o Guilherme, diferente de todos os convidados do podcast (e pra falar a verdade, de quase tudo mundo que conheço) não tem aquele perfil maroto no LinkedIn com as informações em terceira pessoa de tudo que ele fez. na verdade, ele nem tem conta no LinkedIn. e, nas plataformas que ele tem conta, o máximo que você vai encontrar é a frase: “Recomponho-me compondo.” e isso diz muito sobre ele.

o problema é que essa falta de informação me deixa com a dificílima e delicada missão de descrevê-lo, então, pra garantir que eu não fale nenhuma besteira, vou me limitar a dizer apenas que ele é uma das pessoas mais fora da caixa e, porque não, brilhantes que já conheci. seja falando de negócios, repensando o capitalismo, ponderando e se questionando sobre a vida ou se reinventando de várias maneiras cada vez mais interessantes, ele parece estar sempre se aprofundando em assuntos super importantes que, ao meu vez, mais gente buscar saber também.

e, só pra não dizer que não entrou nada da sua trajetória profissional, Guilherme foi sócio do Brownie do Luiz até 2017, quando resolveu se mudar pro mato. hoje ele é consultor de impacto socioambiental na Coco Legal, além de diretor e professor de economia na Escola Schumacher Brasil.

quem quiser saber mais sobre o Guilherme e acessar seu conteúdo super rico (que eu recomendo demais), aqui estão os links:

LIVROS CITADOS
LINKS IMPORTANTES
PESSOAS CITADAS
  • Andre Diamand
  • Lourenço Bustani
  • Rapha Avellar
  • Seth Godin
  • Leandro Karnal
  • Eduardo Giannetti
  • Daniel Wahl
  • Louis C.K.
  • Jordan Peterson
  • Barry Schwartz
  • Tim Ferriss
  • Derek Sivers
  • Fritjof Capra
  • Jesus
  • Mahatma Gandhi
  • Marie Forleo
  • Carolina Bergier (@carolinabergier)
  • Yuval Harari
FRASES E CITAÇÕES
  • “Tomar cuidado para não jogar fora a água do banho com o bebê junto” – Guilherme Lito
  • “O resultado da vida é a morte” – Guilherme Lito
  • “Inclua nas tarefas de todo dia ser amor da cabeça aos pés.” – Guilherme Lito

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Fala Guilherme, queria começar aqui já agradecendo pelo seu tempo é claro, e dizer que eu tava ansioso, eu sou uma pessoa ansiosa né mas às vezes dependendo de quem eu chamo para o podcast eu fico mais ansioso ainda, é uma coisa que preciso controlar mas porque eu tô passando por um processo agora que você passou há alguns anos atrás, eu acho que talvez a gente esteja passando, não sei como é que é isso pra você não sei quanto tempo leva nem se isso é relevante, esse tempo é relevante mas que é o processo de remover os programinhas que foram instalados aí em mim ao longo desses 35 anos de vida e então cara, é um prazer ter você aqui, já te acompanho desde aquele vídeo seu do TED né, que eu acho que eu sou responsável inclusive por uns 30% dos plays, não só por ter assistido várias vezes mas por ter passado para muita gente também e então assim, acho que o mais difícil da conversa como eu falei um pouquinho antes da gente começar a gravar vai ser a gente conseguiu abordar todos os temas que eu queria abordar contigo, mas obrigado por ter topado participar

Guilherme Lito – Obrigado cara, pra mim essa experiência do diálogo, da conversa é o que nos faz humano e também que nos ajuda a se enxergar e desconstruir coisas então a oportunidade de ter uma boa conversa é sempre bem-vinda, com cafezinho recém-passado aqui vai ser maravilhoso.

Henrique de Moraes – Muito bom, deixa eu te perguntar como é que você faz seu café cara? Curiosidade

Guilherme Lito – Eu faço naquela Bialetti italiana sabe? Foi a maneira que eu encontrei de não usar filtro descartável, e eu não gostava muito do filtro tipo aquele Mayer, filtro de pano, então tô de Bialetti e na hora da preguiça eu confesso que eu meto um expressão na máquina mesmo e depois boto para reciclar a cápsula.

Henrique de Moraes – Maravilha, eu gosto de perguntar porque eu gosto muito de café e às vezes a pessoa passa uma dicazinha, tem um macetinho para fazer que eu gosto de aproveitar e tentar testar, entendeu? Cara queria começar perguntando sobre uma coisa talvez, acho que é muito relevante, acho que é bem relevante, vou colocar assim, que é sobre sua aversão ao coentro, mas antes eu queria contextualizar né pra não ficar tão perdido, tão aleatório porque assim, um dos caras que eu mais admiro que é o Seth Godin, ele também tem uma aversão ao coentro e é tão grande a aversão, que ele chegou ao ponto de fazer um podcast inteiro dedicado a falar sobre porque ele odeia coentro e assim, a minha relação com coentro é tão difícil quanto a dele assim, eu acho que chegaria a esse ponto de fazer um podcast inteiro para falar sobre isso, e então queria saber como é que você está nessa escala e porque você não gosta e quando que isso começou?

Guilherme Lito – Cara que maravilhoso. Eu acho, pelo que eu vejo do Leandro Karnal, ele também não curte porque ele direto faz uma piadinha de coentro também

Henrique de Moraes – Isso pode ser uma coisa ligada aos carecas apesar de você ter muito cabelo né?

Guilherme Lito – É verdade. Olha, o coentro não sei, talvez seja porque na minha infância nunca teve coentro e aí quando eu comecei a sair dessa comida caseira, por exemplo minha sogra que cozinha muito bem, ela ama coentro. Se você for ver guacamole, até de comida baiana, tem várias comidas super tradicionais e maravilhosas que levam coentro e cara, estraga a parada pra mim, realmente ele chega ali e acaba com a brincadeira, então minha família toda já sabe não temos mais problemas em jantar de família e tal mas eu não sei, eu acho que é do dia 1 assim nosso santo não bateu e até hoje. Eu passei por um breve momento onde eu tolerava mas esse momento já passou e hoje eu odeio de novo.

Henrique de Moraes – Muito bom cara, eu tenho também essa aversão e eu também não sei exatamente, não sei dizer exatamente quando começou porque eu também comecei a experimentar mais cozinhas, diferentes tipos de cozinha mais velho. Mas eu lembro de um ponto que foi muito importante que foi eu tava jantando e eu comi um ceviche que tava caprichado no coentro e depois eu vomitei e cara, eu nunca mais consegui, eu sinto o cheiro e já me dá ânsia de vômito sabe, surreal.

Guilherme Lito – Pelo menos você tem uma boa desculpa por não gostar.

Henrique de Moraes – Maravilha. Bom, passado aí o papo do coentro, eu conheci a sua jornada assistindo lá como eu falei, anos atrás sua participação no TEDx e uma coisa que me chamou muita atenção foi o tipo de questionamento você tava fazendo, acho que você era muito novo, quantos anos você tinha ali?

Guilherme Lito – Boa pergunta, eu acho que eu tinha uns 21 anos, uma coisa assim.

Henrique de Moraes – Impressionante, acho que hoje em dia as pessoas estão vindo com um chipzinho diferente, do meu pelo menos, mas eu queria entender o que te levou a questionar tanta coisa ali tão jovem né, 21 você tinha acabado de se formar, nem sei se tinha se formado pra falar a verdade

Guilherme Lito – Não, tava na faculdade ainda

Henrique de Moraes – Tem alguma coisa, você lembra algum trigger que teve que te levou a basicamente olhar para o mundo e falar “Cara, isso aqui tá praticamente tudo errado, preciso rever tudo”, como foi isso cara?

Guilherme Lito – Bom, talvez duas coisas eu posso pegar, duas linhas diferentes, uma linha é que eu tava naquele momento saindo de uma bolha muito gostosa e confortável onde eu vivi a maior parte da minha vida então naquele momento eu tava na PUC, que apesar de ser uma faculdade de elite tem, vou chutar aqui, 50%, 60% dos alunos eram bolsistas na época, e eu tava trabalhando na empresa júnior com muita gente que vinha de outros contextos e conhecendo realidades muito diferentes das que eu tinha conhecido na minha vida toda, então acho que por um lado tinha uma certa revolta, que eu acho que dá pra claramente pegar no vídeo, eu acho que era um cara mais, tava mexido mesmo assim, então por um lado tinha isso, “Caramba, o mundo é muito diferente do que eu imaginava”, ainda mais no Rio de Janeiro que é uma cidade com muitas questões, muitas e por outro lado eu tinha recém, vamos dizer assim formalmente ou conscientemente iniciado um processo de autoconhecimento, algo que você pode chamar disso assim, conexão com primeiras filosofias, espiritualidade, etc e especificamente você falando assim um momento né, eu tenho um momento, eu fui numa época para uma ecovila e passei o reveillon lá, eu lembro que levei um livro de 600 páginas de filosofia, “História da filosofia ocidental”, uma coisa dessa assim, eu cheguei lá na ecovila e conheci gente que vivia de luz, que não precisava comer para viver, conheci permacultura, conheci banheiro seco, meu mundo virou assim quando eu vi essa cena, principalmente de pessoas que vivem sem precisar comer, que tomam um suco de manhã, e não é que ficam na cama, meditando na caverna não é isso, cuidam mesmo da vida, isso foi muito doido para mim, quando eu vi que isso não era um programa de TV, eu vi com os meus próprios olhos, eu falei assim “Gente o mundo é muito diferente do que eu imaginava” então acho que foi isso assim, eu sempre fui muito questionador mas eu não tinha muito o que questionar, eu acho que aquela era uma época que eu vi que tinha muita coisa a ser questionada, e aí cara, eu nem me orgulho muito desse TED não, tem fake news lá, eu digo que aluno significa “sem luz”, isso não é verdade depois que eu fui descobrir, eu acho que ele representa bem o momento que eu tava assim, muito incomodado com as coisas como elas eram.

Henrique de Moraes – Uma das perguntas que eu tinha aqui para você era essa, se tem alguma coisa que mudou de percepção já que você tá numa evolução constante, esse processo de autodescoberta ele nunca acaba né, então se tinha alguma coisa que você mudaria de repente além dessa coisa do aluno que eu vi que as pessoas questionaram lá no vídeo mas assim, é um detalhe né porque eu acho que tem isso na internet, a pessoa se apega a um detalhe e esquece do contexto inteiro, e eu acho que o contexto do seu vídeo até hoje eu vi de novo, tinha tempo que eu não assistia e ainda ressoa comigo sabe, ainda me faz abrir os olhos e começar isso, a questionar algumas coisas que são colocadas como o padrão pra gente né, que são padrões da sociedade mas tem alguma outra coisa que você de repente mudou de percepção ou sei lá, você construiria diferente na narrativa?

