome, e o último episódio que saiu essa semana que nós estamos gravando chama “time to build”

Henrique de Moraes – É deles dois, porque esses dois são geniozinhos né?

Andre Passamani – Isso, eles tem uma empresa de venture capital e a propaganda que eles fazem é o conteúdo do podcast, e aí foi publicado dia 18 de abril de 2020, o Marc Andreessen que é o cara que fez a Netscape, que foi o primeiro browser comercialmente da internet, então pra gente que é mais nerdzinho esse tipo de coisa importa

Henrique de Moraes – É um dos caras mais incríveis né cara

Andre Passamani – E pensa que a tagline da empresa do cara é “software is eating the world”, “o software está comendo o mundo”, que foi uma capa de matéria da Wire se não me engano, acho os caras como empresa de venture capital os caras eu acho muito bons, e o programa é baseado num artigo que ele escreveu que chama “Time to build” e basicamente ele tá falando de tudo que nós estamos vivendo, da pandemia e tal, e eu achei muito interessante ver alguém propor essa perspectiva né que é a gente não estar conseguindo enxergar um futuro, deu pau na máquina, a gente não consegue imaginar o que vai ser o amanhã, e aí ele fala isso, que uma parte do problema é gente não conseguir enxergar, mas a outra parte é o que a gente não tá fazendo agora pra construir, então não agir agora é a grande falha possível, então assim, óbvio que você agir pra fazer uma grande cagada não é bom, mas existe o básico do básico que você tem que fazer, sei lá eu achei, foi a coisa otimista, eu gostei de poucas coisas otimistas que eu li até agora, e essa me pegou porque eu achei que é um chamado que eu consigo responder bem, que é hora de construir, ainda que você não saiba exatamente o que você tá construindo, é hora de pensar no que você vai fazer e não esperar que magicamente você vá juntar todas as peças para construir algo perfeito, entendeu?

Henrique de Moraes – Já coloquei aqui na lista, muito bom. E conseguiu lembrar de algum documentário?

Andre Passamani – Esses documentários basicamente da Netflix que dão depressão, eu gosto de todos

Henrique de Moraes – É uma boa definição

Andre Passamani – É, “Pandemic”, “Killer Inside: The Mind of Aaron Hernandez”, é ótimo pra você entrar numa depressão profunda. Esse “Rotten”, que mostra a comida que a gente tá comendo, tem vários desses. O “The Great Hack” e “American Factory” eu recomendo que ninguém assista porque realmente você não merece ficar louco da cabeça depois de ver. É pra dar desespero, é pra dar desespero. Eu amo o documentário do Fyre Festival, eu amo, porque eu acho que é tudo que essa literatura de empreendedorismo e essa coisa meio positivista que tem nessa onda coach sabe? “Vai lá e faz”, “a gente vai dar um jeito”, não você não vai dar um jeito, você precisa construir banheiro caralho. Agora tem um que me pegou, que se chama “Struggle: The Life and Lost Art of Szukalski”, “A Vida e obra perdida de Szukalski”, cara é muito louco, o documentário é meio que bancado pelo Leonardo DiCaprio e pelo pai dele, porque o pai do Leonardo DiCaprio conheceu esse artista incrível chamado Szukalski nos Estados Unidos anos 80, e ficou próximo do cara e tal, virou meio discípulo e beleza, a vida vai e o cara falece e os caras resolvem que tem que contar a história desse cara, só que a história do cara é assustadora, ele é polonês e ele viveu na Polônia uma história, basicamente ele era o cara que montou o ideário de uma Polônia quase tão nazista quanto a Alemanha do Hitler, do tipo se o Hitler não tivesse surgido e tivesse nascido na Polônia, talvez a Polônia tivesse esse cara o Goebbels artista, um negócio assim surreal, uma arte à serviço de uma visão conservadora, uma visão contra o imigrante, uma visão de orgulho, “sou polonês com muito orgulho e com muito amor”, uma parada assustadora, inacreditável, eu gosto muito dessas coisas que são, a realidade é muito fantástica você não precisa buscar necessariamente na ficção, tipo sei lá, o “Wild Wild Country”, Osho, eu passei a vida inteira ouvindo uns caras citarem o guru Osho, aí você vê a parada. O documentário do Jim Carrey lá, tá ligado ?

Henrique de Moraes – Sei, o que ele tá encarnando, atuando né mas ele basicamente incorpora o Andy Kaufman né

Andre Passamani – É. Cara, é assustador, eu amo.

