Rique é músico, cantor, compositor e produtor musical. entre seus hits estão “Dig Dig Joy” e “Desperdiçou”, duas músicas que ficaram super famosas na voz da dupla Sandy & Júnior.

no bate-papo falamos sobre diversos assuntos: sua carreira como jogador de futebol de salão e o porquê da mudança para a música; sua trajetória como artista, passando pela banda Código B e chegando no Little Nation, um projeto lindo que recomendo que você busque na sua plataforma de streaming preferida; uma experiência transformadora num show do Jota Quest; paternidade e muito mais.

o Rique é um cara incrível com muita história boa! e esse foi um papo daqueles que poderia ter varado a madrugada. tenho certeza que vai rolar um segundo episódio com ele.

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Saulo von Seehausen
  • Gustavo Mota
  • Fabi Bang
  • Leandro Bronze
  • Zezé Di Camargo 
  • Leandro e Leonardo
  • Júlio César Figueiredo
  • Rogério Flausino
  • Sandy e Júnior
  • Liah
  • Dani Monaco
  • Clara Valverde
  • Samille Joker
  • João Bustamante
  • Selton Mello
  • Larry Mullen Jr
  • Slash
  • Steve Jobs
FRASES E CITAÇÕES
  • “Nunca esqueça de olhar para dentro de você” – Rique

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Fala Rique, seja muito bem vindo ao calma!, tô super animado pro nosso bate-papo, você foi citado no primeiro episódio aqui do podcast, não foi pouca coisa porque só para contextualizar aqui pra quem estiver passando aqui pela primeira vez, no primeiro episódio do calma! eu conversei com o Saulo von Seehausen que também é conhecido como “O Saudade”, que é o nome do projeto lindão dele que inclusive eu recomendo que todo mundo busque aí nas plataformas e ele te colocou como uma das pessoas que ele mais admira e acho que é uma responsabilidade grande estar nesse papel aí

Rique Azevedo – Eu ouvi, ouvi o podcast fiquei até emocionado, o Saulo é um cara muito especial né, uma artista totalmente espontâneo assim, um cara que sente a música dele, um cara que tem uma facilidade muito grande de compor, de se comunicar através da música dele, eu fiquei realmente muito feliz é um amigão que eu ganhei, irmão mesmo que a gente começou a trabalhar juntos e como eu sempre gosto de trabalhar muito o lado humano também durante as produções musicais acabou que a gente ficou muito próximo, muito amigo mesmo, fiquei muito feliz com esse episódio aí, escutei e muito legal.

Henrique de Moraes – Legal cara, eu acho que assim, com essa chancela também né acho que não tinha nem como você não participar aqui do podcast né, então obrigado por ter topado cara.

Rique Azevedo – Eu que agradeço, tô super feliz aí com o convite, vai ser um prazer cara.

Henrique de Moraes – Maravilha, eu vou começar fazendo uma pergunta e, na verdade vou contextualizar que é o seguinte, eu tava vendo um perfil no Instagram que cara, eu caí no chão de tanto rir assim, e também era de uma fofura incrível, e o @ dele é @isabelbang_oficial, te lembra alguma coisa?

Rique Azevedo – Maravilhosa, maravilhosa, essa é uma brincadeira da minha esposa, minha esposa é a Fabi Bang, ela é uma atriz conhecida de Teatro Musical e a nossa filha se chama Isabel Bang de Azevedo, e como a Fabi se comunica muito no Instagram, logo que a Isabel nasceu ela já criou, @isabelbang_oficial, e aí ela se comunica por lá, com legendas super engraçadas, então é muito bacana que você foi até lá ver.

Henrique de Moraes – Pô, quem me falou foi o Leandro Bronze, você deve conhecer

Rique Azevedo – Leandro, queridíssimo

Henrique de Moraes – Pois é, ele falou “Cara vai lá procura o Instagram que é muito engraçado” e aí depois coincidentemente tava conversando com o Saulo e ele falou assim “Ah o Rick, o primeiro show da filha dele foi um show do Saudade com o Bronze”

Rique Azevedo – Exatamente, exatamente, foi um show maravilhoso que eu fui. Cara, e foi a primeira vez que eu saí com a minha filha assim né, minha filha hoje tá com 1 ano e 3 meses mas eu acho que ela tava com sei lá, 8 meses, e a minha esposa assim super em cima ali “Não, não vai sair com ela”, eu falei “Não, vou no show do Saulo, pô quero ir no show do Saulo, acho que vai ser bom pra Isabel ir comigo, vai ser legal”, e eu fui, cara ela ficou hipnotizada no show, acabou que no meio eu esqueci de atender o celular, minha esposa começou a me ligar falando “O que tá acontecendo? Tá demorando”, na hora que eu vi falei “Nossa cara, ela vai ficar puta”, e aí eu cheguei e não deu outra né, tomei aquela bronca mas foi por um ótimo motivo, foi um show inesquecível e a Isabel não piscava e aquilo fez muito bem pra gente assim, foi uma coisa muito bonita

Henrique de Moraes – Cara, muito legal a sua história e é muito engraçado porque eu tava nesse show, eu vi você com a sua filha, você tava no sofá lá brincando com ela e eu achei muito bonitinho porque eu tenho uma filha que tá agora com 12 anos e eu acabei de ter uma pequenininha, tá com 10 meses e eu não se na época do show, não tenho certeza, se a minha esposa já tava grávida ou não mas eu lembro que eu fiquei olhando vocês brincando e tudo mais achando o máximo e o Leandro Bronze, que é um dos meus melhores amigos né da infância, e ele sempre falava sobre esse dia e falava sobre vocês, e sem eu saber quem era, ele sempre falava “Cara, um amigo do Saulo que tava lá com a filhinha, você tem que ser assim também, você tem que levar a Alice pros shows”

Rique Azevedo – Que legal, o Leandro é um queridaço né cara, puta merda. Que galera boa que eu conheci né, eu conheci o Saulo, na época eu tava, a gente conheceu cara fora do ambiente de estúdio e produção musical assim, ele tava pela BMG numa feira, numa convenção musical e eu tava também desenvolvendo a minha produtora na época e eu fui, e a gente foi apresentado assim, cara mas rolou uma afinidade imediata e aí a gente saiu daquele ambiente um pouco corporativo, na hora que a gente entrou em estúdio juntos rolou, parecia que a gente se conhecia há muito tempo né, e através do Saulo veio o Leandro, agora vem você, então é muito bom esses contatos aí de pessoas bacanas cara

Henrique de Moraes – Verdade cara, verdade. Tomara que dê tempo dessa loucura acabar e

Rique Azevedo – Vai acabar, vai acabar.

Henrique de Moraes – É, eu tô me mudando né, eu e minha esposa a gente está se mudando para Portugal, mas eu queria muito visitar São Paulo mais uma vez antes de viajar, não que depois eu não vá conseguir visitar né, lógico que vou conseguir mas é mais difícil porque depois tem que visitar os familiares, tem que ir no Rio essas coisas, outros compromissos e eu gosto muito de São Paulo eu tô com saudade das pessoas, eu tenho um amigão o dono do lugar lá onde o Saulo fez o show é um dos meus melhores amigos de infância, então tá rolando uma saudade aí de visitar, se der tempo eu visito e a gente marca de tomar uma Amarula com cerveja. Cara, vamos começar então a falar um pouco sobre a sua carreira porque eu ouvi várias coisas interessantes e eu quero ter tempo de explorar tudo. Antes de ser artista né, de começar a trabalhar ou como artista ou como produtor, você queria ser jogador de futebol de salão, fala um pouco sobre isso cara, como é que isso entrou na sua vida, foi até que idade e como você fez essa transição também né?

Rique Azevedo – Então, o futebol na verdade foi minha primeira paixão até antes da música, eu sempre gostei de jogar futebol, meu pai me levava em estádio pra assistir futebol e eu sempre curti muito aquele ambiente e tinha facilidade, isso me despertou eu era muito assim, com 6,7 anos eu já jogava na rua e me destacava e as pessoas me chamaram para jogar com os maiores, eu era da turma dos “pivetes” como eles chamavam e tinham os veteranos né, que eram os moleques de 11 anos, 12, e aí eles me chamavam para jogar e eu sempre tive essa facilidade com o futebol e aquilo foi me levando, eu pedia pro meu pai, e meu foi um grande produtor musical aqui em São Paulo, meu pai vivia em estúdio e na nossa casa eu sempre tive acesso a essa coisa da música mas o futebol era a grande paixão, eu jogava futebol na rua e era o dia inteiro futebol, e foi até 19 anos cara, eu comecei assim, eu entrei em time federado, comecei jogando no Nacional aqui em São Paulo né, um clube, e comecei a disputar depois eu fui pro Palmeiras, e aí joguei no Palmeiras dos meus 13 até 18 anos, e aí era um corinthiano fanático jogando no Palmeiras futebol de salão mas tudo bem, e aí o futebol começou a ficar muito sério só que aí veio a minha grande paixão pela música. Nesse mesmo período que eu tava jogando futebol e treinava e jogava, ganhava bolsa de estudo para jogar futebol, porque tinha um campeonato aqui em São Paulo chamado “Copa Dan’up – Jovem Pan”, e eram campeonatos intercolegiais e aí tinha um colégio Objetivo né, alguns colégios chamavam jogadores que eram federados, que jogavam nos clubes, pra participar dos times da escola, era muito legal e aí eu ganhava uma bolsa de estudo para estudar e para jogar pelo Objetivo, isso foi até 19 anos, com 19 anos a música bateu muito forte para mim e o futebol me cansou, eu tava assim no segundo ano de um juvenil, faltava mais um ano para eu profissionalizar no futebol de salão, e aí foi um baque asim essa minha decisão porque apesar do meu pai ser músico e eu também ter muita facilidade com a música já desde 12, 13 anos e sempre gostava da música mas o futebol eu tava levando como sendo um caminho natural, mas aí a música bateu muito forte e eu cansei do futebol e resolvi migrar totalmente pra música, eu lembro até na época que meu pai ficou chateado para caramba cara apesar do meu pai ser músico ele tava vendo que eu tinha um caminho, meu pai adorava aquele ritual de me assistir jogando, e ele falou assim “Ah filho, pensa direitinho, continua, você tá indo bem”, e eu falei “Não pai, eu quero ser músico, sou artista” e meu pai quando ele viu que não tinha mais jeito ele falou assim “Então tá bom meu filho, mas você tem que estudar tá? Estuda bastante, seja um músico, seja um artista mas estude” aí eu nunca estudei tanto na vida porque até então eu me considerava um aluno que ia para escola para jogar bola né, e passava de ano sempre no limite máximo, tirava notas assim em cima da meta de passar de ano.

Henrique de Moraes – Conheço esse sentimento

Rique Azevedo – Exatamente, quando meu pai falou isso para mim “Você tem que estudar” eu falei “Cara”, e aí eu mergulhei na música e eu percebi que eu amava estudar aquilo que eu amava fazer, então o problema não era com o estudo né, o problema era com o interesse que eu tinha e estudar música era um prazer e eu mergulhei, aí fiquei uns 6, 7 anos estudando tudo que eu podia estudar dentro da música, fiz faculdade violão clássico, fiz aula particular de tudo quanto era, harmonia, produção musical e era um momento, esse momento, a tecnologia na música tava começando com tudo então os estúdios né os home studios, estúdios em casa já começaram a fazer parte assim de um ambiente um pouco mais normal né, a música. Ter um estúdio dentro de um computador era o início de tudo isso então eu me interessei muito por esse assunto e foi muito bom pra mim porque isso me ajuda muito até hoje no meu trabalho de produção musical.

Henrique de Moraes – Legal cara, muito legal porque tinham algumas coisas que eu queria bater com você e que você já falou um pouco sobre e que trouxe já na verdade uma perspectiva bem diferente do que eu imaginava né, que primeiro o seu pai ele te incentivava pra jogar futebol porque assim, se você parar pra pensar, se você for olhar pra uma família né mais tradicional, provavelmente a sua não era mas futebol e música são dois caminhos muito alternativos e que os pais geralmente ficariam loucos com qualquer um dos dois né, e o seu pai te apoiava no futebol, isso é muito interessante mas o mais importante disso que você falou, pra mim é a coisa do estudo porque assim, futebol ele é um esporte como qualquer esporte na verdade, ele requer muita disciplina, muito treino, você tem que estar lá nos dias certos, enfim, é um esforço de disciplina e a música, muitas pessoas tem a sensação de que ela é um hobby, um alívio só, inclusive músicos, não digo nem só quem enxerga de fora, eu conheço músicos que encaram a música como um momento de relaxamento e não como trabalho às vezes embora elas vivam daquilo, e você na verdade encarou como trabalho mesmo, você foi lá e mergulhou, estudou e teve a mesma disciplina talvez que você tinha no futebol você conseguiu colocar na música.

