de Igreja Nova, no Alagoas, para o mundo! a trajetória de vida de Ana Fontes não é só impressionante, mas extremamente emocionante!

  • empreendedora social, Ana é a fundadora da Rede Mulher Empreendedora, que ajuda mais de 750 mil mulheres.
  • em 2019, foi eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes.
  • é Linkedin Top Voices 2020.
  • delegada líder do Brasil no W20, grupo de engajamento do G20.
  • co-Fundadora do MIA – Mulheres Investidoras Anjo. especialista em empreendedorismo feminino.
  • pesquisadora de Gênero.
  • palestrante e painelista, já foi facilitadora de workshops nacionais e internacionais, como o Fortune Most Powerful Women – Washington em 2017 e Fórum Mundial de direitos Humanos no Marrocos em 2014.
  • 2 vezes palestrante no TEDx
  • professora do programa Empreendedorismo em Ação do INSPER. professora, conselheira e mentora do Programa 10 mil mulheres da FGV.

alguns reconhecimentos:

  • vencedora do prêmio Spark Awards como melhor mentora e do prêmio Fortune Most Powerful Women 2017.
  • fellow dos programas: Winning Women da EY e Vital Voices desde 2014. programa 10 mil mulheres FGV/Goldman Sachs 2010.

no bate-papo a gente falou especialmente sobre como sua história de vida lhe ajudou a construir seu seus valores, que foram muito importantes ao longo de sua trajetória profissional. falamos também sobre empreendedorismo, sobre o que é ser bem-sucedido e muito mais.

espero que vocês curtam esse bate-papo e que procurem saber mais sobre a Ana, porque vale a pena se aprofundar em tudo que ela já fez e vem fazendo.

redes sociais da Ana:

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Rede Mulher Empreendedora:

https://www.rme.net.br

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Steve Jobs
  • Bill gates
  • Paul Allen
  • William Douglas
  • Agatha Christie
  • Harry Robbins
  • Djamila Ribeiro
  • Silvio Almeida
  • Augusto de Franco
  • Liliane Rocha
  • Angela Davis
FRASES E CITAÇÕES
  • “você só consegue entender o sentido da vida, todos os passos que você deu olhando para trás, conectando os pontos, você não consegue fazer isso olhando pra frente” – Henrique citou Steve Jobs
  • “Impaciência com ações e paciência com resultados” – Naval Ravikant

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Oi Ana, seja muito bem vinda ao calma!, eu queria começar te agradecendo por disponibilizar se tempo e também queria dizer que eu tô muito feliz mesmo pela oportunidade de bater esse papo contigo, eu tô super encantado com a sua trajetória, fiquei emocionado ouvindo sua história de vida, e tentando não romantizar mas talvez sem querer romantizando um pouquinho, parabéns pela força e pela coragem de criar na raça uma narrativa tão inspiradora, foi muito legal conhecer um pouco da sua história.

Ana Fontes – Nossa Henrique fico muito feliz de participar desse papo também, como você falou mesmo não romantizar, mas contar a realidade né, acho que isso é importante também.

Henrique de Moraes – Sim, com certeza. Bom, eu vou começar então falando um pouco da sua família, de quando vocês fizeram a mudança né pra São Paulo. Vai ser um início um pouquinho mais denso do que eu costumo fazer, mas qualquer coisa a gente bota uma piada no meio só para quebrar um pouquinho.

Ana Fontes – Não tem problema

Henrique de Moraes – Bom, você é de Igreja Nova, certo? Alagoas

Ana Fontes – Certo, no sertão de Alagoas, quase um povoado né. Na verdade Igreja Nova era a cidade, o município, e a gente nasceu mesmo num povoado e foi registrado Igreja Nova, pra você ver o tipo de, porque onde a gente morava não tinha nem cartório nem nada, você tinha que atravessar um rio, minha mãe fala, tinha que atravessar o rio pra poder ir pra cidade que era Igreja Nova pra fazer o registro.

Henrique de Moraes – Caramba, eu fiquei muito tocado acho que especialmente pela jornada que sua família teve logo quando vocês estavam saindo de lá para ir para Diadema, e eu acabei colocando a minha vida muito em perspectiva né, e comecei a pensar como que a gente vive dentro de bolhas né, é impressionante como a gente acho que escolhe não enxergar as coisas que acontecem ao nosso redor porque assim, a sua história pode até parecer distante mas na verdade às vezes está acontecendo do lado né, com pessoas que estão próximas da gente, e como eu te falei antes da gente começar a gravar, que eu acabei de me mudar pra Portugal e ouvir a sua história colocou uma lente completamente diferente né, porque eu vim reclamando de tanta coisa que agora parece tão estúpida.

Ana Fontes – É, não, mas é isso, é que a gente vive nas nossas bolhas né, e não é porque assim, você tá errado, é o processo que a gente vive no nosso país, né

Henrique de Moraes – Verdade, e enfim, eu coloquei essa ótica imaginando sua mãe viajando com seis filhos, você fala que ela tava com medo de parar, de descer nas paradas na verdade, com medo de perder um filho, então eu queria entender essa experiência eu imagino que já tenha ajudado a criar um pouco quem você se tornou né e eu queria se você pudesse de repente falar um pouco sobre como essa história impactou ou impacta sua vida até hoje, se você conseguir só falar um pouquinho brevemente sobre isso, se quiser contar um pouco melhor a história também, fica à vontade.

