pioneira nos estudos da terapia canabinoide no Brasil, Paula Dall’Stella é médica, pós-graduada em neuro-oncologia, especialista em radiologia e diagnóstico por imagem. é parte do corpo clínico do núcleo de cannabis medicinal do Hospital Sírio-Libanês. além disso, é fundadora e CEO da Sativa Global Education, plataforma de educação em endocanabinologia e cannabis para fins medicinais, que reúne as maiores autoridades mundiais da medicina canabinoide.

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Flávia Lippi
  • Tristan Harris
  • Martin Lee
  • Eckhart Tolle
  • Joe Dispenza

Henrique de Moraes – Olá pessoal, sejam muito bem-vindos a mais um episódio do calma!, hoje eu tô aqui com uma convidada super especial que a gente está tentando marcar esse bate-papo já tem um tempo e finalmente conseguimos. Estou aqui com a doutora Paula Dall’Stella, pioneira na prescrição de cannabis medicinal no Brasil e referência internacional no assunto. Seja bem-vinda, doutora

Dra. Paula Dall’Stella – Muito obrigada Henrique, é um prazer para mim estar aqui, acho que o papo vai ser muito legal tô bem animada.

Henrique de Moraes – Maravilha, eu também. Antes de começar, de entrar na pauta aqui eu fiquei curioso com a origem do seu nome, de onde vem esse Dall’Stella? É diferente né

Dra. Paula Dall’Stella – Dall’Stella, é um nome diferente. Meu nome significa “da estrela”, é um nome italiano e na verdade ele foi registrado errado aqui no Brasil porque seria “Dalla Stella” e aí eles colocaram não sei porque uma apóstrofe então ficou Dalla’Stella mas é “da estrela”, um nome italiano, de Vêneto na verdade, região de Vêneto. Eu tenho meus dois nomes italianos, o Baseggio que é meu nome do meio mas ninguém conhece, também é difícil de falar, eu acho complicado de colocar ele e o Dall’Stella, os dois italianos aí que me fizeram.

Henrique de Moraes – Maravilha, fica bonito visualmente inclusive, eu olhei com olhar de designer aqui, já olho e vejo uma marca assim.

Dra. Paula Dall’Stella – É bonito mesmo, eu gosto do meu nome.

Henrique de Moraes – Bom maravilha, agora que já tenho isso esclarecido posso começar aqui mas quando eu tava fazendo a pesquisa para o podcast né, eu gosto de ouvir várias entrevistas, ver por onde os convidados passaram e tentar entender né um pouco sobre a trajetória e em uma entrevista eu vi você se referindo à ansiedade como a doença né e aí eu fiquei me perguntando se a gente já pode caracterizar ansiedade como uma doença né assim, a gente sabe que é o mal da nossa geração mas como é que você enxerga isso?

Dra. Paula Dall’Stella – Na verdade você tem até uma classificação internacional das doenças, ela tem um código então ela é considerada um transtorno, é o transtorno de ansiedade generalizado e realmente ela pode ser considerada uma doença quando ela sai daquele aspecto da ansiedade normal, “Vou viajar”, “Eu vou sair com uma pessoa nova”, “Eu vou enfrentar”, “Vou dar minha aula em público”, essa necessidade ela é uma ansiedade natural que todo mundo tem né assim, uns mais e outros menos mas ela não é uma ansiedade que prejudica o teu dia a dia. Quando a gente fala de um transtorno a gente tá falando daquela ansiedade que realmente você sente e te prejudica então você passa muito tempo com aquela sensação, é uma sensação física e não só a mental né tem uma associação ali de um contexto físico, você sente a ansiedade então para muitos pacientes isso se reflete como sudorese, dor de cabeça, dor de estômago, tremor, com a queda da pressão, aumento da pressão, enfim, então você tem todo esse contexto realmente que ela traz né outros sintomas inclusive associados dentro de um transtorno, então hoje né você até brincou se a gente já pode falar que ela é por conta de tantas pessoas sofrerem desse mal né, a gente hoje estima-se pela OMS que as doenças mentais mas principalmente a depressão e eu acho que a ansiedade puxa bem junto é a doença mais incapacitante do planeta, a depressão e a ansiedade segundo a OMS. E aí eu dou muita aula sobre isso, eu falo muito do contexto metabólico dessas duas doenças vamos dizer, o que são né obviamente são duas doenças, porque que elas são tão difíceis de lidar, de tratar porque é que muitos pacientes mesmo em tratamentos convencionais né, tradicionais eles ainda apresentam falhas terapêuticas, o que que acontece em relação à essas duas temáticas que hoje né os pacientes mesmo em vigência do uso do medicamento eles reclamam que estão ansiosos ou depressivos. Então assim, realmente né existe um contexto metabólico e hoje né a gente talvez chegue nesse papo lá mas você deve saber que a sou uma estudiosa do sistema endocanabinóide né que é um sistema muito interessante do nosso organismo que ele é um sistema de comunicação então muito se fala sobre claro o equilíbrio interno, o que que faz esse sistema e resumidamente a gente explica assim, ele é um sistema que a principal função né desse sistema é devolver equilíbrio ao corpo né, homeostase que é o nome científico do equilíbrio. Só que se você tem uma doença crônica por exemplo ou você tem, ou estresse crônico, vamos falar que, então vamos lá já que você trouxe a ansiedade, o ansioso é o estressado né, ele é basicamente uma pessoa estressada, muito difícil o ansioso não ter estresse relacionado porque você não vai ser ansioso se você for, talvez um pescador ali tenha uma ansiedade, a gente tá tentando né, “Não mas hoje o pescador tem ansiedade porque ele precisa ganhar dinheiro”, enfim todas as coisas né do mundo que envolvem a gente e que realmente se você não tem uma base até espiritual madura, você cai numa vala de descrença e de medo do futuro né porque a ansiedade está muito relacionada ao medo do futuro, ao medo do que vai acontecer né, uma certa ansiedade sobre o futuro né e a depressão é muito relacionada ao passado né, o que aconteceu no passado que você não resolveu, as dores, os traumas enfim, toda aquela coisa né que vem de trás. Mas de toda forma não importa esse aspecto psicológico mas importa que sobre estresse o organismo ele começa a alterar a resposta, então por exemplo a resposta de estresse ela é fantástica para nós, ela tem que existir, é essencial a vida né então se você precisa por exemplo fugir de um leão, eu gosto muito da ideia do leão, você tem toda uma estrutura metabólica que te faz aumentar a visão, melhorar sua performance, você vai correr como nunca correu na sua vida, você nem sabia que você corria desse jeito. Você vai parar o processo digestivo se você já acabou de comer, você não vai conseguir raciocinar e fazer conta matemática porque você só vai conseguir enxergar a saída, enfim são vários aspectos do seu corpo que eles alteram durante um estresse agudo porque justamente foi o que fez com que a gente sobrevivesse aqui na Terra. Sem essa resposta do medo, da resposta do estresse nós teríamos sido comidos pelos leões, pelos animais, então só sobraram os humanos que tinham essa resposta bem desenvolvida, e isso foi passado de gerações e gerações e cá estamos, não tem leão, não tem outro leão mas

Henrique de Moraes – Tem o e-mail

Dra. Paula Dall’Stella – Tem o e-mail, tem o barulho do WhatsApp, o like do Instagram sei lá, cada um tem o seu, tem mil coisas pra pensar, eu vejo cada coisa inacreditável no consultório, mas elas existem. E o que acontece, quando você tem que correr do leão o dia inteiro, o teu corpo não foi feito para isso então assim são vidas né e a gente pode colocar isso numa vida normal vamos lá, uma pessoa que mora em São Paulo, que vai pegar, que vai entrar em contato com a poluição, que vai pegar um trânsito enfim né às vezes de uma hora e meia, duas horas para ir e para voltar, vai ter o embate no trabalho, às vezes nem gosta daquilo que tá fazendo, enfim e aí você começa a montar uma vida e essa vida é disfuncional, esse estresse é crônico e ao cronificar o estresse, que eu acho que todo mundo aqui de uma certa forma faz né, apresente essa cronificação do estresse, ela começa a criar uma disruptura de resposta e essa disruptura de resposta tem a ver com o sistema endocanabinóide porque depende dele, é como se fosse um ciclo de feedback então uma vez que eu libero meu cortisol porque eu estou sobre estresse e o estresse agudo ele faz isso né, libera cortisol, vou sair correndo só que eu libero cortisol e ao mesmo tempo eu tenho substâncias do sistema endocanabinóide que são liberadas e que fazerm com que essa resposta termine, e isso é saudável, bacana, ela começa e ela termina e o corpo se reestabelece, você saiu, correu do leão você fugiu, deu certo, você vai descansar e você vai voltando ao normal, tua pressão vai voltar ao normal, teu olho, teu processo digestivo e você vai conseguir dormir à noite, então tá certo isso. Quando você tem uma disruptura da resposta inflamatória e você passa a não ter mais a substância que fazia esse feedback e que contava pro corpo que ele podia parar a resposta de estresse e agora ele passa a perpetuar essa resposta constantemente, agora tô com um problema gravíssimo porque eu tô com uma falha de comunicação e por conta dessa falha de comunicação eu tenho um hormônio que era para ser liberado durante X minutos o dia inteiro ou muito tempo ou fora de hora ou fora de pico e isso faz com que o corpo agora vulnerabilize para uma série de questões e doenças. Pela falta de comunicação tá faltando neurotransmissor, tá faltando moléculas comunicadoras e eu tô tendo muito cortisol por exemplo, tô falando aí relacionado ao estresse e a depressão. E aí associado a isso você tem uma alimentação disfuncional e pior ainda então aí você vai adicionando os tijolinhos dentro desse castelo né, relacionamentos tóxicos no trabalho, em casa e aí vai adicionando, tabagismo, alcoolismo enfim e aí você montou aí um paciente que quando chega no consultório para mim com queixa de ansiedade, se você não enxergar tudo isso e tratar com ansiolítico e achar que o problema tá na serotonina coitadinho, gente é uma falta de visão enorme sobre o que tá acontecendo com aquele paciente, por isso que muitas vezes, muitas vezes não funcionam os tratamentos para ansiedade e depressão, porque o problema não tá na serotonina tadinha, tá em vários outros lugares ao mesmo tempo.

