múltiplas vozes, múltiplos talentos, muita história e diversos personagens em uma pessoa só. essa é a Luiza Caspary!

baiana de nascimento e paulista de coração, Luiza ingressou na carreira artística aos oito anos e, em 2013, lançou seu primeiro disco, “Homônimo à Música”, que rodou o Brasil e a Europa com canções em português, inglês e espanhol.

ela tem mais de sete mil campanhas publicitárias veiculadas com a sua voz. ou seja, a gente já ouviu a voz dela por aí! além disso, fez parte do coro infantil da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e de diversos musicais no teatro. já compôs mais de 100 canções que foram utilizadas em repertórios de outros artistas e também trilhas sonoras de séries de TV e filmes.

Luiza também atua como dubladora em animações e com localização de games estrangeiros no Brasil. ela é a voz de personagens como: Ellie, do The Last Of Us; Clementine, de The Walking Dead; e Faith, em FarCry 5.

e no topo disso tudo, com a influência de sua mãe,  começou a fazer música acessível. o objetivo é fazer música para pessoas surdas e ensurdecidas e, ao mesmo tempo, despertar a curiosidade pela Língua Brasileira de Sinais. Luiza lançou seu primeiro videoclipe com propósito inclusivo em 2011: “O Caminho Certo”, o primeiro com audiodescrição feito por um artista brasileiro. por este trabalho e o por ter um site acessível, Luiza foi premiada durante as Paralimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, pela W3C, organização responsável pelas diretrizes de acessibilidade da internet.

em 2019 Luiza lançou o seu segundo álbum, intitulado “Mergulho”, com todas as música na versão vídeo Libras, ou seja, é um álbum que pode ser consumido e compreendido sendo ouvido ou visto, depende de como você se comunica.

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Saulo Von Seehausen
  • Nelson Freire
  • Rhaissa Bittar
  • Brenda Mayer
  • Cazé Peçanha
  • Fábio Porchat
  • Luan Santana
  • Léo Castilho
  • Jair Oliveira
  • Richard Gerber
  • Jim Carrey
  • Andy Kaufman
  • Dani Black
  • Gu Nogueira
  • Dani Black
  • Estevão Queiroga
  • Jefferson Schroeder
FRASES E CITAÇÕES
  • “Não pense duas vezes, sinta” – Luiza Caspary
  • “Desejo é um contrato que você faz com você mesmo pra se sentir infeliz até você conseguir o que você quer” – Henrique de Moraes
  • “Pare de pensar no amor, o amor não se pensa” – Gu Nogueira

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Olá Luiza, seja muito bem-vinda ao calma!, queria começar te perguntando como é que tá seu dia hoje, você tá bem, está estressada?

Luiza Caspary – E aí Henrique, beleza? Eu tô feliz de estar aqui nesse podcast que tem um nome muito bom, essa palavra chamada calma que é muito necessária nesse momento que a gente tá vivendo e para toda vida né, quando a gente percebe que a gente não tem o controle das coisas então a gente precisa ter calma para tentar observar o que precisa ser feito sem querer impor nada senão a gente vai ficar muito estressado, mas como eu já tenho exercitado isso tenho estado calma, e é muito bom.

Henrique de Moraes – Muito bom. Então assim, já que você começou puxando esse seu lado, exercício que tem feito, eu já queria perguntar como treina ou exercita a calma?

Luiza Caspary – Esse estudo começa eu comecei a estudar na Coexiste, que é uma escola, fazem dois anos mais ou menos e lá a gente tem um livro que a gente utiliza chamado “A Course in Miracles”, que é “Um Curso em Milagres”, é um livro estudado no mundo inteiro assim e ele tem exercícios, 365 exercícios para você praticar durante um ano, um por dia, e eles são exercícios para te trazer para o presente, e aí envolve meditação enfim, porque no presente não há conflito, no presente não há problema, entendendo que a gente não é o que a gente pensa, então é uma desmistificação porque a gente fica tão arregado ao que a gente pensa e à nossa personalidade, que parece que a gente é isso e aí a gente vive achando que a gente é isso e esse livro é uma lembrança de que a gente não é isso então enfim, é difícil te explicar isso tão rapidamente mas acho que eu consegui dar uma sintetizada.

Henrique de Moraes – Legal, fiquei curioso pra entender mas você pode exemplificar assim, você falou de meditação mas assim de repente dar mais alguns exemplos de exercícios que tem no livro?

Luiza Caspary – Cara, o primeiro exercício do livro ele diz assim, é para você mentalizar, para você exercitar no seu dia a dia né, olhar para tudo e perceber que não tem significado, olhar e dizer “Isso não tem significado”, seja sua imagem no espelho, seja o seu iPhone, seja o prato de comida, seja tudo o que é palpável sabe, que a gente dá muita realidade para matéria né então isso não tem significado sabe, tipo “Eu tô com medo”, isso não tem significado. E aí quando você começa a exercitar o “isso não tem significado” você abre para o “não sei”, que é “O que é isso?”, porque o significado é o que eu dou né, as coisas tem o significado que eu dou, a partir do meu passado, do que eu aprendi que aquilo é. Se eu exercito esse “não sei”, aí eu descubro o que as coisas são, porque as coisas não são, o celular não é um celular, depende, pode ser tantas coisas, sabe? Para que as pessoas usam? Cada uma usa com um viés então assim, é um nome que a gente dá mas enfim, é uma doiderinha, uma doiderinha boa.

Henrique de Moraes – Mas eu curti, eu curto doideiras boas, depois vou procurar saber, fiquei curioso para entender quem eu sou e o que é meu prato de comida, vou olhar para ele e perguntar amanhã, ver se ele me responde. Luiza, eu queria te perguntar, começar na verdade né, agora de fato, sabendo um pouco da sua relação com a música né, quando eu tava pesquisando para fazer o episódio eu descobrir que você e sua família são muito ligados né, tem várias ligações, vários pontos de contato, tem seu avô, sua mãe, vocês tinham roda de violão em casa, então eu queria entender como que é essa relação e se esta era a maneira que você mais se conectava com a sua família também, já que vocês tinham esse ponto em comum né?

Luiza Caspary – Sim, é legal você perguntar isso porque eu acho que os pontos que mais me conectam ainda, e conectavam com a minha família são três coisas: o humor, a música e o esporte. Nossa, eu me sinto muito sortuda de ter nascido nessa família porque tudo isso vale muito para mim sabe, o bom humor, o fato deles tocarem, meus tios todos tocarem instrumentos, meu avô era pianista né então meus tios cresceram com meu vô tocando em casa temas clássicos, ele estudou com Nelson Freire, eles eram muito amigos, estudaram juntos então minha família via meu avô improvisando com o Nelson na sala sabe, uma coisa meio absurda assim, dois gênios. Então eles cresceram também assim como eu, com música em casa, então a coisa mais normal do mundo era jantar e depois jam session, roda de violão, e eu me envia fazendo backing vocal, abrindo voz, batucando alguma coisa então foi muito natural eu usufruir disso já que estava tudo à minha disposição ali, tinha um violão velho mas muito bom, violão espanhol que era do meu bisavô que eu não cheguei a conhecer, tinha um teclado do meu tio e aí ninguém nunca me forçou a barra sabe para eu tocar nada mas aí automaticamente eu quis experimentar né, e tinha o privilégio de ter tudo ali para poder testar.

Henrique de Moraes – Legal, e quantas pessoas moravam na casa?

Luiza Caspary – Ai, moravam acho que 8 pessoas.

Henrique de Moraes – 8 pessoas, e todo mundo tocava alguma coisa?

Luiza Caspary – Cara, mais os meus tios assim, a minha mãe é mais atriz né e minha bisavó que morou com a gente um tempo tocava piano, aí a minha mãe cantava e meus tios tocavam violão.

Henrique de Moraes – Legal, a música a gente já entendeu, o humor era o que, era a família, o pessoal era engraçado, de bem com a vida, é isso?

Luiza Caspary – Cara é mais que isso na real, a gente tem personagens de verdade, que a gente faz pegadinhas com as pessoas, é um rolê levado à sério, um negócio tipo, não vou falar quais são os personagens porque senão um dia quando eu quiser que algum amigo caia na pegadinha eu não vou conseguir mas assim, é nesse nível de fazer peruca, uma prótese dentária para parecer outra pessoa e enganar alguém, então é nesse nível.

Henrique de Moraes – Mas isso vocês faziam dentro de casa ou só para os outros?

Luiza Caspary – Não, a gente costuma tipo chamar um amigo, que é meio novo da família, geralmente o novo namorado de alguém e aí toda a família sabe que esse cara vai ser enganado

Henrique de Moraes – Essa é a melhor coisa que eu já ouvi

Luiza Caspary – É bizarro, todas as coisas mais loucas que você pode imaginar e além disso todo mundo sempre brincou de fazer vozes, de fazer dublagem tipo botar a TV no mudo no horário político e ficar fazendo discurso pelo cara sabe, e todo mundo muito talentoso mesmo e eu via tipo “Caramba, sou a única que vivo disso”, eu e minha mãe, como artistas, o resto da família tem o dom mas ninguém se jogou.

Henrique de Moraes – Entendi. Vocês alguma vez filmaram isso?

Luiza Caspary – Lógico

Henrique de Moraes – E já botaram no YouTube pra sacanear a pessoa?

Luiza Caspary – Não, a gente nunca botou no YouTube, ficou só entre a família Caspary

Henrique de Moraes – Se um dia você fizer me avisa e me manda o link

Luiza Caspary – Tá bom, fechou

Henrique de Moraes – E em relação a esporte, o que vocês tinham de atividades?

Luiza Caspary – Cara, eu cresci achando a coisa mais normal do mundo treinar musculação por exemplo, e eu adoro, para mim era uma brincadeira de criança sabe, eu via meus tios apostando quem fazia mais barra, quem fazia mais flexão e aí eu entrava na onda, eu sempre fiz flexão sabe, sempre treinei musculação desde os 14 anos porque eu tinha em casa e além disso tinham uns esportes, eu tenho um tio que é tenista, foi atleta e hoje ele é professor, e a técnica dele é muito incrível mesmo, ele é muito bom, aí tem o que surfa e faz pranchas, que mora lá em Torres na praia e tem outro que escala e ele enfim, tem a Praia da Guarita lá na cidade onde eu me criei e ele que fez as fendas pras pessoas escalarem, e todas as minhas tias surfam também então a gente entrava no mar junto, a gente surfava junto, 7 pessoas na praia entrando no mar juntas, fazendo um barracão e passando o dia pegando onda, jogando frescobol e fazendo embaixadinha, eu faço embaixadinha pra caramba, adoro, então mexe muito comigo, eu gosto, não é uma coisa “Que saco, tem que fazer exercício” não é, eu tenho vontade o tempo inteiro de me exercitar

Henrique de Moraes – Legal, dá pra falar que foram heranças maravilhosas né

Luiza Caspary – Nossa demais, demais mesmo.

Henrique de Moraes – E você então falou que a sua família tinha esse hábito de encarnar personagens né, e de fazer vozes, de fazer dublagem como você falou do horário político e isso com certeza foi o que te despertou né, essa vontade de repente trabalhar com a voz, porque no final das contas você faz um monte de coisa e eu acho que o principal é que você trabalha sua voz em todos os ângulos, todas as possibilidades que existem.

Luiza Caspary – Exato, eu diria que sou uma artista de voz, claro que eu trabalho com a minha imagem mas eu faço muitas coisas com a voz né, eu atuo em muitas áreas desde audiolivro, publicidade para rádio, para TV, desenho animado, vídeo game, tô fazendo agora contos pro Spotify, contos infantis, tanta coisa, voz original, que é diferente de dublagem posso te explicar depois, muitas coisas mas com certeza esse fato da família brincar me permitiu ser desbloqueada digamos assim porque eu vejo que as pessoas têm um bloqueio muito grande com a voz e não testam coisas, tem uma vergonha e como a minha família sempre fez eu era mais uma louca no meio dos loucos, não tinha problema entendeu, era tipo liberdade total

Henrique de Moraes – Com certeza, se eu fosse fazer isso em casa provavelmente iam me internar, e você é a única que vive disso?

