Thaís Rosa é CEO da Conectando Territórios, agência de turismo que alia educação e conecta pessoas à história e cultura Afro-Brasileira de comunidades tradicionais, (como quilombolas), urbanas e lugares de memória como o Cais do Valongo no Rio de Janeiro.

ela é: mestra em memória social (UNIRIO); especialista em análise ambiental e gestão do território (ENCE); especialista em economia, turismo e gestão cultural (UFRJ); especialista em história da África e Afro-Brasileira (FACHA); especialista em estudos da paz e resolução de conflito (Chulalongkorn); guia de turismo Embratur. Thaís pesquisou por mais de nove anos o turismo de base comunitária em comunidades quilombolas.

tem experiência em desenvolvimento de projetos aliados à memória, fronteiras étnicas, identidade, territorialidade e cultura Afro-Brasileira.

ela é Alumni do Young Leaders of the Americas Initiative (YLAI) do Departamento de Estado Americano e do Rotary Peace Alumni. atualmente estuda na Universidade Columbia no programa Alliance for Historical Dialogue and Accountability (AHDA). Thaís já palestrou em congressos internacionais na Colômbia e Estados Unidos e também organizou eventos e intercâmbio entre Brasil e EUA.

seus temas são: deslocamento, mulheres, comunidades quilombolas e tradicionais, memória e cultura.

ela desenvolve projetos como diálogos sobre deslocamento e mapa da escuta, trabalhando questões étnicas e de territorialidade.

ela também é criadora da websérie Nzinga: Mulheres Viajantes Conectando Territórios: www.conectandoterritorios.com.br Youtube: www.youtube.com/watch?v=nmC8dQIVjK4&t=10s

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Chico Buarque
  • Aline Motta
  • Marcos Machado
  • Donald Trump
  • Chimamanda Ngozi Adichie
  • Waris Dirie
LINKS IMPORTANTES

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Henrique de Moraes – Olá Thaís, seja muito bem-vinda ao calma!, estou muito feliz de estar batendo esse papo aqui contigo, como eu falei um pouquinho antes da gente começar, tô com uma tonelada de anotações e perguntas aqui, se deixar a gente vai ficar umas 5 horas conversando, a gente vai ter que ficar controlando o tempo aqui mas seja muito bem vinda.

Thaís Rosa – O prazer é todo meu Henrique, muito obrigada pelo convite, é um grande prazer estar aqui conversando com você.

Henrique de Moraes – O prazer é todo meu. Vamos lá, vou pular logo aqui pra entrevista porque eu quero passar pelo máximo de tópicos que eu coloquei aqui e um que me chamou muito a atenção, eu tava ouvindo uma entrevista num podcast né que você participou e você fala que quando você era pequena você escrevia cartas para pessoas que moram no exterior né e eu fiquei muito curioso de como que é essa dinâmica assim né, de hoje surgiu primeiro esse hábito enfim, de onde surgiu essa ideia né, inclusive se era um programa ou alguma coisa assim, de onde surgiu essa vontade inclusive também muito nova né inclusive, de começar a escrever pra pessoas no exterior, e como que era a experiência como um todo assim, você pode contextualizar um pouquinho, se quiser contextualizar de alguma forma, onde você tava, qual era sua idade, que momento de vida, pode falar um pouquinho também, entrar em detalhes

Thaís Rosa – Eu na verdade sempre me interessei por outras culturas assim, isso era uma coisa que desde criança, eu era aquela criança, a minha mãe tinha enciclopédia Barsa e eu ficava, a minha diversão era ficar olhando na Barsa sobre países e outros lugares, tipo mapas né, eu sempre ficava pesquisando sobre como outras pessoas viviam, ficava vendo os programas do National Geographic, família Schürmann também, no Fantástico eles sempre viajavam e eu ficava “Ai gente quero ir pra esse lugar”, meu sonho era experienciar aquilo também né e minha mãe me colocou pra estudar inglês eu tinha acho que 8, 9 anos, não lembro agora mais ou menos da idade e aí, eu não lembro exatamente quando que isso apareceu né mas tinha um clubinho chamado “Penfriends” que você tinha uma lista de países e você escolha né os países e você poderia escolher se você queria falar com homem ou mulher, menino ou menina, mais ou menos a idade, tinha lá um perfil que você fazia e aí eles mandavam pra você o nome da pessoa né, uma carta e aí você começava lá uma relação com essa pessoa. E aí eu cheguei a me corresponder com duas pessoas, um italiano e um rapaz de Trindade e Tobago, a gente ficou mais ou menos 1 ano e meio, 2 anos se correspondendo por carta e aí eu descobri ele no Facebook acho que uns 3 anos atrás de novo sabe e foi muito curioso assim, eu não sei como que chegou isso mas eu falei “Acho que vou procurar ele”, e eu achei a carta aqui e aí eu mandei a foto dele, tirei a foto e falei “É você?”, aí ele ficou todo assustado né, imagina, “Eu te conheço” aí ele falou “Sim sou eu” enfim, aí a gente começou a se corresponder novamente mas não na mesma intensidade, na verdade a gente já perdeu contato de novo, mas enfim. Mas é isso, era uma forma de praticar o inglês e também conhecer outras culturas porque meu sonho sempre foi esse de viajar e conhecer o outro também.

Henrique de Moraes – Sim, e você tinha quantos anos quando começou a correspondência?

Thaís Rosa – Eu acho que nessa época eu devia ter uns 12, 11, por aí.

Henrique de Moraes – Caraca, é surreal você parar pra pensar assim, tem tanta coisa que eu achei fascinante nessa história porque primeiro tem esse fato de você treinar seu inglês escrevendo pra pessoas né então você tem que de fato conseguir se expressar de maneira clara senão não tem comunicação né e o mais louco é você escrever pra uma pessoa que você não sabe quem é ou como é a vida, do nada você simplesmente pega assim, se você fosse escrever isso em português já seria difícil, imagina “Vou escrever para uma pessoa que nunca vi na minha vida, que vive numa cultura completamente diferente, e vou escrever o quê? Por onde eu começo?”, como é que foi a primeira carta, o que você escreveu?, tipo “Ah sou brasileira”, “Como que é a vida?”, você lembra?

Thaís Rosa – Pois é eu não lembro agora, eu teria que pegar a carta de novo assim mas eu acho que eu me apresentei né, quem eu era, o que eu gostava de fazer e ficava também fazendo perguntas né, como ele vivia, o que ele gostava, música, como é que era o dia a dia, acho que era mais a questão do cotidiano, acho que tentar descobrir o que a gente tinha em comum, talvez

Henrique de Moraes – E tinha coisa em comum?

Thaís Rosa – Eu acho que o fato de gostar de esporte, na época eu jogava basquete e nadava também, ele também fazia esporte, músicas não, eram músicas diferentes mas eu sempre gosto de saber o que as pessoas gostam de ouvir porque eu gosto muito de música também, estudei música e acho que eu sempre uma conexão muito forte com música né e todo lugar que eu vou eu sempre pergunto pras pessoas que moram lá o que elas gostam de ouvir porque eu também quero conhecer outros ritmos também né porque acho que música fala muito sobre os lugares né, sobre as pessoas, como elas se movimentam também, como elas sentem as coisas.

