o convidado de hoje é o Fernando Vilela, fundador da startup Liti Saúde.

formado em Economia pelo Insper, Fernando começou sua carreira no mercado financeiro, com Private Equity. em seguida, foi aprovado como trainee na Ambev e exerceu diversas funções na área de Revenue Management da companhia, onde dirigiu estratégias de precificação em âmbito nacional.

depois de quase quatro anos na cervejaria, foi contratado pelo Rappi para liderar a expansão da empresa na Grande São Paulo e, como CMO, comandou o crescimento e a expansão do superapp para todo o Brasil.

em 2022 Fernando fundou a Liti Saúde, heathtech focada em emagrecimento que com menos de 1 ano que já captou mais de 21MM.

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Luiza Trajano
  • Elon Musk
  • Bernard Arnault
  • Byung-Chul Han
  • Patrick Collison
  • Naval Ravikant
  • Eduardo Rauen
  • Lionel Messi
  • Cristiano Ronaldo
  • Kylian Mbappé
  • Lewis Hamilton
  • Sebastian Vettel
  • Morgan Freeman
  • Sam Harris
  • Yuval Harari

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Fala aí pessoal, tô aqui em mais um episódio do calma! e com um convidados especial aqui, um dos poucos a voltar nesse podcast, o cara que deixou aí o cargo cobiçadíssimo de CMO do Rappi, empresa que tá valendo aí acho que, o que? 5 bi já cara, de dólares?

Fernando Vilela – Na última rodada acho que foi isso

Henrique de Moraes – Agora né com esse colapso do sistema

Fernando Vilela – É, ninguém mais sabe né

Henrique de Moraes – Exatamentemas mas saiu ora fundar aí a health tech chamada Liti saúde e que o objetivo aqui é entender um pouquinho porque desse movimento, quais são os desafios, que é que é sair do cargo de uma empresa que tava lá em hyper growth para começar alguma coisa do zero que eu sei que é doloroso, eu sei que é difícil enfim e aí a gente tá aqui nesse bate-papo para entender um pouquinho desse movimento, entender um pouquinho da empresa e tentar ver o que a gente consegue extrair aqui de aprendizado hoje com Fernando Vilela, seja bem vindo cara

Fernando Vilela – Obrigado Henrique pelo convite de novo, espero contar um pouco das emoções de empreender pro pessoal conhecer as diferenças e também o que a gente foi aprendendo nesse um ano já.

Henrique de Moraes – Boa, maravilha. Cara eu fiquei pensando como que a gente podia começar né e eu lembrei que da última vez que a gente conversou, que não foi gravando né, você esteve aqui em Lisboa, é uma frase que você acabou deixando assim e marcou, que foi que depois que você começou a empreender você passou admirar mais os fundadores do Rappi inclusive né e aí eu acho que a gente pode começar por aí assim né, porque disso, que chavinha que mudou depois que você começou a empreender a ponto de você de repente olhar para essas pessoas e falar assim “Caralho, tá bom, entendi um pouco melhor”

Fernando Vilela – É uma ótima pergunta, o que eu acho é assim que quando você tá trabalhando em uma startup ou às vezes em qualquer tipo de empresa e você olha pra quem fundou o negócio, pra quem montou o negócio, pra quem estruturou o negócio, a gente sempre tem uma prerrogativa de achar que aquela pessoa tem que ser invencível né, tem que ser muito melhor do que a gente. Eu acho isso muito curioso, como a gente projeta nas outras pessoas várias vezes aquilo que a gente não é. E não é muito diferente quando você tá num early stage assim numa startup, crescendo muito rápido, que você fica olhando pra todo mundo e fica pensando “O que aquela pessoa tem de diferente?”, “Nossa falou tal coisa, “Nossa que errado, “Que absurdo” e aí quando você começa a empreender acho que você começa a primeiro, entender o quão solitário é empreender né porque tem várias decisões que só competem a quem está empreendendo, ao fundador do negócio e ele tem que tomar a decisão, não tem como fugir. Também não tem quem toca o bumbo né digamos assim, você mesmo toca seu próprio bumbo então isso implica numa solidão ainda maior porque você meio que dá seu próprio pace, seu próprio ritmo e terceiro ponto, tem algo que às vezes a gente nem olha, nem repara mas tem muito um relacionamento externo assim para fora da companhia que é muito importante e é uma função bem relevante que eu te falaria também pra você ficar chocado com o quanto isso demanda. E não obstante, a cada dia que o seu negócio cresce mais você tem mais complexidade relacionado à time, pessoas do seu negócio então como que essas pessoas estão, o que elas estão sentindo, estão gostando de trabalhar ou não estão gostando, cada vez o que você fala é mais sensível pras pessoas porque você tem um time mais diverso no sentido de mais longe de você, mas conectado então sei lá quando a gente começou tinham 5 pessoas, era muito diferente de quando hoje, agora a gente já tem 45 pessoas, imagina com mil, vai ser muito pior então acho que tudo isso, esses desafios intrínsecos, essa solidão e essa dificuldade de comunicação faz com que quando você começa a empreender você fala “Cara eu achava que quando o Simon falava tal coisa on hands eu pensava porque ele falou isso?”, hoje eu falo “Caraca dá pra entender um pouco o lado” e o terceiro e último ponto que eu também acho que é muito claro assim é, quando você tira algo do zero né, quando você faz de 0 a 1, você passa por tanta coisa assim, é tão fácil isso dar errado e é tanto soco na cara que você vai tomando ao longo dessa jornada que você quando já passou de alguns pontos de superação, você olha algumas coisas que não vão pra frente e você fica meio revoltado assim, meio frustrado porque você fala “Cara, o mais difícil já foi feito”, beleza é difícil e todo dia tem incêndio novo e a gente vai indo e aí você também fica meio frustrado e aí vem outro ponto que pra mim é o ponto que é o pior digamos assim, que é o mais challenging de empreender que é o que faz eu mais admirar é, quando você é dono de uma área, que é quando eu tava na Rappi, ah beleza tinham momentos em growth e marketing que a gente sofria? Tinham, óbvio que tinham mas você arrumava a casa, você ficava tranquilo um mês, um mês e meio até dar um problema de novo. Quando você é dono do negócio, quando você é um empreendedor, é operações, é tecnologia, é dados. Tipo, tem 100 incêndios né pegando fogo, você escolhe qual que você vai apagar mas não é que os outros 99 se apagam sozinho, você tem que ir para o outro, depois tem que ir para o outro, depois então você tá o tempo todo em crise assim, você nunca sai desse momento de crise e acho que isso, esses componentes fazem com que a gente sempre, quando depois que começa a empreender falar “Cara é muito mais desafiador do que eu imaginava que era, respeito muito mais, respeito ainda muito mais aqueles que tiveram um alto sucesso e conseguiram criar ambientes e culturas nas quais saíram outros empreendedores” porque você criar um ambiente diante de todo esse cenário caótico e ainda fomentar pessoas com perfil de empreendedor ou seja com autonomia, com empowerment, com empoderamento para poder fazer outras coisas, não é para qualquer um é só pra gente assim que é muito outlier assim de capacidade de execução, de entrega e de visão.

Henrique de Moraes – Cara, sensacional. Se a gente pegar só esses pontos que você listou e começar a se aprofundar neles dá um podcast inteiro aqui. Tá, vamos esmiuçar um pouquinho esses, alguns desses desafios. Acho que vou começar pelo final né que é essa coisa dos incêndios né que tem aquela analogia dos pratinhos né, de rodar pratinho e que é isso, a sensação que a gente tem é que assim, a gente precisa deixar alguma casa pegar fogo, alguma parte da casa pegar fogo pelo menos porque é isso, você não consegue dar atenção para tudo e tem sempre, cada uma das áreas né como você falou a sua área tá olhando pro seu pedaço ali mas todas as áreas estão te demandando né então beleza se o marketing tá rolando aquele mês ali, você falou que você teve “paz de espírito” vamos colocar assim durante um mês, as outras áreas estão dando merda e quem tá à frente ali, quem tá liderando que assume isso tudo né e como é que você faz hoje pra assim, em termos de priorização sabe, pra falar qual incêndio que eu vou apagar hoje, se tem algum sistema, você faz isso diariamente, semanalmente, como é que você organiza sua agenda para olhar para tipo qual incêndio apagar?”