Luiza Caspary – Eu e minha mãe somos as únicas que vivemos da carreira artística.

Henrique de Moraes – Mas a sua mãe você falou que é mais atriz

Luiza Caspary – A minha mãe trabalha como atriz mas com a voz também, minha mãe também videogame, e ela tem um lance com áudio descrição, que é o foco dela principal hoje e faz muita publicidade também

Henrique de Moraes – E quando você decidiu que você ia viver disso, você lembra quando que você decidiu assim, que idade?

Luiza Caspary – Lembro, eu lembro de uma conversa que eu tive com meu tio quando eu tinha de 7 para 8 anos, ele chegou para mim e perguntou assim

Henrique de Moraes – 7 pra 8? Caraca, achei que você ia falar uns 16, e ainda falar que era nova

Luiza Caspary – Eu tinha de 7 pra 8 anos, daí eu tinha uma pira muito louca de tipo desde muito pequena, eu tenho uma foto que eu amo com 4 anos, que eu tô de costas e eu cantava para as plantas e para os passarinhos do jardim, e eu tinha certeza que eles me ouviam, era um momento muito inspirado, de conexão, eu pensava “Se Deus existe é isso, é esse momento aqui”

Henrique de Moraes – Você parou ou continua?

Luiza Caspary – Cara, não tenho mais jardim mas eu canto para as minhas gatas quando eu acordo mas tinha essa vibe assim de entregar assim, de conexão. E aí um dia um tio meu que é o Ernesto, que é o tenista, me perguntou “Vem cá mas e aí, o que tu vai querer ser quando crescer?”, aquela pergunta clássica né

Henrique de Moraes – Mas com 7 anos também? Vacilo

Luiza Caspary – Mas não de tiozão, normal, as pessoas perguntam né, e aí eu olhei para ele e falei “Cara vou ser cantora e atriz” e ele disse assim “Mas tu sabe que não é fácil né, que é difícil”, aí olhei para ele, mas olhei de verdade sabe e perguntei assim “Como é que tu sabe, tu já tentou?” aí ele falou “Não”, aí eu falei “Não vai ser difícil”, e naquele dia eu escolhi que não seria difícil. Parece hipotético, só que eu acho que é uma escolha, se a gente foca nas dificuldades, a gente foca nas dificuldades e não vê tudo que a gente fez já sabe, meio que naquele dia foi muito inconsciente mas ao mesmo tempo muito perfeita essa decisão assim, do “Cara eu vou fazendo” tanto que um meses depois eu tava no teatro estreando a minha primeira peça e ganhando meu primeiro cachê aos 8 anos, de 7 pra 8 né, e desde então nunca mais parei, simplesmente eu me vi construindo uma carreira criança, maluca, querendo crescer logo e fazer 18 anos para poder viajar sabe, com muita certeza do que eu tinha que fazer, não sei explicar para ti mas era uma certeza muito grande, eu não tinha dúvida.

Henrique de Moraes – Cara, muito muito legal essa história, assim fiquei até emocionado

Luiza Caspary – Tô sentindo na tua voz

Henrique de Moraes – É cara, porque é muito raro você ver isso, você vê as pessoas na verdade tentando se decidir com 35 anos hoje em dia, e tem uma coisa, uma história que eu ouvi uma vez que eu acho muito maneira que é o seguinte, perguntaram para um cara o que ele diria para ele mesmo 10 anos atrás, isso ele com 40 e poucos anos, pra ele de 30 e poucos anos, e ele fala assim “Não seja um burro”, o bicho mesmo, e aí o cara pergunta “Mas porque, não entendi”, ele fala o seguinte, que tem uma história em que o burro não consegue se decidir se ele vai comer o feno ou se ele bebe água, e ele nem bebe a água e nem come o feno e acaba morrendo de fome, e aí ele fala que essa história lembra ele quando tinha 30 e poucos anos que ele não conseguia decidir o que ele ia fazer porque ele não conseguia pensar em planos maiores do que 1 ano, tudo para ele tinha que acontecer muito rápido e quando ele percebeu que os planos deles poderiam ser maiores, ter 10 anos, 5 anos, ele parou de ter pressa e ele conseguiu escolher uma coisa e falou “Cara vou escolher isso aqui e eu vou tocar isso durante 10 anos”, que é uma coisa que as pessoas não fazem, as pessoas elas querem tudo, ainda mais hoje em dia na época que a gente vive né, de gratificação instantânea, rede social, as pessoas se comparando o tempo inteiro, você quer resultado instantâneo então assim, você que começou com 8 anos numa época em que não tinha tanto essa cultura de imediatismo

Luiza Caspary – Eu era extremamente acelerada pra minha época

Henrique de Moraes – Imagino, mas que assim, com essa decisão e ver você fazendo isso até hoje é muito legal e eu fiquei com uma dúvida, porque parece pra quem vê de fora ou até ouvindo suas outras entrevistas, vendo tudo que você fez, parece que você não teve dificuldades né ao longo do caminho, você passou por alguma assim específica que você lembre, o momento mais difícil em que você de repente repensou e começou a ver se de repente era aquilo mesmo que você queria fazer?

Luiza Caspary – Cara eu nunca pus isso em cheque, em dúvida, nunca fiquei com dúvida de prosseguir inclusive quando as pessoas falavam assim “Ah não desiste”, que sempre existe, quando alguém gosta de você a pessoa fala “Nossa eu gosto de você, não desiste” e eu sempre achei graça disso, eu falei “Nossa mas porque eu desistiria?” vinha essa pergunta, não faz sentido, agradeço mas ok e é claro que as dificuldades rolaram, eu tenho muitas histórias só que eu quis encarar elas com leveza sabe, que é o que eu falei no início assim quando eu disse o meu tio “Não vai ser difícil”, eu acredito muito em reencarnação assim, quando eu nasci eu olhei para minha mãe falei “Opa, não era ela antes” mas beleza e fui levando, pra mim isso é muito natural, então eu não vou negar que eu nasci com uma pressa tá, eu sinto que eu nasci com pressa, eu nasci com 6 meses e meio, você tem noção, não esperei nem o dedo descolar, sério eu era um pedacinho de carne, 1kg e meio, nem isso eu tinha, fiquei na incubadora um tempão, então assim eu já nasci correndo e eu sentia essa coisa em mim de tipo “Mano eu não sei mas eu preciso fazer tal coisa” que é uma coisa assim “Nossa, eu preciso disso”, eu comecei a compor com 12 anos, só vem chegando e eu vou dando vazão à isso sabe, eu acho que fica pesado quando a gente fica querendo coisas, a inspiração é desse lugar, é quando você só não consegue resistir ao que te é pedido sabe, é meio um chamado você fala “Ok, vamos nessa” e por acaso veio através de cantar e atuar né, mas dos momentos que eu lembrei assim, mais engraçados eu sempre fui uma menina que começou a fazer teatro no palco mas depois que foi uma cantora de estúdio né, cantora e atriz de estúdio então quando eu ia cantar em show, em bares ou fechava algum show eu tinha muita dificuldade de lidar com essa dinâmica e eu lembro que quando eu tinha 17 anos eu fechei um show de carnaval na praia, show ao ar livre e detalhe, eu produziu uma banda, os caras com 32, 35 anos e eu com 17 cuidando da galera tipo contrata van, fecha cachê, doideira. Só que aí eu cheguei lá e o cara tinha pagado 50%, a gente chegou um pouquinho antes do show ele não tinha pago o resto e ele tinha que ter pago no dia ou pelo menos uma semana antes né e o contratante não pagou, e aí os meninos falaram “Putz Lu, se o cara não pagar a gente não vai tocar”, eu falei “Pode crer, que bacana, que pressão bacana é essa né”, aí eu falei para o cara “Preciso conversar com você”, minutos antes de entrar no palco, e o cara era muito alto, grande, gigante, aí eu falei “Então, no nosso contrato tá dizendo que você tinha que já ter acertado a segunda parte do valor e tal e aí eu conversei com os meninos e a gente não vai subir no palco se você não pagar”, esse cara veio para cima de mim, mano eu fiquei com a cu na mão literalmente, ele veio assim “Que absurdo é esse, você acha que você tá falando com quem e não sei o quê” e aí eu falei “Putz, eu preciso de ajuda sabe” e eu sempre tive uma coisa de não gostar de pedir ajuda para homem, eu tinha um rolê, e nem pra ninguém, eu acho que como meu pai não esteve por perto na minha criação tinha uma coisa assim de “Deixa que eu faço, não preciso de ninguém, eu me resolvo, sou auto suficiente” e acho que o lance de eu ter começado a trabalhar cedo tem muito a ver com isso também sabe, uma vontade de não depender de ninguém, de ajudar em casa, de não ter as dificuldades que eu via a minha mãe tendo sabe, então quando tinha uma treta com homem assim me dava um “Mano, eu não vou baixar a cabeça sabe” e aí eu tive que pedir ajuda para os meninos, daí tinha um o batera que lutava jiu-jitsu aí eu falei “Mano”, chamei ele veio e tipo falou com cara “Tá tendo algum problema aqui?” sabe cena de filme? Aí resolveu, mas outras coisas que são mais “leves” mas que são de quando as pessoas te menosprezam, tipo como eu comecei muito cedo, eu tenho um conhecimento meio maluco, eu sou meio que um plug-in humano e quando eu tô gravando, só pra ti ter uma ideia porque acontece uma coisa muito maluca na minha cabeça, eu tenho o Pro Tools na minha mente tipo, se eu tô gravando um coro eu sei exatamente o número de canais que a gente gravou de tônica, sei o que a gente gravou de terça, sei o que a gente gravou de quinta, eu sei a ordem que tá, aí às vezes sei lá o técnico não grava a dobra de uma voz e eu falo “Putz a gente não gravou a dobra da voz”, “Gravamos sim”, aí eu “Então, a gente não gravou”, “Não a gente já gravou”, “Você pode conferir…” sabe das pessoas às vezes desconfiarem que você tá criticando mas é que você quer que o trabalho seja bem feito e dê certo então assim, não tô falando pra atacar ninguém, e uma vez aconteceu uma coisa bizarra que a gente pega levar um jingle de McDonald’s, um jingle infantil, era um coro, eu e mais duas amigas, eu, a Rhaissa Bittar e a Brenda Mayer, e a gente foi, era uma produtora nova eu não conhecia e aí o tom que o cara tinha gravado pra gente gravar tava assim, ou ficava voz de esquilo ou ficava muito grave, e aí no refrão quando subia, se a gente ficasse no tom dele a gente teria que descer no refrão e ficaria grave, enfim. Resumindo, o tom não era aquele, normal o cara faz um tom, a gente chega lá e a gente muda, muitas vezes e é natural isso, só que o cara tava com muita preguiça de mudar o tom e nitidamente tava horrível, e a gente cantava e não ficava bom, aí o cara “Tenta de novo”, aí cantava e não ficava bom, e eu “Cara, o que você acha da gente mudar o tom de repente assim, pode ser que seja uma boa né” e o cara cagando pra mim “Não, vai de novo, vai chegar uma hora que vocês vão entender a melodia”, eu falei “Então, não é isso moço, a gente entendeu a melodia, é que o tom” eu expliquei e ele não me ouvia, ele não me ouvia e as meninas começaram a me olhar assim do tipo “Putz que bosta o cara não tá nos ouvindo né, tá nos tirando”, aí olhei para ele falei assim “Oh cara”, tipo assim sabe quando você tem que mandar um papo reto? Um bagulho de se impor mas que às vezes tem que rolar, eu mandei “Oh velho, eu tô vendo que teu projeto tá todo em midi cara, é só tu abrir e baixar um tom e meio, ou subir dois pra gente testar, eu tô vendo, você não vai ter que regravar nada, só o violão”, mandei a real e aí ele “Não, vamos testar mais um pouquinho”, cara a gente cantava de novo e ficava horrível, aí me indignei e falei “Deixa eu pegar o violão aqui”, aí peguei o violão e falei “Olha meninas, comigo no 3 tá? 1, 2, 3 e” a gente cantou, passou a música, ele ficou olhando do tipo “Ficou melhor mesmo” sabe aquela cara, aí eu falei “Pronto, tava em Mi, foi pra Lá, você gostou?”, “Gostei”, então pronto, era só isso sabe, e às vezes é isso mas enfim, isso tá na mente independente do trabalho eu acho né, mas são coisas que eu passei ainda mais por começar muito nova então eu convivia com pessoas de 40, 50 anos no estúdio e enfim, quem já me conhecia sabia que eu era uma pequena adulta, mas quem não me conhecia me tirava ele pra pirralha assim sabe, é engraçado.