Henrique de Moraes – Sim, totalmente. Eu vou fazer mais algumas perguntas sobre esse tema, eu tinha feito uma anotação aqui, vou sair um pouco do assunto pra um lugar bem aleatório e eu volto, só porque você, eu fiz essa anotação e falei “Cara não sei se falo sobre isso ou não” mas como você falou dessa questão da música eu vou compartilhar uma coisa que aconteceu quando eu tava fazendo a pesquisa pra fazer essa entrevista né, esse bate papo, não gosto de chamar de entrevista, pra mim sempre é um bate papo mas eu comecei a ver muitos vídeos que vocês colocam no canal de vocês lá no YouTube né, pra começar eu me senti de verdade extremamente ignorante pesquisando sobre o que você faz porque, especialmente porque você leva as pessoas pra um quilombo que fica em Niterói, que era pertíssimo da minha casa eu descobri, de onde eu morava e que eu não fazia ideia que existia então assim, eu acho que só aí já é um soco no estômago de certa forma, fiquei assim “Caraca como é que eu não sabia que isso existia do lado da minha casa” e eu botei o vídeo né que tem no YouTube, um vídeo pequenininho de três minutos falando como é que é e tudo mais, e eu tô morando em Lisboa há 8 meses mais ou menos e assim, tô com muita saudade né do Brasil, saudade das pessoas, só que o mais engraçado é que assim, eu nunca fui fã de samba, nunca ouvi em casa, ia com os amigos mas nunca botei pra ouvir e tava falando do samba, da cultura, mostrou a feijoada, cara bateu uma emoção quando eu vi aquilo assim, tipo uma sensação de casa de verdade sabe assim, eu falei “Cara que loucura” porque eu ouço música o dia inteiro e eu nunca tenho essa sensação e de repente bateu assim e eu comecei a chorar, foi muito esquisito eu não tava esperando por isso assim de repente, que sensação de nostalgia, de vontade, saudade mesmo, de entrar na tela assim e falar “Eu quero estar num samba agora comendo aquela feijoada com as pessoas ali curtindo esse ritmo, esse jeito do brasileiro” sabe que acho que faz tanta falta quando a gente está fora né, que loucura assim, muito doido foi uma sensação bem diferente e eu tinha anotado e falei “Não sei se compartilho isso, vai ficar meio esquisito ou não” mas enfim, acabei resolvendo compartilhar essa sensação

Thaís Rosa – O som do tambor é o som do coração né, conecta com o coração.

Henrique de Moraes – É, totalmente. Mas voltando aqui paa história das cartas, você lembra se, eu fiquei curioso muito para saber quanto custava você mandar uma carta pra fora na época?

Thaís Rosa – Não lembro

Henrique de Moraes – Você não lembra né, tem muito tempo eu imaginei

Thaís Rosa – O que era bom na verdade era esse momento de espera né, que a gente não tem mais isso sabe, disso eu sinto falta porque eu escrevia, mandava a carte e não sabia quando ia chegar né, podia chegar sei lá em um mês ou três ou quatro, demora o tempo de chegar mais o tempo da pessoa escrever mais o tempo da pessoa mandar né, então eu lembro que eu ficava muito feliz quando a carta chegava sabe, e hoje em dia a gente não tem mais né com a tecnologia essa coisa da espera né, o tempo que eu acho que agora é isso né a gente vive um outro tempo né que na verdade a gente criou esse tempo, o homem criou esse tempo né e a gente não consegue mais viver o tempo natural da vida assim né, isso é uma coisa que caramba eu fico “Poxa a gente perdeu isso”, esse momento de espera.

Henrique de Moraes – Sim, totalmente. Eu tava vendo um texto agora incusive, um pouco antes da gente entrar que falava sobre isso, sobre essa hiper conveniência né, da gente ter tudo à mão o tempo inteiro, quando na verdade a gente achava que isso daria tempo da gente fazer mais coisas mas não, tá cada vez tomando mais nosso tempo porque assim, de certa forma as pessoas não tem mais paciência pra esperar porque eles sabem que se você viu aquele e-mail você pode responder na hora, tá todo mundo com pressa tipo assim, como se ele não conseguisse evoluir se você não respondesse o e-mail e aí você se sente obrigado a responder aquele e-mail na hora porque é isso, não tem mais desculpa teoricamente, só que você perde a naturalidade das coisas né então assim, as pessoas estão cada vez mais apressadas, eu hoje almocei, essa semana tô tentando almoçar com calma por exemplo, cara eu percebi há quanto tempo eu não fazia isso, eu pegava, descia, comia um negócio rápido e voltava pra trabalhar aí falei “Cara não é possível” sabe tipo, eu preciso desse tempo, a gente precisa de mais tempo sabe, precisa um pouco desacelerar de certa forma e realmente, acho que a única coisa que as pessoas esperam hoje em dia é encomenda da Amazon e que mesmo assim não demora mais também, é muito louco, é muito esquisito mesmo, também sinto falta dessa espera e de várias outras coisas, da espera como um todo assim, eu como era músico gostava muito de esperar por exemplo lançamendo de novos CDs dos artistas que eu gostava, você lembra como era isso?

Thaís Rosa – Esperar lançamento? Não, isso eu não lembro, eu lembro do toca fita e também lembro do vinil que eu adorava colocar o vinil e tocar um lado inteiro e depois virar e tocar o outro lado inteiro, eu ainda tenho vinil só que minha vitrola quebrou agora, mas eu ainda ouço CD, tem coisas que eu ainda

Henrique de Moraes – Não abre mão né? E você, pelo que eu ouvi também, você foi criada de certa forma pela sua avó, tá certo isso?

Thaís Rosa – Sim

Henrique de Moraes – E como é que foi a sua infância, se puder descrever um pouco, especialmente conectando assim as experiências que você teve com essa curiosidade né, você já falou um pouco da enciclopédia que você pegava, dos programas que você assistia mas quais foram as experiências que você teve na infância e as pessoas que influenciaram você a ter essa curiosidade assim e vontade de viajar?