Fernando Vilela – É uma ótima pergunta. Acho que como aqui a gente foi aprendendo aos trancos e barrancos, primeiro a gente começou a definir quais eram vai os três grandes problemas ou desafios do negócio digamos assim naquele trimestre né então com isso a gente define a cada quarter, a cada trimestre quais são os três grandes desafios do negócio. Com toda liderança assim, obviamente tem muito um viés né que é eu e meu sócio a gente define mas a gente constrói isso junto com a liderança para ver se tem algum ponto que, por exemplo na última vez agora a gente definiu pro primeiro tri, teve um ponto que a gente falou “Puta, não é de fato assim um grande problema, um grande desafio, não faz sentido atuar”. Com base nisso a gente, é o que domina a minha agenda digamos assim, tudo que é fora isso não deveria estar na minha agenda a não ser que seja algum ponto relacionado à pessoas, cultura né que essa é a base de tudo mas se for um problema fora disso nem vai estar na minha agenda e aí a gente vai despriorizando assim, descartando. Daí dentro disso é muito sobre qual métrica tá mais atrasada né, sobre qual que tá demorando mais para entregar então com isso a gente vai entendendo e vai focando e vai construindo mas tem muito uma divisão aí sempre com o seu time né então como que você empodera o seu time para poder atuar e aí você vai mais atuando de acordo com como quem do seu time tá sofrendo mais para atuar, para atacar aquele determinado desafio para você também conseguir ter essa habilidade de zoom in e zoom out. Então dando exemplo, no começo aqui operações era caótico assim porque a gente não sabia ainda né como montar, como estruturar. Hoje operações roda tranquilo né, vai fazer uns 6, 7 meses que eu não sento assim, 6, 7 meses tô exagerando mas quase cinco meses que eu não sento com operações assim “Ah para entender, fazer um comitê de crise com operações” faz bastante tempo, agora marketing, produto, tecnologia é quase todo dia porque sempre tem alguma coisa importante pegando, porque marketing define o crescimento, produto define a visão de longo prazo e tecnologia vai ajudando nas entregas do dia a dia então são as áreas que hoje eu estou mais perto assim que eu tô acompanhando de uma forma mais incisiva.

Henrique de Moraes – Boa. Tá vou voltar agora pro primeiro ponto que você levantou, que foi sobre essa coisa de você ter, quando você tá né dentro de uma empresa, ou não só dentro de empresa né porque a gente olha para os empreendedores em geral e tem essa impressão né de eles serem imbatíveis, até foi o termo que você usou e eu fico me perguntando muito hoje em dia o quanto dessa visão que a gente tem, é de fato uma coisa só que a gente cria né ou o quanto não é uma construção mesmo, uma marca pessoal da pessoa querer parecer imbatível, porque lógico né a gente tem, se você sabe que você tem uma marca forte, independentemente de ser pessoal ou uma marca mesmo, empresa ou produto seja o que for, você vai conseguir mais negócios, isso é óbvio então eu penso hoje assim, quem tá me acompanhando lá em social media, eu tenho tentado desconstruir um pouco essa visão do empreendedor visionário até porque todas as conversas que eu tenho em particular são sempre no mesmo tom que você falou, tipo cara a gente tá aprendendo se fudendo, desculpa o francês aqui mas é isso tipo, cara a gente dá de cara na parede e fala “Beleza então esse aqui não é o caminho, vamos para o outro, vamos encontrar uma outra porta aqui” mas ainda assim, por tudo que a gente aprendeu né, é uma construção que a gente vem aprendendo com mídia e com tudo durante anos que a gente precisa parecer foda o tempo inteiro né e aí eu fico me perguntando o quanto disso é de fato útil pras pessoas que também estão começando a empreender por exemplo sabe e dão de cara com a parede e falam assim “Puta que pariu, será que eu sou o único a me fuder toda semana aqui, será que só eu dou de cara na parede?”, eu queria entender um pouco de como você enxerga isso assim né porque também é difícil você como empreendedor que você está querendo construir, o que já é difícil para cacete, cheio de insegurança sabe uma incerteza absurda na sua frente e você também ficar desconstruindo a sua marca e vamos colocar assim, se colocando de uma maneira mais aberta e vulnerável, mostrando também as suas falhas parece contraproducente né, você pensa que você precisa conquistar ali a confiança de investidores, do seu time enfim, de uma porrada de gente então você precisa de fato construir uma imagem, então como é que, como você acha assim, eu queria cara opinião assim aberta, eu não vou fechar muito uma pergunta eu queria entender o que que você acha disso em geral assim, se você acha, se existe um equilíbrio entre você parecer mais humano mas também conseguir construir boas pontes dentro empreendedorismo ou se não assim, de repente um único jeito é você parecer fodão mesmo e mostrar só sucesso enfim eu tô na dúvida por isso que eu tô perguntando, é uma dor pessoal cara

Fernando Vilela – Aí eu acho que vai muito de cada um assim né e da sua personalidade. Então por exemplo, algo que eu valorizo muito é o lado da autenticidade e eu acho que para você ser autêntico você tem que ser verdadeiro assim, óbvio que tem coisas que você não pode ser tão verdadeiro e tão explícito, tem doses de verdade digamos assim que você abre ou deixa de abrir e o que eu sinto um pouco é que cada empreendedor tem o seu jeito de ser assim, não existe um certo e um errado sabe, tem gente que é mais para o lado marqueteiro digamos assim de né vender uma imagem, aquela construção de uma pessoa incrível, tem gente que vai para o lado de vender uma imagem que é uma pessoa simples, que saiu do nada né, que construiu um império né, pega a Luiza Trajano, é muito assim até a roupa, o jeito de falar dela é exatamente essa coisa assim “A brasileira que saiu do nada e fui construindo, construindo e construindo”, você pegar sei lá empreendedor de mercado financeiro, no geral é mais o cara agressivo que fala né tipo, fala firme e não sei o quê, comercial. Pessoas de tecnologia já tem mais um lado do visionário né, que viu uma coisa que nunca ninguém viu. Mas quanto mais eu vou vendo mais eu acho que você pode ter, cada um tem o seu perfil assim, o seu DNA né então se você num mundo que você tem desde um Elon Musk da vida a sei lá um Bernard Arnault que é um cara hiper discreto, acho que não tem muito certo ou errado. Como que eu vejo e como que eu entendo é que primeiro, o começo é muito sobre lições de humildade né, acho que empreender é a maior lição de humildade que você pode ter na sua vida porque até o estagiário te dá não então todo mundo te dá não então se você não tem humildade você aprende a ter porque é meio forçado e aí a partir do momento em que você começa a ter sucesso e as coisas começam a funcionar bem, o que eu venho reparando, a gente tá muito longe de ter sucesso mas é que quanto mais gente trabalha ao redor, mais gente te conhece mais distante a pessoa é do dia a dia. Então naturalmente ela acaba vendo só seus momentos em que você tá com full energia assim, que você tá naquela reunião geral com todo mundo, que você tá num workshop, que você tá discutindo futuro, as pessoas não vêem muito o arranca rabo assim, os momentos de fragilidade e honestamente um negócio que eu venho aprendendo é, o time, as pessoas, todo mundo espera de você sempre ser a pessoa mais confiante, a pessoa mais motivada então acho que você nunca pode perder isso assim porque se você não é a pessoa mais motivada no seu negócio quem vai ser né? Com certeza vai ser a pessoa que não controla, óbvio que você pode ter seu círculo mais íntimo que você vai se abrir um pouco mais de preocupações e acho que você sempre tem que se abrir mas a forma como eu gosto de falar sempre pro pessoal eu falo assim, “Meu tudo aqui é aposta, a companhia é uma aposta, eu sou uma aposta como empreendedor, você é uma aposta como líder da sua área, você é uma aposta como analista da sua área, todo mundo aqui é uma aposta, vamos ver quais apostas dão certo, espero que a maioria dê certo mas faz parte do jogo saber que muitas apostas vão dar errado” e aí vem o lado para mim que é um lado super importante falar, da transparência. Acho que você tem que ser transparente assim sobre o seu momento, um early stage é muito diferente de um late stage né, então no começo eu falo para quem trabalha com a gente, para quem tá aqui com a gente, eu falo “Cara é foda pra um caralho, é um negócio que não é pra maioria das pessoas, a única certeza que a gente tem é a data que a gente quebra, que a gente fali, todo o resto é insegurança, incerteza então assim, quer ir pra um early stage porque falaram que é legal? Tá bom mas assim, seja preparado para isso”. O que era muito diferente por exemplo do meu discurso pra um time no late stage assim na Rappi, já tinha product marketing, já tinha dado certo então era muito mais sobre “Olha a gente pode perder o controle do negócio? Podemos” no sentido assim de fazer muita cagada e eventualmente dar errado, “Mas a gente tem que ser muito ruim pra isso acontecer, mas agora a gente tem outros desafios” então acho que cada momento assim da jornada ele implica em uma outra personalidade até como empreendedor e talvez esse seja o maior desafio acho assim que empreendedores tem no geral que é saber mudar também né, assim como o próprio time tem que evoluir, o empreendedor por ele ser o frontman né, ser a pessoa que levanta dinheiro, contrata gente, vende o negócio é a pessoa que mais tem que mudar, mais tem que evoluir. Então é sempre quem vai estar no spotlight né, sempre vai estar sendo visto e observado assim. Esses dias uma estagiária tava zuando que eu sempre me vestia igual, então até isso assim as pessoas reparam sabe tipo, é um exemplo bobo mas um exemplo que uso também, até a roupa que você está as pessoas estão reparando então você tá sempre sendo observado e questionado e aí esse é o lado que é o lado difícil mas o que eu falo sempre é “Cara eu sou uma aposta também então eu vou errar, tem coisas que eu não sei fazer, vou aprender junto e vamos assim”, se eu pego e falo, os dias que você acorda revoltado, “Caralho nada nessa porra anda, que merda”, óbvio que não porque também senão você gera muita instabilidade no negócio né então você vai aprendendo as nuances para também você não virar o pior inimigo do seu próprio negócio