Guilherme Lito – Cara, eu não vejo há muito tempo mas eu acho que não, eu acho que é aquilo mesmo e eu me dediquei bastante foi bem bonito, essa coisa de TED mexe muito, pelo menos com o meu ego, não é nem TED, é TEDx mas “Caramba, vou estar no TED”, eu adorava assistir TED, virava noites então eu me dediquei bastante e acho que tá legal o que tava lá, talvez o que eu tenha mudado um pouco, acho que eu fiz um pouco as pazes com o mundo, honrando quem veio antes da gente talvez com um pouco mais de humildade. Tem uma frase que eu gosto muito daquela de “tomar cuidado para não jogar fora a água do banho com o bebê junto” sabe, então não lembro exatamente como estruturei meu argumento mas eu acho que tem muita coisa boa no mundo como ele é hoje, acho que o que a gente chama de progresso, avanço, dá pra criticar muita coisa mas tem muita coisa boa também, então acho que talvez só essa mentalidade um pouco mais paradoxal assim, do “e”, não é uma coisa ou outra, mas eu boto muita fé nessa coisa, desconstruir e tal e talvez eu trocaria essa metáfora do chip, do atualizar o software sei lá acho que usei uma coisa assim, acho que nosso pensamento foi colonizado pelo mecânico, a gente vê as coisas como se fossem máquinas, a gente quer descrever a natureza, as empresas, até mesmo como a gente funciona como se fossemos máquinas e isso é errado, impreciso, é claro que toda metáfora é imprecisa mas essa é muito imprecisa e eu acho que todo pensamento de negócios foi baseado em cima disso e eu acho que a gente tem muito o que aprender de como o que a gente chama de natureza funciona, como as florestas emergem, como as árvores crescem, e eu acho que se a gente se alfabetizar nisso a gente vai conseguir ser melhores empreendedores do que se a gente continuar nessa mentalidade, que se fosse desinstalar o chip e instalar outro, se fosse atualizar o software era mole, mas não é né, as coisas que nós somos hoje a gente não consegue simplesmente tirar fora, a gente consegue construir em cima, a gente consegue ressignificar mas elas estão ali e isso é muito mais parecido com uma terra do que com uma máquina, a máquina você troca a peça.

Henrique de Moraes – Cara antes da gente continuar, eu acho que eu queria te falar pra você ter orgulho na verdade, porque fez parte da sua trajetória, fez parte do seu questionamento, eu acho que esses detalhes para quem tá com um olhar leigo de repente vai ver alguma coisa ou outra ali e vai fazer isso né, de “Ah mas ele falou isso aqui, tá equivocado” mas assim, eu acho que o mais importante é o quanto você tá se questionando com 21 anos sabe, eu acho que isso é motivo de orgulho para caramba, eu tô me questionando sobre algumas coisas agora com 35 e assim, eu olhando pro TED, na verdade eu lembro que na época já me fez ficar curioso do que que você tava pensando agora, isso tem alguns anos, talvez não tenha sido logo que lançou o vídeo mas eu comecei a pesquisar sobre você e via outras coisas, via outro vídeos, vi textos seus na internet então assim, acho que o importante é isso, “essa pessoa tava se questionando isso 7 anos atrás, pô o que ela tá se questionando agora?” eu acho que pode ser um ponto de partida e que me ajudou a refletir, a priorizar algumas coisas, a repensar um pouco também né e começar a fazer os meus próprios questionamentos, então assim, se orgulhe, não deixa essa parte da sua vida para trás ou fica arrependido não, se é que você tá arrependido também

Guilherme Lito – É, eu acho que é essa coisa paradoxal do tipo, que legal e, bom, é da natureza de quem questiona né, até te falei quando a gente tava marcando aqui parte do motivo pelo qual eu não entro em mídias sociais, não posto enfim, isso não faz parte do meu metier, eu acho que parte disso é porque também eu fico com uma barra muito alta e eu tô aprendendo a lidar com isso também. Mas é isso, é bom você falar isso, eu sou grato por aquele Guilherme lá e tomara Deus tenha evoluído para alguma coisa um pouco mais refinada ainda com um caminho enorme pela frente.

Henrique de Moraes – Boa, e pra quem, se alguém chega para você falando “Cara tô começando a me questionar em algumas coisas” sobre o mundo, sobre capitalismo, sobre todas essas coisas que o mundo tá começando a se questionar agora né como um todo mas pra quem tá começando, você recomenda algum autor, algum podcast, canal, o que você acha que é um bom começo para essa jornada, o que  você leu pro exemplo que fez diferença na sua vida?

Guilherme Lito – Cara eu recomendo sim, tem um cara que eu gosto muito que tá pensando o Brasil e eu gosto muito, o Eduardo Giannetti, ele é um filósofo, economista, ele tem um livro brilhante que se chama “Trópicos Utópicos”, então para quem tá querendo pensar o Brasil eu acho que é muito bom. Tem um cara que eu tô, o Youtube dele não é para qualquer um, porque são só vídeos de 1:30h, coisas assim mas entrevistas incríveis com pessoas maravilhosas, ele tem um livro traduzido pro português, o nome dele é Daniel Wahl, “Design de Culturas Regenerativas”, ele é muito bom também pra entender que mundo é esse de inovação social, empreendedorismo social, regeneração, sustentabilidade, onde tá esse debate, os frameworks, os jogos, os exemplos e tal, é um livraço, agora pra quem tá querendo se desconstruir cara, a boa e velha terapia, de verdade. Porque acho que assim, óbvio que tem a gente entender o mundo e tem também a gente se entender no mundo e assim terapia, o mestre espiritual que seja, de preferência fontes diversas né, é bom seguir uma linha mas é bom também ter outros recortes de como se entender porque eu acho que o que não falta aí é gente querendo entender o mundo e estando bem perdido em relação à si, e aí essa caminhada fica muito mais difícil, inclusive de agir no mundo, e cara eu quando era pequeno gostava muito de distopias, tipo “1984”, “Admirável mundo novo”, eu acho que elas são muito legais pra gente entender o que tá se passando hoje, que é o Black Mirror de hoje né, mas aí é pra um lado mais da ficção, do lado da verdade, da realidade mesmo acho que seriam essas, terapia talvez em primeiro lugar, o Giannetti e o Daniel Wahl acho que são duas boas referências.

Henrique de Moraes – Perfeito. Você falou ali sobre observar a natureza e como isso se relaciona com o empreendedorismo, você pode falar um pouco mais sobre isso? Não sei se ficou muito ampla, não achei isso uma uma pergunta mas se você puder falar um pouco mais, de repente descrever um pouco mais?

Guilherme Lito – Eu acho que um bom exemplo é o que tá acontecendo no mercado de empreendedorismo, startups e tal, que se há 30 anos você aprendia a fazer um plano de negócios ou seja, você via negócios quase como um jogo de xadrez né, eu vou estudar o mercado, eu vou estudar o que que tá acontecendo, vou desenvolver uma estratégia do que eu quero fazer, aí você cria um monte de premissas e pressupostos e tal, você parte do princípio de que aquela coisa vai dar certo e aí você vem com seu plano, a sua estratégia e tenta imprimir ela no mundo né, então fazer uma empresa era tipo construir um submarino nuclear, você tinha que pensar cada detalhe etc e tal. E aí o que a gente viu e você acompanhou isso, tava ouvindo até o que você fez com o André né, de todo esse ecossistema de startups, eu também participei lá atrás, na época que veio aquele boom, 21212, Papaya, Pipa Social, essas aceleradoras e tal, diz que hoje se chama lean startup, customer development, já tem uns anos que eu não, mas imagino que ainda se fala nisso né, imagino que isso ainda é tido como uma coisa, um novo caminho vamos dizer assim e de onde bebe essa, apesar de não explicitamente, pelo menos no meu olhar, é uma maneira de pensar muito mais inspirada na natureza né então a natureza vai dar um monte de semente, joga no chão e vê o que brota sabe, a árvore não planeja crescer, ela vai crescendo sabe, aí veio uma outra que fez uma sombra, ela cresce do outro lado então assim, quando a gente fala de ecossistemas, de startups e etc, tudo isso vem da linguagem da natureza então o que eu posso dizer assim, o que seria uma diferença né, o pensar mecânico você tá buscando previsibilidade e controle, num pensamento mais vivo, mais orgânico você reconhece que a natureza da realidade é a imprevisibilidade, é o não controle e você navega a partir disso, você entende que o crescimento das coisas não é linear, que as coisas emergem então assim, quando você olha pra como uma empresa se desenrola, e o mesmo serve pra você pensar, vamos supor o RH da empresa, o chamado RH, cara se as pessoas fizessem só o que tá na caixinha delas de fazer, a empresa não funcionava, a empresa funciona justamente por conta das relações, dos vínculos entre as pessoas, dos almoços, das conversas de corredor, porque a pessoa vai além ou porque a pessoa burla regra tanto que agora quando se fala de todos esses novos “cracias”, holocracia, reinventando as organizações organizações, pensar as organizações mais horizontais etc e tal, a gente tá de novo sendo muito mais como uma horta biodiversa do que como um exército, que tem esse pensamento bem mecânico, do que um carro, num carro cada um tem a sua função, cada peça faz uma coisa e num jardim não, num jardim o que vai dar certo ou não vai dar certo não é se você botou as peças certas, mas é se a relação entre as espécies do jardim é virtuosa, você pode ter um time maravilhoso no papel mas são seres humanos né, então não sei se você gosta de futebol, hoje em dia eu não gosto mais mas eu lembro que antigamente tinham aqueles times maravilhosos no papel, na prática não funcionavam, isso também acontece numa horta você pode botar espécies que vem de mães, sementes que vêm de mães maravilhosas mas que não vão dar certo porque aquelas árvores não se dão bem juntas sabe, então acho que é um pouco por aí assim, um pensamento inspirado mais em como a vida realmente acontece. Isso sem falar, talvez me estendendo muito mas é uma paixão, mas sem falar todo campo da biomimética, se você botar no Google “biomimética” e for ver o que tá acontecendo, as grandes indústrias estão indo pra natureza de fato, natureza verde, florestas, corais, estão indo mergulhar, estão indo entender como a natureza resolve os problemas que as indústrias têm, quando a gente fala de toda essa tendência de economia circular, a gente como humanidade tá transformando o planeta num aterro sanitário no melhor dos casos, e num lixão no pior dos casos. A natureza não gera lixo cara, a natureza cria condições para se ter mais vida, a gente tá botando em perigo a própria capacidade que a gente tem de seguir num planeta né, então tem muito que a gente tem pra aprender e acho que muito vem desse pensamento mecânico “Ah, a empresa tem o core business e o resto é externalidade, poluir o rio é externalidade” não cara, essa conta vai chegar.

Henrique de Moraes – É engraçado, muitos anos atrás assim, uma vez eu tive um, sabe quando bate uma coisa na sua cabeça? E eu lembro até como é que foi, porque eu comecei a querer reciclar o lixo que era gerado na casa do meus pais, ainda morava com eles, e eu fui lavar, porque descobri que você tinha que lavar algumas coisas antes de botar pra reciclar, e eu fui lavar um saco de biscoito da Elma Chips e cara era tanta gordura naquele negócio, tanta gordura que eu fiquei horas lavando e eu falei “Cara, é isso que significa consumo consciente, porque se as pessoas tivessem consciência do trabalho que dá limpar isso aqui elas não iriam consumir, sabe” e fora que isso me fez refletir, eu que tô gerando o lixo, e lógico que não funciona assim, esse é um pensamento bem raso mas o que eu pensei foi, eu como o biscoito, pego isso aqui, gerou um lixo, o biscoito tá me fazendo mal e eu ainda tô gerando lixo, seu eu como uma fruta e eu pego e descarto o resíduo ali na natureza, talvez aquilo ali sirva de alguma coisa, ajude, enquanto normalmente o que a gente faz é pegar o resíduo do biscoito ou de qualquer coisa industrializada e vai jogar em outra coisa que é industrializada, que vai pra um lugar que é industrializado e é um ciclo infinito, tem gente que joga no asfalto, é muita loucura isso

Guilherme Lito – É, eu acho que a gente tá entendendo que o nome que a gente se deu lá atrás foi um pouquinho talvez fora do tom assim, a gente se chamou de homo sapiens né mas cara, nós somos inteligentes, nós conseguimos refletir inclusive sobre nós mesmos né, mas isso não quer dizer que as outras espécies e o que está a nossa volta não é inteligente também então assim, quando me mudei para o campo cara eu comecei a admirar tanto os outros seres porque você vê que não é brincadeira, a formiga não vai em qualquer lugar, a formiga tá equilibrando o ecossistema, a formiga está te dizendo aonde a árvore está doente, a formiga tá ajudando a árvore a botar energia onde ela tá pegando mais sol, onde ela tá mais forte, então se nós somos inteligentes mas nós fazemos parte de uma inteligência maior. E é isso que você falou, a maçã, o que é a maçã? A maçã olha que genialidade, a árvore foi e pintou de vermelho, aquele negócio lindo e só fica vermelho e lindo quando ela tá pronta, enfiou lá dentro um monte de sementes e chamou outros bichinhos para vim brincar com ela, que ainda vão fazer cocô perto dela e que vai nutrir aquilo. Hoje eu moro num lugar que há 30 anos atrás era um pasto, cara hoje é uma floresta sabe, então acho que assim, há bilhões de anos a terra vem evoluindo e criando mais vida inclusive criou a gente nesse processo, então eu acho que a gente tá num momento como humanidade de ser humildes em relação à nossa sabedoria, nossa inteligência, reconhecer que a gente criou muitas coisas maneiras mas que assim, à nossa volta tem muita inteligência.