Thaís Rosa – Assim, eu fui criada pela minha avó né, meus pais eram separados, a minha avó morava na mesma rua que a minha mãe então na verdade eu fui criada entre duas casas na mesma rua assim eu e meu irmão, o meu pai ele buscava a gente todo sábado né que era o dia de ficar com meu pai então meu pai ele conhecia muitas pessoas, sempre foi uma pessoa super sociável, meu pai tem 2,05m de altura então assim, chama muita atenção também e ele cada sábado levava a gente pra conhecer um lugar diferente na cidade, a gente morava no Méier mas é isso, cada sábado era um lugar então a gente ia pra Parque Shanghai na Penha, Tivoli Park na Lagoa, tinham lugares meio favoritos mas nessa época meu avô morava em Belford Roxo também, às vezes a gente ia lá e assim era isso, eu convivi com muitas realidades diferente, pessoas de diversas classes sociais né, ricos, pobre e isso é uma coisa que sempre me chamou muita atenção porque eu cresci numa família de classe média né, eu sempre fui a única negra nos espaços, no meu bairro mesmo e isso sempre foi uma coisa que me incomodou muito, me sentia assim eu sempre fui muito querida pelas pessoas, meus amigos e tudo mais mas eu sabia que tinha alguma coisa errada ali, primeiro que eu também quando saía na rua né, as pessoas da minha cor estavam sempre pedindo dinheiro né, eu lembro que às vezes na minha casa também apareciam crianças da minha idade pra pedir comida, década de 90 o Brasil tava num momento econômico muito ruim então quando eu ia pra escola também sabe, e as minhas amigas, meus amigos tinham empregada que eram negras então assim, a referência de negros pra eles eram pessoas pobres né e eles olhavam pra mim e falavam “Você não parece uma pessoa negra”, “Você não fala que nem os negros” e então assim essa questão da desigualdade social sempre foi uma coisa que me chamou muita atenção desde criança e é isso, acho que em relação à viagens, eu não sei eu acho que tem vários fatores acho que assim, a minha avó também, ela veio do sertão de Pernambuco né, veio pro Rio de Janeiro mais ou menos com uns 20 anos que era o sonho dela morar aqui, trabalhar como babá e depois assim, anos né eu ficava sempre perguntando pra minha avó sobre como foi a vida dela também na infância e tudo mais, ela falou que ela e a tia, porque os pais dela morreram e ela tinha sete irmãos e eles todos foram divididos entre os familiares quando os pais morreram, e aí minha vó foi criada por duas tias né, uma cega e outra não e elas recebiam né pessoas que faziam romaria, elas hospedavam na casa dela essas pessoas né porque tinha muita romaria pro Padre Cícero em Pernambuco, aquela região, Padre Cícero é referência assim religiosa na época, então elas hospedavam né esses romeiros. Eu acho que essa curiosidade não sei, nasceu comigo eu acho que foi estimulada pelo meu pai de repente, essa coisa de conhecer vários lugares né sempre estar num lugar novo porque segunda-feira eu sempre era aquela pessoa que contava uma novidade pros meus amigos que não saíam do bairro entendeu e aí domingo também minha mãe me levava pra praia, pro teatro, então sempre tinha muitas coisas para falar sobre o meu final de semana e depois ao longo do tempo eu comecei a perceber mesmo que a maioria das pessoas elas não saem dos seus bairros né

Henrique de Moraes – Você morava aonde?

Thaís Rosa – Eu morava no Méier, mas é isso no fim de semana eu não tava no Méier né mas durante a semana tava. E aí eu fazia coisas em outros bairros também, eu joguei basquete na Tijuca, depois no Grajaú e aí eu nadava então eu acabava que circulava e é isso, na zona sul também no final de semana né que eu tinha minha avó de consideração também que morava em Copacabana então eu acho que é isso, essas experiências de deslocamento né, fora essa minha vontade de conhecer pessoas e territórios diferentes.

Henrique de Moraes – Eu acho que essas pequenas coisas não parecem né mas causam um impacto, porque a partir do momento que você é exposta à culturas diferentes e pessoas diferentes e tudo né, você saía um pouco do seu bairro ali e assistia por exemplo, o teatro, quantas pessoas tem essa experiência de novas irem pro teatro? É raro, eu não ia, não ia pra lugar nenhum na verdade, eu ficava em casa também, não saía do bairro, minha experiência exploratória era sair pelas ruas que eu morava, em Itaipu lá em Niterói perto do quilombo, então era muito seguro na época, as ruas eram todas de terra enfim, então a gente saía e ia andar, era minha exploração, subir em árvore, catar coisa na rua, basicamente o que a gente fazia quando era pequeno e meus pais sempre foram muito caseiros e são até hoje, graças a Deus assim depois de bem mais velhos agora tipo quando eu fiz 26 anos, meus pais resolveram fazer uma viagem internacional é até então eles tinham saído do país uma vez só e assim porque minha mãe tinha muito medo de avião então meu pai por preguiça ficava em casa também e basicamente o fim de semana é na casa dos meu pais, a família toda vai e se reúne lá e tudo acontece na casa dos meus pais então ele não saíam de fato e eles resolveram fazer essa viagem internacional e acabou que minha mãe perdeu o medo de avião porque ela gostou tanto, foi uma viagem tão legal que ela começou a viajar mais aí então meus pais são ou em casa ou viajando agora, pelo menos isso mas eu lembro que quando eu era novo assim eu fui estudar numa escola onde as pessoas tinham mais dinheiro então assim, que era uma realidade diferente para mim também, eu estudei no Pedro II no Rio enfim até a 3ª série aí depois fui estudar num colégio pequenininho que tinha porque a gente foi pra Itaipu que era muito longe do Engenho Novo imagina, sair de Itaipu pro Engenho Novo, fiz isso durante um ano

Thaís Rosa – Nossa, muito longe! Era do lado da minha casa o Engenho Novo

Henrique de Moraes – Então assim, todo dia eu viajava basicamente, eu disse que não explorava? Explorava sim, todo dia do Engenho Novo pra Itaipu mas minha mãe ficou com pena da gente e matriculou a gente numa escola perto da nossa casa enfim e depois eu fui para uma escola grande, minha mãe conseguiu bolsa para botar os três filhos e eu via assim que as pessoas iam pra lugares que eu não conhecia e eu quis começar a explorar de certa forma, eu queria ir pro Rio, queria ir não sei pra onde, fazer coisas bem perto assim nada demais, eu queria ir e de vez em quando eu ia por conta própria aí eu comecei a criar esse hábito, eu acho que quando você sai um pouco, especialmente pequeno acho que isso tem um impacto muito maior, essa curiosidade fica muito aguçada né porque você quer conhecer mais, acho que quanto mais você tem acesso mais você quer acessar eu acho de certa forma né, conhecimento também é um pouco assim então imagino que tenha causado impacto e que bom que seus pais fizeram isso né, de desde nova você podar sair e dar uns passeios, dar uns rolês, umas voltas. E você fala que, não lembro com qual idade, você começou a explorar um pouco com uma amiga sua, acho que vocês foram fazer uma viagem pra algum lugar no Rio mesmo e aí você gostava de ouvir as histórias das pessoas, ficar olhando pras estrelas, me conta um pouco de como foi surgindo essa vontade de você viajar mais e sair um pouco mais de casa assim e explorar da sua forma né

Thaís Rosa – Então como eu falei essa coisa de viajar sempre foi muito presente assim, com 12 anos eu fiz uma viagem com uma amiga que a tia tinha uma agência de viagem, e aí ela fazia viagens pequenas né e aí com 13 eu fiz essa minha primeira viagem fora do país né, que eu queria praticar o inglês também então assim foi uma época também economicamente favorável, que tava R$1 o dólar, tava 1×1 então minha mãe me proporcionou essa chance de ir pros Estados Unidos né

Henrique de Moraes – Você foi pra onde?