Henrique de Moraes – A difunção geral né, vamos colocar.

Dra. Paula Dall’Stella – É, toda doença crônica ela é uma disfunção geral, é impossível você acometer um órgão só do organismo, é a mesma coisa que hoje a medicina tradicional faz, ela separa subespecialidades e aí elas não conversam, então a neuro não conversa com o gastro que não conversa com o imuno, não que eles não, os médicos conversam, as especialidades não conversam né e hoje nós sabemos né, principalmente o médico que tá atualizado, que não existe você não entender mais dessas relações porque o intestino, até parece uma brincadeira mas o médico que não sabe disso hoje Jesus, que o intestino é o segundo cérebro e porque ele é o segundo cérebro? Sistema nervoso entérico, nosso sistema nervoso central, sistema nervoso entérico, olha o nome dele, sistema nervoso entérico, ele tem inúmeras conexões sinápticas, liberações hormonais e de neurotransmissores inclusive, a gente tá falando aqui da serotonina e da dopamina, nós temos liberações desses neurotransmissores no intestino. Então existe uma relação gigantesca entre a pela e o intestino, entre o pulmão, a pele e o intestino, entre o sistema imune e tudo isso, obviamente mas enfim, é isso, acho que a abertura que você queria sobre a ansiedade vai levar a gente numa cascata de outros eventos dentro da medicina, não sei se quer ir por aí.

Henrique de Moraes – Não acho ótimo assim, acho que é interessante e eu queria até entender um pouco de como você enxerga assim é, você falou dessa coisa do estresse crônico né e dessa mudança que a gente tem né, a liberação de cortisol enfim quando a gente tá sob estresse que acontece hoje o tempo inteiro mas não é o único né assim, tem várias outras coisas que vão acontecendo em proporções, em sei lá em uma frequência que hoje não faz sentido como liberação de dopamina também né, que a gente tá o tempo inteiro recebendo, tem um cara que eu gosto muito que ele fala “snacks de dopamina” ali quando a gente tá navegando nas redes sociais e essa coisa da gente estar o tempo inteiro também com uma hiper facilidade e ficando parece que não consegue mais lidar com coisas de longo prazo né, com desafios de longo prazo então virou uma briga de hormônios e neurotransmissores, é isso que tá acontecendo?

Dra. Paula Dall’Stella – Olha sabe que é uma problemática interessante essa que você trouxe porque nós não tínhamos essas doenças antes né, nós não tínhamos depressão e ansiedade relacionada à rede social, hoje isso é uma realidade principalmente pelos adolescentes né e isso também causa uma disfunção realmente nesse circuito da dopamina que é um circuito muito importante para nós, tá relacionada à foco né, à felicidade, então qualquer disruptura nesse circuito vai ter né, vai te causar um problema muito grave mais à frente e hoje eu percebo assim, eu acho que a USP estava estudando isso recentemente, eu tava lendo sobre isso que são essas novas doenças relacionadas ao uso da rede social e da própria imagem às vezes do adolescente então ele tá lá e aí ele vê todo mundo viajando, feliz né, gente aquilo é tudo uma mentira né, ninguém vai postar a foto quando você tá sem maquiagem, brigou com o marido, não dormiu, olheira, descabelada, não você vai postar aquela foto fake feita ali, com um vasinho de flor, todo mundo feliz e ninguém sabe o que tá acontecendo dentro daquela casa. Então assim, tem que ter muito cuidado quando a gente explora essas redes sociais naquilo que a gente acredita ou não né, então existe um lugar muito legal na sua conta, trabalho na rede social, tô lá todo dia falando e etc mas então se você souber usar você vai usar ela como informação, você não vai usar ela como um comparativo da sua vida que te traga uma doença né porque esse é o perigo de você engajar, e a dopamina ela você vicia, você tem uma sensação de que você precisa daquilo mais e mais porque é confortável e você quer aquela sensação de felicidade relacionada à essa neurotransmissão, a esse neurotransmissor, é complexo isso hoje.

Henrique de Moraes – Sim, tem até uma neurocientista agora que lançou um livro chamado “Nação dopamina” e eu não li o livro na verdade mas eu vi uma entrevista dela e ela falou uma coisa que eu nunca tinha, não sabia na verdade né porque assim eu tô longe de ser cientista mas eu sou curioso pesquisando essas coisas, especialmente relacionado a rede social assim que é uma coisa que eu tenho uma relação meio conflituosa assim então ela fala que a gente tem a sensação de que a dopamina é como se a gente estivesse no zero e de repente caiu uma dose de dopamina né, como se fosse alguma coisa do zero pra alguma coisa e depois volta pro zero, mas na verdade ela fala que a gente tem tipo uma linha e que essa linha assim, eu não sei tô tentando aqui explicar o que ela explicou, talvez não seja da melhor maneira possível mas é como se tivesse uma linha e por exemplo, a gente recebeu uma dose de dopamina e essa linha sobe e depois ela nunca desce pro zero, ela desce um pouco abaixo, que é por exemplo você teve uma reação sei lá fez alguma coisa que foi muito legal assim, ficou muito feliz e aí depois você tem uma pequena depressão logo depois né, então que tem essas quedas e aí ela fala que quando você tem a queda você tem o desejo né, você vai ter mais vontade de ter alguma coisa que libere mais dopamina então agora nesses ciclos tão curtos a gente tá ficando de fato assim totalmente viciado porque é isso tá o tempo inteiro, saiu da rede social você já tá nesse momento pós depressão, já quer voltar praquela dose ne novo né então fica nesse ciclo infinito né

Dra. Paula Dall’Stella – É o circuito de recompensa que nós temos, que é o circuito faz adição as coisas, então adição inclusive ao álcool, adição à drogas, ao sexo né, a pornografia, é isso, na verdade é esse circuito que faz com que você precise daquilo na verdade porque ele tá o tempo todo mexendo com a tua dopamina.

Henrique de Moraes – Cara é muito louco isso. Vou aproveitar que você falou, que você levantou a mão aí quando eu tava falando dessa relação conflituosa aí, complexa, como que é a sua relação com as redes sociais? Eu sei que você trabalha, você tem muitos seguidores, você posta frequentemente, como é que é isso?

Dra. Paula Dall’Stella – Então é exatamente por essa, exatamente isso que você falou, não deixar cair nessa armadilha em que você perde tempo browseando ali, onde você não ganha nada com aquilo realmente né, é um limitador muitas vezes da sua própria vida e do seu rendimento durante o dia. Então eu já me peguei assim em situações tipo tenho coisas para fazer e tô lá eu vendo o Instagram, eu não, o mundo já deve ter passado por isso

Henrique de Moraes – Com certeza

Dra. Paula Dall’Stella – Com certeza. O que que acontece assim, que daí eu fico com raiva de mim mesma porque eu falo “Porque que eu tô fazendo?”, depois que acabam as coisas e etc, depois eu perco o interesse e não quero ver, é muito interessante isso então é uma relação de amor e ódio porque é bom, é interessante, tem coisas muito legais ali, se realmente você souber a ferramenta e usar essa ferramenta você vai conseguir ter várias informações, claro ela é um canal de entretenimento, não é um lugar pra estudar né, o Instagram e o Facebook, essas redes sociais eles não estão lá pra gente estudar mas eles podem semear alguma coisa que me faz estudar algo depois e me aprofundar em certas temáticas que ali eu tive meu primeiro contato ou escutei muitas vezes, tô vendo que tá virando um trend, alguma coisa que tá realmente fazendo sentido e etc e eu vou buscar. Então eu acho que assim, saber usar, por isso que a relação é conflituosa, é a relação de ódio e amor, eu gosto porque realmente saber usar é maravilhoso mas quando me pego em situações em que eu tô perdendo tempo e tô ali jogando né fora uma coisa que não volta mais porque dinheiro você refaz, você faz mas tempo não, tempo é preciosíssimo, tempo você não pode jogar fora, tempo e energia você não pode jogar fora né então esse é o conflito.

