líder nata, sempre lutando pelos seus direitos como mulher e como atleta. Jacqueline sempre teve temperamento forte, uma característica sua comparada apenas com seu talento no vôlei, nas quadras e na areia, que a levou a 3 olimpíadas e muitas conquistas representando o Brasil.

Jaqueline se tornou Jackie Silva nos EUA, como uma das pioneiras no vôlei de praia. foi considerada a rainha do esporte por lá e dali para Atlanta, em 1996,  foi um caminho quase natural, quando o vôlei de praia estreou como modalidade olímpica.

com Sandra Pires, se tornou a primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro em olimpíadas, a primeira brasileira a conquistar ouro em esportes coletivos.

hoje, Jackie se dedica ao belo projeto Atletas Inteligentes, através do qual incentiva o jovem a se manter na escola através do vôlei. o projeto lhe rendeu o prêmio de campeão pelo esporte da Unesco, ao lado de outros esportistas da sua magnitude como Pelé e Michael Schumacher.

O incentivo ao esporte não para aí, Jackie também é técnica de equipes de alto nível, estudantis e realiza palestras motivacionais e clínicas de vôlei.

• Participou de 3 olimpíadas (2 em quadra e 1 na areia)

• Medalha de Ouro nas Olimpíadas de Atlanta 1996

• Venceu 41 eventos da WPVA – Associação Feminina de Vôlei de Praia dos Estados Unidos.  Foi líder de pontos entre 1987 e 1990 na associação.

• Jogou 21 torneios com a jogadora Patty Dodd.

• Jogou 09 torneios com a jogadora Karolyn Kirby.

• Jogou 03 torneios com Angela Rock.

• Durante 05 anos subiu ao pódio em todos os torneios que participou.

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Bernard Rajzman
  • Bernardinho
  • Isabel Salgado
  • Vera Mossa
  • Celso Kalache
  • Bebeto de Freitas
  • Paul Gross
  • Joanna Maranhão
  • Sandra Pires
  • Ágatha Bednarczuk
  • Duda Santos
  • Rebecca Cavalcante
  • Ana Patrícia Ramos
  • Evandro Gonçalves
  • Eckhart Tolle
FRASES E CITAÇÕES
  • “Quando avistares a sombra de um gigante olha para a posição do Sol, pode ser um anão” – Jackie Silva

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Olá Jackie, seja muito muito bem-vinda ao calma!, tô muito muito feliz de estar falando com você aqui hoje

Jackie Silva – Muito obrigada, eu também tô muito feliz

Henrique de Moraes – Que bom, que o papo de repente vai rolar bem se os dois estão felizes

Jackie Silva – É, isso já é uma alguma coisa

Henrique de Moraes – Já é, já é um bom início de conversa. Eu fiz uma pesquisa muito extensa quando eu fui preparar as perguntas que eu queria fazer pra você e assim, a cada vídeo que eu encontrava ou a cada texto, cada publicação de outras pessoas eu me apaixonava mais pela sua história e especialmente pela sua determinação né, você foi muito determinada não só no que você queria fazer, que você amava que era jogar vôlei mas você também lutou sempre pelos seus direitos, pelo que era certo, então isso é muito impressionante né, especialmente porque você começou a fazer isso muito nova, e tem uma frase que eu sou apaixonado que fala o seguinte “Escolhas fáceis, vida difícil, escolhas difíceis, vida fácil”, e por mais que eu não ache que a sua vida tenha sido fácil né, você passou por muitas dificuldades, de qualquer jeito eu acho que essa frase se encaixa porque você fez escolhas difíceis para depois colher os frutos né, mais para frente e escolhendo o caminho difícil você acabou se tornando uma referência pro Brasil, trazendo a primeira medalha olímpica feminina né para o Brasil, e aí eu queria começar perguntando sobre um assunto que me chamou atenção, que acho que foi 84 se eu não me engano, você passou por um período que você foi afastada da Seleção e ninguém te contratava, e aí eu li que você chegou até a rifar uma Vespa pra poder se virar e conseguir pagar as contas, eu queria que você falasse um pouco sobre esse momento, queria começar falando sobre esse período, como é que você tava sentindo, como tava a sua cabeça nessa hora?

Jackie Silva – Olha, eu era muito jovem né, muito nova e era uma fase muito importante para o esporte e assim, quando eu comecei com o voleibol, na Seleção Carioca e depois Seleção Brasileira, naquela época, no meu começo ali o esporte era amador, não existia profissionalismo nenhum não existia patrocínio nada disso né, então era a família que ajudava você a praticar o esporte, a desenvolver, ter dinheiro para viajar, essas coisas todas. Então nessa época foi uma época que teve a transição, que começou a ter essa discussão de patrocínio no esporte e isso era uma coisa que nós não conhecíamos como atletas né, então partia muito dos organizadores do esporte, eram eles que falavam sobre isso, eram eles que começaram a desenvolver isso, principalmente voleibol que saiu na frente com essa coisa de patrocínio na camisa da Seleção Brasileira, no caso era de voleibol de quadra né, então assim é muito louco você participar de uma mudança dessa, principalmente de quando você tá ali fazendo por amor, literalmente por amor e aquilo começa a ter a possibilidade de você se profissionalizar, só que não era muito claro, não tinha clareza nenhuma nesse sentido, ninguém parou e falou para o atletas o que que tava acontecendo, o que iria mudar na vida dos atletas, aquela mudança só acontecia dentro ali das pessoas que dirigiam o esporte e lógico que naquela época tinha uma diferença dos meninos para as meninas né, na época tinha ali a Seleção masculina de voleibol que vinha ganhando, vinha fazendo um bom trabalho, que era a época da “Jornada nas Estrelas”, da “Viagem ao Fundo do Mar”, Bernard, Bernardinho sabe, e eles realmente eram fantásticos, eram quase uma banda de rock todo mundo adorava assistir eles vencerem, ganharem e eles eram cheio de truques, essa coisa do “viagem ao fundo do mar”, “jornada”, eles eram muito talentosos, habilidosos, e nós, as meninas nós éramos mais as meninas do voleibol de quadra, não tínhamos essas qualidades todas como jogadoras mas tínhamos assim, era um time que despontava pela questão da equipe né e tinha uma coisa que era que era bonita, éramos muito jovens e cada uma tinha uma história para contar, lembro que eu, Isabel, nós frequentávamos muito teatro, e víamos muitos shows, era uma época assim meio revolucionária, de Posto 9, Baixo Leblon, vínhamos de uma história bem diferente assim sabe, com muita personalidade nos seus posicionamentos e Isabel era mãe muito jovem, depois Vera Mossa ficou mãe muito jovem, então tinha todo um, eram mulheres que tinham uma diferença assim, eram atletas mulheres que traziam uma história diferente de só como jogadoras de voleibol. Então foi isso assim e quando aconteceu essa transição, essa mudança, quando começou isso os meninos foram os primeiros agraciados com essa coisa do profissionalismo e eles recebiam pela propaganda da camisa e nós mulheres não, nós éramos praticamente, a Confederação negociava as duas imagens, do homem e da mulher mas só quem recebia eram os homens, e isso deixava a gente bem frustrada assim, aí quando as meninas entraram no vestiário aquele assunto era o primeiro assunto do dia. Mas aí ficou no vestiário durante muito tempo né, e aquilo foi inflando e eu acho que eu era muito garota nessa época, achava aquilo um absurdo até o dia que eu achei que aquilo tinha que ser falado, que aquilo tinha que sair do vestiário e virar um assunto mesmo né porque da diferença dos homens e das mulheres. Mas como mulheres naquela época não era para contestar nada, era só para aceitar e aí como eu não aceitei, me posicionei e fiz uma série de coisas eu acabei sendo afastada, e aí com afastamento também gerou muita entrevista, muita matéria e acabei ficando sem espaço para jogar no Brasil e aí através de algumas pessoas, e eu buscando saída para a situação acabei indo para Califórnia.