Thaís Rosa – Fui pra Disney e quando eu voltei, no outro ano já com 14 anos uma amiga ela também tinha uma tia que tinha amiga que tinha uma pousada em Ilha Grande, aí ela chamou a gente pra acampar no quintal da pousada né então a gente levou a barraca e aí em Ilha Grande nessa época a gente ficou em Abraão, ainda não tinha a luz, um outro momento da ilha que ainda tinha o presídio, não era turístico ainda Ilha Grande, isso foi sem lá em 1997 por aí e eu falo que ela foi uma pessoa que me introduziu ao camping sabe porque era isso, eu não trabalhava então ficava juntando minha mesada na época e aí nas férias a gente acampava, então a gente começou a acampar e eu sempre gostei de estar em lugares fora da cidade e a gente começou a acampar por lugares onde tinham comunidades caiçaras, ali na região de Paraty, Ilha Grande, Costa Verde e aí é isso, a gente ficava lá, eu ficava ouvindo as histórias dos pescadores, ficava ali vivendo o lugar e muitos desses lugares não tinha luz né era uma outra realidade também muito diferente ainda né e eu fica muito impressionada, falava “Como assim não tem luz aqui, são 4 horas da minha casa” a gente tá falando de Rio de Janeiro também e é assim, a realidade brasileira é muito diferente, gente que tá na região sudeste não tem proporção né do que é o Brasil de verdade sabe e isso sempre foi uma coisa que me chamou atenção, e aí depois eu fui pra Bahia também que foi uma outra viagem que também mudou muito a minha vida, meu sonho sempre foi conhecer a Bahia porque a minha avó, a mãe do meu pai ela veio de lá né, sempre me senti também, é isso os meus avós cada um veio de um do Brasil, Pernambuco, Bahia, São Paulo então eu sempre fico brincando que aquela música do Chico Buarque “O meu pai era paulista” era meio um pouco disso e como eu nunca soube da história da minha família também nunca tive essa chance né, porque a gente sabe que historicamente também com toda a história da escravidão né as pessoas que chegaram aqui né, os africanos que foram escravizados, eles antes de sair de lá eles já perdiam né a sua identidade, perdiam a chance de, você perde suas referências né, você é dividido, sua família dividida, então a gente não tem como traçar a nossa árvore genealógica né e na história da minha família por toda essa migração também os meus avós eles perderam o contato com todo mundo, meus pais são filhos únicos, então eu me sentia “Gente de onde eu sou?” sabe, eu só tinha minha mãe, meu pai, minha avó e meu irmão e meu avô, não tinha primos, não tinha referências, também não tinha amigos negros então assim minha referência era meu núcleo ali familiar mas eu também ficava querendo entender sobre as minhas raízes né, da onde eu vim o que significa isso tudo, ficava muito me questionando isso então a única forma que eu acho que eu consegui indo, me aproximando, enquanto minha avó era viva era perguntando pra ela mas também indo através da cultura, acho que tentando entender a partir desses lugares o que também tem de mim ali né porque sempre me senti muito estrangeira no Brasil, sempre me senti nesse não lugar, meio sem identidade sem saber essa história familiar aí.

Henrique de Moraes – E como que você começou a fazer assim, a buscar e ir atrás dessa sua curiosidade porque você falou que perguntava antes pra sua avó e aí depois foi já viajando ou você começou a traçar por exemplo, roteiros que você conseguisse descobrir mais sobre tanto a sua história, eu não sei se você chegou a descobrir sobre a sua história pessoal, se descobriu sua família, primos, você conseguiu? Como é que foi isso?

Thaís Rosa – Então isso é uma longa história, eu falo que isso é um processo sabe, realmente, primeiro acho que de descoberta né do que é ser uma negra brasileira também né, quem vem aí desde a minha infância essa questão da identidade também e quando que foi? É, a minha avó tinha assim fotos, tinha algumas cartas dos irmão e tal mas eu na verdade descobri, o meu pai em 2016 me mostrou a foto do meu bisavô né, a mãe dele quando veio pro Rio de Janeiro trouxe a identidade do pai dela e aí foi a primeira vez que eu vi uma foto assim de alguém da minha família sabe, e aí meu bisavô nasceu no Recôncavo baiano, onde hoje é São Francisco do Conde, em 1877. Aí quando eu olhei para aquela foto, gente foi muito emocionante assim primeiro porque eu vi assim meu pai, meu irmão, meu avô, todo mundo né acho que a linhagem, todo mundo parecido também né, me vi li também sabe e aí eu comecei a procurar coisas nas poucas informações que tinham o que devia ter parecido comigo assim e aí eu vi que ele nasceu três dias depois de mim né, ele nasceu dia 17 de janeiro só que em 1877 e ele foi um profissional autônomo também, era comerciante né, aí eu falei “Aí a veia empreendedora”, brincando com isso mas aí a partir disso muitas coisas aconteceram na verdade, eu acabei conhecendo uma artista Aline Motta, que ela também fez um trabalho em cima da história familia dela e ela me apresentou uma outra pessoa, Marcos Machado que me ajudou a descobrir muitos documentos também da minha família a partir desses documentos que eu fui encontrando né e aí em 2016 também quando meu avô morreu aí o meu pai também descobriu outras fotos, aí a foto da mãe do meu vô ele também achou e aí eu descobri que ela trabalhou inclusive na região onde foi a Pequena África né, ela trabalhou ali na Gamboa, na Fábrica Bhering onde era uma fábrica de chocolates e aí enfim, várias coisas começaram a se encaixar também sabe, eu falei “Caramba minha bisavó também trabalhava aqui na região que hoje em dia tô contando a história da região”, então acho que muitas coisas sei lá parece que vão se ligando né, tipo essas peças do quebra cabeça que estavam tipo completamente soltas vão se encaixando né, é isso, acho que me aproximou muito do entender essa questão toda foi a partir da cultura e a música também eu acho que, quando a minha avó era viva eu me aproximava muito da cultura pernambucana, maracatu, forró, comida também que ela fazia, as histórias que ela contava e eu acho que o que me marcou muito também foi conhecer uma comunidade quilombola né, é isso acho que mudou muito também como eu cheguei nos quilombos também foi uma forma também sabe, é isso, são coisas que acho que vão acontecendo assim que parecem que vão trazendo grandes transformações

Henrique de Moraes – É aquela coisa, você só consegue ligar os pontos olhando pra trás né, não dá pra você imaginar que vai dar nisso quando você começa, é só uma curiosidade enfim, você vai mexendo ali, vai explorando e de repente quando você vê vai conectando. Eu fiquei curioso, quando você descobriu, sua bisavó que trabalhava na Bhering, quando você descobriu você já fazia o tour?

Thaís Rosa –

Henrique de Moraes – Isso mudou sua relação com o tour em geral de alguma forma?

Thaís Rosa – Cara mudou, eu acho que a relação, é o que eu tava falando eu não me sentia pertencente, eu sentia que faltava alguma coisa sabe, as pessoas sempre ficavam perguntando da onde eu era sabe e o fato também de eu não saber da onde e vim sempre me deixou num não lugar sabe, eu acho que a gente no Brasil sofre muito com o legado da escravidão assim que afeta muito a população negra em relação à questões de pertencimento né porque é isso, a maior parte da população ela é excluída da sociedade né então eu acho que essas questões elas afetam não só economicamente mas acho que em vários outros aspectos né, inclusive

Henrique de Moraes – Psicologicamente né, totalmente

Thaís Rosa – Identidade também, são muitos aspectos, acho que é um sistema inteiro aí que precisa ser olhado né então eu não me sentia realmente assim, eu acho que quando eu olhei para isso assim eu me senti, falei “Poxa a minha bisavó também trabalhava aqui, ela fez parte disso” e eu tô aqui agora no mesmo lugar que ela tava desde 1889 entendeu, eu acho que me deu mais essa sensação de que eu também sou isso né então é isso, a gente, é esse lugar aqui que eu tô ocupando, ele é meu também.