Henrique de Moraes – E você teve alguma situação quando você tava no estúdio ou quando estava convivendo com essa galera mais velha, você tava sempre acompanhada ou você ia sozinha?

Luiza Caspary – Cara sozinha, a minha mãe me acompanhou nos primeiros anos assim quando eu tinha sei lá até os meus 11 vai, de 11 pra 12 eu via que a minha mãe, como ela também tinha as gravações dela às vezes ficava complicado para ela porque a gente não tinha carro era tudo busão, então ela me levava para depois ir para dela ou vice-versa, e se atrasava porque não dava muito certo, aí eu falei “Mãe, me ensina a pegar o busão, eu vou”, tipo e tudo que eu sempre quis era independência né, e ela confiou e aí eu andava pirralhinha, andava por toda cidade de Porto Alegre e aí às vezes a gente se encontrava, às vezes a gente gravava juntas, do tipo “Oi mãe, a gravação é contigo?”

Henrique de Moraes – Muito doido. E quando você ia sozinha assim, se você não quiser responder não precisa responder, você já passou por alguma coisa, alguma situação de assédio uma coisa assim, porque você era muito nova né?

Luiza Caspary – Cara sim, nossa e isso muitas vezes, só que a minha mãe é uma pessoa muito foda, eu lembro que duas coisas me marcaram muito assim que eu dizia “Meu Deus, que mulher”, a primeira foi quando eu tinha 4 anos, eu perguntei para ela, porque eu estudava numa escola antes de estudar em colégio público eu estudei numa escola de freira porque ela era a professora de teatro e a gente tinha bolsa né, e aí todo mundo rezava e tal e aí sei lá às vezes eu tinha vontade de rir, eu me sentia mal porque eu não entendi o que tava naquela oração aí eu perguntei para ela “Mãe, qual que é a minha religião?”, ela dizia assim “Ué filha, como é que eu vou saber?”, “Uai todo mundo tem religião mãe”, ela falou “Filha, eu não sou ninguém para determinar o que tu vai acreditar, isso é tu que vai escolher”, aí eu já vi que ela era diferenciada, e a outra coisa que eu achava incrível era o quanto assunto sexualidade era extremamente aberto, cara antes de menstruar eu já sabia que eu ia menstruar, eu já sabia como era e o fato de eu ter uma irmã 3 anos mais velha também acho que ajudou mas tipo, e minha mãe por ter sofrido assédio também né ela não queria que a gente passasse por isso, então ela sempre foi extremamente assim “Filha, se sentir alguma coisa estranha em relação à alguém não desconfie, segue a intuição e me liga, pede ajuda, se sentir que tem alguém te olhando estranho, se alguém falou alguma coisa que não te deixou confortável, só não duvida de ti, não desconfia, não pensa que está errada” e aí graças a Deus assim eu era vacinada cara, porque várias situações, no busão indo gravar sabe, uns caras com uma cara de tarado olhando, teve um que um dia puxou papo no meio do busão, eu desci e o cara foi atrás, me vi correndo no meio da rua, rolou pra caramba assim, e em estúdio nem se fala né

Henrique de Moraes – É, eu tava mais curioso com estúdio né porque no ônibus a gente já sabe como é né, ônibus, metrô, transporte público em geral mas no estúdio, porque mal bem a pessoa que tá de repente produzindo alguma coisa tem uma percepção ali de repente de estar no poder, essa coisa que rolava, e rola ainda né na verdade, pelo menos hoje em dia tá sendo discutida

Luiza Caspary – Já rolou sim, já rolou e só que era muito louco porque eu sentia que eu tinha mais maturidade que os caras que faziam isso tá ligado, eu não conseguia ter raiva, eu olhava e falava “Mano como que pode?”, tipo “Olha para mim eu tenho 16 anos sabe, você tem 35, hello”

Henrique de Moraes – Provavelmente você tinha mais maturidade mesmo

Luiza Caspary – É e eu acho que é legal esse papo que a minha mãe tinha comigo porque eu não tinha medo sabe, eu nunca escondo alguma coisa, pelo contrário, um dia um cara me beijou à força, rolou um dia de um cara me beijar à força, eu falei “Quê, você tá louco mano, que nojo” e espalhei pra geral, eu não fiquei pra mim não, eu falei “Mano, o fulano me beijou à força”, isso não é legal e eu não compactuo com isso

Henrique de Moraes – Cara isso é muito louco, enfim, não sei se você já viu, tem uma série agora da Apple TV+, o streaming da Apple e que fala sobre isso, e é bem interessante a série porque ela mostra como isso pode ser velado e como muita gente encobre sem perceber às vezes porque é tão natural, tá tão na cultura, que as pessoas não percebem que elas tão fazendo coisas erradas sabe, e às vezes nem o próprio assediador né, ele se percebe assediando porque ele tá aí é numa posição de poder muitas vezes e aí ele só tá usando do poder dele, ele acha que não tá fazendo nada demais.

Luiza Caspary – Cara é foda, tive esse papo ontem com a minha irmã assim né, de às vezes a gente dar um toque pra um amigo, o caras fala “Nossa, os caras são escrotos, machistas”, já teve amigo que eu falei “Mano, você também é machista”, do cara ficar tipo “Oi? Me fala quando” e eu travei na hora que a pessoa me perguntou, “O que eu fiz então, me fala?” e é muito louco porque ontem eu tava falando com a minha irmã sobre isso né, dos caras não perceberem, é tão enraizado, e o maior exemplo disso é os caras controlarem os que as meninas vestem ou fazer comentário maldoso em fotos de Instagram sabe, qualquer coisa mano. Esse amigo meu que um dia falou “Que, machista”, que tipo ele foi zoar um amigo mas  eu pensei “Nossa mas ele também é”, ele falou um comentário que foi o seguinte, eu fui tipo elogiar uma menina para ele falei, “Cara eu acho essa menina tão legal, eu acho ela incrível cara, que pessoa legal a gente ficou horas conversando”, aí ele falou “Nem tanto”, aí eu “Oi?”, “É, ela sei lá”, aí eu “Ué não entendi”, ele falou “Ah mano ela é estranha, ela tem um negócio mal resolvido sexualmente, ela vai na padaria e coloca um decote tá ligado, precisa disso? Porra mano sei lá, parece que fica pensando nisso o tempo inteiro e ela namora um amigo meu”, eu fiquei chocada olhando pra ele falando aquilo porque nitidamente o problema tava na mente dele, sabe? Tipo, cara e aí? Decote, padaria, and? Isso não me incomoda sabe, se te incomoda ou você tem um desejo oculto por essa pessoa ou sei lá, você tá sendo o vizinho fofoqueiro, na real. Não precisa disso, porque o cara não faz isso com um homem, tá ligado? Não olha pro cara e fala “Pô meu você vai de bermuda, vai mostrar a canelinha? Você vai de regata mostrar seu bíceps?” não tem isso, esse é o exemplo mais básico assim, que tá difícil da galera se livrar disso.

Henrique de Moraes – É tem vários, é engraçado que nem eu mesmo percebia, é isso, a gente não percebe né até que um dia eu ouvi acho que num podcast também, não sei se foi o Mamilos que tá sempre discutindo essas coisas, que eram duas meninas ou três e elas foram falando tanta coisa que eu fui me percebendo fazendo sabe, e coisas idiotas tipo a mulher vai lá, trabalha com você, fez alguma coisa incrível e você fala assim “Porra, não sei quem botou o pau na mesa”

Luiza Caspary – Ah sim, um comentário desses

Henrique de Moraes – É sabe, você tá elogiando a pessoa e na verdade você tá comparando ela com um homem porque sabe? Enfim tem vários detalhes assim que a gente nem percebe às vezes né, mas vamos mudar de assunto, eu queria te perguntar um pouco sobre a obra que seu avô deixou também né, que você falou que seu avô deixou uma obra aí que você quer inclusive resgatar, eu queria entender um pouco assim, que você falasse um pouco sobre isso.

Luiza Caspary – Claro. Cara é uma história muito legal porque eu não convivia muito com meu avô, eu vi ele poucas vezes na vida porque ele enfim, minha avó já era separada e ele era meio distante assim mas cara, ele era um pesquisador sobre música serial/dodecafonismo/música atonal e ele escreveu um livro sobre isso e aí o que tenho vontade de fazer né, de resgatar primeiro, lançar mais edições, sei lá disponibilizar isso também num Kindle da vida sabe para as pessoas terem acesso, e tem arranjos dele que ele compôs pra Orquestra Sinfônica de Porto Alegre tocar que eu queria também deixar público sabe, pras pessoas terem acesso à isso, então é isso, e porque tem pouco material e ele pesquisou muito sobre.

Henrique de Moraes – São quantos livros?

Luiza Caspary – Na verdade é um exemplar só, e ele imprimiu poucas cópias e aí eu queria refazer isso

Henrique de Moraes – Legal, você já conseguiu ler?

Luiza Caspary – Não, eu não consegui ler, não consegui nem ler ainda. Por isso que eu digo que eu sinto que em algum momento da minha vida eu vou sentir que é pra fazer isso, eu sinto que vou fazer alguma coisa em relação ao livro do meu avô, e a minha avó também que morreu deixou vários manuscritos e eu quero muito escrever a história da vida dela que é incrível.

Henrique de Moraes – É uma família realmente muito artística, é impressionante. E você tem mais de 7 mil trabalhos com a sua voz, é isso?

Luiza Caspary – Cara, eu parei de contar. Tô falando sério, eu parei de contar porque já foi 10 mil e aí eu falei “Deixa no 7 vai”, porque você imagina, são 22 anos de trampo e eu anotava todas as minhas gravações, ainda anoto né mas quando eu era criança eu tinha a minha agenda né de gravações, não era um diário era uma agenda de gravações e eu contava, e minha média era de 300 gravações ao ano, eu era garota propaganda de tudo, fazia voz de criança, de adolescente. Quer ver, 300×22, uma média, dá 6.600, que dá quase 7 mil. Só o que acontece, eu não tô nem contando dentro disso os projetos de voz original, de videogame

Henrique de Moraes – O que é voz original?

Luiza Caspary – Boa, voz original é o seguinte, quando a animação é brasileira, quando o desenho é feito aqui, desenvolvido aqui e tudo, o produto é daqui e a gente vai dar voz ao desenho, ele não é dublado por que é dublagem vem de uma língua de outro país certo? Dublagem é a tradução de uma língua para outra e voz original é quando é a língua de onde foi produzido ou seja, qual é a voz original dos Simpsons? Inglês, então quando você tem um produto que é brasileiro é voz original. Só que o mais interessante que você não sabe é que a forma de gravação é completamente diferente do que a dublagem porque na voz original, que é como os desenhos surgem, a primeira coisa a ser gravada é a voz e não imagem ou seja, animação se dá a partir da voz, a gente grava em estúdio sem ver imagem alguma, com o roteiro na nossa frente, a gente já conhece o personagem, a gente já tem esse estudo, já tem a voz, a gente grava todo mundo junto todos os atores como se fosse radionovela antigamente, a gente lê esse roteiro juntos, vive esse roteiro e quando a equipe de animação pega, nós damos vida entendeu? A matéria-prima para o desenho é a voz.

