calma! #31 com Fernando Vilela
o convidado de hoje é o Fernando Vilela, CMO do Rappi no Brasil.
Fernando é formado em Economia pelo Insper. no início de sua carreira atuou no mercado financeiro, com Private Equity. em seguida, foi aprovado como trainee na Ambev e exerceu diversas funções na área de Revenue Management da companhia, onde dirigiu estratégias de precificação em âmbito nacional.
depois de quase quatro anos na cervejaria, foi contratado pelo Rappi para liderar a expansão da empresa na Grande São Paulo e logo comandou o crescimento e a expansão do superapp para todo o Brasil.
hoje, como CMO [diretor de marketing], Fernando tem a missão de acelerar o crescimento do Rappi e tornar a marca cada vez mais forte e consistente nas principais cidades do mercado brasileiro.
o bate-papo está recheado de detalhes sobre o dia a dia do Fernando: como ele planeja sua semana, como faz o acompanhamento com o seu time, dicas, hacks e muito mais.
LIVROS CITADOS
- De Zero a Um – Peter Thiel, Blake Masters
- Superfreakonomics: O Lado Oculto do dia a dia – Stephen J. Dubner, Steven D. Levitt
- Misbehaving: A Construção Da Economia Comportamental – Richard Thaler
- Os Iranianos – Samy Adghirni
- A Regra é Não Ter Regras: A Netflix e a Cultura da Reinvenção – Reed Hastings, Erin Meyer
PESSOAS CITADAS
- Tim Ferriss
- Seth Godin
- Rodrigo Maia
- Davi Alcolumbre
- José Mourinho
- Barack Obama
- Peter Thiel
- Richard Thaler
- Jeff Bezos
- Warren Buffett
- George Foreman
- Louis C.K.
- Reed Hastings
FRASES E CITAÇÕES
- “Nunca tenha medo do fracasso, tenha medo de deixar de fazer algo que você queira fazer” – Jeff Bezos citado por Fernando Vilela
- “Fazer o que ama é pros amadores, amar o que você faz é pros profissionais” – Seth Godin citado por Henrique de Moraes
se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.
Henrique de Moraes – Fala Fernando, seja muito bem vindo ao calma!, cara tô felizaço de a gente ter conseguido marcar de bater esse papo, prazer ter você por aqui, uma honra e espero que a gente, que você consiga se divertir um pouquinho aqui, abrir o coração, fica super à vontade.
Fernando Vilela – Obrigado aí Henrique pelo convite, pode deixar eu sou bem transparente, então espero compartilhar e a gente ter uma conversa agradável aí pelos próximos minutos.
Henrique de Moraes – Show, fechado cara. Bom, vou começar com uma pergunta que é super normal, que eu faço em rodas de conversa com meus amigos que é: O que você comeu no seu café da manhã hoje cara?
Fernando Vilela – Cara, eu sou um pouco freaky com rotina/padrões, então eu sempre tomo a mesma coisa de café da manhã, que é mamão com chia, duas cápsulas de Nespresso para ser exato e tapioca com dois ovos por cima, tem gente que gosta de comer crepioca, eu odeio crepioca, aquela mistura da tapioca com ovo eu já enjoei, então o que eu faço agora, primeiro eu faço a tapioca e depois os dois ovos fritos e coloco por cima e aí fica perfeito.
Henrique de Moraes – Boa, eu perguntei exatamente por conta dessa coisa da rotina né, eu imagino que com a sua vida, loucura que deve ser, ser CMO de uma empresa que tá crescendo loucamente, essas pequenas rotinas, pequenas não né, na verdade rotina como um todo deve ser um ponto importante na sua vida, eu queria entender assim o que mais você tem de rotina, de coisas que você repete religiosamente e porque elas são importantes, como que elas são importantes na sua vida?
Fernando Vilela – Não, tá bom, ótima pergunta. Vou passar o meu dia padrão, eu acordo todo dia às 5:30 da manhã, não sou Clube das 5, não sou nada disso daí, não acredito nessas coisas, acho que cada um escolhe a hora que você acorda e o tempo que você dorme, mas é porque eu gosto de malhar cedo, eu gosto de malhar às 6 da manhã, e o porquê, porque eu acho que é a única hora que é você consigo mesmo sabe, o mundo ainda não acordou, você á num momento ali que você tá refletindo, pensando, acordando literalmente né, odeio aquela sensação de acordar já em reunião sabe? Pula da cama, já abre o computador e já tá num call, eu preciso desse tempo pra aquecer de manhã, aí eu malho, volto, tomo café, tomo um banho e aí eu sempre começo o dia religiosamente lendo o jornal, aí eu acho que é uma função super importante, eu faço isso sei lá, desde a sétima série se não me engano, que é muito importante você estar conectado com o mundo, mais do que estar conectado com coisas específicas de marketing ou de growth, de digital ou o que for, é estar conectado com aquilo que tá acontecendo no mundo porque querendo ou não no fim do dia você constrói marca para alguém, e as pessoas vivem no mundo, então assim, deveria ser um hábito comum entre qualquer pessoa que trabalha com marketing. E aí depois começa a agenda de reuniões que ela é super intensa, as únicas outras coisas que eu tenho uma rotina frequente é de alimentação, então eu sempre tento comer na mesma hora, ter um lanche da tarde na mesma hora, e eu religiosamente almoço, janto e tenho o lanche da tarde as mesmas coisas durante a semana, é todo dia igual. Muita gente pergunta “Você não enjoa?” Não, não enjôo, é exatamente a mesma coisa, isso porque eu sou um ex-gordinho, então se eu não for muito controlado assim eu esqueço e já vou estar comendo um doce, já vou estar atacando a geladeira, então tenho que ser muito regrado nesse sentido. E de rotina, algo que eu gosto muito de ter na minha agenda é, segunda-feira tirar a manhã para me planejar, então gastar ali sei lá, das 10 horas ao meio-dia anotando os pontos que eu tenho que endereçar com cada uma das pessoas do time e passar meio que a tarde inteira de segunda e terça-feira inteiro de manhã fazendo follow-up, eu sou bem caxias nesse sentido porque eu acredito que é muito importante você ter follow-up constante com o time, e não follow-up pra ver o número pelo número, pra ficar ali de paisagem na reunião, é pra discutir a visão né, o que a gente tá fazendo, onde a gente quer chegar, como a gente vai chegar, como eu posso ajudar, o que eu preciso descatracar para que a pessoa consiga chegar, então é isso e durante a semana aí a rotina, as agendas vão se adaptando conforme as pautas que foram discutidas segunda e terça e aí a gente vai modelando, mas em linhas gerais é isso, as únicas reuniões que eu tenho que são recorrentes são segunda-feira à tarde e terça de manhã, o resto é muito de acordo com a pauta e a importância de cada capítulo, de cada contexto.
Henrique de Moraes – Perfeito. Deixa eu fazer algumas perguntas em relação a isso que você falou. Você malha em jejum?
Fernando Vilela – Não, eu tomo whey antes de malhar, faço direitinho igual o médico manda.
Henrique de Moraes – Boa, eu ia perguntar em relação à essas rotinas de almoço, café da manhã enfim, alimentação, de repetir sempre, é por facilidade ou você viu em algum lugar ou é recomendação do médico?
Fernando Vilela – Eu faço acompanhamento com nutrólogo há um tempinho já, acho que já deu 6, 7, 8, 9 meses, algo assim, óbvio que pode mudar, pode intercalar, ficar mudando mas assim, no fim do dia para mim é a comodidade, é muito mais fácil você saber assim “Ah todo dia eu vou comer frango, arroz integral, feijão e salada” é muito mais cômodo. Óbvio que fim de semana nem ferrando assim né eu vou comer a mesma coisa, aí eu mudo, dou uma variada porque aí é fim de semana, mas você tá ali no seu dia a dia de trabalho, eu acho que a carga é tão intensa que você tem que estar mais preocupado em trabalhar, digamos assim, do que “Ah o que eu vou escolher para almoçar, o que eu vou pegar de comida?”, eu acho que essas coisas acabam tomando tempo e tiram sua energia e foco do principal, então é muito nessa linha.
Henrique de Moraes – Perfeito. Só mais duas perguntas, eu acho, em relação à isso
Fernando Vilela – Não, fica tranquilo.
Henrique de Moraes – Cara, você falou que lê jornal todo dia de manhã desde a sétima série, isso foi um hábito que você adquiriu com seus pais, foi alguma coisa assim? De onde surgiu essa vontade?
Fernando Vilela – Cara eu era uma criança esquisita na realidade. Porque assim, eu era horrível em esporte, horrível, era tímido então assim, não ia conseguir chegar em ninguém, então o que sobrava era ser inteligente, era a única opção que eu tinha no cardápio, só que ao mesmo tempo eu olhava aqueles nerds e tudo mais e falava “Cara, eu não quero ser esse nerd extremamente que fica jogando game boy” nada contra mas assim, na época eu pensava assim, hoje os caras dominam o mundo né com live games, então eu pensava um pouco assim e falava “Cara tá bom, então a única opção que tem é eu ser uma criança adulta”, ser aquela criança que sabe falar com adulto, sabe conversar, e desde pequenininho, sabe aquele negócio quando você vai em festa assim que é a mesa de adulto e mesa de criança, eu nunca gostei, sempre queria estar na mesa com adultos, entendendo o que eles estavam falando, então eu comecei a ler jornal muito para saber e poder conversar minimamente com adulto, então eu via os amigos do meu pai falando sobre política, aí eu falava “Cara eu quero aprender sobre isso”, aí comecei a ler, via falando de conflito no Oriente Médio, “Quero aprender sobre isso, quero ler sobre isso”, e com isso eu fui aprendendo e comecei a ler. E aí algo que me influenciou muito também é que curiosamente eu optei pelo Estadão até, que é um jornal difícil de ler quando você é novo, e aí o ponto era, eu lia a Folha, o Estadão e eu acabei gostando mais do Estadão para achar o Estadão mais transparente na sua linha editorial digamos assim, o Estadão é muito claro naquilo que ele prega, ele não tem muito politicagem ele é assim, se ele tiver que criticar pessoa A ou pessoa B, pode ser do mais diferente cunho político, ele critica, se for comprar republicanismo, uma série de coisas, depois eu fui até ler a biografia do fundador do Estadão para aprender um pouco mais sobre o jornal, e aí eu comecei a desenvolver o hábito e também era uma época que eu era muito interessado em mercado financeiro, então eu também lia muito o caderno de Economia porque eu brincava num simuladorzinho de Bolsa, que até chamava acho que era Folha Investe, e tinha o Terra, era Invertia, e aí eu gostava muito de ler, aprender, assistia Bloomberg também, canal do Brasil, eu era estranho, essa é a realidade. Tanto que assim, no primeiro colegial eu fiquei se não me engano em sétimo ou oitavo no ranking Brasil do Invertia, então eu consegui, mas aí foi assim a cagada da cagada, eu tava total alavancado no Itaú, Itaú comprou o Unibanco, ação cresceu milhões % num dado dia e aí eu subi muito no ranking, mas era muito por isso, era porque eu queria sempre aprender e conversar com adulto, algo que eu aprendi rápido eu diria na vida é, você tem dois caminhos né, você tem o caminho difícil que é aprender sozinho e tem o caminho fácil que é pegar as coisas com alguém, e quem que é o alguém? É sempre alguém que é mais velho que você, por definição, em grandes médias digamos assim, óbvio que tem gente nova hoje com super conhecimento, super talento, você pode sugar a pessoa, mas gente mais velha tem experiência, já viu de tudo, então eu sempre acreditei que você tem que ser um pouco esponja assim, tá com adulto tem que perguntar, entender, ouvir, ouvir a experiência porque com isso você acaba aprendendo mais rápido e para mim jornal eu aprendi isso, para conversar com adulto eu tinha que saber o que tava acontecendo, tinha que saber quem era Rodrigo Maia né, tinha quer saber quem era Davi Alcolumbre, tinha que saber uma série de coisas para poder sentar com os adultos, então eu fui aprendendo e fui permeando essa curiosidade por conhecimento.