Henrique de Moraes – Uma vez eu ouvi aquele Tristan Harris, que acho que hoje é a pessoa que mais tá aí fazendo uma cruzada contra as redes sociais né e ele fala uma coisa que é interessante que é, quando a gente fala né das redes sociais como uma ferramenta tem que tomar um cuidado porque ele fala que essas redes sociais elas não estão lá como um martelo né, paradas esperando “Ah agora eu preciso martelar alguma coisa” e você pega e usa, elas na verdade te usam o tempo inteiro e são assim milhares e centenas de milhares de engenheiros mais bem pagos do mundo que estão ali especificamente para te fazer ficar né, pra você usar de uma certa maneira, pra você né mexer de um certo jeito, publicar de um certo jeito né, a gente que trabalha com isso você vê assim a cada hora muda a regra, muda o formato, muda então você tem que usar daquele jeito específico, o martelo não vai te pedir pra martelar de um jeito específico senão não vai dar certo né, isso é muito louco e essas coisas são muito viciantes né a ponto de às vezes você não conseguir isso, tipo eu entro para fazer isso, eu vou entrar com um objetivo, quantas vezes eu entrei e de repente eu já tipo “O que que eu vim fazer aqui mesmo?”

Dra. Paula Dall’Stella – Quem convive comigo me criticava muito por causa disso, porque essa facilidade inclusive para quem tem déficit de atenção, para quem é mais avoado assim, às vezes tem pessoas que são muito focadas e conseguem fazer, eu admiro essas pessoas mas eu por exemplo muitas vezes vou buscar algo e me vejo completamente ali né naquele mundo e o que eu acho mais tenso de tudo isso é que no fundo no fundo isso tudo é usado para que você compre né algo assim, de vender então eu gosto muito de receitas assim eu adoro, para mim o Instagram eu uso muito para receitas saudáveis eu adoro, tenho um milhão de coisas ali e sou impactada com panelas, com coisas o tempo todo então assim desde coisas para comprar, de comidas para comprar né, restaurante etc e tal então assim, realmente é se você sabe onde você está nesse lugar, porque existe também uma compulsão relacionada ao consumo e eu também já tive esse momentinho de estar ansiosinha e comprar, já comprei roupa, já comprei, já tive isso então é importante você também passar por isso pra também não querer isso né então assim, acho que a experimentação ela é muito valiosa no sentido de que você pode escolher depois se você quer continuar ou não e para mim hoje a rede social ela é muito estabelecida assim, muitas vezes eu só uso para fazer o que eu tenho que fazer no meu trabalho, fazer minha postagem, desligo e não vou olhar, pra ficar alguns dias livre disso, não ter a necessidade, não acordar e fazer isso, não ir dormir e fazer isso, não ter essa necessidade porque não vai mudar nada no fundo. Pode até te causar uma ansiedade se você ver alguma coisa antes de dormir, atrapalha sei lá, uma coisa que você não queria ver, enfim.

Henrique de Moraes – Total assim, as redes socias e o Instagram particularmente assim acho que é minha kryptonita, tenho muito problema e me causa muita ansiedade assim, de às vezes ficar dois dias, três dias sem entrar e aí 2 minutos navegando eu já tô sentindo sabe, acho que até por ficar esse tempo fora quando eu volto parece que eu já sinto a ansiedade chegando, eu falo “Não é possível”, e aí você começa a ver a foto e não sei o que mas, pessoas bem sucedidas e aí falo “Cara não, preciso ficar fora disso aqui”, pessoas “bem sucedidas”

Dra. Paula Dall’Stella – Isso aonde, você não sabe nada né, a grama é sempre mais verde não sei aonde.

Henrique de Moraes – Sim mas eu vou, enfim não quero me extender muito aqui nas redes sociais, tem bastante coisa aqui na pauta pra falar, só um detalhe que é importante assim que eu tenho visto muito e me preocupa, preocupa seriamente hoje em dia assim, que é ver as pessoas parando de sair, de ter interação social porque elas preferem ficar no TikTok, preferem ficar nesses lugares e muito por isso né porque é muito mais difícil você construir um relacionamento assim, muito mais demorado então assim, as pessoas ficam nesse circuito, nesse ciclo ali infinito cara e às vezes fala assim “E aí como tá?”, “Ah tenho saído pouco, tenho visto pouco o pessoal”, falo “Mas porque? Faz um esforço”, faz tão bem.

Dra. Paula Dall’Stella – E você vê um casal ou uma família num restaurante e todo mundo tá com seu celular no Instagram, eu acho assim, graças a Deus na minha casa a gente, todo mundo gosta de desligar, todo mundo tem o hábito de não levar para a mesa graças a Deus assim, minha família a gente é bem consciente nisso e gosta de estar junto enfim, tira o celular, vai obviamente vai precisar num momento ou outro, ninguém é xiita né nesse aspecto mas procura não levar, procura estar no momento presente, isso é tão valioso e é tão feio quando você vê né assim você as pessoas deixando de interagir para interagir virtualmente às vezes tá na mesma mesa falando pelo WhatsApp.

Henrique de Moraes – Cara é uma loucura e assim, uma vez eu ouvi uma analogia que eu achei sensacional, que as redes sociais são como fast-food para relacionamento né porque, não lembro quem falou isso mas a lógica era tipo, a partir do momento em que as pessoas descobriram que você podia tirar o açúcar e sal das coisas e botar só isso no alimento né, e você tira todos os nutrientes daquilo sabe tipo assim é um alimento que vai te dar uma recompensa né de prazer ali muito grande mas não tem benefício nenhum e ele fala que a rede social é exatamente isso né, você tira tudo que tem de consistente ali dos relacionamentos, só fica a pior parte mas é a que te dá a maior recompensa de prazer mas enfim, vamos mudar de assunto porque se deixar eu fico aqui a vida inteira. Eu ouvi você também num outro bate-papo e eu queria muito que você falasse sobre esse estudo, uma pesquisa não sei exatamente o que que era sobre pessoas centenárias né e o que que tinha em comum nessa cidade onde as pessoas viviam bem né a partir dos seus 100 anos então pode contar um pouco.

Dra. Paula Dall’Stella – Esse assunto é muito legal, são as blue zones, as blues zones são 5 lugares do mundo, a Grécia então é um lugar, são todos povos né, populações, não é a Grécia em si, então é um povoado na Grécia, outro na Califórnia, outro na Costa Rica, Japão e Itália, então olha que legal né, se for pensar assim o que tem em comum em relação à alimentação? Nada então o que o Japão, a Itália, a Grécia, a Costa Rica e a Califórnia eles comem em comum? Nada então esse é um grande mito que nós temos, não que a gente não tenha que comer saudável, mas a história do suco verde, tudo isso só funciona se outras coisas funcionarem então assim, o que eles identificaram? Claro, existia uma relação comum entre esses povos comerem alimentos locais, da estação, se alimentarem até 5 horas da tarde

Henrique de Moraes – Tem um jejum intermitente acontecendo aí

Dra. Paula Dall’Stella – Então, olha só que interessante, pelo menos se alimentar até 3 horas antes deles dormirem, o que mais, um dos aspectos mais importantes se relaciona ao pertencimento de uma comunidade então um cuida do outro, se alguém morre sabe que vai ser assistido pela comunidade, uma relação de espiritualidade desenvolvida com essa comunidade então pertencimento a uma igreja, eles não definem essa espiritualidade como tendo que ser uma religião mas de você ter realmente a prática

Henrique de Moraes – A crença né

Dra. Paula Dall’Stella – Isso, a crença e a prática em grupo da tua espiritualidade, então o pertencimento, a sensação de pertencimento, amigos verdadeiros, a relação familiar, a coisa mais importante para esses povos é a família, a família vem sempre em primeiro lugar, o avô mora com o neto ou próximo pelo menos então eles convivem juntos e isso dá muita vivacidade para os idosos e provavelmente longevidade né, estar próximo à crianças e principalmente criança que ela ama, os netos. Um dos aspectos também interessantíssimos relacionados ao álcool, dos cinco, quatro deles bebem até uma taça de vinho por dia com os amigos e com propósito, então não é o vinho solitário à noite vendo filme, não é esse vinho, é o vinho que eu vou encontrar com uma pessoa que eu amo e eu vou tomar junto com ela essa taça de vinho, uma taça. Isso foi uma surpresa pra mim realmente, a taça de vinho então você vê que como a gente, quando a gente fala de saúde assim tem tantos fatores que interferem e a questão da espiritualidade que a gente tá falando, da família né de se sentir pertencendo a uma, e realmente quando você tem um grupo de amigos fortes assim que você tem um grupo e que você sabe que você pode contar com eles tudo é possível, é muito interessante essa coisa nossa do grupo, da amizade né do social, nós somos seres sociais né você vê que a pandemia trouxe né nossa um desgaste mental para nós muito grande né do isolamento. Aí voltando para esses povos, qual é o aspecto mais importante de todos e aí que me chamou muito a atenção, por isso que eu amei estudar isso, por isso que o suco verde fica do vigésima lista do que é importante para você ser saudável e longevo. Realmente o aspecto mais importante que mais influencia a nossa saúde e longevidade é ser feliz. Henrique parece básico né, eu faço essa pergunta no meu consultório, se você é feliz. Muitos pacientes fazem assim “Ahhh”