Henrique de Moraes – Caraca, isso é muito louco.

Luiza Caspary – É muito legal, é genial.

Henrique de Moraes – Você tem algum assim que tenha feito mais sucesso?

Luiza Caspary – Cara eu comecei a fazer voz original faz dois anos, e tem um projeto que eu tô que se chama “Gigablaster”, você se lembra do Fudêncio e da Funérea da MTV?

Henrique de Moraes – Lembro dos nomes, não lembro dos personagens

Luiza Caspary – Essa equipe aí, essa equipe maluca, Cazé Peçanha/Cazé Pecini está na equipe, e essa galera desenvolveu um desenho que chama “Gigablaster”, ele passa no Gloob, tem um elenco muito legal e ele se passa dentro de uma família que tem um karaokê e o pai é um zumbi perneta, não tem uma perna e nem um olho e os filhos deles são misturas de humanos com bichos, então é um desenho muito louco e cada ator faz cerca de 4 ou 5 personagens dentro do desenho, então muitas vezes eu converso comigo mesma, eu tô fazendo sei lá a voz da Nina Bambina (imitando a voz) e eu tenho que fazer a voz do Ziggy (imitando a voz) de repente, ou então a voz da policial que prende todo mundo (imitando), e assim vai, você tá lendo o roteiro, é você com você, vamos nessa, muda a chave e vai.

Henrique de Moraes – Tinha que marcar um podcast e entrevistar vários personagens seus, ia ser sensacional, como se fossem várias pessoas esquizofrênicas.

Luiza Caspary – Exato. Eu não vou falar sobre isso, só com meu advogado, ok? (imitando voz)

Henrique de Moraes – Caraca muito bom cara, muito bom. E você já dublou essas paradas de Discovery Channel, porque você fez uma voz parecida e me lembrou?

Luiza Caspary – Não, eu nunca fiz. A gente tem essa brincadeira né, que essa é uma dublagem mais antiga né, é uma proposta mais, o que acontece, é uma brisa que eu tenho tá é uma pesquisa minha, esse dublês “Eu falo assim porque na verdade eu estou tentando imitar a melodia do inglês, porque o português não se fala assim, you know, but in english you talk like that, so when you translate to portuguese você tenta falar com a melodia americana e por isso fica estranho”, saca? Aí eu brinco, e acho que é sério isso, o fato de cantar, dos atores cantores, quando a gente pega uma dublagem pra fazer a gente leva em consideração que não é só a tradução de língua que precisa ser feita, precisa ser feita uma tradução melódica digamos assim, uma mudança melódica porque a gente não fala do mesmo jeito em inglês como a gente fala em português né, tipo sei lá, uma coisa simples em inglês, “Hey guys”, se eu fizer “Oi garotos” (com a mesma melodia) já é muito estranho entendeu, porque ninguém fala “Oi garotos” desse jeito não, é “E aí galera” então exercitar essa presença de um mudar, de transpor, acho que essa é a palavra certa, vale muito na hora porque senão fica falso.

Henrique de Moraes – E quando você, isso é uma coisa que você trouxe né, quando você tentava passar isso pras pessoas elas entendiam ou você já foi sei lá obrigada a fazer essa dublagem americanizada?

Luiza Caspary – Cara eu não peguei essa, eu não cheguei a pegar nunca um trabalho assim, esse que eu fiz agora na verdade a gente zoa com isso né, que a gente fala “dublês”, “Essa personagem é porque ela é uma tira, e ela é policial por isso é meio “fucker and sucker” por isso ela vai falar desse jeito”(imitando a voz) mas nunca fiz nada assim, todos os meus trabalhos foram extremamente naturais, na verdade eu sempre trabalhei com menos é mais, tanto na publicidade, que quando a gente faz jingle ou trilha para publicidade é tudo assim “Finge que você não é cantora e canta bem”, “Não quero vibrato, faz tudo linear, voz linear sem vibrato” então foi sempre tirando tudo sabe, limpando, sempre limpei, sempre tentando chegar numa naturalidade e o trabalho que eu fiz que foi mais bombado né, que foi do “The Last of Us” teve isso de trazer essa naturalidade para a personagem, que é a Ellie, que as pessoas ficam “Caraca, parece que foi feito em português” porque ficou muito próximo tanto meu time quanto a minha atuação, então a ideia é que eu não vou ficar nem mais nem menos, não vou ficar over nem com menos energia do que está sendo proposto eu vou tentar realmente entrar em contato com aquela cena e viver ela com a minha voz né.

Henrique de Moraes – Legal, muito foda, eu queria falar sobre isso, só duas observações sobre a coisa da dublagem mais caricata, que uma coisa engraçada tipo assim, você faz essa voz e parece que todos os personagens que eu já vi na TV tem essa voz, parece a mesma é impressionante, você poderia ter dublado todos e eu não saberia, se você tivesse falado agora pra mim “Eu fiz todos”, eu ia falar assim “Beleza, eu acredito 100%” e outra coisa engraçada é que, eu nunca fui de ver Discovery Channel mas tinha um programa que eu nem lembro se era do Discovery exatamente, acho que era, que era o “À Prova de Tudo”, eu adorava e quando eu assisti a primeira vez em inglês me deu um choque, eu falei “Não é ele, cadê a voz caricata que eu adorava? Agora vem esse cara com a voz normal aí”, a voz dele em inglês é normal sabe em português é caricata, isso é muito doido mas enfim, voltando pro The Last of Us que você queria falar alguma coisa

Luiza Caspary – É, vou falar uma coisa que é interessante porque existem vícios não de linguagem mas existem vícios de como fazer algo né, vícios de atuação digamos assim, assim como tem o vício de canto que é clássico, tem o vício de dublar com a melodia americana e tem um outro vício que é maravilhoso que é o do jornalismo (imita a voz) “Olá, eu estou aqui com o Henrique, esse podcast está muito legal. Agora em São Paulo São 8:33 de acordo com o horário de Brasília. Henrique, você consegue entender porque que está soando jornalístico, você consegue entender o macete do porque que está soando como se fosse o Jornal Nacional?”

Henrique de Moraes – Vou tentar arriscar aqui, cara primeiro é a pronúncia de todas as palavras, um português muito destacado cada palavra e tem uma pausa estranha, não sei

Luiza Caspary – Isso. Cara, o grande lance é que eu sempre olhei, eu sempre soube imitar mas eu não tinha me dado conta do macete né, e é muito legal esse macete que é fale no máximo de 3 em 3 palavras, ponha vírgulas em lugares que não existem porque isso faz com que você dê ênfase nas coisas e prenda a atenção, aí a pessoa que tá ouvindo fica “O que vem agora meu Deus?”, fica uma curiosidade no ar.

Henrique de Moraes – Muito bom, eu sinto que tô entrevistando várias pessoas ao mesmo tempo, vamos marcar esse podcast, uma entrevista que vão ser vários personagens, eu vou ficar maluco e você provavelmente também, acho que você vai se sair melhor do que eu. A gente tava falando de “The Last of Us” e eu queria entender assim, na verdade eu tinha várias perguntas, tenho várias perguntas sobre isso mas a primeira, eu sei que tem uma história engraçada né, que você descobriu que um famoso era seu fã, queria que você contasse essa história por favor, porque eu gostei

Luiza Caspary – É engraçado isso, videogame é uma coisa absurda assim né, o alcance que o videogame tem, principalmente que esse game tem. E aí estava eu apresentando o “Meus Prêmios Nick” da Nickelodeon em 2015, acho que o Fábio Porchat tava apresentando no palco e eu tava atrás do palco fazendo as locuções ao vivo né, além de fazer as locuções pré-gravadas, tipo “E os indicados da noite na categoria melhor programa de TV são”, já tinha isso pré-gravado, eu ficava anunciando as pessoas, tipo “E agora com vocês, Anitta”, e aí ficavam os artistas passando por mim, um corre-corre, Anitta com as dançarinas se preparando, alongando e vem fulano e ciclano. E aí eu olho o Luan Santana pertinho ali, eu com meu ponto, com meu foninho ali no jeito e aí eu vi que o Luan estava me observando enquanto eu fazia a locução e ele percebeu que eu tava fazendo ao vivo, aí no intervalo ele chegou e falou assim “Você tá fazendo isso ao vivo, eu jurei que era gravado”, eu falei “Pois é cara, loucura né” e ele disse assim “Cara aonde mais eu já te ouvi?”, e aí foi muito louco porque eu falei “Cara, em vários lugares, mas se você joga videogame possivelmente você já me ouviu” e eu jamais pensei que o Luan Santana fosse gamer, aí ele falou “Sério? O que você já fez?”, eu falei “Fiz a Ellie do The Last of Us, aí ele “O quê? Mano, você é a mina do The Last of Us, meu Deus!”, aí ele chamou, ele tava com a Jade “Amor vem cá, ela é a voz do The Last of Us, nossa” e começou a pirar, pegou o telefone, tirou selfie, ficou emocionadíssimo

Henrique de Moraes – Ele que tirou foto com você né?

Luiza Caspary – Aham, muito fofo, ele me segue até hoje, nunca deve ver nada e não falar mas estamos conectados

Henrique de Moraes – Você falou com ele depois disso?

Luiza Caspary – Cara eu não falei com ele depois disso, eu reencontrei ele no mesmo Meus Prêmios Nick uns dois anos depois mas nunca tive acesso à ele mesmo

Henrique de Moraes – Você tem que fazer o seguinte, criar um WhatsApp com o nome da Ellie ou então cria um Instagram e manda um áudio pra ele, com voz, “Fiz uma música especialmente pra você” e você grava a música com a voz dela

Luiza Caspary – Boa dá pra fazer, já que eu tenho uma família que faz trotes, porque não?

Henrique de Moraes – Exatamente, vamos tentar essa estratégia pra ver se a gente consegue chegar no Luan Santana. Muito bom, e eu queria entender na verdade, eu acho que a gente vai voltar no videogame daqui a pouco mas eu queria falar um pouco sobre o seu processo criativo né, porque você trabalha com toda essa parte que você não tem criação, você não participa da criação, então gravação de jingle, propaganda, coisas de publicidade né, todas essas coisas você não precisa participar, mas eu sei que você compõe para vários artistas, eu sei que você compõe para você mesma, e você tem vários jobs onde você tem a parte criativa, só que você sempre teve que lidar com deadlines, que não é uma coisa muito bem vista por músicos e artistas ao menos os profissionais, e aí eu queria entender um pouco assim, você sempre teve que lidar ou foi uma coisa que você aprendeu e como que você faz assim, como que isso mudou o seu processo criativo ou como moldou seu processo criativo?

Luiza Caspary – O lance de ter prazo que você tá perguntando?