Henrique de Moraes – Quanto tempo levou desde que você foi afastada até você ir para a Califórnia?

Jackie Silva – Eu tive que me desapegar de uma série de coisas, eu tive que construir minha saída mas era bem mais fácil né, eu sempre imagino como foi fácil mesmo, na época eu sofri bastante, lembro disso mas foi bem mais fácil de você se posicionar e tomar uma atitude daquele tamanho sabe, eu fico pensando como hoje eu acho que seria muito difícil para mim mas assim, a partir do momento que eu vi que não tinha muita chance de jogar mais no Brasil eu comecei a entrar em contato com as pessoas pra saber, eu já tinha participado de uma Olimpíadas em Los Angeles e eu ia para praia em Los Angeles, eu saía da Vila Olímpica, de vez em quando eu fugia e eu gostava de andar com o pessoal de vela né, e eu andava com eles e eles estavam na praia, e no caminho que eu ia para a praia eu comecei a perceber que tinham várias redes de voleibol de praia e eu joguei muito voleibol de praia, comecei jogando voleibol na praia de Copacabana e eu tinha umas revistas também de voleibol e o final sempre no fim da revista tinham umas fotos de campeonatos de vôlei, sempre de homens jogando, os meninos então eu achei que aquilo era legal, eu ia e tentava descobrir aquilo quer dizer, quando aconteceu isso tudo eu comecei a buscar uma forma de voltar para os Estados Unidos e aí comecei a fazer contatos, na época não tinha internet nada disso e eu conhecia os jogadores, Celso Kalache foi uma pessoa que me ajudou muito né, na época ele jogava nos Estados Unidos, Bebeto de Freitas que jogava também, eles jogavam num campeonato profissional que tinha lá no Estados Unidos que eram quatro homens e duas mulheres jogando no mesmo time em quadra, que era bem interessante e era um campeonato profissional que estava crescendo muito nos Estados Unidos, e aí eles fizeram umas pontes, Celso fez uma ponte com um americano, Paul Gross, que foi uma pessoa que me ajudou muito na entrada nos Estados Unidos, é assim eu não sei, tem muito sofrimento nessa história mas tem, sofrimento porque eu acho que essas coisas quando você é muito jovem você não tem muito peso nas suas decisões sabe, então hoje parece que qualquer decisão que eu tome você reflete muito né você tem, ou não, não sei, pode ser que eu esteja achando isso nesse momento, pode ser que não, se eu tiver que tomar uma decisão aí, se aquilo for realmente do fundo do meu coração e tiver que tomar eu vou tomar mas, naquela época eu tive que vender algumas coisas minhas, eu rifei uma Vespa que eu tinha, uma scooter italiana, vendi minhas coisas todas que eu tinha de apartamento, de casa, de louça, de tudo que você pode imaginar, de roupa, tudo foi vendido, eu literalmente fui pros Estados Unidos pra ir embora, pra descobrir minha vida mesmo.

Henrique de Moraes – Legal, e voltando no assunto que você falou ali quando você estava contando a história da diferença quando o patrocínio começou a entrar no time, que só os homens recebiam, a gente sabe que ainda hoje existe uma diferença muito grande né nas modalidades femininas e masculinas especialmente em alguns esporte, por exemplo futebol tem uma diferença acho que discrepante do salário, enfim, mas você acha que a gente evoluiu em algum sentido, especialmente no vôlei né, no esporte que você praticou a vida inteira, acha que existe uma evolução ou ainda não é suficiente, como é que você vê isso hoje em dia?

Jackie Silva –  No voleibol a evolução foi muito grande, hoje algumas vezes as mulheres podem até receber mais que os homens, é muito interessante e eu acho que ali foi um marco, definiu bastante essa história porque veio à tona uma diferença absurda e depois assim, no caso do voleibol de praia, as mulheres ganharam a medalha de ouro na frente dos homens, também já saiu na frente mas assim, em todo o contexto do esporte eu não acho, acho que a mulher ainda batalha muito para conseguir nivelar junto com os homens né, mas aí não é só no esporte mas em tudo né, a gente tá brigando assim até por existir, o homem hoje, o homem mulher existem problemas sérios né, você vê o tratamento mesmo, uma situação que acontece muitas vezes, a maneira que os homens matam as mulheres é uma covardia e isso tudo eu acho que tem muito disso, dessa falta de reconhecimento do trabalho feminino.

Henrique de Moraes – É, eu acho que tá mudando, vejo pelo menos a discussão né

Jackie Silva – Ah com certeza, tá mudando

Henrique de Moraes – É, eu acho que isso é muito importante assim, a gente vê muita discussão, vê algumas empresas estão já se posicionando em relação à isso, a Uber por exemplo que começou com vários problemas na verdade lá no início, de assédio se não me engano, e hoje em dia eles mudaram de CEO e o cara foca muito, tem vários depoimentos de executivas que estão crescendo e são muito incentivadas e são muito valorizadas lá dentro, acho que é um passo importante né?

Jackie Silva – É um passo importante porque é uma atitude universal né, não é uma atitude de governo, porque se você ficar esperando por atitude de governo eu acho que não anda como deveria andar, então eu acho que cada um se começar a entender a situação e usar ferramentas para que determinadas coisas parem de acontecer é muito válido, principalmente no Brasil, você olha assim principalmente a mulher quando faz um trabalho que normalmente são homens que fazem, você olha e você pensa “Nossa, é uma mulher fazendo”, aqui é mais difícil isso, entendeu? Quando você viaja, você vê mulheres mais em situações de igualdade e você não se assusta tanto, aqui ainda existe muito essa diferença, desse trabalho que a mulher ocupa o mesmo trabalho do homem, então a gente precisa se acostumar mais, a mulher precisa estar no ambiente, a gente precisa que a mulher, todos se acostumem mais dela existir da mesmo forma, naturalmente.

