Ian SBF é diretor, roteirista, produtor, editor e diretor de fotografia. ele é um dos fundadores do Porta dos Fundos, um dos canais de YouTube mais famosos do Brasil, que bateu recordes mundiais de alcance na plataforma! Ian tem uma trajetória interessante, que passa por alguns momentos bem engraçados, incluindo um breve período editando filmes “adultos”. a gente fala sobre isso no episódio!

além do Porta, ele também foi responsável pela criação do canal Anões em Chamas, que foi de certa forma a fagulha – sem trocadilhos – para o que viria a ser o Porta dos Fundos. Ian também escreveu e dirigiu diversos filmes, curtas e campanhas publicitárias e, em 2017, lançou mais um canal no YouTube, que se chama Sociedade da Virtude, uma série de animação no estilo motion comics, inspirada em quadrinhos de super-heróis.

o bate-papo foi super divertido e, pra quem estiver com os ouvidos atentos, também muito inspirador. dá pra tirar lições valiosas da história do Ian!

PESSOAS CITADAS
  • Antonio Tabet (Kibe)
  • Gregório Duvivier
  • Quentin Tarantino
  • Kevin Smith
  • Derek Sivers
  • Fabio Porchat
  • Steven Spielberg
  • Walt Disney
  • Woody Allen
  • Louis C.K.
  • Michael Jackson
  • Martin Scorsese
  • David Fincher

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Henrique de Moraes – Fala Ian, seja muito bem vindo ao calma! cara, é um prazerzaço estar contigo aqui, trocar, bater esse papo e assim, sou fã a gente de certa forma trabalha junto né não diretamente mas indiretamente a gente trabalha junto então cara vai ter um mega trazer trocar contigo

Ian SBF – Eu que agradeço pra caramba aí o convite, valeu mesmo e vai ser super legal. Tô aqui curioso pra saber como é que vai ser

Henrique de Moraes – Maravilha, vou começar com uma pergunta que ela talvez seja um pouco polêmica assim vá polarizar a audiência, mas como a audiência eu não tenho muita expectativa que seja mais do que eu e você, não tem muito problema, e eu tô do seu lado nessa então assim, mas eu vi em algum lugar que você prefere Chapolin à Chaves cara, é verdade?

Ian SBF – Cara sim, porque eu acho que o Chapolin, eu não sei eu sempre gostei de super herói então acho que o Chapolin unia as duas coisas quando eu era criança, a coisa do super herói, da comédia estilo Chaves e eu sempre achei ele um pouco mais elaborado, as piadas não eram tão repetitivas, eu gostava mais do humor do Chapolin.

Henrique de Moraes – Cara eu também, engraçado isso mas eu fui muito julgado, não sei se você passou por isso, porque sempre quando eu falava que preferia Chapolin a galera vinha para cima de mim, falava “Que isso, é impossível”, isso aconteceu com você também ou só comigo?

Ian SBF – Aconteceu, não sei porque né, não sei qual é a coisa que a galera tem, claro eu gosto muito de Chaves mas acho que o que me pegava mais era que era sempre o mesmo humor meio de bordão, aquela repetição toda, por mais que Chapolin tenha, acho que aquela coisa por ser sempre um episódio completamente diferente, e personagens diferentes eu acho que trazia outras coisas né, o Chaves as pessoas gostam muito desse humor né, de você ficar rindo do que você já conhece, é aquela coisa “Agora ele vai falar isso, olha lá, falou”

Henrique de Moraes – Verdade, por isso que as pessoas assistem Friends até hoje né

Ian SBF – É, mas Friends é legal, é legal mas me irrita lá depois da quarta temporada, aí acho que começa a ficar meio… é mais polêmico do que Chapolin x Chaves

Henrique de Moraes – Agora você vai ter que falar então cara, porque te irrita?

Ian SBF – Porque eu acho que começa a se perder, ele começa a se perder porque acho que começa a se encontrar demais, sabe quando os personagens começam a perder todas as camadas? o Joey vira um cachorro, burro que nem uma porta e não era assim no começo, a Phoebe ela é só maluca sabe, eles começam a perder os outros traços de personalidade, eles começam a ficar meio simples, a Monica fica só maluca para limpeza sabe como é, cada um precisa ter uma característica e aí vira a única coisa que a pessoa tem ali para oferecer, e isso acho uma pena porque o Friends ele era mais, nas primeiras temporadas, não sei quando que começou a ficar assim mas ele era mais mais interessante, mais elaborado, tinham mais camadas e aí acho que caiu muito nisso, muito personagem.

Henrique de Moraes – É, eles ficaram tanto, acho que os atores já estavam se sentindo mais confortáveis mas também os diretores já aproveitaram que aquilo ali de repente eram traços muito característicos e exacerbaram talvez, tenham exagerado um pouco.

Ian SBF – É porque acaba que na comédia, no final das contas é isso que a galera quer ver, o Porta quando surgiu, ele surgiu justamente para não ser um humor de personagem, para não ser um humor de bordão, não ser humor de repetição, só que é isso que o pessoal quer ver no final das contas, você percebe que até muitas coisas que a gente faz no Porta que tem isso são as coisas que mais funcionam, agora tá saindo muito o Peçanha, que é um personagem, único personagem que acho que talvez a gente tenha repetido mais de uma vez, e você vê que o pessoal espera isso. Eu vi um programa que é super do caralho, bom mesmo que é o “Choque de Cultura”, você vê que no final das contas o que pega mesmo lá no Choque de Cultura é o bordão, do cara falando “Achou errado, otário”, o pessoal gosta de saber qual vai ser a frase, não que eles não façam humor inteligente, porque é, mas você vê que o público se pega é naquela coisinha ali do bordão, do personagem. Cara eu lembro de “TV Pirata”, quando eles começaram a fazer aquele personagem do Barbosa, era uma brincadeira, era uma paródia com novela né, com o “A Praça É Nossa” na verdade eu acho, e era sacanear, e aí a merda que aconteceu foi que a galera começou amar muito aquilo, então o que era para rir daquilo, pra parodiar aquilo e de alguma forma criticar acabou virando a grande coisa então o que eles tentaram sacanear virou o carro-chefe da TV Pirata durante muito tempo.

Henrique de Moraes – Caraca isso é engraçado e você falou do Choque de Cultura cara, essa coisa foi um período ali de febre tão grande que eu não aguentava mais as pessoas falando “Achou errado otário”, e vários outros porque era insuportável, tava todo mundo falando como se fosse Choque de Cultura, as pessoas conversavam já com as vozes, era impressionante.

Ian SBF – Muito bom, Choque de Cultura é incrível, e aí você vê como é que até uma coisa dessa super inteligente, um humor sutil que eles têm por mais que muita gente às vezes não pegue algumas sutilezas mas o que mais dá certo e não é por culpa deles, é porque é assim que funciona, é isso que acontece, é o bordão, é a frase que o pessoal já conhece, é isso mesmo.

Henrique de Moraes – E você tem alguma série preferida, alguma do coração que você goste muito?

Ian SBF –  Ah cara eu gosto muito de Seinfeld, uma série que sempre quando eu tinha meus 18, 17 anos eu não parava de ver, tem muitas, eu tô vendo agora Community que é muito legal, Rick and Morty eu acho incrível, Family Guy eu gosto muito também, nossa tô falando assim de humor porque se for falar só de série, pra mim Breaking Bad talvez seja a melhor.

Henrique de Moraes – Boa, pra muita gente né

Ian SBF – Pra muita gente mesmo

Henrique de Moraes – Você assistiu mais de uma vez?

Ian SBF – Não, ainda não cara, eu quero, sabe o que eu já vi mais de uma vez? Foi ER, até a quinta temporada, aí eu paro, mas essa série as pessoas não dão o respeito que ela merece porque cara, as cinco primeiras temporadas são incríveis.

Henrique de Moraes – Vou até voltar a ver porque na verdade eu não assisti ER né, eu assisti Plantão Médico, e eu era muito moleque então eu não pegava muito, minhas irmãs gostavam mais do que eu mas

Ian SBF – Assiste que você vai gostar.

Henrique de Moraes – Boa. Cara, voltando aqui agora um pouco na sua trajetória, eu cruzei aqui com uma informação curiosa que você trabalhou uma época com filmes adultos, como é que foi isso cara?