Henrique de Moraes – Sim, totalmente, imagino a sensação deve ser de ir se encontrando no caminho, nem consigo imaginar e é engraçado porque eu não sei acho que nada da minha história, não sei quem são meus bisavós enfim, mas de certa forma tinha muita gente da família, minha família sempre foi não muito grande mas assim, tava todo mundo sempre muito junto então isso faz uma diferença absurda, por isso talvez eu não tenha tido essa curiosidade né de pesquisar, de entender porque você tá livre né, aquela coisa do peixe que não enxerga a água do aquário né, você não percebe isso a não ser que você não tenha, então você nova começou a estudar inglês depois fez essa primeira viagem internacional, depois começou a viajar pelo Brasil, pelo Rio né enfim e começou a explorar um pouco mais, começou a visitar essas comunidades enfim, explorar mais a cultura, as histórias e quando que surge a empresa? Me fala um pouquinho também de como foi assim a criação e fala um pouco do que vocês fazem também pras pessoas que estiverem ouvindo entenderem porque eu acho que é muito importante.

Thaís Rosa – Sim. Então, o Conectando Territórios né ele surge em 2014 só que então antes dele, porque a história é longa, eu tava falando sobre essa questão de reconhecimento né, pertencimento e quando eu era criança né na escola eu falei sobre a questão da desigualdade mas tinha a questão também da história que a gente aprende na escola né, história colonial contada pelos colonizadores né e sempre me incomodou a forma como falavam sobre comunidades quilombolas, sobre a população negra né, a forma como era contada era como se os quilombos fossem lugares ruins assim, “Os escravos fugiam e iam lá pro quilombo” como se isso fosse uma coisa “Ah eles estão fugindo”

Henrique de Moraes – Como se eles fossem os rebeldes né, como se fossem bandidos

Thaís Rosa – Sim e assim, a história do jeito que ela foi contada né, não foi contada de uma forma que é verdadeira, eu acho que é isso, o outro lado da história não foi contado e isso afetou né a nossa história presente, como a gente vive hoje, afetou drasticamente também a população negra, também afeta a auto estima, afeta vários ângulos e é uma história de exclusão né, não só a população negra mas indígenas também né, então isso foi uma coisa que sempre me incomodou e aí quando, 2003 eu tava na faculdade e foi para o Fórum Social Mundial em Porto Alegre e aí lá eu conheci um quilombola de Goiás e a gente começou a conversar e aí ele falou “Sou quilombola, da comunidade de Kalunga”, aí eu falei “Como assim existem quilombos ainda no Brasil?” isso em 2003, eu falei “Gente” e aí fiquei com aquilo, eu falei “Gente eu preciso conhecer vocês, não sabia que ainda existiam comunidades quilombolas” e aí no mesmo ano eu acabei conhecendo aqui no Rio a comunidade do quilombo São José da Serra, em Valença e tudo que eu aprendi na escola sobre quilombos era completamente diferente de tudo que eu tava vendo ali sabe, de toda a história, toda riqueza, toda cultura que tava ali naquele território e acho que isso foi uma coisa que mudou muito minha vida, eu acho que, lá foi o local em que eu conheci o jongo porque lá eles estavam começando a fazer a festa dos Pretos Velhos então vinham comunidades jongueiras de vários Estados, do sudeste, Minas, Espírito Santo, São Paulo, Rio, pra quem não conhece o jongo é uma dança de origem africana, principalmente dessa região sudeste né, com influência africana da etnia bantos então é bem específico aqui dessa região do Brasil e aquilo pra mim foi muito emocionante, me conectar com isso sabe de novo e aí isso é uma história que nunca foi contada pra gente então isso foi 2003, Conectando Territórios só nasceu em 2014, pra você ver quanto tempo levou né porque antes ainda fiz uma faculdade de biblioteconomia, tava estudando biblioteconomia nem tava fazendo turismo ainda e aí depois continuei isso, conhecendo, voltando nessa festa outras vezes e aí chegou um momento em que eu falei “Não acho que eu vou estudar turismo”, porque o que eu queria era trazer essa história brasileira que a gente não conhece né, e na verdade mostrar né que nós somos parte disso tudo entendeu, tudo isso é nosso e acho que isso é uma coisa que no Brasil né a gente não reconhece quem nós somos, a gente exclui mais do que inclui, enquanto a gente continuar excluindo a gente não vai conseguir sair do lugar entende então assim, toda exclusão leva à uma compensação né, a gente tem compensações muito grandes aí né por conta dessa exclusão que leva nas desigualdades sociais, a gente vive ciclos que a gente precisa realmente transformar e conhecer nossa história é conhecer não só a nós mesmo mas é realmente desenvolver na gente, desenvolver o país né então o Conectando Territórios ele acaba surgindo assim em 2013 depois que eu me formei e aí eu fui estudar também porque eu falava que eu ia trabalhar com políticas públicas, eu falei “Vou fazer turismo para trabalhar com políticas públicas porque eu quero desenvolver políticas voltadas para inclusão dessas histórias, dessas populações a partir do turismo” e aí fui pra um caminho completamente diferente, é isso a gente não imagina né o que vai acontecer mas aí eu comentei a estudar, fiz uma pós em economia, turismo e gestão cultural e aí comecei a pesquisar sobre o turismo de base comunitária e eu queria na verdade pesquisar comunidades indígenas na época né porque os índios Pataxós também que eu já tinha conhecido antes lá no sul da Bahia, eles também já trabalhavam com turismo já há algum tempo, só que aí eu descobri que existiam também comunidades quilombolas que estavam nesse processo de desenvolvimento e aí eu falei “Então vou trabalhar com as comunidades quilombolas” e comecei a pesquisar a comunidade do quilombo do Campinho em Paraty e enfim, a partir daí que eu fui percebendo também que essa era uma oportunidade né de a partir da educação também, não só o turismo mas o turismo como mais uma ferramenta né, que a forma de você aproximar essas histórias seria a partir da educação né, então levando estudantes pra conhecer a história dessas comunidades também, mas aí na época eu percebi que tinham mais estudantes estrangeiros do que brasileiros né querendo conhecer então isso tudo foi um processo assim mas em 2013 surgiu a chance de participar do Startup Rio, que foi a primeira turma de startup no Rio de Janeiro e aí o Conectando Territórios que na verdade era um blog, começou como um blog surgiu como uma agência de turismo e é aí que ele nasce, em 2013/2014 que eu fiquei nesse período aí de incubação e tal e foi esse o percurso né que foi bem longo assim eu acho que também no momento que eu comecei as pessoas também ainda não entendiam muito o que eu tava falando sabe, eu acho que hoje está em 2021, tem oito anos, levou mais oito anos pra gente chegar no momento, agora sim eu acho que é o momento né que as pessoas agora já tomaram consciência ou já ouviram falar pelo menos bastante mas é isso assim, sempre que a gente está trazendo uma coisa nova ainda tem muita resistência né, mas que bom que as coisas já estão mudando.

Henrique de Moraes – Sim. E você no início falou que levava estudantes, mas que estavam vindo mais estudantes de fora, de quais países principalmente, você lembra?

Thaís Rosa – Então muitas universidades americanas, muitos americanos porque aí também vinham com professores, tem muitas universidades que pesquisamos bastante o Brasil e é isso, acho que tem muita pesquisa em relação à comunidades mais fora do que dentro eu acho

Henrique de Moraes – Isso que é engraçado, como é que funcionava? Você falava pras escolas, pras instituições do programa e as que se interessavam entravam em contato com você de volta, como é que elas ficavam sabendo?