Henrique de Moraes – E é engraçado que mesmo aqui no Brasil por exemplo, eu ouvi uma vez umas meninas falando sobre o machismo velado né, que você não percebe às vezes e que assim, sai sem querer na verdade, a pessoa nem tá tentando esconder nem nada mas assim, são expressões que a gente usa no dia a dia e que são machistas e a gente não percebe então por exemplo, quando uma mulher faz um trabalho muito bem feito e aí o cara fala assim “Nossa, não sei quem colocou o pau na mesa”, ou então “Nossa, fez que nem homem”, tem isso né, “Não, eu fiz que nem uma mulher”

Jackie Silva – É que assim, é o “engraçado” se as coisas fossem normais, mas não são entendeu, acaba que isso é uma coisa que desqualifica né, e é nessa que a mulher vai para um lugar que não tem que ir, se todo mundo estivesse na boa entendeu, mas não é. Por exemplo, eu fui uma vez chamada pela Confederação Brasileira de vôlei para ser treinadora das equipes sub-17 e sub-19, e eu era a única mulher de treinadora, o resto todos eram homens, os diretores eram homens, os coordenadores eram homens, os outros técnicos eram homens e eu era a única mulher, e a impressão que eu tinha era que toda vez que eu falava alguma coisa, não era porque eu era mulher mas eu tinha, eu via uma coisa diferente, tinha uma sensibilidade diferente por ser mulher, com certeza mas toda vez que eu falava eu sentia que as minhas palavras não faziam efeito nenhum entendeu, era praticamente “Passa aí, continua, fala outra coisa”, aquilo era muito ruim pra mim, entendeu

Henrique de Moraes – Frustrante né?

Jackie Silva – Muito frustrante, mas eu não parei de falar e acabei que, “acabaram” comigo, acabou que tinha uma hora eu fui convidada a sair da minha posição de treinadora porque eu tinha um olhar diferente então assim, não sei se eu fosse um homem com aquele olhar que eu tinha se aquele tratamento aconteceria entendeu?

Henrique de Moraes – Deixa eu te fazer uma pergunta, você pode responder só se você se sentir confortável respondendo tá, mas é que eu fiquei curioso assim, na época o que aconteceu com você quando você foi afastada, de certa forma aconteceu um assédio moral ali né mas na época acontecia também de ter assédio sexual ou coisas nesse sentido, porque hoje a gente tem um movimento enorme falando sobre isso né e a gente vê que é uma coisa que tá arraigada na cultura geral assim, especialmente nesse mundo que acho era mais dominado ainda pelos homens antigamente

Jackie Silva – O esporte é muito dominado pelos homens

Henrique de Moraes – Ainda né

Jackie Silva – É, se você olhar, os homens dirigem as mulheres no esporte, 90%, 95%, mas naquela época pelo menos comigo não aconteceu, não era esse o problema, mas é muito próximo né porque existe isso, existe e eu conheço histórias.

Henrique de Moraes – Eu assisti aquele filme, “Meninas de Ouro”, documentário que você participou e eram várias atletas também participando, e aí tem uma menina que fala sobre isso, acho que ela era nadadora e o técnico dela assediava ela, e ela era muito nova, acho que ela tinha 9, 10 anos, alguma coisa assim, era bem nova

Jackie Silva – Joanna Maranhão

Henrique de Moraes – Joanna. História surreal, ela era muito nova, eu com duas filhas pequenas não quero nem falar

Jackie Silva – É, porque o treinador, professor né eles em determinado momento se tornam pessoas assim, importantíssimas para um atleta, um aluno né, então é uma coisa assim, principalmente atletas hoje em dia né porque já aconteceram outros casos aqui no esporte do Brasil sabe, e que as mães e os pais confiam naquele personagem ali e na realidade ele está interpretando um treinador que quer que aquele atleta se torne o melhor atleta, e que vai cuidar do atleta, e aquilo pode sair né e assim, eu acho que nesse caso aí os pais tem que ficar muito atentos mesmo pra não abandonar ou delegar um poder que não é pra ser delegado entendeu, eu acho que você não pode ter, não deve ter essa confiança, eu acho que não precisa, é desnecessário, acho que é sempre bom você saber, você ter controle dos filhos.

Henrique de Moraes – Sim com certeza, concordo totalmente. Vamos voltar então aqui

Jackie Silva – Vamos voltar pra nossa história

Henrique de Moraes – É vamos lá, você tava então indo pra Califórnia né, e como é que foi isso, você falava inglês, como foi?

Jackie Silva – Não, eu falava pouquíssimo, eu fiz o Cultura Inglesa aqui no Brasil 3 anos, mas quando a gente chega lá fora parece que você não sabe é nada mesmo, mas eu sabia jogar vôlei, então era o que me salvava, em todas as situações eu me garantia em cima do vôlei, até acho que eu tenho certeza que foi uma das coisas que eu fui de cabeça né porque se eu não conseguia falar eu conseguia fazer, mas assim, não é fácil não, você se tornar estrangeiro é muito difícil né, você muda tudo né, você vai se transformando e a língua, é difícil falar outra língua, não é fácil, não é uma coisa que você aprende assim

Henrique de Moraes – Além da língua assim, de tudo que você passou, desafios, especialmente naquela época que não tinha internet, não tinha nada, o que foi o mais diferente pra você, o que você mais demorou pra se acostumar, você lembra de alguma coisa específica?

Jackie Silva – Olha, é engraçado, eu tinha dentro do esporte muita admiração no jeito que eles praticavam o esporte, no jeito que eles faziam o esporte né, no Brasil o esporte tá sempre muito distante de tudo né, aqui você entra pro clube, aqui você é chamado, lá você vai para escola, você vai para a universidade, então tinham coisas que eu gostava que eles tinham assim, uma organização muito bem feita então assim, eu gostava também deles como atletas, achava que eles não se emocionavam muito, eles eram meio frios sabe, olha que história louca eu queria melhorar esse meu lado sabe, eu achava que jogava bem vôlei mas tinha outro lado que eu desconhecia e eu queria aprender que era essa coisa do controle da emoção, e aí era isso assim, isso era uma coisa que eu lembro que eu gostava de fazer. Eu tive assim lógico, conheci vários brasileiros lá, lógico que meus amigos eram brasileiros mas assim, eu vivia muito durante a época que eu jogava, que eu ia à campeonatos, isso me deixava muito feliz né mas quando acabava a temporada, eu tinha muita dificuldade lá, era muito difícil. Somos muito não sei, eu como carioca, moradora do Rio de Janeiro eu acho que hoje é difícil falar né, estamos diante de uma situação muito estranha, mas o Rio de Janeiro é uma cidade espetacular pra mim, hour concours, então quando acabava minha função com o trabalho e de atleta essas coisas, aí eu caía no dia a dia do americano, aquilo me deixava meio depressiva.

Henrique de Moraes – E pra comer? Porque assim, uma coisa que todo mundo sente falta lá é de comida brasileira né

Jackie Silva – Ah mas eu cozinhava, eu sempre cozinhei, cozinhava lá direto e procurava uns restaurantes peruanos, Pollo Loco, eu ia procurar restaurante brasileiro, italiano, acho que comida nunca foi meu problema lá não, nunca graças a Deus.

Henrique de Moraes –  E com essa questão da confiança que você falou, de tentar absorver um pouco dessa frieza, eu sei que a Sandra falava que você era bem rígida né, e você acha que isso veio por conta desse aprendizado lá no Estados Unidos ou não, você já sempre foi assim, sempre foi muito exigente, muito focada e na verdade isso é uma coisa natural sua, como é que foi?