Ian SBF – Então, não sei o quão adulto era o filme, eu não sei como era a legislação na Alemanha quanto à filmes adultos porque era pra Alemanha. Eu fui trabalhar numa produtora, a primeira coisa que eu comecei a editar lá eram, na verdade eu fui contratado para ser operador, quem não sabe como é o ramo de editores né, quando você não é editor, você antes de editor você é operador, você é o cara que fica só operando a ilha de edição, então você tem um cliente que vem e fica do seu lado falando “Faz isso, faz aquilo” e você é só a pessoa que sabe mexer no computador

Henrique de Moraes – Parece chato hein

Ian SBF – É muito chato, e eu era operadora desse lugar, o primeiro trabalho que eu peguei foi o melhor trabalho que eu já tive lá dentro porque o cara não ia lá falar comigo, ele mandava o material dele para gente e ele só falava “Eu quero que fique assim”, então ele não ficava lá no meu cangote me enchendo o saco. Só que o material que ele mandava por acaso era de masturbação masculina, então eram sempre uns caras que iam pra uma fazenda, e eles ficavam se masturbando e eu tinha que ficar editando isso

Henrique de Moraes – Ainda bem que o cara não ficava no seu cangote né

Ian SBF – Não ficava, ao contrário. Aí eu ficava 2 meses editando isso pra esse cara e pelo que eu soube ele pegava esses vídeos que era só isso, o cara se masturbando numa fazenda, e aí ele mandava isso editado pra Alemanha, por algum motivo lá tinha um mercado especialmente pra isso, então ele mandava esse material e toda semana eu editava uns 5, 6 caras fazendo exatamente a mesma coisa, muito doido, essa foi minha experiência com o mercado adulto alemão de masturbação.

Henrique de Moraes – Muito bom cara, e você aprendeu alguma técnica de masturbação? Sacanagem

Ian SBF – Por incrível que parece a gente pensa assim “Será que tem coisas?” não, não tem, é a mesma coisa a gente já sabe tudo, relaxa que ninguém ali é melhor do que a gente.

Henrique de Moraes – Muito bom, e você fazia isso na produtora ou fazia isso em casa?

Ian SBF – Na produtora, eu ia pra lá, tinha meu horário certinho, sentava lá e ficava o dia todo lá editando isso

Henrique de Moraes – E você não ficava, como era a situação de você editar isso sei lá e as pessoas vendo de repente a sua ilha e você?

Ian SBF – Não, eu trabalhava numa sala fechada então só tinha eu ali dentro, ainda tinha um sofazinho que de vez em quando quando eu acabava e não tinha o que fazer eu dava uma sentada, uma deitadinha, era bom.

Henrique de Moraes – Você não precisa falar o que você fazia quando você deitava

Ian SBF – Depois de ficar o dia inteiro editando isso era a última coisa que você queria fazer

Henrique de Moraes – Verdade. Tem uma história engraçada que, pelo menos pra mim é engraçada, que a gente foi para uma reunião, eu e Pedro, que pra quem não sabe é meu sócio na agência e a gente foi pra uma reunião num canal adulto e a gente chegou lá e já é engraçado porque você chega num local onde tem um monte de TV, e as TVs ficam passando filme o dia inteiro né, a programação fica ali rodando, isso já é meio estranho, você chega num local e você tá falando com as pessoas todo sério, uma reunião pra você tentar se vender ali, e tá passando ali aquela cena hardcore, e aí depois a gente foi pra sala de reunião e cara, eu não sei se a situação foi pior ou melhor, eu não tenho certeza assim mas eram só meninas na reunião, e eu não tenho certeza se eu ficaria mais constrangido só com homens também porque também seria uma situação esquisita né porque era isso, a TV do nosso lado, grande passando a programação e a gente conversamos super seriamente assim sobre negócio, sobre métricas que importavam para eles e você olha pro lado tá passando aquilo enfim, uma situação eu diria que diferente

Ian SBF – Eu ficaria constrangido se fosse na minha TV, mas como é na deles eu tô tranquilo com isso, eles já sabem o que tá passando ali

Henrique de Moraes – É verdade, eu fiquei me perguntando muito depois isso né que você falou de depois de tanto ver o cara ali se masturbando a última coisa que você quer fazer é isso né, fica até com trauma. Eu fiquei me perguntando se acontecia com eles também ou se tinha o efeito contrário também, de repente ele chegava em casa assim louco né falando “Caralho pelo amor de Deus, vamos pra cama que eu tô o dia inteiro com essa coisa dando input no meu cérebro”

Ian SBF – Aí, isso realmente eu não consigo imaginar, deve chegar uma hora que você tá lá transando com alguém pensando no trabalho né, porque é a mesma coisa, você tá fazendo o teu trabalho, por mais que não seja teu trabalho ali de alguma maneira tá te dando gatilho né de trabalho

Henrique de Moraes – Exatamente. Enfim, tem muita coisa aí pra pensar

Ian SBF – Com certeza não seremos nós as pessoas que vão saber falar sobre isso

Henrique de Moraes – Exatamente, qualquer dia eu trago de repente uma pessoa de lá para entrevistar. Cara, deixa eu te fazer uma pergunta, muito de curiosidade, de onde veio o nome Porta dos Fundos?

Ian SBF – Rapaz, a gente ficou uns oito meses antes de lançar, gravando vídeo, preparando as coisas todas, pensando em identidade visual, e claro o nome, que não vinha de jeito nenhum. A gente ficou muito tempo pensando “Porra, qual vai ser o nome?”, a gente fazia listas e listas e nada era bom, a gente não gostava de nada e nessa época a gente gostava muito de ir na casa uns dos outros pra ficar jogando, fazer jogatina, então a gente jogava várias coisas, Jogo da Vida, e a gente gostava muito de jogar mímica, e aí por acaso a gente estava nessa fase, sem saber qual seria o nome desse projeto, e aí eu peguei um papelzinho pra fazer uma mímica quer era “porta dos fundos”, e aí eu comecei a fazer a mímica e ninguém acertava porra nenhuma, eu ficava apontando pra porta, as pessoas falavam “porta” e eu ficava tentando fazer de alguma maneira “fundos” e não sabia como fazer, aí quando o tempo tava acabando eu fiquei puto já e comecei a apontar pra minha bunda, e ficava mostrando “porta” e pra minha bunda pra ver se alguém falava, e todo mundo falava todos os nomes menos esse, e quando acabou o tempo eu fiquei puto e berrei “PORTA DOS FUNDOS”, e o Kibe na hora olhou pra mim e falou “É isso”, aí eu “Isso o que?”, “Esse é o nome”, aí eu falei “Você tá louco, Kibe, imagina se esse vai ser o nome”, e até hoje eu acho um péssimo nome. O bom dos nomes é que quando ele pega, ele pega, não importa se é bom, ninguém entende muito isso mas quando você bota “Google”, é um péssimo nome, é uma porra de um nome “Google”, ele é ótimo hoje porque é o Google mas “Porta dos Fundos”, não é bom, e aí vira “Porta dos Fundos” é óbvio que é bom. Na verdade é o produto que faz o nome, não é o nome que faz o produto não.

Henrique de Moraes – Boa, essa é uma boa forma de pensar. Isso te incomodou durante algum tempo ou superou rápido?

Ian SBF – Tive que superar porque a vontade de lançar era maior do que a de ter um nome bom, porque eu sabia que o que importava mesmo era o vídeo, ninguém ainda mais nessa época de vídeos virais, que hoje em dia não é mais assim mas naquela época as pessoas se concentravam muito num vídeo específico, a gente não pensava que o Porta ia ser uma marca grande, famosa, a gente sabia que ia ser um canal do YouTube e que a gente ia estar fazendo coisas que a gente gostava, mas essa coisa do brand, da marca, isso não era uma coisa. Então na minha cabeça era muito, “Cara a última coisa que as pessoas vão se preocupar é com o nome desse canal”, elas vão se preocupar com os vídeos que elas vão ficar mandando uns para os outros, se vão gostar, se vão rir, e acabou que não, que o nome virou uma grande coisa você, hoje o Porta quando você pensa em marca de comédia ou de humor no Brasil, você pensa Porta dos Fundos, não tem nenhuma outra marca que seja desse nível.

Henrique de Moraes – E você tinha algum problema com “Anões em Chamas?”

Ian SBF – Então, “Anões em Chamas” é um canal que eu tinha antes do Porta, até na verdade o “Anões” virou o Porta, toda a equipe, tudo que a gente tinha lá dentro, o escritório virou o Porta a gente ficou lá muito tempo, era um canal que eu tinha antes e por incrível que pareça Anões em Chamas foi um nome que o Gregório deu, não fui nem eu, eu tava precisando de um nome e ele tinha esse nome por algum motivo que ele pensou uma vez pra botar em alguma coisa, não sei se era num filme, e ele me doou esse nome e acabou que ficou, e hoje a gente tá muito mais politicamente correto do que naquela época, hoje quando eu falo esse nome pras pessoas as pessoas acham muito estranho, já achavam na época né, Anões em Chamas acho que nunca foi exatamente um nome tranquilo.