Henrique de Moraes – Boa. Cara, deixa e te fazer um pergunta, sobre isso especificamente, e depois eu volto na coisa da rotina, essa sua, sua vontade de absorver informação dos adultos, hoje isso se reflete por exemplo em como você lida com seus líderes superiores ou não, você acha que não tem nada a ver? Porque eu sei de uma história que por exemplo, quando você foi pra growth no Rappi, que o seu superior desenhou o funil porque você falou que não sabia de porra nenhuma, desenhou o funil pra você mas assim, você é assim até hoje com essas pessoas, isso se reflete nesse tipo de relacionamento também?
Fernando Vilela – Sou assim até hoje, eu tenho uma frase, eu gosto de exagerar um pouco nas frases pras pessoas entenderem mas eu gosto de brincar assim, cara se você acordar algum dia da sua vida e achar que você é inteligente fudeu, vão te ultrapassar, vão ser melhor que você e tudo mais, mas se você acordar todo dia e falar “Nossa, sou burro, eu não sei o que eu tô fazendo”, você vai estar sempre de peito aberto para aprender, para buscar novas informações, para escutar as pessoas e para ter a humildade de ouvir a opinião das outras pessoas, então eu sempre busco ir para esse lado, óbvio que ele é extremamente difícil né porque você todo dia falar assim “Ah eu tenho que aprender, tenho que aprender, tenho que aprender” não é nem um pouco fácil, é muito mais fácil você pegar e falar “Cara eu sei, fica quietinho aí, não vou te ouvir” mas eu acho que é importante ainda mais no mundo em que a gente vive hoje né, que tudo muda sei lá, antigamente se falava que era importante ter TV, hoje em dia se fala de branded content, hoje em dia se fala que não pode interromper a jornada do usuário, a cada hora as coisas vão mudando. Antigamente todo mundo queria emagrecer, o corpo ideal era o corpo magro, hoje em dia já tem uma vertente que diz “Não, cada um tem que ser feliz com seu próprio corpo” assim o mundo tem uma transformação tão constante que não existe mais o certo e errado atemporal, algumas coisas são atemporais, você nunca vai poder matar alguém mas assim em linhas gerais de estratégias de negócio, como pensar, como desenhar e no que focar, isso muda o tempo todo e eu acho que assim, a gente como no nosso caso que a gente é focado no usuário final, acho que um grande ensinamento que eu tive na Rappi é colocar o usuário no centro, então se colocar no pé do usuário, entender as dores do usuário, entender que eles estão mudando, um dia eles querem, algo amanhã eles já mudaram, depois na outra semana é uma outra prioridade e a vida vai mudando assim, a vida está em constante evolução e você como profissional consequentemente tem que estar em constante evolução. Tem gente que opta por fazer pós, cara super legal, acho super válido quando você tem um gap de skill técnico, quando você sente muita falta do embasamento né, do fundamento, eu prefiro até por talvez não ter tempo né, adoraria parar tudo e fazer uma pós, um MBA enfim, mas até por não ter tempo a forma como eu encontrei é ouvindo as pessoas, então sempre me procurando se ancorar, sentar junto com pessoas que sabem muito mais que eu em determinado assunto e aprender com elas. Ou às vezes pessoas que não sabem mais do que eu mas eu sei que vão vir com uma visão diferente, então assim a pior sensação de uma pessoa é estar no aquário né, o peixe, o peixe tá lá no aquário não e sabe que tem água em volta dele, a gente no nosso dia a dia é um pouco isso, eu tô lá em growth falando as mesmas coisas, repetindo, repetindo, olhando o mesmo número e às vezes eu não vejo que eu tô em volta da água e tem várias oportunidades do lado de fora que eu não tô nem conseguindo observar, então às vezes uma pessoa seja ela uma pessoa super júnior, um estagiário de outra área que te manda uma mensagem no Slack, ou um cara que no LinkedIn, ele quer uma mentoria pra startup dele, quer apresentar o negócio dele e quer ouvir sua opinião, tudo isso ajuda, tudo isso você vai fomentando e vai abrindo a sua cabeça para pensar, o dia depois de amanhã para pensar o além, acho que é muito nessa pegada. Não sei se consegui te responder ou se só te enrolei.
Henrique de Moraes – Não po, sensacional, eu concordo completamente, inclusive o podcast é isso, uma vontade de aprender com os outros aqui, por isso que as perguntas são tão nos detalhes.
Fernando Vilela – Exato
Henrique de Moraes – Mas então voltando um pouquinho lá pra rotina, você falou acho que de 10h ao meio-dia é o horário em que você se planeja, não é isso?
Fernando Vilela – Isso, mas só na segunda feira, porque de resto é free format
Henrique de Moraes – Mas como é que é, agora quero saber no detalhe, como é que você faz o planejamento, você tem alguma forma, alguma fórmula que você repete sempre, ou também é no freestyle?
Fernando Vilela – Tenho, primeiro eu sou viciado em Moleskine então eu tenho o Moleskine das anotações, digamos assim, e aí basicamente o que eu pego e faço é, eu olho os targets das pessoas, então o que cada função digamos assim, o que cada área tem que entregar e vou anotando e assim, eu nunca olho a semana passada, primeiro eu anoto os pontos, digamos assim, que eu tenho na cabeça, depois eu vejo também aquilo que eu fui mandando no WhatsApp, eu tenho um grupo comigo mesmo, acho que muita gente tem isso pra você não esquecer as coisas, e depois eu olho semana passada, isso é muito importante eu diria porque você às vezes vem e fala “Cara, isso que eu tinha anotado lá é inútil sabe, viajei aqui cara, não serve para nada”, “Isso que eu tinha anotado aqui é melhor”, então eu consigo me planejar melhor e consigo priorizar a semana e dar um foco maior para isso. Mas no fim do dia eu acho que assim, a mágica de um líder, pelo menos assim os melhores líderes que eu tive na vida, são quando eles não são micro managers, não são de querer entrar fundo com você no detalhe, cara eu odeio gente que quer entrar comigo a fundo no detalhe então jamais vou fazer isso com alguém que trabalha comigo, então para mim é muito importante a gente estar alinhado e conectado na visão primeiro, então primeiro vamos nos alinhar na visão, no direcional, e aí eu gosto de fazer um memorando né, então colocar em bullet points, uma vez por trimestre, quais são as visões, pra onde a gente tem que ir, é meio que uma página por área digamos assim, é algo bem macro, não é “Vamos pegar e fazer uma análise para entender qual que é o nível de retenção granular do usuário na microzona tal e comprou abacaxi ao invés de comprar banana”, não, não é por aí que vai. Então primeiro esse ponto e ainda fazendo ajustes e fazendo follows de acordo com o que a gente vai entendendo que é prioritário, e depois é muito entender e aprender junto o resultado. Eu acho assim, primeiro você seta a expectativa e garante que você tá alinhado né, na expectativa, nas prioridades, e depois você começa a acompanhar o resultado e não acompanhar para falar assim “Ai o número tá ruim, o número tá uma bosta, o que você vai fazer?”, é pra você se redescobrir como você vai chegar lá. Eu acho que o grande desafio de um marqueteiro hoje, principalmente quando ele é muito conectado no mundo digital, é que não existe uma fórmula mágica, talvez exista uma fórmula meio padrão pra você lançar um negócio, talvez eu até compre que exista vai, pra ficar claro, mas depois é um ecossistema e ele cada vez é mais complexo, cada vez ele tem mais interação, tem mais ponto de contato, então se você não estiver junto do seu time ali, executando junto, pensando junto, cara você tá se enganando porque pra mim a função de um líder é descatracar as coisas chatas do time, então garantir que o time tá trabalhando de verdade e não fazendo politicagem ou preenchendo excel inútil, digamos assim, ou powerpoint inútil, cara eu sou a antítese do powerpoint, acho que é uma grande perda de tempo, prefiro muito mais excel ou que seja um printzão feio ali do dashboard, não tenho problema nenhum, então é garantir que o time tá trabalhando de verdade e que está com o direcional correto e que você tá ali sentado ajudando e compartilhando sofrimento e dor contínue. É melhor se over comunicar do que ficar aquele assim “Ah não, não vou falar pra ele, porque ele vai achar que eu não sei, que eu sou burro, que eu não sirvo, que isso e que aquilo”, não, compartilha o problema comigo, ninguém aqui é senhor da verdade, ninguém tem a razão, e dê pushbacks também, me ajude a melhorar como líder, então falar “Cara, aqui não foi legal, aqui eu acho que você tá olhando a visão errada por esse motivo”, eu sou zero cabeça dura de falar “Não, é a minha palavra, foda-se é pra fazer isso”, raríssimas vezes eu vou dar um topdown, eu dou muito mais um topdown quando é com outras áreas, que às vezes aí você é obrigado a dar senão o negócio não anda. Um exemplo assim, “Cara eu preciso disso pra hoje, não tenho tempo”, é um topdown que às vezes a gente é obrigado a dar, mas nunca vou dar um topdown de, me incomoda muito sentir que tenho alguém fazendo algo que a pessoa não concorda, pra mim isso é inegociável, prefiro gastar duas horas discutindo com a pessoa, e travar a agenda pra discutir, pra pessoa fazer algo que ela se sente confortável com. Porque senão, pra que a gente tá aqui? Pra que a gente trabalha? Pra que a gente tá aqui quebrando a cabeça? Pra seguir a ordem de um lunático, no caso seria eu o lunático, que eu não concordo, que eu não confio? Não, não faz sentido nenhum, vamos sentar juntos e discutir juntos, me prova, seu eu estiver errado beleza, apont e fala “Se tá errado aqui é por tal motivo”, várias vezes eu já mudei em cima da hora algo, literalmente três semanas atrás eu mudei algo que era pro aeroporto de Congonhas, era uma frase, porque uma analista da regional São Paulo veio falar comigo e falou “Cara, estou incomodada com a frase que tá indo”, sendo que já tinha passado pela brand manager, pelo comitê que a gente tem de criatividade, já tinha passado por várias pessoas e eu falei “Cara, mas porque você tá?”, eu falei “Não, discordo de você e não sei o que”, e ela ficou falando muito que tava incomodada, eu fiquei com aquilo na cabeça, aí eu perguntei pra outra pessoa do time que não faz parte de nenhum comitê disso o que ela achava e ela falou “Cara, eu entendo o seu lado mas entendo o dela”, aí eu falei “Putz, beleza se ela entende o dela tem algo errado”, perguntei pra gente fora da Rappi, no caso minha namorada, “Você se incomoda com essa frase?”, ela falou “Ah eu acho um exagero, dado que é o aeroporto de Congonhas, se fosse uma festa, até acho que faria sentido”, que era algo a ver com uso de camisinha e teste de gravidez, era algo bem agressivo no sentido da comunicação, aí peguei e falei “Tá bom então vai, duas pessoas ficaram com o pé atras”, voltei pro time e falei “Vamos trocar essa frase e vamos rebriefar, vamos pensar numa frase melhor”, e a gente trocou, não teve problema nenhum.
Henrique de Moraes – Boa. Cara, deve ser complicado lidar com tanta gente. Qual o tamanho do time que você lidera hoje?