Jackie Silva – Não, eu acho que na hora que eu comecei a entender que eu queria mudar nesse aspecto sim, falava muito focada né porque tinha que fazer a coisa, tinha que fazer bem feito, eu queria fazer bem feito e queria saber de que maneira a gente poderia controlar isso entendeu porque como atleta eu ficava pensando “Poxa, se eles são frios eles sofrem pouco né, se o negócio dá certo eles não ficam muito felizes, se o negócio dá errado eles também não ficam tristes

Henrique de Moraes – Tá sempre linear né, sempre blasé

Jackie Silva – Então não tem aquilo, o Brasil não, o Brasil quando tá tudo certo é maravilhoso, todo mundo é uma merda e ele é o máximo, quando tá ruim é uma bosta, tudo para baixo não tem nada certo entendeu é tudo errado então não é legal sabe, então eu queria isso e quando eu entrava em campo eu tinha muita preocupação pra saber se aquilo tudo que eu tinha feito eu ia conseguir executar entendeu, e isso aí eu acho que é a grande dúvida dos atletas, saber se eles vão conseguir executar o que eles sabem fazer, o que eles treinaram para fazer entendeu, ou melhor do que isso, que eu acho que não é só isso a questão, é você ter a inspiração entendeu, você saber que aquele momento, aquela abertura vai entrar uma hora ali que vai vir uma coisa que você vai fazer extraordinária, você vai ter uma criatividade né, como é que você controla isso, eu sabia que eu tinha mas eu não tinha controle sobre isso, então podia dar certo como podia dar errado então eu comecei a querer aprender sobre isso e aí tinham umas coisas que eu ficava prestando atenção que era bem engraçado, que eu via muito, assistia muito outros atletas que eu admirava, jogadores que eu gostava, que eu achava que faziam coisas legais, e via também aqueles que faziam as coisas erradas sabe, era engraçado que você via assim às vezes o erro, era bem interessante assim, vai fazer um saque por exemplo né, aí você vai pro saque, o jogo tá super empatado, final de um jogo, importantíssimo ponto, você tinha a bola na mão e você vai executar o saque, aí de repente vem um negocinho no seu ouvido e diz assim “Saca curto, saca curto que ninguém vai pegar e você vai fazer o ponto, e esse ponto vai ser seu e você vai ganhar o jogo sozinho, faz isso”, e aí nessa hora que você faz que é a hora que não vai dar certo né, porque essa voz sempre vem na sua cabeça, que tem sempre alguma coisa que ultrapasse, vá além do seu treinamento assim, se você faz um treinamento de uma coisa e no meio do seu trabalho tem essas coisas, esse pensamento que pode ocorrer, por exemplo tinha uma jogadora que ela, você sabe que o vôlei de praia ele tem tempo ruim, tem vento a favor, vento contra, tem sol, então às vezes você vai para o campeonato e aí chega na praia e tá aquele vendaval e tem jogadores que não conseguem jogar com vento, e antes de entrar em campo a pessoa já tá sofrendo muito com aquilo

Henrique de Moraes – Já tá antecipando

Jackie Silva – Antecipou muito e é lógico que aquilo é um fator que vai fazer diferença no jogo de todo mundo mas só que umas pessoas, alguns jogadores sofrem com antecedência, eles sofrem antes entendeu, então essas coisas eu comecei a pensar sobre isso, eu pensava muito sobre isso então eu sempre quis conhecer mais, ter esse tipo de controle.

Henrique de Moraes – E nessa habilidade específica que você tá falando sobre o controle emocional né basicamente, você aprendeu isso só observando ou você tinha alguém também que te ensinava, alguém de lá que passava de repente alguma dica importante ou que passou alguma filosofia, alguma coisa para você absorver isso tudo?

Jackie Silva –  Eu sempre procurava ler, lia muita biografia também dos atletas, eles chamam de você entrar na zona, na zona de concentração, alguns né falam isso mas eu queria saber como é que entra nesse lugar quando você quer né, não só quando ele acontece que você tá nessa hora importantíssima e você não vai escutar aquela vozinha que vai te falar para você fazer uma coisa que não vai dar certo entendeu, então é isso e eu pensei muito nisso e até hoje eu acho que eu sou um pouco assim, até hoje eu quero saber sobre isso sabe, sobre esse tipo de coisa que passa na gente, essas emoções, esses pensamentos que a gente tem e tudo mais

Henrique de Moraes – É autoconhecimento no final das contas, que acho que é importante para qualquer área né?

Jackie Silva – É isso, é um outro controle, não porque eu acho que minha vida se tornou uma vida mais fácil, não acho nada disso, pelo contrário, eu fiz até assim um curso de empreendedorismo porque eu tava querendo encontrar um equilíbrio na minha vida, eu achei que depois de, essas coisas que a gente fica achando né que tudo que você faz, tudo que você já fez, tudo que você é ainda não é o suficiente, e isso daí é uma verdadeira agonia né

Henrique de Moraes – Sim, acho que é “A” agonia

Jackie Silva – É uma agonia, e aí eu fiz esse curso e foi ótimo porque para mim entrou como, era uma competição, virou uma competição essa história, aí lógico quando eu vi que era uma competição eu me empenhei com tudo né, aí eu e o grupo que eu fiz parte vencemos a competição. Aí eu ganhei um livro, e aí tinha sobre essa coisa do pensamento né, de você saber a forma que você pensa as coisas, aí eu comecei a ler isso e falei “Interessante isso” né, porque realmente tem horas que a gente fica pensando tanta coisa, tanta coisa que nos pensamentos ou você é o máximo ou você é uma merda, e na maioria das vezes é mais pra mal do que pra bem, mas esse era só um pedaço, não era o livro todo sobre isso, e eu falei “Que coisa interessante, vou me voltar pra essa parte agora” porque alguma coisa eu devo estar procurando pra me meter com essa coisa de empreendedorismo, não sei nem se isso tem a ver comigo, porque não é possível, deve ser alguma coisa dentro de mim que continuo insatisfeita ou dizendo para mim que “Agora você é campeã olímpica, você já foi tanta coisa, já escreveu três livros”, já fez sei lá, você que estudou minha vida, e ainda não conseguiu ficar equilibrada na vida, eu falei “Não é possível que isso vai continuar, eu vou passar a vida nessa tristeza né porque nada vai parar com isso”

Henrique de Moraes – Isso é engraçado né, acho que qualquer um passa por isso, qualquer um sente isso né, você vai conquistando as coisas e você vai acostumando com tudo que você conquistou seja grande, pequeno, acho que qualquer um passa por isso independentemente de até onde você chegou, você ouve pessoas que conquistaram rios de dinheiro e ainda estão disputando com uma pessoa que tem um iate maior né, e uma coisa que eu aprendi pelo menos, que me ajuda, não que elimine isso mas que me ajuda um pouco é praticar gratidão, e aí todo dia eu anoto 3 coisas que eu sou grato por, seja pequena, grande, qualquer coisa que aconteceu no dia e isso me ajuda a manter pelo menos a minha cabeça mais ligada às coisas boas que estão acontecendo porque senão você fica o tempo inteiro pensando só no que você não tem, não conquistou ainda e isso pra mim é muito problemático e começo a ficar ansioso.