Rique Azevedo – Exato, mas aí eu acho que é uma coisa um pouco de personalidade assim, eu sempre levei muito a sério então, eu sempre fui muito competitivo, desde o início tive essa experiência com o futebol e não era um futebol de brincadeira, era um futebol de clube, de campeonato, disputando título, então já era uma responsabilidade muito grande, a brincadeira do futebol era quando eu era muito criança na rua, mas com 11 anos eu já comecei a entrar no processo competitivo, e aí acho que migrar para música que também foi uma paixão que me pegou muito na minha época de adolescente de 14, de 15 eu vivi aquele auge do rock dos anos 80 aqui no Brasil, aquilo para mim marcou demais a minha vertente como músico, então eu trouxe para música e eu tinha uma responsabilidade a mais apesar de ter uma facilidade a mais também do meu pai estar no meio que era a facilidade de ter oportunidades imediatas né, de poder ter contato com grandes músicos, com grandes estúdios, com grandes produtores mas ao mesmo tempo eu tinha uma responsabilidade muito grande não fazer aquele papel de só estar ali porque é filho do cara né, então aquilo me fez uma assim “Eu tenho que estudar, tenho que saber, tenho que aprender, tenho que entender e tenho que fazer direito”, então esse estudo e casou que o estudo para mim foi muito prazeroso porque eu tive grandes mestres, eu achei uma forma de mergulhar na música de um jeito que eu nunca tinha mergulhado em nada de estudo né, então foi um processo muito importante para mim.

Henrique de Moraes – Interessante, e você lembra, teve alguém especial que foi muito importante para você já que seu pai já tava envolvido no meio e você acabou tendo grandes mestres como você falou né, você lembra de alguém especial, de algum algum conselho que você recebeu que fez muita diferença na sua carreira, teve alguma coisa nesse sentido?

Rique Azevedo – Cara, o meu pai né quando eu percebi que eu queria seguir pra música mesmo e abandonar o futebol, meu pai ele ficou muito chocado com aquilo porque no futebol eu estava muito bem encaminhado e traçar um novo caminho dentro da música, ele tinha feito isso né, meu pai veio do interior, ele teve que desbravar, ele veio como artista, foi um dos pioneiros aqui em teatro musical em São Paulo, foi artista também então tinha na essência, tem até hoje né esse lado artista e aí quando eu decidi ir pro lance da música ele falou exatamente pra mim assim “Filho, já que você quer fazer isso nunca esqueça que trabalhar com música é trabalhar com emoção”, isso me marcou de um jeito e eu falo tanto isso com as pessoas que eu trabalho que assim, meu pai foi meu grande mestre nesse sentido, porque meu pai me cobrou muito, meu pai teve uma fase da nossa vida que eu trabalhei muito junto com meu pai, só que meu pai ele trabalhava e produzia um estilo musical que eu nunca senti, nunca foi a minha verdade né, meu pai ele trabalhava com música sertaneja romântica, que era uma fase ali do Zezé Di Camargo, Leandro e Leonardo, anos 80 para 90 e eu não tinha essa vertente, eu não sentia essa música, mas como músico eu tinha que gravar em alguns estúdios e gravar esses estilos e meu pai falava assim “Filho você nunca pode deixar de ter emoção no estúdio, gravar com emoção”, então eu acho que isso foi muito marcante para mim, levo isso até hoje como sendo uma verdade e para mim é mesmo, e outra coisa que eu posso lembrar que talvez, eu tive grandes mestres né, eu tive um professor, um maestro, o maestro Júlio César Figueiredo que é um cara excepcional que me ensinou muita coisa, mas aí a parte mais técnica, mais estudo mesmo, teoria musical, harmonia, piano e tal, mas eu lembro e vou te falar agora de uma coisa que me marcou muito, que quando eu tinha 15 anos, 16 anos eu conheci o U2, que é a minha banda preferida, que é uma banda que me inspira até hoje e que me inspirou muito naquela época, eles lançaram um, na época era VHS, e aí eu fui na locadora e aluguei esse vídeo e eu não conseguia devolver esse vídeo na locadora porque eu ficava assistindo sem parar e com o violão na mão eu ficava “Agora vou tocar a linha do baixo”, aí ficava tocando, tudo que o baixista tocava eu ficava tirando, “Agora eu vou tocar guitarra”, tudo que o guitarrista tocava eu tirava, “Agora vou prestar atenção nas vozes”, e ficava cantando, aquilo me marcou de um jeito que eu falei assim “Cara, é isso que eu quero ser, é isso que eu tenho que ser, é isso que me faz acordar”, e eu acordava e eu não queria, eu nunca fui muito do video game, eu nunca fui muito dessa parada que a molecada fazia, eu jogava futebol e escutava música, então eu acho que eu posso tanto meu pai como sendo meu grande mestre dentro dessa linha de pensamento da emoção no estúdio quanto essa minha referência artística que foi o U2, de ver aquilo, ver os caras no palco, de ver aquela união de banda, aqueles músicos, aquilo me impactou de um jeito muito grande.

Henrique de Moraes – Legal cara, e você falou de uma coisa engraçada, até quando a gente tava se falando no WhatsApp, você falou que você é da época que comprava livrinho de cifra nas bancas

Rique Azevedo – Sim, sim, isso aí é raiz cara

Henrique de Moraes – Exatamente, e eu vou confessar uma coisa minha que eu, por mais que ame toda a tecnologia e toda a facilidade que ela traz para a gente, especiamente as ferramentas, os aplicativos de streaming de vídeo, áudio, qualquer coisa assim, às vezes eu me pego assim lembrando com muito carinho da sensação de comprar um CD novo, sabe? A adrenalina

Rique Azevedo – Você é da época do CD né, Henrique?

Henrique de Moraes – Isso

Rique Azevedo – Cara eu sou um pouco mais velho que você, eu nasci em 74 né, tô com 45 anos e quando eu lembro, também essa minha paixão pela música, pelo rock, pelas bandas e tal, eu lembro que quando eu jogava futebol nas categorias menores quando eu tinha 13, 14, 15 anos você não ganhava um salário, você não tinha um contrato que você ganhava um salário, mas você ganha uma ajuda de custo e como eu tinha o privilégio de poder, meu pai me levava no treino ou minha mãe me levava no treino, eu acabava que aquele dinheiro era um dinheiro que eu poderia fazer o que quisesse com ele, e ele dava para comprar dois LPs por mês, então o dia que eu pegava esse dinheiro que eu ia na loja e que eu ficava ali escolhendo o LP que eu ia comprar cara, a sensação disso é uma imagem que eu tenho que parece que foi ontem cara na minha cabeça sabe?

Henrique de Moraes – É impressionante né cara, e tinha uma magia embora, eu cheguei a pegar um pouco de disco assim mas muito pouco, o LP né, mas de qualquer forma assim essa magia de você conseguir comprar um item que você não sabia exatamente o que tinha ali sabe, muitas vezes eu comprava um CD pela capa ou porque alguém tinha me falado, e a sensação de você colocar, e não só de CD, a gente tava falando, você falou da locadora, cara locadora era um ritual, que não é a mesma coisa, eu adoro Netflix, sou apaixonado por qualquer coisa nesse sentido, mas ir na locadora e ficar meia hora olhando pra capas de fitas.

Rique Azevedo –  Era demais, era uma sensação que a gente viveu né cara, que a geração atual ela vai viver outras coisas e talvez ela lembre daqui a uns 15, 20 anos ela vai lembrar com saudade da época do streaming né cara, vai saber o que vai acontecer, é muito doido

Henrique de Moraes – E como é que você enxerga essas mudanças na sua carreira né, especialmente as mudanças que elas causaram porque por exemplo, o YouTube né, eu lembro que quando o YouTube lançou, começou a fazer sucesso aqui no Brasil, a quantidade de artista que surgiu do YouTube e que as pessoas só gravavam de repente em casa, não tinha como a gente tava falando antes de começar a gravar, que não tem qualidade técnica às vezes mas música emociona, isso mudou a forma como você trabalha de alguma forma, alguma maneira, ou você acha que não, de repente foi só uma forma de você alcançar novas pessoas, como é que você encara essa mudança toda?

Rique Azevedo – Cara eu tenho uma, eu vi o meu pai sendo engolido pela tecnologia né, então a geração dele foi massacrada pela mudança radical do analógico para o digital, então o meu pai era um mestre na época do analógico e de repente quando veio o digital ele não tinha mais, ele não conseguiu acompanhar. Poucas pessoas da geração dele conseguiram acompanhar o lance do digital que veio para facilitar mas pra geração dele veio pra complicar, então desde que eu vi essa queda nesse sentido do meu pai de não conseguir acompanhar, eu me senti na obrigação de me atualizar sempre, e qual é a forma que eu uso pra me atualizar? Eu sempre estou me associando ou trabalhando, fazendo questão de trabalhar com artistas jovens pra acompanhar o que que eles estão fazendo, o que eles estão ouvindo e como eles estão consumindo e como que eles estão produzindo música, então a todo momento, e como eu trabalho na produção musical com vários artistas eu tenho essa questão de querer saber “O que você tá ouvindo?”, “Como você está ouvindo?”, “Como você consome?”, é uma das perguntas frequentes assim que eu faço, “O que você fez? Qual é a sua rede social? Onde você tá escutando música?”, então eu vejo com bons olhos, eu lembro antigamente, muita gente fala assim “Ah o futebol dos anos 80 que era o futebol maravilhoso, hoje o futebol não é”, “Música dos anos 70, anos 60 que era boa, agora não é música”, eu não gosto desse pensamento, apesar de ter às vezes um gosto “Ah eu gosto do futebol romântico dos anos 80” mas eu acho que a gente tem que acompanhar, eu acho que é uma coisa de geração e que se a gente não acompanhar, se a gente ficar parado no sentido de achar que o que foi lá naquela era o bem feito, a gente vai se perder, a gente vai ficar para trás então eu olho com bons olhos essa questão tecnológica, não é fácil acompanhar porque a cada dia vem uma tecnologia diferente, a cada dia vem uma forma de produzir e divulgar música diferente, como a gente tava falando do, a questão era aquela, você comprava um LP, você ia lá levantava, colocava o LP, colocava a agulha no lugar, aí tocava 4 músicas, você tinha que levantar, virar o LP e colocar, hoje a galera num clique, em 10 segundos de música já pula pra próxima, 15 segundos da próxima música já pula pra próxima, então acabou aquela cultura do álbum, hoje a galera tá montando sua própria playlist, escutando o que quer, então respondendo mais objetivamente a sua pergunta eu tento acompanhar o máximo possível e olho com bons olhos. Eu acompanhei todo o processo, tenho acompanhado todo o processo desde essa virada do analógico pro digital até no início ali do Myspace que era uma plataforma que foi logo no começo também que ajudou muito várias bandas se comunicando ali, no início do Orkut e depois foi só melhorando e transformando e cheg hoje num estágio muito rápido né, de Tik Tok e de várias outras plataformas e redes sociais que a sua música ela tá o tempo todo ali na cara da galera né.

Henrique de Moraes – Verdade. Você falou uma coisa que me fez pensar se existe alguma, se gente fosse olhar as métricas do Spotify, se de repente as músicas que são lançadas mais atualmente tem mais chance de serem cortadas, porque eu fico imaginando, 50% das músicas que eu ouço Spotify são novas, tá, tô exagerando, tentando pintar alguma coisa aqui de super moderninho mas é mentira, 20% das músicas que eu ouço são novas e 80% são músicas que eu já ouvia, eu tô só reforçando o meu gosto ali, e quem ouve música antiga, quem normalmente ouve uma música que já tá mais acostumado não tem o hábito de pular, então fico imaginando se existe esse estudo sabe, se de repente músicas mais atuais, pra um público mais jovem, se elas são mais puladas, se elas tem de repente ali um período específico no streaming

Rique Azevedo – Eu não tenho essa, deve até ter ou deve ser não tão difícil porque hoje é tudo algoritmo, então eu acho até que dá pra saber, mas eu posso apostar que sim, eu acho que você tem razão nisso que você tá falando porque no final do ano né eu fui pro Rio de Janeiro de carro, voltei de carro e aí eu fui sozinho e voltei sozinho porque eu tinha que levar umas coisas pro Rio e tal, e aí eu fui na estrada escutando só álbuns ou CDs que eu escutava assim, que nem viciado, CDs e álbuns que eu gostava muito de ouvir e comecei a ouvir, e aí porque que eu não pulava? Porque eu lembrava da sensação de escutar a faixa 3, a faixa 5, então eu sabia mesmo que a faixa 4 não era uma faixa da minha preferência, eu não queria pular porque eu tinha a sensação de escutar aquilo como sequência, a construção do álbum era uma história que estava sendo contada né, o ritual de fazer um álbum era contar uma história tivesse um início, um meio e um final, por isso que era um álbum, hoje essa cultura ela não existe mais né, para essa geração é o rápido, é o single, é o hit, é o lançamento de uma música, e aí ele vai escutar até metade porque depois a metade já não aguenta mais e vai escutar de outra música, então acho que tem sim isso que você tá falando essa coisa de você pular mais as músicas atuais.