Fernando Vilela – Cara, hoje, boa pergunta, devem ter umas 30, 35 pessoas mais ou menos
Henrique de Moraes – Caraca, é muita gente cara
Fernando Vilela – É muita gente, gente pra caraca. Um líder no fim do dia é um gestor de pessoas né, ele não é nem tanto um executor ou um estrategista mor, é conflito de egos, vaidades e interesses. Além dos pares né, tem esse outro lado né, você tem que lidar com seu time e lidar com seus pares pra garantir o melhor, mas aí você vai aprendendo, e nisso eu fui bem escolado lá atrás na Ambev
Henrique de Moraes – Realmente é uma boa escola. Cara, você falou que você faz esses memorandos então pra cada um dos times e você vai fazendo esses follow ups então ao longo da semana, certo?
Fernando Vilela – Certo
Henrique de Moraes – Mas isso pra aquela semana, certo? Ou algum período próximo vamos dizer assim, e pra longo prazo? Existe longo prazo na Rappi?
Fernando Vilela – Cara não, se eu te falar que existe longo prazo não existe, existe assim um longo prazo direcional estratégico, tipo “Cara essa é nossa proposta de valor, é nisso que a gente quer chegar, é mais ou menos assim que a gente tem que desenhar”. Existem metas trimestrais digamos assim, focos trimestrais, acima disso não existe tanto. O ponto é que assim, um business que é uma startup hypergrowth, a gente ainda tá em hypergrowth, é muito importante você não ser tão apegado a um planejamento principal, porque senão você gasta um tempo do caraca planejando pra algo que daqui a duas semanas vai mudar, ou vai ser revisitado, então eu lembro, comparando um pouco assim, lá na Ambev era super importante planejamento de 1 ano, de 3 anos, de 5 anos, mas porque a indústria performa de uma forma diferente. Falar de um indústria de food delivery, ela muda muito toda semana, todo mês, então assim, o core, que “Ah eu tenho que ter o melhor assortment, os melhores restaurantes, as melhores lojas pra operação funcionar bem?” Beleza, isso é meio óbvio, isso nunca vai mudar, mas “Ah, vou focar mais nesse caminho e nesse outro”, isso você vai testando. Talvez até a grande dificuldade quando a gente pensa num business de hypergrowth é como você vai mudando a estratégia sem perder a consistência, e isso talvez é algo que a gente ainda tem que melhorar muito na minha opinião. A gente sistematicamente, como marca mesmo, eu gosto de brincar que às vezes a marca da Rappi são vários vôos de galinha né, você não entende nada direito, é um emaranhado de coisas que e aí, o que a Rappi é? Tem gente que acha que é supermercado, tem gente que acha que é restaurante, tem gente que acha que é só mais um player, o que que é? E aí tanto que uma das coisas que a gente reconheceu e falou “Cara beleza, esse é um problema”, agora que eu voltei é um problema que a gente tem e a gente não vai conseguir resolver, e a gente contratou uma agência pra ser dona da nossa conta, pra redesenhar a proposta de marca com a gente, pra redesenhar e ter a conta da Rappi até o fim do ano, porque como acontece em muita startup é: “Começa”, aí você fala “Ah não, agora eu tenho que comunicar a Rappi Prime”, que é o nosso plano de assinatura pra ter frete grátis e suporte dedicado, “Ah, agora eu tenho que comunicar a Rappi Chefs, agora eu vi que o grande ponto que eu tenho que comunicar é que dá pra comprar verdura na Rappi”, se você não tem a mesma galera que pensou o direcional de marca lá atrás, isso vai se perdendo e quando você for ver, virou uma feira a marca, ninguém entende nada, é uma confusão, tudo atrapalhado, virou assim os piores cases de marca possível, não tem consistência, então a gente tá agora muito trabalhando pra garantir essa consistência mas sem também abrir mão da velocidade e do poder de transformação, isso eu nunca vou abrir mão. Várias vezes eu tenho essa discussão com o time “Ah não mas a gente já tá mudando?”, “Já ué”, a gente desenhou um plano, nitidamente ele não tá dando o resultado esperado, nada indica que ele vai começar a dar, cara a gente não tem tempo, as crianças estão com fome, já viu criança com fome? Ela não espera, não fala “Não papai tá bom, vou esperar mais 2 horas a comida sair”, não, se você não der algo pra elas, elas vão te matar, então a startup é a criança com fome, se você não mudar ela vai te matar ou ela vai desmaiar de fome, fazendo uma analogia um pouco maldosa mas é um pouco isso.
Henrique de Moraes – Caraca. E como é que você, tem tanta coisa que eu queria falar aqui, vamos lá, deixa eu tentar ir uma coisa de cada vez, você já tem que liderar um time enorme, um crescimento, e aí você bota mais uma agência que é um outro ator ali que você tem que gerenciar, que também muito mais que o seu time que você tá lidando todo dia, tem vaidade, tem ego, tem várias coisas na jogada. Como que é acrescentar mais uma, é até importante porque como eu sou uma agência né, é legal trazer esse ponto de vista assim, como é que você acrescenta e como que você faz pra isso, vou te perguntar como você faz pra isso funcionar bem, e eu queria entender do seu ponto de vista o que a agência precisa fazer também pra funcionar bem?
Fernando Vilela – Perfeito. Primeiro eu acho que é mais do que escolher pela capacidade criativa da agência e por quem tá por trás, é se tem fit cultural assim, para mim é isso, essa é a primeira coisa, tem que bater um papo com o pessoal e ter empatia. Teve, beleza, já é um primeiro sinal. Depois é algo que eu sou muito transparente, como você já deve estar reparando um pouco, então eu já chego e falo assim “Galera vamos alinhar algumas coisas. Comigo esquece almoço em agência, reunião que você vai me dar um lanchinho pra eu ficar 4 horas da minha sexta feira no escritório fingindo que eu tô trabalhando, esquece. Aqui é assim, reunião de 1 hora.”, “Ah não dá tempo”, produtividade, você tá acostumado com indústrias tradicionais, nada contra mas assim, isso é outro ritmo, não posso me dar ao luxo de ficar 5 horas, 4 horas numa agência, de ter um almoço de 2:30h, óbvio, só que tem um negócio muito importante para alinhar tudo bem, aí a gente faz um momento de empatia, de construção juntos mas assim, aquele negócio de toda semana ficar sexta-feira à tarde com a agência esquece, isso eu alinho bem. Segundo ponto que eu alinho bem com a agência é, cara eu sou empreendedor, eu não sou um executivo de marketing. Então assim, cara não me venha querer discutir pequenas coisas, tipo tempo de atendimento, esses mini detalhes, eu tô preocupado no macro, tô preocupado em entregar, em construir junto, espero que você e agência esteja preocupado também nesse sentido, esse é o segundo ponto. Terceiro ponto é, como um bom empreendedor eu não tenho vaidade, eu não tenho ego e eu espero de vocês a mesma coisa, então se tiver que trocar uma pessoa do time porque cara não bateu, a gente vai trocar, vamos estar alinhados com isso. Se eu tiver que falar “Cara não gostei, achei ruim eu vou falar. Eu sei que vocês viraram a noite para fazer, pensaram, deram o seu melhor mas cara, não vou”, e ao mesmo tempo eu espero que vocês também me critiquem, de falar “Cara nada a ver o que você tá falando, briefing merda, você tá viajando, você tá tendo uma visão que é sei lá, que é ultrapassada, que não é uma visão moderna” tipo, eu espero que a agência seja um sócio de verdade para construir as coisas e para entregar lá. Como que a gente faz a relação com a agência? Quem faz tudo é a nossa brand manager, ela que escolheu a agência, ela que brifou, ela que conduz o dia inteiro, literalmente, ela que escolheu a agência, eu dei a minha visão mas eu falei “Lari, no fim do dia a decisão é tua, você que vai lidar com ele todo dia, você que vai ter que aguentar eles, pelo lado bom e pelo lado ruim, então você que tem que estar confortável”. Óbvio, eu vou muito mais nos pontos de alinhamento estratégico, mas o dia a dia tá com ela, e acho que isso é importante. Pra mim esse é o momento assim, você tem que saber delegar, como líder, então eu sou muito de delegar por time e dar autonomia/responsabilidades que são inclusive maiores do que as pessoas podem ter, em grande parte, em 99.9% das empresas e até assim, na grande maioria das startups que tem o tamanho como a Rappi tem hoje e um budget do nosso tamanho, porque eu acredito que quando você tem autonomia, quando você tem liberdade para fazer aquilo você trabalha com um propósito, você trabalha de verdade querendo fazer algo diferente, porque é a sua cara, não é que você tá seguindo, está sendo mensageiro de alguém. Então é assim que a gente faz a relação com a agência, a brand manager tem carta em branco pra fazer o que ela quiser ou que ela entender, óbvio que vou sempre dando pushbacks, vou falando “Putz, discordo disso”, mas assim, a gente já teve reuniões em que ela bateu de frente com o founder, semana passada inclusive, falando “Cara não, acho que você tá olhando a visão errada”, numa empresa mas caretinha as pessoas iam pegar e falar “Ela é louca, ela bateu de frente com o founder numa reunião em frente à agência, não sei o que.”, na Rappi isso é normal, a gente tá aqui construindo algo que ninguém construiu, então a gente não pode se dar ao luxo de ver coisas que a gente não concorda e ficar quieto sabe, então é muito essa forma de trabalho e mencionando de novo com a agência é, não me veja como um executivo que tá querendo que você me faça um vídeo case para mostrar para o meu chefe e ser promovido, não é isso, não que todo executivo seja assim, longe disso só que que infelizmente tem uma galera no mercado que pensa assim, me veja como um empreendedor cara, eu quero montar algo que eu tenho orgulho, não que meu chefe tem orgulho, porque numa startup não tem nem isso de você ficar mostrando para o teu chefe o videocase que você fez, compartilhando a melhor prática com 38.000 países do mundo, para mostrar, não tem esse lado do show off interno que em grandes corporações é importante porque no fim ele é transmissão de conhecimento, ele não é nem só vaidade, ego. Em startup é “Cara, a gente tem um buraco para resolver, vamos resolver o buraco e vamos garantir que a gente tá alinhado e construir junto, e muito mais do que “Ah quem fez, quem deixou de fazer?”, cara a gente fez junto, e algo que eu falo sempre é: “O mérito é do time, o mérito nunca é meu”, então o cara fez, não é assim “Ai pessoal, olha o que a gente fez aqui”, eu falo assim “Cara, olha o que tal pessoa do time fez”, as pessoas precisam saber quem que tá fazendo e quem tá fazendo bem, mas o demérito, a cagada, o erro, o fracasso, eu brinco “Isso é meu, é minha responsabilidade”. Quando eu dou muita autonomia eu sei que como contrapartida eu tô me expondo ao risco e assim, nunca tenham medo de errar, de fracassar, de cometer uma decisão que vai dar um pau, que vai dar um erro, eu brinco assim só me avisa, só me brifa para não surgir uma reunião na minha agenda e eu chegar lá vendido com um problema gigantesco, só me dá um heads up, fala “Cara caguei aqui, por favor me ajuda, por favor me salva”, então com agência é isso assim, “Lari, você toca, autonomia total, se der uma cagada me avisa, e aí eu vou lá e tento te ajudar da melhor forma possível”.
Henrique de Moraes – Perfeito. Voltando um pouquinho aqui para o assunto do início do bate-papo, você falando um pouco da sua infância esquisita, da adolescência, sei lá quantos anos você tinha, mas você falou de investimento, que você lia sobre investimentos, sobre mercado financeiro, e você falou inclusive de quando você ficou em oitavo lá
Fernando Vilela – Na cagada tá, não foi mérito não.
Henrique de Moraes – Não beleza, mérito porque você tava investindo com aquela idade cara, vamos lá né
Fernando Vilela – É, pode ser
Henrique de Moraes – Mas que tipo de investidor você é?