Henrique de Moraes – Aí já era

Dra. Paula Dall’Stella – Você tem que pensar pra me dizer se é feliz, ou fica surpresa pela pergunta e fala “Ué nunca ninguém me perguntou isso, não tava esperando essa pergunta”, olha que interessante. E claro, quem tá no meu consultório tá vindo porque tá doente né, não tá vindo lá só para contar que tá tudo ótimo né então já tem um aspecto claro relacionado à felicidade diferente mas o ser feliz, e eu trabalho isso muito com meus pacientes, é um aspecto tão importante que não adianta nada o paciente fazer yoga e tomar, eu vou usar o suco verde porque ele é simbólico né, porque fica com essa história de “Ah o que você faz de manhã?”, “Tomo suco verde, shot de cúrcuma, faço yoga” mas não me gosto, me olho no espelho e só vejo defeito, meu relacionamento pessoal é tóxico, cara você pode tomar o suco verde, fazer yoga, passar o incenso que não vai funcionar porque você não é feliz e não ser feliz é muito prejudicial para nós porque existe uma liberação né ou uma associação e vamos voltar lá para o sistema endocanabinóide que é o nosso sistema comunicador, a felicidade inclusive depende de uma das nossas substâncias que se chama anandamida e está relacionada a ser feliz, ela chama anandamida porque ananda em sânscrito significa bliss, felicidade, está relacionada, é a molécula da felicidade, está relacionada ao nosso prazer. Prazer não significa felicidade né, a felicidade então o que que é relevante nesse contexto para a saúde humana? O que que eu faço todos os dias que me leva a ser feliz, ou será que todos os dias eu tomo ações para que eu seja infeliz e eu não me dou conta disso, então eu continuo num casamento destrutivo, num trabalho que eu não gosto, numa cidade que eu não tenho prazer, eu não faço atividade física porque eu acho que eu não tenho tempo e aí meu corpo não tá legal então eu já não gosto do que eu vejo no espelho e a bola de neve e quando você vê o paciente tá doente mesmo e aí ele pode estar ansioso como doença por causa de tudo isso.

Henrique de Moraes – Sim, eu diria que o suco verde ele pode ser quase usado como diagnóstico de uma vida complexa e estressante porque assim, do tipo eu só tô tomando o suco verde porque eu não tenho tempo para fazer todo o resto que eu preciso, isso aqui é uma coisa tipo assim pra falar “Pelo menos eu tô tomando um suco verde, pra compensar todo o resto que tá um caos assim”

Dra. Paula Dall’Stella – Exatamente ele é muito simbólico, eu brinco do suco verde porque eu tenho muitos pacientes que vem com essa história, com essa narrativa do suco verde sabe e aí quando você vai ali no âmago da questão, quando você coloca a faca ali no peito e fala “Tá mas me fala como é que é a tua relação”, “Mas me conta o que que você gosta de fazer na vida” e você vai perceber que a pessoa tá completamente no lugar errado e que isso é o mais importante então né eu trabalho muito essa parte mental do paciente por exemplo, do hábito, “O que você faz todo dia?”, “Com quem que você fala todo dia?”, “Quais são as músicas que você escuta, os livros que você lê”, “Quais são os canais de rede social que você acessa?” porque isso é você e se você hoje tem isso, para que você não tenha isso você tem que mudar você porque talvez num outro você isso não tenha sentido, só existe isso hoje porque você é do jeito que você é, então se eu mudar tudo, se eu mudar a forma que, os livros que eu leio, as coisas que eu busco, a comida que eu como, a atividade física e incorporar outros hábitos eu vou ser um novo eu e talvez aquela doença não tenha sentido nesse novo eu. E é isso que é o poder do hábito né, tem tantos livros que falam sobre isso mas é realmente, é muito poderoso isso.

Henrique de Moraes – Verdade. Eu entrevistei a Flávia Lippi aqui também que é neurocientista e ela fala alguma coisa nessa linha, a gente até colocou um corte falando sobre isso nas redes sociais que é isso, algo que você lê ou que você, com quem você conversa, sobre o que você conversa, enfim tudo isso influencia no nosso corpo inteiro, todo corpo ele reflete todas essas coisas, eu ate brinquei e falei “Tenho que pensar a parar de ler meus livros pós apocalípticos”

Dra. Paula Dall’Stella – Bem legal o que você trouxe, porque se você vibra nessa energia, por exemplo uma preocupação excessiva com o que vai acontecer no governo, no mundo, na guerra, o vírus, a pandemia e se você vive nessa vibração você vai atrair isso para você né, nós somos seres, nós somos antenas, nós somos seres vibracionais né, não é acreditar ou não, isso é Ciência, é um fato, nós temos elétrons ali, neutróns e prótons que vibram e isso tem uma vibração, agora a nossa vibração não é aleatória, ela está 100% relacionada aos nossos sentimentos então nós vibramos através não é daquilo que a gente pensa, é através daquilo que a gente sente, olha como é mais grave ainda porque não adianta você mentir pra você, se não sair do coração, se você não sente aquilo, aquilo não existe no seu cérebro, no seu sistema. Para que a coisa exista e faça sentido ou que você tenha uma vibração X, Y, Z,  ela vai ser adequada com aquilo que você sente então se você é positivo, se você tá sempre vibrando alto na gratitude, vendo o copo cheio, se você treina isso porque é um treino, você tem que treinar para isso né, raras as pessoas que nascem assim mas 99 tem que treinar para chegar nesse nível de sabedoria porque é uma sabedoria você ver o copo cheio, você ser positivo e você vibrar nessa magnitude de vibração, a grande maioria tá onde? Na escassez, naquilo que eu não tenho, então tá preocupado, tá com medo, tá pensando no Apocalipse, vai acabar o mundo meu Deus né, a medicina, as doenças, a vacina, o governo, a escassez

Henrique de Moraes – Inteligência artificial, ChatGPT

Dra. Paula Dall’Stella – Se você tá ali você vai atrais mais daquilo e sua vida vai ser mais daquilo e você nunca vai entender porque que você só tem isso, esse é um dos pontos fundamentais hoje em dia e eu acho, vamos voltar pras blue zones, de alguma certa forma as blue zones, esses indivíduos que moram lá, pelo fato de eles serem felizes, ah tem uma coisa interessante deles, eles não praticam atividade física durante tipo uma hora, eles têm vidas ativas então não é tudo no controle remoto e no carro, eles vão de bicicleta, carregam, fazem o pão, estendem a roupa, enfim são pessoas ativas do começo ao fim da vida e isso é uma das grandes características das blue zones, eles são centenários não só porque eles são centenários, eles são centenários funcionais e têm seis vezes menos a quantidade de doenças crônicas que nós do primeiro mundo temos. Esses povoados têm seis vezes menos doenças crônica, entre doenças neurodegenerativas, câncer e todas as outras, centenários, centenários que não tem Alzheimer, centenários que não tem Parkinson, e isso é muito relevante hoje

Henrique de Moraes – Eu acho que, eu fiquei encantado quando eu ouvi você falando sobre esses dados exatamente por isso assim né, eu acho que eu falo isso já há um tempo né, a maioria das pessoas hoje vive no piloto automático né e desejando coisas que elas nem sabem porque elas desejam sabe, é simplesmente porque parece que é o que é enfim, o sonho em comum, todo mundo precisa ter essas coisas e eu preciso ter também né. E quando você olha assim, para todos os dados que você trouxe antes de falar da felicidade, todos eles assim, a felicidade é a consequência de todos eles né, de você ter ali, viver próximo da sua família, amigos, de ter essa convivência muito próxima, como você falou né, nós somos seres sociais e como você falou lá no início ainda assim, são coisas que são né, foram desenvolvidas e passaram de gerações em gerações enfim desde muito antes da gente, de qualquer coisa, a gente inclusive às vezes ser o ser que a gente é hoje né então essa parte da socialização ela vem no nosso sistema né assim de precisar e de ser amado e de sentir pertencente e você vai vendo pra como aí a sociedade tá transformando a gente em indivíduos completamente individuais assim né no sentido de a gente busca ficar sozinho, a gente busca cada vez mais os nossos sonhos como sonhos pessoais, minhas metas pessoais, eu tenho aqui as minhas coisas, coisas que eu quero fazer, eu quero realizar e os meus sonhos em vez de levar para um caminho onde a gente consiga exatamente tentar ver, beleza mas qual é a parte que a gente pode ter junto aqui, como é que a gente pode se ajudar, qual o sonho que a gente sonha junto e até assim, se você olhar, a gente pode olhar para o micro né então assim, eu por exemplo sou uma pessoa que eu preciso dos meus amigos, eu preciso estar próximo das pessoas, eu preciso de convivência, eu preciso sair, preciso falar, preciso conversar, enfim tem essa necessidade lógico como todos nós mas eu identifiquei isso e cultivo isso hoje em dia mas até quando você olha para um olhar mais macro assim né de as igrejas estão acabando, as religiões estão acabando também assim porque também tá todo mundo se afastando e aí todo mundo tá perdendo o sentido no final das contas, fé em governo, tudo isso vai diminuindo né e aí você vai vendo as pessoas começando a ficar sem propósito, de nada assim na vida, ela já não sabe mais o que faz e começa a tentar encontrar propósito no trabalho, e tudo bem o trabalho pode ter um propósito mas assim, não pode ser a única coisa da sua vida né