Henrique de Moraes – Isso

Luiza Caspary – Cara, como eu já comecei trabalhando com publicidade antes mesmo de ter uma carreira né, de me entender como “Beleza, vou abrir meu Myspace e botar minhas músicas lá”, eu já fazia publicidade então para mim foi muito importante aprender a trabalhar com prazos e com demandas que eu estou atendendo, tipo assim eu sou uma prestadora de serviço, certo? Precisam da minha voz, eu vou lá e abro a boca, entrego o que preciso entregar e vou embora, esse é meu serviço. Raramente eu participo do processo de composição de um jingle, às vezes me pedem sim, tipo “Lu, você consegue fazer uma letra?” eu fiz agora, semana passada um enfim, fiz uma letra e uma melodia em cima de uma base que me mandaram e eu dei uma trabalhada em cima na composição mas geralmente eu faço o que já tá pronto né, o que o arranjador, o produtor fez e executo, e eu trouxe essa organização para o meu trabalho e eu acolhi isso porque eu via que andava sabe, falava “Nossa bacana, eles tem uma meta, um prazo e eles vão lá e executam” porque eu percebi que como eu vim da publicidade aos 16 anos eu fui ter o primeiro computador, é engraçado porque ao mesmo tempo que eu era muito ágil e fazia tudo, trabalhava para caramba, eu fui entender de tecnologia aos 16 anos, eu comecei a ir numa lan house antes de ter meu computador porque eu tava me sentindo completamente excluída do tipo “Mano eu não sei digitar um texto direito, não sei mandar e-mail”, e aí quando eu tinha 15 anos eu lembro que eu pegava meu dinheirinho e eu passava uma hora ou duas do dia na lan house testando tipo “como é mandar um e-mail” e fiz meu e-mail, com vergonha de dizer para as pessoas que eu não sabia porque eu via que ao mesmo tempo que eu tinha evoluído muito na questão de trampo e de experiência na minha área, as pessoas, meus colegas estavam muito à frente de mim na questão de tecnologia. Eu lembro quando o Orkut surgiu e eu já era cantora, meus colegas sabiam, eles me zoavam porque eu não tinha foto de perfil no Orkut, do tipo “Luiza??”, e eu “Ai gente, é que eu não uso” mas na verdade era que eu não sabia usar sabe, então é muito legal lembrar disso porque isso foi um bagulho que eu conquistei muito entendendo e hoje eu sou uma rata né, eu sei como funciona tudo, algoritmos das redes sociais e etc, não tem que eu não faça, então até me perdi na pergunta que tu fez, eu lembrei dessa história e achei engraçado.

Henrique de Moraes – Deixa eu te perguntar como os deadlines influenciaram seu processo criativo? Pode dar detalhes de como é seu processo criativo, por exemplo, falar qual é a primeira coisa que você faz, vamos supor que alguém tenha te pedido uma música, como é que você começa?

Luiza Caspary – Legal. Cara eu sou grata aos deadlines, eu acho que eles são importantes e eu trabalho com isso tanto nas minhas coisas, tipo através de datas, eu faço um mapeamento de datas que eu acho bacana e que tem algum motivo para eu postar ou lançar algum material por exemplo, e da mesma forma eu acho importante quando me encomendam alguma música né, algum artista ou alguma coisa assim. A primeira coisa que eu faço quando um artista me encomenda uma música é estudar ele, entrar em contato com aquela mentalidade porque o que que eu vou ter que fazer? Não é a Luiza, nesse momento em que alguém me pede uma música e essa pessoa vai cantar, cara eu tenho que me dispor a entrar em contato com a mentalidade dessa pessoa para que quando essa pessoa cante ela sinta que foi ela que escreveu sabe, então essa pesquisa ela é muito importante. De tudo, de linguagem, o que essa pessoa fala, o que ela consome, como ela se veste, qual é o gênero sonoro enfim, então eu dou uma aprofundada nisso né, dou uma estudada legal e aí começa a vir assim, porque como eu ouço todas as músicas, todos os gêneros, tem uns macetes de composição assim, tem um jeito de se expressar, uma mentalidade, um estilo de vida e aí também o teatro me ajuda muito nisso, que é entrar nesse personagem, nesse papel que não sou eu sabe, e isso me deixa maluca, eu fico muito feliz fazendo isso, é um experimento muito legal

Henrique de Moraes – Imagino, e aí você incorpora o artista e aí quando você vai compor você começa por alguma coisa específica, tipo você começa por melodia, harmonia, como é que funciona isso? Pode não ter regra né?

Luiza Caspary – Tô pensando, geralmente já me vem uma frase com uma melodia junto sabe, tudo parte de uma frase com melodia, geralmente é assim cara, eu nunca compus pra alguém através de um beat ou de harmonia, geralmente é uma letra com uma melodia e isso é o embrião pro resto vir

Henrique de Moraes – Legal, muito bom. É muito curioso né como o processo criativo de cada pessoa é muito diferente, e é legal, eu conversei com o Saulo e eu como sou músico também né

Luiza Caspary – Eu ouvi o podcast com ele, foi muito legal

Henrique de Moraes – Ele já tem um jeito completamente diferente de ir absorvendo coisas do dia e ir anotando sabe, e eu tenho amigos que são compositores e eles fazem também de forma completamente diferente, é muito doido. Deixa eu te perguntar, qual foi o trabalho mais curioso ou estranho que você fez? Eu sei que você já fez tanta coisa, até enciclopédia você já gravou, jingle de político enfim, mas qual o que você lembra que tenha sido mais esquisito?

Luiza Caspary – O trabalho mais estranho que eu já fiz e curioso foi telegrama ao vivo, você sabe o que é isso Henrique?

Henrique de Moraes – Não tenho a menor ideia

Luiza Caspary – Você sabe, o pior é que você sabe, é que você não tá associando o nome. Telegrama ao vivo é quando alguém contrata no aniversário de alguém, alguém para ir na casa da pessoa dar os parabéns, da forma mais brega possível pra pessoa

Henrique de Moraes – Aquele com carro e tudo?

Luiza Caspary – Então, o meu era mais chique tá, presta atenção, o meu era gourmet. A gente ia de carro, o motorista, eu que era a mestre de cerimônias e um violinista ou saxofonista, e aí escolhia uma música pra gente entrar na sala da pessoa, já estavam todos reunidos esperando a surpresa e eu era a pessoa que lia aquela mensagem, aquela carta que foi escrita com tanto carinho, aquele depoimento pra pessoa. Só que teve uma vez que foi horrível porque a menina que eu fui fazer isso, ela tava de aniversário e o pai dela tinha acabado de morrer e eu era a pessoa responsável por dizer “Querida feliz aniversário, a sua família te deseja tudo de bom” cara, essa menina me olhava e queria me matar, e eu querendo ir embora, falei “O que eu tô fazendo aqui gente? Coitada dessa menina, eu só queria abraçar essa menina, eles deviam ter cancelado”

Henrique de Moraes – A galera tentou animar a menina mas só piorou

Luiza Caspary – Só piorou, ela não queria nossa presença ali de jeito nenhum, ela só queria viver o luto dela em paz e nos mandar embora.

Henrique de Moraes – Doideira cara, não consigo me imaginar nessas situações, não nasci pra passar por isso, acho que eu teria me matado no dia seguinte, tipo “Minha vida não serve pra nada, acabei de deixar uma pessoa deprimida, vou pro buraco aqui” sacanagem, não sou tão dramático assim não mas não consigo lidar tão bem com essas coisas não. E uma coisa que fiquei curioso também é que você compõe com o seu ex, e eu queria saber como é que funciona a dinâmica, você é casada hoje em dia?

Luiza Caspary – Não, sou solteira

Henrique de Moraes – Ah é solteira, mas você já namorou pessoas provavelmente depois que terminou com esse seu ex que você compõe e como é que era isso, como é que era essa relação entre o atual, a pessoa que você tá se relacionando e você indo encontrar com seu ex pra compor?

Luiza Caspary – Cara é engraçado porque o Gab que é meu ex, Gabriel, eu acho até engraçado assim, quando a gente terminou eu apresentava ele como ex marido e depois eu vi que não tá com nada eu chamar ele de ex porque ele não é ex, ele é meu parceiro, ele é meu amigo e aí eu deixei isso de lado e adotei esse nome porque senão fica remetendo à um título que a gente teve sabe, eu percebi não me fazia bem.

Henrique de Moraes – Tem muito tempo que vocês ficaram juntos?

Luiza Caspary – A gente ficou 10 anos

Henrique de Moraes – Caramba, 10 anos?

Luiza Caspary – Sim

Henrique de Moraes – Até que ano?

Luiza Caspary – Até 3 anos atrás, faz quase 3 anos que a gente se separou

Henrique de Moraes – Ah, então não tem tanto tempo né?

Luiza Caspary – É, comparado a 10 anos né, 10 anos juntos e 3 anos separados mas é engraçado porque o meu relacionamento com o Gab ele começou com uma amizade e se tornou um relacionamento né, com esse título e tudo e a gente sempre teve uma abertura muito legal e foi muito legal porque quando a gente terminou, a gente terminou e a gente estava numa vibe muito parecida de querer viver outras coisas e ninguém fez sacanagem com ninguém, ninguém se sacaneou então a gente terminou num clima extremamente amoroso sabe, e se ajudou, eu ajudei na mudança dele, ele ajudou na minha, a gente se encontra toda semana, obviamente não agora em época de quarentena mas a gente não se encontra pra compor como a gente se encontra para tomar café, tipo “Mano e aí, me conta da sua vida, como tá as minas” sabe, tipo “Tá tudo bem?” e é muito engraçado porque sim eu fiquei com pessoas depois, inclusive logo em seguida fiquei com um amigo em comum nosso, uma amigão nosso, e fiquei muito “Putz, que doideira” a gente não planeja essas coisas, acontece e eu fiz questão que ele fosse a primeira pessoa a saber porque eu não queria que ele soubesse por alguém ou que ele visse a gente sabe, e a forma como ele acolheu foi “Nossa que legal que é ele, eu amo ele” e falei “Meu Deus do céu”, é meio que fora do que a gente conhece no mundo, enfim, só que pras pessoas que eu me relaciono, pros caras que eu fico é engraçado porque os caras não conseguem entender, não conseguem. Tem um que diz assim “Vocês ainda vão voltar, eu sinto”, não ele falou pior, ele disse “Tu ainda tem esperança de voltar com teu ex”, eu falei “Que? Mano, tá tudo bem comigo e com ele, não to fazendo plano algum em relação a isso”, porque eu falo muito no Gabriel, é uma pessoa presente na minha vida, então pra uma pessoa que tem algum nível de insegurança isso é inadmissível né

Henrique de Moraes – Isso fala mais sobre a pessoa do que sobre você né?

Luiza Caspary – Exato, e eu nunca fui uma pessoa ciumenta, eu nunca na minha vida fui alguém que disse “Para de falar com alguém” ou sei lá, pelo contrário, eu acolhi as pessoas mesmo quando eu me senti sacaneada em algum nível, eu falei “Foda-se, eu amei essa mina mano, foda-se que aconteceu isso eu quero ser amiga dela” é isso assim, então é muito leve a nossa relação, na verdade eu acho que é a coisa mais bonita que eu já vivenciei e eu falo para o Gab que o nosso relacionamento é tão legal e eu quero ter isso com todas as pessoas, eu gostaria de ter o que eu consegui entender com ele, que é essa confiança plena assim sabe, e este não esperar nada dele, só quero que ele seja feliz, mas muito sabe, e é claro que quando eu fico com caras agora na atualidade eu não tenho esse desprendimento todo né, eu sinto coisas, então eu queria muito ser uma pessoa tão resolvida quanto eu sou com o Gabriel com todas as relações, mas acho que um dia eu consigo, vai, porque essa já foi uma vitória maravilhosa

Henrique de Moraes – Um passo de cada vez, fazendo os 365 exercícios um dia você vai olhar pra isso e falar assim “Isso não significa nada”

Luiza Caspary – Isso, maravilhoso!