Fernando Vilela – Cara é até vergonhoso né, sou formado em Economia no Insper, referência em finanças, meu primeiro estágio foi em private equity que é um negócio assim, as pessoas falam “Uau, isso é muito espetacular”, e com finanças pessoais eu sou uma tragédia. Brincadeiras à parte eu entendo que assim, eu não tenho tempo para ficar escolhendo ação então é tudo fundo de investimento, e aí fundo multimercado, fundo hedge fund que é de alto risco, faço uma mesclada. “Existe um percentual?” Não, eu sou muito de, como eu estudei economia eu sei muito bem assim “Ah os melhores alunos foram para tais gestoras, digamos assim”, então sou muito de escolher pela gestora, então eu sei “Tal lugar só tem gente foda então eu sei que vai performar relativamente bem”, então assim que eu vou escolhendo mas eu tenho também uma parte considerável em capital de risco então eu gosto de investir em startup e ajudar startups a aprender, e claramente a Rappi não deixa de ser meu maior investimento né, então eu tô bem amarradinho aqui e bem atrelado aqui, mas eu gosto digamos assim, o que me dê o menor trabalho possível tirando investir em startup porque eu acho que você sempre acaba aprendendo, você tá ajudando o founder, você está ajudando pessoas que estão tendo um problema, e não é aquele cara que investe e larga lá, eu gosto de estar ativo, de estar participando, ajudando e cara, inclusive ajudo startups que eu nem invisto, tem startup que eu ajudo e nem cobro por isso, eu acho que o mundo ele volta né, óbvio que também não é assim, não é qualquer pessoa que eu vou ajudar, eu ajudo pessoas que tem uma tese de investimento legal, que eu tenho interesse em comum porque também senão minha agenda, não tenho tempo então tenho que dar uma peneiradinha, mas eu gosto muito de ajudar as pessoas e sempre tive esse lado focado um pouco para a educação, até para entrar em outra curiosidade, no Insper, cara eu era nerd na faculdade e aí eu ia super bem em algumas matérias, e o Insper é uma faculdade particular então rola muita aula particular entre os alunos, então alunos que dão aula particular para outros alunos, e eu comecei a dar muita aula e cara assim, minha agenda era cheia, cobrava super caro, era disparado o maior preço do mercado da faculdade, minha agenda lotada, as pessoas gostavam da minha aula só que isso era muito chato assim, uma hora porque era a repetitivo, ficava sei lá 8 horas repetindo a mesma coisa pra 8 pessoas diferentes, aí eu falei “Meu isso não dá”, e eu pegava grande parte do dinheiro, tenho uma família vai financeiramente bem de boa, então uma grande parte do dinheiro eu nem pegava porque eu era nerd, não ia pra balada, então não gastava muita grana, então acabava até doando pro fundo de bolsas da faculdade, só que eu falava “Não aguento mais dar aula, então a gente montou um negócio chamado “aula solidária” que era assim, uma aula pra todo mundo, aberta, a única contrapartida que você tinha que ter era fazer uma doação de um alimento não perecível. E até hoje esse é o maior projeto voluntário do Insper e cara a gente arrecada sei lá, 2, 3 toneladas de alimento por época de prova, então virou um negócio gigante. Eu dava aula pra 150, 160 pessoas num sábado de manhã, numa sexta feira à tarde, todo mundo ali querendo fazer, querendo ter, então eu sempre tive esse momento de entender que você tem que retribuir, que se você tem um skill, um conhecimento é super válido você ajudar as pessoas porque volta, tem gente daquela época que entrou como meu estagiário na Rappi, até hoje trabalha comigo, tem gente daquela época que eu ajudei, enfim, uma série de pessoas vão se conectando e vão sendo influenciadas por isso, acho que quem gera o bem colhe o bem, então é um pouco essa volta.
Henrique de Moraes – Sensacional, eu concordo. Você ainda manda mensagem pros restaurantes que aparecem na sua timeline pra falar como é que eles podem investir melhor?
Fernando Vilela – Cara eu fazia mais isso numa época, é uma boa pergunta. No pico da pandemia tinha muito restaurante fazendo, hoje em dia eu ando pesquisando tanta coisa que sou até pouco impactado por restaurante, faz bastante tempo que não sou impactado por um ads de restaurante mas assim, se eu for eu mando, não tenho problema algum, a gente até criou um playbookzinho lá que a gente compartilha pros restaurantes de como fazer a gestão da rede social deles, hoje literalmente eu tava revisitando o playbook que a gente vai fazer umas adaptações e mandar de novo pra que o restaurante possa melhorar, porque é unfair né, esse é um conhecimento que eu acho que a gente tem que cada vez mais compartilhar. Até assim, já que aqui é mais um bate papo sobre pessoa Fernando e não tanto sobre business, até compartilhar em primeira mão um negócio que eu tô vendo com outros dois amigos que cara, tem muito curso online hoje que explica e não sei o que, a maioria cobra, e muitos que são não bullshit, mas são tão técnicos que eles perdem um pouco do foco no todo, foco no macro, então hoje a gente tava até discutindo, falando no whatsapp “Cara, vamos pegar e ligar o foda-se e gravar? A gente banca mesmo o curso, vamos gerar o bem, vamos montar um curso online gratuito de growth com a gente, a gente explica, a gente passa nuns pontos e cara, precisa pagar? Não, a vida dá voltas e de alguma forma lá na frente ele se paga, mas vamos montar, subir e deixar isso livre pras pessoas e vamos criar uma plataforma de conteúdo, não uma plataforma super sofisticada porque isso a gente não tem tempo pra fazer e nem grana, mas vamos montar o básico e que a gente deixe de alguma maneira ativa de forma gratuita pra universalizar o conhecimento e explicar pras pessoas um pouco daquilo que a gente faz, um pouco do que é essa caixa-preta que é growth”. Porque eu gosto de brincar que assim, growth existe o cara que gasta, exagerando um pouco, mas gasta no máximo mil reais, existe o cara que gasta até 100 mil reais, existe o cara que gasta 1 milhão, existe o cara que gasta mais de 1 milhão. Nos níveis iniciais de maturidade de um negócio, no começo, minha opinião é que cara, você aprende num curso gratuito do Facebook e tudo mais, cara você se vira, você faz um ads patrocinado, você consegue se virar mas conforme o tempo vai passando o mais difícil é a cultura, é o mindset, é como montar o time, qual tipo de skill que precisa, é acabar um pouco com o tabu, tem gente que pega e “Não, marketing hoje em dia tem que ser só engenheiro”, discordo em gênero, número e grau disso aí, acho que tem que ter um time diverso, um time mesclado com diferentes skills para você performar então a gente quer muito buscar universalizar isso e vamos ver se vai, se sair eu te mantenho informado mas a gente quer contar um pouco mais sobre isso para quebrar um pouco o tabu das pessoas e ajudar. Tem algo que eu penso muito que é, cara a gente vive num país pobre né, você tá agora em Portugal mais cara, você é brasileiro, você sabe o Brasil é um país pobre, infelizmente a gente não teve a felicidade de nascer na Alemanha ou ter tido o crescimento e desenvolvimento econômico de uma Alemanha. O Brasil é extremamente desigual, e a desigualdade ela é muito favorável para quem tem acesso à informação, e el é horrível pra quem não tem acesso, então a gente vê vai, pega o meu caso. Cara eu sou um cara privilegiado e eu tenho que reconhecer que eu sou assim, eu tive a felicidade de ter vários privilégios desde que nasci e isso não é o real valor da socidade brasileira, isso não é como a sociedade funciona de fato, então se eu que sou um privilegiado não tiver preocupado em universalizar o conhecimento, em estimular empreendedorismo no Brasil e com o conhecimento que eu tenho quebrar alguns tabus que algumas pessoas tem sobre o que é growth, como escalar, como pensar, como montar, como construir, cara o que vai fazer, sabe? A gente tem que ter noção um pouco dos privilégios que a gente tem que ter e ajudar como brasileiro a contribuir e acabar com isso, acho que o próprio podcast é um pouco isso, é cara como você universaliza o conhecimento de pessoas que talvez nem tivessem acesso né, e a mágica da internet, é óbvio que a internet tem coisas que talvez não sejam tão mágicas, como fake news, mas a grande mágica é que democratizou muito o acesso à informação. Então pensa lá atrás, meu vô assinava o jornal, ele tinha um livro que era um livro caro, ele tinha acesso à informação. Hoje um cara lá de qualquer lugar do Brasil com acesso à internet que é cada vez mais barato ter, ele vai lá e escreve, procura sei lá “marketing digital”, ele vai ter, ele vai conseguir aprender o mínimo. Talvez ele não consiga aprender o sofisticado, e tudo mais mas eu acho que é isso que a gente tem que cada vez mais universalizar, mas o mínimo ele aprende e acho que essa é assim, a galera que hoje tá lá no mercado e tá fazendo acontecer, eu acho que é muito importante você devolver para a sociedade aquelas oportunidades que te foram dadas, e de novo, volto sempre no ponto que é reconhecer o privilégio que você teve. E aí cara é universalizando a educação, é fomentando, doando pra causas que você acredita, cada um vai para um caminho e cada um vai seguindo a linha que acredita, mas o importante é devolver, é retribuir.
Henrique de Moraes – Sim, totalmente. Engraçado que o podcast inclusive foi muito por causa disso né, porque eu comecei a ouvir podcast dois anos atrás e eu fui pegando referências, pegando indicações até que eu cheguei em dois ou três hoje que são meus preferidos e que eu ouço tipo religiosamente, só que eles são em inglês né, todos os podcasts que eu ouço são em inglês, eu falei assim “Cara, as pessoas tinham que ter acesso à esse tipo de informação, não é possível, tem que ter uma forma”, aí eu falei “Beleza, vou simular aqui um deles”, que é pegar as pessoas que eu admiro, que eu sei que são fodas e trazer pro podcast e fazer as perguntas que ninguém tá fazendo, porque ainda tem isso, sem querer julgar porque eu sei que muita coisa é trabalho e tudo mais, é o trabalho da pessoa, é o que ela precisa preencher mas por exemplo, eu ouvi uns 5, 6 podcasts que você participou e na maioria deles as perguntas são as mesmos
Fernando Vilela – É, atrelado ao business, atrelado ao dia a dia
Henrique de Moraes – Exatamente e assim, mesmo que seja atrelado ao business, ainda assim as perguntas são muito parecidas, tipo se eu ouvi um eu não precisava ter ouvido outro, então no final das contas parece que a pessoa nem pesquisou antes de ouvir sabe, antes de te entrevistar ou alguma coisa assim nesse sentido.
Fernando Vilela – Você sabe bem eu tô reparando, você tá bem de lição de casa, parabéns
Henrique de Moraes – Tem que fazer o dever de casa. Então no final das contas é isso, e por isso que eu sempre ouço muito dos convidados antes de trazer pra saber o que não foi falado, o que tem de curiosidade, mas não só isso, mas especialmente pra trazer os hacks mesmo,tipo o que você faz? Porque seu dia é assim? Porque você acorda e toma o mesmo café todos os dias? Porque talvez pode ser indiferente para alguma pessoa que já sabe por que faz isso, mas para quem não sabe isso vai ter que levantar e eu sei porque eu ouvi muita coisa em podcasts de entrevistas, especialmente do Tim Ferriss, que eu sempre falo aqui que é minha referência master e que eu falo assim “Cara esse maluco mudou minha vida, será que eu consigo fazer isso por alguém, por uma pessoa, duas pessoas?” Tá bom, tá valendo já, se alguém ouvir esse podcast e falar “Caralho, porra mudou minha vida”, tá bom, já valeu. Eu tô me divertindo batendo um papo com uma pessoa que eu admiro e outra pessoa tem a chance de aproveitar também? Porque não né?