Henrique de Moraes – E é engraçado porque até mudou o hábito de lançamento né, porque se você pega às vezes os artistas, eles começam às vezes a lançar só singles ou vão lançando aos poucos e pra mim velho, é chato. Eu até hoje, se você pegar os artistas, os últimos artistas que eu fiquei viciado mesmo assim que eu poderia comparar até com artistas que eu ouvia antigamente, por exemplo Alabama Shakes, eu ouvia o álbum inteiro assim, eu acho maravilhoso porque pra mim conta uma história ouvir o álbum deles, sabe? Mas depois você pega por exemplo, eu sou viciado no Bon Iver, não sei se você conhece

Rique Azevedo – Conheço, conheço.

Henrique de Moraes – E o Bon Iver ele começou a lançar assim, músicas aleatórias, do nada, e surge uma, e surge outra, aí eu fico “Tá, mas cadê o resto? Eu queria ouvir tudo”.

Rique Azevedo – É, existe um lance hoje que é a necessidade do lançamento né, então a cada dia, eu não sei os números exatos, mas são números absurdos de lançamentos diários nas plataformas digitais, vários artistas lançando meio que ao mesmo tempo, e eu vou ter essa experiência agora pela primeira vez né, eu vou lançar um álbum do meu projeto chamado Little Nation e eu vou lançar um álbum assim, eu tenho 14 músicas gravadas, porque que eu não lanço o álbum de uma vez então já que eu tenho uma história nele? Eu tenho uma história, eu tenho ali 14 músicas que se complementam, que elas conversam entre si, tem a música que abre o álbum, tem a música que tá ali para dar um equilíbrio de sensações dentro do álbum né, de dinâmica dentro do álbum, mas eu não posso lançar o álbum de uma vez, porque se eu lançar o álbum com 14 faixas de uma vez eu tô falando de um lançamento, ou seja, uma chance de gritar no meu lançamento, de aproveitar minhas redes sociais, de aproveitar tudo que eu tenho para o lançamento, é uma chance só, então “Galera, tô lançando meu álbum”, pá 14 músicas. O que que é hoje uma forma de lançamento que vai fazer com que não seja uma vez só e que eu faça lançamentos, que eu tenha quatro chances por exemplo que a minha estratégia que eu vou usar para esse álbum, eu vou lançar um single, uma música só falando “Esse é meu primeiro single do álbum tal”, depois de um mês eu lanço a segunda música ou seja, já tenho dois lançamentos, duas vezes que eu tô gritando “Galera, tô lançando música, tô lançando música”, terceira vez outro single “Tô lançando música” e no meu quarto lançamento eu lanço o álbum. Isso faz com que eu tenha uma frequência de lançamentos, que eu tô falando que “É o álbum, é o álbum”, só que eu tô lançando um single, é um aperitivo, então por isso que hoje até artistas que tão acostumados com essa questão do álbum, o Saulo mesmo, o Saulo tem um álbum maravilhoso a gente tá finalizando, faltam pequenos ajustes de mixagem e tal, mas é um álbum maravilhoso mas que ele também tá nesse processo, lançando alguns singles para no momento certo lançar o álbum. Então é uma outra forma né Henrique de colocar música hoje cara.

Henrique de Moraes – Com certeza, tudo foi adaptado ao formato de rede social no final das contas né que mudou a nossa relação com tudo né, não tem jeito a gente precisa ter essa necessidade da novidade né, de estar o tempo inteiro ali comunicando as pessoas, falando, eu tenho minhas dúvidas do quanto isso é saudável ou não é mas assim já é realidade, não tem como discutir né. E uma coisa que você falou que eu queria voltar, que eu achei muito legal e que inclusive é um hábito que eu vou tentar colocar mais na minha vida que é essa coisa de você perguntar pras pessoas “Onde você tá ouvindo música? Onde você tá postando suas músicas?”, é engraçado como as pessoas tem, as pessoas, todo mundo, a gente, eu tento não me colocar fora porque especialmente nesse quesito então eu tô bem dentro dessa estatística, das pessoas que não lidam bem com novos lançamentos, com tecnologia e não sei o que e fora o trabalho com isso, eu reclamo.

Rique Azevedo – Eu também, eu tô nesse time aí cara, também tenho muita dificuldade cara, não é uma coisa, uma questão natural para mim, então por isso que eu me esforço nesse sentido de perguntar para tentar entender como que a galera tá se comunicando né para não ter esse erro mesmo de ficar muito para trás né, porque é perigoso dentro do nosso trabalho.

Henrique de Moraes – Sim, especialmente eu acho que a gente também tem a humildade de conseguir falar com pessoas que são de fato de gerações completamente diferentes então por exemplo, se eu tivesse mais ligado no que a minha filha de 12 anos agora né, na verdade na época ela tinha 9 anos, fazia eu seria o primeiro a ter uma conta no Tik Tok

Rique Azevedo – Exatamente, exatamente

Henrique de Moraes – Cara, ela usa o Tik Tok desde antes de ser Tik Tok, que era Musical.ly, então eu poderia estar lá, ser o número um, influencer número um do Tik Tok, e eu entrei semana passada, sabe?

Rique Azevedo – E é alucinante né cara? Eu entrei também acho que faz um mês, nas vezes que eu entrei falei “Deixa eu ver o que tá acontecendo aqui”, você passa uma hora e você nem viu que passou uma hora e você tá ali vendo a galera fazendo Tik Tok.

Henrique de Moraes – Pois é cara, é uma loucura, mas é muito interessante cara, acho que é um hábito que as pessoas tinham, especialmente quem trabalha com qualquer coisa que dependa de você ter, todo mundo, acho que no final das contas todo mundo depende um pouco de tecnologia, então

Rique Azevedo – Você sabe que esse processo é um processo enriquecedor pras duas partes sabe, porque eu trabalho com vários artistas adolescentes né, eu desenvolvo um trabalho não só de produção musical mas um trabalho que ajuda o artista a se conhecer, a trabalhar o lado humano dele, emprestar a personalidade, fazer ele se conhecer pra ele emprestar esse conceito dele, essa pessoa do artista. Então, conversando com uma menina de 15 anos ou um menino de 15 anos, 14, 13, 17, 20, que é uma outra geração, existe uma troca de experiência ali né ao mesmo tempo que eu tô aprendendo com ele no sentido de “Como você se comunica? O que que você é? Como que é a sua galera na escola? O que que vocês fazem? O que vocês conversam?”, ao mesmo tempo ele também tá interessado em querer saber como que era na sua época quando acontecia isso, porque tem muita coisa que não muda, o resultado final não muda, os meios são outros mas o resultado final é, de frustração, lado emocional né, de realização ele é a mesma coisa no final das contas. Você vai fazer uma música num processo de produção musical, você vai entrar, você vai compor, criar, produzir uma música, e vai sair com um produto música para você poder divulgar. Os meios são outros, a forma de fazer é diferente mas o resultado é o mesmo, entende?

Henrique de Moraes – Sim, com certeza e concordo completamente com você até porque assim, tudo isso vai mudando mas os problemas e acho que as grandes questões da vida elas continuam as mesmas né. Eu tô tendo agora uma experiência muito louca que eu tô lendo um livro do Séneca que cara, ele escreveu isso dois mil anos atrás e assim, eu leio algumas coisas e fico assim “Cara, não é possível ele escreveu isso ontem”

Rique Azevedo – Muita sabedoria

Henrique de Moraes – É, eu tenho certeza que ele escreveu isso ontem, aí você fala assim “Ah, mas pô o cara era um visionário”, sim ele era fora da curva provavelmente porque senão a gente não estaria falando dele 2 mil anos depois, mas também era porque os problemas eram os mesmos.

Rique Azevedo – Eram os mesmo só que de outras formas.

Henrique de Moraes – Exatamente, ele tava lidando com ego, lidando com frustração, com procrastinação, os problemas eles não mudam.

Rique Azevedo – O lado humano ele tá aí desde sempre, então por isso que no meu lado de produtor, eu tenho muito mais interesse por esse lado humano, esse lado mais da psicologia mesmo da produção, de você entender o artista, em que momento que ele tá e ajudar ele nesse desenvolvimento artístico, do que a parte técnica, efetivamente, sabe? A parte de você saber gravar, microfonar, editar, mixar, isso aí é uma coisa um pouco mais técnica, então me interessa muito essa coisa, e que não muda né? A parte técnica muda, hoje a gente consegue afinar uma voz dentro de um computador né, coisa que na época que meu pai produzia isso era impossível de fazer, tinha que ali tirar sangue do cantor na hora de gravar.

Henrique de Moraes – Tinha que apertar os botões do cantor ali né?

Rique Azevedo – Exato, exato, mas o lado humano era o mesmo, o lado de ansiedade, vaidade, ego, tudo isso que o artista tem, a sensibilidade né que o artista tem por natureza isso, não tem como, isso aí é a mesma coisa

Henrique de Moraes – E me fala um pouco então cara, você falou sobre esse seu formato de trabalho né, que se não me engano você faz isso no laboratório musical, é isso?

Rique Azevedo – É, eu chamo de laboratório musical mas é na verdade é só o nome que eu achei mais adequado assim, porque o que acontece, eu como produtor musical, muitos artistas me procuram para produzir música, e aí a primeira pergunta que eu faço é “Tá, mas que música você quer produzir?”, e eu comecei a perceber que muitos artistas não sabiam o que eles queriam produzir, eles sabiam que eles queriam desenvolver um trabalho artístico, que eles queriam entrar no palco, que eles queriam gravar uma música mas eles não sabiam o que gravar. E aí isso me fez pensar num processo de dar uns passos para trás durante a produção musical, então eu falo “Cara, você topa entrar numa pesquisa conceitual antes da gente realmente efetivamente entrar no trabalho de produção musical?”, e acabou que eu faço isso há uns 7, 8 anos já pra cá, e isso me ajudou muito a entender o artista, ajudou muito o artista a se conhecer pra gente poder realmente traçar um plano de produção musical, então eu sou muito contra você chegar com o artista “O que você quer gravar? É essa música aqui? Então tá, vamos gravar”, mas sem saber se o artista realmente sente aquela música, sem saber se realmente o artista tem na personalidade dele aqueles traços que aquela música vai exigir dele pra defender aquela música, então esse trabalho eu desenvolvo, ele funciona antes da pré-produção musical, nesse trabalho eu faço questões e são sessões assim de estúdio, eu fico 3 horas ali junto com o artista uma vez por semana numa imersão mesmo do artista, é uma viagem dentro da imaginação, dentro da personalidade, a gente vai buscar referências, conceitos, trabalhos, vou perguntar muito pro artista “O que que te emociona? O que te faz escutar uma música e se arrepiar? Qual é a música? Porque isso te arrepia? Porque te faz chorar? Te faz sorrir? Te faz sentir essa música diferente?”, isso traz para a gente né nesse processo um conhecimento muito grande do caminho que a gente vai seguir para levar o artista onde ele quer ir e não onde, eu sou muito contra produtores que falam assim, olham pro artista e falam “Você tem uma cara, tem um jeito, uma voz, e você tem que fazer o estilo tal e gravar a música tal porque se você fizer isso você vai fazer sucesso”, eu não acredito, isso para mim é uma burrice, então eu sou o produtor que trabalha exatamente no contrário assim, eu tenho que ir na minha experiência de estúdio, na minha condição de produtor musical, que na verdade eu sou antes de produtor musical, artista, eu também sinto a música e sinto como artista, então a conversa é muito de igual pra igual, o meu intuito, meu objetivo ali é levar o artista onde ele quer ir, aonde ele acredita que é a verdade dele né, então o meu trabalho como produtor é exatamente esse, e por isso esse laboratório musical que antecede a produção musical ele é tão importante e não abro mão de fazer com a maioria dos artistas que me procuram para produzir. É claro que muitas vezes você vai se deparar com algum artista que tá pronto, tipo o Saulo, o Saulo eu não preciso falar pra ele “O que você sente? Qual é a sua real?”, é um cara que sabe o que tá fazendo, tem uma experiência muito grande, tem uma vivência muito grande na música, então é mais um direcionamento ali na parte técnica de produção, mas a maioria dos artistas, principalmente os artistas mais jovens, eles precisam desse norte, de entender porque eles estão ali, qual que é a missão na música, eles estão ali para que, qual é o objetivo, qual que é a meta? Tá gravando porque? Quer ser famoso? Quer ser rico?, então a gente começa a conversar nesse sentido né, se você nasceu com esse dom de criar música, de se comunicar através da música qual que é a verdadeira missão? E tirar um pouco esse peso do mercado, da produção e tal que depois quando o artista estiver convicto de quem ele é, dele entender exatamente o caminho que ele tem, dele produzir realmente um produto que ele vai se identificar, aí sim a gente pode enxergar um mercado e entender como que a gente pode agora divulgar isso, quem é que a gente vai mostrar, pra onde, como, aí a gente enxerga o mercado, então esse laboratório musical é uma coisa que eu não abro mão e que me ajuda muito durante a produção.