Henrique de Moraes – É melhor com eles do que com prato de comida

Luiza Caspary – Exato, não vem falar que a comida não significa nada não hein

Henrique de Moraes – Exatamente, a comida é importante, dependendo se for um strogonoff, uma lasanha. Brincadeira. E de onde vem esses rolês das músicas inclusivas, que eu tô muito curioso em como é que funciona isso, explica um pouquinho

Luiza Caspary – Cara em 2010 a minha mãe foi convidada para fazer um curso de audiodescrição lá em Porto Alegre e aí ela chegou em casa emocionada, apaixonada, eu falei “Mãe o que tá acontecendo, me fala?” e ela contou que audiodescrição nada mais era do que descrever imagens em palavras para as pessoas cegas, e ela olhou para mim e falou “Agora eu entendi o propósito da minha vida e eu entendi o porquê que eu trabalho com a minha voz”, e ela simplesmente vive disso, mesmo assim, e aí cara eu fiquei muito emocionada né porque minha mãe é daquelas pessoas que é profunda, ela chora sabe, ela se emociona, chora e eu amo isso e aí eu falei “Cara, eu quero trazer isso para o meu trabalho”, e aí tinha um grupo de estudos na época dos colegas dela desse curso, e eles chegaram para mim e falaram assim “Luiza, a gente tem que fazer uns estudos, a gente pensou em te pegar de cobaia se tu topar, pegar um clipe teu e fazer audiodescrição”, eu falei “Caraca, vamos pelo amor de Deus eu quero” e a gente fez o roteiro da audiodescrição do clipe “O Caminho Certo”, que é o nome do vídeo, e cara desde lá eu entendi que existe um mundo que eu simplesmente não via sabe, um mundo que eu não considerava que são as pessoas cegas, que são as pessoas surdas e eu passei a conviver com elas porque resumindo eu comecei a incluir, fiz o vídeo, lancei, esse video até hoje é referência, muito usado em coisas de acessibilidade como um exemplo mesmo, e aí eu nunca mais parei porque eu entendi que “Caramba, agora que eu fiz, agora que eu vi não dá para desver” tipo eu entendi, eu vi essas pessoas e agora não dá mais para produzir absolutamente nada sem pensar nelas. Então cara, é louco porque a forma de lançamento e de publicar as minhas coisas é muito carinhosa assim, e é incluindo todos, não é que eu vou fazer um post e era isso, eu preciso descrever a imagem para o cego que for lá “ler” a legenda né porque ele usa um sistema de voz que lê o texto para ele em voz alta, é assim que os cegos usam celular, então eu preciso fazer a legenda para o cego ver, ”Putz vou lançar um video”, no Stories que seja, eu tenho que escrever o que eu estou falando, senão o surdo fica boiando, então você começa a pescar nos mínimos detalhes, você muda seu jeito de gerar conteúdo entendeu. E aí junto com isso comecei a estudar Libras né então eu interpreto algumas músicas minhas, canto e interpreto com as minhas mãos né com os sinais, e tenho amigos na comunidade surda, e é outra cultura, é muito legal entender um outro jeito de pensar e de ver o mundo sabe, só inspira

Henrique de Moraes – E você sabe quantas pessoas mais ou menos assim você já impactou desse mundo, ou pessoas que falam com você?

Luiza Caspary – Cara, difícil eu te dizer isso, eu sei que a galera, a comunidade surda tá ligada em quem eu sou assim, porque eu sou digamos a pioneira nisso mesmo né, então tem os influencers surdos e eu sou muito amiga deles, eu me conectei muito com eles e essa galera é muito parceira, inclusive o Léo Castilho que é um menino surdo, ele é performer, ele já participou do meu show fazendo a interpretação de uma música, maravilhoso e é uma galera grande assim. Eu fui para Recife, eu vou te mandar depois para você ver, foi em Abril do ano passado, eu fui pro Festival VerOuvindo, que é um festival de cinema acessível, então todos os filmes que são exibidos são filmes com legenda, com libras e com audiodescrição, porque é um jeito de incluir a comunidade surda e cega no cinema nacional, para eles terem acesso então eles fazem uma maratona de filmes né, conseguem assistir, debatem e rola uma premiação, e eu sempre participo desse festival todos os anos, e aí ano passado eu fui né fazer o show lá de encerramento, olha de um público de sei lá, era um espaço pequeno não era muito grande mas digamos que tivessem 120, 150 pessoas, tinham 40 surdos e 10 cegos, é muita gente, só em Recife sabe. Cara e eu tenho um vídeo disso, eu fiz um making off bem caseiro assim, aconteceu uma coisa que foi muito foda porque o que que aconteceu, com esse processo de lançar as músicas acessíveis o meu disco “Mergulho” que eu lancei agora em setembro, ele foi lançado aos poucos em forma de singles, só que junto com singles o vídeo em Libras foi lançado, todos os vídeos foram filmados no mesmo cenário comigo e com a intérprete de libras, não é aquela coisa da intérprete no cantinho, pequenininha, a intérprete comigo no sofá sabe, e aí foi muito louco porque a comunidade surda teve acesso a isso e cara, quando eu cheguei no show para cantar as músicas, eles sabiam cantar com as mãos, e aí eu olhei e tinha um mar de gente fazendo a coreografia dos sinais das minhas músicas, parecia sabe uma energia de louvor, quando você vê a galera meio emocionada numa igreja? Eu olhei aquilo e falei “Que porra é essa cara, eu não tô acreditando que isso tá acontecendo, que coisa mais linda”, eu quase parei de cantar no meio do show assim, porque foi muito bonito e aí eu falei “Mano olha aonde chegou?” como foi importante ter lançado esses vídeos, sabe?

Henrique de Moraes – E tem algumas coisas assim, uma que provavelmente as pessoas precisam levantar a mão né para fazer isso, para conseguirem ser vistas no meio de um show né, então assim tá todo mundo com a mão pro alto, já anima mais o show

Luiza Caspary – Exatamente

Henrique de Moraes – Mas é isso, você fala com uma galera que é tão marginalizada né, e de certa forma essas pessoas com certeza espalham essa mensagem né cara, não tem como não espalhar porque você é uma artista que tá ali falando, tá incluindo, ainda mais na época da internet, que tá todo mundo superconectado, eu imagino que eles sejam superconectados também

Luiza Caspary – Muito, nossa

Henrique de Moraes – Pois é, então acho que, não que você tenha feito de propósito nada disso mas assim, acaba que a mensagem se espalha muito rápido porque as pessoas devem compartilhar isso para todo mundo que conhece nos círculos de amizade, nos grupos, enfim

Luiza Caspary – Teve uma música, que é a “Bem-Vindo” que o Jair Oliveira gravou comigo no disco, cara essa música eu perdi o número de compartilhamentos que esse vídeo em Libras dela teve, mas foram meio que cinco milhões de plays que eu computei, porque o que que aconteceu, essa música fala sobre autoamor né, sobre amor próprio, e várias páginas do tipo coachings existenciais, essas coisas, que dão dicas de vida saudável, os caras uparam o vídeo na página deles, óbvio dando os créditos, mas tipo páginas com muitos seguidores publicaram essa música, e aí eu fiquei tipo contando os plays de lá também né, então chegou em muita gente, chegou muita gente. Uma das coisas mais bonitas que aconteceu foi que eu cheguei num evento, era tipo uma roda de meditação, me convidaram para tocar e eu toquei a música né, toquei “Bem-Vindo”, e aí a galera sabia cantar e eu fiquei meio “Oi/??”, eu não conhecia aquelas pessoas, e aí no final uma menina olhou para mim e disse assim “Nossa, essa música é maravilhosa, é daquele vídeo que a menina tá com intérprete de libras né, eu recebi no WhatsApp” aí eu falei “Nossa que bom que você gostou” e a menina me olhou e falou “Ah é você?” eu falei “Sim”, só que foi muito legal porque eu percebi que eu gostei que a música chegou na frente sabe, eu fiquei muito feliz que não foi a Luiza que ficou sendo colocada em primeiro lugar, a música chegou primeiro e é isso que importa e nada mais, e ela lembrou da música e não lembrava de mim, e eu falei “É isso, tá tudo certo então”

Henrique de Moraes – Muito bom, muito legal. Eu vou passar aqui para a parte da entrevista que as perguntas são mais dinâmicas assim, você não precisa responder rápido, você pode se aprofundar aí quando você quiser, mais aí já não são mais perguntas, são perguntas mais genéricas, nesse sentido. Então a primeira delas é, queria saber quem é a pessoa que você mais admira e porque?

Luiza Caspary – É muito louco, as pessoas geralmente quando me perguntam isso, perguntam sobre ídolos né e eu tenho muita dificuldade de responder porque eu absorvo um pouco de cada pessoa mas pensando a primeira pessoa que me vem é a minha mãe, porque eu acho que por isso, pelo jeito leve que ela me ensinou a ver as coisas, ver os obstáculos como uma oportunidade de aprendizado sabe, pela liberdade que ela sempre me deu, pela confiança que a gente construiu porque eu sinto que ela é minha amiga sabe, eu sinto que ela é uma mãe muito acima da média no sentido de não se colocar nesse lugar sabe, da gente falar de igual pra igual

Henrique de Moraes – Por tudo que você falou dela aqui, eu concordo. Você tem algum livro que tenha impactado muito a sua vida?

Luiza Caspary – Muito, um deles eu já falei para você que é “Um Curso em Milagres” mas eu li alguns, agora para lembrar, ele deve estar até aqui, mas se eu não lembrar agora eu te passo os títulos depois mas eu gosto muito de ler livros de histórias reais assim, os livros que eu mais gosto não são de ficção sabe, eu não tenho muita paciência para Senhor dos Anéis, Harry Potter, acho lindo quem gosta mas eu gosto muito de histórias então assim, uma das coisas que eu curto ler são fatos sei lá, médicos que eram céticos percebendo que a espiritualidade existe sabe, e eu gosto muito de livros assim e aí teve um livro de um médico que eu li, que ele sofreu um AVC e ele ficou em coma durante muito tempo e ele viveu a experiência de quase-morte, então ele contou como era estar se vendo sem o corpo responder, tipo de fora, e aí de todo esse processo, eu acho lindo isso, das pessoas contando experiências que vivenciaram. Aí tem o “Um Curso em Milagres”, livro que é muito incrível que eu te falei, que eu ainda tô lendo, eu já fiz os 365 exercícios, eu já terminei faz 1 ano mas agora eu tô lendo o livro-texto e depois tem manual de professores que enfim, que é a parte final, então ele é um livro bem longo que eu tô lendo e eu leio um pouco todos os dias porque ele é um livro que é difícil, não é assim você leu e tchau né, e esse livro me fez ver na verdade o quanto eu era, não simplória, mas o quanto eu era superficial com as minhas leituras porque assim, quando eu lia um livro eu lia querendo confirmar coisas que eu já sabia ou que eu já sentia, então eu lia uma frase e falava “Aham, pode crer, é isso” sabe quando você fica comentando mentalmente, você tá lendo e você fica conversando né e o “Um Curso em Milagres” como eu li ele com uma galera lendo simultaneamente né, a gente leu juntos e com instrução, a gente foi muito orientado a fazer um exercício por dia justamente porque parece muito simples, mas entra em contato, não em contato com o que você pensa sobre isso mas em contato com que o autor está te dizendo, e aí nunca mais eu li um livro do mesmo jeito entendeu? Agora eu tô lendo um livro do Freud junto com o “Um Curso em Milagres” que é o “O mal-estar na civilização”, e tô lendo um livro do Richard Gerber, que é um médico, que é “Medicina Vibracional”, que é também um médico que percebeu o quanto os outros tipos de terapia né, além da alopatia, contribuíam para o melhoramento das pessoas, a cura através das mãos, ervas, chás, coisas que a ciência, digamos assim não explicava mas que tinha sim uma melhora né, homeopatia, enfim. E aí eu tô lendo esses três livros simultâneos, mas depois eu vou fazer uma pesquisa aqui e te falo, porque sou esquecida com títulos, eu não lembro nem título de música sabia, eu lembro das histórias mas não lembro dos títulos, aí depois qualquer coisa eu te mando e você lê, você fala.

Henrique de Moraes – Eu te entendo completamente, sou desses também. Eu sei que você tem um jeito diferente, você até falou um pouco sobre isso né, mas você tem um jeito, uma forma diferente de lidar com felicidade, que você fala que você tenta ficar num estado mais linear né, você pode falar um pouco sobre isso e assim, aproveitando que você vai falar sobre felicidade, tem uma pergunta que eu faço pras pessoas que é, se você pudesse dar uma dica prática pras pessoas tentarem ser mais felizes, qual seria então se puder emendar uma coisa na outra talvez seja interessante.