Fernando Vilela – Exato, concordo. É isso assim, conhecimento não pode ser uma barreira de entrada né, tem que ser cada vez mais universal e o podcast ajuda muito nessa pegada de universalizar o conhecimento, tipo cara eu também, muito de growth que eu aplico é escutando Masters of Scale por exemplo, não é fazendo um curso, uma pós, lendo 38 milhões de livros, é cara eu escuto lá e vejo o cara do Duolingo falando um negócio e eu falo “Isso é real, vamos aplicar”, escuto um cara de uma startup X lá na PQP da Rússia fazendo determinada coisa, e falo “Legal, isso dá pra aplicar” e você vai indo, e até mais do que só pro negócio, é também pra vida, então uma frase que me marcou muito do cara do Duolingo, que nunca vou me esquecer que ele fala assim “Cara antes de começar o Duolingo, a gente tinha 0 noção de como a gente ia pagar o business, como o business ia parar de pé”, então às vezes eu tô falando com um cara que tá montando um negócio, aí o cara fala “Não porque eu não sei como vai parar de pé, como vai, qual que vai ser o ganho financeiro” e eu falo “Cara, começa a montar, vai mudar de qualquer jeito, deixa isso como, valida coisas básicas também pra não ser um negócio inviável tipo compra diamantes por 1 milhão e vender por 1 real, isso é inviável, mas vê premissas básicas mas foca em garantir que você tá executando, que você tá indo e com o tempo você vai aprendendo, então acho que é bem o que você falou, “Se fizeram comigo porque eu não vou fazer com os outros?”
Henrique de Moraes – Engraçado que no início eu ficava inclusive traduzindo, eu cheguei a traduzir alguns episódios do Tim Ferriss, os mais curtinhos lógico, os de 2 horas impossível mas é isso, as pessoas tem que ter esse acesso, faz muita diferença porque mudou tanto minha vida, por que não né? Então tem que ajudar mesmo. Deixa eu te falar, te perguntar, você veio do mercado financeiro, foi para Ambev, caiu na Rappi, “a” Rappi né?
Fernando Vilela – “o” Rappi, agora a gente mudou, agora é O Rappi, até falei errado algumas vezes aqui. Belo marqueteiro eu né, falo o nome da própria marca errado.
Henrique de Moraes – Vai tomar um puxão de orelha da agência lá, e da brand manager. E aí você caiu depois ainda e mudou, foi pra growth e virou head de marketing né? Pra mim a transição que foi mais, pelo menos do que eu ouvi da sua história a transição mais difícil foi essa né, você tava abrindo lugar nos mercados e de repente seu chefe te chamou pra ser head de growth
Fernando Vilela – Exato
Henrique de Moraes – Como é que você vai assim do 0 pro 1, sabe? Tipo assim, tirando o funil que ele desenhou pra você, o que você fez em seguida assim, onde você buscou informação, o que te ajudou mais?
Fernando Vilela – Boa, ótima pergunta assim. Foi bem desafiador no começo, então primeiro de tudo foi montar time então cara, vou montar um time que me complementa nos meus gaps, então por exemplo, “Parte de branding”, tipo cara horrível então vou ter uma pessoa no meu time que é muito boa com coisas de marca, então beleza, check, done. “Gestão de performance em marketing, com número”, cara entender algoritmo, essas coisas, cabeça de economista ajuda um pouco porque economia é econometria, regressão o tempo todo, modelagem, então tem várias coisas que são bem parecidas então aqui eu conseguia me virar mas eu não entendia tanto a parte técnica específica do ferramental, então vou contratar uma pessoa que ela é muito boa no ferramental né, então check, done. Então foi muito isso de montar o time correto né e montar as melhores pessoas para tocar e sempre ter a humildade de entender que você não é o cara que mais sabe. E aí eu acho que somado a isso é usar das pessoas que sabem para te ensinar e para você aprender, então eu lembro lá atrás a gente fazia reunião com o Facebook com o Google, eu perguntava para eles, eu chegava e falava “Cara não entendo nada, me explica aí” bem assim transparente, direto, na lata, “Cara eu não sei, me explica”, aí vai aprendendo. CRM, cara vou contratar uma pessoa que sabe de CRM, “Me explica como funciona isso, qual que é a régua?” é como a gente vai colocar porque eu acho que no fim do dia o líder assim ele é muito sobre tirar o máximo proveito de cada employee, então montar um time é muito bom e até tem um documentário no Netflix que mostra os técnicos de futebol, mostra o Maurinho e mostra uma série de técnicos e eu acho que é muito isso o papel de um líder, é quase um pouco um técnico de esporte de um time de alta performance né, então é cara ter atletas profissionais de alta performance, saber como é cada um, entender que não é o time que se adapta a você, mas você que se adapta ao time para tirar o máximo proveito de cada um, e como cada pecinha ela tem a interlocução entre si para garantir que o todo cresça muito rápido, então para mim assim esse foi o desafio número 1, foi montar o time, desafio número 2 foi começar a me aprofundar em alguns tópicos que eram mais quentes no momento, então cara, novos usuários, lá atrás a gente tinha um desafio gigante de novo usuário, “Ah beleza a gente tem performance, a gente tem, funciona e não sei o que mas cara, vamos tentar começar algo com influenciador”, a gente começou e foi uma época que a gente ficou roxo de crescer, a gente cresceu muito porque a gente conseguiu criar uma maquininha que tinham vários e vários e vários influenciadores todo dia falando da Rappi. Vamos pegar e vamos entender com o usuário o que faria ele comprar na Rappi, no Rappi, olha eu de novo falando errado, comprar no Rappi, então vamos sempre entender isso e volta no ponto que é conversar muito com o usuário, acho que isso é algo que foi transformador pra gente, então um exemplo lá, a gente falava com usuário e o usuário pegava e falava para a gente “Ah Rappi, eu tô vendo que vocês estão com os entregadores aí pela rua” então beleza, vou pegar e vou ter mais entregador da Rappi na rua, então vou fazer o que a gente chamou lá atrás de “guerra de bag” né, então como eu garanto que todos os entregadores estão com bag da Rappi né, a mochilinha laranja, “Cara as pessoas estão na rua vendo”, então vamos criar a Kombi da Rappi, que vai pra lá e pra cá, então é sempre pensando como que a gente vai fazendo isso. Aí um outro momento foi “Cara eu tenho que estar na imprensa presente o tempo todo”, porque as pessoas lêem a imprensa, então como que eu me posiciono como o cara da inovação? E foi daí inclusive que saiu muito do superapp tá, a gente falou “Cara vamos fechar uma porrada de parceria”, a gente criou uma área no time em que era para fechar parceria e foi criando várias parcerias e foi desenvolvendo isso e foi acontecendo, a gente saía toda semana no Estadão, na Folha, no UOL, em todos os meios de imprensa com alguma nova vertical, alguma nova parceria e foi ganhando boom e as pessoas ficaram “Caraca, a Rappi tem tudo, nossa na Rappi tem uma porrada de inovação”, “Vi agora que até venda de BMW vocês tão fazendo”, então tudo isso é de muito entender o usuário, entender como que ele tava enxergando a gente e construindo. Nessa parte eu acho que a gente sempre fez muito bem, talvez assim a minha grande, grande coisa que eu pequei no meu primeiro momento em growth, growth e marketing é a mesma coisa na Rappi, é só mera formalidade os nomes, foi muito de não focar tanto na marca, que eu acho que eu realmente eu pequei e é um aprendizado que eu tenho que a gente conseguiu criar aquela noção que a Rappi é cool, que Rappi é uma marca legal mas a gente não conseguiu explicar o que a Rappi é né, diria assim que a gente conseguiu criar o imaginário legal, mas a gente não conseguiu explicar e fazer “Ah tá bom, o que que o Rappi é?”, as pessoas não entendem o que é isso né, então aqui foi o que eu fiquei devendo. E aí depois eu fiquei agora tempo em estratégia porque a gente mudou muito da organização da forma como tava, então a gente fez várias mudanças organizacionais que eu precisei, eu sou o líder mais velho de Rappi no Brasil, então como eu conheço todo mundo
Henrique de Moraes – Você tem quantos anos?
Fernando Vilela – Não de idade, de tempo de casa
Henrique de Moraes – Ah tá
Fernando Vilela – Calma, calma, de tempo de casa, então eu peguei e fiquei muito focado em fazer essa reorganização, em alinhar e garantir tudo rodando perfeito, e aí foi isso e agora eu voltei pro marketing, a pessoa que tava pediu pra sair, mudar de área e eu voltei, e voltei agora já aprendendo, mais maduro digamos assim com os erros e acertos, justamente focado em ter uma marca consistente, sem perder o DNA da agressividade, do coolness digamos assim, e ao mesmo tempo sem perder o ritmo de fazer as coisas acontecerem de forma muito rápida, executar muito rápido e entregar valor muito rápido.
Henrique de Moraes – Perfeito. Cara, logo no início você falou uma coisa que é muito importante que eu vou botar um marca texto nele aqui, se eu puder dar um destaque no Kindle aqui, que você falou que você chegava lá no Google, no Facebook e saía perguntando tipo “Não sei, me explica” e cara, acho que esse é o ponto principal né assim, você dessa humildade de chegar no lugar, você como líder chegar no lugar e falar “Não, não sei” e que eu acho que isso faz uma diferença absurda né, as pessoas têm essa mania de estar numa conversa, em qualquer lugar, já numa roda de conversa as pessoas fingem saber né, imagina liderando, chegando e “Sou o head aqui do Rappi mas eu não sei isso aqui, por favor me explica” e não, as pessoas na verdade elas admiram ainda mais, elas ficam mais tranquilas, elas ficam “Não maravilha, vem cá que eu vou te explicar”, a reação é o oposto do que eu acho que os líderes esperam, os líderes que não pedem ajuda.
Fernando Vilela – Total, e tem que ser isso, e eu diria que assim, mesmo que às vezes você saiba muito bem, é melhor você ir por esse caminho porque você sempre acaba aprendendo algo mais, algo além né, algo adicional, do que já chegar discutindo. Tem um cara, um amigo meu que ele fala uma frase muito boa, que ele fala assim “Cara eu sou dono de empresa então em reunião eu não falo nada, eu escuto e depois eu falo”, então assim fazendo um paralelo é isso assim “Cara eu não sei, me explica” aí o cara vai falar, vai contar, vai pôr os pontos e tudo mais, aí você vai pegar e traçar seu comentários, vai entender e sempre vai estar aprendendo mais, acho que quanto mais você escuta sobre algo, indiretamente mais você acaba aprendendo, ou reforçando algo qu você já aprendeu e talvez nem lembrava tão bem.
Henrique de Moraes – E tem uma coisa também, às vezes é um pouco como ler um livro né, você leu o livro a primeira vez, você vai, alguma coisa que tá mais deficiente em você vai te saltar mais aos olhos e vai ficar mais na sua memória. A próxima vez que você ler, que você vai ter resolvido aquele problema, você vai prestar atenção em outro parágrafo e falar assim “Caraca não tinha reparado que ele tinha falado isso na primeira vez que eu li”, é um pouco disso também.
Fernando Vilela – Totalmente.
Henrique de Moraes – Maravilha cara. A gente tá chegando aqui na parte onde tem algumas perguntas que eu faço pra basicamente todos os convidados, e aí que elas são mais rapidinhas mas você pode também responder no seu tempo aí cara, à vontade
Fernando Vilela – Tá bom.