Henrique de Moraes – Sim, boa

Fernando Vilela – Não sei se eu consegui responder

Henrique de Moraes – Não não, foi ótimo assim. Acho que, engraçado você analisar uma coisa que você falou no início da resposta ali né dos personagens e acho que particularmente em um momento em que a gente vive em que a maior parte das pessoas está sendo vista e consumida, vamos colocar assim via redes sociais, de fato são personagens né porque, eu li um livro pouco tempo atrás, sei lá um ano, que falava sobre a natureza performática das redes sociais porque você não consegue, não tem como você ter uma vida nas redes sociais sem você estar de alguma forma causando uma performance sabe, fazendo uma performance porque não é igual a você estar na rua, não é igual a você chegar na empresa, você tá aí fazendo coisas, pegando café sabe, as pessoas estão te vendo, não, para você aparecer para alguém na rede social você tem que publicar, você tem que ter a intenção de fazer alguma coisa né então se você tem uma intenção você não vai fazer à toa né você não tá simplesmente andando por aí causando impacto nas pessoas que estão te vendo. E aí nessa hora eu acho que os personagens ficam mais assim, não só mais latentes no sentido da nossa perspectiva né de estar vendo mas da performance também né porque mal ou bem você vai compartilhar ali o que você quer então não tem muito jeito. Aí eu acho que isso talvez tenha ficado ou esteja ficando mais acentuado nesse sentido né, então talvez até pouco tempo atrás, pouco tempo atrás tem tanto tempo que tem rede social né cara enfim, na nossa vida especialmente acho que um terço da minha vida já

Fernando Vilela – Mas sabe uma coisa que mudou? Reunião online, você se ver, isso muda muito o jogo, que é um ponto que às vezes a gente esquece de comentar né porque antigamente você tá numa reunião, você não tá olhando suas expressões, sua cara, seu cabelo, o jeito que você fala, seu olhar. Se você tá numa reunião online, pô dependendo se você usar Zoom, Google Meets enfim, qual for a plataforma você tá o tempo todo se vendo, então você gera também um viés de estar sempre preocupado com uma casca né digamos assim, com uma imagem e uma reputação

Henrique de Moraes – É, o tempo inteiro acho que em tudo do digital te leva pra esse lado ainda né, não sei se isso vai mudar, talvez mude mas por enquanto ainda te leva pra esse lado. Eu hoje em dia, especialmente depois que eu conversei com um executivo da Zoom aqui no podcast, ele falou de uma pesquisa de que você se ver causa um estresse muito grande então que as pessoas estavam ficando né tipo cada vez mais estressadas com as reuniões e cansadas de tanto se ver e ficar se preocupando com a postura, expressão, não sei o quê e tudo mais e aí hoje em dia eu tapo então até aqui gravando com você eu tô vendo só o seu rosto, eu botei a pauta tapando a minha cara

Fernando Vilela – Que legal

Henrique de Moraes – Exatamente, para diminuir um pouco cara esse estresse porque eu me sinto assim também, eu fico me olhando o tempo inteiro e aí você vai ver na câmera eu tô olhando para baixo aqui sabe, eu tô olhando para onde tá a minha câmera, é muito engraçado, você fala “Como assim?”

Fernando Vilela – É igual fazendo Facetime com a pessoa, quando eu faço Facetime com a minha namorada ela fica assim “Você tá se olhando ou você tá me vendo?” aí você tá na sua tela grande se vendo

Henrique de Moraes – Sim exatamente, e tem um filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, ele fala isso né em um dos livros, que a gente nunca vai conseguir olhar no olho quando a gente tá falando no digital, olha que loucura assim então a gente nunca vai ter a conexão que a gente tem no presencial não só por toda a parte que a gente tem de hormônios e tudo mais mas nem isso a gente consegue fazer porque tá sempre olhando pra tela, você nunca tá olhando pra câmera né, isso é muito louco.

Fernando Vilela – É loucura né essas coisas

Henrique de Moraes – Voltando aqui pro tópico me diz uma coisa cara, de todas essas experiências que você falou, qual foi a que te surpreendeu mais talvez assim, do tipo “Caralho, isso aqui ninguém me preparou, ninguém falou, de todas as conversas que eu tive, de tudo que eu sabia sobre empreendedorismo, caralho isso aqui tá sendo muito pica”?

Fernando Vilela – Ah eu acho que a primeira é obviamente levantar capital né, algo que é extremamente challenging assim acho que ninguém é preparado, não tem curso, não tem aula disso então acho que, óbvio tem padrões né o pessoal até brinca, é ciência com um pouco de arte assim mas tem muita arte assim por trás então acho que esse é um primeiro ponto, que é um ponto sensível assim, que é um ponto desafiante. Acho que tem um segundo ponto também que é sobre as decisões mais difíceis do negócio que também ninguém te prepara então a demissão de alguém, o fechamento de determinada vaga, posição ou a mudança de rota assim, essas decisões que só competem a si são decisões bem challenging assim e poucas pessoas comentam né porque pensa, exemplo quando você vai desligar alguém, cara não é um negócio prazeroso assim né é obviamente ruim, é chato, é difícil. Quando você tá numa organização maior no geral tem um processo que você tá seguindo, tipo meio que você tá terceirizando assim um pouco no seu subconsciente a culpa mas quando é você, puta é você que errou por completo assim, você que falhou por completo, seja na contratação, seja no feedback, em algum momento assim você falhou, eu sempre falo isso para as pessoas assim, todo mundo que a gente perde do time a gente como líder que falha, não é a pessoa que falha. Então acho que esse é um ponto que é bem challenging e tem o terceiro ponto que cara eu te falaria que quanto maior você vai ficando, mais problemas de pessoas você tem no sentido de que é mais sobre, a sua pauta é mais dominada por pessoas e menos por necessariamente vai, desafios do negócio assim então é mais on a one, planos de desenvolvimento, anseios, dúvidas e ainda maois nesse ambiente de early stage que é tão volátil, ele é tão não claro em alguns pontos, gera muita ansiedade nas pessoas e aí é quando você tem que estar o tempo todo falando, se aproximando e conversando.