Luiza Caspary – Deixa eu ver se eu consigo, tô pedindo orientação aqui, porque às vezes o que serve pra mim não serve pro outro, então não dá pra ser uma receita de bolo, tem que ser algo inspirado mesmo mas vamos lá, a minha relação com felicidade, eu acho que a felicidade no mundo parece que a gente só vai experimentar a felicidade depois de ter passado por um sacrifício, eu percebo muito essa crença, do tipo “Eu só vou ser feliz depois que eu tiver me fudido bastante, porque eu tenho que passar por dificuldades pra poder ser feliz, afinal de contas ninguém blá blá blá”, então a felicidade está atribuída à isso, e eu não consigo, isso não faz sentido para mim, pra mim felicidade é um estado nosso de direito, é a nossa natureza, que tá aqui pra gente acessar a hora que a gente quiser, só que para a gente acessar esse lugar, a gente é compulsivo por pensamentos né então assim, pra gente acessar a felicidade é preciso viver o presente, só que os nossos pensamentos geralmente estão no passado ou no futuro, ou a gente tá pensando num negócio que aconteceu ou a gente tá planejando uma coisa que te deixa ansioso e tira a paz e não te deixa feliz, então assim para mim a felicidade está muito ligada no estado de viver o presente, quando você se permite simplesmente ser, viver, porque a outra coisa que parece que é felicidade é experienciar coisas, tipo sei lá “Nossa, eu fico muito feliz, eu adoro viajar”, “Nossa eu adoro esportes radicais”, “Nossa eu fico feliz quando eu como a macarronada da minha mãe” a gente dá nomes para as coisas que nos deixam felizes, só que fato é que a gente escolhe estar feliz porque tipo, quando eu penso que as pessoas vivenciam determinadas situações, a mesma situação. Sei lá, vou te dar um exemplo, eu fui assaltada várias vezes na minha vida, inúmeras vezes em Porto Alegre, e eu tinha uma coisa de, eu sempre me percebi, entrei em contato assim tipo “Peraí, mas o que eu tô sentindo? O que eu tô pensando?” todas as vezes que aconteceu isso e eu lembrei do que eu tava pensando antes de acontecer o assalto, eu lembrei que eu não estava bem, que eu já sentia medo, que eu já sentia coisas e que de uma certa forma me afinizei com a energia, com a frequência, e aí quando acontecia o assalto não era uma surpresa, era tipo “Sabia que ia acontecer”, era tipo sempre assim. E aí a gente tem possibilidades né, quando acontecem coisas com a gente independente delas serem boas, ruins ou sei lá surpreendentes, a gente pode ficar muito puto, porque tem significado “Meu celular, levaram isso, levaram aquilo” ou a gente pode olhar e ver tipo “Ok, aconteceu o que eu tava pensando” porque senão vira um ciclo vicioso de culpa, tipo parece que eu tô triste porque buzinaram no trânsito para mim e me chamaram de filha da puta, óbvio que tô chateado por isso mas pensa bem, quando você saiu de casa você já não estava bem, porque se alguém te buzina e te chama de filho da puta e você tem a nítida sensação de que você não é um filho da puta e você tem certeza disso, logo você não se ofenderia, agora se você sai de casa se sentindo rejeitado, se sentindo mal com alguma coisa, sentindo feio, seja lá o que for, você já tá sentindo um bagulho, você já tá fazendo uma autocrítica, uma leitura sobre você equivocada. A partir do momento que você topa com alguém numa cena e a pessoa te fala coisas, o que você tava sentindo é justificado naquela cena, e você fala “Viu, por isso que eu tô me sentindo mal”, porque a pessoa veio e falou tal coisa, só que o fato é que você já criou coisas, então resumindo, talvez a receita da felicidade seja “Não pense duas vezes, sinta”, porque o pensamento em excesso é o que faz o caos, isso é o inferno, são os nossos pensamentos e esse podcast chamado calma!, acho que a calma é a felicidade sabe, é confortável ter calma e a gente merece.

Henrique de Moraes – Tem uma frase que eu gosto muito, que fala que “Desejo é um contrato que você faz com você mesmo pra se sentir infeliz até você conseguir o que você quer”

Luiza Caspary – Caraca, é muito isso mesmo

Henrique de Moraes – Exatamente, e as pessoas desejam coisas diferentes, por mais que essa fale de coisas, de alguma coisa no futuro, tem gente que deseja voltar, e aí é pior ainda porque você não vai conseguir, esse é um desejo furado mas assim, eu lembro que essa frase bateu assim que nem um soco no meu estômago porque quando você começa a parar pra pensar é isso, você vai botando um monte de expectativa, criando muita expectativa, vai criando um futuro na sua cabeça e na verdade o futuro nunca é como a gente planejou, ele pode ser muito melhor se você tiver aberto né ou ele pode ser muito pior dependendo da expectativa que você colocou, então essa frase acho que é muito legal e tem muito a ver com o que você falou né, não fica esperando ou imaginando toda a situação, só vive, não deixa que nada te influencie de certa forma, tenta viver seu estado de espírito, não viver o estado de espírito que as pessoas à sua volta te impuseram

Luiza Caspary – Isso, porque parece que se a gente não sentir por exemplo, vou falar agora do que a gente tá vivendo tá, desse estado de quarentena mundial né, as pessoas ficam com muito medo e esse medo vem de vários lugares, vem de sei lá “Mano, como assim? Meus planos todos foram por água abaixo, tudo o que eu queria agora não é, eu queria estar com as pessoas e não posso estar”, muitas coisas e aí eu nesse treinamento né, de me colocar num lugar de calma, parece que o fato de eu não estar sentindo medo junto com as pessoas é como se eu estivesse traindo o movimento do medo, saca? Tipo “Não velho, tem que sentir medo, tá todo mundo sentindo medo, não é certo não sentir, vou sentir medo junto”. Não, eu não preciso, claro que eu tenho altos e baixos né, acontece, me vejo às vezes entrando numas mas eu tô cada vez mais rápida e ligeira para desistir, então é isso assim, parece que as pessoas impõem um conflito, não, se você não quiser conflito não haverá conflito e você ajudar vai ajudar a pessoa talvez a desistir, ou ela vai ficar brigando sozinha.

Henrique de Moraes – É igual quando você acorda de mau-humor, acho que todo mundo já passou por isso, você acorda de mau-humor e você chega num lugar em que a pessoa é muito simpática com você e muda seu dia né?

Luiza Caspary – Exatamente

Henrique de Moraes – Então assim, todo mundo tem esse poder, é difícil só o que acontece normalmente é o contrário né, tipo se a pessoa chega estressada você muda o seu humor e fica estressado também junto com a pessoa, aí já era, aí é ladeira abaixo.

Luiza Caspary – É bem isso cara, eu tenho uma história maravilhosa do cartório que eu fui tipo sei lá, fazer o contrato do aluguel do meu apartamento e aí eu fui pagar e aí a mulher falou “O valor é x”, aí eu “Ah bacana a gente vai dividir em três cartões, tá?”, “Não, não dá para dividir em três cartões, você tinha que ter falado antes, você não sabe? Se você vai pagar em três cartões não dá, eu não posso aceitar” só que assim, ela me dava cada coice, aí eu falei “Cara”, daí eu olhei pra ela e foi um mix, eu não estava 100% numa posição de cuidadora, só que eu lembro que deu vontade de chorar, porque eu falei “Mano, eu não fiz nada”, me deu um beicinho, sabe quando você faz um beicinho? Aí eu olhei pra ela e falei “Poxa moça, eu só fiz uma pergunta”, só que ela se compadeceu, e ela não tinha olhado no meu olho eu lembro dela em câmera lenta, ela levantou a cabeça, olhou nos meus olhos e falou “Desculpa”, foi a primeira vez depois de eu falar que ela fez contato visual, eu falei “Não tudo bem, é que a gente tá com o proprietário e tal e a gente vai dividir esse valor, por isso eu tô te perguntando”, aí ela “Não, desculpa moça”, aí eu falei “Posso te dar um abraço?”, a gente se abraçou e sabe, sei lá.

Henrique de Moraes – Você tem algum conceito que você tinha no passado na verdade e que mudou de opinião nos últimos tempos?

Luiza Caspary – Muitos

Henrique de Moraes – Muitos? Dá um exemplo

Luiza Caspary – Vamos lá, deixa eu ver chover qual é o nível que eu posso explicar isso. Ai caraca, eu acho que a primeira coisa que mais foi caindo por terra para mim é essa coisa de bancar uma mulher assim, como é que eu posso falar sobre isso? Cara, é que esse livro que eu tô te falando ele é meio maluco mesmo, “Um Curso em Milagres”. Bancar uma mulher é quando você percebe que você toma atitudes e faz coisas baseadas numa crença de fêmea, de estereótipo, isso que eu nunca fui assim, eu nunca fui dentro de um padrão não é isso, mas que os meus comportamentos muitas vezes eram baseados por me sentir diferente e quando eu percebo né, estudando que não há diferença, que é tudo a mesma coisa, eu passo então a perceber que tem bandeiras e coisas que não me representam. Então assim, tipo, caraca eu falei de machismo com você mais cedo né, cara eu não quero ser grosseira com o cara mais, eu não quero virar hater de alguém que fez um ato de machismo, eu não quero me juntar com várias mulheres contra um cara x que fez alguma coisa sabe tipo, esse tipo de vontade de vingança, essas coisas assim. Eu acredito numa forma, eu sinto que existe uma forma de a gente ensinar e a gente estar posicionado num lugar que a gente ensine através dos nossos exemplos, e eu era muito revoltada, muito revoltada mesmo, tipo dedo na cara com situações de injustiça, eu via alguém sendo grosso com alguém, via alguém sendo grosso com uma senhorinha, meu Deus do céu eu pegava para mim, eu virava uma juíza e eu tinha muito essa coisa da crença no sacrifício sabia, só que estava inconsciente em mim, de eu achar que eu tinha que passar por algumas coisas para merecer chegar num lugar, só que isso era muito velado, e a crença na injustiça assim, de ver vítima e culpado em tudo sabe, tanto comigo nas minhas histórias quanto nas histórias que as pessoas me contavam, só que daí quando a gente começa a olhar bem e entender que existe essa coisa de vibrar numa frequência e de ter livre arbítrio, aí você fala “Opa peraí, deixa eu olhar melhor para isso, e se não existir culpado? Eita”, mas aí a gente iria num papo que duraria uma eternidade sobre isso mas putz mano é um rolê de querer olhar todo mundo com olhos de inocência mesmo sabe? Sei lá, uma coisa tipo isso assim.

Henrique de Moraes – E você tem algum filme ou documentário favorito?

Luiza Caspary – Ah eu tenho, tem um documentário muito bom no Netflix que se chama Happy

Henrique de Mores – Não lembro se eu vi

Luiza Caspary – Ele retrata, ele fala sobre famílias, a maioria na Europa, pessoas que vivem em comunidade e essas pessoas mostra como o fato do relacionamento faz elas se sentirem felizes e bem, sabe? Porque elas abrem mão né, tipo assim famílias que eram cada uma com suas regras, acabam indo viver em comunidade e colocam como prioridade estar com as pessoas, estar convivendo, independente das suas regras. É muito bonito cara, muito legal

Henrique de Moraes – Legal, vou ver. Eu lembro de ter colocado na lista mas acho que nunca assisti.

Luiza Caspary – É muito legal, ele é rápido e muito massa, Aí tem um filme que se chama “A Corrente do Bem”, que é um filme incrível né e eu sempre me identifiquei porque eu tenho uma parada de conversar muito com moradores de rua, desde sempre, eu nunca vi nenhum morador de rua como diferente, eu nunca tive tabu em apertar a mão, nunca fui sabe, tipo foda-se que tem cheiro, eu vou, eu não quero que isso seja uma barreira, um empecilho pra eu entrar em contato com essa pessoa, eu quero ver essa pessoa, quero trocar ideia, então “A Corrente do Bem” sempre mexeu comigo. “Avatar” também, porque eu acho que tem uma mensagem muito foda ali, muito além do que as pessoas perceberam, a maioria eu acho, “Matrix” é incrível, “O Mundo de Andy” que é um filme com o Jim Carrey, não sei se você já assistiu

Henrique de Moraes – Que ele interpreta o Andy Kaufman, é isso?