Henrique de Moraes – A primeira, que eu comecei a fazer há pouco tempo e que eu percebi que gera umas respostas engraçadas e também gera uma sensação de alívio para os outros, que falam assim “Ah, não é só comigo”, é qual foi a pior reunião da sua vida?
Fernando Vilela – Cara, a pior reunião da minha vida, nossa senhora. Quando eu era estagiário na Ambev, a gente tinha o planejamento não sei o quê e tudo mais, e aí o meu chefe foi para um casamento no Rio Grande do Sul que ele ser padrinho e não sei o quê, e aí beleza né, sobrou pra mim. E a gente tinha um excel lá com os números e não sei o que, que ia pra um powerpoint e tudo mais, aí a gente foi apresentar o plano, acho que era o plano de 5 anos, quais iam ser as iniciativas e tudo mais e na época eu tava apresentando e não sei o quê, e reunião de planejamento sempre é um negócio um pouco tenso né, nunca é um negócio trivial. Aí você pensa, eu era estagiário lá né, me tremendo inteiro já de estar ali só literalmente mudando slide mas tava me tremendo inteiro, era uma reunião que tinha VP, CEO, CFO, literalmente eu era sei lá a formiguinha e só tinha elefante, só tinha tubarão ali. E aí tava no powerpoint, os diretores apresentando aí o CEO solta assim “Cara eu quero ver o excel”, meu Deus do céu, e o excel ele era cheio de, não que ele era assim muito desorganizado, mas ele era desorganizado, ele não era tão trivial né e aí a gente abriu e aí por exemplo essa iniciativa vai dar tanto de volume, mas a canibalização era tanto, cara a referência tanto, ah vamos aumentar um pouco, é aquele mundo já de premissa que fica um pouco meio solto, meio jogado e quando ele abriu o excel, a gente sabia que ele ia premissa por premissa, então aí o chicote estralou e aí cara foi uma tragédia a reunião porque aí todo mundo chamando as pessoas que tinham feito os excels, aí a sala ficou lotada, aí o cara começou a ficar tenso porque o cara ia e se gaguejava inteiro, não sabia explicar a premissa, aí perguntavam pra mim e eu não sabia explicar também tão bem, era um show de horror e então acho que assim até o aprendizado que eu tive nessa reunião é saber sempre ser o mais inteligente da sala né então assim cara, se é você que tá apresentando algo seja o mais completo e o mais profundo para saber aquilo que você tá falando e mesmo se não for você apresentando faça sua lição de casa, seu dever de casa para aprender e para ter um mínimo de inteligência para saber opinar caso a reunião mude o tom, caso a reunião vire uma reunião tensa para você saber opinar, portar, construir valor, gerar valor, então acho que esse é o grande o grande aprendizado, mas assim como estagiário eu falava “Meu Deus do céu, ferrou, já era”
Henrique de Moraes – Imagino cara. E falando de livros cara, você lê bastante jornal, lê jornal desde a sétima série, você deve ler bastante também livros
Fernando Vilela – Leio bastante, tô lendo o do Obama agora, grande para caramba por sinal, mas bem bom.
Henrique de Moraes – Eu baixei mas ainda não comecei. Cara, você tem assim de 1 a 3 livros que mais impactaram e assim, não precisa ser profissionalmente só, acho que livros que mudam a gente de certa forma impactam nossa vida profissional também né, então de 1 à 3 livros aí que mais impactaram
Fernando Vilela – Te falo. Cara o primeiro é “De Zero a Um”, do Peter Thiel, by far assim, eu lembro bem, eu li num vôo, ele inteiro numa ponte aérea Rio-São Paulo, é pequenininho né e cara ele abriu muito a minha cabeça para esse lado de inovação, de startup e de empreendedorismo, então pra mim esse é um livro assim que vai, mudou minha cabeça em relação ao que eu queria profissionalmente chegar e construir, então esse é o primeiro. Segundo que foi muito da minha escolha de carreira e de curso de Economia e tudo mais, não é porque eu não sou economista de fato que eu não gosto de Economia né, eu ainda sempre leio sobre economia, se chama “Superfreakonomics”, é um livro que ele mostra a teoria econômica na prática né, então ele tenta passar em alguns pontos pra exemplificar, cara como as pessoas reagem a incentivos, como existem incentivos perversos, como desigualdade social né, um país que tem instituição fraca você vê isso, por exemplo a quantidade de multas de acordo com as placas da ONU em Nova York né, como os países mais pobres do mundo são os que mais tem multa, porque você não é multado mas mesmo assim a polícia de Nova York emite a multa né, e aí você pega a Dinamarca, 0 multas, você pega um país da África, ditadura, subdesenvolvido, milhares de dólares em multa, então como isso se relaciona, então foi bem bom para fortalecer e até mesmo para eu entender porque eu queria fazer economia. E um livro que eu li ano passado, acho que ano retrasado na verdade, chama “Misbehaving” que é também de teoria econômica, é de economia comportamental e eu gostei muito desse livro porque assim, um economista ele basicamente aprende que o ser humano é um agente racional né, então você reage aos incentivos da forma mais racional possível, e nesse livro ele explica que não, que não necessariamente, que existem várias coisas que podem mudar sua racionalidade, e por isso se chama “Misbehaving” né, então é como outros incentivos fazem você não agir de forma racional, e como que isso é observado na prática, na decisão de compra, na decisão de como economizar seu dinheiro, é uma série coisas que você acaba, e como um marqueteiro até aplicando e entendendo assim, cara um exemplo, o ser humano, um exemplo concreto, você pode pensar assim “Ah o cara sempre vai otimizar a conveniência dele” digamos assim, então se a Rappi ela te dá mais tempo, cara por racionalidade humana você fala “Cara todo mundo vai pedir na Rappi o tempo todo”, porque o cara vai sair de casa para ir no supermercado? Mas o cara sai então assim, o porque que ele sai? Então aí entra muito o lado do “Misbehaving” para você entender cara quais são os fatores que às vezes você não enxerga pela racionalidade pura, que fazem o ser humano mudar a formação dele de opinião e mudar o comportamento.
Henrique de Moraes – Boa, você sabe quem é o autor?
Fernando Vilela – O autor do “Misbehaving” chama Richard Thaler, ele é Nobel de Economia inclusive
Henrique de Moraes – Sensacional, vou procurar, não conhecia esse.
Fernando Vilela – Cara é legal mas já avisando as pessoas que tão ouvindo é assim, aquele livro que você leu, vai ⅓ do livro e já virou um repeteco, aí você pode começar passando um pouco mais rápido.
Henrique de Moraes – Sei como é que é, faço muito isso. E você tem algum hábito, você de ter né, imagino que sim, você me pareceu uma pessoa incomum, mas você tem algum hábito diferente assim ou que pelo menos é diferente pras pessoas, mas que você não abre mão, você adora?
Fernando Vilela – Cara eu sou muito curioso com coisas aleatórias, então as pessoas até brincam e falam “Cara como que você sabe dessas coisas?”, é que eu sou curioso então por exemplo, as coisas que eu aprendi sei lá há duas semanas atrás, eu vi aquele documentário no Netflix que é “Cirurgiões Inovadores” se não me engano, e aí o primeiro episódio é o médico que criou cirurgia fetal, então eu fiquei fuçando, pesquisando pra caralho sobre cirurgia fetal assim, para entender como que se opera um bebê, como que o cara criou isso, da onde veio e tudo mais. Assim cara, o que que isso tem a ver com meu dia a dia? 0, absolutamente 0, não tenho filho, minha namorada não tá grávida e não pretendo ter filho nos próximos 5 anos, mas eu fiquei curioso então eu fui pesquisar, sei lá eu adorei aprender sobre o Irã, por exemplo então já li sobre o Irã, já li “Os Iranianos”, já assisti muito documentário pra entender um pouco como que eles pensam e tudo mais, é um país que assim, você vê o noticiário e parece que só tem terrorista e homem bomba, quando não, é um país super curioso de pesquisar e aprender sobre. Eu tenho muito essa curiosidade aleatória vai, de aprender coisas que as pessoas geralmente vão falar “Nossa, porque você tá aprendendo, querendo saber sobre isso?” eu gosto, e aí a forma como eu faço isso é, antes de dormir eu sempre coloco um vídeo no Youtube de um documentário meio bizarro, de algo assim fora da caixa e eu meio que assisto/durmo vendo o documentário, então eu tenho esse hábito de todo dia à noite ver um negócio que foge totalmente do dia a dia convencional.
Henrique de Moraes – Maravilha. Vou aproveitar esse gancho do documentário, você tem algum documentário favorito?
Fernando Vilela – Cara eu gosto muito de qualquer documentário do Vice News, aquele canal que é agora da HBO e tem no YouTube assim, e Vox também acho assim que qualquer um é válido, os que eu mais gostava eram lá atrás sobre Estado Islâmico quando ninguém falava do Estado islâmico assim, eu gostava muito e achava curioso para aprender e para ensinar. Então recomendação, Vice News, vê os mais assistidos e vai vendo, procura ver documentário que é de 20, 30 minutos porque também o gratuito do Vice News é muito curtinho né, é dois minutos aí você não aprende nada.
Henrique de Moraes – Boa. Tem algum fracasso assim aparente né
Fernando Vilela – Tenho vários
Henrique de Moraes – Mas que tenha te levado pra um sucesso na época, que você tava tipo “Caralho, fudeu, me fudi, que merda que eu fui fazer” mas que depois esse fracasso te levou pra um sucesso?
Fernando Vilela – Cara eu diria honestamente que o meu primeiro assim, meu sonho de primeiro estágio era trabalhar num banco de IB, de investment banking, então MNA, essas coisas, estruturação financeira e tudo mais, que era o banco assim, o banco que mais pagava, o banco que os melhores iam e tudo mais e eu tomei um pau na entrevista, acabei não sendo aceito, acabaram não me querendo digamos assim. E foi um fracasso assim, eu fiquei realmente incomodado porque eu sou uma pessoa eu diria um pouco competitiva, então eu fiquei incomodado de falar “Putz que merda né, estudei pra caralho, ia super bem na faculdade procurei fazer várias outras coisa na faculdade e para esses caras eu não sou bom o suficiente”. Só que aí o que eu gosto de brincar é assim, cara talvez se eu tivesse ido para lá, como paga muito, como é uma outra realidade talvez eu tivesse tido uma história totalmente diferente, talvez eu não estivesse no lugar que eu tô hoje né então tem até uma frase do Jeff, lá da Amazon, nosso grande amigo que eu gosto muito que é assim “Nunca tenha medo do fracasso, tenha medo de deixar de fazer algo que você queira fazer”, então por exemplo quando eu tava na Ambev, cara eu tava bem na Ambev assim, tinha sido trainee, tava numa posição boa, andando rápido, todo mundo me conhecia, várias coisas legais acontecendo, tipo fui chamado para conversar com Warren Buffett e George Foreman numa mesa que tinham sei lá, dez pessoas, eu era o único não-sócio na época na mesa então assim, tinham coisas legais que aconteciam, só que cara eu entendia que eu precisava conhecer algo diferente, então eu precisava ir para a inovação e eu falava assim “Cara, me incomoda isso de não ousar, não arriscar, não pular no escuro né”, então eu peguei e fui lá, atirei no escuro e fui pra Rappi quando ninguém me conhecia porque eu tenho muito essa cabeça assim “Cara nunca deixe para fazer algo que você vai se arrepender”, dando um exemplo esdrúxulo, assim quantas vezes também você não passou, não viu algum cara que você queria conhecer num restaurante e você falou “Ah não, não vou incomodar ele porque não vou conversar com ele né”, quantas vezes isso não aconteceu, ou você não se aproximou de uma pessoa que queria aproximar seja lá por qual motivo foi, e você ficava com aquilo na consciência, aquele peso. E aí se você tenta e falha você fala “Ué, pelo menos eu tentei”. É muito difícil você ficar lembrando e amargurando fracassos né, falhas. Eu sou muito mais às vezes de amargurar coisas que eu não tentei, que eu deixei de fazer do que falhas em si porque eu acho que isso faz parte do processo de aprendizado. Mas esse me marcou porque, me marcou assim doeu na alma vai, doeu no ego. E até talvez foi o que fez eu ter a cabeça de ser humilde, talvez se lá atrás eu fosse um estudante arrogante, babaca que se achava o melhor da sala né, isso me mostrou cara, não sou nem perto disso, se os caras não me acham assim eu não sou né, então me colocou muito essa cabeça de ser humilde e de ter pé no chão e saber ouvir mais do que se impor.