Henrique de Moraes – Sim, interessante né. Uma vez eu ouvi daquele Patrick Collison da Stripe, um dos fundadores, dos irmãos lá e ele fala isso, que ele tinha a falsa impressão de que conforme eles fossem ficando mais bem-sucedidos né, a empresa fosse crescendo e tudo mais, mais seguros também né já sabendo ali tipo o que eles fazem e como eles fazer e tudo mais, que essa incerteza e a ansiedade gerada né pela incerteza fosse diminuir, e ele fala que não, ele fala que tipo só piora, cara uma empresa de vários bi, a Stripe é enorme sabe, o maluco é considerado um gênio e tal, todas essas coisas que estão ali né enfim e ele fala isso, “Até hoje eu sento e primeiro, sempre tenho mais coisa do que eu eu tenho capacidade de fazer”, ele falou assim “E só piora”, e a sensação de que vai dar merda, que alguma hora alguém vai chegar e vai tirar tudo, vai desligar tudo e falar “Fudeu, vocês faliram” continua sabe tipo assim

Fernando Vilela – É muito louco né e ele usa até um exemplo geralmente em entrevista de ciclista profissional que é assim, ele fala assim que é algum cara lá campeão do Tour de France, cinco vezes e esse cara ele falou assim, perguntaram pra ele “Cara é mais fácil a cada ano?” e ele fala assim “Não, só é mais rápido o começo mas ainda assim é difícil para caraca” e é bem isso mesmo assim, espero chegar no nível da Stripe pra poder voltar aqui e te contar, exatamente isso de falar “Cara realmente nunca melhorou, só piorou”

Henrique de Moraes – É sinistro, vai chegar, vai chegar. E sobre levantar grana aí, você você passou agora por um round, foram 21 milhões, certo?

Fernando Vilela – É, 21

Henrique de Moraes – 21 e cara a empresa é nova tem 9 meses, 10 meses agora, como é que você fez isso, me conta um pouco.

Fernando Vilela – O que eu te falaria é que obviamente ter vindo do mundo de startup ajudou muito né porque já tinha certo relacionamento e conhecimento das pessoas, ter sido mentorado e ajudado pelos fundadores da Rappi ajudou muito também né e ter amigos que já tinham passado também por esse lado de empreender também ajudou muito pra pelo menos setar um pouco do documental, a estrutura como faz, como organiza. Aí a partir desse momento você vai conversando e vai entendendo mas no fim do dia uma coisa que eu acho muito curiosa é, levantar dinheiro é sobre nesse estágio ainda principalmente, sobre vender um sonho né, é o quão bom você é como vendedor de sonho assim não tem, óbvio o fundo vai fazer um reference check seu, vai ver se você entrega ou não, tamanho de mercado, time que você tá montando e vai fazer todo o playbook de seek, tem 100 mil lugares em que as pessoas podem ouvir como que os fundos fazem mas no olhar do empreendedor eu acho que é muito o quão rápido você itera, talvez acho que essa é a melhor definição assim porque você vai falando com várias pessoas né e aí cada pessoa te dá um feedback diferente ou você vê a expressão facial da pessoa, a pergunta que a pessoa faz então com quanto mais gente você vai falando em teoria, a cada conversa você deveria estar mais preparado, mais pronto e aí também acho que um ponto central é, é muito sobre cativar assim a pessoa, sobre engajar, sobre motivar, que uma coisa que a gente esquece do investidor é, no fim do dia aquela pessoa que investiu o dinheiro em você principalmente os que lideram rodada né que é vai o investidor principal, ele não tá criando uma relação com você de por dinheiro e tchau, ele tá querendo uma relação de 10 anos, uma década com você então tem que ter um match assim, tem que ter uma sinergia, tem que ter uma relação, tem que ter algo maior assim mais profundo do que só “Me dê um dinheiro, obrigado valeu”

Henrique de Moraes – Sim, o Naval Ravikant ele fala que a regra dele é se eu não trabalharia com essa pessoa um dia assim, por uma vida quer dizer, eu não vou trabalhar nem por um dia né porque ele fala que são casamentos que ele faz toda vez que ele investe numa startup e ele fala uma coisa curiosa também né que é, acho que algum estudo alguma coisa assim de que a decisão é tomada sei lá nos cinco primeiros minutos no final das contas, 90 e tantos por cento das decisões são tomadas nesses primeiro minutos que é uma impressão de empatia na verdade né e que a gente tende a levar muito para um lado sei lá meio, achando que é uma coisa muito matemática e que é muito transacional e na verdade não, é muito mais relacional do que qualquer coisa né assim

Fernando Vilela – Total, e também é um numbers game né, como o pessoal gosta de dizer, então né o que é isso na prática, cara é um funil de conversão, você vai falar com 100 para 1 converter assim no fim do dia ou um pouco mais de 1 converter então as pessoas não podem esquecer disso né, tem que construir bem o funilzinho para poder com que as conversas vá fluindo porque é isso, primeiro você tem que ter empatia com a pessoa, aí depois a empatia a pessoa tem que gostar da sua tese, tem que gostar do seu modelo de negócio, tem que achar que você é a pessoa pra montar aquilo, que você tem o go-to-market claro e que ela vai conseguir te ajudar a montar aquilo então assim, é tanto fator, é tanta variável que obviamente você vai tomar muito mais não do que sim mas aqueles poucos sim que vão te ajudar aí. E outro lado também que aconteceu que eu acho que deu uma iludida no mercado é que colocou muito o VC como mainstream né, então o caminho de venture capital como um caminho vai, quase que comoditizado, quando ele nunca foi e nunca vai ser assim, você tá falando da ponta né do mercado financeiro assim, de uma das indústrias de maior risco do mercado financeiro então é uma indústria que é exigente assim, ela é demandante, obviamente quando a taxa de juros no mundo tava zero, ia mais dinheiro pro alto risco, agora que a taxa de juros subiu as pessoas que podem investir no alto risco, no médio risco, na renda fixa enfim, elas vão realocando a carteira e com isso vai ficar só de novo os investidores que são mais orientados ali a construir coisas, um investidor de capital de risco que é o típico investidor de venture capital. Então isso também é o que tá mudando muito o mercado agora, que as pessoas não falam tanto e no fim do dia era só que tinha muita gente que nem deveria estar investindo em startup investindo, não que não devia né mas assim, que com juros muito baixo compensava tomar o risco e agora com juros maior talvez não compense tomar tanto o risco. É o que eu brinco, taxa de juros no Brasil, a futura tá 15% então vai, um CDB vai estar pagando provavelmente ano que vem 18%, em 4 anos e meio você dobra seu patrimônio. Você vai por em renda fixa ou você vai por na Petrobras, que você não sabe nem o que o Estado vai fazer com a empresa. É isso que o investidor toma decisão também, a mesma decisão que a gente toma o investidor tá tomando e a gente precisa saber jogar esse jogo e com isso as empresas ainda mais sólidas, mais resilientes e ter também um discurso, uma conversa para o investidor adequada ao contexto, que é algo que eu também acho que as pessoas acabam esquecendo.

Henrique de Moraes – Interessante. Tá, vamos mudar aqui um pouquinho de assunto e vamos falar sobre porque você resolveu na verdade né empreender no sentido de, na última conversa que a gente teve, eu lembro até hoje né que acabou me marcando pela trajetória né que você fala assim, eu acho que eu perguntei sobre rotina alguma coisa assim e aí você fala assim “Ah porque eu levo minhas comidas e tudo mais”, aí fala assim “Porque eu sou ex-gordinho” e aí você fala que você conheceu né o seu atual sócio e que meio que mudou a sua vida né, foi uma experiência tão transformadora que você tá aí querendo transformar a vida dos outros, então eu queria que você contasse um pouquinho né da história por trás da Liti, você já falou um pouquinho lá do início, do porquê que você começou essa transformação mas enfim, conta aí a história completa que acho que pode ser interessante