Jackie Silva – Mas então, esse momento agora que nós todos estamos vivendo, eu tô pensando nisso que você tá falando, porque eu vejo meus amigos aí planejando, projetando, querendo já fechar projeto, a gente mal sabe quando vai dessa situação e de como vai sair, de que forma e por exemplo, pra mim eu não tô conseguindo pensar em nada sabe, que “Ai será que vou fazer?”, “O que eu tenho que fazer?”, e aí comecei a pensar “Não, é melhor eu fazer pros outros”, porque acho que se eu pensar em fazer praqueles que estão precisando eu vou conseguir ter ideia, porque pra mim realmente não tenho ideia nenhuma, e não quero ficar mais angustiada não

Henrique de Moraes – É uma boa escolha. Deixa eu te perguntar, quando você mudou pros Estados Unidos, além de tudo você não tinha uma forma de se comunicar direito com a família né, hoje em dia a gente fala por WhatsApp, Facetime, Skype, é a coisa mais fácil que tem, é mais fácil você estar falando com as pessoas do que não estar falando porque mesmo quando não quer falar alguém te liga, te manda mensagem e fala com você

Jackie Silva – Essa época agora que a gente está em casa eu achei que, agora tó colada com o celular não consigo nem tomar banho sem celular, ridícula a cena

Henrique de Moraes – Mas naquela época você não tinha isso tudo

Jackie Silva – Devia ser melhor, a vida era bem melhor

Henrique de Moraes – Era mais simples né?

Jackie Silva – É, porque gastava-se muito dinheiro com ligação, era uma fortuna mas ao mesmo tempo a sua identidade tava ali salva, você praticamente era dono do seu nariz

Henrique de Moraes – É verdade, porque hoje em dia até pra você fazer alguma coisa, você falou que na época você lia biografias e tudo mais, até pra você sentar pra ler é difícil né, porque você senta pra ler e de repente chega um Whatsapp, você tem que lutar contra a vontade de abrir o celular e ver quem mandou mensagem, ou o que aconteceu

Jackie Silva – Não é? Pois é, então eu fico pensando agora, se isso que tá acontecendo com a gente nesse momento é pra que nós, seres humanos sei lá, transforme essa vida em outra coisa e sei lá, tá me transformando pro pior porque tô achando que tô ficando mais conectada, eu não quero, eu não era assim, entendeu? Eu estaria na praia dando treino, correndo, fazendo ginástica, agora tô colada com esse negócio aqui entendeu?

Henrique de Moraes – Acho que tá todo mundo passando por isso na verdade, pra conseguir mudar vai precisar de muita meditação porque todo mundo parado em casa sem fazer nada, é difícil

Jackie Silva – O sem fazer nada que é difícil né, e a gente não tá nem na metade do caminho né e a gente não se ajoelhou eu acho. Nossa, que horror.

Henrique de Moraes – Mas deixa eu te perguntar, eu vi uma história que eu ri tanto, que a Sandra quando mudou ela era noiva e gastou 4 mil dólares falando com o noivo no telefone

Jackie Silva – Que horror aquilo, agora acabou com o noivo né, quando veio a conta de 4 mil dólares não tinha mais noivado né

Henrique de Moraes – Foi ele que pagou?

Jackie Silva – Não, foi ela, quem ligou foi ela, quem tava carente. Mas era bom, porque ali pelo menos essa questão do dinheiro você com a sua carência tinha valor, agora não tem mais, agora você fica carente você vai, descasca no telefone que não acontece nada, o que é péssimo né

Henrique de Moraes – É verdade, é verdade, inclusive não só assim, porque com o noivo provavelmente você quer falar, pior são as pessoas que você não quer falar e ainda assim elas não pagam nada pra te ligar

Jackie Silva – É verdade

Henrique de Moraes – Isso é mais difícil. Mas quando você tava lá, de quem você sentia mais saudade? Com quem você gastava seus dólares ligando?

Jackie Silva – Ah, com a família mas era assim, era conta alta o tempo inteiro, a da Sandra barrou, ela bateu o meu, chegava a 1.500, o que já era um absurdo

Henrique de Moraes – É verdade, eu acho que tem gente que vive com 1.500 dólares nos Estados Unidos

Jackie Silva – Porra, você imagina? Mas era muito louco isso e eu até acho que durante os Jogos Olímpicos que nós vencemos, tinha esse lado que era ótimo porque o nosso contato, o nosso desempenho né porque a gente começou a Olimpíada ganhando e tudo mais e tinha toda uma expectativa que fóssemos vencer, e isso acontecia no Brasil, a gente não vivenciava aquilo, o que ajudou bastante, agora imagina hoje, você vai pra uma Olimpíada e entra no Facebook e começa o pessoal “Tão arrasando, tão mandando muito bem”

Henrique de Moraes – É verdade, requer muito mais concentração, mais fora de vontade

Jackie Silva – E bombando o ego na hora errada, aquela Copa do Mundo do Brasil, aquela coisa horrível que aconteceu na copa de futebol, o 7×1, aqueles jogadores todos na internet, olhando Facebook, imagina

Henrique de Moraes – Antigamente você não tinha contato com ninguém e ainda podia ir pro bar sem ninguém te reconhecer

Jackie Silva – Pois é você tá vendo, era uma vida muito melhor, os sentimentos eram outros, muito louco porque assim na Copa do Mundo o futebol foi concentrar em Teresópolis, e aí os jogadores de futebol davam entrevista de gorro, luva porque tava frio e a Alemanha foi lá pro sul da Bahia numa tribo, trocaram tudo né, o Brasil que tinha que estar lá com os índios, que besteira, o dinheiro atrapalha né

Henrique de Moraes – É, quando você acaba fazendo as coisas talvez desnecessárias ou sem pensar muito não sei, enfim, não tenho dinheiro pra saber, quando eu tiver eu volto a falar e a gente conversa de novo sobre isso

Jackie Silva – Eu também, vambora

Henrique de Moraes – Mas aí deixa eu te perguntar, você foi pros Estados Unidos e você ajudou a desenvolver lá o vôlei de praia e seu nome começou a ficar muito conhecido, você virou a melhor jogadora de vôlei de praia lá dos Estados Unidos e isso chegou no Brasil e você foi convidada pra voltar né, pra jogar pelo Brasil de novo, certo?

Jackie Silva – É isso mesmo

Henrique de Moraes – E assim, você falou a um tempo atrás aí de ego, como é que tava o seu ego nessa hora que você recebeu esse convite pra voltar tendo conquistado tudo o que você conquistou?