Dra. Paula Dall’Stella – Exatamente, até porque é uma das partes da nossa vida, os pilares. Claro que é maravilhoso você ter prosperidade através do trabalho que você realiza, de você gostar daquilo que você faz, de você estar alinhado com o que você faz todos os dias, isso também é felicidade, isso te traz felicidade né. Eu vou falar por mim agora, eu amo o que eu faço, eu amo o que eu faço e eu posso ficar até às 3 horas da manhã, claro que não é todo dia e não vou querer isso para mim porque não foi a vida que eu construí mas se tiver que ficar eu vou ficar e se tiver que acordar cedo para fazer eu vou fazer porque ele se transformou não só num trabalho, em algo que eu tenho propósito então quando você consegue de fato alinhar o teu trabalho com algo que te traga, porque eu escutei uma vez uma pessoa falar e mexeu comigo isso, ele falava assim “Quem reclama que não tem propósito…” eu não vou lembrar assim como ele construiu isso mas ele tava trazendo assim, pra quem reclama ou pra quem não encontra, toda vez que você tem um trabalho que beneficia outras pessoas, você sempre acorda com propósito, é simples assim. Então eu posso falar assim, eu vou agora puxar um pouco a sardinha porque eu trabalho com isso e com duas frentes, uma é a medicina que eu amo e que eu nunca vou deixar de fazer e que me enche o coração, eu amo fazer isso, eu amo tratar os paciente, eu amo fazer o que eu faço e a segunda frente que eu decidi embarcar na minha vida que foi a educação, eu nunca pensei na minha vida que eu ia fazer educação, eu não era a primeira da fila que tirava a maior nota, eu sempre fui aquela aluna, eu sempre passei graças a nunca peguei uma DP, nunca fiquei de recuperação tá tudo certo mas eu também não era nem a melhor, nem a pior e nunca pensei na minha vida em mexer com médico, que medo, medo porque é claro, críticas, você vai ser criticada, você vai ser julgada por aquilo que você está fazendo e existe um medo relacionado a isso. E olha como a coisa é louca, quando eu comecei a trabalhar com a cannabis e comecei a atender os pacientes e comecei a perceber que eles melhoravam, que a coisa começou a andar porque eu comecei, Henrique eu abri o consultório, atendia os pacientes de graça com um amigo meu médico, me emprestou um consultório e eu comecei, sentei naquela cadeira e eu comecei a atender os pacientes que uns amigos médicos me referenciavam porque um tava com câncer, tô falando de 2013, ninguém falava desse assunto e eu não tinha como cobrar, não tinha produto mas eu queria aprender então eu sentava com eles e aí que foi que a medicina funcional apareceu para mim, porque eu sentava com esses pacientes e eles começavam a me contar como é que era a vida deles e como eu sempre tive uma vida saudável eu perguntava “Como é que é a tua alimentação?”, “Como é que é a tua atividade física?”, “E o sono?”, “E o seu intestino?” e eu começava a perceber que era um padrão, tinha um padrão de comportamento com eles, normalmente comiam muito mal, tavam fora do peso, normalmente sedentários, com alimentações disfuncionais, não dormiam direito enfim, tinha um quadro ali uma coisa que era comum. Voltando à felicidade que a gente tava falando, e aí quando eu comecei, o meu consultório cresceu e foi indo indo indo e ele foi crescendo sozinho, eu não fazia Instagram, eu não divulgava para ninguém, eu comecei a sentir a necessidade de cobrar porque realmente meu tempo começou, eu comecei a dividir o tempo e aquilo foi crescendo e num momento eu não tinha mais como abraçar tanta gente porque eu tenho um limite de tempo e a minha ideia foi “Como é que eu faço agora?”, “O que que eu faço com isso? Eu não tenho como atender mais de oito, nove pacientes por dia de segunda a sexta, eu não consigo, o que que eu faço agora?”, falei “Vou educar os médicos e eles vão ser várias Paulas, e se eles forem várias Paulas eles vão ajudar muita gente, vou conseguir replicar isso para milhares de pessoas” e aí a sensação de novo de você tá fazendo um bem gigantesco quando você educa uma outra pessoa. E aí se dissolveu o medo, que medo, medo do quê? Tem uma coisa muito maior lá na frente, dane-se se eu for criticada ou se alguém não entendeu o que eu tô dizendo, enfim dane-se, já não é mais problema meu isso, é problema dele que não tá entendendo o que eu tô dizendo e vai ter quem vai gostar, quem não vai gostar, a vida é assim, não dá pra querer agradar todo mundo e nem é a nossa função. Então quando você faz algo que você tem um propósito relacionado ao bem maior, a levar um conhecimento, ajudar outras pessoas e tem uma infinidade, nossa muitas coisas podem ser feitas dentro disso, você nunca acorda sem propósito porque você sempre tem algo para fazer pelo outro e volta para você, volta infinitamente para você, não tem o que dizer sobre isso.

Henrique de Moraes – Deixa eu aproveitar então esse gancho pra te perguntar, eu queria falar depois assim falar um pouco mais do que você faz mas não posso perder, qual foi o depoimento assim mais surpreendente que você já recebeu ou algum curioso de pacientes seu, porque imagino que as pessoas devam chegar com depoimentos incríveis

Dra. Paula Dall’Stella – Cara você é a segunda pessoa que me pergunta isso hoje

Henrique de Moraes – É mesmo?

Dra. Paula Dall’Stella – É, e não é uma pergunta frequente você viu, nunca tinha pensado sobre isso, me deu cri cri cri porque eu tenho muitas pessoas, eu vi muitas coisas, tive contato com pessoas antes delas falecerem, ah eu tive uma paciente que infelizmente ela faleceu de câncer e que foi uma benção ela ter passado no meu consultório, são muitas histórias na verdade de superação, eu tive um neurologista que chegou para mim uma vez, eu gostei muito disso e ele falou assim, eu tava num congresso e ele tinha, acho que ele, não foi porque eu estava lá mas um dos motivos que ele foi é porque eu estaria, ele estava dando uma aula e eu estava lá pessoalmente e ele queria encontrar comigo e queria muito me contar isso e ele falou “Paula eu comecei a escutar os seus podcasts”, eu tenho um podcast chamado New Normal que eu fiz durante a pandemia, que era o New Normal, novo normal onde eu começo a falar dos aspectos de saúde, que é o novo normal, então como é que você se relaciona com a saúde, o sistema endocanabinóide e essa relação de tudo isso, como é que funciona e tal em diversas doenças e temáticas, inclusive eu tenho um podcast sobre a blue zone, essas blue zones. E aí ele chegou para mim e falou “Paula, escutar você falar mudou minha prática médica”, isso pra mim foi muito significativo, ele falou “Eu gostava inclusive de pegar o trânsito para ficar no carro pra voltar ouvindo o seu podcast”

Henrique de Moraes – Melhor depoimento, impossível

Dra. Paula Dall’Stella – Sim, verdade, realmente ele é muito especial esse médico, ele não conhecia a medicina funcional e ele falou que ele começou a fazer essa relação dos eixos do intestino, do cérebro, poxa pra um neurologista que cuida de criança com autismo isso é muito importante, muito importante e ele falou “Mudei minha prática clínica, hoje eu trato os pacientes diferente do que eu fazia antes” e aí ganhei a vida, tô ganhando o jogo, é isso que eu quero, esse retorno ele é muito significativo né, a comprovação de que você tá fazendo algo pelo outro e por muitos outros porque mudou a vida dele mas olha quantas pessoas que ele vai encostar e vai mudar a vida também

Henrique de Moraes – Com certeza. Uma outra pergunta que me veio à cabeça agora, porque assim, você fala disso já como você falou há muito tempo né e assim, ainda é um tabu e imagino que assim lá atrás deveria ser uma coisa absurda né e aí duas perguntas relacionadas à isso, a primeira é que eu vejo, dependendo do ambiente em que você tá, você usa muitos termos médicos e técnicos né que é exatamente para tirar um pouco dessa imagem talvez que as pessoas queiram criar em suas cabeças né de que “Ah vai vir aqui e só falar de maconha” né enfim e aí eu queria entender assim se você acha que essa necessidade mudou ao longo dos anos assim, de repente você consegue falar de uma maneira mais natural porque você assim, é engraçado quando eu vou pesquisando né eu vou vendo as diferentes Paulas assim então em alguns lugares muito séria né assim, não que você não seja séria mas assim, com uma postura diferente de quando você tá relaxada que você fala assim de uma maneira muito mais fluida, mais natural, mais acessível até às vezes né, você acha que houve uma mudança assim, você ainda sente essa necessidade, é lógico que vão ter ambientes que vão pedir isso mas no geral assim você acha que você conseguiu ou você acha que hoje não tem tanto essa nessecidade de ficar técnica?

Dra. Paula Dall’Stella – Eu acho que depende do público que eu tô falando. Se eu tô falando com um público que é médico eu tenho que usar uma linguagem médica porque se eu for muito coloquial eu posso entrar numa categoria de descrença, isso existe, infelizmente isso existe, deve existir com advogado, deve existir em vários, se você começa a falar uma língua muito coloquial ninguém te escuta então eu vou brincar porque a gente tá aqui no ambiente informal né mas o meu marido ele costumava falar assim, brincar de manhã assim no lençol e falar “Quem tá aí hoje?”, as diferentes Paulas porque isso é verdade, isso é uma característica interessante a meu respeito, quem me conhece sabe eu posso ser a Paula médica, eu posso falar com o presidente e depois eu tô almoçando com o trabalhador do sei lá, o cara que faz aqui a minha pintura da minha casa e depois eu posso ser a surfista, amanhã eu vou estar ali dentro da rádio, eu consigo ocupar muitos papéis, adoro aliás isso essa versatilidade, não sou a mesma pessoa o tempo todo que fala do mesmo jeito, não, eu consigo me adaptar muito bem à necessidade e me fazer compreender porque a minha intenção é essa, então se tiver que falar né, ser muito coloquial para que todo mundo me entenda eu vou conseguir e se eu tiver que estar lá no alto rigor acadêmico, científico eu vou conseguir também e aí é o que eu quero, ser ouvida e entendida.