Fernando Vilela – Quando eu tava na Rappi eu comecei a me sentir muito cansado, que é um sentimento que você provavelmente já teve, quem tá ouvindo e vendo a gente aqui já teve também e aí eu falei “Cara tô com Burnout” né, padrão hoje em dia e aí fui procurar ajuda médica. Passei por médica 1 que me dava sei lá 12 cápsulas de manipulado por dia, um negócio bizarro, fui em outro médico que queria me fazer reposição hormonal e aí eu até peguei e falei “Meu isso aqui é muito estranho, melhor eu procurar outra pessoa” e aí uma amiga minha me indicou o médico que hoje é meu sócio aqui, o Eduardo Rauen e aí quando eu cheguei nele ele falou “Cara você não tem Burnout, você tem obesidade, você tá com 24 quilos acima do peso, mais de 30% de gordura e precisa perder isso senão seu metabolismo vai estar sempre cansado porque ele tá sobrecarregado, tá sempre inflamado” e aí eu falei “Puta, ninguém nunca me falou isso né” mas a consulta foi cara aí falei “Cara, já paguei aqui uma fortuna, vou fazer o que esse louco aí tá me falando”, aí comecei e perdi 8kg no primeiro mês e isso foi “Beleza, esse cara não é louco, ele é bom no que ele tá falando”, voltei lá e perdi mais no total 24 ali, 25 kg né nos meses seguintes e essa relação médico/paciente virou uma relação de amizade, o Edu é muito curioso com algumas coisas então ele sempre me perguntava onde eu tava investindo, o que eu tava olhando, o que eu tava fazendo até que numa consulta de rotina assim depois de um tempo que a gente já era, eu já era paciente dele, ele pegou e comentou comigo que tava meio deprezão porque a cada pessoa que ele cuidava igual a mim surgiam outras mil né então que o desafio de sobrepeso/obesidade não para de crescer, não só no mundo mas especialmente no Brasil, é o país que na última década mais rápido cresceu a incidência e aí dessa conversa saiu um negócio paralelo, online que a gente tinha um estagiário tocando e enquanto o estagiário ia tocando a gente ia pesquisando um pouco mais o mercado e aí me fascinou muito o fato de primeiro, incidir em 2 a cada 3 adultos na América Latina e no mundo inside em quase 55% da população a incidência de sobrepeso e obesidade. Segundo ponto, é um fator de risco não controlado, é o único fator de risco não controlado para desenvolvimento de câncer e várias doenças cardiovasculares também então você fala “Puta, a gente controlou como sociedade tabagismo”, controlou assim né, mitigou né a incidência, diminuiu como fator de risco mas sobrepeso e obesidade não, você fala “Puta o que será que a gente tá fazendo de errado né?”. E terceiro ponto também, me chamou muito a atenção aí como economista de formação que 30 a 40% do gasto de saúde hoje é decorrente de sobrepeso e obesidade de forma direta ou indiretamente, segundo um estudo aí eu falei “Cara isso é realmente um negócio que impacta assim, tem um custo socioeconômico muito maior do que eu tava achando” e aí a gente começou a se questionar onde tá o erro né, o lado do Edu era muito assim o erro assim que, a forma como a gente trata, como a gente cuida das pessoas é uma forma não individualizada então quando a gente começou a discutir onde que tava né o erro né, porque a incidência de sobrepeso e obesidade segue aumentando, além obviamente dos fatores né de contexto, de ambiente, indústria de alimentos, tem toda uma série de fatores que fogem de coisas que a gente pode controlar mas é muito porque o tratamento não é individualizado né e a gente não olha cada pessoa como única, cada metabolismo como único e isso faz com que todo mundo ou procure fazer dieta cetogênica ou dieta dos pontinhos ou qualquer coisa assim, a gente gosta até de brincar que toda dieta tem data pra começar e terminar, e que emagrecer no limite é fácil, se a gente ficar uma semana e comer um brigadeiro por dia a gente emagrece né mas o desafio é como que a gente mantém isso com o tempo. E do outro lado tem toda uma questão da experiência no mundo offline que ela é muito difícil assim, o sistema de saúde ele tem um incentivo preverso que é, a médica, o nutricionista enfim eles não tem muito incentivo infinito em ter você como cliente né, é caro digamos assim a estrutura de seguir te acompanhando e infelizmente quando a gente pensa em alimentação, é tão multifatorial assim o porquê você come errado, quais os desafios que você tem que você precisa acompanhar a pessoa por mais tempo, para além da consulta. O que eu brinco assim, a gente não é um carro sujo que entra no funileiro né, o funileiro troca ali o para-choque e você sai com outra pessoa tipo vai voltar assim a bater o carro né digamos assim fazendo uma analogia, vai voltar a dar umas saladinhas então a gente precisa ter esse acompanhamento coordenado e contínuo o tempo todo e aí daí surgiu a ideia do match assim, o online ele é uma solução ganha-ganha, tanto para o mundo clínico porque você captura mais dados e com isso você consegue endereçar também um desfecho clínico melhor como pro cliente final porque você reduz a quase zero toda a fricção. Indo para mais além disso, o grande desafio sobre ter uma vida mais saudável, e que é muito a nossa missão, é como que a gente ajuda cada cliente nosso a navegar nos distintos momentos sobre os desafios de uma vida mais saudável, não é só sobre a consulta né, sobre uma estratégia de plano alimentar, aonde você comprar a alimentação congelada? Qual atividade física você faz né, como que você se organiza, então tem coisas que vão para além da consulta que é o que a gente tenta ajudar o cliente numa visão um pouco mais de plataforma e menos de só consulta né, teleconsulta por teleconsulta, por isso até que a gente fala assim que a gente não é uma clínica online, a gente é uma plataforma que ajuda com diferentes mecanismos e braços tentar ajudar cada cliente nosso na busca por montar o seu próprio quebra-cabeça de uma vida mais saudável porque provavelmente para você, você vai lá alimentação você monta de um jeito e a atividade física é Google, outra coisa você viu no Twitter, tipo você tem que montar o quebra-cabeça que ele é tão difícil de montar que ele quebra muito rápido e se você não seguir tendo acompanhamento contínuo, você invariavelmente volta para uma vida não saudável assim, uma vida pior, uma qualidade de vida pior e esse é o ponto central eu acho, que a gente dado o contexto atual de mundo e dado tudo que a ciência vai mostrando pra gente, a gente tem que se imaginar como atleta né e não como indivíduo ou esse estereótipo do indivíduo normalismo, então excesso de gordura prejudica seu metabolismo, dormir mal prejudica sua qualidade de vida né, a sociedade exige da gente hoje uma alta performance constante e é isso que a gente tem que voltar e pensar “Tá, quem que tem alta performance constante? Atleta né”, então época de copa do mundo agora, Messi, pô o cara tem 34, 35 anos e se você for ver ele é todo regrado, Cristiano Ronaldo, todo regrado, Mbappé, todo regrado assim, os melhores jogadores do mundo são extremamente regrados em vários aspectos. Ah, tem jogador muito bom que não é regrado? Tem mas no geral o tempo de carreira dele é muito menor do que um jogador extremamente regrado.

Henrique de Moraes – Sim. Tá tem vários assuntos aí interessantes da gente abordar né mas já que a gente tá falando de empreendedorismo, vou pro lado do empreendedorismo e depois a gente fala de saúde de novo. Você falou né que é uma empresa assim, vocês fazem um acompanhamento constante ali dos clientes, pacientes enfim então eu imagino que seja uma, por mais que tenha a parte de tecnologia ainda é bem high touch né, como que vocês pensam em fazer para escalar a solução já que eu imagino que esse seja um desafio?

Fernando Vilela – Ah é uma ótima pergunta. É muito com uso de dados assim e como que você deixa a jornada cada vez mais assíncrona sem perder a confiança né, sem perder o olho no olho como a gente tava falando lá atrás então, exemplo que eu gosto de brincar, ninguém vai para o consultório com caderninho de anotação concorda? Você não chega no consultório com caderninho lá “Então doutora, fala aí meus pontos” e tem vários eventos e falas que são repetitivas então como que você por meio de dados você vai jogando essa jornada para ter reforços positivos ao longo da sua experiência, da sua trajetória e não que tudo seja concentrado em um determinado evento que é uma consulta porque o que dificulta a escala no fim do dia é a consulta né porque a consulta é uma hora que ela é produtiva mas ela não é produtiva no sentido de que você só vê, acompanha uma pessoa então como dados e tecnologia te ajudam em direcionar melhor o foco, em quem focar, com quem conversar e com isso você tem uma produtividade superior

Henrique de Moraes – Entendi, a ideia também então é por exemplo, que o aplicativo tenha uma jornada ali meio educativa que vai te levando dentro dessas coisas, como se fosse um Duolingo da vida, você tem uma jornadinha ali, tá

Fernando Vilela – Como se fosse um Duolingo da vida em que você tem uma jornada que você vai aprendendo, vai entendendo e vai se conhecendo mas sempre com um time de saúde acolhendo você e te acompanhando, isso é uma algo que a gente, é uma vaca sagrada nossa assim, a gente entende que essa relação de confiança ela é construída numa relação humana e não numa relação homem/máquina, isso é muito difícil de você confirmar uma relação de confiança então a gente quer potencializar a relação humana e não fazer o replacement dela né, a substituição dela entre uma relação vai, cliente nossa e aplicativo puro

Henrique de Moraes – Sim, entendi. E em relação a você cara fiquei curioso assim, você tá numa jornada maluca, estressante, como é que fica o seu dia a dia, sua rotina na alimentação, atividade física, descanso, saúde mental, como é que você tá cuidando disso hoje em dia, se é que está?