Ana Fontes – Eu acho que assim, a gente sempre conversa com a minha mãe sobre isso porque dá muita dúvida né, a gente fala assim “Poxa vida, mas mãe, como é que a senhora veio uma única pessoa com seis crianças numa viagem de 3 dias de ônibus?”, e que nem era um ônibus bacana, confortável nem nada, e ela sempre fala isso que ela não consegue imaginar né, porque na verdade não tinha opção, ela falou “A gente precisava sair de lá, a situação da seca era muito grande, muito forte, não tinha comida, não tinha trabalho”, eles viviam da pesca, da agricultura e aí como tava seco não tinha nem pesca nem agricultura, então era muito difícil, ela falou assim “Não tinha uma possibilidade”, ela falou. Quando a gente olha pra essa perspectiva de não ter uma possibilidade, era o que era possível fazer. Eu não me lembro da viagem porque eu tinha 4 anos, de vez em quando eu tenho alguns flashes assim de coisas, eu lembro de um doce muito típico que a gente tem lá no Nordeste que se chama mariola, e eu lembro da gente em alguns momentos no ônibus, da gente comer esse doce, essa tal dessa mariola, e ela fala muito que ela trouxe a gente, todo mundo, ela pedia que os mais velhos olhassem os mais novos porque eu vim com 4 anos, meu outro irmão veio com 3 e o mais novo tinha 7 meses, então assim imagina essa quantidade de crianças numa viagem de 3 dias, e ela fala que a maior preocupação era porque as crianças enjoavam no ônibus, isso que era muito ruim e porque na verdade ela tinha medo de perder a gente né, porque ela disse que ouvia muitas histórias, muitas lendas, muitas histórias de gente que pegava criança e ela tinha muito medo disso, e eu falo pra ela até hoje, minha mãe é viva ainda, tem 77 anos, eu falo pra ela “Nossa, a senhora realmente teve uma coragem absurda, ir pra uma cidade grande, completamente desconhecida com seis crianças numa viagem de 3 dias”, então quando eu olho a minha vida nas minhas perspectivas, porque eu sou mãe de duas filhas adolescentes, ela até brinca comigo, eu falo “Nossa mãe, tô cansada de tanta coisa”, e ela fala “Sei, tá cansada?”, e aí eu arrumo narrativas pra brincar com ela, eu falo “Ah, mas na sua época as crianças cuidavam uma da outra, hoje elas não cuidam”, e ela acha super divertido, mas é claro que isso marcou pra sempre a minha vida, a vida dos meus irmãos porque a gente vê as dificuldades de uma forma diferente né, a gente sempre teve que se virar, em todos os aspectos, se virar pra arrumar comida, se virar pra trabalhar desde cedo, eu trabalhava desde cedo também, com 11 anos já ajudava a olhar uma criança da vizinha, limpar a casa de outra, ajudar a vida de outra, porque nós éramos na nossa casa 8 filhos mais meu pai e minha mãe, então eram 10 pessoas pra comer, sobreviver, então todo mundo trabalhava desde muito cedo, então não tinha outra alternativa, a gente não via outra perspectiva sabe Henrique, então assim o que isso fez para mim durante a minha jornada é que isso fez com que eu olhasse para as dificuldades de uma forma diferente, então eu sempre penso com cabeça de “Como é que a gente vai resolver as coisas?” seja qual for a situação, então acho que é muito desse histórico, dessa jornada dos meus pais.

Henrique de Moraes – Interessante Ana, e que bom que ficou uma lembrança doce né, literalmente.

Ana Fontes – É, ficou essa lembrança.

Henrique de Moraes – Ouvindo você contando sua história tem uma frase que você diz que que seus pais “tiraram vocês do fogo e colocaram na frigideira” né, que você estavam indo para Diadema, eu achei sensacional isso, e você olhando para trás, tem uma frase do Steve Jobs que ele fala que você só consegue entender o sentido da vida, todos os passos que você deu olhando para trás, conectando os pontos, você não consegue fazer isso olhando pra frente, então olhando para trás, quais foram os desafios e os benefícios de crescer em Diadema né, que era uma cidade violenta, enfim.

Ana Fontes – Olha assim, eu tive uma infância difícil mas uma adolescência também com extrema dificuldade, trabalhando e tudo, mas até hoje a gente tem assim um círculo e uma quantidade de pessoas que a gente tem amizade que são quase familiares, a gente criou laços muito fortes com as pessoas, eu acho que a dificuldade que a gente teve foi tão forte que as pessoas se ajudavam, então vinha muita gente do Nordeste pra Diadema, então as pessoas se conheciam, acho que isso tem um fator muito importante. Claro, a cidade era extremamente violenta, a gente tinha muito medo de tudo, perdi a quantidade de vezes que a gente já foi assaltado, enfim, na época não era um processo fácil, falando assim desse jeito hoje parece que eu tô até de certa forma romantizando essa história mas não é, era uma cidade muito difícil, hoje é muito melhor porque não tá mais no ranking das cidades mais violentas do Brasil, minha família toda mora lá ainda, só eu e um irmão que moramos em São Paulo mas bem pertinho de Diadema, 15 minutos da casa da minha mãe, então assim tem essa questão dos laços que a gente criou com muita gente que ficou na vida da gente, mas tem sim essa coisa de viver numa cidade muito difícil, que faltava muita coisa, que não tinha acolhimento, eu falo pras pessoas sobre essa questão de estudar né, de ter faculdade, a perspectiva que a gente tinha na época era muito diferente, você não tinha programas de apoio como hoje tem FIES, PROUNI, enfim, e outras instituições que ajudam as pessoas que querem tentar buscar educação, mas na época não tinha então assim, era muito se virar, era muito tentar achar formas. Era muito sofrido, não era uma coisa gostosa, era muito sofrido, muito difícil e a gente tinha que lutar contra isso o tempo inteiro e numa época onde as coisas, as desigualdades não eram tão claras, não eram tão faladas, então você tinha um abismo gigantesco entre a nossa realidade e a realidade das pessoa que tinham condições. A minha mãe, durante um período muito grande trabalhou naquelas confecções do centro de São Paulo, que eles chamam de facções né, na época eram as nordestinas que trabalhavam lá, hoje são os bolivianos, então era um regime de trabalho, ela conta para gente, que trabalhava nos porões, que não tinha horário, então assim era uma coisa muito difícil, então eu tenho um senso de justiça talvez por causa disso mesmo, um senso de justiça que é mais forte do que eu sabe, de “Isso não tá certo, a pessoa tá sendo explorada, isso não é assim, isso é de outro jeito”, então acho que esse período acabou me moldando né e acabou mostrando pra mim o quanto que é importante a gente ter justiça social porque a gente não teve essa oportunidade naquela época, a gente vivia muitas vezes da bondade alheia né, de pessoas que ajudavam e não necessariamente de políticas públicas de inclusão ou coisa parecida, a gente vivia de vizinhos que ajudavam, de igrejas, de uma série de coisas, mas não de estruturas que fossem de verdade e quisessem ajudar as pessoas e incluir as pessoas, então acho que isso é bem importante.