Henrique de Moraes – Tem um quadro de um humorista que apesar de eu gostar muito dele é controverso por causa de várias coisas que aconteceram né mas que ainda assim eu acho ele muito engraçado e tem um quadro dele, que é o Louis C.K., quem acompanha sabe que rolou assim uma coisa bem estranha enfim, não vou entrar nesse assunto, vou falar da parte boa né que era do humor dele que tem um quadro que ele vai contando sobre quando as pessoas atribuem algumas coisas a Deus né, e que se Deus descesse à Terra não ia entender nada, ia falar “Cara tá tudo errado”, ele fala assim “Mas porque tem asfalto aqui?”, “Não, porque a gente queria ir mais rápido”, “Mas porque vocês querem ir mais rápido?”, “Ah porque eu preciso chegar no meu trabalho mais rápido”, “Mas o que é um trabalho?”, e ele fala “É um lugar que eu fico atendendo telefonemas o dia inteiro de pessoas que estão mal humoradas porque a televisão delas não funciona”, e ele fala assim “Mas porque você tá fazendo isso?”, “Pra comprar bacon”, ele fala “Mas o que é bacon? Eu deixei um monte de fruta, porque você está comendo bacon? Tinha um monte de frutas no chão, as coisas estavam no chão, porque você não comeu as frutas do chão?” cara, é muito engraçado, se você parar pra pensar realmente não faz sentido os movimentos que a gente segue

Guilherme Lito – Essa é uma das coisas que me interessam hoje pra caramba, eu acho que a gente tá de novo né, criticar reconhecendo o que há de bom também então assim, se for pensar os economistas clássicos eles discordavam de muitas coisas mas a maioria deles chegou até a escrever um coisa assim “Cara tô vendo a emergência dessa sociedade de mercado, tô vendo a emergência desse estado nação e disso tudo se organizando, tô vendo que a gente tá gerando riqueza material como nunca foi gerado”, e esse é o caso até hoje, “tô vendo a geração de inovações e novas ferramentas como nunca se criou, então o que será que os nossos netos vão fazer quando eles tiverem comida suficiente para não passarem fome, quando eles tiverem teto na cabeça pra todo mundo, será que eles vão se dedicar às artes? Será que eles vão se dedicar ao ócio?”, só o que acontece é que no meio desse caminho todo primeiro, a gente desenvolveu os materiais todos de uma maneira muito desigual né, então tem mais comida do que precisa no mundo mas ainda tem gente passando fome, mas mesmo para aqueles como eu e você tantos amigos que tem teto na cabeça e tem comida, a gente cresceu numa cultura onde a gente ainda continua achando que em muitos aspectos que a gente tá lá atrás, que a gente precisa crescer, que precisa ir trabalhar, que trabalha 12 horas, trabalha 15 horas e fica estafado, fica deprimido e toma remédio e vai pro hospital e o que a gente tá vivendo hoje cara é um assunto super delicado, esse eu não trato de maneira leve mas a gente tá vivendo nos Estados Unidos uma epidemia de opióide, a gente está vivendo, principalmente agora na epidemia, questões de saúde mental que são seríssimas. Eu acho que assim, todo mundo tem alguém ou quase todo mundo tem “alguéns” próximos que passaram por questões muito sérias recentemente do ponto de vista de saúde mental. E isso no mundo, pessoas com dinheiro no banco então assim, eu acho que a gente tem um grande dever civilizacional de pensar que cultura que a gente quer nutrir, porque essa de ir trabalhar, trabalhar muito pra comprar, pra comprar, ela não vai conseguir satisfazer todas as nossas necessidades humanas

Henrique de Moraes – Comprar é acumular né?

Guilherme Lito – Comprar é acumular, exatamente

Henrique de Moraes – Porque não tá nem comprando para algum motivo específico na maioria das vezes, pode até estar se iludindo achando que tá fazendo por algum motivo específico mas na verdade a gente compra para acumular né, não só compra para acumular como a gente não gasta às vezes para acumular também

Guilherme Lito – E para onde a gente está caminhando é o seguinte cara, a gente quer que quem não tem passe a ter né, então os números são assim, quando o mundo tinha 7 bilhões de pessoas era assim, o bilhão mais rico emitia 50% dos gases de efeito estufa, os 3 bilhões seguintes 45% e os últimos 3 bilhões só 5%, então quando essas pessoas puderem comer, puderem ter um teto na cabeça, quiserem ter televisão, quiserem comer um pedaço de carne e etc, a conta não vai fechar então principalmente para nós que somos este bilhão aí que tá emitindo os 50%, isso só do ponto de vista de gases de efeito estufa né, tem outros recortes que dá para fazer, a conta não fecha mas não é que a conta não fecha no planeta, eu acho que a conta não fecha existencialmente sabe, eu acho que essa é a grande questão. Nós não estamos felizes com as vidas que a gente tá levando e tenta ficar se entupindo de coisa para não olhar para isso.

Henrique de Moraes – No último episódio né, que eu conversei com o Lourenço Bustani, ele fala isso no final né, da gente estar vivo e de que a gente precisa buscar mais coisa existencial e não material, porque normalmente é o que traz felicidade de fato.

Guilherme Lito – Sim, e cara o bom é que isso é muito barato né, eu tenho para mim, isso é até bem prático né, de novo essa coisa do ter algo, uma linha espiritual ou não, um propósito para viver, alguma coisa que faz querer estar aqui no mundo que desmaterialize um pouco essa história, cara meditação, eu ouvi também o Lourenço falando e ele me inspira nesse lugar também. Cara respiração, cultivar a gratidão, que virou uma palavra super cooptada pelo sei lá, vou dizer assim movimento tilelê, hippie e tal mas cara, é importante a gente cultivar isso, não é sobre o máximo, não é sobre ter o máximo de felicidade é tipo ter o suficiente, ficar grato com o que é o suficiente, ter um olhar para o outro e isso cara, ajudar o outro a viver uma vida melhor isso satisfaz muito, então acho que a gente vai ter um trabalhão aí todos nós, eu incluído, de olhar menos para o próprio umbigo porque se a gente quiser se satisfazer só olhando pro próprio umbigo, acho que a gente tá numa uma corrida sem fim, e cultivar o olhar para o outro e cultivar esse celular da suficiência e da gratidão, ser grato pelo que a gente tem, de fato agradecer pelo que a gente tem, isso é muito poderoso cara. Inclusive para a galera mais científica aí, inclusive na bioquímica do cérebro, os hormônios, etc, tudo isso se equilibra mais com exercícios simples, que não custam dinheiro sabe.

Henrique de Moraes – Você faz algum exercício para exatamente gratidão, para você enxergar as coisas enfim, tem alguma coisa que você tenha na sua rotina?

Guilherme Lito – Cara então, eu tenho. Às vezes eu sou rebelde, tá mas chegar no final do dia, de preferência escrever, mas só de lembrar 3 momentos, 5 momentos do dia que se passaram e que eu sou muito grato por eles terem acontecido, cara isso melhorou a qualidade do meu sono de um jeito que você não faz ideia, porque frequentemente antes de dormir infelizmente eu acabo pegando o celular, ou vendo um Netflix meio que aquele momento meio Homer Simpson, meio idiota do dia, e aí eu chego na cama e quando eu relembro uma frase que eu ouvi, alguma coisa que alguém me falou, alguma coisa que aconteceu na minha vida, na vida de alguém, alguma coisa assim, me dá um gostosinho, um quentinho no coração. Eu com a Carol, minha esposa, a gente costumava fazer isso um com o outro, quais foram os 3 momentos do dia e a gente falava um pro outro, agora eu tô fazendo mais em silêncio. E cara, de manhã eu sempre alongo porque senão meu ombro dói, acho que principalmente por conta do computador eu dei uma desequilibrada aqui no corpo, eu alongo e eu medito 5 minutos cara, 5 minutos, todo mundo tem 5 minutos né, e aí esses 5 minutos de respirar, botar uma intenção pro dia, cara isso faz a maior diferença pra mim, papo de realmente melhora muito dor de cabeça que eu tenho, quando eu medito eu vejo que reduz, então são coisas bem práticas que eu faço e que não custam 10 minutos do meu dia e fazem toda a diferença.

Henrique de Moraes – É, a gente tem uma tendência a cair na armadilha de que a gente não tem tempo né e assim é tão bobo isso porque foi o que você falou, são poucos minutos e o que a gente precisa na verdade, talvez uma das coisas, entender o que é importante pra gente né, e saber priorizar, então priorizar nossa saúde mental, nossa saúde inclusive física também é importante e é isso, tem alguns exercícios que são rápidos, eu fazia um de manhã que era de escrever também, eram 3 coisas que eu era grato por, aí pro dia ser incrível 3 coisas que deveriam acontecer, e coisas simples essa que é a questão, não é tipo pro meu dia ser incrível eu preciso dominar o mundo, é tipo sei lá cara, eu consegui beber mais água sabe, que eu tô lutando porque eu esqueço de beber água, então são coisas pequenas às vezes e nessa lista de coisas que eu sou grato por, é também não ficar focado nas coisas grandes né, é você fala assim “Cara, sou grato pelo café, pela vista que eu tenho da minha janela que às vezes dá pra uma árvore que é bonita”, sabe? A gente esquece de olhar para as coisas pequenas, a gente fica tão focado no big picture ali, onde a gente quer chegar que a gente esquece de todo o resto né, acho que você fala inclusive sobre isso né, sobre se apaixonar pela jornada e como isso é importante e como é difícil né

Guilherme Lito – É e eu acho que, e aí uma frase lá do TED do Guilherme de antigamente, que “O resultado da vida é a morte”, então a gente fica pensando nesses grandes projetos. Cara, os grandes projetos acontecem reunião a reunião, conversa a conversa, planilha a planilha, se você não tiver a capacidade de ter prazer na planilha, na reunião, no dia a dia, o que você vai fazer no dia que você bater a meta você vai abrir um champanhe e ficar feliz 10 minutos, entrar no Instagram ver que ganhou menos like do que gostaria e ficar triste de novo, sabe? Então assim, não tem outro jeito