Fernando Vilela – Não não eu cuido

Henrique de Moraes – Ou deixou esse pratinho cair, dos incêndios

Fernando Vilela – Aí eu volto num ponto que eu acho que é, quanto mais a gente se exige profissionalmente, melhor preparado a gente tem que estar né então fazendo uma analogia à Copa de novo, as pessoas fazer um preparo pra Copa né, nenhuma seleção que chegou na final da copa chegou à toa ou vai, pega a Fórmula 1, o Lewis Hamilton também, ele pega e tá hiper preparado para correr, o Vettel também a mesma coisa então fazendo uma analogia eu acho que parte muito do princípio igual então a primeira coisa que eu sempre faço é atividade física de manhã assim, não fujo disso. Comer, pô você tem horário que você vai comer, entre comer errado e comer certo prefiro comer certo então você vai indo. Ah o que mudou? Eu te falaria que é cada vez uma auto consciência maior sobre os impactos de alimentação e não fazer atividade física, então bebida alcoólica praticamente eu tô quase zero hoje em dia é porque você sente muito o impacto no dia seguinte quando você tá cada vez né no edge assim né, nos extremos da performance no bom sentido de não estar inflamado, estar fazendo tudo direitinho na rotina e outro ponto também e aí foi um ponto que a gente tinha até falado sobre o lado lá de metal health, de saúde mental, eu fui para cada vez um lado mais de autoconhecimento, de pedir mais feedback o tempo todo, de ter um momento de espiritualidade ainda mais profundo do que eu já tinha que para mim é algo importante então de me aprofundar muito nesse lado mas te falaria que assim, o mundo de empreender ele te força naturalmente a você saber fazer os tradeoffs assim, saber falar “Tá, tem fogo que vai acontecer e eu não vou resolver e faz parte do jogo” então eu posso me dar esse tempo e posso ficar tranquilo em relação a isso e aí com isso você vai administrando. Mas eu te falaria que é o contrário assim, talvez acho que empreender te exige a ser ainda mais disciplinado em relação a como que você tá administrando o seu tempo fora do ambiente de trabalho digamos assim pra que com isso você consiga render e performar melhor no trabalho

Henrique de Moraes – Sim. O que você faz cara em relação ao lado espiritual cara, fiquei curioso

Fernando Vilela – Ah eu sou bem religioso, eu sou católico praticante, vou na missa todo domingo, faço meditação religiosa todo dia então eu tenho um lado bem de religião assim. Não tinha no passado, é algo mais recente e é algo que por exemplo para mim me ajuda muito a auto reflexão, a saber como eu tô evoluindo, como eu tô progredindo. Algo que eu aprendi assim com o tempo é você precisa estar aberto para conhecer né e no geral a gente sei lá, foi foi criado em escolas ou em ambientes que, não tanto dentro da família mas mais fora da família que religião é algo meio que as pessoas falam “Nossa, coisa de bobo né”, tem um pouco essa visão assim “Ah coisa de gente sei lá que não tem visão de vida” e quando não, quando você se abre para conhecer você fala “Cara realmente assim, tem coisas que fazem muito sentido” você aprende conceitos que antigamente você não entendia nada e você fala “Ah nossa não tem nada a ver com que eu tinha entendido” e aí você vai aprendendo, mas talvez é um lado que quanto, da onde veio isso assim, quanto mais eu pesquisava, quanto mais eu queria entender sobre ciência né sobre até mesmo astrofísica, mais você chega à conclusão de que a razão leva à fé quase assim, chega uma hora que você tem que acreditar em alguma coisa maior assim, é quase que a sua capacidade cognitiva ela tem que ir para além do extremo racional porque não tem resposta sabe tipo, chega uma hora que você fala assim “Cara não é possível que tudo isso seja mero acaso assim, que não tenha nenhuma razão por trás” e o outro lado também que com o tempo eu fui aprendendo é que grande maioria das religiões, pelo menos as religiões principais né, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, eles promovem o bem né, você querendo ou não se torna uma pessoa melhor assim se você segue, se você acompanha de alguma determinada maneira. E tem também as filosofias como o budismo e tantas outras filosofias que também te ajudam a ser uma pessoa melhor então acho que essa auto consciência ela vem muito desse lado, de estar sempre refletindo, sempre indo, cada um tem que achar o seu espectro, tem gente que é mais um lado de terapia acaba ajudando muito, tem gente que quer algum algum tipo de meditação, meditação transcendental sei lá que já tentei fazer e não gostei muito, para mim foi o que eu mais me encontrei assim, que eu mais me identifiquei

Henrique de Moraes – Interessante. Eu acho que tem aspectos de religião ou de qualquer coisa que faça com que as pessoas se reúnam em um grupo sabe que é importante, fora trabalho né então assim em prática que sejam aulas de filosofia para discutir sabe, qualquer coisa que você tenha ali tipo alguma coisa em comum e você tem uma comunidade forte em volta acho que faz bem pra gente, a gente tem essa necessidade né então é,  como seres humanos mesmo a gente tem essa necessidade de trocar enfim, de pertencimento enfim, tudo isso e dentro do trabalho acaba que a gente assim, difícil falar né por todo mundo, posso estar generalizando aqui mas você acaba vestindo uma máscara, uma casca ali que você precisa né para conseguir passar por tudo que você precisa passar, eu não tô nem falando só empreendedorismo, qualquer pessoa que tá trabalhando ela tá ali num momento de conseguir conquistar cara comida sabe, teto para morar então assim, tem muita coisa em jogo e quando você vai para o lado, quando você sai disso vai para uma outra comunidade onde você pode ser de repente, se abrir mais, falar mais, ser mais você, estar mais fora de um contexto de precisar passar uma imagem ou qualquer coisa de construção nesse sentido acaba tendo uma importância muito grande e que eu acho que as pessoas não dão valor, e fora todo o lado que você falou do autoconhecimento, da busca enfim. E do acreditar cara, esse acreditar,  eu tava falando, conversando com minha sócia esses dias e eu falei assim, falei zoando com ela é lógico mas falei assim “Notei aqui, essa aqui agora é minha crença porque eu tô cansado de não acreditar em nada” porque é isso, você fica buscando o tempo inteiro, estudando para tentar encontrar uma resposta de fora né e não vai, exatamente, não tem assim, às vezes você não vai conseguir chegar nesse significado por conta própria. Se todo mundo que tentou durante milênios não conseguiu chegar sabe tipo assim, qual é a sua pretensão de conseguir?

Fernando Vilela – Não, e tem uma outra coisa que assim vai, essas três principais religiões do mundo elas existem há quase sei lá 2 mil anos né, até um pouco mais dependendo e aí você pega e fala assim “Ah não cara, tudo que esses caras aí conseguiram escrever lá atrás era tudo fantasia” aí você fala “Não é possível sabe” tipo, tem que existir algo maior assim porque senão qual é o propósito de viver né, acho que essa é uma provocação que eu vejo um pouco hoje assim, o mundo ele é cada vez mais vazio à sua razão assim, seu motivo de viver ele é cada vez mais vazio ou ele é cada vez mais materialista, quando ele deveria ser algo maior assim, mais nobre assim seja para qual caminho for então acho que sempre que você acredita que existe para algo além maior do que a sua própria existência, primeiro que é uma super lição de humildade né, de novo de você entender que você não é o centro do mundo e segundo ponto também de você falar “Tá bom, existe algo para além né tipo, para eu estar aqui fazendo o que eu tô fazendo e eu não sou simplesmente mais um ser humano aqui vazio que eu tô aqui, eu vou morrer e acabou a vida” senão para que você vive sabe tipo, literalmente assim, qual que é o objetivo né por trás? Porque que você vai construir uma, porque você vai pôr mais gente no mundo digamos assim se não tem nenhum objetivo, se teu filho não tem nenhum objetivo maior do que só viver né, então acho que tem esse lado que é muito louco assim, quanto mais você olha sei lá, tem um documentário na Netflix muito legal que é o Morgan Freeman narrando, esqueci o nome dele agora que é recém-lançado. Por exemplo relógio biológico, já parou pra pensar que o mundo inteiro ele funciona num relógio biológico em que todo dia animais saem fazendo a mesma coisa? Isso é muito louco, em todos os lugares do mundo assim então existem coisas que são místicas e talvez algum dia alguém descubra que tem mais racionalidade por trás do que qualquer outra coisa de mais espiritualidade mas em 2022 o homem já foi para a lua né, a gente já tem inteligência artificial, robô ganhando jogo de xadrez mas algumas coisas a gente ainda não sabe responder então pra mim ainda existe algo maior do que isso, tem que ter alguma coisa mais profunda do que só viver por viver.