Henrique de Moraes – Verdade. E aí deixa eu te perguntar, foram 2 anos mais ou menos né do Anões em Chamas até o Porta ser lançado, talvez?

Ian SBF – Foi, foi isso. Foram basicamente dois anos mesmo, exatos.

Henrique de Moraes – E você antes do Porta você tava morando com seus pais, não é isso? Eu fiquei curioso, você recebia mesada e era casado, era isso mesmo?

Ian SBF – Na verdade minha mãe me dava mesada, eu não tava morando com ela, já tava morando fora e eu ainda ganhava mesada da minha mãe, isso já com apartamento então assim, uma situação muito ridícula eu com 29 anos de idade. Então foi bem ruim, esse período não tive muito o que fazer, aí chegou uma hora que eu falei “Não dá, eu preciso, não vou chegar aos 30 anos ganhando mesada e vivendo desse jeito”, foi aí que eu decidi, Janeiro de 2010 eu levantei da cama eu falei “É isso, eu tenho que fazer alguma coisa que funcione, que dê certo”, fui para o computador e fiz esse site chamado Anões em Chamas e comecei a fazer vídeos para a internet. E aí deu certo, a Globo me chamou, fui dirigir na Globo, fui ser roteirista lá também, e daí a gente foi, começou a elaborar o projeto do Porta dos Fundos e graças a Deus deu tudo certo e fomos.

Henrique de Moraes – Maneiro, e nesse período entre você começar o Anões em Chamas, de ter essa vontade, de ter despertado isso até ser chamado pela pela Globo por exemplo, que eu acho que é um ponto ali importante talvez, um marco importante mesmo que não seja o maior da sua carreira provavelmente fez uma diferença né, e como é que você estava nessa época, como é que você tava se sentindo, o que você tava fazendo pra tentar melhorar, além de você ter começado o Anões em Chamas, antes um pouquinho talvez você tava trabalhando e como é que tava a sua cabeça nessa época cara?

Ian SBF – Cara, eu sempre fui muito frustrado assim porque eu nunca fiz exatamente o que eu queria fazer, eu tô tentando ser um diretor de cinema desde os meus sei lá, 16 anos de idade que foi quando eu decidi que era isso que eu queria fazer da vida e eu sempre fui muito frustrado porque eu sentia que as coisas não andavam, muito por minha causa porque eu acho que eu nunca percorri o caminho vamos dizer tradicional, pra gente chegar no mercado e crescer nesse mercado, eu queria já chegar como diretor, eu ficava vendo Tarantino, Kevin Smith, vendo essa galera e fazendo “Eu vou me fazer diretor, quero que meu primeiro filme já seja incrível e não sei o quê”, e logo logo você descobre que você não é o Tarantino, que não vai acontecer, você não vai ser nenhum gênio e eu acho que eu só descobri isso mesmo quando eu tinha meus 29 anos que eu falei “Porra, é melhor então começar de algum lugar”, na verdade quando eu fiz esse site Anões em Chamas era uma maneira de ter um portfólio, pra poder conseguir arrumar um emprego que fosse como roteirista ou como, principalmente como roteirista que eu pensei na época, mas essa minha sensação era muito difícil porque no Brasil né cara você falar “Quero ser diretor de cinema”, se você não tiver alguma peixada muito boa, se você não tiver alguém da sua família para te colocar já nessa posição e até se tiver alguém já é muito difícil, você tem que continuar lá né, então é muito difícil no Brasil de qualquer maneira, mesmo que você tenha uma peixada ou coisa assim, e eu não tinha então eu não sabia como trilhar isso, como chegar lá, como fazer o que eu gostaria de fazer da minha vida, então foram anos muito complicados onde tinha muito certo o que eu queria mas não sabia como chegar lá, então foi bem difícil.

Henrique de Moraes – E quando você começou a fazer os vídeos do Anões em Chamas você se identificou de cara assim, você achou que era isso que você queria fazer ou você continuou fazendo mesmo depois que começou a fazer sucesso se você continuar fazendo só para tentar ainda aprender ou fazer um portfólio?

Ian SBF – Cara até hoje não é o que eu quero fazer, até hoje porque eu quero, meu objetivo sempre foi fazer cinema e acho que o tipo de filme que eu gosto de fazer, que eu quero fazer não é exatamente comédia, eu não sou um comediante mas ao mesmo tempo que eu não seja um comediante, eu não me considero um cara do humor, eu sinto que eu consigo fazer, então essa foi a maneira mais rápida e talvez fácil de conseguir ganhar a vida né. Não que eu não goste, eu acho super divertido, na verdade eu amo fazer isso mas nunca foi o meu foco e ainda não é, o que eu gosto e o que eu quero mesmo fazer é outro tipo de produto, que eu espero ainda fazer mas eu adoro fazer comédia, eu amo fazer comédia e sei fazer, não sou o maior que tem mas eu consigo fazer coisas que funcionam, então dá certo e aí a gente bota na prática, bota pra fazer.

Henrique de Moraes – Sem dúvidas foi uma puta escola né, especialmente por tudo que trouxe de frutos, não só de frutos mas acho que de conhecimento

Ian SBF – Você aprende muito porque principalmente quando você começa no YouTube, você também tem que fazer de tudo então isso também foi muito legal, eu fazia tanto pro Porta quanto pro Anões eu fazia o som, eu fazia a fotografia, eu editava, eu dirigia, eu escrevia, eu tinha que produzir, então você acaba tendo realmente uma experiência boa por mais que você não seja um expert em cada uma dessas coisas, você acaba tendo muita experiência então até para quem quer ser diretor isso é ótimo porque você sabe do que que você tá falando e o que você tá pedindo pras pessoas depois né.

Henrique de Moraes – E quando vocês começaram a ficar conhecidos, o Porta começou a crescer, decolar, e foi acontecendo a mudança né, aquele período entre vocês serem desconhecidos e de repente se tornarem muito conhecidos, que eu acho que foi muito rápido né, como é que foi essa transição cara, especialmente quando vocês começaram, você não apareceu em tantas esquetes né mas você já chegou a ser reconhecido na rua e tem uma história engraçada sobre isso, nem que não seja sua, de alguém da galera que de repente quando teve essa transição assim sentiu alguma coisa ou teve alguma situação estranha?

Ian SBF – Cara engraçado porque a gente bombou muito rápido né, mas para quem tá dentro nunca é muito rápido porque não é que nem loteria sabe que você olha ali o número e de repente do nada, nunca tem muito esse do nada, se você pensar o Porta, desde o momento que a gente juntou grupo e lançou o primeiro vídeo, tem pelo menos um ano e pouco e até bombar o canal mesmo, é pelo menos um ano e meio, então claro, um ano e meio é pouco tempo mas pra quem tá dentro não é, são noites e noites que você vira, então o sucesso quando ele vem você tá tão atribulado pensando no próximo vídeo, na próxima edição, na próxima produção que é menos impactante, é menos uma loteria como parece às vezes que é. Às vezes no cinema talvez isso aconteça mais porque se você é um ator você lança um filme né, você pode ser um completo desconhecido, no dia da estreia desse filme se ele for um estouro sua vida literalmente muda do dia pra noite, mas o nosso caso não foi muito assim, eu por exemplo só fui realmente ter um salário que eu pudesse me sustentar, do Porta, eu acho que depois de um ano e meio que a gente começou a história toda, 2 anos talvez. Você falou de história, eu nunca apareci em vídeo do Porta, teve um vídeo que eu apareci que a gente até acabou deletando depois, mas eu aparecia nos making offs dos vídeos, eu nunca quis muito aparecer, não sou de aparecer, eu gosto de andar na rua, ir ao cinema sem ter gente olhando né. Mas de qualquer maneira no making off as pessoas me viam, tem gente que te reconhece, a pior coisa quando você sabe que tem gente que pode te reconhecer é você não ser muito famoso, porque ou você tem que ser completamente desconhecido, ou muito famoso. Quando você tá ali numa coisa que tem gente que pode talvez saber quem você é, é muito ruim porque você tá no ponto de ônibus e fica um cara te olhando de longe, aí você não sabe se o cara tá querendo te assaltar, se o cara tá de dando mole, se o cara tá te reconhecendo, você fica ali numa “O que que é isso?”, fica tentando identificar qual é a da pessoa ali, o que ele tá querendo com você, então é uma situação muito chata, muito complicada.