Thaís Rosa – Então na verdade eu comecei a fazer parceria com professores né, eu apresentava e a gente ajustava também conforme o currículo, então tinham professores de gastronomia, a gente fazia uma aula de culnária no quilombo ou então algum curso voltado pra ciências sociais, então a gente discutia essas questões territoriais enfim, vários outras questões. É isso, aulas fora da sala de aula.

Henrique de Moraes – E porque você acha que na época não tinha interesse das escolas ou dos professores do Brasil pra irem porque assim, é muito doido você parar pra pensar que assim, a gente tá falando da cultura brasileira, de contar a história e as pessoas de fora ficarem mais interessadas em pesquisar sobre isso e chegar mais rápido talvez lá fora, não consigo imaginar o que faz um professor não querer por exemplo fazer um tipo de experiência, de proporcionar uma experiência dessa dentro do próprio Brasil, talvez tenha uma coisa também do brasileiro não viajar muito no Brasil, não conhecer muito, não conhece de fato também a história né, tem isso também eu acho talvez enfim, fiquei confabulando aqui comigo mesmo

Thaís Rosa – É eu acho que assim, o que explica muito é a questão do racismo estrutural né que a gente vive na sociedade, a gente ainda vive num momento muito de negação do racismo né então enquanto a gente continuar negando né quem nós somos, a história, o racismo, ainda fica muito complicado né pra ter algum tipo de aproximação, então é isso eu acho que, eu acredito realmente que o turismo ele tem essa capacidade assim também de aproximar as pessoas porque aí a gente tá falando também de relações humanas né, não é simplesmente uma coisa “Ah vou te ligar pra conhecer uma pessoa diferente de mim ou como vive alguém diferente de mim” mas assim, eu acho que, de a gente começar a dialogar com pessoas né, entender quais são os desafios mas o que a gente tem em comum também, entender acho que a estrutura da sociedade né, acho que é uma forma da gente olhar para os privilégios que cada um tem e como que essa história, as consequências dessa história para a sociedade, a realidade que a gente vive hoje né, acho que é um pouco isso assim

Henrique de Moraes – Eu ainda acho engraçado porque assim, eu concordo completamente com o que você falou mas ainda assim por exemplo, se a gente fala dos Estados Unidos, os Estados Unidos também tem um problema ainda forte né com isso e ainda assim eles estavam mais interessados em fazer esse tipo de descoberta, exploração do que os próprios brasileiros, é engraçado nesse sentido ainda assim

Thaís Rosa – É os Estados Unidos também tem muitos problemas né raciais que não conseguiram resolver e que é muito complexo, tanto quanto aqui mas é sempre mais fácil olhar pra quem tá do lado de fora né, olhar pro vizinho é mais fácil mas eu acho que eles estão num movimento já desde a década de 60 assim e estão num momento agora eu acho que trazendo muito essa questão racial, eles estão realmente acho que criando um movimento antirracista né, eu acho que o Trump mostrou né que é possível viver numa sociedade antirracista então acho que tem um movimento bem crescente lá que eu acho que aqui ainda vai demorar bastante né mas quem sabe né a gente consegue avançar agora também, acho que a tecnologia acaba permitindo que essas informações também cheguem mais rápido então assim, quem sabe a gente também consegue dar uma acelerada também nesse processo né, mas depende muito ainda de instituições, indivíduos também, eu acho que também é um papel de todo mundo né, o sistema como um todo, todos fazem parte, todos precisam agir né então não dá pra também a gente deixar a responsabilidade sobre um governo ou sobre um outro maior, todos fazemos parte dessa mudança então eu acho que se as pessoas começarem também a olhar pra si e olhar pro outro, quem sabe?

Henrique de Moraes – Exatamente. Você, dos lugares que você já visitou, e aí pode ser Brasil ou fora também, em qual deles você, duas perguntas vou separar, em qual lugar que você visitou que você se sentiu mais pertencente, onde você de repente tenha conseguido diminuir ao máximo assim ou quase anular a sensação de não pertencimento, teve algum lugar em que você teve essa sensação? E qual o lugar que você visitou que você acha que tava mais também debatendo de maneira verdadeira esses assuntos?

Thaís Rosa – Eu acho que assim, um lugar que eu me conecto muito é a Bahia, desde mais nova assim sempre foi um lugar que eu chegava e falava “Ah acho que agora eu tô em casa” e acho que a Bahia tem mais do que o Rio de Janeiro inclusive né, eu nasci aqui mas me sinto mais em casa lá, a outra pergunta foi onde eu debati mais sobre questões raciais?

Henrique de Moraes – Onde você acha que as pessoas estão debatendo isso mais seriamente, dos lugares que você já foi

Thaís Rosa – Ah isso, nos Estados Unidos eu acho que também tem alguns lugares lá que eu tive um pouco a sensação de estar me sentindo não em casa mas assim, mais confortável né, New Orleans por exemplo, Miami também por mais que tenha uma cultura latina assim ainda me trouxe muitos aprendizados, acho que o lugar onde eu mais tive aprendizados nos Estados Unidos foi Miami.

Henrique de Moraes – Curioso

Thaís Rosa – É, porque lá foi o lugar que quando eu recebi, participei do fellowship lá em 2017, foi uma ano em que eu tava fazendo umas rodas de conversa sobre deslocamento, território, tinha feito aqui no Brasil com mulheres e aí lá nos Estados Unidos eu na verdade fiz um diálogo com uma diáspora africana lá em Miami então eu chamei pessoas de países do Caribe, pessoas da África, Europa e Estados Unidos também e a gente trocou muito sobre o que é, a pergunta era “O que é ser negro em Miami?”, porque Miami também é uma cidade onde a língua mais falada é espanhol né e essas pessoas negras que estavam lá, a maioria, que eram minoria, elas vinham de diversos outros lugares né, diversos outros países como por exemplo Haiti onde se fala francês, Jamaica que fala inglês, os próprio Estados Unidos falam inglês, tinham alguns negros da América Latina mas é isso, eles eram invisíveis lá, inclusive a comunidade cubana né que é praticamente branca, os negros cubanos também estavam lá e não apareciam, lá também tem a maior comunidade brasileira, eu também não era vista como brasileira a maioria porque a maioria dos brasileiros que vão para lá são brancos né, então verem uma pessoa da minha cor né como brasileira as pessoas falavam “Mas como assim sabe?”, então eu acho que foi um lugar ali que foi muito potente assim, eu acho que essa troca da gente se entender ali e foi um lugar em que eu aprendi muito assim, Miami. E assim é isso, Estados Unidos é um lugar que tem muitos debates aí em relação à questão racial, em ser latino também, eu participo de um grupo também dos afrolatinos, uma rede também que eu faço parte então é isso, acho que são muitos debates aí que a gente tá sempre falando, discutindo e tentando também encontrar formas de trazer isso pra sociedade.

Henrique de Moraes – Você então começou agora uma série né, tem quanto tempo que você começou?