Henrique de Moraes – Interessante cara, e você já faz isso há muito tempo né, então imagino que você já tenha mapeado alguns traços ou similaridades entre perfis de artistas que chegam, e qual é pra você hoje a maior dificuldade ou a parte mais difícil nesse trabalho, porque eu imagino que assim, artistas, uma pessoa que se vê como artista ela provavelmente, lógico que eu tô generalizando, mas provavelmente ela já é uma pessoa que tem um ego ali né

Rique Azevedo – Faz parte

Henrique de Moraes – Pois é, faz parte, e além disso você, como você falou assim, normalmente você faz esse trabalho com pessoas mais jovens, então tem a parte do ego misturado com a parte da imaturidade talvez né, nem todo mundo, porque nessa geração nova tem muita gente surgindo com uma cabeça muito evoluída que é até mais evoluída que a minha e de muita gente que eu conheço, mas assim de qualquer jeito tem essa coisa né, de somar o ego com imaturidade, qual é a maior dificuldade que você percebeu que tem assim na hora de começar um trabalho novo?

Rique Azevedo – Cara, de longe que não é o lance do ego nem da vaidade assim, eu acho que o ego e a vaidade são elementos super importantes pra um artista, eu acho que ele é fundamental desde que ele saiba dosar isso e entender né como funciona esse processo para ele para ele não se perder e quebrar a cara, e também se tiver que quebrar a cara por causa disso ele vai aprender com isso e vai evoluir, eu acho que todo artista tem esse processo de estar evoluindo sempre, o traço mais difícil pro meu trabalho é a insegurança, é o artista muito inseguro, ele é um artista que ele dificilmente acredita naquilo que ele tá fazendo mesmo com uma condução muito segura ali de alguém que tá perto dele com uma experiência e segurando na mão dele, ajudando, então é um trabalho que acaba consumindo mais o tempo para você nesse laboratório né que eu faço, musical, de você trazer para o artista confiança, fazer ele acreditar que ele único, independente do lugar que ele tá, ele é o único, ele é verdadeiro, é autêntico, se ele conseguir encontrar essa verdade, ele não é melhor nem pior, ele é ele, então acho que o artista inseguro ele acaba se auto boicotando, ele acaba evitando de lançar, ele acaba se perdendo durante o processo criativo e também o processo de produção. Muitas vezes ele fica fica querendo buscar uma perfeição que na real não existe, e na verdade essa busca de perfeição é um medo que ele mesmo tem de se mostrar, de apresentar uma música para o grande público, medo de rejeição, então eu acho que a pior característica ou a característica mais difícil para um artista é a insegurança, é uma questão que eu tenho e que eu precisei e tô precisando cada vez mais estudar um pouco e evoluir um pouquinho mais para poder ser mais útil para esse tipo de artista né, porque é um traço de personalidade.

Henrique de Moraes – Sim, e você falou né do perfeccionismo, ele ser uma forma de insegurança né, e é uma forma da pessoa se proteger também, é mais fácil ela falar que ela ainda não terminou aquilo ali porque ela tem medo de mostrar, ela pode falar “Estou trabalhando”, ela não vai falar assim “Não tô fazendo, não estou trabalhando”

Rique Azevedo – E é uma besteira isso porque no final das contas ela não está evoluindo, ela acha que tá evoluindo mas o processo de evolução significa você colocar o seu melhor naquele momento ali, é você criar o seu legado ali de você saber que lançou uma música 5 anos atrás e que hoje você escuta e fala “Nossa, olha onde eu tava 5 anos atrás, olha o quanto eu cresci, evoluí, olha que bacana que eu tava ali naquele ponto né”, é se reconhecer nisso também né, eu acho que essa busca da perfeição é um auto boicote do artista.

Henrique de Moraes – Verdade. Cara, vou te fazer uma pergunta, vou voltar um pouquinho aqui na sua história só pra depois a gente ir traçando acho que uma linha do tempo né, você já se perguntou como teria sido a sua vida se você tivesse continuado jogando futebol?

Rique Azevedo – Cara já, e muito boa essa pergunta cara porque me leva pra um lugar muito louco assim, eu vou voltar um pouquinho, vou responder voltando um pouquinho. Quando eu tava, como eu te falei com 19 anos  futebol, fiquei só brincando de jogar futebol mesmo, e aí eu fui levar o futebol como um hobby e mergulhei na música, e desde então eu tinha meus ídolos que estavam no palco, e eu queria estar no palco, eu queria tocar, queria fazer os meus trabalhos, e quando eu tinha 27 anos cara, e já trabalhando com música, já compondo, já fazendo bastante coisa, ganhando minha grana, eu tava infeliz, muito infeliz cara porque eu não tava conseguindo dar vazão pro meu trabalho artístico, tava muito preso, trabalhando muito com publicidade, com jingle, trabalhando com o meu pai, gravando música que eu não curtia, que eu não gostava e tal, e aí eu fui num show cara, de uma banda, do Jota Quest, aqui em São Paulo tinha uma casa chamada Olympia, que era uma casa super tradicional de show e tal, eu fui num show do Jota Quest na época com a minha namorada que eu tava namorando há um tempão, que a gente tava planejando casamento cara, mas a minha vida não era nada daquilo assim e aquele show, eu assistindo da plateia né e vendo aquela banda no palco, tocando, aquela multidão pulando e aquilo me deu um impacto cara, me deu uma sensação horrível, uma sensação de me sentir um merda, de falar assim “O que que eu tô fazendo aqui? Meu lugar não é aqui, é lá no palco”, eu tava meio quase chorando assim ,a minha namorada na época falou “O que foi, o que tá acontecendo?”, eu falei “Cara, vamos embora, tá tudo errado, minha vida tá errada, eu não tenho que estar aqui, eu tenho que estar ali”, e apontei o palco e fui embora. Cara, a partir daquilo foi uma coisa tão absurda na minha vida que me fez dar uma radicalizada, de entender que a minha relação com aquela namorada não era a relação que eu queria, que apesar de ter, eu tava noivo na época, casamento marcado, apesar de estar nesse processo eu percebi que a minha vida tava sendo levada por uma situação que não tinha nada a ver comigo, eu não tinha realizado nada dos meus sonhos cara, tava dizendo ali meio que uma rotina de sabe quando vai passando? “Agora é faculdade, agora é não sei o que, agora vamos comprar um apê, agora vamos mobiliar, agora vamos casar”, cara me deu uma, assim, eu rompi o relacionamento, rompi com meu pai, falei assim “Pai eu não quero mais trabalhar com você, eu preciso buscar o meu lugar, o meu caminho”. Resumindo bem a história, um mês depois eu fui a trabalho também morar em Belo Horizonte, eu fui produzir uma artista que na época eu tava trabalhando, que ela foi contratada por um empresário de Belo Horizonte e que foi contratada por uma gravadora na época, e eu fui para Belo Horizonte e me vi exatamente um ano depois, um ano depois eu tava em Belo Horizonte inserido na cena ali com a galera, tocando, montei minha banda em Belo Horizonte nessa época e tava no palco tocando com a minha banda e de repente o vocalista da minha banda na época chamou o Rogério Flausino para subir no palco, o vocalista do Jota Quest. Cara, foi muito surreal, foi muito surreal saber que um ano depois daquela minha sensação, daquele meu golpe, aquilo foi um soco no estômago, foi absurdo, e um ano depois eu tava realizando esse sonho com essa banda em Belo Horizonte, chamada Código B, que foi um marco na minha vida assim, eu tive a oportunidade de realizar muitas coisas, então eu fui morar numa casa junto com a banda, então eu vivi numa casa que tinha estúdio de ensaio dentro da casa, era uma imersão tipo Novos Baianos, um lance louco assim. Mas nesse período foi um período super criativo, super de união de banda, de perrengue, de tudo que a gente podia viver. Com essa banda eu tive a oportunidade de tocar em grandes festivais em Minas, no estado de Minas inteiro, minha música tocando na rádio pra caramba, então eu via a minha música massificando pro grande público, eu toquei em estádio, eu lembro assim da cena de tocar no Estádio do Mineirão, num grande festival pra 50 mil pessoas cantando minha música, isso é uma sensação que é muito louca.

Henrique de Moraes – Cara, eu vi esse show, não era Pop Rock Brasil 2007?

Rique Azevedo – Pop Rock Brasil, eu preciso ver de vez em quando para acreditar que isso aconteceu na minha vida

Henrique de Moraes – Cara, animal

Rique Azevedo – É animal assim, é um poder cara que você sai de cena. E realmente saí de cena, porque? A minha banda nessa época que a gente tocou nesse grande festival, a gente tinha conseguido uma ascensão muito rápida, então a gente tinha cachês legais, a gente tinha um público muito grande, a gente na época vendia CD, vendia camiseta, tinha merchan, a gente tinha um lance de entrada de grana, só que eram todos muito artistas, e eu também muito artista não tinha nenhuma noção administrativa, então chegou uma hora que a gente tava muito no perrengue, fazendo show para muita gente, ganhando cachê legal e tendo que pagar dívida. isso começou a minar totalmente o meu lado artista e foi uma experiência absurda de sentir que no mesmo dia onde eu subia no palco num estádio pra 50 mil pessoas e todo mundo cantando a minha música, que eu me sentia Deus, eu descia daquele palco e eu falo disso porque eu sinto a sensação até hoje, de descer daquele palco cara e todo mundo “Caralho, o que aconteceu?”, parecia que a gente tinha saltado de paraquedas né cara, aquela adrenalina, a gente abraçando e aí a adrenalina vai baixando e aí eu falei para galera “Tá tudo errado de novo”, porque como que é possível a gente ter esse tipo de experiência, de um público de 50 mil pessoas cantando, berrando a nossa música e a gente endividado sem grana,  fudido, a gente fudido tipo quatro caras ali, e eu era sempre líder né, o compositor, produtor da banda e percebendo que eu tava levando os caras para o abismo,e aí nesse momento, respondendo sua pergunta, nesse momento eu falei “Cara, acho que fiz a escolha errada, eu deveria ter ficado no futebol”. Isso durou Henrique acho que uns 2 anos da minha vida, que eu tive que mergulhar numa terapia, foi meu primeiro processo terapêutico assim bem intenso e foi muito enriquecedor para mim porque eu entendi o que era ser artista nesse momento e logo depois disso, depois de um ano eu entendi que não era escolha minha ser artista, eu tinha nascido com aquela missão, então ser artista não era “Ah vou ser jogador de futebol ou vou ser músico”, não, a arte, a música, ela tinha me chamado de um jeito que não tinha escolha, apesar de ter parecido que ali em determinado momento eu escolhi, cara foi inconsciente, foi uma parada que aquilo gritou dentro de mim, não era uma coisa assim “Ai estou em dúvida se eu faço futebol ou se eu faço…”, não , era aquilo, eu tinha que fazer aquilo e cada vez mais hoje, com maturidade, com essa experiência toda eu percebo que eu fiz a escolha mais certa que eu poderia fazer na minha vida cara.

Henrique de Moraes – Muito bom, muito bom, essa história é muito sensacional

Rique Azevedo – História longa, né cara?