Henrique de Moraes – Imagino cara, e eu já passei assim pelo, eu já tive no outro lado né de estar em um lugar e olhar para pessoa e falar “Cara, quem é essa pessoa?”, porque eu achava que era algum conhecido meu assim, algum amigo e aí tipo só depois que eu fui embora, depois de encarar, lógico que eu tentei disfarçar mas a pessoa provavelmente percebeu que eu tava olhando que eu me toquei, que eu falei “Não, era o maluco do Barbixas”, e eu jurava que era um amigo meu, e eu fiquei olhando pra cara dele porque era muito familiar, e você fica “Conheço esse maluco de algum lugar, de onde eu conheço? Eu lembro da voz”

Ian SBF – Cara isso acontece muito, muitas vezes eu tô andando na rua e aí vem alguém e fala “Ian”, e aí nessa hora você fala “Oh rapaz”, você vai até dar um abraço nele mas você vê que o cara só te reconheceu, porque é diferente, quando você vai, você acha que tá reconhecendo alguém que era da tua vida ali, algum amigo teu que você não tá lembrando e você fica mal com isso, mas aí não é alguém que me viu no making off, e quando você vê você tá abraçando o cara e falando “Pô rapaz onde é que você tava?” e não era nada disso.

Henrique de Moraes – Cara tem um amigão meu, um dos meus melhores amigos, ele é músico e toca em noitada, então acaba que as pessoas também reconhecem ele, ele não é famoso mas as pessoas especialmente aqui em Niterói reconhecem muito ele e ele é muito engraçado porque eu tenho até um vídeo do Porta que é com o Greg, que ele fica  “Meu camaradinha, meu amigão”, é esse maluco, eu falo “Esse video foi feito em sua homenagem” porque ele faz exatamente isso, a pessoa chega para falar com ele e ele fala “E aí meu amigão”, abraça a pessoa, conversa sobre a vida da pessoa, não tô zoando, e aí depois acaba eu falo “Quem era, de onde você conhece?” e ele fala “Não sei, não faço ideia, nunca vi na minha vida”, é muito louco. Mas deixa eu fazer uma pergunta então, depois que o Porta cresceu e vocês ficaram conhecidos, provavelmente começaram a surgir oportunidades né

Ian SBF – Com certeza

Henrique de Moraes – Pois é, não só de empresas grandes, provavelmente até oportunidades legais, mas como de malucos também né, das pessoas que chegam e falam “Não, eu tenho ideia, não quer ouvir minha ideia?” mas eu acho que o mais difícil nesse momento, especialmente quando você tá começando que você não tem certeza ainda no que aquilo vai dar ou até onde vai né, algumas coisas são tentadoras provavelmente né, especialmente as maiores, as que parecem ser de fato oportunidades. Como é que você escolhe eu escolhia né o que aceitar ou não aceitar, você tinha uma maneira de dizer não inclusive para as pessoas que chegavam com pedidos malucos, como é que era isso?

Ian SBF – Quando você, são só momentos em que você tá na vida né, se você tá precisando de dinheiro não tem “não”, né você fala sim pra tudo, quando você tá começando também, você meio que acha que tem que pegar tudo também porque senão as coisas podem parar daqui a pouco, e quando passa um tempo, mesmo que você sinta que você não tem mais as oportunidades que tinha no começo porque quando você começa tudo é maravilhoso né, você tá bombando, tá na moda, mas acho que depois de um tempo você para e começa a pensar o que você realmente quer fazer da vida, porque senão chega uma hora que você vê que tá falando, você nunca para de falar “sim” porque é o modo que você entrou, eu pelo menos hoje olho e digo “Porra, isso aqui não é pra mim, não tô muito afim de fazer”, e melhor do que falar não para alguma coisa, falar exatamente isso que quando surge uma coisa que eu vejo que não é minha, eu falo “Puxa acho que isso aqui não tem minha cara”, e como não tem a nossa cara você não vai saber fazer bem, não vai ser legal nem para você nem para o projeto, então é a melhor coisa, saber falar “não” só que de um jeito legal né óbvio, é muito bom para todo mundo, você não vai fuder o trabalho dos caras lá e você também não vai ficar infeliz de fazer ali um negócio que você não tá afim de fazer né.

Henrique de Moraes – Com certeza, tem um cara que eu sou fã, que chama Derek Sivers, ele é fundador da DC Baby, que é a maior distribuidora de música independente do mundo né, ele já não tá mais na operação hoje mas ele fala que quando ele começou a ficar famoso as pessoas começaram a chamar ele pra fazer muita coisa, dar muita palestra né, e ele começou a se ver infeliz, indo voar pra Austrália por exemplo e falando “Porque eu tô indo pra Austrália, do outro lado do mundo, pra dar uma palestra que eu nem sei se estou muito afim?” e uma pessoa virou pra ele e falou assim “Cara, na situação que você tá, você tinha que ter duas opções, ou é não, ou é puta que pariu sim pra caralho”, ele falou “Qualquer coisa que for menos que puta que pariu eu quero muito fazer essa porra, quero começar ontem, você fala não”, e ele leva isso pra vida dele né.

Ian SBF – Mas é, eu concordo

Henrique de Moraes – Cara, uma coisa que eu fiquei muito curioso quando eu tava pesquisando pra fazer esse bate papo, foi que no início vocês vocês tinham um público mais velho né, e você falou acho que até em uma entrevista se eu não me engano, você fala que os pais inclusive falavam pros filhos pra assistir, isso acontecia mesmo?

Ian SBF – Cara por incrível que pareça, quando a gente começou, o nosso público a média era de 40, 50 anos, porque quando você pensa em YouTube né você acha que todo mundo é jovenzinho mas não, na verdade eu não sei, não sei qual era o público, porque isso acontecia, qual foi esse fenômeno mas era muito comum a gente ouvir alguém de 20 anos falando “Minha mãe me perguntou o Porta, minha tia me mostrou”, era muito normal isso. Agora curioso, eu mesmo não sei exatamente o porque, eu não sei porque talvez o Porta tenha aparecido muito para o público assim, formador de opinião, jornalista, umas coisas um pouco mais offline e menos YouTube, aí acabou meio que viralizando primeiro numa outra galera.

Henrique de Moraes – É engraçado né porque eu não consigo imaginar meus pais ou minha tia passando um vídeo do Porta, depois até acontecia né porque já tava muito conhecido, e aí tinham uns assim, especialmente os mais politizados, no sentido de chutar o balde, o meu pai me passava, acabava me mandando, mas no início assim, especialmente vídeos como “Rola” por exemplo eu não imaginava meu pai falando “Olha esse video que engraçado”

Ian SBF – Pois é, mas tinha muito, aposto que seu pai achava engraçado e você nem sabia

Henrique de Moraes – Provavelmente, isso que é o mais curioso, por isso que eu fiquei pensando “Cara, será que meu pai assistia e não falava com ninguém?” se sentindo culpado de repente de estar assistindo e não falava com ninguém, deixava para ele né, muito bom. Cara você falou no início ali da sua vontade de se tornar um diretor né, desse senso de realização né, eu queria entender como é que você se relaciona com isso porque assim, você fez muita coisa, seu currículo, acho que agora você tem um portfólio bem legal para mostrar aí quando você quiser emprego, mas como é seu relacionamento com isso assim, como você encara o que você fez e o que você ainda tem para realizar sabe, como é que você tá nesse caminho?

Ian SBF – Cara, eu tenho muito orgulho assim de tudo que eu fiz, eu gosto de tudo, acho que longe de eu achar que eu só fiz coisa foda porque na verdade acho que errei muito mais do que acertei até hoje mas eu acho que esse caminho que eu tô fazendo hoje, como eu tava falando antes acho que ele não era o caminho que eu queria fazer lá no começo, eu não sou um cara da comédia, então eu queria muito tentar coisa diferentes, coisas que não sejam de humor, contar outro tipo de história e contar história na verdade porque às vezes me pega muito assim a gente só fazer coisas muito curtas, por isso que hoje em dia eu tô mais interessado em fazer série, longa, mas eu acho que esse modelo de piada eu acho que é muito legal, é muito do caralho mas eu acho que pra quem é diretor principalmente, ele dá uma de esgotada rápido porque fica um pouco o mesmo clima ali, é um plano, contra plano, aí começa um plano aberto, é mais difícil você explorar uma piada de 2 minutos pela visão do diretor, então acho que para quem é roteirista e para quem é ator talvez nem esgote porque é muito legal, eu acho que é muito divertido para quem tá fazendo nas outras áreas, mas acho que o diretor precisa ter mais tempo para trabalhar ali esse produtinho sabe, e acho que em 2 minutos é muito pouco tempo e chega uma hora que você acha que você saber fazer aquilo sem saber fazer, já tá no automático, você já sabe como resolver aquilo e aí não é legal.

Henrique de Moraes – Entendi, mas você tem algum senso de realização ou você ainda acha que você tem muita coisa para fazer, como você encara isso e como isso reflete inclusive no seu dia a dia, especialmente falando de ansiedade, como isso te motiva ou te desestimula?