Henrique de Moraes – Sim, com certeza, e não tenho dúvidas que ajudou a moldar né até o caminho que você trilhou com o Rede Mulher Empreendedora, acho que conecta tudo né, você olhando agora e você falando eu acho que faz total sentido que tenha se juntado isso tudo.

Ana Fontes – Total.

Henrique de Moraes – Com certeza. E como foi crescer com mais sete irmãos, como é que era essa dinâmica em casa?

Ana Fontes – Então, crescer com 7 irmãos eu brinco que é assim, nunca você vai se transformar numa pessoa individualista, porque nada era seu, mesmo que você comprasse uma coisa, então nada você tinha particular, nem quarto, nem momentos, nem produtos, eu brinco que nem shampoo a gente podia ter próprio, porque as coisas eram muito juntas né, tanto pela falta do recurso, do dinheiro quanto pela condição porque tava todo mundo ali junto o tempo inteiro. Tinham sim momentos bem difíceis, porque todo mundo trabalhava muito, cada um com seus sonhos, suas vontades, não era um processo fácil, mas a gente sempre foi muito unido e é até hoje assim, desses 8 irmão, minha mãe na verdade teve 10 filhos, desses 10 filhos dois morreram muito pequenos em Alagoas ainda, antes deles virem pra São Paulo e depois viemos em 8 pra São Paulo e de dez anos para cá, dois irmãos mais velhos meus faleceram por causas naturais, minha irmã mais velha faleceu de câncer e o meu irmão, na sequência dela teve um AVC, então assim, para gente sempre foi uma coisa muito de união, aquela coisa de família nordestina que grita, fala alto, todo mundo se mete um na vida do outro, um quer saber, quer ajudar, quer fazer, quer atrapalhar, eu brinco muito que eu sinto, agora na pandemia, eu sinto uma falta absurda porque todo domingo a gente vai todo mundo para casa da minha mãe e é uma confusão o tempo inteiro. Tem esse lado muito forte de você não ter individualidade, de você não ter, eu brinco que a gente não tinha um momento de silêncio nem para chorar, se você quisesse chorar não dava porque não dava tempo, mas ao mesmo  tempo também é esse lado de todo mundo ser junto, todo mundo ser próximo, todo mundo estar ali o tempo inteiro, até hoje nós somos muito unidos, isso me faz muito feliz e me deixa mais triste agora na pandemia que a gente não consegue se reunir.

Henrique de Moraes – É verdade, a pandemia, esse processo todo tem causado muito iso na gente, até de valorizar mais esses momentos, eu acho.

Ana Fontes – Sem dúvida

Henrique de Moraes – Aquela coisa de valorizar na perda né, mas enfim, acho que vai ser bom, de certa forma a gente vai tirar um aprendizado daí.

Ana Fontes – Com certeza, vai passar, eu falo assim “Vai passar, vai ser bom”, e a gente vai conseguir sair dessa.

Henrique de Moraes – Sim, com certeza. E me fala assim, da sua família, alguém também seguiu o caminho, eu sei que nem todos os seus irmãos fizeram faculdade, mas algum segiu o caminho de empreendedorismo também ou foi só você?

Ana Fontes – Não, na verdade assim eu tenho um irmão que é funcionário público, ele trabalha na Fundação Casa, trabalha com educação lá, ele é professor, eu tenho um irmão que é advogado, aí uma irmã é empreendedora desde sempre, ela é cabeleireira, foi a vida inteira, sempre foi empreendedora, trabalhou mas depois sempre empreendedora, eu tenho uma outra irmã que fez Relações Públicas mas trabalha com facilities há muitos anos e tenho um irmão que foi executivo durante muitos anos, C-Level de empresas mas há cinco anos resolveu empreender também, ele trabalha no varejo, ele tem uma franquia e tá aprendendo a ser empreendedor há 5 anos, eu brinco muito com ele porque eu tô há 13 anos nessa jornada e eu falo muito para ele “Olha, você vai ver a vida como ela é”, porque empreender não é uma tarefa fácil, mas na verdade eu falo muito que empreender não tem só a ver com abrir negócio né, eu acho meu pai e minha mãe super empreendedores, porque sair de uma região tão difícil, tão pequena pra uma cidade grande, pro desconhecido, porque na época não tinha né, nem internet, nem conexão nem nada disso, vir buscar emprego né, alugar um lugar numa cidade que você não conhece, viajar com tantos filhos pequenos né, para mim isso tem a ver com empreender, buscar caminhos né, buscar soluções para os problemas ou buscar formas de melhorar essa condição, então eu sempre vi na cabeça deles né, do meu pai e da minha mãe, sempre um caminho de solução. A minha mãe foi uma pessoa muito assim de “Ah, não vai ter comida pro jantar, vamos pensar o que a gente pode fazer”, “Vai lá naquela vizinha ver se ela pode emprestar um arroz”, “Ah vai lá no açougue ver se o cara consegue vender a carne pra pagar mesmo a gente tendo uma caderneta lá”, porque na época tinha essas coisas de caderneta, então com uma cabeça muito de solução, e pra mim empreender é isso, são pessoas que tem cabeça de solução, vão buscar as alternativas, e a vida inteira, não é romantizar, porque isso não era fácil, eu por exemplo quando ficava mais tempo com a minha mãe dentro de casa ainda pequena, eu achava esse negócio de ter que pedir as coisas, ter que ir no açougue falar, isso me incomodava muito, era uma coisa que deixava bem chateada, mas é na cabeça de solução, ela falava “Nós temos que dar um jeito”, “Nós temos que arrumar alternativas”, então acho que essa é a cabeça que eu tenho até hoje, de buscar alternativas, de buscar um jeito de fazer as coisas.