Jackie Silva – Eu não quis não, meu ego tava altíssimo, eu falei “Tá louco, vou voltar pra lá? Tô bem aqui”, eu tava bombando lá nos Estados Unidos, acho que pra voltar praquela história toda, aquela coisa, que os homens controlam as mulheres, eu só pensava nisso, de novo aquela história mas aí o meu treinador americano me convenceu que era um absurdo aquilo porque assim, era mais ou menos o que vai acontecer agora com o surf, o surf entrou na Olimpíada e o surf se você pensar não é um esporte que combina com Jogos Olímpicos né, é porque o Comitê Olímpico tá apelando pra todos os lados, eles vivem disso então daqui a pouco você vai entrar nos Jogos Olímpicos e não vai nem reconhecer mais, acabou toda a essência

Henrique de Moraes – Bocha

Jackie Silva – Vai ter outra coisa né, e-games, só isso porque é tudo que dá dinheiro, a consciência deles é essa. Aí no voleibol de praia tinha aquele espírito de liberdade, era organizado pelos jogadores, eram os jogadores que sentavam para discutir para onde estava indo o esporte, não tinha um dirigente botando o dedo naquela história né, então era maravilhoso ele cresceu de uma maneira lindíssima né, era exatamente como é o surf. Mas ele cresceu tanto que também os atletas maiores, o ego deles também foi grande e também quiseram entrar nessa coisa do Olímpico né, queriam ser olímpicos, e aí foi essa coisa de participar dos Jogos Olímpicos, eu não quis, eu falei “Ai gente que saco, vou ter que voltar pra lá, vou ter que voltar pro Brasil”, já tinha pensado nisso, já tava com casa no Estados Unidos, meus patrocinadores eram americanos e tudo mais, mas aí o treinador me convenceu que eu fazia parte dessa construção toda e que eu tinha que estar nesses primeiros jogos olímpicos do vôlei de praia. E aí eu fui, antes eu encontrei a Sandra, vim ao Brasil, busquei a jogadora, pô foi maravilhoso nosso encontro eu e Sandra, convenci a Sandra de ir pros Estados Unidos comigo porque lá eu achava que ela ia aprender bem mais rápido a jogar vôlei de praia porque lá era o coração do esporte né, e aconteceu bem direitinho as coisas que eu achava que tinham que acontecer assim, por uma linha certa sabe

Henrique de Moraes – Legal. Quanto tempo que levou desde que você chamou a Sandra até vocês se tornarem campeãs?

Jackie Silva – 2 anos

Henrique de Moraes – Caraca muito rápido

Jackie Silva – Muito, ela foi muito guerreira porque, primeiro que a Sandra era muito verde assim, ela era muito, fisicamente ela era muito forte mas tecnicamente ela precisava desenvolver muita coisa e tinha que ser muito rápido, então foi um treinamento puxado, volto a te dizer

Henrique de Moraes – E ela não podia nem comprar drink né porque não tinha idade

Jackie Silva – Não, mas ela não gostava disso não, mas ela tinha que entrar no bar né, pelo menos acompanhar, mas assim nesse negócio ela foi legal porque ela segurou a onde, e foi difícil mas foi bom, foi bom. Deu tudo certo, fico muito feliz com a história porque a estrada é boa

Henrique de Moraes – Com certeza, e quando vocês foram campeãs, qual foi o pensamento menos provável que surgiu na sua cabeça? Porque tem tudo que passa né, imagino que seja uma emoção muito louca, quase que indescritível mas teve algum pensamento que foi muito fora da curva que tenha aparecido, surgido na sua cabeça nessa hora?

Jackie Silva – Assim, eu acho que foi mais um descanso sabe, tipo “Graças a Deus” porque são muitas decisões durante a trajetória, são muitas decisões que você tem que tomar e muita coisa você não sabe se vai dar certo, e dá errado também, dá muita coisa errada, eu lembro assim que quando eu chamei a Sandra eu era a primeira do ranking nos Estados Unidos e quando encontrei com a Sandra e a gente começou a jogar o time só perdia e aí eu desabei, fui parar no último lugar do ranking junto com a Sandra, aí eu achei que foi a pior coisa que eu tinha inventado na minha vida, mas aí já que eu tava ali não tinha mais volta então bola pra frente, então era isso entendeu, porque eu em cima e a Sandra embaixo como era também não tinha nada a ver porque como time não poderia funcionar nunca, só iria funcionar se realmente eu caísse e as duas subissem juntas, que foi exatamente o que aconteceu, só que nessas horas decisivas assim quando as coisas dão errado você não sabe que aquilo pra frente vai dar certo entendeu, ou você vai e não cede, continua, que foi o caso da gente, a gente continuou, de vez em quando dava uma luz que ia dar certo, de vez em quando vinha umas coisas assim que poxa, se desse certo ia dar muito certo mas mesmo assim foi difícil.

Henrique de Moraes – E a preparação física, especialmente nessa época acho que era bem intensa e dolorosa né, imagino que vocês devam ter intensificado muito, especialmente a Sandra que como você falou tinha que melhorar muito tecnicamente e assim, pra você qual era a parte mais difícil do treinamento, dessa preparação pros Jogos Olímpicos e se você tinha alguma coisa no dia a dia, tipo alimentação ou qualquer outra coisa, qualquer outro hábito que fosse difícil de abrir mão, qual era o mais difícil pra você?

Jackie Silva – Muitas manias, tinha várias manias

Henrique de Moraes – Tipo o quê?

Jackie Silva – Ah, tudo, a comida minha era diferente, essas coisas que eu falei para você no início aí de pensamento, de controle e aí eu fiquei muito chata, fiquei muito neurótica e fanática assim, sabe? É muito estranho, mas foi bom, parei de comer carne, parei de beber e a alimentação era totalmente diferente, tudo virava um motivo, eu devia ser muito chata, eu acho que era muito chata, coitada da Sandra, a Sandra ela viu assim, e nós tínhamos um problema, nós brigávamos muito porque eu acho que eu devia ser controladoras, eu tinha mais experiência então parecia que eu sabia mais das coisas e aí eu dizia que aquilo não ia dar certo, aí ao mesmo tempo a Sandra também tem uma personalidade muito forte, então ela debatia e aquilo nunca acaba muito bem sabe, então eu acho que teve muita conquista, acho que mais até para a gente conseguir chegar da maneira que a gente chegou nas Olimpíadas e vencer sabe, porque tivemos que, não resistir, não resistimos à várias situações sabe que vinham, a gente sempre se dobrava à elas sabe porque era difícil mesmo, e como éramos nós, sempre nós, não tínhamos um treinador que era o cabeça da história, não era isso, era sempre eu ia na frente liderando e a Sandra vinha atrás então um desgaste muito grande mas deu certo. Eu não faria de novo, então acho que a sensação que eu lembro foi de “Ufa, acabou’ Chega disso pelo amor de Deus, vamos pro próximo desafio”.

Henrique de Moraes – E pior que nem relaxa né, porque depois você já começa a pensar no próximo desafio

Jackie Silva – As pessoas ficam perguntando né “E agora você quer o que?”, aí você até inventa, você nem quer nada mais sabe? Aí te convencem de que você tem que querer alguma coisa, “E agora depois disso vai ser o que?”, sei lá porra, é muito difícil, você sabe que já tem quase 20 sei lá, vai fazer 30 anos de medalha de ouro e não teve outra medalha de ouro feminina né, acho que agora o Brasil tem mais chance, tá com uma chance boa da Duda com a Ágata, a Rebeca e a Ana Patrícia, mas é isso, é difícil, nem eu sabia que era tão difícil.