Henrique de Moraes – E isso entra numa coisa que é muito importante também que é parar de depositar sua felicidade em medidas externas né, e é assim o clássico de hoje em dia né, a gente achar que precisa de validação o tempo inteiro. Eu já contei essa história aqui muitas vezes, acho que vou ficar repetitivo mas é porque eu acho muito legal, eu trabalhei com um cara que é palestrante, e ele sempre contava uma história engraçada né, que ele estava com um problema de saúde, foi no médico e o médico falou para ele começar a fazer algum exercício físico e ele começou a correr, e ele estava acima do peso então assim, foi difícil para ele e ele foi tomando gosto pela corrida até que uma hora ele se apaixonou e falou assim “Cara, vou correr uma maratona, não quero saber quando, não tô preocupado em chegar em primeiro, só quero correr uma maratona”, e começou a correr e se apaixonou por aquilo né, pelo processo, gostava de sair para correr para treinar para maratona e a maratona era só uma cenourinha ali né que ele tava seguindo mas que ele não dependia daquilo para ser feliz, e aí ele correu a maratona e chegou em penúltimo lugar e quando ele conta isso nas palestras e fala o lugar que ele chegou todo mundo ri e ele fala assim “Tão rindo porque? Quem aqui já correu uma maratona?”, e aí tipo duas pessoas levantam a mão e ele fala assim “Então, tô na frente de todo o resto”, ele fala isso, ela fala “Cara, você tem que ser dono da régua que mede seu próprio sucesso, se você ficar esperando que os outros falem se você é bem sucedido ou não você tá ferrado então assim, tô na frente de um monte de gente aqui e eu cheguei em penúltimo e não tô ligando, eu corri a maratona, olha que incrível sabe” então, dependendo do ângulo que você enxerga né você pode ficar triste porque você chegou em penúltimo ou você pode ficar feliz porque você correu a maratona.

Guilherme Lito – E depois continua né, porque ele terminou a maratona mas ele segue contando a história da maratona, segue divertindo, então o que ele fez da maratona né, porque acho que essa é outra coisa também, as coisas em si não tem significado, não tem valor, a gente deposita, que investe valor nas coisas né

Henrique de Moraes – Pra luz e pra sombra né

Guilherme Lito – Exatamente, ele poderia ter chegado no final, entrado em depressão e falado “Sou o cocô do cavalo do bandido, eu não sirvo pra nada, botei isso como meta da miha vida e fui penúltimo” nao, ele faz piada e ainda gasta uma onda com a galera então acho que isso é muito importante e aí de novo, vem pra esse lugar, e não é pintar o mundo de bonitinho, longe disso, eu dedico a minha vida a reduzir as dores no mundo e a gente precisa conseguir senão a gente pira cara

Henrique de Moraes – E tem uma coisa sobre isso da gente, porque você falou né, de ser planilha a planilha, um plano grandioso ele é do dia a dia que ele é conquistado, tem um livro que ele é uma filosofia meio duvidosa mas que eu curto, que é aquele “A Sutil Arte de Ligar o Foda-Se”

Guilherme Lito – Eu não li cara mas vi tanto ele falando comigo na livraria, quero até algum insight, me conta alguma coisa dele

Henrique de Moraes – Ele fala uma coisa que eu acho interessante que eu tô relendo agora porque a primeira vez que eu li eu li com pressa e falei “Cara vou precisar depois ler isso com atenção né, para tipo marcar as coisas, fazer anotações”, e ele fala uma coisa que eu acho interessante que é o seguinte, ele fala assim “A vida é uma sucessão de “fracassos”, de dificuldades, desafios que você precisa superar, então ele fala “Em vez de você ficar pensando na recompensa, como é que vai ser quando você estiver lá com o resultado, em vez de pensar no final você tem que descobrir qual é a dor que você tá disposto a suportar” então assim,  porque você vai ter que sofrer de certa forma e sofrer é uma forma de dizer né, tipo você vai ter que passar por privações, por dificuldade, por desafios que são grandes e são inerentes ao que você escolheu, então ele fala “A esposa que você escolhe é a mesma que você vai brigar com, a casa que você escolhe vai ser a mesma que você vai ter que reformar, então escolha bem, se faça a pergunta de qual é a dor que você tá disposto a suportar e a superar porque só assim você vai conseguir fazer alguma coisa, chegar num objetivo que você quer né”

Guilherme Lito – Cara isso é bem legal hein, inclusive se você pensar assim nesse lugar de assumir muitas responsabilidades na vida, eu levei um pouco para esse lado agora, eu vejo por exemplo, eu tava antes de conectar eu tava vendo um pouquinho de uma entrevista com Jordan Peterson, aquele cara que explodiu, um cara que eu acho bem bacana mas foi tido como misógino e várias outras coisas, é um psicólogo, um cara bem cientista e escreveu um best seller, mas ele ganhou uma uma atenção mundial enorme, milhões de seguidores, e não necessariamente algo que ele buscou, e por conta de coisas que aconteceram na vida dele também e tal, ele entrou numa depressão bizarra, ficou viciado em remédio, foi pra clínica de reabilitação, tá mais de um ano sumido e tá voltando agora, ou até tipo o Macaulay Culkin, fico pensando em pessoas que ganharam uma, é muita pressão aparecer então até esses sonhos enormes aí que às vezes a gente cultiva sabe, eu fico me perguntando agora com isso que você trouxe, será que a gente tá disposto a pagar o preço a essa dor? Porque tá sendo muito bonitinho vendo de fora né, mas ali dentro cara o tanto de ataque, o tanto de pressão, então acho que volta ao ponto que você falou né, se nós e as pessoas próximas da gente não forem suficiente pra gente se sentir satisfeito com o que a gente é e a gente for buscar isso externamente, em especial nessa praça pública digital, cara isso pode ser muito frustrante.

Henrique de Moraes – Sim totalmente, e é engraçado assim, dois exemplos rápidos aqui e um que é engraçado é o mesmo que ele dá no livro inclusive, quando ele conta essa história ele fala que ele queria ser músico mas que na verdade ele descobriu que não queria ser músico, que ele era apaixonado pela cena dele no palco tocando guitarra com o cabelo voando, mas que ele não estava disposto a pagar o preço, e eu passei exatamente pela mesma situação, porque eu era baterista, parei de tocar há muito tempo mas eu tinha essa visão também, e foi engraçado porque teve uma época que surgiu uma série documental no Multishow falando sobre as bandas que eu gostava de rock da época e tal, e quando eu vi a realidade das bandas de rock do Brasil, que aquilo na verdade era pra me inspirar, eu falei “Cara, não é isso que eu quero pra minha vida, não é isso que eu idealizava, e eu mudei completamente.

Guilherme Lito – Isso foi parte do motivo pelo qual eu não sou sócio de nada hoje em dia porque eu via isso, era tão bonito né chegar num lugar, falar que eu sou sócio do não sei o quê, e aí você sai na mídia, sai matéria mas cara, qual é a realidade que eu estou experimentando ali de segunda a segunda de 6 da manhã a meia-noite, eu vi que muito do que eu tava fazendo, é perfeita essa história do músico né, muito do que eu tava fazendo era mais pelo nome no cartão de visita sabe? E aí hoje eu tenho cargos muito menos bonitos e pomposos e reconhecidos mas a minha experiência no dia a dia é muito mais satisfatória, então eu acho que o mundo do empreendedorismo tá permeado por essa coisa toda dos co-founders, sabe?

Henrique de Moraes –  Das histórias de sucesso, dos super-heróis, do glamour

Guilherme Lito – É isso porque tipo, se na época dos nossos avós e pais o negócio era ser advogado, depois ser ser banqueiro, ser médico, agora é ser co-founder né, só que isso é muito perigoso, co-founder pelo co-founder.

Henrique de Moraes – Eu acho que tem alguns perigos, não vou conseguir listar todos mas dois que são muito importantes é primeiro, como a mídia também retrata isso né, então se você for se basear pelas capas você tá ferrado porque aquilo ali são as exceções das exceções né, pega quantas capas de revistas você tem em um ano e compara isso com a quantidade de pessoas empreendendo, que você vai ter uma noção e uma outra coisa são as redes sociais como a gente falou, porque isso já tá mais claro pras pessoas mas ainda assim elas não tem autocontrole, e eu tô me colocando tá, tudo que eu falo aqui inclusive são coisas que eu passei, então não tô me colocando aqui num pedestal acima de ninguém porque assim, eu sofro até hoje com a dificuldade de lidar com a rede social e eu tenho um conflito muito grande com ela porque ao mesmo tempo porque eu acho importante eu falar ali, eu estar de repente postando algumas coisas, inclusive trazendo esses questionamentos pras pessoas, ela também me traz uma ansiedade muito grande então assim, primeiro se está dando resultados, se está crescendo ou não tá, e fora a comparação então, eu dei um exemplo hoje que foi bem recente que eu entrevistei pro podcast um cara que eu admiro, que eu acho legal o que ele conseguiu fazer em tão pouco tempo, que é o Rapha Avellar, falo aqui abertamente que me inspira assim, o que ele conseguiu resolver, conseguiu fazer em tão pouco tempo e só que assim, ele tem uma empresa que é minha corrente basicamente né e ele chegou tipo, a empresa dele tá no mesmo tempo que a minha de existência, ele tá num outro nível e eu comecei me comparar, eu falei “Cara, porque ele tá ali? Como é que ele chegou ali?”, e eu comecei a me sentir mal, comecei a me sentir ansioso, comecei a perceber que a cada vez que tinha uma publicação dele eu ficava mal, eu falei assim “Não quero ficar mal, um cara que me inspira, porque eu tô mal?” e aí eu parei e falei assim “Cara beleza, é porque ele tá lá, eu estou me comparando enfim” e comecei a me perguntar “Mas a vida que ele tem é a vida que eu gostaria de ter?” não, não é, isso é fato, o maluco trabalha 24/7, vira a noite e tudo mais, eu não quero, tenho uma filha, se virar a noite vou ficar um caco no dia seguinte pra curtir com ela, então você quando conseguir ficar confortável com quem você é e quanto você tá disposto também a chegar em algum lugar eu acho que é essencial, é imprescindível você saber né, até onde você tá disposto a ir e ficar confortável com isso, não ficar assim “Beleza, o Rapha tá lá e eu tô aqui porque?” Porque ele tá abrindo mão de um monte de coisa que eu não tô, eu tenho as minhas vontades, eu tenho aqui as dimensões da minha vida que eu tô dando mais atenção que ele provavelmente né, e é isso, eu tô confortável com isso. Enfim, falei pra caramba, desculpa.

Guilherme Lito – Não é maravilhoso cara, acho que é isso o trabalho de ser adulto é justamente como você falou lá mais cedo, que nós somos a nossa própria régua de sucesso e cara, a gente tem o grande benefício e também a sombra imensa de que nunca se teve tantos tipos de trabalho diferentes, tantas formas de viver diferentes, então a gente tem a responsabilidade de escolher então hoje você pode trabalhar ou não, você pode ficar em casa cuidando da sua filha e sua esposa trabalha, não é dado o papel social de ninguém, eu acho que tem uma idealização de que o nosso lugar no mundo é no trabalho, na profissão, ao ponto de que eu já vi amigas minhas super esclarecidas na minha opinião, escolhendo criar os filhos em casa e não trabalhar serem criticadas, e eu to assim “Gente, mas ela escolheu fazer isso, tá esclarecida e está feliz”, esse é o sucesso pra ela, não significa que ela é submissa, é menor, menos, nada disso. Só que assim, a liberdade o Barry Schwartz que é um psicólogo que eu gosto muito, ele estuda o paradoxo da escolha então assim, quando você tem duas opções a experiência de escolher é muito menos frustrante do que ter 10 mil, então hoje é isso, você pode ter um emprego, você pode ter sua empresa, você pode ter horário flexível ou não, você pode criar seu filho mais presente ou menos presente então assim, é muito mais angustiante a experiência de viver apesar da gente ter muito mais escolhas do que fazer com as nossas vidas né. A gente eu digo nós aqui né, isso não é exatamente para todo mundo.