Henrique de Moraes – Eu concordo totalmente com você, com essa definição, e é uma coisa que até me chamou atenção que você fala que logo quando você começou o Rede Mulher Empreendedora, na verdade ele era um blog, que você tava dividindo com as pessoas a sua dificuldades, mas você não só dividiu as dificuldades, você colocou também as soluções, então acho que isso caracteriza um empreendedor, ele não para ali nos obstáculos, tem um livro que se chama “O obstáculo é o caminho”, que ele fala exatamente sobre isso o tempo inteiro, como toda vez que você encontrar, esbarrar num obstáculo como é que você faz, sempre tem uma forma, na verdade superar o obstáculo que é o caminho para você conseguir realizar alguma coisa né.

Ana Fontes –  Sem dúvida nenhuma, esse é o processo, acho que isso é muito importante. Eu vejo empreendedores olhando mais pro problema né, e muitas vezes concentrado “Ah, isso não dá, aquilo não dá, aquilo não vai fazer”, e para mim tem a ver com você buscar soluções, não é um processo fácil, não tô simplificando o processo porque acho que é uma jornada, empreender não é corrida de curta distância, é maratona com obstáculo, uma série de coisas envolvidas, a sua condição física, emocional, tudo isso, mas eu acho que é super possível né, esse olhar de “Vamos solucionar” eu acho que é o melhor caminho.

Henrique de Moraes – Sim. Esse podcast ele tem um nome que ele pode ter uma interpretação errada, o nome calma! na verdade ele vem muito inspirado numa frase que eu ouvi uma vez que dizia “Impaciência com ações e paciência com resultados”, que fala muito com esse romantismo do empreendedorismo, que hoje em dia é muito popular, e que as pessoas vêem apenas só os headlines e acham que a vida é fácil ou então até esquecem porque mesmo quando você vê o headline às vezes a pessoa passou, errou muito, passou por várias empresas, ou então passou por muitos momentos de dificuldade a gente tende a enxergar só o lado positivo né, só depois o momento da virada e fica esperando o nosso momento da virada, e uma coisa que eu brinco é que muitas vezes, e ouvindo outros empreendedores falando, não tem um momento que vira a chavinha, na verdade são vários pequenos momentos que você consegue virar uma pequena chavinha e só depois de anos você olha pra trás e fala “Nossa, eu virei um chavão”, mas foram em pequenas etapas né, que eu acho que as pessoas ficam muito esperando, acho que é isso, as pessoas ficam esperando essa virada que de repente vai mudar o mundo e você dominou tudo, e não existe isso, e por isso que eu gosto muito de voltar e entender um pouco dessa trajetória das pessoas que passam por aqui, porque eu acho que é muito importante, por exemplo, como você ter essa cabeça de solução e problema te ajudou com certeza a superar muitos desafios né, que provavelmente pessoas que tiveram, tô generalizando, mas de repente uma vida mais tranquila e que tiveram mais ajuda

Ana Fontes – Eu falo muito sobre isso Henrique, sobre a questão dos privilégios porque assim, teve uma vez que eu tive uma conversa com uma pessoa e ela falou assim “Ah, mas você quer dizer então que eu sou culpada por ter nascido numa família estruturada, por ter uma condição, por ter estudado numa escola particular, não tem que trabalhar até terminar minha faculdade?”, eu falei “Não, você não é culpada, você é uma pessoa privilegiada, você não precisa se sentir culpado com isso, o que você tem que fazer é ter consciência do seu privilégio e minimamente trabalhar para que outras pessoas tenham o mesmo acesso”, a gente tem que ter consciência das coisas, eu acho que esse é um caminho que a gente ainda tá trilhando, a gente tem uma falta de consciência de privilégio muito grande, e por isso que tem muito essas discussões. As pessoas não sabem, a maioria das pessoas não sabem que o Brasil é um dos 10 países mais desiguais do planeta, onde você tem uma concentração de riqueza na mão de poucos e uma quantidade de pessoas sem acesso, muito pobre muito grande, então assim não é normal, e esse tipo de coisa não perdura, não dá né, porque as pessoas não conseguem viver né nesse modelo, de poucos tendo acesso à muita coisa e de muitos não tendo acesso à quase nada, então acho que é isso.

Henrique de Moraes – Deixa eu te fazer uma pergunta então Ana, a gente tem também uma cultura né, mundialmente falando, do sucesso ser muito ligado ao sucesso financeiro na verdade, as pessoas não separam tanto outros tipos de sucesso que você pode ter, e às vezes nem valorizam né, valorizam só a pessoa que ficou milionária, bilionária, tudo isso às vezes é o que mais importa, estar na mídia, e eu queria entender assim para você o que é ser bem sucedido, essa palavrinha que é tão capciosa né?