Thaís Rosa – A série eu comecei a gravar em 2019, “Nzinga: Mulheres Viajantes” porque na verdade o que aconteceu, essa experiência de Miami que eu tava falando, pra mim também ter participado desse programa da embaixada me fez olhar para outras questões também, por exemplo eu fui a única brasileira negra selecionada em 2017 e isso me trouxe muito incômodo e aí quando eu cheguei lá eu também percebi que as pessoas negras que também estavam lá, por exemplo é isso, América Latina não tinham outros negros também da América Latina, e a gente sabe que existem negros na América Latina né, não tinha uma representação, os negros que tinham eram do Caribe mas aí no Caribe a maioria da população é negra mesmo entendeu, então eu comecei a ver outras mulheres que nem eu, empreendedoras também e eu falei “Gente eu quero conhecer elas, quero conversar com elas também né”, claro que são experiências diferentes né porque elas não estão no Brasil mas quero entender, saber também se elas viajam porque é isso, eu também viajava e sempre fui a única nos lugares, então eu fiz esse evento né que eu te falei e eu conheci uma mulher em Miami também que era empreendedora, ela era produtora mas ela também era modelo, ela fazia um monte de coisa e queria investir num trabalho social, uma ONG também que eles estavam desenvolvendo um projeto num bairro negro lá em Miami que era considerado um bairro super violento né então eles me chamaram lá para conhecer esse lugar e aí eu resolvi entrevistar ela, eu falei “Quero fazer uma entrevista com você” e era isso assim, queria que ela me contasse sobre quem era ela, de onde ela veio, um lugar que ela tinha viajado e como tinha sido essa experiência de sair dos Estados Unidos e como que foi, se sentiu né como é que era ser negro num outro lugar, e aí ela contou dessa experiência na Costa Rica, então essa foi a primeira entrevista que eu tinha feito, levei minha câmera e botei lá, só ela falando e tal, isso em 2017. Aí eu fiquei com isso na cabeça, falei “Gente eu acho que preciso continuar” porque assim eu comecei o canal do Conectando Territórios também para mostrar um pouco do meu trabalho mas eu sinceramente não gosto de ficar falando sozinha pra câmera porque assim, além de eu achar chato eu também não me sinto à vontade, eu acho que sei lpa, gosto de interagir, gosto de pessoas, gosto de conversar e aí eu falei “Ah acho que então eu vou fazer diferente, eu vou entrevistar pessoas, vou na casa dessas pessoas e vou fazer entrevista com elas”, e aí eu selecionei, falei “Vou começar pelas minhas amigas, pessoas que eu conheço mas que eu admiro também” e resolvi fazer essas entrevistas, foram 5 entrevistas em maio só que aí eu fui pra Tailândia e aí acabou que só consegui editar no ano passado né durante a pandemia, foi também um momento que eu resolvi, falei “Preciso botar isso no ar porque ta aí” e foi aí que começou, botei ano passado no ar o “Nzinga: Mulheres Viajantes”. Ainda tem mais uma entrevista que vai ao ar agora, se tudo der certo esse mês, tô só finalizando a edição, e eu quero continuar fazendo também porque eu acho que primeiro é necessário acho que ouvir, não falar mas ouvir outras vozes, mulheres negras que também empreendem, que tem seus sonhos, existem estereótipos em relação à nós que eu acho que precisam ser quebrados também então eu acho que essa série é importante, não é só sobre viagem, é muito mais também, sobre empreender, seus sonhos, seus projetos pra outros territórios, são mulheres que levam os seus projetos para outros países, outros lugares, elas expandem então é sobre isso também, como você se desloca não só socialmente no seu país mas em outros lugares, tem a ver também com as questões das fronteiras étnicas também que são questões que me interessam assim, como que você é visto em um lugar e outro não, essa fluidez aí das múltiplas identidades que acontecem né então é um pouco também sobre isso.

Henrique de Moraes – E como que você foi se sentindo assim conforme você foi fazendo as entrevistas, porque eu imagino que, eu gravo o podcast muito pra aprender com as pessoas, ouvir também as pessoas e me inspirar no final das contas assim, eu sou muito fã, sou apaixonado por biografias, leio qualquer uma então eu falei “Cara porque eu não começo a pegar as pessoas que eu tenho curiosidade e chamo pra fazer eu mesmo, perguntar e fazer a biografia na minha cabeça dessa pessoa?” então como é que é assim, como que isso tem acrescentado pra você, o que você tem tirado dessas entrevistas, se fosse falar um ponto principal assim que tem sido relevante pra você, você saberia dizer?

Thaís Rosa – O que eu tô aprendendo com essas entrevistas?

Henrique de Moraes – O que mais te causou impacto assim, por exemplo só pra contextualizar, eu tenho uma pergunta que eu sempre faço para as pessoas no final do podcast, que eu vou fazer com você também, que é “O que é ser bem sucedido pra você?” e eu adoro essa pergunta porque é uma coisa que eu venho me questionando muito, do sucesso que vendem pra gente e do que é o sucesso para mim sabe tipo assim, eu preciso ter o sucesso que os outros têm, que os outros veneram? Então eu sei que essa pergunta eu encaixei até depois, nas primeiras entrevistas eu não fiz, mas cara assim tem umas respostas que as pessoas me dão que me fazem de fato eu falar “Caraca explodiu minha cabeça, preciso parar agora e ficar refletindo nela” e fico durante às vezes dias sabe, então é isso às vezes tem uma resposta ou outra, reflexões sobre a vida especialmente acabam me impactando muito, quando a pessoa traz um insight assim tipo de como eu posso aplicar, coisas que eu posso fazer para viver melhor ou de enxergar a vida de uma outra forma, sobre outro ângulo, outra perspectiva né e assim, queria entender de você se tem alguma coisa em particular que te chame atenção assim, que tenha já mudado a sua forma de ver o mundo ou coisa assim, tenha te impactado de alguma forma.

Thaís Rosa – Eu acredito que, não sei eu acho que é o que move a gente sabe, acho que é muito assim e acho que a gente, acho que de seguir a intuição também sabe, o que eu vejo é que ás vezes parece que a gente não sabe se tá muito no caminho certo mas você vai lá e faz e tem a comprovação que não, tá tudo certo, vamos continuar entendeu, e sem ter medo, ir e segui, acho que tem uma coisa de força que é uma coisa que, você fala das pessoas que influenciaram sua vida, minha avó sempre foi essa pessoa que me influenciou muito sabe, e eu também sou essa pessoa que gosta de ler biografias assim porque eu acho que o que me interessa no ser humano é como que ele lida com a vida sabe, é isso a vida é relacionamento e como que a gente se relaciona com o mundo, como que a gente se relaciona com a vida porque assim, os desafios eles estão aí sempre, as dificuldades, viver não é fácil então assim todo mundo vai passar por dificuldades, claro que cada um em escalas, uns mais e outros menos mas assim, como que você lida com isso, isso que me interessa saber e é isso que, são essas histórias que vão me movendo também e entender o que motiva essas mulheres também a fazer o que elas fazem.

Henrique de Moraes – Entender essa motivação às vezes é muito relevante porque de vez em quando você acorda e fala “Meu Deus do céu hoje eu não quero fazer nada” aí você lembra de uma história e fala assim “Vamos lá, vamos tirar energia aqui das histórias dos outros, pessoas que a gente conhece, referências” é bom mesmo. Você é muito curiosa eu já percebi isso, sua história toda mostra que você tem uma curiosidade muito grande de explorar e não só é curiosa mas é movida pela curiosidade, acho que isso é importante e imagino que você goste de ler, você tem livros, de um a três livros favoritos que te impactaram muito na vida?