Henrique de Moraes – É verdade, é engraçado, e deve ser um sentimento misturado né porque ao mesmo tempo que dá um orgulho em falar “Tá vendo, vocês estavam menosprezando mas a gente conseguiu essa medalha aqui e mais ninguém conseguiu”

Jackie Silva – Mas é verdade, eu acho que a cada Olimpíada que passa eu concretizo isso entendeu? “Porra, difícil hein”, mas é difícil porque é um momento, entendeu, é uma hora ali, é aquela coisa que você tem que estar tudo dando certo, são 4 anos o ciclo né, de 4 em 4 anos você tem que estar naquela hora naquele momento dessa forma pra dar certo.

Henrique de Moraes – Você quer falar um pouco sobre os projetos que você tá na frente hoje?

Jackie Silva – Hoje eu tenho meu projeto de coração que se chama “Atletas Inteligentes”, o meu Instituto trabalha num CIEP em Duque de Caxias e eu entrei nessa escola com uma vontade de fazer um trabalho dentro da escola, tinha um patrocinador bem legal que queria fazer alguma coisa para comunidade, e aí eles queriam fazer em algum lugar e eu conversando com eles falei “Pô, vamos fazer dentro dessa escola, fazer essa escola ficar bacana”, e aí há 6 anos atrás eu comecei o trabalho dentro da escola e para mim é uma satisfação porque eu sempre fui defensora do esporte educacional, esporte dentro da escola e aqui no Brasil não é a maneira que eles vêem o esporte nas escolas públicas, o esporte nas escolas públicas é bem fraco, quase nada educação física e então assim, eu consigo pelo menos nessa escola fazer com que isso aconteça e eu trabalho lá direto, a diretora é a segunda diretora que já trabalha, a primeira diretora foi a Palmira, foi uma pessoa que me incentivou muito, abriu as portas da escola e fizemos a quadra, os vestiários, reformamos a biblioteca e hoje eu faço parte da escola, agora temos a Patrícia que é a nova diretora, maravilhosa também e a gente trabalha junto para defender ali a escola, dentro da daquela comunidade ela faz um papel importantíssimo de ser uma escola com um espaço, com esporte forte e é isso, a ideia é fazer com que essa escola seja uma escola principal dentro dessa comunidade.

Henrique de Moraes – E você tá há quanto tempo com tocando esse projeto?

Jackie Silva – 7 anos

Henrique de Moraes – 7 anos, caramba! E você já viu algum talento brilhar lá?

Jackie Silva – Ainda não mas assim, no “Atletas Inteligentes” começou esse menino, Evandro que vai representar o Brasil agora nas Olimpíadas, ele saiu dos “Atletas Inteligentes”, a primeira vez que eu fiz o projeto foi na praia, o Evandro veio dos “Atletas Inteligentes” e assim, a minha intenção não é sair grandes atletas não mas você sabe Henrique, que sempre sai? Sempre sai, não tem como não sair entendeu? Existem se você der a oportunidade, abrir o espaço para que isso aconteça, essa é a grande verdade, você ter o espaço, tem uma garotada aí maravilhosa, tem uma menina de 13 anos de idade com 1,86 maravilhosa entendeu, a dificuldade é que muitas vezes não conseguem chegar no treinamento entendeu, a distância é grande, essas dificuldades é que atrapalham bastante, não existir um mecanismo que o esporte fosse para todos, o esporte não é para todos entendeu, esporte é para alguns, infelizmente. Cuba, a primeira vez que eu fui à Cuba entrei no ginásio e tinha essa faixa “Esporte é para todos”, e eu falei assim “Poxa, quem dera”

Henrique de Moraes – Você tem um ou mais livros que tenham impactado muito sua vida?

Jackie Silva – Olha, eu não sou muito boa de leitura não, eu leio aquelas coisas necessárias, eu agora por exemplo tô lendo um livro que não tem muito a ver não, não tem muito a ver que eu digo assim as pessoas podem até ficar assustadas que é “Do viver e do morrer”, fala sobre a vida e a morte, é um livro tibetano, esse livro tava rodando aqui na minha casa há um tempão, não consegui pegar aí agora nessa hora parece que ele caiu que nem uma luva, ele é ótimo entendeu, um livro muito bom tô muito feliz com ele.

Henrique de Moraes – Legal não conheço, vou procurar.

Jackie Silva – Vai procurar que você vai ver que coisa interessante, fala sobre pessoas, ninguém pensando sobre a morte, as pessoas evitam a morte né como se jamais fosse acontecer, e aí pra falar sobre a morte a gente tem que começar falando da vida né, então é bem interessante. E sobre essas coisas que eu já falei, que é uma coisa que eu sempre refleti, aquela coisa da emoção, do pensamento, tem um livro que eu comecei a ler, acaba que eu sempre pego ele de volta em alguma hora, se chama “Um Novo Mundo”, é de um filósofo, Eckhart Tolle e fala sobre essa coisa do pensamento entendeu, voltando eu comecei a procurar, pesquisar e queria saber sobre isso, aí é um livro que me interessa bastante. É isso

Henrique de Moraes – Ele fala sobre o que?

Jackie Silva – Ele fala sobre esses pensamentos que a gente tem entendeu, que controlam as pessoas e que as pessoas são influenciadas por esse comando e que as pessoas cada vez, você ser viciado, hoje você é viciado em bebida, você é viciado em internet, você é viciado em sei lá, alguma outra coisa e você também é viciado em pensamento, pensamento é uma coisa que atordoa sabe, ele é compulsivo, ele não para a não ser que você comece a ver ele entendeu, a saber o que está acontecendo, não deixar que um pensamento transforme sua vida, que o pensamento comande sua vida, você não ser uma pessoa compulsiva pensando.

Henrique de Moraes – Entendi, muito legal, vou procurar saber também, curti os dois já.

Jackie Silva – Que bom, é um novo mundo, uma nova consciência.

Henrique de Moraes –  Com certeza, e a gente vai sair ainda mais renovado provavelmente depois disso tudo.

Jackie Silva – Henrique, eu acho que tá na hora da gente começar a pensar mesmo essas coisas sabe, tá difícil, tá muito esquisito.

Henrique de Moraes – Tá esquisito, acho que essa é a palavra que define. E você lembra de algum conselho que tenha recebido e que tenha também criado um efeito muito grande, tenha impactado sua vida?

Jackie Silva – Tinha um ditado que eu falava muito para a Sandra assim, porque eu lembro que logo quando eu levei, quando eu fui com a Sandra para os Estados Unidos e aí a forma que eu achava que era bom para ela aprender era assistir os jogadores, aqueles caras que jogavam bem, as meninas, aí eu falava “Sandra vamos lá, sentar atrás naquele jogo e ficar vendo como eles jogam”, só que às vezes a gente ia ver os jogos de quem a gente tinha que ganhar depois, e a Sandra ficava “Ai, que jogadora maravilhosa, nossa que saque incrível, que defesa, poxa ela pega tudo”, eu falava “Não, se a gente continuar dessa maneira a gente não vai ganhar delas” aí eu falava assim “Sandra, quando avistares a sombra de um gigante olha para a posição do Sol, pode ser um anão”

Henrique de Moraes – Muito bom

Jackie Silva – Aí ela falava “Olha pra posição”, eu eu dizia “Pode ser um anão”

Henrique de Moraes – Muito bom, tudo questão de perspectiva né, vou usar essa bastante agora, peguei emprestado com certeza. E fora o Brasil, qual foi o lugar que você mais gostou de morar? Você morou também na Europa né?