Henrique de Moraes – Vai despertando vários gatilhos, eu vou lembrando de coisas, eu já fui músico né, e eu acabei desistindo por outros motivos assim, muito mais por perceber que eu não teria a resposta que eu queria, que eu buscava na música, em relação a todas as coisas que eu gostaria de realizar, então eu via que todo mundo que estava na música, pelo menos as pessoas que estavam comigo, elas estavam muito mais pelo prazer do que pelo trabalho, e eu tava também pelo prazer mas eu tava muito pelo trabalho, porque eu sempre quis, eu sempre fui muito, sempre sonhei muito, sempre olhei muito pra frente e eu lembro até hoje quando eu tinha uma banda e a gente tinha gravado um CD e tava começando a fazer show, eu tinha arrumado um monte de show para a gente fazer em festival e a gente foi pro primeiro show em Minas e aí deu errado, sabe aquela coisa? Todas as merdas possíveis, mas aí a gente foi, conseguiu chegar, tocamos, foi divertido, depois virou uma história que a gente conta até hoje mas quando a gente tava voltando, os dois integrantes da banda falaram assim ‘Cara, tem outro festival agora semana que vem né?”, eu falei “Tem”, aí ele assim “Pô, mas dá um trabalho né?”, eu falei “Cara, dá trabalho? Fui eu que fiz, eu que organizei tudo, caralho! Eu que inscrevi, toda a pemba caiu na minha mão, você só precisou ir tocar, sabe?”, “Ah mas é longe, será que vale a pena? Será que nosso público tá lá?”, eu falei “Cara, a gente tá começando, não tem essa, a gente tem que tocar”

Rique Azevedo – Eu chamo isso de o tamanho do querer né cara, o quanto você quer? Porque não é fácil, nada é fácil, muitas vezes eu comparo, tem alguns casos lá que o artista vai gravar comigo e ele é novo aí ele fala assim “Cara, você podia conversar com os meus pais, porque meus pais não me apoiam”, aí eu falo “O que eles são?”, “São médicos”, aí eu falo “Pô, fudeu”, mas aí beleza, vamos conversar, trocar essa ideia, eu gosto de trocar ideia, “Chama seus pais aqui um dia no estúdio, a gente bate um papo e tal”, e aí eu sempre falo isso cara, eu já tive duas experiências assim né, de artistas, super artistas assim, duas meninas maravilhosas que tem os pais médicos e que não entendem nada das filhas né que são artistas. Aí eles falam assim, o pai chega e fala “Rique, dá pra ganhar dinheiro com música?”, aí o outro fala “Como que você trabalha na música? Como que é possível, não é difícil?”, aí eu falo “Cara, você é médico né, foi fácil ser médico? Pelo que eu sei é o maior perrengue, tem que gostar pra caramba”, o artista é a mesma coisa, tem que gostar muito, tem que entender qual que é a missão dele e tem que se sacrificar, não tem essa de você ser alavancado de uma hora para outra e você tá, se isso acontecer a chance de você cair e essa queda ser fatal ela é muito grande, tem todo um processo aí de carreira, de experiência, tudo isso que eu te falei dessa história minha com a minha banda foi um aprendizado que eu trago até hoje cara, aquilo me calejou, aquilo me fez entender que era exatamente aquilo que eu amo fazer, se eu fiz tudo aquilo é porque eu amo muito cara fazer, então eu acho que tem essa questão, é essa pergunta “Qual é o tamanho do seu querer né? Você tá afim mesmo de passar por todo o processo?”, se não tiver, ou se for muito difícil, se for perrengue e isso for um empecilho acho que você deve realmente repensar se é isso mesmo que você deve seguir né, isso serve para qualquer área na minha visão.

Henrique de Moraes – Sim, totalmente, eu ia falar isso, serve para qualquer área e eu acho que vejo muita gente que fez inclusive o que você tava fazendo né de ir seguindo ali o que é planejado né, aquela coisa de você ficar concorrendo atrás da cenoura né, que tá sempre longe de você, então acho que parte muito, acho quer ser pra qualquer área e na verdade qualquer pessoa tem que se fazer essa pergunta o tempo inteiro porque isso muda também né?

Rique Azevedo – Muda, claro, claro, tem que ficar atento né

Henrique de Moraes – Então não adianta fazer só uma vez e falar assim “Beleza, eu queria naquela época e agora quero também”, não, vai se perguntando ao longo da sua vida aí que vai mudar. Cara, quando vocês moraram juntos, você lembra de perrengues assim muito, porque eu imagino que morar junto com sei lá quantos marmanjos que eram na banda

Rique Azevedo – Eram 5 caras, 4 integrantes e 1 roadie que era o meu irmão, que foi passar perrengue com a gente

Henrique de Moraes – Você tem alguma história dessa época?

Rique Azevedo – Eu lembro de várias, a casa era uma casa grande, que a gente herdou de uma banda de Minas, que eu não vou falar o nome, mas era uma banda muito famosa em Belo Horizonte, a gente é tudo amigo, mas os caras estavam na casa e aí a gente falou assim “Cara, a gente queria uma casa que tivesse estúdio”, que fosse a mesma história dessa banda, que era uma banda referência para a gente na época, e aí os caras “Meu, entra lá, a gente tá entregando a casa, pode pegar a casa e não sei que”, e a gente fez a besteira de na empolgação e na confiança, a gente pegou a casa sem passar pelo processo de eles entregarem a casa e a gente pegar depois, então a gente entrou, a gente sublocou assim, tipo os caras fizeram um comunicado pra proprietária da casa assim “Então, vai entrar outra banda aqui mas é tudo certo, tá tudo bem”, e a gente não fez uma vistoria ali no meio. Imagina merda, na hora que a gente foi, a gente ficou a casa tinha estúdio de ensaio, salão de jogos, tinha não sei o que, só que era uma casa que tinha manutenção, então cada dia era um perrengue diferente, era barata que tinha que exterminar, e cara, na hora que a gente foi, que a banda precisou entregar a casa e que a gente falou assim “Meu, não dá mais pra gente ficar aqui, tá um puta perrengue”, a gente foi avisar a proprietária e a banda, a banda falou assim “Não cara, quando a gente entregou para vocês estava tudo certo, vocês que agora vão ter que fazer”, meu a cagada, pra você ter uma ideia, tinha um chão que eu jurava que era um chão assim, era uma área grande que eu jurava que era a cor dele mesmo, tipo um preto assim meio escuro, falei “Essa chão é tipo chão”, quando a mulher entrou ela falou assim “O que é isso nesse chão?”, eu falei “É o chão”, aí ela “Não, isso aqui tá uma crosta de sujeira, que não sei o que”, eu falei “Meu”, ela falou “Tem que limpar”, eu falei “Nossa cara”, resumindo a história, foi um perrengue, esse chão, a gente alugou aquele jato de limpar chão, e quando a gente jogou o jato no chão a gente percebeu que chão era vermelho, ele era uma lajota tipo vermelha, só que de tanta sujeira, era uma crosta que a gente teve que fazer limpar a casa inteira cara, então esse perrengue foi foda cara, que eu lembro toda vez que algum amigo meu fala que tem que entregar o apê, tem que entregar a casa eu falo”Puta, meu, que desespero cara”

Henrique de Moraes – Muito bom.

Rique Azevedo – Peguei uma casa de cinco marmanjos morando junto, era perrengue em tudo quanto é jeito cara.

Henrique de Moraes – Ah eu só consigo imaginar cara a quantidade de loucura que aconteceu

Rique Azevedo – Pode imaginar porque dá para imaginar muita coisa mesmo

Henrique de Moraes – Você namorava na época?

Rique Azevedo – Namorava na época, eu ainda tive o privilégio de uma época que existiu essa casa, de morar junto com a namorada na época, então eu não fiquei nem 100% do tempo na casa, mas mesmo morando com a minha namorada na época eu saía e ia todo dia de manhã pra lá e ensaiava, passava o dia inteiro, fazia compras, participava de todo o rolê né, era uma banda que morava junto e trabalhava em tempo integral pra banda acontecer.

Henrique de Moraes – Maneiro. Vamos voltar aqui cara pra sua carreira como compositor né, você tem aí vários hits, na voz de pessoas conhecidas, me fala um pouquinho sobre, aliás assim, fala um pouco sobre os hits, os maiores que você já conseguiu emplacar e depois eu queria saber um pouco mais sobre como é essa vida de compositor, como que sustenta, se é que sustenta, se essas pessoas ainda conseguem viver disso, mas me fala um pouquinho sobre quais são os hits mais famosos pra ganhar também ficar contextualizada.

Rique Azevedo – Eu tive a grande oportunidade de compor uma música chamada “Dig-Dig-Joy”, acho que todo mundo conhece aí, acho que foi a primeira a primeira música minha que fez muito sucesso né na voz de Sandy e Júnior na época, e foi muito bacana porque foi meu primeiro trabalho, foi a primeira vez que eu vi um, eu recebi um cheque de adiantamento da editora na época, eu falei “Caralho, como assim?”

Henrique de Moraes – Tinha quantos anos?

Rique Azevedo – Eu tinha 20, 19 ou 20, foi logo depois que eu migrei pro lance da música, o meu pai, nessa época do analógico pro digital, só voltando um pouquinho, meu pai construiu, a gente tem até hoje né uma casa aqui em São Paulo na zona norte, que é um sobrado e meu pai como ele tinha muito acesso à equipamentos e tudo, ele construiu um estúdio no quintal da nossa casa, era um quintal que já foi horta, já foi salão de jogos, já foi salão de festa, e num determinado momento meu pai construiu um estúdio profissional no quintal da minha casa, então isso foi muito bom pro meu desenvolvimento, para tudo né, e aí nesse estúdio tava o produtor de Sandy e Júnior na época, que era o produtor que estava produzindo essa banda, e eu vi ele comentando uma ideia de que Sandy e Junior precisavam de repertório, e um repertório mais infanto juvenil e tal, e eu lembrei dessa brincadeira, fiz de um dia para o outro a música cara, foi muito rápido na inspiração e mostrei para ele no dia seguinte, ele pirou, mostrou para galera e a música virou um grande sucesso e até hoje assim muita gente lembra

Henrique de Moraes – Então você é o responsável né?

Rique Azevedo – Eu sou o responsável. Cara, e você sabe que eu lembro na época, eu falei assim “Fiz uma música e tal, Sandy e Junior gravou”, não era muito, eu sempre tive meu lado artista, então meu lado compositor eu fazia muito pra mim, eu fazia pras minhas bandas, os meus projetos, meus trabalhos, então dar uma música minha para alguém mesmo que fosse uma música que não tivesse a ver com meu repertório como era o caso dessa, era legal mas não era assim uma sensação de uma realização foda sabe, porque o meu trabalho de compositor ele era muito um trabalho que era um braço do meu trabalho como artista, eu falei “Eu sou artista, tenho muita facilidade de compor e adoro compor, adoro criar melodias, adoro fazer isso”, então era uma paixão e eu percebi isso né, o primeiro impacto que eu tive disso foi receber um adiantamento na época, de direitos autorais e depois na sequência disso cara, eu vi um programa do Fantástico e era uma reportagem falando de uma tribo indígena de sei lá onde, e os índios cara estavam brincando ou tavam escutando em algum lugar, brincando e cantando a música Dig-Dig-Joy, quando eu vi eu falei “Cara, não é possível, eu fiz essa música de um dia para o outro na cozinha da minha casa ali, meio sob encomenda” e cara, olha o que aconteceu, que responsabilidade né, que impressionante, então pra mim foi um baque. Aí depois, eu sempre compus aí pros meus projetos componho muito até hoje para todos os projetos que eu vou produzir, se o artista compõe ou não compõe eu sempre tô acrescentando, trabalhando junto com o artista, incentivando também o artista no lado da composição, mas tem algumas músicas mais atuais, mas as músicas mais famosas foram Dig-Dig-Joy e Desperdiçou, uma outra música de Sandy e Júnior também e foi numa outra época, isso foi 2003, acho que foi 2003 e já era uma outra fase também da dupla já, uma fase um pouquinho mais jovem assim e nesse disco que se chama Identidade, eu e minha parceira na época que era a Liah e a Dani Mônaco, a gente fez 4 músicas, apresentamos para os produtores e pra, tinha um contato direto com a Sandy na época, através de uma das compositoras que era backing vocal da Sandy também e ela apresentou essas quatro músicas e das quatro eles, produtores e dupla escolheram três músicas, dessas 3 Desperdiçou é a mais famosa e tem uma outra também que se chama “Nada vai me Sufocar”, e que teve um clipe que ficou famoso na MTV, ganharam um prêmio e tal, até tocaram nessa turnê de volta essa música também, que é uma música que eu gosto muito e uma outra música que não fez muito sucesso mas que tá no álbum, eu acho que essas músicas assim na voz de artistas mais populares né, de mais exposição, essas músicas que foram as famosas né. Aí tem diversas outras em músicas, na própria banda Código B tem uma música chamada “Cada Instante”, que é a música que você deve ter visto ali na imagem do Mineirão inteiro cantando, e é um hit que tocou muito lá em Minas, não veio para São Paulo, não foi para o Rio, não saiu, a banda não conseguiu essa alavancagem em Brasil, mas que em Minas foi muito muito tocada, muito executada e algumas outras também assim de projetos, tem uma música, uma artista agora que eu produzi recentemente que tá super bombada, que vale a pena também a galera conhecer chamada Clara Valverde, que é uma artista maravilhosa também e que com ela eu tive a oportunidade de trabalhar desde o laboratório musical, dela se conhecer como artista, como cantora, até o lançamento dos quatro primeiros singles dela e tem uma música chamada “Samba do Moço Bonito” que é muito legal que a gente fez, também tá super em alta nos streamings e tal, e tem uma outra música chamada “Baby, Essa Não É Pra Você” que foi a primeira música que a gente fez e que também deu uma alavancada muito grande na história dela, do streaming e tal. Então o processo de composição é uma coisa que desde 12, 13 anos, que eu peguei o violão eu comecei tocar na época na Legião, Barão, tudo do rock dos anos 80, U2 né e os rocks da época que eu semper gostei muito, eu já pegava o violão e naturalmente vinha na minha cabeça o lado, uma melodia, uma ideia musical, principalmente musical, meu lado mais forte dentro da composição é a parte de melodia, eu não tenho muito, eu tenho um tesão muito grande de compor melodia, de fazer arranjo, de construir a música e não é o mesmo para fazer letra, para fazer letras eu sempre contei com grandes parceiros e tal que supriram essa minha necessidade né, na composição. E respondendo a sua outra pergunta que era se tem como viver de música e tal, sim tem como, hoje a gente tem já tem desde muito tempo o lance dos direitos autorais né, que é muito respeitado e dentro dos direitos autorais tem várias formas de você rentabilizar né, hoje também tem o streaming, antigamente tinha a venda de CD ou venda de LP também que rentabilizava bastante, mas hoje com o digital tá mais fácil do Ecad conseguir organizar isso e repassar para os autores e tal. Então é claro que depende muito do tamanho de execução que tem, não é uma grana que você vai receber o tempo todo na sua vida, mas é uma grana que dependendo da música, tendo uma execução, tocando em show, tocando em um rádio você rentabiliza sim. Não é fácil, como nenhum trabalho é fácil, mas o fato de você compor, estar sempre criando, sempre lançando, sempre colocando suas músicas para as pessoas gravarem, você tem sempre uma chance de uma música acontecer e virar um hit como no meu caso eu tive essas oportunidades.