Henrique de Moraes – Cara você já viu um que eu esqueci o nome agora, é “Operação Odessa”

Andre Passamani – Não vi esse documentário

Henrique de Moraes – Cara por favor, coloque na lista, esse eu acho que é um dos melhores documentários da Netflix, não sei se ainda está lá, não tenho certeza mas deve estar, e que é dessa coisa da realidade sabe, ser muito melhor do que a ficção, é nessa vibe total, é muito engraçado, muito engraçado, as histórias são surreais, como o ser humano faz qualquer coisa né para atingir sucesso, ou dinheiro

Andre Passamani – Ah eu vi, claro que eu vi, é o avião lá, dos traficantes, eu vi, nossa é muito louco, você que gosta de Orlando ainda pousa em Miami ali e ainda vê tudo aquilo né, é muito louco mesmo, e tem dois mais que estão no catálogo da Netflix que eu amo cara, um chama “Get Me Roger Stone”, que é sobre o cara que é tipo, tem um monte de documentários sobre ele, que esse Roger Stone é um provocador e teve um debate entre ele e o Gore Vidal que é um escritor liberal americano, democrata, gay e Roger Stone era um cara conservador, então eles ficavam em campos opostos, e aí tem um documentário sobre esse conflito entre os dois num debate nos anos 60 que meio que explica o que a política virou, esse show de TV e tal que é muito legal, que eu não lembro o nome agora mas tem esse “Get Me Roger Stone” que é muito maneiro. Esse cara foi o cara que trabalhou na campanha do Nixon e na campanha do Trump, só isso, e ele é uma figuraça, e é uma figuraça do mal mas ao mesmo tempo você fica muito encantado pela figuraça que ele é, e tem um último assim que também tá no catálogo da Netflix que eu acho foda que é o “Take Your Pills”, que fala sobre essa moda de dar ritalina, esses remédios, Adderall, esses remédios que dão performance para as pessoas e cara é bizarro assim, há uma explicação técnica que deixa muito claro que o efeito disso pra metanfetamina não é tão diferente assim no seu organismo, e você tá dando isso para criança cara, de 7 anos que tem dificuldade de concentração, não parece uma ideia muito boa quando você vê o documentário e depois de ver esse documentário ver gente que fala que tá dando isso pro filho você fala “Cara, porque um médico tá fazendo isso?”

Henrique de Moraes – Verdade, é muito louco. Esses documentários da Netflix são sensacionais, bom que você falou bastante do cliente aí

Andre Passamani – Não, e é muito louco porque eu realmente amo documentário, eu amo tanto que na época da Colméia eu contratei dois caras que a única coisa que eu sabia deles era que eles tinham feito um documentário chamado “Brega S/A”, era um documentário sobre o brega né, lá no Pará. E cara, eu achei o documentário tão bem feito, uma história tão bem contada que eu falei “Eu preciso trabalhar com esses caras”, e aí a gente fez, montou um projeto que eu falei “Cara, é a cara deles”, eles conseguiram sei lá decodificar uma cena de música do Pará e tal, e eu realmente gosto muito de documentário, eu acho que a Netflix foi genial quando ela usou essa estratégia de comprar documentário, porque ninguém dava tanta bola assim pra comentário, a HBO tinha lá os documentários dela mas ninguém, era uma coisa muito B documentário, ainda é, e a Netflix achou um jeito ali de fazer ficar mais pop, tem muitos documentários bons, por causa disso, porque pouca gente topava, é que nem escrever livro no Brasil, ninguém escreve livro pra ganhar dinheiro, ela escreve livro porque ela quer escrever, porque não vai ganhar dinheiro, documentário é meio que a mesma coisa né, pouca gente vive de fazer documentário no mundo, e a Netflix meio que falou “Beleza, deixa eu comprar uns documentários” e criou ali uma situação que algumas pessoas falaram “Então dá pra sobreviver fazendo documentário? Então eu vou fazer um documentário muito maneiro pra Netflix comprar”, acho que ela criou um mercado.

Henrique de Moraes – Verdade, muito bom Passa. Cara, foi um mega prazer bater esse papo contigo cara, sempre bom demais, dá pra ficar aqui horas e horas nesse bate papo, a gente tem que fazer de repente um de 4 horas

Andre Passamani – As pessoas não merecem isso

Henrique de Moraes – Deixa eu te fazer uma pergunta, se as pessoas quiserem te encontrar, tem algum lugar que você prefira ser encontrado, tipo LinkedIn, Instagram, ou você é recluso?

Andre Passamani – Eu não era não, sempre fui aparecidinho mas agora tenho ficado mais recluso, acho que encontra aí cara, encontra a Mutato, já que você permitiu jabá eu faço jabá da firma, encontra a Mutato, procura lá na sua rede social preferida, @wearemutato, tem o podcast da Mutato, aí pronto, Off Topic o podcast, procura lá que vai ser legal.

Henrique de Moraes – Maravilha. Cara, obrigado pelo seu tempo, pela generosidade

Andre Passamani – Eu que agradeço por vir

calminha #3
calminha #2
calminha #1