Henrique de Moraes – Boa, sensacional. Nos últimos anos assim, você desenvolveu algum hábito ou algum comportamento que melhorou sua vida?
Fernando Vilela – Cara eu acho que foi esse lado de alimentação e de exercício, acho que isso mudou muito. Um hábito assim super pessoal mas super curioso também é uma conexão com a religiosidade, eu acho que eu nunca tive lá desde pequeno e tudo mais e passei a ter mais e diria pra você honestamente que me ajudou a me tornar uma pessoa melhor, uma pessoa mais tranquila, mais calma, de saber ouvir mais, de ser mais aberto a ser uma pessoa melhor no fim do dia, acho que com certeza me ajudou, é inegável que eu sou uma pessoa diferente por conta disso.
Henrique de Moraes – E como isso surgiu?
Fernando Vilela – Cara, pelo namoro assim, minha namorada é bem de ser conectada com a religião, de ir para missa todo domingo, comecei aí né para estar com ela, e aí obviamente você vai ouvindo, óbvio que sempre vão ter coisas que eu discordo e acho que isso é inerente ao ser humano mas acho assim, as principais mensagens de cara ajudar o outro, de entender que a vida é difícil, de entender que escolher o caminho do bem quase que é um caminho duro, é um caminho que dá trabalho não é fácil mas é o caminho a ser seguido, digamos assim tudo isso foi ajudando e com certeza me tornou uma pessoa melhor e cara um exemplo assim, todo domingo você tem lá que fazer a comunhão né, o momento que você reflete e pede perdão por aquilo que você fez que foi errado, que você julga que foi errado, é um momento seu, é um momento de você consigo mesmo e com Deus digamos assim, então esse é um momento que eu sempre uso pra refletir, tipo “Cara eu tô sendo o melhor filho do mundo? Eu tô sendo o melhor irmão do mundo? Eu tô sendo o melhor namorado do mundo? Eu tô sendo o melhor profissional do mundo?”, “O que eu tenho que melhorar?”, “Eu tô falando mal das pessoas que trabalham comigo ou não tô?”, indo muito pra esse lado, “Tô sendo tóxico ou não tô sendo?”, então acho que isso ajuda muito toda semana a sempre revisitar um pouco a minha semana como pessoa, como indivíduo e como melhorar para a próxima semana ser uma semana diferente.
Henrique de Moraes – Interessante. Assim, no que você ficou melhor em dizer não, porque eu imagino que assim, deve surgir muita coisa para você, convite pra porra toda, pra fazer podcast, inclusive, no que você ficou bom assim, o que você aprendeu a dizer não para que você via que sugava seu tempo, por exemplo?
Fernando Vilela – Cara eu aprendi a dizer não pra reunião desnecessária, então assim vai se marcam uma reunião por marcar, na hora eu devolvo “Qual que é a pauta da reunião?”, “Ah a gente vai discutir tal coisa”, “Tá bom, me manda o material antes”, e geralmente as pessoas desmarcam a reunião depois dessas perguntas, é impressionante.
Henrique de Moraes – Sensacional, melhor hack que eu já ouvi cara.
Fernando Vilela – Então cara, perdia muito tempo em reuniões desnecessárias, então isso eu não perco mais tempo e cara se a reunião tá inútil para eu estar eu saio, se eu tô ali para estar de ouvinte eu saio e falo “Cara tenho outra coisa pra fazer, desculpa vou sair aqui”, então isso eu aprendi a dizer não. Outra coisa é que aí assim, essa é um pouco o lado ruim da Rappi de ser um superapp e fazer tudo de tudo né, é que vem as oportunidades mais malucas do mundo, então antes eu acho que eu tentava ver tudo, hoje em dia eu respondo “Cara obrigado mas isso não faz parte da nossa estratégia agora, mas assim se em algum momento fizer sentido a gente volta a se falar”, é porque não dá para aceitar tudo, não dá para fazer tudo, não dá pra olhar tudo, é inviável então é ter muito claro aquilo que é prioritário e focar exclusivamente naquilo que é o core, naquilo que realmente vai mover o ponteiro.
Henrique de Moraes – Perfeito. E quando você, se é que você se sente assim né, quando você se sente sobrecarregado, desmotivado, lembra do Joseph Klimber? Assim quando você acha que você tá ali perdendo um pouco o foco né do que tem que fazer, tem alguma coisa, como é que você faz para voltar para pegar a vida de novo, o controle da vida de novo?
Fernando Vilela – Cara essas horas para mim eu volto lá pro Moleskine, folha em branco e volto a escrever os pontos que a gente tem que fazer, mas eu diria que assim, o meu grande combustível, cada um tem um combustível né, o que te pilha, o que te faz acordar motivadão, pra mim é para trabalhar com pessoas assim, eu gosto muito de trabalhar com gente, gente boa, então saber que eu tô ali e se um dia eu tiver mal assim, nitidamente irritado, nitidamente pra baixo, o impacto como as pessoas olham cara, isso assim é para mim o que me faz falar “Cara vai, dá um tapa na sua cara e volta a se pilhadão”, não deixar alguns outros problemas transparecerem, aquilo é maior. E uma outra coisa que foi muito de ler biografia, de ficar entendendo essa grandes pessoas que estão no mundo né, Obamas da vida, essas grandes personalidades, é cara todas elas eu vi que elas tem algo em comum, que elas entendem que você tem que tirar o máximo proveito da sua vida, a vida é um bem muito precioso para você se dar o luxo de procrastinar, de empurrar, de viver de forma medíocre digamos assim, então eu tenho muito isso na cabeça e nunca deixo o não, o obstáculo me vencer, então é algo que eu falo muito para as pessoas que é “Cara assim, tirando fazer a cura do câncer em 12 horas, tudo dá para fazer na vida”, tipo assim tudo você consegue fazer de uma forma ou de outra então nunca se de não, nunca coloque um obstáculo na sua frente porque essa é a mentalidade que te trava, que te segura e te deixa para baixo, então sempre pensa assim “Cara vai dar pra fazer, vou buscar uma solução criativa aqui, vou superar essa” e vai, vai indo, vai indo porque a vida é cheia de obstáculos. Eu gosto até de brincar assim, cara a gente, tem tanta gente que vive tão pior que a gente, às vezes a gente reclama né porque sei lá, “Nossa meu Netflix tá demorando para carregar”, e fecha a cara né, fecha o mundo. Cara tem gente que tá essa hora com um bebezinho na UTI Neonatal né, com o pulmão se desenvolvendo via aparelho tipo assim, isso são problemas de vida, o Netflix não carregar cara pelo amor de Deus, releva. Então também outra coisa que eu aprendi muito é saber qual o problema me tira o sono e qual o problema pode acontecer à vontade e eu vou menosprezar assim big time e cara conviver com ele né, conviver com alguns problemas e entender que você sempre vai conviver com vários problemas da vida e não é isso que vai te travar, não é isso que vai te impossibilitar de seguir vivendo.
Henrique de Moraes – Sim. Tem uma, não sei se você curte ver stand up comedy, mas tem um do Louis C.K., que inclusive tá meio cancelado hoje em dia né mas eu acho ele muito engraçado, e tem um que ele fala sobre isso, como os americanos no caso, mas acho que é todo mundo, que reclama de coisas idiotas sabe tipo, aí ele fala da máquina de tirar dinheiro estar em duas línguas, e aí ele começa a falar como as pessoas reclamam de voar, aí ele fala assim “Cara, como é que as pessoas podem reclamar de voar?”, “Ah porque eu tive que esperar durante 30 minutos para decolagem”, mas fala assim “Depois você fez o quê? Você voou? Tava numa cadeira no céu como se fosse um Deus grego?”, é surreal a gente esquece né cara, essas coisas todas que a gente tem ao nosso redor, são milagres né cara, você pega e manda uma mensagem ela chega do outro lado, tô aqui em Lisboa fazendo um video call com você, gravando um podcast, olha só que milagre né
Fernando Vilela – Exatamente. Não, total cara, pensa pelo lado cheio da vida né, tem que viver a vida com entusiasmo. Meu sogro fala muito isso, tem que viver a vida com entusiasmo, nunca pode perder o entusiasmo na vida. E é a realidade, não existe problema que não pode ser superado. Ah, tá num dia ruim? Cara dorme, amanhã você acorda e já é outro dia, acabou, vida segue.
Henrique de Moraes – E cara, o que te tira o sono, o que te causa ansiedade? Com certeza tem alguma coisa, você lida num ambiente extremamente volátil e assim provavelmente isso tem algum efeito colateral, como é que é isso?
Fernando Vilela – É uma boa pergunta assim, o que me tira o sono, volto naquele ponto assim até meio curioso, é quando eu tô fora da rotina, então assim fugir da rotina me tira muito o sono, estraga meu dia, um exemplo, cara sei lá por algum motivo eu perco o horário e acordo tarde, fudeu meu dia vai ser uma merda, passo o dia inteiro de mau humor. Ah, não consegui fazer as coisas que eu gosto tipo, no horário que eu gosto e não sei o que, essas coisas me tiram o sono. Curiosamente até tenho um Garmin que fica lá monitorando pico de estresse e não sei o quê, meu estresse de fim de semana é maior que durante a semana, e aí eu acho que é justamente por isso, por fim de semana não ter tanto uma rotina, e agora até tenho uma rotina de fim de semana também, até parece um pouco que sou muito metódico mas não sou tanto assim, mas é isso, é não saber o que eu vou fazer, eu diria, isso me tira o sono, tipo e acordar sem ter claridade daquilo que eu vou fazer no dia seguinte, isso pra mim é o que me tira o sono. Se eu tenho claro ou sei minimamente “Ah tenho um problema, tenho que resolver”, eu durmo tranquilo, acordo e vou resolver o problema, não fico pensando no problema, eu já fui muito de sofrer com isso mas isso eu aprendi a lidar também com tempo de falar “Cara no fim do dia problema na vida você tem hoje, amanhã, semana que vem, mês que vem, ano que vem, e vai se mantendo”, então não leve o problema para cama né tipo, deixa o problema de lado, dorme, descansa e no dia seguinte você vai, ataca o problema e endereça o problema.
Henrique de Moraes – Perfeito. O quer é ser bem-sucedido para você cara?