Henrique de Moraes – Perfeito, é quase como falar diferentes idiomas né

Dra. Paula Dall’Stella – Isso, exatamente mas tem essa pega das múltiplas. 

Henrique de Moraes – É engraçado, foi interessante assim, logo quando eu comecei a pesquisar né e aí eu pedi para Carla que conectou a gente eu falei assim “Não mas tem algum lugar que ela tenha participado, só para ver um pouco né como é que é ela falando”, eu sempre gosto de saber quem são as pessoas que eu vou entrevistar e ela passou uma entrevista que tava muito formal assim e eu falei assim “Caraca eu vou precisar me preparar bem pra essa entrevista”, “Tenho que catar aqui os termos e vou ter que aprender a falar nesse nível aí porque vai ser difícil”

Dra. Paula Dall’Stella – Imagina

Henrique de Moraes – Mas depois eu vi outras entrevistas e falei “Ah não calma, tem a low profile também”

Dra. Paula Dall’Stella – Tem, recentemente eu participei de um que foi muito divertido que foi na Rádio Rock, não sei se chegou a ver essa entrevista

Henrique de Moraes – Acho que sim

Dra. Paula Dall’Stella – Essa foi muito divertida de fazer, é isso aí que a gente tava falando, tudo é possível.

Henrique de Moraes – Bom mas vamos lá, vamos voltar aqui então pro assunto né. Dentro aí da sua pesquisa né, já são aí 10 anos assim, fala um pouco sobre sei lá as descobertas mais interessantes, surpreendentes que você teve sabe e tipo, imagino que ao longo de 10 anos muitas descobertas já tenham sido feitas inclusive né então e assim de repente até de concepções diferentes, do que que era quando você começou a estudar e o que já surgiu de novo hoje, pra onde vocês estão olhando também né como pesquisa.

Dra. Paula Dall’Stella – Legal. Na verdade assim, eu acho que o que mais me surpreendeu foi estudar o sistema endocanabinóide porque é um sistema

Henrique de Moraes – Eu vou te pedir pra explicar um pouco porque assim, quando eu descobri assim, eu ouvi você falar em vários lugares e depois eu fui descobrir o que que era e falei assim “Uau deu uma chavinha, virou uma chavinha aqui” então se você puder explicar rapidamente o que que é

Dra. Paula Dall’Stella – O sistema endocanabinóide ele tem uma relação muito profunda com o nosso equilíbrio homeostático, nosso equilíbrio interno e para que isso aconteça ele precisa se comunicar então ele precisa de moléculas de gordura, são as fontes comunicadoras, a forma como ele se comunica é através de moléculas de gordura, olha a importância que isso tem né numa medicina em que a gordura é demonizada, muitos medicamentos pra exterminar nossa produção de colesterol e uma falsa ideia de que gordura que causa doença cardiovascular por exemplo e outras doenças. Então assim, a gente tem uma dinâmica hoje né de agressão ao sistema endocanabinóide muito séria pelo nosso próprio dia a dia, pela nossa própria dieta. Então por exemplo o sistema endocanabinóide ele depende da gordura e vamos lá, vamos lembrar como é que nossos genes foram moldados né há 200 mil anos atrás ou mais né, durante 200 mil anos o homem das cavernas lá o homo sapiens ele vivia num período de escassez e o que ele comia quando comia eram carnes, a caça né carne e gordura e eventualmente uma raiz, eventualmente uma fruta, eventualmente alguma coisa, eventualmente e não seis vezes ao dia barrinha de cereal, fruta, pão de queijo, bolo, nossos genes foram moldados nesse período e o nosso sistema endocanabinóide que tem uma relação direta com a nossa sobrevivência, com armazenamento de gordura, com transporte de nutrientes enfim, toda essa parte metabólica do nosso organismo em conjunto né com outros sistemas eles criaram, eles é ótimo né, alguém, algo enfim, genética, o meio desenvolveu um sistema de armazenamento muito qualificado que nós temos para poder sobreviver aqui à escassez né, se não tem todo dia comida eu preciso ter energia pra caçar e como é que eu faço isso sem alimento né? E aí que entra a gordura, a gordura é o único alimento capaz de nos dar energia por um longo período de tempo e se você entra numa espécie de cetose que provavelmente deveria ser o que a gente vivia naquela época, você consegue ter energia a partir da tua própria gordura então você passa a conseguir ir pela manhã né, você vai liberar o seu cortisol, você vai produzir glicose naturalmente no período da manhã, olha que fantástico que é o nosso corpo então para que justamente você tenha energia pra poder buscar o seu alimento né, não existiria essa função se a gente tivesse geladeira ali disponível. Então o que que acontece, esse sistema de armazenamento muito competente hoje é o que leva as pessoas a serem obesas, porque se eu como muito mais aquilo que eu preciso ele vai para algum lugar e aquele algum lugar são as células de gordura e você engorda né, você não consegue estocar, não existem células de açúcar e aí o que acontece, hoje nós temos uma desproporção muito grande entre a relação do ômega 6 e do ômega 3 porque naquela época existia um equilíbrio, de 4 pra 1, 5 pra 1, hoje é 20 para 1, 50 para 1 e isso causa uma disruptura do nosso sistema endocanabinóide que dependem do ômega 6 e do ômega 3 para produzirem os seus endocanabinoides associados. Então eu tenho endocanabinoides que são derivados do ômega 3 e endocanabinoides que são derivados do ômega 6. Esses endocanabinoides, eles ou moléculas derivadas ou que participam desse sistema e não necessariamente são endocanabinoides, são moléculas de gordura que transitam, como é que o corpo faz isso? Tira da membrana plasmática a gordura, o ômega na verdade e faz ali várias funções enzimáticas, produz esse neurotransmissor ou esses neurotransmissores e aí o que acontece, no nosso organismo nós temos receptores para esse sistema, é o receptor canabinóide 1, receptor canabinoide 2 em praticamente todas as células do nosso corpo, algumas células mais CB1, outras células mais CB2 mas eles estão em todos os lugares então principalmente no sistema nervoso central, no sistema imune, enfim em todos os órgãos do organismo e existe uma conversa entre eles, aí que eu digo não tem como você separar uma coisa e tratar só a cabeça, o problema nunca está lá só, é impossível, é um desconhecimento sobre o todo se você olhar seu paciente dessa forma então o sistema endocanabinóide você não vê, e pelo fato de de você não ver, o sistema muscular, ósseo, muscular você vê, o cardiovascular você vê, o neurológico você vê, você vê, o endocanabinóide você não vê porque ele realmente é um sistema de comunicação e você não consegue perceber essas moléculas a não ser no microscópio. Então assim, ele participa de funções fundamentais do nosso organismo relacionados não só à sobrevivência lá atrás mas como agora então o que eu acabei de falar, a gente se relaciona muito ao cérebro né mas o sistema endocanabinóide está relacionado à síntese proteica, à fertilidade, ao processo de amamentação, sucção, a própria fertilidade, reprodução, ele tá em todos os lugares, ele participa de tudo tanto que a cannabis pode prejudicar essas funções por exemplo a fertilidade, não é adequado que uma mãe em amamentação utilize a cannabis porque ela vai passar isso pelo leite materno então a gente tem endocanabinóides no leite materno que são muito importantes para o bebê mas a cannabis não, é diferente uma coisa produzir e outra manipular o sistema.

Henrique de Moraes – Deixa eu te fazer um pergunta talvez estúpida mas assim, alguém precisa fazer as perguntas estúpidas, qual é a relação desse endocanabinóide com a cannabis assim?

Dra. Paula Dall’Stella – O que que acontece né, aí que a mágica acontece porque aí você tem esses receptores específicos para o sistema né, nosso corpo não fez isso apenas para que a gente utilize a cannabis mas provavelmente existe uma relação natural né, existe na natureza, existe em nós então existe essa relação mas não é que a finalidade seja essa, a finalidade é nós produzirmos substâncias endógenas que se conectam nesses receptores e a partir daí nós temos caminhos químicos e enzimáticos enfim, coisas que acontecem no nosso organismo. Essa situação ela acontece para que o próprio organismo possa ficar em equilíbrio, então se eu tenho uma liberação por exemplo de um neurotransmissor que é o glutamato e ele em excesso é tóxico e mata neurônios, o que que o sistema endocanabinóide faz? Impede a liberação de glutamato, preserva neurônio então ele tá lá pra isso, porque aquelas crianças com epilepsia refratárias, que são as epilepsias que são refratárias a tratamentos medicamentosos tradicionais, então não funcionam os medicamentos, não funcionam e a cannabis vai lá e funciona porque ela tem ação né, estima-se que essas crianças têm uma deficiência do sistema endocanabinóide então elas não conseguem pausar as sinapses que estão desorganizadas ou hiper estímulo neuronal e a cannabis ela faz essa função que o nosso organismo faria e faz em todas as pessoas que são competentes por exemplo nesse aspecto, ela entra ali, acopla no receptor, impede a liberação do neurotransmissor que causa hiperexcitação neuronal, então ela faz a função daquilo que nós já temos mas não está funcionando porque nós ao estresse crônico, doença crônica desregulamos esse sistema de comunicação e a cannabis vem para ocupar esse lugar, entendeu?