Henrique de Moraes – E assim, eu tenho que perguntar, cara Dig-Dig-Joy e Desperdiçou são duas músicas que fizeram muito sucesso, eu inclusive fui botar pra ouvir hoje né as músicas só para entrar no seu mundo e ir tipo absorvendo, e eu não consigo parar de cantar Desperdiçou na minha cabeça, mas assim, se você se sentir à vontade para falar sobre isso, e lógico que se você não se sentir não tem problema nenhum, mas você lembra do maior cheque que você recebeu, de quanto foi?

Rique Azevedo – Olha eu vou falar para vocês o cheque que me impressionou, que foi a primeira vez, isso em 1997, eu tinha ali 21, 22, foi nessa época aí de Dig-Dig-Joy, 96, foi em 96, exatamente, há 22 anos então que eu não tinha ideia né cara nem sabia que dava para ganhar dinheiro, nem sabia qual que era o tamanho da grana apesar do meu pai ser do meio, meu pai também nunca me preparou tanto pra isso, e aí a editora chegou para mim e me deu um cheque de 6 mil reais, na época cara com 21 anos, 22, 6 mil reais dava pra comprar coisa pra caramba, e aquilo foi um adiantamento porque depois vai recebendo, uma outra coisa que tem no meio dos compositores né que hoje é mais difícil, mas antigamente era muito comum, era as editoras oferecerem um adiantamento pro compositor em troca de uma certa exclusividade, ou seja, todas as músicas que eu compunha eu era por contato obrigado a editar numa editora tal e em troca disso a editora me dava um adiantamento, me dava uma grana adiantada na frente e aí ia abatendo essa “dívida” que eu tinha como adiantamento ia abatendo em cima de direitos autorais. Então essa grana era uma grana legal, que você podia dependendo do momento, dependendo do mercado e tudo, você podia receber uma legal de adiantamento, só que não significava que você pagava aquilo com uma música, você pagava várias músicas e torcendo pra executar para caramba porque quanto mais executava música mais rápido você pagava e você podia pegar um outro adiantamento, entendeu?

Henrique de Moraes – Entendi. E você recebe até hoje por essas músicas? Com certeza né?

Rique Azevedo – Sim, você recebe sempre, pra vida inteira né e o lance dos compositores, você faz uma obra, você edita essa música, você fica recebendo direitos autorais durante sua vida toda e mais 70 anos os herdeiros continuam recebendo, depois ela vira domínio público, então uma vez que você fez a música e você editou, ela tá ali dentro do seu banco de composições e depende, claro, de tanto que ela vai executar. Eu tive a sorte agora e de privilégio também, de Sandy e Junior voltarem depois de 12 anos, fazendo uma turnê gigantesca e tocar três das minhas quatro músicas que eles gravaram em estádios lotados, então isso rentabilizou novamente, eram músicas que estavam paradas, ou rentabiliza muito pouco porque a banda tinha parado e execução apesar de continuar é muito pequena, então como depende da execução, você tem essas ondas que eu chamo, você acerta uma música, emplacou uma música e aí você recebe uma grana, enquanto você não acerta de novo cara, fica aquela marolinha e você não pode, é uma grana que você não pode depender dela, “Vou fazer uma dívida, vou ali durante 12 meses eu vou pagar meu carro com essa grana”, ferrou, vai chegar um mês que você vai falar “Fudeu”

Henrique de Moraes – Tá bom, perguntei o maior, você lembra o menor?

Rique Azevedo – Cara, o menor acontece direto porque tem um lance trimestral também na distribuição de direitos Ecad, você tem alguns meses que é, por exemplo, Abril que é um mês bom, então Abril, Maio, Junho e Julho, Agosto, setembro e Outubro, então nesses meses intermediários que não são os meses legais, geralmente você recebe um pouquinho, muito pouquinho, então é uma coisa que tudo mês você tem aquela grana e tal, entendeu?

Henrique de Moraes – Entendi, legal cara. E me fala então um pouco agora sobre o seu projeto atual né, Little Nation, que eu ouvi bastante, inclusive.

Rique Azevedo – Ouviu? Que legal. Little Nation é uma paixão pra mim, eu tenho um carinho enorme, e começou de uma forma muito na brincadeira, eu conheci uma uma artista chamada Samille Joker, que é uma grande compositora, letrista e que a gente começou a desenvolver um trabalho de composição, e na época ela nem desenvolvia o trabalho artístico dela, ela é por formação professora de inglês, fez faculdade de Letras, pós-graduação em inglês, é apaixonada pela área didática, e aí eu falei “Cara, você topa a gente fazer um encontro uma vez por semana no estúdio pra gente compor umas músicas?”, e ela com a facilidade de fazer letra que me impressionou muito, e aí a gente começou a compor no estúdio. Ela ia todo domingo, a gente fazia um domingão, domingo ela ia pro estúdio, a gente se encontrava lá e fazia música, e fazia música e fazia. De repente a gente fez uma música que se chama “Just Stay” e que foi a primeira música que eu falei “Cara, agora ferrou”, tipo me impactou, eu fiz aquela música, ela fez a letra e na hora eu falei “Cara, isso aqui é nosso, isso aqui não é ninguém”, porque a ideia inicial era compor pra eu usar nas minhas produções, passar pra alguns artistas, era um trabalho mais focado no trabalho de composição, e eu falei pra ela “Você topa cara fazer isso, desenvolver, eu conheço, eu sei como que faz e a gente pode produzir, escolher quatro músicas, produzir”, e ela topou, e a gente iniciou o projeto, isso em 2014, a gente lançou nosso primeiro EP chamado Just Stay, logo no primeiro EP com essa música Just Stay a gente participou de um festival internacional lá nos Estados Unidos, de bandas independentes, que não tinha um vínculo com gravadora e a gente ficou em semifinalista cara com essa música, era um lance de composição, e a música entrou competindo com bandas do mundo inteiro cantando em inglês, então foi muito impressionante e aí isso deu um impacto, a gente começou a fazer foto, começou a tocar, começou a fazer show, começou a crescer essa paixão, e ela também muito envolvida, no ano seguinte a gente gravou um álbum que a gente lançou também, que está no Spotify chamado “Hum”, um álbum que a gente lançou de uma vez né, na época não tinha essa estratégia ainda de fazer, essa ideia de lançar single e com esse álbum a gente fez muita coisa cara, até que surgiu a oportunidade de uma música que a gente encaixou na novela, numa novela chamada “Sol Nascente”, da Globo, e foi a primeira experiência minha, eu sempre sonhei em colocar música numa novela, sempre sonhei isso com a minha banda e com os meus outros projetos, era um sonho que eu não conseguia e depois de muito tempo eu consegui realizar isso, isso foi em 2016 pra 2017, e essa música também a gente teve um videoclipe super bonito que a gente gravou lá na Chapada dos Veadeiros, que é um lugar que eu sou apaixonado, que eu tenho muitos amigos, que é um lugar que eu vou de tempos em tempos para me energizar, me reconectar, e a gente gravou um clipe maravilhoso dessa música lá, até que depois de uns 3, 4 anos desenvolvendo esse projeto, minha esposa ficou grávida, eu comecei a precisar trabalhar para caramba no estúdio com produção musical, a Samille também ela começou a questionar algumas coisas do conceito que eu estava desenvolvendo ali dentro e a gente terminou de gravar um novo álbum, a gente ainda tava no estúdio gravando um novo álbum, tô falando para você de 2017 agora para 2018, finalizamos o álbum e a gente não sentiu que a gente estava conectado o suficiente para poder lançar um álbum tão verdadeiro, tão honesto, tão bonito, com tanta energia ali colocada. E a gente então preferiu dar um tempo, e aí passou quase 3 anos cara dessa história com esse álbum e de tempos em tempos eu visitava esse álbum, escutava e chorava, falava “Cara, esse álbum é muito bom, essas músicas são muito maravilhosas”, e tentando reconectar com a Samille mas por vários motivos a gente meio desconectado né, eu muito nessa função de pai e de esposa grávida, e de casa, tendo que bancar um monte de coisa e trabalhar pra caramba desconectei um pouquinho, e agora, como as coisas são especiais assim depois que a gente entende, agora com esse lance da pandemia e a gente se reconectou com o álbum e a gente resolveu lançar agora o álbum, então é um álbum que a gente gravou com nossa energia muito bonita na época e que a gente preferiu não lançar porque a gente não tava mais com essa energia tão bonita e de conexão, e que a gente vai lançar agora, nosso primeiro lançamento vai ser dia 19 de Junho, a primeira música que a gente vai lançar se chama “Sua História”, e ela não poderia ser mais atual do que, não poderia ter lançado naquela época, era para lançar agora, a música fala “E se tudo acabasse agora, qual que é a sua história? O que que você fez? O que que você deixou?”, é uma reflexão cara impressionante, então eu tô amarradão, por isso que eu tô desenvolvendo para caramba aqui falando porque eu falo e fico emocionado falando porque realmente é uma conexão total com o meu trabalho né, é uma conexão com a minha verdade, com a minha essência né, no Little Nation eu tô ali como compositor, tô com o cantor também porque eu e a Samille a gente divide as vozes, eu tô como produtor, eu tô como artista né, colocando a minha cara ali que é uma coisa que pra mim é o meu equilíbrio né, apesar de amar o trabalho de produção em estúdio com outros artistas, desenvolver o meu trabalho artístico é o que me dá equilíbrio, é o que me dá consciência de que eu tô completo.

Henrique de Moraes – Muito legal cara, não se preocupe em falar não, a gente tá aqui pra te ouvir mesmo. Eu ouvi cara, tanto no Spotify como eu assisti alguns vídeos no YouTube e no YouTube cara vocês tem muita interação, é impressionante

Rique Azevedo – Sim, é muito impressionante cara, muito impressionante

Henrique de Moraes – E os clipes são muito legais, eu recomendo que o pessoal vá lá e assista porque é muito bonito o trabalho cara, você tá de parabéns eu falei com minha esposa hoje “Cara, você vai ter que ouvir o Rique que você vai curtir”

Rique Azevedo – Legal, obrigado cara.

Henrique de Moraes – A minha esposa acaba virando minha cobaia né, você já percebeu, porque eu vou ouvindo as coisas e ela tem que ouvir junto comigo, não tem jeito, só que a gente tem um gosto parecido, e ela gosta porque ela vai conhecendo coisas novas.

Rique Azevedo – Que legal, muito bom. Eu vi você falando em outro episódio, acho que foi com o Saulo mesmo, que ela é fã também do Saudade, do trabalho do Saulo, eu acho que o Little Nation e o trabalho Saudade, apesar de terem muitas diferenças, eles habitam o mesmo lugar, eles estão numa mesma dimensão assim de sentimento sabe, de músicas mais introspectivas e como você falou que ela gosta muito do Saudade eu acho que ela vai curtir o Little Nation também, depois você me fala.