Ian SBF – Cara eu acho que eu já tive mais essa preocupação com o senso de realização no começo porque eu acho que era mais uma questão de eu me responder a pergunta se eu dava para isso, se isso era uma coisa que eu sabia fazer, se eu deveria estar nisso mesmo, acho que quando você meio que entende que você consegue ganhar dinheiro trabalhando nisso, eu acho que a gente não é muito assim, não é o Rockfeller sabe, de deixar um legado, é outra brincadeira, eu acho que então assim, a minha realização hoje é o próximo projeto e eu acho que assim, quando a gente fala em senso de realização me vem muito a frase do “provar algo pra alguém”, eu acho que eu já provei para mim que eu podia viver disso e já provei sei lá para quem quisesse que dá para viver disso, eu vivo disso. Agora, chegar em algum lugar é que eu acho que não existe mais para mim porque sei lá, o “chegar lá” agora é eu consegui fazer um próximo projeto, é eu continuar vivendo disso, mas o marco da realização eu acho que já passou para mim, não porque eu tenha chegado lá porque acho que não tem aonde chegar, essa que é a brincadeira, é a vida né, não tem aonde chegar na vida, chega uma hora que você vê que esse é teu trabalho, continuar ganhando dinheiro acaba sendo tua realização né

Henrique de Moraes – Verdade, eu perguntei isso porque assim, eu por natureza fico o tempo inteiro pensando na próxima coisa que eu vou fazer né, então assim eu não paro para comemorar por exemplo, a gente fecha um cliente legal, fecha um projeto, entrega um projeto bacana eu tenho esse problema e as pessoas começaram a apontar isso para mim né, falar assim “Cara você tá sempre olhando pra frente e deixa de perceber as coisas que já aconteceram”, e eu descobri que isso me causava uma ansiedade muito grande, eu comecei a tentar de alguma forma ajustar isso na minha vida então eu faço alguns exercícios, umas práticas assim né

Ian SBF – Eu também sinto isso

Henrique de Moraes – E você faz alguma coisa nesse sentido? Tem alguma prática pra melhorar, tipo uma prática de gratidão ou alguma coisa pra pelo menos manter a cabeça no lugar?

Ian SBF – Não, zero. Sei lá, eu tô mais preocupado agora em resolver as coisas para frente do que me resolver sabe, então eu vou deixar minha resolução interna para depois, tô num momento agora de ver mais o médio prazo do que o presente.

Henrique de Moraes – Entendi, e o que você em feito hoje cara, você tem alguns projetos né que eu sei que você toca, inclusive outros canais

Ian SBF – Eu tô tocando alguns projetos no Porta também, pra fazer lá, não mais assim fazendo vídeos pro canal, tem diretores hoje incríveis lá fazendo isso, o Vander, o Vini, eu tô agora nesses outros projetos que eu quero fazer de série, de longa, tô fazendo meu canal também de animação, que é o Sociedade da Virtude, também no YouTube que é uma coisa que eu amo fazer, é sobre super-herói que é um universo que eu adoro e é quadrinhos também, então é muito legal, e eu também tô fazendo alguns outros projetos também por exemplo, tô escrevendo um longa agora que eu não sei se tem a cara do Porta também, então eu tô meio que, agora na verdade esse ano eu tinha tirado pra, “tirado” né, não dá pra parar de trabalhar porque tenho que pagar conta, mas eu resolvi, minha resolução nesse ano foi “Vou botar meus projetos no papel, escrever roteiro de série, de longa, e ver o que eu vou fazer com eles”, esse ano eu tô muito focado em produzir os projetos e aí ver o que acontece com eles depois.

Henrique de Moraes – Legal, tem algum específico assim que você esteja mais ansioso pra lançar, que mexa mais com seu coração?

Ian SBF – Eu tô muito num longa cara, tô escrevendo um longa agora aqui que eu gosto muito, acho que é a melhor coisa que eu já fiz, tem um pouco de comédia que eu acho que eu não consigo fugir 100% disso, mas eu não sinto que é um filme de comédia, então eu tô bem empolgado com ele, acho que é uma coisa diferente pra mim e eu tô muito empenhado nele então tá ficando um resultado muito legal, que eu acho que tá melhor do que eu tava imaginando e aí esse é um desses projetos, que eu não sei o que vai ser dele, não sei o que pode acontecer, se ele vai sair do papel ou não, mas eu tô muito feliz de estar colocando ele no papel. Outro dia eu sentei cara e falei “Caramba, tem 10 anos que eu não escrevo um roteiro de um longa-metragem”, o último que escrevi mesmo foi o do “Entre Abelhas” que eu escrevi junto com  o Fábio em 2006, 2007, e aí quando eu vi isso eu falei “Não”, esse projeto desse filme ele é para estar no papel, tomara que depois eu consiga tirar ele do papel, mas meu maior objetivo agora, a minha realização pessoal com ele é realmente terminar ele e deixar ele do jeito que eu quero que ele fique.

Henrique de Moraes – Teve uma frase que você falou no meio de alguma resposta pra trás aí, que foi que você acha que você cometeu mais erros do que acertos né, embora pra quem tá de fora isso não passe né, a sensação pelo menos pra mim é que porra, você acertou pra caralho, mas eu queria saber se tem algum erro específico assim que você lembre e que tenha te trazido algum aprendizado?

Ian SBF – Cara, eu vou te falar, eu não vou citar um erro específico porque eu acho que é injusto com os outros erros, e sempre como não é só meu, ofende as pessoas porque muita gente participa disso, mas uma coisa que eu aprendi com os meus erros, pra começar o que você tava falando antes que não dá para ver tantos erros, talvez esse seja o maior aprendizado, você saber que você pode errar e quando é ruim as pessoas não estão muito sabendo, normalmente as pessoas sabem dos sucessos, é claro que se você for o Spielberg, seu erro aparece para todo mundo, mas ninguém aqui é o Spielberg então quando a gente faz uma merda, é que nem levar zero no colégio, na primeira vez que você leva um zero numa prova você descobre que o mundo não acaba, é igual fazer algum produto merda, e o legal quando você faz um produto merda é que de alguma forma você tentou. Então assim, acho que esse meio do audiovisual, ele é tentativa e erro, não dá nunca para você saber que você tá fazendo uma coisa muito legal ou está fazendo um fracasso, mas se você não fizer, você não vai descobrir, então o maior aprendizado disso é fazer, é fazer e tentar de alguma maneira ir direcionando tua vida, tua carreira nas coisas que você gosta mais, porque se é pra errar também, erre fazendo alguma coisa que você tá acreditando e que você acha do caralho. Um dos erros que a gente já fez no Porta, por exemplo fazer coisas por dinheiro, não só no Porta, isso na minha vida toda, fazer coisas por dinheiro normalmente vão dar cagada, é quando você não vai ganhar dinheiro, quando você faz alguma coisa que você acredita, que você acha do caralho, provavelmente isso vai dar dinheiro ou no mínimo você vai ficar muito feliz de ter feito e não vai te incomodar ser um fracasso. Então acho que é isso que eu tirei dessas minhas cagadas aí.

Henrique de Moraes – Perfeito, acho que na verdade inclusive isso serve para vida né, tem aquela famosa frase né “fazendo merda que se aduba a vida”

Ian SBF – Depende né

Henrique de Moraes – Depende da merda, lógico que tem que tomar cuidado, fazer merdas comedidas né

Ian SBF – Tem que fazer uma merda apertada, não pode ser só merda. Merda considerada

Henrique de Moraes – Isso, exatamente, você tem que estar ciente que você tá tentando e tentar gerenciar até aonde aquilo vai chegar talvez, mas acredito muito nisso até pra quem tá montando um negócio, de certa forma vocês também montaram um negócio mas é muito isso também né, tentativa, acerto e erro e acho que até as grandes empresas passam por isso, tem o Google + aí pra provar né

Ian SBF – Ah sim, talvez eles tenham ficado mais chateados do que você imagina com isso

Henrique de Moraes – Com certeza, muito bom cara. Eu vou passar aqui então para as perguntas que são um pouco mais rápidas, mais genérica, aí você não precisa responder de maneira rápida tá? Eu queria saber primeiro se você faz alguma coisa para equilibrar a vida pessoal e o trabalho?