Fernando Vilela – Cara, pra mim, eu tenho uma definição boa para isso, para mim é assim, domingo à noite, se é infeliz seu domingo à noite porque você sabe que é segunda, você não tá bem sucedido, se você domingo à noite é mais um dia para você, tranquilo, não muda em nada saber que amanhã é segunda, você tá bem sucedido, para mim é assim. Nada pior do que a sensação de chegar domingo e fala “Nossa que merda hoje é domingo, amanhã é segunda eu tenho que ir para o escritório, tenho que trabalhar”, tipo isso é porque você tá no lugar errado, na vaga errada, com chefe errado, é hora de né pular fora, de mudar, de buscar outra coisa assim. Meu domingo à noite é de boa, não to pensando “Nossa amanhã tem que trabalhar, que inferno”, é tranquilo, para mim esse é um puta sinal de sucesso, quer dizer que você está no caminho certo. E óbvio que cada um tem seu sucesso, tem gente que olha mais a influência, tem gente que olha mais o poder, tem gente que olha a parte financeira, e também algo que eu gosto muito de dizer, pro pessoal que tá ouvindo é, cara eu não sou um marqueteiro tradicional, eu nunca busquei ir para o marketing, eu nunca achei que o marketing fosse ser meu lugar, se me perguntar “Cara você quer estar nos próximos 20 anos no marketing?” Te digo agora, não, eu sou um cara que acredito que você tem que deixar um pouco a vida te conduzir também né, te mostrar e te levar para os seus próprios caminhos. E não existe aquilo de fazer aquilo que você ama, aquilo que você gosta, para mim fazer aquilo que você ama e que você gosta é uma consequência de fazer aquilo que você se identifica e gera valor, porque você gerando valor você vai descobrir que você impacta a vida das pessoas, que você muda o ponteiro, você tem uma ideia que dá certo, que as pessoas começam a te respeitar naquela área e aquilo vai drivando, vai fazendo acontecer né. Se você fosse pegar e falar lá com o Fernando da faculdade, cara nunca eu ia pensar em estar no marketing, era capaz de eu falar mal do marketing, nesse nível, falar “Nem fudendo eu vou pra marketing, pra quê? Ficar desenhando coisinha lá que ninguém entende?”, tipo hoje olha onde eu tô, então eu acredito muito nisso e não é porque eu gosto ou não gosto, não pra mim é assim, porque eu gosto é que cara eu tô uma posição onde eu me encontrei, onde eu consigo aprender e seguir impactando, e seguir inovando, seguir fazendo coisas diferentes, que me dá a chance de liderar gente melhor que eu, gente incrível, então isso também é muito legal, e que de alguma forma eu tive sucesso naquilo que a gente escolheu como decisão de estratégia e foi reconhecido com isso né. Então isso que é o que me dá pilha de seguir trabalhando, de seguir fazendo, e fazendo acontecer, mas isso podia ter acontecido em marketing, em finanças, em RH, em suprimentos, em logística, enfim, no mundo fabril, qualquer área, acho que você tem que deixar também um pouco a vida te mostrar qual que é o melhor destino para você mais do que ficar naquela sina de buscar o emprego dos sonhos. Eu brinco muito, como eu sou novo né, eu falo com muita gente nova e aí às vezes eu vejo né alguns amigos ou irmão mais novo de amigo, a pessoa naquele dilema de “Ah eu odeio o que eu faço, eu não gosto do que eu faço”, eu falo assim “Cara, você não pode pensar assim ‘ah eu não gosto que eu faço’, se for insuportável mude”, beleza, se é insuportável assim cara, ninguém merece ter uma vida insuportável mas assim, entenda que a vida é uma cadeia alimentar né, o primeiro da cadeia alimentar, vai se você pensar o leão, no mundo animal, ele vai se alimentar só daquilo que ele achar bom, e ao longo da cadeia as pessoas vão se alimentando daquilo que vai sobrando. Quando você tá no começo da sua vida profissional, você faz o quê ninguém quer fazer, então o estagiário, ele faz Excel, PowerPoint, apresentação, porque? Uma certeza eu te dou, um nível acima não quer, dois níveis acima não querem, três muito menos, e quatro nem fudendo, então assim é um pedágio da vida que você tem que passar, então é super normal no começo da vida você fazer coisa chata né, ninguém, a geração atual tem muito pouco daquilo “Ah não,eu vou me formar e ser o CEO do meu negócio”, cara e como se ser CEO fosse só coisa fácil né, como se empreender fosse, cara empreender é pagar conta, pagar boleto, é falar com advogado, é cara fazer transferência, é falar com contador. Tem um lado aí que as pessoas não sabem o que é empreender, que é como se fosse “Ah não, vou sentar numa mesa de reunião, escritório lindão, 10 de cada lado e vou só tomar decisão”, não é assim que funciona. Para você chegar nesse nível, você tá entendendo você sabe muito bem, cara o quanto de coisa ruim você é obrigado a engolir, comer até chegar nesse ponto que você fala “Cara beleza, agora cheguei e a vida tá começando a melhorar um pouco e tá começando a ir”, mas você é obrigado a passar por tudo isso, não tem caminho fácil na vida né, tem trabalho duro, dedicação e sujar as mãos, arregaçar as mangas e trabalhar.
Henrique de Moraes – Eu falo isso direto, uma das coisas que eu menos faço é o que eu montei a agência para fazer, que é a parte criativa, é uma das coisas que eu menos faço e tipo, tem uma frase do Seth Godin que eu gosto muito que é “Fazer o que ama é pros amadores, amar o que você faz é pros profissionais”, é isso
Fernando Vilela – Total. É isso.
Henrique de Moraes – Exatamente. Cara se você pudesse falar com seu eu de alguns anos atrás ali, talvez se formando, alguma coisa assim, a pergunta é 10, 15 anos mas pra você é tipo, você tava lendo jornal, começando a ler jornal, mas se você pudesse falar com o seu eu ali de alguns anos atrás, o que você falaria para ele ter mais calma?
Fernando Vilela – Cara, pra ter mais calma eu falaria assim, primeiro pra saber né que no fim sempre chega no mesmo lugar né, então assim independentemente dos caminhos que você vai traçando se você tem fome né, quer fazer algo grande ou não, também às vezes você quer ter uma vida de boa você vai chegar lá, tenha um pouco de paciência que você vai chegar lá, então esse é um primeiro ponto. Único ponto importante é nunca se acomode né, nunca deixe estar acomodado, acho que em alguns momentos da vida eu fui mais acomodado do que deveria e aí cara, não é que “Beleza, passou 10 anos acomodado” não mas assim, três meses acomodado são 3 meses acomodado, que você abriu mão de ter algo ali que podia estar mais dedicado, mais focado, mais para fazer acontecer então para mim é muito isso assim, é sempre saiba que você vai chegar lá então não existe um único caminho para chegar nas coisas então se tiver que mudar cara, mude, não tenha medo da mudança a não tenha, não ache que aquele é o único emprego dos sonhos, aquela é a única forma de chegar onde você quer chegar, e também nunca seja acomodado porque eu acho que a pior coisa que você pode fazer com a própria vida é se acomodar, é estagnar porque aí você vira um gato gordo, é igual Blockbuster né, acomodou e cara, virou o que virou, só tem loja no Alaska hoje se eu não me engano porque o custo da fibra ótica é tão caro lá que a Internet não chega bem em vários lugares, então é o único lugar onde Blockbuster ainda existe. Tirando isso virou o que? Virou um nada, porque se acomodou, sendo que poderia ter virado um Netflix, poderia ter se adaptado, se desenvolvido e feito várias outras coisas.
Henrique de Moraes – Sim, no livro do Hastings agora que ele lançou, ele fala que eles tentavam vender né pra Blockbuster e eles não quiseram, na época era ainda outro esquema, era fita ainda mas de qualquer jeito. Cara é isso, queria agradecer demais pelo seu tempo e generosidade aí, foi sensacional o bate-papo, tem muita coisa aqui, fiz várias anotações, acho que vai ser bem relevante pra galera e se o pessoal quiser te encontrar, tem algum lugar? Você acho que não gera muito conteúdo nas suas redes sociais, mas tem algum lugar que você queira que as pessoas te encontrem?
Fernando Vilela – Cara, infelizmente eu não tenho, eu não tenho tempo. Cara eu diria assim, me segue no LinkedIn que eu prometo que eu tô vendo nas pouquíssimas horas livres que eu tenho alguma forma de, não gerar conteúdo o tempo todo mas sim começar a universalizar um pouco do conteúdo que eu acho que pode ser de graça, ajuda de qualquer jeito qualquer pessoa, se pegar alguma frase, algum ensinamento já tá valendo e se paga, e aí então aguarde um pouco de novidades que provavelmente lá alguma hora, pode ser daqui a um mês como pode ser daqui a um ano, tudo depende de tempo, a gente vai começar eu prometo que começo a divulgar um pouco o que eu penso sobre growth, como eu penso, como eu acho que as pessoas tem que agir porque acho que isso é importante para universalizar e educar as pessoas, mais do que né, tem gente que vive disso, felizmente eu não vivo disso eu tenho né, sou sócio aqui no Rappi e sou um employee, eu vivo de Rappi, então eu posso me dar ao luxo de universalizar um pouco do conteúdo que a gente vive, pra ajudar outros empreendedores, outras pessoas que tão ali, ou pessoas que estão em grandes empresa no marketing ou pequenas empresas que querem entender um pouco do dia a dia, as coisas que a gente anda vendo, como a gente pensa, como a gente constrói, como a gente pensa time, estrutura, a relação com o produto enfim, uma série de coisas.
Henrique de Moraes – Perfeito. Fernando, cara, obrigadaço de verdade pelo bate-papo e cara, quer deixar suas últimas palavras aí?
Fernando Vilela – Minhas últimas palavras pro pessoal é assim, cara tá todo mundo num ano que não acaba nunca, super desafiador mas assim, a gente nunca pode perder a expectativa e o otimismo com um dia melhor amanhã né, então acho que isso, nunca vamos perder o otimismo, vamos sempre se dar o máximo para gerar o máximo de valor naquilo que você tá se propondo gerar, e na forma e intensidade que você tá se propondo gerar. E outra coisa é, principalmente pra galera mais nova ou a galera que quer mudar um pouco é assim, não tenha medo de falhar né, volto naquela frase que nosso amigo da Amazon sempre fala é cara pensa com 80 anos quando você EStiver deitado no travesseiro, muito mais importante do que falhas você vai sempre ficar falando “putz”, sabe aqueles papos de velhinho? “Nossa quando tinha a sua idade eu deixei de fazer tal coisa, devia ter feito”, você sempre escuta um papo assim né de gente mais velha, mas dificilmente você escuta o cara falando “Nossa eu fiz uma cagada, eu errei ali, mudei um emprego X por tal coisa, fui atrás do meu sonho” cara assim é muito raro você ouvir isso, então sempre busque aquilo que você vai dormir com a consciência tranquila quando você tiver 90 anos, de ter tentado e mesmo que isso signifique falhar não tem problema nenhum, a gente no Brasil tem o péssimo hábito eu diria de criticar quem falha né, de criticar quem tenta e erra, quando a gente deveria muito pelo contrário estar fomentando a pessoa de tentar e buscar algo novo porque honestamente é isso que vai gerar desenvolvimento socioeconômico pro Brasil, a inovação, é gente empreendendo, é o Brasil já é um país de empreendedor, se você pensar tem o camelô, tem o cara que vende bala no farol, todo mundo, e a gente é uma estrutura, um momento agora meio economista, que como a taxa de juros era muito alta as pessoas eram rentistas né então você tinha grana e você vivia de renda quase, e agora com a taxa de juros lá embaixo você é obrigado a ir para a economia, você é obrigado a gerar valor, e isso abre um cenário muito bom para quem quer empreender, para quem quer montar algo. Empreender não é sair montando seu próprio negócio, pode ser empreender dentro do lugar que você tá né, propor uma nova área porque o mercado está inundado de capital, não existe mais ganhar dinheiro com renda fixa, existe ganhar dinheiro investindo na economia real então esse é um momento acho que é muito bom para todo mundo aí, rever um poucos dos planejamentos e rever o que é fazer e o que é ser ao longo da jornada da vida.
Henrique de Moraes – Fechado. Obrigado Fernando.
Fernando Vilela – Obrigado você, um prazer aí ter falado com você.