Thaís Rosa – Ai é muito difícil escolher três livros, essa pergunta foi muito difícil assim pra mim, fiquei pensando acho que nos últimos assim que me levaram muitas reflexões durante muito tempo porque é isso, tem livros que às vezes você fica, eles ficam falando com você durante muito tempo e eu acho que assim, “Americanah” da Chimamanda Ngozi Adichie, que é uma nigeriana que quando eu li esse livro eu me identifiquei muito e acredito que muitas mulheres negras também, eu acho que primeiro por trazer também uma realidade nigeriana também que é isso, essa aproximação também com histórias africanas, realidades africanas mas também com mulheres como ela assim, que também como eu também experienciaram né viver em outros países e na verdade ela lá que se deparou como que era ser negro nos Estados Unidos, eu já vivo isso no Brasil mas assim eu acho que um pouco também essa questão dessas experiências, esses entendimento raciais né, toda a complexidade de tudo isso nas relações profissionais, pessoais, como mulher mas assim, tem outro livros também inclusive são africanos também, um que eu li ha muitos anos, o nome dela é Waris Dirie que se chama “Flor do deserto” que é a história também de uma mulher somaliana que na verdade consegue fugir de lá porque ela ia ter que casar forçadamente e ela consegue fugir disso e enfim, tem a história também, “Memórias de um menino-soldado” que também foi um livro que marcou muito a minha vida, que também é a história de um menino que também fugiu da Guerra em Serra-Leoa e enfim, toda essa história dele de ter que lutar nessa guerra enfim, família que acabou sendo dizimada e como que ele conseguiu passar disso tudo sabe, sobreviver, então acho que enfim são essas histórias elas mexem muito comigo, me ensinam muito e acho que essas realidades que são muito diferentes da nossa nos fazem olhar para realmente qual o sentido né disso tudo assim e porque que a gente tá gastando tempo com coisas que não fazem sentido nenhum entendeu, então acho que essas histórias elas me fazem olhar realmente para qual é o sentido da vida, no que eu tô perdendo tempo com coisas que não tem sentido de ficar gastando energia.

Henrique de Moraes – Totalmente. Essa no fundo é minha filha tá, ela acabou de cair e está chorando, participando aqui do podcast, sempre participa. Eu li recentemente um livro chamado “Em Busca de Sentido”, não sei se você já ouviu falar, do Viktor Frankl, ele é um psicanalista que passou anos num campo de concentração e quando eu tava lendo assim, a primeira metade do livro é ele falando, descrevendo a experiência, como que era o dia a dia e tudo mais e teve um dia que eu tava lendo, tava em Niterói ainda, não tinha viajado, foi um pouquinho antes da gente vir pra cá e a gente estava na varanda do apartamento assim, tava aproveitando um pouquinho de sol, já tava na quarentena e eu tava lendo o livro e assim, é muito emocionante você ver os relatos né, você fala “Que insanidade as coisas que ele viveu, como é que pode?” e teve uma hora que eu comecei, eu sou meio chorão você já deve ter percebido, eu comecei a chorar e aí minha esposa falou “O que aconteceu?”, do nada eu tô lendo e começo a chorar, aí eu falei “Cara a gente reclama à toa, não é possível que a gente consiga reclamar de tanta coisa vivendo uma vida maravilhosa” porque se for comparar a gente não tem do que reclamar, é uma loucura então é bom você ter essas perspectivas diferentes de fato e ver que a gente perde tempo, gasta muita energia, especialmente cabeça né, fica muito tempo remoendo coisas, vendo futuro/passado, futuro/passado, futuro/passado e esquece de tudo que a gente conquistou e aproveitar as coisas e ser grato e aproveitar de fato presente né, de estar presente ali, isso realmente é um mistério da vida do ser humano. Eu vou fazer te fazer a pergunta então fatídica talvez, filosófica, do que é ser bem sucedido pra você?

Thaís Rosa – Pra mim acho que ser bem sucedido tem a ver com sentir né, fazer coisas que tenham sentido pra você, você realmente encontrar sentido pra vida que você quer, então acho que tem a ver com as relações que você constrói, tem a ver com o trabalho também que você constrói e como você serve o mundo né com ele porque acho que trabalho é muito sobre a gente também né mas acho que o quanto que a gente quer deixar também para outras gerações né de alguma forma, eu acho que tem a ver com servir mas isso é o que eu acho. É isso, um estilo de vida, acho que quando você pensa numa empresa também acho que é pensar que seu estilo de vida também tem que ter a ver com a empresa que você tá construindo então é isso, é um contexto todo que você deve construir e que faz sentido pra você, então acho que quando você tem essas relações permeadas, pessoas, profissionais, de uma forma com sentido, isso é ser bem sucedido pra mim. E claro né, materializar isso também.

Henrique de Moraes – Teve uma resposta que eu recebi aqui que tem a ver com isso que você falou, por isso que vou falar, mas que eu achei muito legal que ela falou assim “Ser bem sucedido é se orgulhar da própria história” e é um pouco disso né porque se você vive uma vida sem sentido, se você tá vivendo só por viver, realizando os desejos dos outros né, vivendo para agradar um júri invisível sei lá, talvez não tão invisível assim, depois você vai chegar no final e falar assim “Caraca e aí, pra que serviu tudo isso?” então faz total sentido, desculpa mas foi sem querer, não foi de propósito. Se você pudesse falar com seu eu de 10, 15 anos atrás o que você falaria para você ter mais calma?

Thaís Rosa – Eu acho que com acreditar no processo das coisas, não ficar pensando muito nos resultados e pensar mais em viver os processos, é isso viver e ir fazendo porque é isso, a gente nunca sabe o resultado.

Henrique de Moraes – A gente faz esperando o resultado e às vezes o resultado é melhor, eu falo isso de vez em quando pras pessoas também, que se você estiver tão preocupado com o resultado talvez você vai ter um resultado melhor que você nem vai perceber porque está tão focado no que você tava imaginando em vez de aproveitar né o processo, o famoso “enjoy the ride”, aproveitar o caminho, parece conselho de mãe porque é aquela coisa tipo assim todo mundo fala, especialmente quem já passou por tudo isso fala direto com a gente e ainda assim a gente só percebe depois também né, a gente vai lá faz a merda e depois fala “Putz, minha mãe falou isso”, é como se fosse isso sabe, acho que é o conselho mais importante e o mais difícil de ser vivido, talvez. E Thaís, onde as pessoas podem te encontrar? Qual é o melhor lugar pra elas falarem com você, pra conhecerem um pouco mais da sua história, até trocar de repente um pouco, como é que funciona, qual o caminho que você indica?

Thaís Rosa – Então, tem as redes sociais, o Conectando Territórios tá no Instagram, Facebook, no YouTube, também tem o e-mail contato@conectando territórios.com.br, o nosso site www.conectandoterritórios.com.br.

Henrique de Moraes – Show, maravilha. Thais muito muito muito obrigado por ter topado bater esse papo aí comigo, foi sensacional eu agradeço demais por você ter disponibilizado esse tempo, esse bloco grande de tempo que eu sei que é difícil no dia a dia de correria que a gente vive hoje né, essa loucura de call e call e call, um atrás do outro

Thaís Rosa – É mas eu acho que é isso também, conseguir parar, é importante parar também em alguns momentos sabe, não perder o fio da meada, seguindo a bússola

Henrique de Moraes – E eu sei que você carrega uma bússola de verdade

Thaís Rosa – Aham

Henrique de Moraes – Muito bom, obrigado de verdade pela sua participação

Thaís Rosa – Eu que agradeço, Henrique, o prazer foi meu.

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