Henrique de Moraes – Pode deixar, te dou o feedback. Cara, a gente tá entrando aqui na segunda parte da entrevista que são perguntas que eu faço pra todo mundo tá? Vou ajustando elas, vou acrescentando, tirando algumas ao longo dos episódios mas são perguntas que eu faço para todo mundo basicamente. E aí assim, elas são perguntas mais diretas mas você não precisa responder rápido tá, então você pode levar o tempo que você quiser, o importante pra gente é conseguir trocar e aprender com a sua experiência. A primeira é seguinte, já que o nome do podcast é calma!, você pudesse falar pro seu eu lá de 15, 10 anos atrás ou qualquer época que você quiser voltar aí né, o que você diria para ele ter mais calma?

Rique Azevedo – Eu diria, eu gosto muito e falo, é fácil até essa pergunta porque eu falo isso para os artistas que eu trabalho né, e como eu sou artista também, eu falo como se estivesse falando para mim mesmo, então tem muita coisa que eu falo e escuto ao mesmo tempo e respondo né, então eu acho que uma coisa muito importante é você entender que tudo é um processo né, e que não adianta você querer acelerar tudo, que é muito comum do adolescente, do jovem. Tem uma artista que tem 18 anos e que ela já acha que ela é velha porque ela tá demorando a lançar uma música, e eu falo para ela “Cara, peraí”, então respeitar o processo né, entender, se conhecer, desenvolver o seu trabalho exige um tempo, é uma maturação normal pra vida, então esse calma é exatamente nisso, “Calma, respira, tá tudo bem, não tem problema que você tem 18, 20, 25, 30, não tem problema”, é sempre importante você entender que você tá desenvolvendo um processo, desde que você realmente esteja caminhando.

Henrique de Moraes – Passo a passo né, não tem jeito, tem que dar um passo de cada vez e ter a paciência de entender que o mundo tem o tempo dele, não é a gente que impõe, a gente tenta, a parte que nos cabe a gente tem que fazer é lógico, mas o resto é entregar e falar “Cara, quando der, deu”

Rique Azevedo – É isso aí, exatamente.

Henrique de Moraes – E tem alguma coisa que você teria mais pressa?

Rique Azevedo – Hoje, ou que eu falaria?

Henrique de Moraes – Lá atrás também.

Rique Azevedo – Lá atrás? Eu acho que talvez se eu tivesse 15 anos hoje eu acho que eu teria definido um pouco mais rápido o meu entender, eu teria entendido um pouco mais o lance da missão cara, que quando você entende porque que você tem esse tipo de dom no meu caso por exemplo, porque eu sei fazer música? Porque eu tenho facilidade de conversar com as pessoas, me comunicar através da música, isso me daria mais conforto de entender que mesmo nos processos difíceis eu estou no caminho certo né e quando a gente tem 15 anos, nossa imaturidade, até aquela outra pergunta que você fez, em determinado momento da minha vida eu bloqueei o meu processo criativo porque eu tava com raiva de ter escolhido o caminho de ser músico, acreditando, achando que aquilo era uma escolha minha consciente mas não, acho que então quando a gente entende o que a gente realmente tem como característica, como facilidade, como dom e como missão, eu acho que a gente consegue passar por todos esses processos de uma forma mais tranquila, então eu acho que eu buscaria entender um pouco mais essa questão, o que é missão e o que é gosto pessoal, ou o que é um hobby, teria entendido melhor isso.

Henrique de Moraes – Interessante. E você lembra quando que você conseguiu enxergar isso, conseguiu entender?

Rique Azevedo – Foi na minha terapia quando eu tinha já meus trinta e poucos cara, é um processo que na minha terapia, eu lembro da minha psicóloga que falou assim para mim “Você precisa, você é um artista por natureza, já tá nítido em tudo que você faz, e o artista ele tem muito dentro dele o lado criança, o lado infantil, e você não tem na sua formação, você não tem o lado adulto, então agora é hora de você equilibrar, e pra equilibrar você vai ter que pegar essa criança e deixar ela de castigo um tempo, você vai ter que pegar esse plano de ser artista, ser músico e viver da sua arte e vai ter que colocar esse plano dentro da gaveta, trancar mas guarda a chave num lugar que você sabe onde tá, porque daqui a pouco você vai precisar abrir essa gaveta”, então nesse momento cara que eu percebi, porque eu fui pra terapia falando assim “Cara, eu fiz a escolha errada, agora que que eu faço? Fudeu, preciso me redefinir profissionalmente”, e ela falou assim “Não você, não fez nada errado, você não vai jogar 10, 15, 20 anos a sua experiência com tudo que você adquiriu no lixo pra iniciar uma nova carreira, no que? O que você ama mais do que isso que você fez até agora? Qual é a prova de amor que você deu pra seguir outra carreira?”, então nesse momento foi quando realmente eu entendi o lance da missão.

Henrique de Moraes – Interessante, você falou já sobre terapia, e como a gente tava conversando também no WhatsApp você falou sobre isso né, sobre você ter mergulhado muito nessa coisa da psicologia, como que isso foi importante para você e o que você tava buscando né assim, além da parte da terapia, você pesquisou coisas por conta própria e porque né?

Rique Azevedo – Sim, primeiro eu tava buscando uma salvação mesmo assim, que foi um desespero, a minha primeira namorada era psicóloga, minha irmã se formou em psicologia e eu tinha um preconceito, eu era um cara muito cético, eu era um cara mais de não acreditar mesmo, dizia que psicologia era coisa de gente fraca, era um preconceito dentro de uma criação minha, não sei explicar exatamente. Até o momento que eu precisei, não consegui e quem entendeu isso e tava perto de mim era meu companheiro de banda, era o baixista da minha banda, João Bustamante, que ele entendeu, um dia chegou para mim e falou assim “Cara, você não tá conseguindo segurar essa onda sozinho mais né cara, porque você não procura uma ajuda?”, e aí na hora eu falei “Realmente, não tô conseguindo mais segurar sozinho”, e fui pra terapia nesse desespero mesmo, de buscar uma coisa, de me tirar daquela angústia, daquele desespero mesmo né, e aí a partir disso quando eu iniciei essa terapia com essa psicóloga maravilhosa, eu comecei a entender muita coisa e aí foi uma paixão muito grande assim de buscar né, aí li alguns livros na época, não sou um leitor assíduo assim de livro mas sou curioso de querer saber, de assistir coisas que falam de psicologia, comecei a assistir umas séries tipo In Treatment, que depois o Selton Mello fez aqui, “Sessão de Terapia”, então eu fui muito intuitivo assim, aí eu percebi que meu trabalho também dentro da produção musical tinha muito desse lado diálogo, dessa conversa, de enxergar o artista, de perceber que ele tá muito inseguro, que tem muita vaidade, que tem não sei o que e comecei a buscar um pouco mais de ferramenta e mas eu não tenho, não tenho diploma, nenhum estudo mais aprofundado, nenhuma linha, é muito intuitivo e até uma coisa agora que eu tô pra, já pesquisei aqui, está nos meus planos aqui fazer uma pós-graduação em psicologia que é uma coisa que é uma vontade muito grande além de ser uma coisa que acho que vai agregar bastante no meu trabalho também.

Henrique de Moraes – Legal, com certeza né, você lidando com gente o tempo inteiro não tem como.

Rique Azevedo – Gente e artista né, que por natureza já é uma pessoa mais sensível, já tem mais a coisa sensibilidade e no mundo que a gente vive cara é muita agressividade.

Henrique de Moraes – Verdade. Você falou sobre leitura né, então vou perguntar aqui se tem algum livro assim que tenha impactado muito sua vida de alguma forma, que tenha de repente mudado a forma como você enxerga as coisas, o mundo, ou tenha te ajudado a superar algum desafio?

Rique Azevedo – Cara, não, como eu falei eu não sou um leitor muito assíduo, eu me desconcentro muito cara nos processos que eu tive da minha vida assim, durante a terapia eu tava lendo alguns livros mas não vou conseguir nem lembrar de quais livros exatamente eu li, eu lia, eu gosto muito de nessa época de lembrar, de ler livros mais de ficção, não de ficção, mas de temas dentro psicologia mas de histórias, falando da psicologia de casos, depois eu vou eu vou lembrar daqui a pouquinho de um trilogia que eu li do mesmo autor que é um livro até muito famoso, um até virou filme, mas é que eu não lembrar agora mesmo cara, daqui a pouco eu lembro

Henrique de Moraes – Sem problema. E quem é a pessoa que você mais admira e porque? E aí pode ser qualquer pessoa tá, não precisa você ninguém famoso, pode ser alguém da sua família, de qualquer lugar do mundo, qualquer pessoa que você convive ou pessoas de fora, tanto faz.

Rique Azevedo – Eu admiro muito, eu tenho como uma admiração muito de respeito muito grande da história e tudo do meu pai né, que foi um cara que eu depois de muito tempo eu desenvolvo a mesmo carreira né que ele desenvolveu, então é uma relação muito direta assim e de entender tudo o que ele conseguiu construir, fazer né, saindo do interior sem muita estrutura e aonde ele conseguiu, como ele passou o bastão para mim né cara é uma coisa de realmente falar “Caramba”, ele desbravou tudo né, me deu tantas oportunidades, então meu pai é uma referência absurda para mim assim. Como ídolo cara, eu tenho o U2, estudei um pouquinho na época além de ser muito fã das músicas e tal, mas me impressiona muito o lado banda, o lado união de pessoas, o lado complemento artístico sabe, de ter quatro integrantes que foram desde o início da história e que eles se completam e tal, então essa estrutura banda e tudo o que foi feito, de uma de uma história né com pouquíssimas manchas ou quase nenhuma mancha dentro de uma discografia de 40 anos, admiro muito também, acho que por aí cara.

Henrique de Moraes – Engraçado, eu quando tocava eu tava lendo uma vez uma matéria sobre o baterista do U2, não sei o nome dele

Rique Azevedo – Larry Mullen Jr

Henrique de Moraes – Isso, e ele falando, achei tão incrível a forma como ele lidava com isso que é o seguinte, perguntaram pra ele como foi montar o U2, porque ele tinha resolvido ingressar no U2, e ele falou que ele tocava numa banda, e que a banda queria tocar música cover, e ele não tinha capacidade técnica pra tocar a música que eles queriam, aí ele resolveu montar a própria banda para poder tocar o que ele sabia

Rique Azevedo – Olha que legal, olha que legal, olha que legal, é isso aí, foi na escola o U2 começou muito cedo, os caras na escola com 17, 18 anos montaram a banda e fizeram sucesso, com 20 anos já tinha Sunday Bloody Sunday, era um negócio bizarro, surreal

Henrique de Moraes – Eu nem imagino, deve ser engraçado né você ter sucesso tão novo assim porque sua vida se torna uma outra coisa, você não viveu o suficiente eu acho pra ter um amadurecimento e depois falar assim “Ah beleza, agora eu sou famoso, consigo valorizar tudo que eu passei”

Rique Azevedo – Você atropela algumas fases importantes, parece né cara? É muito doido, muito doido. Você falou de livro aí e eu lembrei de uma fase que eu tava viciado em ler livros de biografia, então lina época a do Slash do Guns, comecei a ler várias assim cara, e era engraçado porque aí é um mergulho numa história né cara, na vida de uma celebridade, de um cara importante, então é muito legal também.

Henrique de Moraes – Eu sou viciado em biografia cara, sempre são os livro que eu termino mais rápido, tipo eu fico tentando ler livros de negócios porque me ajudam, e precisa, algumas coisas mais de filosofia, mas assim, os livros que eu termino rápido, que eu não consigo parar são sempre os de biografia

Rique Azevedo – É, porque é interessante, você fica “Onde que vai dar isso?” né cara, que doideira, que época, porque você é transportado pra outra época né cara, muito legal.