Henrique de Moraes – Sim, tem um cara que eu gosto muito, o Tim Ferriss, que ele tem um livro que é muito mal interpretado né que é o “Trabalhe 4 horas por semana” que não é exatamente isso mas enfim, que ele fala isso, que você ter escolhas infinitas só vai te deixar mais maluco assim, é impossível, e que ele tenta fazer a vida dele mas com restrições, ele mesmo coloca restrições porque ele falou que se não ele não consegue nem sair da inércia, ele fica paralisado por tanta decisão que ele tem que tomar.

Guilherme Lito – Lógico, é que nem processo criativo, às vezes é bom você ter um processo para você ser criativo, é o yin-yang, o caos e a ordem, pra gente ter um bom caos criador você precisa ter o mínimo de ordem, pra você ter uma boa ordem que não seja engessada você precisa ter um pouco de caos, não tem como.

Henrique de Moraes – Deixa eu te fazer uma pergunta Guilherme, a gente tem esse excesso de informação né, e além de todos os problemas que ele causa né tem um em particular que eu venho lutando muito assim e querendo encontrar uma maneira boa de lidar com ele que é assim, como aplicar as coisas que eu aprendo né, porque é também uma enxurrada de conteúdo, de livro, de coisas que você pode pesquisar, é tudo muito acessível né e então assim o que eu tenho percebido, tenho caído numa armadilha que é eu, quero ler mais, então esse é um objetivo que eu coloquei para esse ano, de ler mais, parar de perder tanto tempo com rede social e televisão, por exemplo e ler um pouco mais, mas ao mesmo tempo às vezes eu percebo que eu terminei um livro e falo assim “Cara beleza, e agora? O que que eu coloquei pra aplicar na minha vida? O que eu tirei de aprendizado prático?” e eu tenho percebido que às vezes eu deveria parar de ser o ler mais e talvez absorver mais sabe, parar e falar “Beleza eu li esse livro aqui agora, deixa eu ler ele de novo agora, parar com essa coisa de ter que ler 35 mil livros, deixa eu ler de novo ele aqui e fazer anotações, fazer testes práticos da minha vida”, porque senão você acaba passando, passando e passando, você tem um monte de teoria na sua cabeça não testa nada. Eu queria saber de você assim, você tem algum formato que você encontrou para aplicar coisas, porque eu vejo que você testa bastante coisa na sua vida né, então como é que você faz, como é que você lida com isso tudo e eu sei que você lê bastante também, então como é que você lida com essa quantidade de informação versus as coisas que você consegue de fato absorver e aplicar na sua vida?

Guilherme Lito – Cara, pergunta de um trilhão de dólares. Vou te falar, pra mim tem algo que é, ler livros que são pá-pum, pegou e fez, tipo livro de startup, você pega o livro e fala “Beleza, vou aplicar isso”, tem livros que acho que ajudam a gente a enxergar um mundo diferente, então eu termino o livro, eu não vou fazer nada diferente mas eu enxergo o mundo diferente, eu sei lá, conversas com a minha mulher, coisas que a minha avó fala, por exemplo estudo de sociologia, estudar mais sobre a história do Brasil e tal, não foi muito prático no sentido de que eu não aprendi nenhum framework pra aplicar, mas mudou completamente a forma como eu ouço os funcionários de uma empresa que estão, na sua vida inteira foram surrados, como eles respondem ao patrão, então eu comecei a ver coisas além das palavras que eles me diziam, comecei a entender melhor o que tava por trás das palavras e o que eu poderia dizer pra conectar mais a gente numa conversa, então acho que primeiro tem essa distinção, de livros que me mudam e livros que mudam frameworks e coisas desse tipo. E a segunda coisa que me veio cara que aí eu tô pregando pra mim mesmo é acho que fazer menos coisas, e fazer melhor, de novo, acho que a herança do pensamento que nos trouxe até aqui, a gente quer quantificar tudo né, então chega no final do ano quantos livros você leu? 50, tá mas e a qualidade? Como você leu? Então a gente tá acostumado a medir as coisas e não qualificar então eu tô nesse momento que tô querendo fazer menos, e quanto menos eu faço melhor eu faço, então por exemplo tô saindo fora de projetos, saí fora de empresas, em casa isso que você falou de testar muita coisa, eu testo muita coisa na minha vida prática, eu saí da cidade pra morar no campo, eu tô querendo ter mais comida que eu planto, tô querendo entender o que eu faço com meu xixi e meu cocô, e aí isso é muito fácil porque tá aqui, tá comigo então é muito mais fácil de aplicar, de implementar. Então talvez seja mais fácil também pra mim porque eu trouxe as coisas muito pra próximo e então não sei o que te dizer, eu dei uma enrolada mas eu acho que é meio por aí assim e eu compartilho dessa frustração de voltar, eu comecei a fazer isso, reler livros, eu confesso que tenho essa sensação de “Caraca mas eu já não passei por aqui?”, e tipo não, esse Guilherme nunca passou, esse Guilherme tá passando pela primeira vez, então tem muito valor cara, realmente reler é uma coisa muito boa e que pra mim tá sendo fenomenal cara, descobrir meus drenos, meus ralos de energia. Por exemplo, estudar política brasileira, isso é um ralo de energia pra mim. Então eu quero acompanhar o que todos os pensadores estão falando desde os mais progressistas, os comunistas, os bolsonaristas, os lavajatistas, os conservadores, aí fico ouvindo o que cada um fala, o que cada um pensa, o que cada um não sei o quê, chega no final da semana, “Tá Guilherme, o que você aprendeu, o que que mudou no Brasil, o que que mudou na sua vida?” ainda mais em tempos com tanta fumaça aí, então esse por exemplo é um grande dreno de energia meu, fico estudando sobre o que tá acontecendo no Brasil e efetivamente não tô fazendo nada, então não sei se tem pra você ou pra quem tá ouvindo a gente esses drenos de energia, e aí que somem os 5 minutos da meditação, no vídeo que eu me agarro ali e fico meia hora vendo um video e falo “Cara teria investido muito melhor esse tempo 15 minutos meditando e 15 fazendo qualquer outra coisa”

Henrique de Moraes – É, tem uma coisa que o Lourenço fala muito né e eu sei que você também gosta dele, curte ele então por isso que eu tô trazendo e eu sou muito fã do Lourenço já há muito tempo, tanto do que ele construiu de legado de empresa como o que ele constrói aí pra vida né, acho que isso é o mais importante, como ele toca a própria vida, e ele fala muito disso de olhar pra dentro e de ter tempo pra olhar pra dentro porque a gente tá num momento onde eu vejo, eu me vi nessa situação e por isso que eu tô tão preocupado e puxo as pessoas para falar sobre esse assunto que é a gente da gente estar no piloto automático né, então todo mundo simplesmente reagindo, reagindo, reagindo e sem parar para se questionar, sem se perguntar porque está fazendo aquilo, você tá ali e é isso, são validações externas, de cima pra baixo, coisas que vão vindo pra você, coisas que vão falando ou que você herdou enfim, e quando você para pra analisar como você tá gastando seu tempo, como você tá gastando sua energia, se você fizer uma reflexão mesmo você vai ver que muita coisa não dá em nada, então tem coisas, vou dar um exemplo bobo mas assim, às vezes eu tento evitar ficar navegando nas redes sociais, eu excluí inclusive todas as redes sociais do meu celular e eu deixo o Instagram só instalado no celular da minha esposa porque quando eu quero postar eu pego o dela e posto, pra não cair na armadilha de ficar olhando o feed ali o dia inteiro, então como Facebook e LinkedIn eu consigo postar no desktop, só o Instagram que não, eu deixo instalado lá, deixo logado na minha conta mas de vez em quando eu falo assim “Pô li essa parada aqui, vou postar” aí de repente “Mas porque eu vou postar sobre isso?”, ah porque pode ajudar alguém mas assim, o quanto vai ajudar, qual diferença vai fazer na vida dessa pessoa versus o tempo que eu tô dedicando à isso porque eu acho que vão ser 5 minutos mas na verdade vão se tornar 40, vai tirar de dreno da minha vida, das coisas que eu poderia sei lá, poderia estar com a minha filha, poderia estar olhando pro céu e refletindo, pensando sobre a vida e tentando equilibrar melhor como eu gasto meu tempo. E é um pouco difícil, o que eu vejo que é a maior dificuldade é que as pessoas acham que elas estão procrastinando quando elas estão fazendo nada né, ou que elas estão jogando o tempo delas fora, e você pode estar, dependendo do que você estiver fazendo ali você pode sim estar jogando seu tempo fora, mas se você estiver de fato tendo um tempo de qualidade com você, meditando ou às vezes só saindo, olhando as coisas, olhando o mundo e refletindo, absorvendo, essa coisas, é garantido que você vai depois chegar com uma energia renovada para fazer o que você tem que fazer, pra fazer o trabalho e o Lourenço, voltando no exemplo dele, ele fala isso, que ele começa a trabalhar 11 horas, meio-dia porque de manhã ele fica fazendo práticas que vão fazer com que ele se sinta fortalecido para começar o dia de trabalho e encarar todos os problemas que vão vir e eu imagino que no caso dele né, uma consultoria internacional falando de sustentabilidade, propósito com empresas grandes, imagino a quantidade de problemas que surgem.

Guilherme Lito – Não, total e cara, tem algumas linhas bem interessantes tanto da psicologia quanto da economia que tentam definir necessidades humanas ou seja, coisas que nos tornam humanos e sem as quais nós não conseguimos ser felizes ou próspero ou livres do sofrimento ou qualquer nome, dependendo da linha você segue aí. E uma das necessidades que frequentemente aparecem nessas sistematizações é o ócio, só que ócio na minha visão, e aí está livre pra discordar, não é ver feed do Instagram mas também não é necessariamente fazer algo “útil” ou produtivo porque isso também é uma pressão, difícil não fazer nada hoje em dia, a gente que gosta de trabalhar e tá envolvido e não sei o que e quer fazer mas é muito importante a gente conseguir pensar com clareza, então ócio pode ser uma volta no jardim, deixa o celular e vai fazer, pode ser ler um romance, ler poemas, não precisa ser necessariamente ser produtivo né, mas eu acho que é importante a gente desligar um pouco essa chavinhas às vezes, e tudo bem, meditar é ótimo mas eu também acho que tem um problema em idealizar que toda hora a gente tem que estar de alguma forma se melhorando, como se você não tem dignidade, tipo você é uma pessoa pior se você simplesmente deitar no sofá e resolver tirar uma soneca sabe, “Ah mas você tá estafado, super estressado?”, “Não, só quero tirar uma soneca” quase tem que se explicar, é tipo hoje não estou bebendo, agora não tô bebendo, não vou pra bar, mas às vezes os amigos fazem um Zoom, aí todo mundo abre uma cerveja, “Pô você não vai beber?”, “Não”, “Porque?”, sabe a gente tem que se explicar porque não vai beber assim como tem que se explicar para dizer que vai descansar, e outra coisa que me veio, de um ponto ali atrás que a gente tava falando, cara me ajuda muito nesse tema de botar as coisas na prática e tal ter mestres, ter orientadores, então hoje eu faço parte de um grupo de então do grupo de pesquisa, que tem uma linha que é um doutorado, tem uma linha que é uma pesquisa que não é acadêmica no sentido de ser ligado à uma universidade, que é o que eu faço parte e tem lá professores orientadores e eles me ajudam, “Lê isso”, “Lê aquilo”, “O que você achou?”, “Escreve um texto”, “reflete aquilo como é que foi na sua vida” e eu acho também que nesse mundo de informações que a gente tem, pegar uma galera mais cascuda que a gente, que já tá nesse planeta Terra o dobro de tempo que a gente tá e que nos inspiram, cara isso pode ser muito bom e economizar muito tempo também, então é uma coisa que eu me vi meio perdido, lendo de tudo assim e me deu tração, não é essa a palavra bonitinha da startup, tração? Quando pegou ali, o negócio tá indo? Então, eu acho que bons orientadores também ajudam muito a navegar esse mar de “o que aplicar, o que não”, “tô frustrado” “não funcionou, o que eu faço?”, “pra onde eu vou?”, isso é muito importante.