Ana Fontes – É uma palavra super capciosa. Na minha visão Henrique, a visão do sucesso é muito individual, é muito particular. Eu conheço gente se sente uma pessoa de sucesso com, na visão de outra pessoa, com muito pouco, tendo um emprego, recebendo seu salário, tendo carteira assinada, conseguindo minimamente sustentar a família e tendo uma condição mínima ali para que na visão de outras pessoas é uma condição mínima de sobrevivência, mas que a pessoa tá super bem, e ao mesmo tempo eu vejo gente que o sucesso é ter uma empresa mundialmente conhecida, ser reconhecido por ter um negócio gigante, ter milhares de funcionários, é uma medida muito individual. O problema hoje é que, o fato da internet, redes sociais, parece meio piegas o que eu vou falar, mas é assim, as pessoas medem o sucesso delas pelo sucesso dos outros, e isso que eu acho que é muito ruim, eu não posso medir meu sucesso pela sua régua ou pela régua de outra pessoa, então as redes sociais exploram muito isso né, as pessoas olham o Instagram do outro e acham que a pessoa é super maravilhosa, feliz e que aquilo é uma medida de sucesso, e não necessariamente né, tem gente, eu faço uma brincadeira assim, “você queria ser o Bill Gates ou queria ser o Paul Allen?”, que era o sócio do Bill Gates que ninguém praticamente conhecia, então assim, é uma medida muito específica, é muito de cada um, então eu acho que não dá para você falar que tem fórmula de sucesso e sucesso é ter dinheiro ou ter visibilidade, ou ter poder, porque pra muitas pessoas não é nem ter dinheiro, eu conheço gente que é rica mas que tem uma vontade absurda de ter visibilidade, porque é muito vaidosa né, então para ela o dinheiro não fez a diferença, o que essa pessoa quer é visibilidade. Tem pessoas que tem muita visibilidade e quer poder, então por isso que eu falo, é uma combinação muito individual, uma combinação muito específica e não acho que dá pra gente ter uma régua, uma fórmula para todo mundo, eu acho que cada um tem que encarar isso, tem muito a ver com autoconhecimento, a gente entender o que nos move, o que nos faz feliz, o que faz sentido para você. Outro dia numa roda de amigos, antes da pandemia, alguém falou assim “Ah, eu tô feliz porque eu consigo viajar duas vezes por ano, minha família mora numa casa bacana”, e tá tudo bem, aquela é a medida de sucesso daquela pessoa, e tá tudo bem, não dá pra gente julgar, pra outras pessoas a medida de sucesso é diferente, então acho que é muito relativo.

Henrique de Moraes – Sim, concordo, a parte do autoconhecimento é a chave né, eu trabalhei com um juiz federal que ele dá muita palestra, chamado William Douglas, e ele uma vez, ele contava uma história, ouvi algumas vezes na verdade essa história nas palestras dele que era, ele tava com um problema de saúde e precisava fazer algum exercício e ele escolheu correr, e depois que ele começou a correr ele se apaixonou pela corrida e resolveu botar como meta correr uma maratona, e aí quando ele conta essa história ele fala “Adivinha em que posição eu cheguei?”, e ele chegou em penúltimo lugar, alguma coisa assim né, e aí todo mundo dá risada né e ele fala assim “Vocês tão rindo porque? Alguém já correu uma maratona aqui?”, e aí pouquíssima gente levanta a mão né, e ele fala “Então, tô na frente de todo mundo”

Ana Fontes – É isso, é tudo uma questão de perspectiva, de você avaliar o que faz sentido pra você, eu por exemplo nunca uma maratona e nem uma corrida de 5km

Henrique de Moraes – Pois é, eu sempre lembro dessa história e tento colocar isso na cabeça né porque às vezes é difícil, realmente, às vezes você potencializa né, fica olhando ali o palco das pessoas e fica insatisfeito com seus bastidores né, e que muitas vezes nem é tão verdadeiro aquele palco ali né, então é de fato um palco, a pessoa tá atuando ali, mas também de lembrar que assim, valorizar o caminho que você já percorreu e não ficar se comparando e mais olhando o quanto você caminhou, acho que esse é o caminho.

Ana Fontes – Não, e eu acho super importante isso Henrique, tem uma questão que eu acho que a gente precisa muito trabalhar aqui no Brasil que é a questão da gente aprender a lidar com as falhas, a gente tem muita dificuldade de lidar com as falhas, principalmente as pessoas que empreendem né, porque empreender ou fazer coisas é sempre um processo de tentativa e erro, e assim, na minha jornada é muito curioso quando às vezes eu tento, eu falo das minhas falhas e as pessoas falam assim “Você não tem vergonha de falar?”, eu falo “Não, nenhuma, muito pelo contrário eu acho que as minhas falhas me fizeram chegar aonde eu tô hoje e elas fazem parte da minha jornada né e não tem problema”, a gente associa muito a falha assim, “Ah a pessoa fracassou”, essa é uma cultura nossa, do Brasil, isso é diferente em outras culturas. Eu acho que a gente tem muito que trabalhar isso, de falar sobre as coisas que deram errado também, pras pessoas conseguirem incorporar isso