Ian SBF – Cara é muito difícil isso pra mim, porque eu não sei fazer, não sei equilibrar as coisas, eu tenho um problema muito sério de procrastinação, então isso acaba me jogando para vida pessoal porque quando eu deveria estar aproveitando a vida pessoal eu tô pensando no trabalho, de coisas que eu não fiz, ao mesmo tempo eu tenho que fazer muita coisa, eu sou o pior procrastinador que tem porque como eu tenho muito trabalho para fazer é muito complicado quando você é um procrastinador porque você acaba que faz os trabalhos, então é difícil, você nem consegue procrastinar de verdade e você também nem é um puta trabalhador de sentar a bunda e passar 8 horas do dia escrevendo um roteiro ou coisa assim, então é uma luta diária pra mim conciliar a minha procrastinação, minha vida de trabalhar para caramba que acaba que eu tenho que trabalhar para caramba e a minha vida pessoal, é muito difícil.

Henrique de Moraes – É engraçado né tipo assim, quando você tá trabalhando você tá puto porque você não tá procrastinando e quando você tá procrastinando você tá puto porque não tá trabalhando, é tipo isso

Ian SBF – Cara, outro dia eu tava lendo um texto sobre procrastinação, e não é preguiça, quem acha que é preguiça, é outra coisa, mexe com outras brincadeiras de recompensas e nossa é até difícil explicar mas acho que é mais um caso de terapia do que uma resolução de uma preguiça, eu não sei, é bem mais profundo sabe então uma maneira que eu tento resolver um pouco isso, respondendo na verdade a tua pergunta que eu não respondi, eu tento meio que organizar minha agenda diária sabe, tipo tal hora vou estar fazendo tal coisa, porque quando você tem muita coisa pra fazer e você tem essa característica de procrastinação, você meio que só vê aquele bolo na sua frente de coisas que você tem que resolver e acabar com elas, e meio que aquilo ali já te mina emocionalmente, e você “Caralho tenho tanta coisa pra fazer, é melhor eu deixar tudo de lado, é mais fácil fazer isso do que você puxar alguma coisa para fazer, então eu tento meio que colocar no papel mesmo sabe, “das 9 às 10 eu vou resolver tal coisa”, isso é uma coisa que funciona um pouco mais pra mim, e aí claro nesse dia liberar a parte da família, “então às 20h eu vou parar e não vou mais fazer nada, vou ficar só com a minha mulher”.

Henrique de Moraes – Isso é muito importante, eu já vi uma pessoa falando sobre isso que fala o seguinte, se não tá na agenda não existe, aquilo ali não vai acontecer.

Ian SBF – É fácil fazer isso, só que na hora quando alguém te liga pra resolver alguma coisa você tem que resolver aquela coisa

Henrique de Moraes – É, esse eu acho que é o maior problema, são os inputs que vem na hora e acabam atrapalhando, eu tento fazer isso, acho que é o maior desafio de todo mundo que eu conheço, como é que você organiza suas tarefas de uma maneira que você não se sinta sobrecarregado e que isso não te impeça de começar né, e uma coisa que eu aprendi foi a no dia anterior, eu não faço tá, ainda não consigo fazer todos os dias, tô falhando mas eu consigo fazer de manhã pelo menos, o ideal é fazer no dia anterior, é fazer isso que ele falou de priorizar, eu tento selecionar três atividades, as mais importantes e isso é o mais difícil porque as pessoas confundem muito atividades urgentes com importante né, e se você fica fazendo só atividades urgentes o que acontece é que você se torna muito eficiente mas não eficaz, então o ideal seria que você estivesse fazendo as atividades mais importantes primeiro, que aí depois que você se livra delas, inclusive você recebe lá uma dopamina no cérebro que dá uma vontade de realizar as outras, aí você vai para as urgentes né, e as pessoas fazem o contrário, por ser urgente elas pegam primeiro elas e acabam deixando as importantes para depois, e aí quando você vai pegar as importantes meu amigo, é muito difícil, você vai estar sem cabeça.

Ian SBF – Ontem eu preparei aqui meu papelzinho, meu caderno, tudo certinho, tava tudo perfeito. Aí ontem à noite, bem tarde de noite me falam “Amanhã vai ter uma reunião e seria legal se você participasse”, cagou meu dia todo, só fui parar essa reunião 14h, porque era uma reunião importante fazer, mas aí meu caderninho foi para o caralho já, vou ter que refazer tudo, já atrasou tudo então a vida é assim, quando você tem um monte de coisa que tem que resolver, porque eu não tenho só o Porta, tenho coisas da vida né, então às vezes você só pega o papelzinho que você fez, amassa e joga fora.

Henrique de Moraes – É brabo cara, acho que o pior é isso, como você lida com as coisas que vêm de fora né, que no final das contas você tá lidando com agenda dos outros. É lógico que no seu caso quando é alguma coisa do Porta também é para você né, importante para você mas muitas vezes são as pessoas demandando de você que resolva um problema que é da agenda dela né, ou ajude ela com um problema da agenda dela, isso é o que me mata assim porque aí a pessoa vem com muita urgência, especialmente quando é cliente né, no meu caso pelo menos porque eu tenho que o tempo inteiro ficar lidando com esse equilíbrio, de até quando eu posso não responder esse cara sem ele ficar chateado e achar que eu não tô dando atenção para ele, isso é difícil. Cara, quem é a pessoa que você mais admira e porquê?

Ian SBF – Mas você fala em qualquer coisa, pessoalmente, profissionalmente, tudo?

Henrique de Moraes – Pode ser mãe, pode ser de carreira, pode ser qualquer coisa

Ian SBF – Cara, eu acho que o cara que eu mais admiro mesmo assim é o Walt Disney, eu acho que ele tem um bando de defeito mas é um cara que eu acho incrível as realizações dele, a cabeça que ele teve para a época, eu sou fanático mesmo pelo Walt Disney, toda a história dele e tudo que ele fez. Esse é um cara que eu meio que acho admirável assim, tem todas aquelas questões que algumas pessoas trazem de algumas coisas que eu não sei se são verdade, sobre a história dele, tudo que eu já li, tem muita lenda, é complicado hoje em dia você sempre defender alguém né, porque as coisas surgem, as coisas mudam mas o que eu vejo desse cara, já falaram a beça sobre ligação com o nazismo, e eu nunca vi nada disso, de tudo que eu já estudei dele, então é complicado mas é um cara que eu admiro para caramba e eu acho muito foda o que ele construiu na vida dele.

Henrique de Moraes – É, sempre vai ter uma faca dentro do Fofão né

Ian SBF – Esse boato do nazismo é um pouco maior do que

Henrique de Moraes – É verdade

Ian SBF – Mas eu nunca vi nada que pareça que seja verdade isso, me parece muito mais uns boatos estranho porque tudo que eu vi do cara nunca vi nada minimamente factível disso, então por enquanto estou levando isso como mentira.

Henrique de Moraes – E deixa eu te perguntar uma coisa, aproveitando esse assunto, você acha que quando você descobre uma história dessa, de uma pessoa que você admira, isso acaba com o histórico, com a obra dela pra você de alguma forma? Por exemplo, você pega Woody Allen, Louis C.K. que pra mim foi uma tristeza, não sei se você conhece ou se curte ele?

Ian SBF – Sim, e acho foda pra caramba. Cara, pra mim vai de caso a caso, eu quando vejo hoje em dia um stand-up do Louis C.K., eu ainda consigo rir muito apesar de eu saber as cagadas que ele fez, estragou a história dele mas não estragou o trabalho dele para mim, eu acho que a gente tem que às vezes conseguir separar essas coisas, até porque se você for pegar a história de qualquer ser humano de 200 anos atrás, foram todos racistas, homofóbicos, tinham escravos, é uma loucura, não dá considerar dessa maneira o trabalho deles, você tem que ver a história do cara e falar “Esse cara é um filho da puta, mas olha o livro irado que ele fez”, você tem que conseguir minimamente separar porque senão realmente você vai criar uma fogueira e vai jogar tudo na fogueira de 10 anos pra trás, porque as coisas mudaram muito rápido em 10 anos, mas tem alguns outros caras que para mim morrem, por exemplo Michael Jackson, e eu não tô falando aqui quem deve ou não deve, tô dizendo que para mim foi assim que aconteceu, o Michael Jackson quando eu escuto uma música dele hoje eu só consigo lembrar do documentário, e daqueles caras contando as coisas que eles passaram na mão no Michael Jackson e eu não consigo, não é nem questão de uma escolha, não é que eu fale “Não vou ouvir a música do Michael Jackson”, eu só não consigo, me vem o visual ali do garotinho de 5 anos e eu vendo as coisas que ele fez com ele, aí já era, não dá.

Henrique de Moraes – Eu não terminei de assistir, eu fiquei tão nervoso no início que eu deixei para lá o documentário cara

Ian SBF – Pra poder ouvir as músicas ainda né?