Henrique de Moraes – É engraçado também você eu acho que consegue inclusive encontrar mentores e que não necessariamente você precisa trocar com eles né, acho que as pessoas tem uma visão muito idealística do que é um mentor né, então tem um texto de um cara que eu admiro muito que é o Derek Sivers, sempre falo dele também aqui, e que ele fala o seguinte, ele vai contando tipo assim como ele teve um problema e precisou mandar pro mentor dele, e ele escreveu um e-mail e aí depois ele pensou “O que que tal pessoa falaria sobre isso?”, e ele começa a responder, porque ele já conhece tão bem o mentor dele que ele sabe o que a pessoa falaria, e ele começa anotar, “Beleza, e tal pessoa? Falaria isso e isso”, “Beleza, e agora como eu posso aplicar isso na minha vida? O que eles falariam? Isso e isso” aí eloe fala assim “Beleza, eles já me ajudaram” e nunca manda o email, e você pode fazer isso com qualquer pessoa, então por exemplo eu falo muito sobre podcast, eu sou apaixonado, não à toa tenho um, mas eu sou muito viciado, apaixonado e falo muito do Tim Ferriss e cara eu fico impressionado, a quantidade de coisa que eu aprendo e eu falo assim com todas as letras, eu mudei a minha concepção de vida ouvindo podcast dos Tim Ferriss, minha vida mudou assim e as pessoas falam “Ah pô mas não é exagero?” eu falo “Não”, porque eu peguei as coisas, você imagina um cara que passou por inúmeras coisas, construiu um legado impressionante né assim, lógico que depende de quem observa e o que você quer construir pra sua vida, mas do meu ponto de vista ele construiu algo impressionante e tá sempre se questionando sobre tudo o que ele construiu, se valeu a pena, se não valeu e ele pega as pessoas que também construíram coisas impressionantes e chama no podcast dele pra conversar. Cara, isso não tem preço, e tá lá disponível de graça, igual livro, você pega um livro e fala “Custa 30 reais um livro”, é um lanche do McDonald’s hoje em dia e a pessoa ficou ali às vezes 5,6, 10 anos escrevendo aquele livro sabe? É surreal, você fala “É muito barato”, e você pode aprender com essas pessoas, se dê oportunidade de aprender com essas pessoas então assim, não fica tão, é lógico que é importante ter pessoas, eu tenho pessoas, você tem pessoas que a gente troca, que a gente confia e que a gente sabe que querem o melhor para gente e vão ajudar a gente nessa trajetória, na caminhada mas você pode ter como mentor pessoas que você não tem na sua rede de contato e fazer isso, perguntar “O que tal pessoa faria? Como ela reagiria?” e colocar isso pra frente, colocar por aí, pronto é um mentor também.

Guilherme Lito – Sim, total e também desidealizando esse lugar do mestre, além disso tem também os pares né, que é algo que eu acho que a gente tem cada vez mas visto de todas as naturezas, a gente mesmo como Schumacher organiza conversas entre pares, pessoas que estão em transição, empresários que estão querendo implementar agenda de sustentabilidade dentro da empresa, tem tantos grupos de homens hoje em dia, grupos de pais, grupos de mulheres, então acho que isso também é muito legal né, compartilhar seu caminho com outras pessoas que pelo menos vão te ouvir, acho que é algo muito importante. E vira e mexe vem uma referência, vem uma dica boa também.

Henrique de Moraes – Sim, você quer falar um pouquinho sobre seu papel lá cara e o que vocês vem fazendo? Acho que é importante né?

Guilherme Lito – Aonde, na Schumacher?

Henrique de Moraes – Na Schumacher College, isso.

Guilherme Lito – Cara, a vida como ela é né porque assim você imagina, a escola Schumacher Brasil em um tweet, um resumo, o Schumacher College é uma escola bastante respeitada assim lá na Inglaterra, já tem uns 30 anos ou mais, com pessoas maravilhosas, prêmio Nobel, muitos e tipo Capra e tal ensinam lá e aí por vários movimentos e por uma rede imensa da Schumacher que tem aqui no Brasil, de alunos que participaram lá de muitos cursos acabou nascendo a escola Schumacher Brasil da qual eu faço parte. E aí é muito doido porque a gente só faz, o jeito aprender da Schumacher é cozinhando na horta, roda de conversa, todos os cursos até hoje tinham sido em fazendas, fazendas orgânicas, a gente conversa com os produtores, então tem todo um jeito, não é só entrar numa sala, não é só um conteúdo, não é só os economistas ou os cientistas da complexidade ou os biólogos e tal, a gente gosta de viver aquilo que a gente está falando, falando sobre né. Só que veio a pandemia né meu amigo, então a gente foi pego super de surpresa e se viu muito mobilizado também pelo que tava acontecendo no Brasil, então a Schumacher que era há 6 meses atrás é completamente diferente do que é hoje, então hoje a gente tem mobilizado online e tentando migrar né e trazendo mais conteúdos e tal, porque a gente entende que o espaço online também é muito limitado pra gente conseguir conviver e trocar de um lugar bem humano mesmo, mas está sendo lindo, e agora por exemplo tá rolando essa conversa, a gente já tinha feito algumas parcerias lá em Parelheiros, na zona sul de São Paulo, um lugar que tem todas as belezas e mazelas do Brasil no mesmo lugar e cara, tem cada projeto lindo, incrível lá, e aí bateu a pandemia cara, ficou muito ruim pra eles lá. Então tem uma mobilização maravilhosa do pessoal de Parelheiros, então umas das coisas que a gente tá fazendo é isso, conversas com a galera de Parelheiros, com algum professor da escolas Schumacher Brasil mediando conversas de pessoas lá, fazedoras, e aí vai rolar, vou mediar uma conversa com pessoal lá de Parelheiros com galera que cuida de cozinha de mulheres, cuida do CPCD, do centro cultural, cara umas coisas muito maravilhosas que estão rolando, e se não me engano é 9 de Setembro a conversa que eu vou mediar lá. Então esse é o tipo de coisa que a gente agora começou a fazer, dado que a nossa atividade principal que era tanto estar dentro das empresas e organizações em geral quanto estar nas fazendas, espaços culturais fora da cidade dando cursos, tudo isso não é mais possível, e a gente tá contando com a generosidade maravilhosa da rede, nada como momentos difíceis pra gente ver o que há de melhor no ser humano né. E aí hoje os chapéus que eu tenho lá é de diretor da associação, que a gente é uma associação agora e professor de economia, só que não é essa economia das quantidades né, eu respeito bastante tá a economia das quantidades mas a gente não fala da taxa de juros, do câmbio, da dívida e etc, a gente tá explorando outras formas de viver, produzir e prosperar como humanidade mas que não ignoram a vida como ele é, mas pelo contrário, constrói em cima de tudo que já existe no mundo pra criar vidas melhores, e é muito inspirador, eu me sinto muito nutrido pelo trabalho que eu faço lá principalmente quando a gente tá em campo né.

Henrique de Moraes – Perfeito, legal vou conhecer, eu conheço pouco na verdade, vou botar inclusive o link do bate papo quando for lançar, vai ser lançado antes o podcast então eu boto o link pra galera também que quiser conhecer um pouco mais. Cara, o que te traz ansiedade hoje em dia? Ou quais são as coisas, normalmente é mais de uma

Guilherme Lito – Muito mais, deixa eu priorizar aqui a listinha. Cara, eu acho que tem certamente coisas que acontecem com pessoas que eu amo muito, então assim em especial família e amigos muito próximos, quando alguma coisa acontece eu fico muito em estado de alerta, bem meu lado instintivo, selvagem aflora e eu acho que isso é o que mais me deixa ansioso hoje. Engraçado porque outro dia eu entrei no Instagram, porque eu fiz um vídeo no YouTube aí eu tenho que publicar no Instagram, e o que eu fiz, esse é o momento que eu entro no Instagram, aí eu vi que você tinha me mandado uma mensagem pra falar do podcast, e eu falei “Pô, maneiro esse negócio de entrar no Instagram”, aí eu instalei no meu celular, aí passei uns 3 dias com ele ali cara, e foi uma convivência horrorosa, e Facebook, aí eu falei “Tá, esse joguinho não faz bem pra mim, eu já descobri isso, caí na armadilha de novo mas tudo bem, é só deletar e não brincar aqui desse joguinho”, então esse é um joguinho que mexe muito comigo também.

Henrique de Moraes – A gente fica tipo o Pateta, que tem aquele desenho clássico que ele começa a dirigir e ele fica estressado.

Guilherme Lito – Exatamente. Cara, só um adendo sobre isso, é muito importante ir na fonte de quem criou esses aplicativos, empresas e tal e ver como é que eles criam os filhos e como é que eles vivem suas vidas, é o que a gente vê é que os filhos desses caras não tem celular, não tem acesso a telinha, eu sei que tô talvez acabando com a sua base de clientes aqui, não os clientes PJ, mas os clientes pessoa física né, os clientes dos seus clientes mas assim, as mídias sociais não foram feitas para serem boas e nem para informarem, elas foram feitas pra viciar a gente, pra gente passar muito tempo lá porque é assim que eles ganham dinheiro, isso é uma verdade declarada, isso tá em vários lugares, de vários depoimentos de vice-presidente de Facebook sabe,  então assim, os caras são bons no que fazem, e a gente é viciado, quimicamente viciado, sinais bioquímicos do cérebro viciado e cara, uma realidade que a gente tem que encarar, e me preocupa bastante, principalmente as gerações depois da gente, porque a gente teve o privilégio de esperar um amigo na pracinha chegar e não saber se ele ia chegar, a gente teve o privilégio de não ter o que fazer, de ficar de bobeira, a gente viveu num mundo sem celular e sem internet, e o que os estudos estão mostrando agora é que as crianças estão muito prejudicadas por esse mundo, o desenvolvimento do cérebro das crianças e dos adolescentes, a capacidade de foco, a capacidade de disciplina, a capacidade de sustentar frustração, a capacidade de conseguir sustentar uma meta a longo prazo, um projeto muito longo, tudo isso tá sendo influenciado não só, porque o mundo tá todo dinâmico, mas também em grande parte porque a gente está viciado nesses feedbacks curtíssimos e sem falar nas ideias voando em tweets e tal porque isso pra quem gosta de ler, de ideias é um horror mas discussões feitas de uma frase e tal. Mas enfim, eu acho que esse é um tema muito importante e que a gente não deve ignorar, acho que é uma questão séria pra nossa saúde mental nos próximos, hoje já e nos próximos anos mais ainda.