Henrique de Moraes – E assim, não falar só em eventos ou situações em que isso seja de certa forma romantizada, porque também acontece isso, mas falar de peito aberto, por exemplo eu brinco muito que o LinkedIn é o, todas as redes sociais são redes sociais que são basicamente você só botar vitórias né, mas como a gente tá falando aqui de empreendedorismo, o LinkedIn ele tá mais linkado, tá mais vinculado eu acho, e esses dias eu tava refletindo sobre o tipo de conteúdo que as pessoas geram né, que normalmente tudo que a gente faz causa ansiedade nos outros, se a gente reclama de estar ansioso, mas a gente faz a mesma coisa porque se a gente só coloca as vitórias, e aí eu postei umas fotos de uma “palestra” que eu dei num evento que eu fui participar, e aí depois eu fiquei “Cara, o que que eu falar que participei de uma palestra acrescentou na vida de alguém?”, sabe, nada, a única coisa vai ser alguém pensar “Pô, o Henrique tá dando palestra e eu não tô”, talvez tenha tido só efeito negativo e falei assim “Cara, se de repente eu tivesse pelo menos tirado o conteúdo da palestra, colocado ali”, mas eu só falei “Olha, tive o prazer de dar uma palestra aqui e tal”, cara, isso não acrescentou em nada pra ninguém, e a gente tem muito esse hábito de ficar o tempo inteiro só colocando as vitórias e não perceber que isso tá fazendo mal pra alguém, que de repente tá vendo ali e tá falando “Pô, meu caminho tá ruim, tá diferente”, eu acho que é um cuidado que é difícil de ter, não vou mentir, é muito difícil você conseguir ficar tão atento mas é importante, porque se a gente conseguisse usar as redes sociais mais para gerar valor, para gerar conteúdo de fato, talvez não tivesse tanto esse efeito negativo né, das pessoas ficarem sempre ansiosas e gerar um questionamento ali pessoal se tá seguindo o caminho certo.

Ana Fontes – É verdade

Henrique de Moraes – E deixa eu te fazer uma pergunta Ana, falando de empreendedorismo né, o que você acha hoje mais importante, acho que mais importante é uma pergunta ruim, mas eu vou falar aqui e depois eu vou de repente melhorar essa pergunta, mas entre a pessoa desenvolver hard ou soft skills, por exemplo, você acha que, vamos botar assim, numa timeline empreendedora, o que no início é melhor a pessoa ter e o que é melhor ela ir desenvolvendo ao longo do tempo entre hard e soft skills, eu sei que é bom ter equilíbrio, mas eu acho que tem momentos em que uma coisa é mais importante, depois outra vai mudando, não sei se você tem essa mesma visão?

Ana Fontes – Eu tenho essa mesma visão, eu acho que é mais importante, eu acho não, eu tenho convicção, que é mais importante você desenvolver primeiro as habilidades socioemocionais pra ter as soft skills, pra depois você desenvolver as habilidades ferramentais, ou hard skills. Porque eu falo isso? Porque na verdade assim, eu vejo muitas pessoas, muitos empreendedores e empreendedoras com muita dificuldade de lidar com o fracasso, de lidar com os desafios, de lidar com a jornada empreendedora, e eu acho que quanto mais você tá fortalecido, quanto mais você tá com clareza da sua situação emocional, não é que é mais fácil, mas é mais equilibrado pra você lidar com isso. Eu vejo muita gente assim com problemas de saúde emocional mesmo, que não tá conseguindo lidar, que olha pra outras pessoas e pra outros negócio e fala “Poxa, só o meu que não dá certo, só o meu não funciona isso, eu deveria ir por esse caminho e não por outro”, porque eu acho que as hards skills é mais fácil você aprender, não tô falando que é simples, mas é mais fácil de você aprender, mas as soft skills é tão necessário, na verdade para mim ela é um pré-requisito para você trabalhar as hard skills, quando a gente trabalha qualquer programa na Rede Mulher Empreendedora, a gente foca sempre primeiro em trabalhar as habilidades socioemocionais, a pessoa saber lidar com as suas dificuldades, com o seu comportamento, saber lidar com as frustrações, porque são muitas né, não só na jornada empreendedora, em qualquer jornada, mas são muitas as frustrações e quanto melhor a gente aprende a lidar com isso acho que é mais fácil o caminho, ou menos difícil vamos assim dizer, então para mim, na minha visão primeiro soft skills depois hard skills.

Henrique de Moraes – Perfeito, concordo totalmente, também iria por esse caminho. Falando aqui um pouco dos dados né que eu vi da Rede Mulher Empreendedora, primeiro assim, são mais de 500 mil mulheres, é isso né?

Ana Fontes – Hoje nós temos quase 750 mil

Henrique de Azevedo – 750 mil? Cara, é impressionante, isso eu posso colocar numa caixinha aqui de bem sucedido, pelo menos em um aspecto é, ajudar tanta gente não tem como não colocar nessa caixinha, mas eu vi que tem alguns dados assim interessantes que você divide né na sua fala que metade dos pequenos negócios no Brasil são abertos e liderados, mais da metade né, por mulheres, que as mulheres empreendem buscando flexibilidade né, por conta da questão da maternidade, especialmente, mas tem um dado aqui que é muito curioso, que eu ouvi em algum lugar, que você fala que quando as mulheres alcançam um certo tamanho de faturamento, ali perto de 1 milhão, algumas delas abandonam seus companheiros.

Ana Fontes – Isso é um dado, de verdade

Henrique de Moraes – E eu achei isso muito engraçado, na verdade assim, eu puxei essa informação não pra ir pro lado engraçado da coisa, mas porque eu sei que houve uma história né, de uma empreendedora que agradeceu pelo seu trabalho, enfim, parece que depois de descobrir o empreendedorismo feminino ela pôde se divorciar do marido, e você ficou preocupada e foi tentar entender um pouco mais da história dela, e ela tava numa situação complicada, eu queria que você falasse um pouquinho sobre essa história, se você puder, tem como?