Henrique de Moraes – É engraçado isso, eu tô viciado no conteúdo do Sam Harris, não sei se já ouviu falar, ele tem um aplicativo chamado “Waking Up” que é sobre, era para ser de meditação guiada mas fala sobre vários assuntos, tem muito conteúdo lá e ele é budista né, então não acredita em nada disso, tudo pra ele é um mero acaso sabe, nada tem uma razão maior por trás e tudo mais. Mas da maneira que ele coloca e assim, eu não tô defendendo o dele nem o outro, eu tô exatamente no meio de tentar arrumar uma coisa pra acreditar mas da maneira que ele coloca também não parece tão ruim, porque ele fala assim, ele dá um exemplo e eu vou cagar o exemplo dele muito provavelmente porque o Sam Harris é uma pessoa que fala muito bem, então é incrível ouvir ele falando, só de ouvir a voz dele você já tá mais calmo então não tem nem co-competição aqui mas ele fala assim, por exemplo se você vê um lobo na floresta né tipo assim e vários lobos fazendo aquela mesma coisa, você falou né que eles estão sempre fazendo a mesma coisa né, cumprindo aquela missão, tipo se acontecer alguma coisa com aquele lobo, se vem algum animal e mata aquele lobo, você não acha que teve um propósito maior por aquele lobo ter sido assassinado sabe tipo, simplesmente é a natureza mas o ser humano ele precisa disso né, se um ser humano sei lá matou o outro tipo parece que precisa de um propósito por trás sabe assim, usei um exemplo horroroso aqui gente, corta esse exemplo do matou aqui, esquece isso vamos falar de sei lá, aconteceu qualquer coisa na sua vida, seu carro bateu você acha que é alguma coisa, um karma, não sei que, você tá sempre tentando arrumar um motivo maior do que simplesmente cara aconteceu sabe, então eu fico bem dividido assim com essas duas coisas de verdade assim e ele fala cara tipo, você achar que não tem um propósito pelo lobo existir não tira a beleza dele sabe, ele continua sendo um animal animal assim, animal animal é ótimo, animal lindo sabe tipo assim dentro de um contexto sabe porque ainda é inexplicável sabe tipo tudo que ele faz, a maneira como vive sabe tipo assim continua sendo tudo muito lindo sabe, você não precisa e aí ele no final das contas a lição é essa né que você não precisa perder o tesão né e parar de apreciar a vida simplesmente porque você acha que não tem um propósito maior mas a vida continua sendo linda, continua sendo incrível a gente estar aqui sabe tipo assim nesse lugar e ter a oportunidade de viver as coisas que a gente vive sabe enfim, tô indo longe aqui

Fernando Vilela – É mas não deixa de ser um outro tipo de propósito né digamos assim né, outro tipo de objetivo

Henrique de Moraes – É uma crença na verdade, acho que o ponto é esse, você pode acreditar inclusive que não tem propósito, mas acho que o acreditar ainda assim é importante, e não ficar no limbo como eu em cima do muro

Fernando Vilela – Mas é muito legal isso que você tá falando assim que eu acho que é, você tem que estar aberto para entender, conhecer, se aprofundar e com isso naturalmente você vai entendendo o que mais faz sentido porque no geral a gente já vai para esse mundo cheio de paredes ao nosso redor né, cheio de julgamento de coisas que a gente leu em algum lugar que nem sabe o que é ou que a professora de história do ensino médio falou e a gente nem necessariamente entende e aí quando a gente começa a entender, ver, analisar e faz sentido ou não você fala “Puta cara de fato, nossa nunca tinha pensado que esse era o ângulo sabe” e aí você fala, que nem um exemplo que eu acho muito louco, é sobre tempo né, a definição de tempo. Você já parou para pensar que tudo está no passado? Isso é muito louco, tipo você tá me vendo agora tá no passado, por mais que pareça presente porque é um negócio de micro milésimos, da velocidade da luz de segundos mas é passado já, aí eu comecei até um livro agora que se chama “O Tao da Física”, mas eu tô bem no comecinho dele, tô no primeiro capítulo ainda mas que ele aborda muito sobre esse conceito de astrofísica e sobre como ele se conectam com elementos da culturas mais antigas do mundo, no geral culturas orientais, principalmente no sentido de espiritualidade e coisas assim.

Henrique de Moraes – Esse negócio do tempo também, esses dias eu tava lendo um livro e eu não vou lembrar qual que é porque eu tava lendo uns três livros de behavioral economics ao mesmo tempo assim então tipo fui vendo de um, do outro enfim e num deles ele falava, alguém falava assim sobre como a gente precisa né, a nossa noção de tempo ela é visual no sentido de você tem tipo uma linha do tempo onde você tem né a parte de trás tá aqui tipo sei lá, do meio pra esquerda e aí tipo o que seria o futuro é dali para frente né e ele fala tipo assim, cara esse conceito do tempo, dessa linha do tempo não existe na verdade né e como isso de certa forma ajuda a gente a colocar as coisas mas é uma ilusão muito louca sabe porque você simplesmente pega, por exemplo se você faz um planejamento né financeiro e aí você tá colocando né daqui do meio que seria o presente pra frente um monte de de marcos né que você tá querendo atingir só que nada daquilo ali, essa linha ela não existe né tipo, tudo pode acontecer daqui pra frente sabe tipo, nada sei lá amanhã o mercado pode sofrer um colapso, pode entrar em guerra, é tudo na verdade incerteza mas é uma forma da gente tentar encontrar estabilidade nessa incerteza maluca né que é na verdade viver se você parar pra pensar né então fica mais fácil a gente enxergar o passado que também não existe se você parar pra pensar né, essa coisa de, a parte que eu gosto muito no budismo né é essa coisa de fazer a gente treinar a nossa mente a não ficar no futuro do passado o tempo inteiro e de ficar remoendo conversas que a gente teve e ou então com medo do futuro né. O Sam Harris, esse cara que eu falei, fala sobre isso, cara o que vai adiantar você ficar por três horas se perguntando como é que você poderia ter tido uma conversa de uma maneira diferente? A conversa já aconteceu, a única coisa que você tem é daqui em diante, o futuro ainda não existe mas você pode mudar a partir de agora. Se você deu mole, falou uma besteira, cara esquece já aconteceu, o que você pode fazer é mudar a partir de agora e você sempre tem essa chance, e isso eu acho fenomenal assim, cara você sempre tem a chance de começar de novo, o tempo inteiro a cada segundo você tem a chance de fazer diferente do que você fez dois segundos atrás sabe, então aproveita essa chance, aproveita essa oportunidade e só vive sabe tipo assim, beleza tá arrependido? Você aprendeu a lição, aquela conversa ali tipo que você brigou com sua irmã por qualquer besteira, aquilo acabou, não tem sentido ficar remoendo, vive dali pra frente sabe assim.

Fernando Vilela – E por exemplo, algo nessa linha de espiritualidade assim que é um dos pontos que você tem que refletir muito é sobre a sua própria morte e isso é muito louco, e quando você começa a pensar sobre a sua própria morte você muda total a questão de futuro, porque você fala “Cara eu posso morrer amanhã, tipo por que que eu vou deixar para fazer algo amanhã que eu posso fazer hoje né?” que é nessa mesma linha então a gente como ser humano tem algo muito louco, a gente foge um pouco da discussão da morte né quando na verdade ela é um processo natural assim da sua vida, a única certeza que você tem como ser vivo é que você vai morrer um dia. Se vai ser amanhã, daqui a 5 anos, 20, 30, 50 anos né, queira algo que seja 50 anos mas pode ser que seja amanhã então você não, volta nesse ponto quando você tava falando de refletir, “Puta vou fazer isso agora né, vou resolver agora. porque que eu vou ficar pensando, postergando, barrigando”, você tá meio que se enganando porque você tá assumindo que você nunca vai morrer, tipo isso é muito louco quando você pode morrer a qualquer momento né, quando a vida é finita e aí volta em toda a questão do tempo né, como você vai entendendo como que o tempo ele vai se aproximando e se conectando de você, tanto que no geral quando a pessoa fica mais velhinho, todo mundo tem vô e vó ou já teve vô e vó, aí a pessoa, a galera começa a falar “Não, ficou velhinho e começou a dar uma de louco” e às vezes não, às vezes é só que tá vivendo como se fosse morrer amanhã, não é que tá dando mais de louco assim no sentido de “Ah tá indo viajar toda hora”, “Tá experimentando coisas novas” é só falar “Ah cara posso morrer amanhã mesmo, porque eu vou me privar de alguma coisa?”