Henrique de Moraes – É, e eu gosto de Michael Jackson, não sou o maior fã nada disso mas sei lá, eu acho que eu fiquei meio ansioso mesmo vendo assim, as histórias são muito pesadas né e eu comecei a ficar meio assim “Cara vou deixar, depois eu assisto isso, mais para frente”, pra mim foi o que mais doeu cara porque eu vejo, ele coloca muito das coisas que ele praticou ali e eu fico num impasse assim porque eu adoro o Louis C.K., eu já revi alguns stand-ups dele umas três, quatro vezes e às vezes eu vejo uma piada assim que eu falo “Putz, você não podia ter falado isso agora”

Ian SBF – Cara o Louis C.K., teve uma entrevista que ele deu pra CNN eu acho, e na entrevista sempre perguntam né como é que você quer que coloquem ali a sua profissão, foi antes disso tudo, ele quis fazer uma gracinha, e aí tá lá o nome dele “Louis C.K., comedian and masturbator”

Henrique de Moraes – Você nunca editou nenhum video dele não né cara?

Ian SBF – Pois é, aí ferra né

Henrique de Moraes – Cara que merda, enfim. Vamos mudar aqui de assunto porque senão vou ficar triste, você tem alguma frase ou algum texto que tenha te influenciado de alguma forma, te impactou?

Ian SBF – Cara uma coisa que mudou a minha vida, não posso falar que é um texto, é um quadrinho na verdade, é o O Cavaleiro das Trevas, um quadrinho do Batman que eu li quando tinha 15 anos e foi um nó na minha cabeça de tudo, maneira de contar história, como você pode contar uma história de uma mulher completamente diferente e nossa, linguagens, foi uma quebra na minha vida, então com certeza esse quadrinho do Batman, Cavaleiro das Trevas.

Henrique de Moraes – Maneiro, e qual foi o melhor conselho que você já recebeu, e não precisa ser de uma pessoa né, pode ser num livro, podcast ou qualquer outra coisa.

Ian SBF – Não mas eu tenho isso, eu tenho um conselho, eu tive uma época na minha vida quando eu tava no Anões em Chamas, as coisas começaram a muito errado na minha vida, eu tava indo a falir, eu tinha uma pessoa na minha vida que estava me queimando para muita gente, eu tava perdendo trabalho por causa dessa pessoa, foi muito difícil resolver isso, nem consegui resolver e aí eu chamei um amigo meu para conversar, e aí falei “Cara, tá acontecendo isso”, essa pessoa que era muito influente, ainda é hoje em dia, ele tava fazendo um estrago, eu tava na merda, eu falei “o que que eu faço?”, e o cara falou “Cara, faz uma coisa foda, ninguém vai lembrar mais de nada do que esse cara tá falando”, e eu fiz o Porta dos Fundos logo depois disso, então foi um puta conselho e foi bom mesmo, foi bom para eu me focar e pensar “Caramba, a melhor maneira de eu resolver isso não é resolver isso, é eu dando a volta por cima”

Henrique de Moraes – Sim, você desviou a energia né, em vez de ficar ali remoendo a merda que tava acontecendo você usou isso

Ian SBF – Eu não falo nem energia, eu falo na prática porque quando tem alguém falando mal de você e tentando te derrubar, tirando o trabalho teu de verdade assim, às vezes você acha que a melhor saída é você tentar evitar com que essa pessoa tenha acesso à alguma pessoa que possa te prejudicar, digo resolver isso literalmente sabe, tentar resolver com que essa pessoa pare ou que, e isso não tem o que fazer, então realmente a melhor maneira de resolver isso é vocês passando por cima disso, não falo nem de energia não, é você realmente fazer algo grande que essa pessoa não tenha mais munição pra te causar esse estrago, que você consiga ir por outros caminhos, ir para outros lados. A primeira consequência é o desespero, como é que eu faço para essa pessoa parar de me derrubar né.

Henrique de Moraes – E por que que isso aconteceu? Teve algum motivo específico?

Ian SBF – Ah, acho que é muita coisa, aí são dois podcasts pra gente fazer um dia.

Henrique de Moraes – A gente faz um episódio especial. Se você pudesse dar uma dica prática para as pessoas aplicarem amanhã para tentarem ser mais felizes, qual seria?

Ian SBF – Então, aí eu vou dar o conselho que é aquele conselho, mais feliz eu não sei mas assim como a minha vida é muito trabalho, eu vou dar um conselho que mesmo que a gente discuta a gente nunca faz né, mas é “Faça, faz o que você quer fazer, não fique guardando as suas melhores ideias ou seu grande projeto”, isso eu tô falando muito também no audiovisual e na parte criativa né, normalmente as pessoas tem muito medo de tentar, porque do mesmo jeito que eu falei que eu achava que eu poderia ser o Tarantino nos meus 20 anos, 24 anos de idade, as pessoas sempre acham muito isso, então elas têm medo de tentar fazer o primeiro filme, de tentar botar um vídeo na internet, as pessoas tem muito medo de dar a cara à tapa achando que podem descobrir que não são o Tarantino, e é muito legal quando você descobre que você não é o Tarantino, é uma amarra que você solta e você começa realmente a fazer, a produzir, então meu conselho para todo mundo é “Cara, faz, não fica pensando se você deve ou não fazer, faz porque senão você não vai fazer”.

Henrique de Moraes – Boa, super bate comigo agora assim, porque esse projeto do podcast eu tô postergando já há um ano eu acho

Ian SBF – É, você fica pensando “Ai, o que será que vão achar disso”, deve ter um monte de perguntas que você fica se fazendo e no final das contas é aquilo que a gente tava falando antes, ninguém quer saber dessas coisas, só vão saber se ficar maneiro, se ficar do caralho, se for sucesso, isso é bom do fracasso cara, o fracasso ele fica na gaveta, as coisas só aparecem quando elas são boas. Então se você for fazer uma coisa ruim, ninguém vai saber que você fez mesmo, caso você não for o Spielberg, aí as pessoas vão saber que você fez um podcast que ninguém ouviu. Mas ninguém é o Spielberg, só o Spielberg, então tá tudo bem.

Henrique de Moraes – Verdade, boa. Você tem algum filme ou documentário favorito? Ou pode falar um de cada também, tanto faz.

Ian SBF – Filme para mim é “Priscilla, a Rainha do Deserto”, melhor filme pra mim, da minha vida e outro dia olha que curioso, alguém me falou que o Spielberg sempre que vai dirigir um filme, ele primeiro assistir o “Priscila”, que ele falou que é uma aula de como dirigir filmes, olha que doido?

Henrique de Moraes – Legal, muito maneiro, não sabia, vou assistir também porque tem tempo que não assisto, acho que eu era moleque quando eu assisti esse filme.

Ian SBF – Eu assisti agora, uma semana atrás, aproveitei a quarentena tô revendo algumas coisas.

Henrique de Moraes – Boa, já tenho duas coisas pra assistir ,“Priscila” e o Cavaleiro das Trevas, mas aí é quadrinho né, vou ter que arrumar esses quadrinhos. Documentário você tem algum?

Ian SBF – Cara eu não sou, não que eu não goste de documentário, mas não é muito da minha, eu não consumo tanto assim documentário, já vi vários muitos legais, com certeza eu teria um pra falar aqui mas só não tá me vindo na cabeça, mas não vejo tanto assim eu sou muito de ficção, tô tentando aqui lembrar de algum documentário bem legal, tem vários, tem esse do McDonald’s que tá bem interessante da HBO que é bem legal, não sei se você viu mas é um documentário em série né, seriado, vou ficar com esse do McDonald’s mas também não tava tão legal que eu parei, tá vendo, acho melhor ficar na ficção, vai no “Priscilla”.

Henrique de Moraes – Cara você já viu, do Netflix o “Don’t Fuck with Cats”?

Ian SBF – Então, me falaram muito dele mas eu tenho muito problema de ver bicho sofrendo, então tá difícil de eu botar ele para assistir.

Henrique de Moraes – Você virou vegano por causa disso né?

Ian SBF – Eu tô vegetariano tentando o veganismo mas é por isso mesmo, é por causa dos bichos.

Henrique de Moraes – O que foi mais difícil nessa conversão? Você conseguiu lidar bem, foi rápido ou demorou pra se adaptar?

Ian SBF – Na verdade não é difícil não, a única coisa difícil é porque a gente tem pouca opção no Brasil né, agora estão tendo umas coisas assim muito legais de hambúrguer vegano, de tirinha de frango vegano, obviamente não é frango né, e as grandes empresas agora estão fazendo, você tem da Seara, da Sadia, no Burger King tem agora um hambúrguer vegano, no Bob’s, várias lanchonete tem então assim, tá bem mais fácil agora do que 6 anos atrás que foi quando eu parei assim de comer carne, porque a coisa mais chata de você parar de comer carne não é o gosto da carne ou coisa assim, a pessoa acha que é mas não é, é a questão social, é você sair com os amigos, entrar num lugar para comer alguma coisa, são as restrições que acabam virando para você e que hoje em dia elas estão quase que nulas, você consegue fazer, hoje eu vou fazer um cachorro quente vegano aqui em casa maravilhoso, que você nem sabe diferença então pô, é só querer, é que as pessoas não querem, ninguém quer ter o mínimo de dificuldade na vida, mas não é dificuldade, é “Ai mas eu andava até o banheiro com 10 passos, agora vou ter que dar 12? Aí não”

Henrique de Moraes – Verdade, faz todo sentido. O cachorro-quente que você vai fazer, você comprou a salsicha pronta?