Ana Fontes – Super posso falar, eu acho que tem uma questão muito forte de construção social nessas histórias né, a gente tem uma construção social de que o lugar das mulheres não é o lugar dos negócios, não é o lugar do ambiente de poder e infelizmente essa construção social é algo muito forte, e tem muitos companheiros que não sabem lidar com o sucesso das mulheres, que não conseguem lidar com essa visibilidade, com esse sucesso. A gente teve casos na Rede de empreendedoras que nós demos visibilidade pro negócio, nós ajudamos a ter mais clientes, indicamos pra matérias, e teve caso de empreendedora falar pra gente “Olha, não me indica mais pra nada porque meu marido não tá sabendo lidar com a minha visibilidade, ele tá super incomodado e eu prefiro manter o meu casamento porque isso é importante pra mim”, tô dando um exemplo, é bem duro, construção social é algo bem forte, a gente tem outros casos como esse em que as mulheres atingem um certo patamar sucesso né, o negócio começa a faturar um valor bacana e os companheiros ou não seguram a onda desse sucesso ou ela mesmo percebe que não tá jogando no mesmo lugar, não tá jogando no time ou que ele não tá sendo parceiro e não tá apoiando e acabam se separando desses companheiros, o que é uma coisa também muito ruim. E uma terceira situação que a gente vê com bastante frequência também são aquelas mulheres cujos negócios começam a faturar, sucesso mesmo, 4 milhões, 5 milhões por ano, e o negócio começa a ir bem, e os companheiros saem do trabalho deles né, se desligam do trabalho deles e vem para o negócio da mulher para poder trabalhar junto com ela ou estar junto com ela, só que na verdade ele tira ela da frente do negócio e passa ele a dar as cartas no negócio, então esse é um outro movimento também, por isso que eu falo que construção social é algo muito sério pra gente trabalhar, a gente entender o quanto é difícil você mudar uma cultura né, que é uma cultura machista, que é uma cultura de que lugar de mulher é dentro de casa, lugar de mulher é com a família, nós estamos em 2020, a gente ouve isso. Essa semana eu vi um post absurdo de uma pessoa que eu conheço mas eu não tive nem coragem de entrar no post, enaltecendo as esposas que ajudaram os maridos a terem carreiras de sucesso, eu falei “Meu Deus do céu como assim, nós estamos 2020, que diabo é isso?” então assim, nós precisamos mudar esse modelo de construção social porque ele impacta em tudo, impacta nos negócios, na carreira, impacta na situação de autoestima das mulheres, em tudo isso né, então o que a gente vem fazendo com esses casos é mostrando muito claramente que cabe a mulher decidir, o lugar de mulher é onde ela quiser, se ela quiser ficar em casa ela pode ficar em casa, se ela quiser trabalhar e ser uma mega executiva ela pode, se ela quiser ser empreendedora, enfim, o que a gente quer mostrar é que ela não precisa fazer algo porque a sociedade impõe, ela precisa fazer porque ela tem vontade, porque ela quer e aquilo a faz feliz, então isso é muito importante, mas mudar isso não é fácil Henrique, é um processo.

Henrique de Moraes – Com certeza, é engraçado, aqui falando uma coisa bem pessoal, mas no início da quarentena, no início não mas ao longo da quarentena, eu e minha esposa a gente tem uma filhinha né, que fez 1 ano agora, então a quarentena começou ela tava com poucos meses né, e a gente teve que começar a se organizar pra, como a gente não tinha ajuda né em casa, não tinha ninguém pra ficar, mãe, parente, enfim, a gente teve que começar a se virar e cada um dividir né, a gente dividiu o tempo da gente, e teve um momento em que ela, a gente começou a tentar encontrar um meio termo ali onde eu conseguisse trabalhar e ela pudesse fazer as coisas dela, porque ela trabalha comigo, mas ela também tava estudando, tá estudando na verdade né, e assim, é engraçado, como é de fato uma construção social porque na minha cabeça a princípio, a primeira coisa que eu pensei e sendo totalmente transparente aqui foi que assim, eu tava trabalhando e ela tava querendo estudar sabe, eu falei como se uma coisa fosse mais importante que a outra né, de certa forma, e depois a gente conversando eu percebi que não, ela estudar e fazer as coisas dela, a gente tinha que equilibrar o tempo para cada um ter metade do tempo pelo menos né, esse seria o ideal, porque não tem um tempo que é mais importante do que o outro, e até eu entender e começar a chegar nessa linha de raciocínio foi difícil porque é isso, a gente tem essa construção e acha que porque tá trabalhando você tem a coisa de colocar o dinheiro em casa e tudo mais, e não tem nada.

Ana Fontes – Exatamente esse o ponto e assim, não é, você contando essa sua história é muito interessante porque o que a gente tem falado muito é que a gente tem que falar essas coisas, falar dessas construções sociais, porque não é porque você pensou assim que você é uma pessoa ruim, não, é porque a construção social é essa, mostra que o tempo de trabalho é teoricamente tempo dos homens né e o tempo da mulher é o tempo do cuidado. A gente tem que trazer isso sempre pra consciência, falar sobre isso porque é assim que a gente consegue chegar no equilíbrio né, eu acho que o desafio é chegar no equilíbrio, as pessoas falam muito de “Ah, vamos deixar a nossa sociedade uma sociedade melhor, as mulheres precisam disso, as mulheres precisam daquilo, e eu mesmo defendo a questão da inclusão e do respeito aos direitos das mulheres” e é importante a gente falar que a gente não tá buscando supremacia né, a gente tá buscando uma questão de um equilíbrio né, de direitos iguais, se a mulher veio para o ambiente de trabalho né, a gente veio para o território do trabalho, do negócio, enfim, então a gente tem que ter esse equilíbrio, senão a gente vai juntando várias, e aí eu vejo diariamente dezenas de mulheres com uma situação de ansiedade e de stress absurdo porque não tão conseguindo né.

Henrique de Moraes – A gente tem tempo pra duas perguntas?