Henrique de Moraes – Sim, eu concordo 100% assim, 110% o quanto eu puder acrescentar aí porque eu já venho sofrendo com isso há muito tempo e assim, por sorte eu consegui identificar porque acho que muita gente não consegue então eu consegui fazer alguma coisa a respeito porque tem gente que provavelmente não vai perceber o mal que tá fazendo e vai ficar naquele loop infinito de ansiedade, de tristeza, de não perceber que está sendo manipulado, de não perceber como exatamente essa gratificação instantânea influencia a forma como você lida com todo o resto, tem tanta coisas enfim, não vou entrar nesse mérito, as pessoas podem pesquisar, enfim tem muita coisa legal aí, inclusive falando sobre isso, mas eu acho que um teste super importante pras pessoas fazerem é: excluam as redes sociais dos telefones, mantenham as contas, não precisam excluir as contas, só exclui do telefone pra ver como é que muda a vida e assim, passa pela experiência toda, porque aí vocês vão perceber como vocês são viciados, porque aí você vai pegar o telefone, vai abrir e não tem nada e você vai falar “Caraca, porque eu abri o telefone? Porque eu desbloqueei?”, e assim, direto isso acontece, até a hora que você entende o que aconteceu e aí você começa a ficar calmo e de repente você fica em paz, e aí depois, se você quiser de fato fazer um teste, eu não recomendo mas se quiser de fato fazer um teste, instala de novo e vai ver o que acontece, porque é surreal assim.

Guilherme Lito – Essa é uma boa dica prática hein, se ficar alguma coisa dessa conversa toda

Henrique de Moraes – Eu excluí cara, pra você ter uma noção, eu cheguei ao extremo de excluir o aplicativo do email, nativo do meu iPhone

Guilherme Lito – Agora eu botei aquele esqueminha de limite, eu tenho uma dose, sabe? Eu tô tipo governo comunista me dando doses de diferentes coisas, “Você tem meia hora de Youtube, use muito bem essa meia hora”.

Henrique de Moraes – Se você tá governando seu celular, tá de boa, tá tranquilo, pode ser assim. Cara, se você pudesse olhar pro seu eu, de 10, 15 anos atrás, ou voltar em algum momento que tenha sido muito importante pra você, no que você diria para o seu eu ter mais calma? Tem algum ponto que você falaria “Cara, não precisa ficar tão estressado com isso”, ou “Se cobre menos”, tem algum ponto específico? Qual momento da sua vida seria esse?

Guilherme Lito – Cara, eu acho que a frase seria “Calma, você ainda vai entender que tudo isso tem sentido”

Henrique de Moraes – Excelente

Guilherme Lito – Porra, a adolescência é sinistra

Henrique de Moraes – Cara essa frase é, vou emoldurar e colocar num quadro, “A adolescência é sinistra”

Guilherme Lito – Pior que às vezes a gente olha pra trás agora cheio de trampos e de preocupação e fala “Bons tempos aqueles em que eu não tinha que pagar conta”, cara mais ou menos, aí eu vou meditar mesmo e volto pra experiência de ser adolescente, e olha que minha adolescência foi muito acho que dentro da adolescência comum mas é sinistro cara.

Henrique de Moraes – A gente tem uma tendência a esquecer algumas coisas, romantizar muito, então eu uso um exemplo clássico pra falar sobre isso, que foi meu casamento. Meu casamento foi a melhor experiência da minha vida, eu posso falar e meus amigos sabem que isso aconteceu porque todos eles participaram, e tá na lista das melhores experiências das vidas de todos os meus amigos também, porque a gente casou fora, então fui uma viagem em que a gente achava que iriam 30 pessoas e foram 85, você imagina 85 pessoas viajando pra fora do país numa viagem de 1 semana todo mundo junto, pra Amsterdã que é uma cidade pra quem não conhece maravilhosa então assim, cara foi uma experiência única que eu provavelmente nunca mais vou viver, mas na minha cabeça assim “Caraca, eu quero repetir isso, eu quero repetir isso” mas quando eu penso em todo o planejamento rolou, inclusive as brigas que eu tive com a minha esposa sobre pontos específicos da viagem e tudo mais, a  gente esquece isso sabe, fica na memória mas que bom que foi tão bom o suficiente para eu apagar todo o lado ruim mas em compensação é isso, a gente tende a olhar para o lado bom e fala assim “Ah, exatamente”, “Ah, como era bom quando os boletos não chegavam” era bom, mas tem um monte de coisa ruim ali também.

Guilherme Lito – Esse é mais um oferecimento da genialidade da natureza né, acho que a vida não seria possível se a gente lembrasse de todas as dores, então a natureza muito sabiamente bota debaixo do tapete ali.

Henrique de Moraes –  Verdade. E cara sobre pessoas que mudaram a sua vida de certa forma, mudaram pelo menos sua visão de mundo, eu queria saber assim, se pudesse elencar uma, eu sei que é difícil mas assim, uma pessoa que tenha sido muito responsável, que você admira muito, quem seria essa pessoa e porque?

Guilherme Lito – Cara, muito difícil entre dois, Jesus e Gandhi.

Henrique de Moraes – Nossa, pode falar um pouco sobre isso?

Guilherme Lito – Claro, eu acho que o que é feito em nome de Jesus até Jesus em grande parte deve estar lá se contorcendo, mas o Jesus histórico tá, é bem importante fazer essa distinção, não vou entrar no assunto religião mas só pra dizer que eu aprecio boa parte também tá, não acho só uma coisa ruim e tal. Cara porque eu acho que eles trouxeram algo que a nossa cultura ocidental não conhece, que é a não violência, é o virar a outra face, que é o se importar pelos menos favorecidos, que é ver o sofrimento do mundo como seu, e sua responsabilidade e eu acho que eles viveram vidas, não é tipo as ideias, escreveram lindamente não, a vida dos caras foi muito comprometida em deixar esse mundo um lugar menos sofrido, e em especial o Gandhi ele me move muito por conta da postura dele, de abrir mão dos privilégios, ele nasceu numa classe, não era lá a superclasse mas era uma classe boa lá na hierarquia, estudou, advogado, viajou pra Londres, voltou e foi viver numa comunidade, foi costurar a própria roupa e cara, lê a biografia desses caras, Jesus não tem uma biografia exatamente autorizada mas principalmente o Gandhi que é bem documentado, é de arrepiar, então eles me inspiram muito pelas pessoas que eles são no pensamento, na palavra e na ação e eu acho que eles ressignificam muito o que é sucesso, a gente tava falando de sucesso lá atrás, não teve startup, não teve empresa, Jesus não criou o cristianismo, nada disso, ele só tava lá com a prostituta né, com o doente, com o pobre e cara, me inspira muito.

Henrique de Moraes – Aproveitando esse gancho do sucesso, antes de falar do sucesso, eu tinha uma namorada que eu sempre brincava com isso, ela era evangélica e eu acabei frequentando um pouco a igreja com ela e eu ficava perguntando umas coisas idiotas né, e uma delas era assim “Quem foi que disse que Deus queria que você tivesse carro?” porque é aquele famoso adesivo “Deus me deu”, mas eu ficava “Quem disse?”, isso faz um mal pro planeta que ele criou, teoricamente

Guilherme Lito – A família dela devia te amar né

Henrique de Moraes – Ah é, mas eu curti algumas coisas sabe, eu me envolvi inclusive mas tinham uns questionamentos, eu ficava assim por exemplo, eu falava muito de casa, a pessoa falava “Porque deus vai te dar uma casa”, mas quem disse que ele quer que você pegue o terreno lá, a natureza, e reparta e fale “Isso aqui é meu”, que outra pessoa vai fazer aquilo virar uma coisa, virar capitalismo né, vai pegar e assumir aquela terra como sua e depois vai vender enfim, tanta coisa não vou entrar em detalhes mas era isso, eu ficava “Quem disse que Deus quer que você tenha uma casa? Quem disse que ele aprova propriedade privada?” então não via isso em nenhuma parte da Bíblia mas enfim, voltando pra parte do sucesso, hoje você tem alguma definição e não que essa definição seja uma coisa que vá ser escrita em pedra mas assim, como você enxerga hoje o que é ser bem sucedido, como você se veria bem sucedido?

Guilherme Lito – Cara, isso pra mim é bem uma coisa de, é muito mais de direção do que de lugar a se chegar e a minha grande batalha é comigo mesmo e eu acho que a coerência, a integridade é difícil pra caramba, não mentir, ser humilde, se importar com o outro, isso é sucesso pra mim e eu sei no final do dia quando eu deito na cama, não é que eu minto descarado, não tô nesse nível aí mas assim, eu sei quando eu omiti uma coisinha, quando falei outra coisa com veneno, quando eu trouxe como uma vingança, então pra mim, a leitura que eu faço hoje dessas histórias que vieram por tantos mil anos e chegaram até a gente, o que Jesus tentou nos ensinar era como viver uma vida aqui, só que a gente se perde nas alegorias, nos nomes, essas coisas todas. Mas pra mim é isso, é integridade, pra mim isso é sucesso, e o que eu tenho visto é que na medida em que eu consigo, claro que com muitas armadilhas e quedas no caminho, na medida em que eu consigo afinar um pouco mais isso eu me sinto muito melhor, eu vivo uma vida melhor, eu tenho amizades mais verdadeiras, pessoas que se importam mais comigo sabe, quando dá ruim no trabalho, quando dá ruim em algum lugar eu tenho uma rede onde me apoiar, as pessoas confiam mais em mim, então até mesmo por motivos egoístas me parece que viver a vida querendo ser uma pessoa mais íntegra e verdadeira e preocupada com o outro, até por motivos egoístas parece que funciona pra mim.

Henrique de Moraes – Perfeito. Você tem algum conselho que tenha feito muita diferença na sua vida, ou se não for um conselho por exemplo de repente alguma frase ou algum texto curto que tenha impactado muito, que tenha feito você de repente repensar sua vida ou alguma coisa que tenha impactado?

Guilherme Lito – Cara, tem a famosíssima “Só sei que nada sei”, acho que pra mim é muito importante então quando eu começo a ter muita certeza de alguma coisa, aí eu me relembro disso e tenho clareza de que eu me perdi no meio do caminho, então isso pra mim é muito importante e vou parar por aí, acho que quanto mais o tempo passa mais eu vejo que eu sei menos coisas, por mais que eu saiba mais coisas eu sei que eu sei menos do que tem pra ser sabido, eu tento cultivar isso bastante.

Henrique de Moraes – Eu ouvi você falando em algum lugar, eu já não lembro porque eu ouvi tanta coisa, que as pessoas não sabem o que elas não sabem né, e isso é surreal porque se você não ficar curioso para descobrir o que você não sabe, você vai ficar preso né

Guilherme Lito – Cara, isso é o mais perigoso porque tem a coisa que você sabe que você não sabe, tipo eu não sei surfar, eu sei que eu não sei surfar, beleza mas o que você não sabe que você não sabe é muito perigoso.