Ian SBF – Salsicha pronta, fazer as coisas é um problema para mim.

Henrique de Moraes – Legal, qual é a marca que você comprou?

Ian SBF – Rapaz não sei porque foi minha mulher que comprou, não sei agora qual é a marca desse não. Seara, Seara

Henrique de Moraes – Seara? Caramba.

Ian SBF – Olha, tem uma linha agora vegana, de quase todos eles, Seara, Sadia, tem o hambúrguer do futuro também, que tem várias outras coisas não só hambúrguer, é a Fazenda do Futuro e cara, tem muita coisa boa, dá uma experimentada se for a tua que você vai descobrir que tem coisas até melhores, sem brincadeira.

Henrique de Moraes – A minha esposa Gabi, ela parou de comer carne tá vegetariana também, e foi muito engraçado porque ela parou do nada assim, a gente tava viajando, a gente tava comendo muita carne porque a gente estava nos Estados Unidos então assim, muito fast-food, hambúrguer e restaurantes de carne também, e aí um dia ela viu um vídeo de uma vaquinha brincando com um cachorro, acho que foi alguma coisa assim, e aí ela falou assim “Cara eu vi esse vídeo e assim, tô sem coragem de comer carne de novo”, eu até falei “Então não come”, achei que ela ia ficar sei lá, uma semana sem comer carne e ia voltar sabe, ela parou e nunca mais voltou, impressionante.

Ian SBF – Cara, vídeo de vaca brincando com cachorro são os piores, quer dizer são os melhores pra você se converter, porque a primeira coisa que todo mundo ensina para você, a indústria de carne te faz acreditar, é que a maioria dos bichos, e os bichos em geral são máquinas né, são bifões, e porra cara, quando você vê a vaquinha correndo, brincando com bola e tendo afeto com as pessoas igual um cachorro, você só consegue comer ela de novo se você for um monstro, porque ninguém come cachorro no Brasil, então se você não come o cachorro, você não consegue comer a vaca, a vaca é um cachorrão cara, então quando as pessoas vêem esses vídeos, se a pessoa já tiver um pouquinho impulsionada pra isso já era, ela cai na hora.

Henrique de Moraes – Eu não vi o vídeo, acho que por isso eu ainda como carne

Ian SBF – Você não é um monstro, tá vendo? Se você ver o vídeo e comer carne você é um monstro

Henrique de Moraes – eu ainda não assisti, mas até porque ela ficou tão chocada que eu nem quis assistir, chocada não, sentida que eu nem quis, a gente tava viajando e eu falei “Cara não vou deixar de comer hambúrguer, deixa eu ver esse vídeo quando a gente voltar”

Ian SBF – Tem vídeo até piores cara, não de violência ou coisa assim mas de você se simpatizar pelos bichos na verdade, você ter empatia por eles. Tem um bichos que quando você olha você fala “É isso, não posso, não tem mais o que fazer”

Henrique de Moraes – Eu assisti esses dias também um documentário, que esse quase me fez parar de comer frango assim, eu tô repensando meu relacionamento com frango porque, sabe aquele cara que fez o documentário “Super Size Me”? Então, ele fez o dois agora e é muito melhor do que o 1 inclusive, ele aprendeu a fazer documentário porque o primeiro é um diário dele ali meio mala, o segundo não cara, ele criou uma narrativa, então tem uma história e é muito legal, eu vou nem contar porque se você quiser ver assim não é nada como o documentário “Don’t Fuck with Cats” né que é mais pesado, mas ele mostra como é perversa a indústria de alimento né, e como tudo que passam para você é só propaganda, e é muito legal assim a forma como ele vai vai colocando, então ele faz o seguinte, ele por exemplo só um pequeno trecho, ele quer descobrir como é que ele consegue colocar na embalagem que o frango dele livre, é um frango livre e aí ele descobre que não tem um tamanho mínimo de área externa para configurar como frango livre, e aí ele vai faz um cercadinho pra fora de onde as galinhas estão, e ele é liberado, ele recebe um aval do governo americano para colocar que é free range, ela é criada livre né, e aí vai mostrando tudo que tá errado assim, e aí tentam parar ele durante a gravação inteira, ainda mais que já sabem quem ele é, mas o melhor é o final porque mostra a hipocrisia de todo mundo assim, ele consegue dar um tapa na cara de geral e de uma forma muito incrível, então vale a pena assistir, é uma boa recomendação aí. Cara, penúltima pergunta, essa é mais difícil tá, então você pode parar pra pensar um pouquinho se quiser, mas se você pudesse colocar um outdoor gigantesco assim em qualquer lugar que passasse muita gente, tipo na Paulista, com uma mensagem, uma mensagem só assim para passar para as pessoas, o que você colocaria? Pode ser uma frase, pode ser um texto, uma imagem, pode ser qualquer coisa.

Ian SBF – Rapaz, mas essa mensagem ela ia tocar as pessoas? Dependendo da mensagem né

Henrique de Moraes – Sim. Você pode falar “Eu colocaria o vídeo da vaquinha”

Ian SBF – Cara taí, porque uma mensagem? Uma mensagem que eu gosto muito, não sei como que eu colocaria essa mensagem porque eu acho que não adianta só falar com as pessoas “Parem de comer bicho né”, eu queria que fosse alguma coisa relacionada à isso porque se eu acho que existe uma luta hoje né, acho que esse é o grande passo ainda pra humanidade, que é a gente conseguir coexistir com os outros seres vivos do planeta, sair dessa época de barbárie que a gente não consegue sair ainda, a gente já evoluiu em tanta coisa mas nessa a gente ainda não conseguiu, então acho que seria algo relacionado à isso mas esculpir a frase eu acho que eu vou deixar pra outro dia porque eu tenho que pensar que frase seria essa, mas eu queria que fosse uma frase que talvez tocasse as essas pessoas para que elas vissem as vaquinhas mais com cachorros.

Henrique de Moraes – Beleza, qualquer coisa você contrata a gente e a gente cria essa frase e coloca na Paulista. Você tem alguma recomendação de podcast, ou de rap, pessoal pra seguir, alguma coisa assim que você não viva sem ou que você curta muito e gostaria que as pessoas soubessem também?

Ian SBF – Cara eu tô seguindo, é porque assim eu sou muito ruim de nome e eu tô seguindo agora de cinema umas coisas muito legais, tanto no Twitter quanto no Instagram mas eu não lembro de nomes das coisas, porque hoje em dia é tudo tão difícil né, tudo @ cinema não sei do que, mas tem uns perfis que falam sobre roteiro, sobre bastidores de filmagens, são muito legais mas não estou agora lembrando desses perfis. Podcast eu não acompanho tanto assim eu sei que tem uns interessantes de roteiro aqui no Brasil mas eu não acompanho tanto para falar, mas deixa eu ver se tem alguma coisa no Twitter. Tem um cara, esse aqui é fácil de eu ver, que é um site que eu tô vendo muita coisa interessante e que chama filmschoolrejects.com, e ele tem muita coisa legal cara, ele faz umas matérias mais profundas sobre Tarantino, filmes de Tarantino, Scorsese, ele destrincha coisas muito legais, eu vi um agora do David Fincher que eles fizeram, deram uma olhada na carreira dele, coisas muito legais para quem gosta de cinema, então essa seria minha indicação.

Henrique de Moraes – E cara pra fechar aqui, você gera algum conteúdo, você quer ser encontrado online, e se sim onde as pessoas podem te encontrar?

Ian SBF – As pessoas podem ver os vídeos que eu já dirigi do Porta, isso aí acho que nem adianta eu falar, as pessoas já conhecem, mas quem quiser ver o que eu estou fazendo agora mesmo dá uma procurada no YouTube por Sociedade da Virtude que é um canal de animação como eu já falei antes que eu gosto muito de fazer e tá muito legal, é comédia e do universo dos super-heróis, então acho que vale a pena dar uma olhada.

Henrique de Moraes – Legal, fechado cara. Obrigado por ter topado participar aí cara, foi o maior prazer bater esse papo contigo

Ian SBF – Eu que agradeço cara, obrigado mesmo.

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