Henrique de Moraes – Entendi. Deixa eu ver se eu tô interpretando isso da maneira correta porque assim 0 cientista aqui tá e 0 médico qualquer coisa, o nome então é de fato porque são coisas similares, né

Dra. Paula Dall’Stella – São similares no sentido de, alguns fitocanabinoides, então algumas substâncias produzidas pela planta conseguem se conectar nesses mesmos receptores que nós produzimos endógenamente que já são parte ligante desses receptores tá, então a gente produz a anandamida como eu falei que é a molécula da felicidade entre outros que não preciso ficar aqui citando nome, são nomes complexos que alguns se ligam nesses receptores e outros não mas participam do sistema e a cannabis ela tem uma ligação específica, não todos os seus fitocanabinóides, mas o THC à esses receptores, então o canabidiol por exemplo que todo mundo conhece o canabidiol, a relação dele com esse receptores é fraca, a verdade é que o canabidiol ele tem uma atuação totalmente diferente, realmente é uma molécula muito promissora e promíscua que a gente chama, porque o promíscua? Porque ele atua em mais de 60 alvos moleculares, então ele é promíscuo, pode estar aqui e ali ao mesmo tempo, sair com essa e depois vir aqui e ele realmente é uma substância muito interessante para nós, principalmente numa faixa etária por exemplo idosa que tem um benefício muito muito muito interessante para essa população.

Henrique de Moraes – Boa. E assim, eu sei que tem inúmeros benefícios né, eu vou te fazer uma pergunta mas antes deixa eu voltar um pouquinho assim para quem terminar aqui o bate-papo e quiser saber mais, tem todo seu conteúdo é lógico, inclusive aconselho, sigam nas redes sociais procurem entrevistas, podcasts enfim mas eu sei que você fala muito sobre buscar informações verdadeiras né assim e de confiança porque é difícil né provavelmente é um ambiente onde as pessoas devem soltar todo tipo de pérola, vai encontrar todo tipo de informação por aí. Onde as pessoas podem buscar mais informação?

Dra. Paula Dall’Stella – Ah você diz assim tipo outros canais?

Henrique de Moraes – Isso, se a pessoa quiser pesquisar mais enfim, ela vai lá e te segue e tudo mais mas se ela quiser sei lá, ter algum livro ou outros cientistas por exemplo que as pessoas possam seguir

Dra. Paula Dall’Stella – Que fazem esse conteúdo. Quem lê em inglês um contaúdo muito legal é o Project CBD que é de um amigão meu, Martin Lee, ele faz um  conteúdo, ele participou da revolução do CBD desde lá de trás na Califórnia, tá muito dentro desse assunto há muito tempo e é de qualidade a informação então o Project CBD realmente é um dos canais bem legais, eu leio muito paper né, hoje em dia eu tô muito mais do que ler notinha de blog e etc, eu acabo indo lá ler o paper mesmo então eu tenho não sei se é uma assinatura mas você consegue com que o Google te direcione sobre as notícias, sobre esse assunto e o que eu faço no PubMed que é uma plataforma de divulgação de tudo que é relacionado a pesquisa científica no mundo, você faz lá uma assinatura de graça e você escolhe os temas que você quer que eles te avisem quando aparecer novos trabalhos então a minha fonte principal hoje é o PubMed, é onde eu tô sempre ali atualizada com o que acontece de pesquisa relacionada à cannabis, canabinóides, THC e etc que é a fonte principal no fundo no fundo, claro que o leigo não vai ficar lendo trabalho científico né, então realmente assim você e também a gente não consegue traduzir tudo que a gente encontra toda hora e passar isso né pra frente como fonte de informação. A Sativa Global Education é a minha plataforma de educação médica, por lá a gente faz uma curadoria muito grande sobre o que é mais importante, enfim a gente tá agora desenvolvendo o novo site que vai vir numa pegada muito legal, muito forte exatamente com essa visão né de uma educação que você claro, o médico às vezes quer ler um artigo, ou um leigo quer ler uma situação, tem tantas coisas comuns entre as pessoas que são dúvidas comuns né relacionados a cannabis, ao tratamento e etc então a Sativa é talvez um dos lugares mais legais e ela vai ficar melhor ainda, então ainda não tá redonda como eu quero mas ela vai ficar, eu sou muito chata nisso então na hora que estiver você vai ver, na hora que a gente lançar o site versão dois ele vai estar fodástico, desculpa a palavra

Henrique de Moraes – À vontade, pode falar, vai ficar foda pra caralho

Dra. Paula Dall’Stella – Porque realmente assim o que que eu percebo, tem muita coisa hoje mas tem muito do mesmo, e realmente assim você explorar um conteúdo profundo em que você realmente explique o que é de verdade você tem que entrar dentro de uma formação senão você vai achar muita coisa muito parecida, muito superficial que você vai estar sempre ali naquele mesmo lugar e não vai nunca ir além daquilo e o médico tem que ir além, ele não pode se contentar com o post, não pode.

Henrique de Moraes – Sim. Nesses seus 10 anos pesquisando, teve uma situação engraçada assim né porque imagina, um assunto que é um tabu, você tá falando com médicos às vezes mais velhos, pessoas de repente com preconceito, já teve alguma situação curiosa?

Dra. Paula Dall’Stella – teve uma situação engraçada assim numa das minhas primeiras aulas, na primeira aula que eu dei no Hospital Sírio Libanês dentro da Oncologia, da neuro oncologia é um médico né mais velho ainda super respeitado que é meu amigo até hoje ele chegou para mim e falou assim “Você viu que vai ter uma aula hoje”, ele não sabia que era eu que ia dar a aula, “Você viu que vai ter uma aula hoje sobre um tal de sistema endocanabinoide, agora eles inventaram esse negócio só pra ficar fumando maconha”, era eu que ia dar a aula, falei “É você viu”, aí entrei pra dar a aula e foi uma aula super legal, cheia de novidades, a hora que acabou a aula ele veio correndo puxar minha mão e falar “Nossa me perdoe por ter falado aquilo, eu não tinha ideia do que que era o assunto”, imagina manda paciente para mim até hoje e tudo, uma graça, somos muito amigos. Esse foi uma situação, eu já tive situações em que eu fui dar aula e médicos mais velhos inclusive, “Ai vai ter amostra grátis?”

Henrique de Moraes – Esse ganhou meu respeito, uma piada boa, bem encaixada. Muito bom, não posso te prender aqui muito, gente pra quem não sabe a Dra. Paula amanhã vai surfar, então importante liberar ela aqui pra relaxar, curtir, enfim

Dra. Paula Dall’Stella – Vou acordar 5:30h

Henrique de Moraes – Exatamente. Deixa eu te fazer só algumas perguntas mais rápidas assim, qual foi o livro que você mais deu de presente?

Dra. Paula Dall’Stella – Que eu dei de presente? “A New Earth” do Eckhart Tolle

Henrique de Moraes – Ah sei quem  é

Dra. Paula Dall’Stella – Sabem quem é Eckhart Tolle? “Um novo Mundo” em português, é que o livro em inglês ele é muito melhor do que o livro em português, já li as duas versões. E tem mais, calma, esse livro é um livro muito especial que fala muito sobre o coletivo, é um desenvolvimento pessoal muito importante, eu gostei muito de ler, foi um divisor de águas pra mim principalmente no momento em que aconteceu uma coisa muito abrupta na minha vida eu tinha esse livro na mão e depois eu distribui esse livro para muitas pessoas que eu gosto, “Quebrando o hábito de ser você mesmo” do Joe Dispenza, o Joe Dispenza é um médico muito especial também, eu trabalho muito com a obra dele, com as coisas que ele faz, eu vou estar com ele agora em junho num retiro no México, a gente vai ficar lá sete dias, ele é também um médico muito interessante que fala sobre o poder do hábito, do pensamento, de quanto que a gente, quanto que os nossos hábitos se relacionam com tudo na nossa vida né e eu trabalho muito isso no consultório, muito da bibliografia que eu trago é dele, esses dois livros com certeza absoluta, acho que tá bom né esses dois?

Henrique de Moraes – Tá ótimo. O do Eckhart Tolle eu já tinha ouvido falar e acho interessante assim a forma dele enxergar essa coisa do presente, você estar presente, enfim

Dra. Paula Dall’Stella – “O poder do agora” dele né é muito legal esse livro. Ele tem uns podcasts muito legais. Esse livro não sei se foi o último porque em 2016 eu li esse livro, 2017 eu sei porque foi quando aconteceu aquela situação abrupta e me marcou e aí eu entrei muito em contato com a obra dele e realmente assim se você olha ele né um senhor que fala baixinho e tal, bem baixinho né para nós que precisamos de visual, música e coisa alta né, talvez muitas pessoas não entendam mas ele é muito bom no que ele fala, eu gosto muito dele.

Henrique de Moraes – Maravilha. Hoje quando você se sente sobrecarregada, desfocada, o que você faz assim para voltar?