Ana Fontes – Temos, temos

Henrique de Moraes – Perfeito, maravilha. Uma é uma pergunta que o pessoal gosta muito, que é das perguntas do final, a única que eu vou mantes que é qual foi o livro, aí você pode falar mais de um livro, dois ou três, que mais impactaram sua vida e porque? Se tiver alguma recomendação, as pessoas gostam de saber

Ana Fontes – Eu vou falar de uma coisa muito curiosa, eu aprendi a gostar de ler Henrique através de coisas que são muito mal vistas, que eu sou uma pessoa de 54 anos, então sou um pouco mais velha, então eu aprendi o gosto pela leitura lendo fotonovela, que ninguém sabe o que é, e lendo umas histórias românticas de umas revistinhas que chamavam Bárbara, Sabrine e Bianca, que era um tipo de revistinha de histórias românticas, nem sei se existe ainda. Porque eu gosto de falar isso? Porque eu acho que é importante as pessoas, cada uma ter o seu modelo de como você adquire esse gosto pela leitura sabe, porque pra mim foi muito importante, e foi um processo evolutivo, depois eu virei, na época tinha clube do livro e eu virei sócia do clube do livro, sempre gostei não sei porque, sempre gostei muito de livros de tramas policiais, eu lia muito Agatha Christie e Harry Robbins, criando um processo evolutivo na minha leitura, então eu gosto muito, acho que é bem importante, mas livros que marcaram muito depois desse processo evolutivo, livros que marcaram muito a minha jornada, eu gosto muito de livros mais atuais como da Djamila Ribeiro, o “Quem tem medo do feminismo negro?”, “Pequeno manual anti racista”, o livro do Silvio que esteve no Roda Viva recentemente também super importante, acho que é fundamental a gente falar, eu gosto muito de falar de economia de colaboração então eu estudei lá atrás há uns 10 anos, 10 não,12 anos, e foi o motivo da criação da Rede, o jeito como eu criei a Rede, é Augusto de Franco, não sei se a maioria das pessoas conhece, ele fala sobre redes distribuídas, então um cara incrível que eu acho que a maioria das pessoas não conhecem e ele falava sobre redes distribuídas há 13 anos, então é um cara muito incrível, que eu gosto muito, comecei a ler sobre ele, ler sobre os conceitos que ele falava de colaboração há 13 anos atrás, e isso realmente mudou minha cabeça, minha visão que eu tenho de como a gente deve olhar as coisas. Atualmente eu tenho lido sobre “Como Ser Um Líder Inclusivo”, que é da Liliane Rocha que é super bacana, eu vou lendo várias coisas ao mesmo tempo, então é uma confusão. Tem um outro livro também que eu tô começando a ler que se chama “Propostas para uma economia feminina”, enfim, tem várias coisas eu acho que é muito importante na minha trajetória sempre foi muito importante ter acesso à informação sobre inclusão, diversidade, sobre como você ter uma sociedade mais justa, leio muito Angela Davis, acho que todo mundo deveria ler mesmo as pessoas que não têm como causa a questão do anti-racismo mas eu acho que todo mundo deveria ter isso como causa, acho que é importante, enfim acho que é isso.

Henrique de Moraes – Legal, tá ótimo. Então, por último, se você pudesse falar para o seu eu, aí você pode se levar pra qualquer momento da sua vida, eu falo aqui de 10, 15 anos atrás porque normalmente assim tem esses períodos de 10 anos, 15 anos, mas você pode voltar aí para o período que seja mais adequado para você, o que você diria pra esse seu eu do passado ter mais calma?

Ana Fontes – Nossa senhora, que pergunta boa. Eu diria assim, tenha paciência, as coisas vão dar certo, nossa difícil essa pergunta, eu diria também pra olhar mais pra você, olhar mais pra ter mais cuidado né, ter mais autocuidado, acho que isso é bem importante, eu sempre fui uma pessoa de olhar muito para os outros e muitas vezes me deixar no segundo plano, então dar uma priorizada mais no autocuidado, acho que isso é importante.

Henrique de Moraes – Perfeito. Se você puder, só deixa aqui onde as pessoas podem te encontrar, onde as pessoas podem encontrar a Rede Mulher Empreendedora e como vocês podem ajudar elas, as mulheres que estão ouvindo esse podcast e homens também né porque eu sei que vocês tem um percentual de homens lá.

Ana Fontes – Sim, temos um percentual de homens. Eu, Ana Fontes estou em todas as redes sociais como @anafontesbr, então você me acha no Instagram, Facebook, LinkedIn, Twitter, tudo como @anafontesbr. A Rede Mulher Empreendedora, você encontra em todas as redes sociais como Rede Mulher Empreendedora ou como RME, que a gente simplifica o acesso, a gente tá em todos os canais, pra você fazer parte entra no site, se cadastra, a gente tem hoje uma série de programas, capacitação, agora quase tudo online a gente não tá fazendo nada presencial, mas desde capacitação, mentoria, workshop, oficinas, acompanhamento de negócios, a gente tem uma quantidade de conteúdo incrível no nosso canal do YouTube também pra ajudar quem tem seus pequenos negócios e pra quem tá pensando em empreender, então é só acessar nossos canais, procurar a gente, se cadastrar e fazer parte.

Henrique de Moraes – Perfeito. Ana, muito obrigado, foi de fato um ultra prazer bater esse papo com você, fiquei muito feliz que a gente tenha conseguido aí juntar as agendas, foi um prazer muito obrigado pelo seu tempo

Ana Fontes – Nossa obrigada Henrique, foi uma honra poder conversar com você, adorei o papo, bem bacana, bem diferente, acho que foi o primeiro papo que eu tive com uma visão bem diferente da minha trajetória, gostei muito, obrigada

Henrique de Moraes – De nada, vamos ver se a gente consegue de repente marcar um segundo round aí mais pra frente e aí a gente passa pelas outras perguntas, eu tinha tanta coisa pra falar, a gente marca um segundo round aí pra depois da pandemia de repente

Ana Fontes – Com certeza

Henrique de Moraes – Obrigado Ana Ana Fontes – Obrigada

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