Henrique de Moraes – Cara tem tanta coisa nisso porque falando dessa questão da linha do tempo né e é uma ferramenta ótima como eu falei, para planejar é maravilhoso mas é vamos lá, duas coisas que tem em relação a planejamento né de futuro, uma que é uma ilusão e que assim mas que a nossa espécie né é a espécie que consegue fazer isso porque a gente acredita em Histórias então tipo você chega e fala assim “Ah gente eu vou montar uma empresa que eu pretendo que valha 1 bilhão daqui a tanto tempo” e as pessoas que estão entrando com você elas estão acreditando na sua história num futuro que caralho, ninguém faz a menor ideia se vai acontecer. E assim, tudo que aconteceu de revolução na humanidade vem dessa habilidade da gente de contar e de acreditar em histórias que foram passadas pra gente né. O dinheiro, dinheiro é uma história, dinheiro não é nada, hoje em dia especialmente não é nem mais físico sabe, tá dentro do aplicativo e você trabalha pra em vez de você sei lá no final do dia você ter comida e bananas, como diz lá o Yuval Harari, no final das contas você recebe um número dentro do seu celular que você troca por banana mas se você quiser comer o dinheiro, sua nota ela não tem valor real né. Então a gente tem essa coisa de acreditar no futuro e planejar, o que é ótimo porque a gente consegue fazer muitas coisas incríveis como ir pra Lua que é tipo assim “Caraca” e agora estacionar o foguete de volta sabe mas em compensação, quando você vê as pessoas, duas coisas né agora sobre isso, sobre o lado negativo ou enfim que a gente precisa tomar cuidado é que primeiro, planejamento causa muita ansiedade então um desses livros que eu tava lendo fala sobre como um cara que sofreu um acidente aqui e entrou no lóbulo frontal dele um parafuso ou qualquer coisa enfim e aí perceberam assim que, ele viveu, e ele tava funcionando normalmente e fala assim “Cara o que que tá acontecendo, como assim?” eu tenho que lembrar onde é que foi esse parafuso tá gente, não tenho certeza onde foi não, eu não sou neurocientista mas enfim o que eu sei é que pegou numa área que é a área responsável pelo planejamento e aí o que descobriram foi que ele começou a ficar mais tranquilo, ele ficou uma pessoa super calma e aí

Fernando Vilela – Loucura

Henrique de Moraes – Loucura, exatamente. Aí depois descobriram né que é isso tipo, essa área do córtex pré-frontal alguma coisa assim é a área responsável pelo futuro, por pensar no futuro e planejamento e quando você perde essa área você continua funcionando normalmente só que você fica chill, fica relax porque você não tá mais preocupado com o futuro. E quando você fala também e tipo essa é uma parte, essa preocupação constante com o futuro consome muita energia vital da gente sabe, a gente tá o tempo inteiro pensando se a gente vai ter dinheiro, se a gente vai ter não sei o que, se vai conseguir conquistar sonhos que às vezes a gente nem sabe se a gente quer de verdade e tem um monte de coisa aí em volta e por outro lado, tem um livro que eu sinceramente não consegui terminar de ler, achei chato mas eu peguei a premissa e terminei ele no meio mesmo, que eu não vou lembrar o nome do livro, vou tentar achar pra colocar aqui depois na descrição do episódio mas que falava sobre, era uma mulher que ela começou a trabalhar como cuidadora e ela começou a trabalhar como cuidadora de pessoas em estágio terminal né e ela começou a fazer perguntas, ela era escritora alguma coisa assim e ela começou a fazer perguntas pra essas pessoas a pergunta que ela fazia era tipo do que se arrepende e assim, você para e pensa né tipo assim que as pessoas vivem as vidas correndo atrás desses sonhos de sucesso que a gente tem né, de casa, carro e sucesso financeiro e sucesso e aí as pessoas falavam “Ah de não passar mais tempo com meu filho” sabe, “Ah queria ter aproveitado mais e me preocupado menos” sabe tipo assim “Ter ido pra praia mais”, é muito louco assim quando você para pensar que no final da vida tudo que a maioria né de nós trabalha a vida inteira para construir é o que menos faz diferença sabe tipo e é muito louco e a gente tá nessa roda né a gente tá assim, eu tô falando aqui e saber não me isenta de nada assim, eu continuo na mesma roda que todo mundo sabe tipo assim, só fico mais fudido porque eu fico agora com isso na minha cabeça aqui pensando “Porra será que hoje eu tinha que estar trabalhando ou estar aqui embaixo com minha filha que hoje está em casa” por exemplo sabe

Fernando Vilela – Mas é isso, sabe um ponto que eu acho que é muito, é você descobrir qual que é sua vocação, acho que esse é o ponto central assim, tem gente que às vezes a vocação é diferente da do outro sabe, tem gente que às vezes a vocação é trabalho, tem gente que às vezes a vocação é sei lá um projeto social, tem gente que ás vezes a vocação é montar negócio, cada um tem meio que a sua vocação mas eu acho que para mim tem alguns pontos que são sempre centrais assim. O primeiro ponto é, família é o centro de tudo, família sempre em primeiro lugar assim, nos piores momentos da sua vida as únicas pessoas que vão estar ali para te apoiar, para te ajudar é sua família e mais ninguém né, amigo, amizade, colega de trabalho, tudo isso é passageiro né, transitório mas família tão sempre ali porque é given, é dado então você nunca pode esquecer disso e que também ninguém consegue andar e evoluir também sem gerar e promover o bem de alguma maneira, então eu acho que você de alguma maneira tá gerando e promovendo o bem, tem gente que é pelo trabalho, tem gente que é por meio de projeto social, tem gente que é só sendo super educado e simpático, cada um tem seu jeito assim de promover o bem sabe então eu acho que claramente tem esse outro lado né. Quando você vê aquela pessoa irritada, mal humorada, no geral é aquela pessoa que tipo a família é errada né tipo, tudo errado na vida da pessoa assim, nada se encaixa assim. As pessoas que você conhece que são as mais calmas no geral ela se dão bem com a família, elas estão sempre promovendo o bem assim, elas não julgam ninguém, são super de boas, é aquela pessoa que a gente chama de pessoa zen né ou elevada né, não é? Sempre tem alguém que quando você encontra você fala assim “Nossa é tão tranquila, tão calma, caraca um dia eu queria ser que nem essa pessoa” aí você vai ver a pessoa é tipo, nada abala assim, nada interfere, nada muda o impacto, que é um pouco isso que a gente tava falando aqui, que tem muito esse lado.

Henrique de Moraes – Cara Fernando, obrigado pelo pelo bate-papo, foi sensacional acho que curiosamente a gente foi para um caminho que eu não esperava mas que foi ótimo também. Eu tenho uma pergunta cara pra gente fechar aqui

Fernando Vilela – Claro

Henrique de Moraes – Porque tem um ketchup e uma mostarda no quadro atrás?

Fernando Vilela – Ah eu não sei, é da WeWork, aqui do escritório mas mano não faz sentido nenhum tem um copo de leite olha

Henrique de Moraes – Eu tô aqui “Porra você tá promovendo cara saúde, falando de alimentação e tem um copo, tem um negócio de ketchup e mostarda atrás, meio contraditório”

Fernando Vilela – Meio contraditório assim, a gente até mudou de escritório, vai pra um próprio na virada do ano aí pelo menos vai ter mais um

Henrique de Moraes – Vai ter um prato de salada atrás

Fernando Vilela – Vou ter um prato de salada atrás. Nem quadro vai ter né, dado o novo contexto vai ser um pouco mais raiz

Henrique de Moraes – É verdade, maravilha cara. Obrigadão Fernando, obrigado pela generosidade, foi sensacional.

Fernando Vilela – Obrigado pelo convite, valeu!

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