Dra. Paula Dall’Stella – Surf com certeza é a cura de quase todos os meus males assim, graças a Deus eu decidi aprender a surfar, foi realmente um caminho também de muita persistência né, contei para você aos 36 anos de idade que pro surfe você já é considerado velho assim pra começar né porque realmente né esses esportes mais radicais quanto antes você começar melhor né para ficar automático e a questão do medo e etc mas enfim eu tive a oportunidade de começar com 36 e levei a sério, realmente eu fiz acontecer e para mim o surfe ele tá num lugar assim central na minha vida, um vício, uma coisa muito louca assim que você tem porque o mar, você tá sozinho, é você com você, é você e o mar, são muitas coisas acontecendo né porque tá tudo em movimento, então não é uma coisa estática, você precisa se conectar com aquilo que você tá fazendo, se você não acreditar em você você não pega onda então depende de você acreditar em você, de você querer aquilo e aí você transporta isso pra vida e me ajuda muito muito muito.

Henrique de Moraes – É engraçado você falou isso agora né, eu acho que quando você tá surfando talvez seja uma das pouquíssimas atividades ainda que você tem que ficar de fato com você mesmo porque assim, você até pode levar um fone desses né mas assim, nunca vi ninguém levar um fone para surfar e o que é sensacional porque hoje em dia a gente adormece tudo né, sempre tem alguma coisa, eu tenho esse péssimo hábito de ficar com o fone o tempo inteiro porque eu fico ouvindo podcast e de vez em quando eu tenho que me policiar assim, “Não, vou sair vou sair sem fone, sem telefone inclusive” pra tipo pensar. Eu até brinco, eu falo assim “Cara”, eu acho que deu um estalo no dia que eu tava tomando banho e eu falei “Caraca minhas ideias só vem no banho porque é o único lugar que eu não trago o fone de ouvido” e é isso, você tá no mar você tem todos esses sentidos que estão sendo ativados e você ainda tem esse tempo de colocar a cabeça no lugar né que eu acho que é muito importante, nunca tinha parado pra pensar nisso. Para você, o que que significa ser bem sucedido, ser bem sucedida?

Dra. Paula Dall’Stella – Essa é uma ótima pergunta porque às vezes quando eu tô no mar né eu às vezes não, ontem eu falei isso, eu virei e falei “Gente eu já tenho a vida que eu pedi à Deus, é uma sensação de felicidade muito grande” então acho que para mim ser bem sucedida é eu ter tempo para fazer as coisas que eu amo, ter um retorno financeiro satisfatório, uma família bem estruturada, uma intimidade bacana com meu parceiro, filhos saudáveis emocionalmente e mentalmente, família reunida, amigos, muitos amigos na mesa, isso é ser bem sucedido, ter saúde, todos com saúde.

Henrique de Moraes – É curioso isso, adorei a resposta porque eu acho que muita gente, eu já escrevi sobre isso inclusive, eu fiz um post há muito tempo atrás sobre isso, quando eu ainda postava, que era muitas pessoas já terem a vida que sonharam e não perceberam né porque já estão pensando na próxima coisa então quando eu paro assim, eu pego meus amigos eu, enfim e tipo penso nos sonhos que a gente tinha sei lá com 18 anos, depois de 20 e poucos anos sabe tipo, cara já realizou quase todos só que a gente né tá o tempo inteiro olhando para frente, olhando para frente, futuro, futuro, o que a gente não tem e esquece de perceber né essas coisas. É isso, não é que você precisa deixar de ter ambição e de sonhar com outras coisas, não tem nada a ver mas se você não tem a sensação, você nunca tem a sensação de estar realizado assim, pra que você vai correr atrás da próxima coisa?

Dra. Paula Dall’Stella – E tem relação com aquilo que você ama porque o trabalho claro ele ocupa aquele lugar que a gente falou né, eu amo trabalhar, tudo certo com isso mas eu amo fazer outras coisas, eu amo viajar, eu amo desligar, eu amo desligar o celular, eu amo surfar, eu amo estar com meus amigos, com a minha família, eu amo e eu não posso perder isso jamais.

Henrique de Moraes – Eu falaria assim, acho que eu falo pras pessoas “Só cuidado, tenta entender alguma coisa, vai procurar sobre esteira hedonista, hedônica enfim cada um fala de um jeito e que você vai perceber a armadilha em que você tá há muito tempo e não percebeu né” e que é difícil mesmo assim, eu pesquiso, eu estudo, eu leio e assim muitas vezes quando eu vejo eu tô na mesma esteira, eu tô ali porque assim vira uma rodinha de hamster e você não tá nem percebendo né assim e tudo à nossa volta leva, empurra a gente para esse modo piloto automático né então

Dra. Paula Dall’Stella – Até porque se você não faz isso você é visto meio assim tipo por exemplo, eu decidi na pandemia igual a você né a sair do Brasil, eu decidi não sair do Brasil mas eu decidi sair de São Paulo e vim morar numa cidade bem menor, tem uma rua, duas a cidade em que eu moro mas tem a praia, eu decidir morar na praia e eu consegui graças a Deus que meu trabalho fosse 100% online então hoje eu não tenho barreira geográfica, eu posso trabalhar de onde eu quiser né, faço meu horário. E aí o que que acontece, no início assim né meus familiares, “Você vai morar na praia assim, será que você vai trabalhar menos, vai ficar mais vagabunda”, tipo “Ih essa aí mora na praia, não quer nada com nada”

Henrique de Moraes – Fala de maconha e mora na praia

Dra. Paula Dall’Stella – Isso, e trabalho o triplo, teve ano durante a pandemia que eu não conseguia ir à praia, é isso que eu tô falando que a vida te puxa porque mesmo morando na praia eu não conseguia ir a praia porque eu não conseguia tempo devido a minha agenda estar hiper né de todas as coisas que eu tava fazendo simultaneamente e aí quando eu falo para você que o sucesso para mim é ter tempo de fazer as coisas que eu amo é exatamente num modelo de vida em que você ganhe muito porque você né, você conseguiu fazer com que o ecossistema ele andasse também sozinho e que não seja você operária todo dia precisa estar lá então isso para mim é ser bem sucedido, você conseguir fazer esse income vir talvez de vários lugares, de vários projetos mas que ele ande sozinho sem você ter que de 9h às 21h e tal

Henrique de Moraes – Sem ser uma troca fixa de hora e trabalho, hora e dinheiro. 

Dra. Paula Dall’Stella – Exatamente, isso é um aspecto muito importante. E tem o reconhecimento do que você tem de bom já né Para que você tenha mais daquilo, vai te dar mais

Henrique de Moraes – Faz muito sentido, eu faço uma coisa que eu já recomendei aqui algumas vezes mas eu mesmo tô sem fazer e preciso voltar que é o diário de 5 minutos né, o 5 minute journal enfim, que é, você não precisa comprar nada específico, pega um caderno e escreve todo dia de manhã antes de pegar celular, antes de olhar e-mail, essas coisas todas, três coisas que eu sou grato por e aí depois pro dia ser incrível eu preciso fazer e uma autoafirmação. Cara quando eu ouvi falar sobre isso eu falei assim “Negócio esotérico maluco e enfim” só que aí que depois eu ouvi de um cara que é uma pessoa que admiro, que eu sei que é uma pessoa super funcional, nada zen assim e nada contra as pessoas zen mas assim, porque às vezes você fica com esse preconceito né não tem muito jeito e aí eu comecei a fazer e fiquei meses praticando, meses, meses assim e tem uma parte que você faz no final do dia mas que eu nunca fiz pra falar a verdade que é depois no final do dia acho que falar três coisas incríveis que aconteceram e mais alguma outra coisa que não lembro o que é mas eu nunca chego nessa parte, eu faço só de manhã e eu tento dividir né assim essas três coisas que eu sou grato eu tento sempre tipo olhar pra coisas pequenas, olhar pra uma coisa que aconteceu ontem, uma pessoa pra não ficar também naquela coisa “Minha saúde, a família” sabe essas coisas muito grande, você passar a perceber as coisas pequenas né e eu tive uma, depois de muitos meses fazendo isso teve um dia que eu tava numa situação que eu olhei ao meu redor e tive essa mesma sensação que você, eu falei “Caralho eu tô vivendo a situação aqui que eu já estive do lado de fora olhando e pensando como deveria ser estar do lado de dentro sabe” e eu falei assim “Caraca eu tô aqui” e eu comecei a chorar assim tipo assim, não sei eu acho que deu um sentimento tão forte que eu tava praticando aquilo ali durante tanto tempo e olha que assim não foi alguma coisa tipo, era uma coisa que eu já tava vivendo, uma realidade que eu já tava vivendo já tinha tempo, foi depois que eu comecei a praticar sabe tipo assim então foi antes na verdade, já tinha, já tava vivendo essa vida antes de começar a praticar esse 5 minute journal e aí de repente aquilo bateu assim e comecei a chorar e minha esposa falou “O que aconteceu?” eu falei “Ah não sei o que, a vida” aquelas coisas que você não consegue falar, não consegue explicar e por isso assim faz muita diferença mesmo e é muito importante. Enfim, boa recomendação pras pessoas praticarem de fato. Bom, doutora muito obrigado pelo seu tempo, pela generosidade, como você bem falou o tempo é nosso único recurso não renovável então a gente não pode desperdiçar, então espero que tenha sido tão legal ou pelo menos um pouquinho legal porque para mim foi sensacional, espero que tenha sido de volta e assim, vamos ver se a gente faz um round dois aí daqui a um ano para saber o que que aconteceu, o que que evoluiu, o que que tem de novidade e assim, para mim vai ser um prazer sempre bater esse papo, tá bom?

Dra. Paula Dall’Stella – Que legal Henrique, eu que agradeço foi muito bom, muito gostoso e sim estamos aí, vamos fazer o próximo round com certeza.

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