Luiza Caspary – Andy Kaufman e o Tony Clifton, isso mesmo. Cara, eu já vi esse filme umas 10 vezes e é engraçado que esse filme é um filme que eu vejo com a minha família e toda vez que a gente vê a gente percebe uma coisa diferente, o Jim Carrey é incrível né, inclusive eu sei que existe o documentário sobre isso, que eu ainda não assisti

Henrique de Moraes – Eu assisti o documentário

Luiza Caspary – Eu quero ver o documentário, não me fala

Henrique de Moraes – Cara, não vou falar, é porque tem coisas bem interessantes no documentário, ele incorporou mesmo o Andy, e tem umas situações engraçadas porque o Andy era um cara muito polêmico, difícil de lidar, então é bem legal. Você tem alguma frase ou texto que tenha mudado sua vida? Que você viva sua vida por, sabe?

Luiza Caspary – Sim,eu vou só falar mais dois filmes, tá?

Henrique de Moraes – Ah desculpa.

Luiza Caspary – Imagina, tem um que chama “O Tempero da Vida”, é um filme muito fofo, muito fofo europeu, que fala o quanto os temperos influenciam nas sensações das pessoas, como se fossem, como se pudesse haver uma magia em relação à isso na culinária, e “Filhos do Paraíso”, que é um filme que eu gosto muito, eu vi quando eu tava na escola com um professor de sociologia, é um filme iraniano dos anos 90 e ele é um filme muito lindo cara porque assim, não tem vilão e não tem bonzinho, é um filme que basicamente retrata a história de uma família pobre da comunidade lá no Irã, e como é a vida dessas pessoas, como tudo acontece, e como não tem essa coisa de você ficar procurando um culpado você só vivencia aquilo e eu falei isso pro Dani Black né, Dani Black meu amigo, ele falou assim “São muito raros os filmes equânimes”, equanimidade é quando não tem bom e ruim, quando não tem certo e errado, e esse filme ele é um retrato perfeito disso assim, porque se você for pegar os filmes gringos, americanos né tudo se baseia na não equanimidade, que é o bonzinho e o vilão, o certo e o errado, o culpado e a vítima, então esse filme vale muito assistir.

Henrique de Moraes – Legal, vou procurar também. Então você tem alguma frase ou texto que tenha mudado sua vida? Que você viva sua vida baseada nelas?

Luiza Caspary – Tem, tem uma frase que eu anotei que fala assim “Pare de pensar no amor, o amor não se pensa”, parece uma frase qualquer mas cara, eu olho para essa frase e eu falo “Ela é perfeita”, pare de pensar no amor, o amor não se pensa, o amor se sente né e isso serve para muitas coisas, não só para o amor, mas para de pensar, sente, sente que quando você sentir você vai ver que você tá viajando, na maioria das vezes. Essa frase é do meu amigo chamado Hugo Nogueira, é uma letra de uma música dele.

Henrique de Moraes – Legal, e você tem algum conselho assim que você tem recebido e não precisa ser de uma pessoa, você pode ter lido num livro, ouvido num podcast, qualquer coisa também que tenha te ajudado muito, qual foi o melhor conselho que você recebeu?

Luiza Caspary – Melhor conselho, cara eu acho que foi ontem, eu acho que foi o conselho que que o Dani Black me deu, eu converso muito com o Dani, a gente tem ligações de horas assim e eu acho que não foi exatamente o que ele me falou ontem, ontem ele aprofundou, mas teve um dia que ele me ligou e ele falou assim “Lu”, e eu estava escrevendo uma música né, ele não sabia, mas eu tava escrevendo uma música sobre uma situação que eu tava passando e aí o que eu te falei né, não estou iluminada, sinto coisas? Sinto. Fiquei com o boy, tava profundo, o menino de repente dá um chilique, desaparece, de um jeito que ele não tá bem, não é um desaparecimento do tipo qualquer, é um desaparecimento do cara não estar bem mesmo sabe, e eu falo assim “O que eu faço, como posso ajudar”, só que ao mesmo tempo me sentindo sei lá “Putz que estranho, você acha que é assim, você entra na minha vida e vai embora?”, a música falava sobre isso, e aí eu comecei a olhar e pensar ‘Nossa mano, eu tô sendo egoísta para caralho, porque o cara tá passando por uma situação muito difícil e eu tô tão centrada que eu tô achando que o problema sou eu e só não tem a ver com isso”, é um outro rolê, “Menos Luiza”, eu conversando comigo. Aí nisso o Dani me liga e diz assim “Você já percebeu que quando você fala do outro você tá falando sobre você?”, aí eu falei “Eita, então”, que é o famoso espelho, quando eu tô falando do outro eu tô falando de mim, e é o que você falou aquela hora né, a pessoa que tem ciúmes ou alguma coisa assim tá falando mais sobre ela do que sobre você né, então esses conselhos de observar, de auto-observação acho que são sempre os mais preciosos.

Henrique de Moraes – Sim, totalmente, agora fiquei com essa frase na cabeça que vou ter que parar para refletir um pouco também mas você tem algum cuidado com a sua voz assim que seja muito diferente, que as pessoas não imaginam?

Luiza Caspary – Tem, eu tenho algumas coisas que eu faço assim, a primeira coisa que é meio bizarra é que mano, eu já meio que acordo aquecendo assim, normal eu acordar fazendo uns barulhos sabe, principalmente para abrir os agudos, fico fazendo umas oitavas assim e falando com meus gatos, que tenho vozes com elas, e aí fico tipo, já acordo meio cantando mas tem algumas coisas que as pessoas não imaginam que acho legal falar que é, eu aqueço em silêncio, aí você vai falar “Oi?”, sim existe um jeito de aquecer a voz sem emitir som, por exemplo se eu tô no Uber indo gravar e eu sinto que eu não tô muito aquecida, eu posso fazer isso sem que o som saia por exemplo, eu tô fazendo isso agora, é que você não vai ouvir. Se você usar a musculatura que você aqueceria, que você faria só que só sem emitir o som, você está aquecendo. E aquece mesmo, vai vibrar, então dá para fazer, você consegue mentalizar notas e trabalhar a musculatura, trabalhar as pregas vocais em silêncio. Então volta e meia eu tô no Uber aquecendo para caralho e a pessoa não sabe, não tem ideia que eu tô fazendo isso sabe. Deixa eu ver o que mais que pode ser engraçado.

Henrique de Moraes – Deixa eu te fazer uma pergunta, a partir de qual encontro você faz isso na frente das pessoas quando você acorda?

Luiza Caspary –  Ai eu acho que do primeiro, se as pessoas não tiverem eu não tenho nenhum problema com isso, mas deixa eu ver se tem mais alguma coisa. Pra dicção tem um que é muito bom porque eu tenho várias coisas né, que é você colocar uma caneta, eu estou agora com uma caneta entre os meus dentes, assim eu sou obrigada a articular muito para que você me entenda, aí é óbvio que eu babei a caneta toda, mas olha só minha voz sai fluida, minha dicção sai perfeita porque eu tive que trabalhar a minha dicção com essa caneta, o dedo também ajuda, pode ser. E a outra coisa que é engraçada que é uma técnica que salvou minha vida, é como falar na balada sem estragar sua voz e como gravar um game que você vai ter que gritar para um caralho, berrar, sem afetar minha voz para eu gravar durante o resto do dia e na minha vida. Pois fui estudar isso com uma fonoaudióloga incrível chamada Lígia Motta, lá de Porto Alegre, minha fono, e ela me passou uma técnica maravilhosa que serve para as duas coisas, tanto pra falar na balada sem perder a voz quanto para gravar coisas gritadas, com pressão com naturalidade, sem machucar. O que que acontece, quando a gente tá na balada, geralmente tem uma passagem de ar junto com a voz, e quando você grita também, só que se eu usar o meu nasal e botar a voz na região da testa e falar mais aqui, óbvio fica um pouco mais anasalado, mas se eu estiver na balada e fico assim eu tô falando com o meu nariz, logo não tá saindo ar, logo as minhas cordas não estão vibrando em excesso, o que vai fazer com que elas inchem e eu perca minha voz e fique rouca, então jogar a voz pra cá, você consegue perceber o timbre mudando? Salva, eu brinco que é a famosa voz de drag, faz a drag querida, joga a voz para cá, vai pra balada e arrasa, porque você não vai ficar mal no dia seguinte, e fora que fica alto e com projeção, então as pessoas te ouvem, e no vídeo game obviamente não rola essa caricatura mas tipo assim, se eu tenho que gritar muito é encontrar um lugar perfeito e profissional que a sua voz esteja saudável, só que ao mesmo tempo com a interpretação necessária e que você não perca a voz. Enfim, doideira.

Henrique de Moraes – Mas eu gostei da dica da caneta, já tinha ouvido ou tinha visto mas preciso, minha dicção não é boa, vou treinar, vou ficar falando assim. A gente tá chegando aqui no final, só queria saber primeiro se você tem alguma recomendação de podcast, app, pessoas para seguir que você admira bastante?

Luiza Caspary – Tem sim, com certeza, eu indico um podcast chamado “Não Dá Pra Desouvir”, que tanto esse quanto o canal do YouTube que coexiste, que é a escola onde eu estudo. E cara, todas essas brisas existenciais são muito legais, os podcast duram 10 minutos e eu choro porque eles conseguem sintetizar assuntos muito profundos em 10 minutos é emocionante mesmo assim, muito legal. Aí tem o canal do YouTube que se chama “Casa do Saber” que é bem legal também, eu gosto. De pessoas que eu digo para seguir, Dani black que eu já falei aqui muito nele né, o Dani é uma pessoa incrível que compartilha toda espontaneidade dele e as letras mais incríveis do mundo, e o Estevão Queiroga que também é um grande artista amigo, cantor, que tem esse lado do humor junto, é muito engraçado porque o show dele me faz chorar de rir e de emoção assim, ele me leva para os dois extremos, e eu acho que o terceiro que eu indicaria é o é Instagram do Jefferson Schroeder, que é um outro amigo que tem personagens, se você não conhece ele você vai se apaixonar, prepare-se, e é isso, são pessoas que me inspiram e que levam leveza para as pessoas sabe, que tem isso como meta.

Henrique de Moraes – E além de videogame e todas as vozes que você já fez pela vida, como é que as pessoas podem te encontrar?

Luiza Caspary – Como é que as pessoas podem me encontrar, cara eu sou a mesma no trabalho e na vida, então se as pessoas me procurarem no Instagram elas vão ver exatamente eu ali sem querer bancar nada que eu não seja, então redes sociais todas são @luizacaspary, Instagram, Twitter, etc, Tik Tok e no YouTube é Luiza Caspary Music, e tem meu site, que no meu site tá tudo lá também, luizacaspary.com.br, que é inclusive um site acessível, tem audiodescrição, tem janela de libras, bem bonitinho.

Henrique de Moraes – Legal. Muito bom Luiza, foi um prazerzaço conversar contigo, por mim eu ficava aqui horas, tinha um monte de pergunta para fazer mas a gente deixa pra um round dois aí, e aí a gente de repente faz até ao vivo caso essa loucura passe

Luiza Caspary – Legal, demais, vai ser massa

Henrique de Moraes – E aí a gente faz a versão vários personagens

Luiza Caspary – Podemos pensar nisso.

Henrique de Moraes – Muito bom. Obrigado Luiza, prazerzão

Luiza Caspary – Obrigado querido, um beijo gigante.

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