Jackie Silva – Morei na Itália e morei nos Estados Unidos, na Califórnia mas eu gostei de morar na Califórnia, gostei naquela época, hoje eu não gostaria de morar não.

Henrique de Moraes – Você ainda vai muito pra lá?

Jackie Silva – Não, sabe que é um lugar que eu voltei mais uma ou duas vezes, e agora tô com uma passagem marcada para 3 de Junho para Los Angeles, dancei mas acho até bom, eu falei “Só faltava essa, agora eu cair nos Estados Unidos”. A Itália foi um lugar que eu morei mas eu sofri muito, muito frio e eu tive muita dificuldade lá, naquela época as pessoas fumavam em tudo quanto é lugar, fumavam dentro de restaurante fechado e eu tinha dificuldade porque não conseguia ficar naquela fumaça toda, e era inverno, tudo fechado, acho que foi isso, o inverno me pegou de jeito lá, então não gostei.

Henrique de Moraes – Imagino, pra brasileiro frio é sempre

Jackie Silva – É bom passear ali poucos dias mas quando você começa a morar, no frio é muito difícil.

Henrique de Moraes – Verdade. E você hoje tem algum hábito que implementou para manter uma vida mais saudável? Fora o esporte, mas alguma coisa por exemplo, meditação, uma prática diária que você faça pra ficar com a cabeça mais no lugar?

Jackie Silva – Eu não sou de meditação, não gosto não sei, já fiz algumas vezes mas nunca me pegou não, eu faço ginástica, gosto, eu gosto de ir à praia, adoro a praia.

Henrique de Moraes – Desde pequena né?

Jackie Silva – Eu gosto dessa coisa da natureza, eu acho que perdemos muito tempo sem ter contato, eu me sinto uma pessoa privilegiada nesse sentido sabe, o meu trabalho é na praia, eu tenho esse contato, caminho na areia, eu nado, eu pego sol, eu caio na areia, acho que a gente, o homem se distanciou na natureza e é um pecado entendeu porque a natureza é Deus, e aí as pessoas vão se distanciando, vão ficando nesse negócio de ficarem cada vez mais ocupadas, mais projeto e esquecem que a vida não é isso.

Henrique de Moraes – É verdade, uma semana antes de começar o lockdown, de todo mundo ter que ficar em casa, eu tava já passando dias estressantes né, trabalho e tem um amigo meu que é músico, ele tava me mandando um monte de mensagem me chamando para ir para praia de manhã antes do trabalho, falando assim “Vamos mais cedo, chegar sei lá umas 7 horas, depois você volta e começa umas 10h, um pouquinho mais tarde nesse dia, vamos ver se a gente faz isso”, e aí acabou que teve um dia que eu olhei pra minha agenda assim e ela tava liberada de reunião né, eu tinha coisa para fazer mas não tinha nenhuma reunião e aí eu mandei mensagem para ele “Cara, vamos hoje 14h”, e aí fui eu, minha esposa, minha filhinha, a gente tem uma bebezinha e fomos com ele e com a namorada dele e cara, foi assim maravilhoso, você ir durante a semana pra praia, a praia vazia, e aquilo dá uma renovada também até pro dia seguinte você voltar a trabalhar, você volta com muito mais gás, é impressionante.

Jackie Silva – Lógico, é isso, é isso que as pessoas acham que não tem esse tempo, que não existe esse motivo, isso é muito louco entendeu? E as pessoas não vão se tocando que elas vã curvando, vão ficando distantes de tudo, você sem a natureza não é nada, não só ir à praia mas por exemplo você dar uma volta no Jardim Botânico, ou então você olhar a imensidão da natureza, de uma árvore comprida sabe, de um tronco e você saber “Caramba, isso não foi feito por uma máquina, não foi feito por nada, isso somos nós”, por isso que o que acontece? Vai se distanciando tanto que depois quando vai lá Brumadinho e acaba com o Rio Doce ninguém nem fica triste

Henrique de Moraes – Não sabe nem o que significa né?

Jackie Silva – Não sabe nem o que é aquilo gente, como é que pode, destruiu um rio inteiro entendeu? Ninguém nem chora, é de chorar uma coisa daquela. Agora estamos aqui prisioneiros, sem ar, o inimigo é o ar olha que ótimo, vamos ver se quando sair daqui as pessoas não vão ficar prestando mais atenção na natureza, porque ficar sem essa liberdade é a coisa mais triste do mundo

Henrique de Moraes – Torcer pras pessoas não saírem do lockdown e irem pro shopping né?

Jackie Silva – É, que horror, que horror.

Henrique de Moraes – Tô doido pra dar uma volta de bicicleta, ver a praia também

Jackie Silva – E você tá vendo como tem tempo, como dá tempo?

Henrique de Moraes – Como dá tempo, é verdade, é uma coisa que eu falo muito com as pessoas, as pessoas estão tirando muitos projetos da gaveta e colocando coisa pra rodar apesar de não ser nem esse o propósito disso tudo, mas de repente todo mundo fazendo exercício em casa, todo mundo se alimentando bem, eu acho que muita gente dava desculpa e agora tá vendo que não tem mais o que fazer, tá meio entediado e tá começando a colocar os projetos pra frente

Jackie Silva – Pois é, e vai ter uma hora também que vai parar de botar projeto pra frente, você vai ver.

Henrique de Moraes – Com certeza

Jackie Silva – Na primeira semana saiu todo mundo querendo botar projeto pra frente, agora todo mundo falando “Caralho, o projeto vai pra onde? Com o que? Como?”, agora você pode até botar o projeto pra frente, mas como? É que nem o governo, que não tinha dinheiro pra nada, e de repente começou a aparecer um dinheiro, que dinheiro é esse? Aonde tava isso? Porque não consertou o hospital antes? Aquele Hospital do Fundão, que é maravilhoso tava todo quebrado. Um amigo meu estava internado ali porque estava sem plano de saúde, aquele é um hospital professor, altos médicos tem ali, não tinha elevador, tava um horror, tinha buraco no teto, porque não consertou o negócio gente? Vergonha entendeu? Porque não tinha dinheiro? É essa tal coisa, pra que serve mesmo o dinheiro?

Henrique de Moraes – Essa é a pergunta mais difícil, eu acho.

Jackie Silva – Mas pra que serve mesmo o dinheiro, porque você vai ter que gastar o dinheiro agora

Henrique de Moraes – Jackie, a gente tá chegando ao final, eu queria te perguntar uma coisa, você tem rede social, as pessoas te encontram lá ou você não usa esse tipo de veículo? Como as pessoas podem te encontrar, Facebook, Instagram?

Jackie Silva – Eu tenho, o Instagram é @jackievolley é o Facebook é Jackie Silva

Henrique de Moraes – Perfeito, pra galera procurar depois se precisar. Jackie, obrigadão pelo seu tempo, obrigado pelo bate papo

Jackie Silva – Henrique muito obrigado você também, eu adorei o bate papo, ocupou bastante meu tempo

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