Henrique de Moraes – Totalmente, eu lembro quando eu li o, o mais clichê de todos né, que é o do Steve Jobs, mas que cara, ele é bem grosso assim, eu falei “Não vou conseguir terminar esse livro”, sabe tipo na época eu lia muito, falei “Não vou conseguir terminar esse livro” e eu fiquei tão ali tipo envolvido com aquilo que eu só fazia aquilo da vida assim, por mim eu não tava trabalhando, não tava estudando, não tava fazendo nada, só queria ler o livro e terminar, me amarro muito em biografias. Qual foi o melhor conselho que você já recebeu assim você lembra de algum específico que tenha impactado muito e te ajudado bastante? Eu já perguntei no início né, você falou do seu pai

Rique Azevedo – Sim, acho que esse conselho é imbatível, até porque eu tive uma única experiência de ser produzido, era uma fase da minha vida eu procurei um produtor porque como eu tinha muita facilidade de criar e produzir e tinha estrutura do estúdio e tal, era o lance de ser reproduzido eu nunca tinha vivido isso né, e aí num determinado momento eu chamei um cara, que era um amigo meu pra me produzir, então eu tive poucos mentores eu acho nesse sentido, então eu continuo ficando com o lance do meu pai que aquilo fixou na minha cabeça, mesmo sem eu entender, ele falando do lance da emoção, ele falava de um jeito que eu não entendi na época, “Como assim cantar com emoção, o que é cantar com emoção? Meu pai tá viajando”, e hoje pra mim cara é tão impressionante esse lado de você colocar a emoção na música porque é a única forma de você conseguir fazer com que ela tenha valor cara, que ela consiga realmente fazer a função dela de chegar nas pessoas, que é emocionar. A música você não pega na mão, você não toca, você não sente no sentido de apalpar, de pegar, de enxergar, você só sente né? Você só sente, você nem sabe da onde que vem aquela energia, então é uma questão que para mim esse conselho faz com que eu consiga nas minhas músicas colocar vida e alma e trazer junto com os artistas também, buscar isso a todo momento sabe, desde o momento da criação até o momento da produção musical você tá ali trabalhando com esse lado de brincar mesmo, de emoção, de jogar essa emoção pra fora, então esse pra mim é o conselho principal.

Henrique de Moraes – Maravilha. Você tem algum hack, alguma coisa que você aprendeu e que te ajudou bastante? Aí não precisa ser uma coisa específica, pode ser de repente uma rotina, uma atividades que colocou e te ajudou a ficar mais sei lá, presente ou ser mais feliz ou alguma coisa nesse sentido?

Rique Azevedo – Cara, tudo muda muito rápido assim eu acho cara, agora com essa experiência da paternidade é um outro ambiente né, você já teve essa experiência duas vezes aí mas você está tendo de novo né experiência com bebê então esse lance da rotina cara eu nunca consegui definir, eu tenho um problema sério com esse lance assim de organização, tem coisas que eu preciso fazer, por exemplo, fazer exercício físico é uma coisa que me equilibra. Ir pra Chapada dos Veadeiros sei lá, uma vez a cada ano, uma vez a cada 2 anos, é uma coisa que eu preciso fazer, é uma coisa que é necessária pra mim, eu acho que essas duas coisas são importantes, trabalhar com artistas jovens também acho que é mais uma coisa que me dá gás, me dá gana de querer descobrir, de querer estar envolvido, aprender o novo, então acho que essas três questões me ajudam a equilibrar e entrar no meu dia de trabalho né, mesmo agora nessa fase que a gente tá vivendo tão doida, eu consegui trazer o meu estúdio pra minha casa né, então eu tô conseguindo produzir online e conseguir ter essa troca com os artistas mesmo que online, restrito com algumas questões de gravar em estúdio e tal mas eu tô conseguindo fazer, então eu acho que é isso cara, o lance da academia, do exercício físico para mim é fundamental, sou um outro cara quando eu tô fazendo e se eu paro fico um mês, dois, três meses parado cara, me desequilibra totalmente, é isso.

Henrique de Moraes – E você tem algum filme ou documentário favorito?

Rique Azevedo – Algum filme ou documentário? Ai cara, eu devia ter preparado essas perguntas né?

Henrique de Moraes – É bom que assim vai no instinto

Rique Azevedo –  Não, eu não vou saber te falar agora, mas daqui a pouco eu vou lembrar.

Henrique de Moraes – Tranquilo, sem problemas. Essa pergunta aqui, é a penúltima, e ela é mais difícil tá, é o seguinte, se você pudesse colocar um outdoor, apesar de outdoor estar meio démodé

Rique Azevedo – Um banner

Henrique de Moraes – Se pudesse botar um banner no Instagram hahaha, se pudesse colocar um outdoor gigante assim num lugar pra muita gente passar, milhões de pessoas com uma mensagem, pode ser uma frase, um parágrafo de algum texto que você goste, alguma coisa assim, alguma filosofia de vida que você tenha, o que você colocaria?

Rique Azevedo – Eu colocaria uma frase que deve ser até muito, muita gente deve falar a mesma coisa, mas é eu colocaria “Não deixe de olhar pra você”, ou seja, não deixa de sentir você, não deixa de fazer esse mergulho interno. Numa frase, “Nunca esqueça de olhar para dentro de você”, talvez, não sei se a frase ficou muito boa mas acho que essa é a intenção.

Henrique de Moraes –  Ninguém falou ainda assim, com essas palavras, acaba que alguma coisa né assim encaixa com a outra assim de certa forma

Rique Azevedo – Mas para mim a vida só tem sentido quando a gente consegue entender quem a gente é ou qual é a nossa missão ou aonde a gente vibra, qual que são os nossos lados positivos e negativos né, autoconhecimento é uma coisa muito enriquecedora cara

Henrique de Moraes – Com certeza, eu concordo 100%, acho que é o que faz as pessoas ruírem, elas não se conhecerem, porque acabam seguindo caminhos que vão destruindo elas por dentro né de alguma forma assim

Rique Azevedo – Sem dúvida, sem dúvida.

Henrique de Moraes – Eu já passei por isso, você já passou por isso, deu seu depoimento aí né, e quanto mais velho a gente vai ficando, acho que envelhecer tem essa vantagem, a gente aprende muito e pra mim o autoconhecimento é uma das coisas que mais tem gravitado as coisas que eu estudo e que eu leio,por isso que eu tô voltando inclusive lá no Séneca, essas coisas porque quando você tem uma noção de quem você é, até onde você consegue ir, até onde você tá disposto a ir inclusive, quanto você quer, a pergunta que você faz, você consegue dosar a sua vida, então você vai saber até quanto você quer estar disposto a se enfiar de cabeça no trabalho ou se você não é esse tipo de pessoa, e tudo bem, as pessoas ficam muito presas à frases de efeito e influenciadoras, que são duas coisas que podem te ajudar mas também podem te destruir, porque se você achar que tudo que a pessoa faz você tem que fazer também, ou que tudo que ela coloca ali é a realidade, você acaba indo pra um lado que é meio destrutivo, e se você pegar só a parte que é boa, a inspiração sabe, “Pô se essa pessoa conseguiu fazer isso de repente eu também consigo”, e é isso, você tem que se conhecer pra saber “Beleza, eu consigo, mas eu quero? Eu tô disposto?”, e se não tiver tudo bem também, vai seguir por outro caminho, cada um segue o seu.

Rique Azevedo – Exatamente isso, exatamente. Eu tava tentando lembrar aqui dos livros cara, para te falar de um autor que eu li uma trilogia assim, um atrás do outro cara, que falava, misturava misturava a filosofia com psicologia mas ele colocava dentro de um ambiente do psicólogo, do filósofo da época e ele criava uma história maravilhosa. Foi um best-seller gigante mas enfim, não consegui achar, e eu lembro assim, que eu não sou um cara assim que também, meu eu tô o tempo todo com o violão na mão, o tempo todo meio que em estúdio trabalhando, criando, então mas como hobby eu tenho uma série que me pegou muito assim que é Breaking Bad, mas eu tô falando assim mais para um lado de diversão, lado mais de hobby mesmo, de curtição, mas só como você falou para citar uma, eu citaria essa como sendo uma série que me impactou muito assim, eu ficava viciado e querendo ver até o final tal e que também no final das contas tem todo um trabalho emocional ali na condução de que foi feito, da forma, então me interessa muito essa coisa de como as pessoa se relacionam sabe, como que é a cabeça das pessoas, como que as pessoas pensam e tal, então me intriga esse tipo de questão, sabe?

Henrique de Moraes –  Breaking Bad é sensacional, hors concours eu acho.

Rique Azevedo – Cara eu não sou viciado em série, mas essa série eu falava “Caraca”, não parava de ver, ficava igual que nem um, e aí ficava me culpando, falei “Pô, tô viciado em série e não tô fazendo música”, você perde o equilíbrio né, “Pô to perdendo tempo, caralho!”

Henrique de Moraes – Isso é engraçado, eu falei isso outro dia com um amigo meu, que parece que a vida, na verdade assim, o equilíbrio é você estar ok em saber que nunca vai estar equilibrado

Rique Azevedo – Exatamente

Henrique de Moraes – Não vai estar, você vai sempre pender pra um lado. E engraçado, eu entrevistei uma pessoa pro podcast, que é o Gustavo Mota, e ele falou uma coisa que eu achei tão interessante, ele falou assim “Eu não quero a minha vida equilibrada”, porque equilíbrio significa que, se você parar pra olhar pra uma balança, tem um monte de coisa ruim de um lado, e um monte de coisa boa do outro, ele falou “Não, eu só quero coisa boa, quero minha vida desequilibrada pra coisas boas”

Rique Azevedo – Caraca, mas ele só vai conseguir essa referência do que é bom se ele tem  um lado ruim cara, senão ele não sabe né, se ele tá com um monte de coisa boa ele não consegue nem curtir muito cara

Henrique de Moraes – Mas é verdade, até porque é uma coisa que talvez se você tá só voltado, imerso em coisas boas, talvez você vai perder a referência, aquela coisa do problema do rico, problema do pobre, que pessoa fala assim “Mas aquela pessoa não tem do que reclamar”, e tem né, só que o cara nunca viveu um problema mais sério que aquilo, para ele aquilo ali é o final da vida

Rique Azevedo – Exato, exatamente cara, isso aí é só um ponto de referência, todo mundo tem, todo mundo tem, essa busca do equilíbrio na verdade é um grande desafio da gente conseguir entender que o lado ruim faz parte do lado bom e lado bom faz parte do lado ruim, acho que a gente só consegue entender isso buscando e surfando nesse lugar, tem hora que a gente vai passar só no lado ruim, você vai falar “Minha vida só tem lado ruim”, e tem hora que a gente vai mergulhar só no lado bom, então essa busca do equilíbrio é uma forma que eu penso de você conseguir entender os dois lados e saber lidar com isso que é humano. Vai ter um momento que vai estar mal e vai ter momento que você vai estar eufórico, nenhum dos dois é legal.

Henrique de Moraes – Verdade, muito bom cara, e pra terminar eu queria que você falasse onde as pessoas podem te encontrar né, qual é o melhor lugar pra elas te encontrarem?

Rique Azevedo – Cara, eu tô nesse processo que a gente tava até falando, de rede social, eu tive também uma necessidade de dar uma saída assim, dar uma reciclada, então eu fiquei um pouco offline, tô voltando agora em função do meu trabalho, do lançamento do Little Nation, então eu vou começar a me comunicar mais é Instagram, é a rede social que eu mais trabalho, que eu gosto de foto também, tem uma paixão aí por fotografia, então é o @rique_azevedo, e aí lá no Instagram tem bastante coisa do que eu tô fazendo, enfim, trabalho e equilíbro um pouco esse lado da vida pessoal do lado profissional também e que acaba muito, a gente tava até falando nisso né, essa coisa de “Ah, fico viciado uma série e acho que tô perdendo tempo”, é porque quando a gente faz alguma coisa que a gente gosta muito, o grande perigo é esse, da gente misturar, a gente não saber se gente tá brincando ou se a gente tá trabalhando né, quando a gente ama muito um trabalho como é o meu caso por exemplo, de fazer música, eu amo fazer música, amo criar, e tem hora que aquilo não é um trabalho para mim, aquilo é um hobby, então eu tô brincando de fazer música ou tô trabalhando de fazer música né, você acaba se perdendo um pouquinho nisso.

Henrique de Moraes – Perfeito. Cara, obrigadaço Rique pelo seu tempo

Rique Azevedo – Imagina, eu que agradeço, papo descontraído, legal pra caramba, eu já escutei aqui, eu tava me preparando um pouquinho e escutei dois episódios cara, e fiquei de cara assim é um conteúdo realmente maravilhoso, já tô seguindo e cara, sensacional, acho que vale a pena aí o conteúdo e que com cada entrevistado acho que você acaba trazendo elementos né, de opiniões e experiências de vida enriquecedoras né cara, então parabéns para você aí pela iniciativa, pelo podcast e muito sucesso pra você e pro calma!

Henrique de Moraes – Obrigado cara, o objetivo total do podcast é aprender com os outros, então assim é isso, cada convidado traz uma visão completamente diferente e você contribuiu bastante hoje com certeza vai ser muito rico para todo mundo te ouvir, obrigadão

Rique Azevedo – Fico feliz, fico feliz mesmo de verdade, eu que agradeço, obrigado tamo junto e se der tempo antes de você ir para Portugal da gente se conhecer pessoalmente aqui em São Paulo vai ser um prazer cara, se não der qualquer dia a gente se encontra

Henrique de Moraes – Maravilha, fechado! Um abraço, cara Rique Azevedo – Grande abraço, valeu!

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