Henrique de Moraes – Sim, e sobre essa forma de enxergar né que você falou, de cada vez você fica mais ciente de que você sabe menos, tem uma, não sei se você já deve ter ouvido falar sobre isso, mas a metáfora que fala da ilha, da ilha com o oceano, que você quanto mais, como se fosse a ilha, quanto mais conhecimento mais você cresce, cresce mais a sua superfície em contato com o oceano, que seria o desconhecido né

Guilherme Lito – Eu acho maravilhosa essa imagem

Henrique de Moraes – É, eu acho perfeito o cara porque é exatamente isso, e quanto mais você lê por exemplo, mais você tem referências para ler e isso e só aumenta, é exponencial né

Guilherme Lito – Exatamente

Henrique de Moraes – Perfeito, então sobre leitura, você tem de 1 a 3 livros assim que você recomendaria?

Guilherme Lito – Cara, para mim eu vou ficar naqueles lá do início, o “Design de Culturas Regenerativas” do Daniel Wahl, o “Trópicos utópicos” do Giannetti que é pérola, é uma coisa maravilhosa e porque não o “Admirável mundo novo” porque a gente tá, o Huxley acho que não tava ligado com o quão apropriadas eram as metáforas que ele trouxe lá.

Henrique de Moraes – A coisa mais maravilhosa dessas conversas é isso, pegar algumas referências que eu não tinha, então por exemplo esses dois primeiro livros eu nunca nem ouvi falar então assim, isso é muito maravilhoso ter essa oportunidade. Você tem algum conceito que você tinha no passado e que você mudou de opinião nos últimos tempos? Assim, muitos provavelmente mas qual o mais relevante?

Guilherme Lito – Acho que o que eu falei lá no início da conversa que eu acho até que eu defendi mal a ideia mas esse reconhecimento de que nós somos parte de uma inteligência muito fenomenal e maravilhosa, que é isso que a gente gosta de chamar de natureza e da qual nós fazemos parte, isso pra mim é assim, eu achava que os seres humanos eram os inteligentes e hoje eu vejo inteligência à minha volta e fico “Meu Deus, minha mestra formiga, mestre pica-pau, mestre samambaia” de verdade, eu nem vou lá abraçar eles não mas só essa admiração de conseguir ver o papel que eles tem, a inteligência que eles tem pra criar vida, criar abundância que é o que eles fazem há milhões e milhões e milhões de anos.

Henrique de Moraes – Perfeito. Você, eu sei que você falou sobre isso inclusive aqui no bate papo, de você diminuir a quantidade de coisas, diminuir a quantidade de compromissos, de se envolver em menos coisas, eu queria saber então assim, nesses últimos anos aí tem alguma coisa específica em que você ficou melhor em dizer não? Por exemplo, convite para alguma coisa, que tipo de distração você tá evitando mais?

Guilherme Lito – Cara, convite pra fazer projeto, com certeza. Principalmente os não pagos, acho que é isso. Eu dizia sim porque eu não queria desagradar o outro sabe, eu achava que se eu dissesse não a pessoa não ia gostar de mim e tal, a verdade é que eu dizia sim e não conseguia entregar do jeito que eu queria, e eu e a pessoa não gostávamos né, então aprendi que o não é maravilhoso.

Henrique de Moraes – Você aprendeu algum macete pra dizer não? Porque é muito difícil dizer não, essa é a verdade, por isso que a gente diz tanto sim.

Guilherme Lito – Eu aprendi um cara, com a Marie Forleo, ela fala assim, sempre responde com “Tenho que pensar”, qualquer coisa que começarem a te convidar você já faz aquela cara do “Tenho que pensar” porque você ganha tempo, inclusive se pra você é difícil dizer não na cara da pessoa, você vai poder dizer por mensagem, por e-mail e tal então eu comecei a responder tudo assim, mesmo as coisas que eu realmente acho que fazem sentido, que eu vou aceitar eu falo “Cara que interessante, pô deixa eu pensar, vou falar com a Carol, vou ver se cabe na agenda, tenho que ver e já te retorno” então você não tem que responder na hora, isso me ajudou muito.

Henrique de Moraes – Perfeito,muito bom. Você tem algum hábito assim, incomum ou estranho para os outros mas que você ama muito? Você mora no mato né

Guilherme Lito – É, eu vou puxar um que é mais diferente, inclusive pra quem mora no mato que é, eu faço barba no jardim, porque eu achava horroroso aquela barba na pia sabe, você nunca consegue tirar todos os pelinhos da pia e você quer deixar bonita a pia para quem vem depois, aí eu vou pro jardim com a máquina, fico lá na bateria, passeio na horta, aí eu volto pra frente do espelho só pro check final, e aí isso acho que é meu hábito, eu não faço muito a barba mas quando eu faço eu tô desenvolvendo esse hábito.

Henrique de Moraes – Muito bom cara, esses pêlos realmente são um mistério a a ser analisado, tem que ser estudado porque da mesma forma que os cabos de fones viram um ninho de mafagafos quando você coloca em qualquer bolso, qualquer coisa, esses pelos também você, limpa, limpa, limpa, passa um raio laser e quando você volta pra pia você fala “caralho, tem uma porrada aqui ainda, o que aconteceu?” Você tem algum filme ou documentário favorito?

Guilherme Lito – Tenho muitos, o que me vem, “Perfume de Mulher” eu gosto muito, sabe do Al Pacino? Eu vi esse filme umas 700 vezes e ele me inspira muito nesse debate ético sabe? Fazer a coisa certa ou fazer o que tão pedindo para você fazer, o que é o certo, o que não é o certo? Eu acho um filmaço.

Henrique de Moraes – Eu vou assistir de novo, tem tempo que eu não assisto, acho que eu nunca consegui botar esse olhar porque eu era muito novo né quando assisti esse filme

Guilherme Lito – Nossa e a coisa de prazer, felicidade, vida, morte, é muito forte cara, é um filmaço mesmo.

Henrique de Moraes – Vou voltar aqui. Você tem alguma recomendação de podcast, pessoa, inclusive deixa eu recomendar uma aqui antes de você, que eu queria recomendar sua esposa

Guilherme Lito – Pô maravilhosa, musa, bem recomendado hein

Henrique de Moraes – Pô sensacional cara, eu descobri ouvindo o podcast dela né, porque eu tava pesquisando sobre você e aí encontrei, acabei esbarrando no podcast dela que tem dois episódios contigo, e eu achei sensacional o conteúdo dela, tô seguindo, me inscrever na news e tô aí cara, falou a @ aí, fala como é que a galera encontra ela.

Guilherme Lito – Então, o nome dela é Carolina Bergier, pô você perguntou pro cara errado o @ né, é @carolinabergier mas ela é maravilhosa cara, e bom me casei com ela, sou suspeito né mas ela realmente é uma mulher muito forte e que olha para esse lugar de como a gente pode criar vidas bonitas e um mundo mais bonito a partir das nossas vidas e sem charlatanismo, sem 5 passos para o sucesso, ela é bem profunda e muito poética cara, você assinou a news dela, a news dela é super poética. Tenho muito orgulho da minha esposa, muito bem recomendado.

Henrique de Moraes – Cara que casal, se quiserem me adotar aí, se quiserem me colocar nesse meio aí, nesse bololô  to aí tá, tô pra jogo. Eu tô em Portugal mas a gente pode fazer um relacionamento de pais e filhos à distância, não tem problema não, eu sou o filho que está estudando fora sabe? Mas qual é a sua recomendação?

Guilherme Lito – Eu acho que você mandou muito bem na sua, eu diria o meu YouTube que também eu todo vídeo lá eu ponho podcast e cara que eu falei, o Daniel Wahl, pra quem tá interessado em entender o que tá rolando de mais bonito e mais radical no bom sentido da palavra, essas transformações do mundo aí cara, ele tá entrevistando uma galera muito da pesada e é aonde eu tô mais hoje me nutrindo.

Henrique de Moraes – Boa. Cara, agora é a última pergunta aqui, e essa é uma pergunta que eu não faço para todo mundo mas às vezes eu fico curioso com algumas pessoas e acabo colocando, é uma pergunta na verdade que eu peguei emprestado de outro podcast, que é o “The Tim Ferriss Show” né, que eu falei e que é a seguinte, se você pudesse colocar um outdoor gigantesco em qualquer lugar assim, onde passassem tipo milhares de pessoas, milhões, bilhões de pessoas, falaram em outdoor é até meio antigo né, engraçado especialmente para quem trabalha com redes sociais, mídias digitais que sou eu, mas é que é só metaforicamente falando então não tem problema, o importante é qual mensagem, qual frase você colocaria ou qual mensagem você passaria pras pessoas?

Guilherme Lito – Porra, vou falar o que tá escrito no quadro aqui na minha frente tá porque você me pegou, difícil essa, o quadro na minha frente é “Inclua nas tarefas de todo dia ser amor da cabeça aos pés”, então seria essa

Henrique de Moraes – Perfeito, muito bom. Cara, melhor lugar para encerrar eu acho, não tinha como encerrar melhor. Vou aproveitar aqui e recomendar então, o Guilherme falou mas o canal dele no YouTube, eu assisti acho que uns 5 vídeos, eu tentei assistir na ordem e assim, não tô aqui sendo demagogo, é de verdade, o conteúdo é muito rico, eu fiquei impressionado com como você se aprofunda né em todas essas questões de o que é empreendedorismo, o que é uma empresa, trazendo referências que eu adoro como por exemplo falar da empresa que na verdade é uma história né, aquela visão do Harari que eu acho sensacional cara, inclusive eu recomendo isso pra todo mundo, para quem não quiser pegar o “Sapiens” para ler né, que é um livro grande, mas pega e assiste um TED do Yuval, eu posso colocar o link aqui no site com o episódio, em que ele conta o início do livro basicamente, que é como a gente na verdade, porque o sapiens chegou aonde chegou, é que a gente acredita em histórias, acredita em ficção, e a narrativa cara eu acho tão sensacional quando ele chega no dinheiro, na coisa da realidade objetiva, do macaco que não troca uma banana por um monte de notinha de dólar cara, tudo isso é tão sensacional e faz a gente perceber muito essa coisa da empresa como uma religião, a comparação com a religião, tudo isso é muito importante para gente desconstruir um pouco e se reconstruir, reconstruir a nossa realidade enfim, voltando aqui entrem no canal, procurem lá o Guilherme Lito no YouTube porque o conteúdo é muito rico, vou terminar de assistir os vídeos, ainda não terminei mas vale muito a pena tudo, a fala sobre propósito e não é só a fala, não é só o discurso é como você destrincha isso, como você consegue fazer isso de forma prática, tem metodologia, tem muita coisa ali eu achei sensacional de verdade cara parabéns pelo trabalho, eu não esperava menos de você enfim, apesar de que colocar expectativa não seja tão bom mas conhecendo um pouco do que você vem fazendo não imaginava que fosse diferente disso mas ainda assim me impressionou cara a qualidade de conteúdo, então parabéns pelo canal, espero que mais gente conheça, vou recomendar inclusive para muita gente e vou ouvir com calma, fazendo anotações também, aquela coisa que a gente falou de não só passar pelo conteúdo mas de fato absorver o conteúdo porque tá bem aliado inclusive com o momento da minha agência, da minha empresa, o meu momento de vida então obrigado por estar colocando esse conteúdo no mundo e parabéns.

Guilherme Lito – Pô obrigado cara e tô testado isso, fazer pouca coisa e fazer direito, que é completamente anti-algoritmo, o algoritmo do Youtube deve me odiar mas eu tô realmente tentando aproveitar cada segundo enfim, e obrigado. Só mais uma coisa, desculpa eu falo de aproveitar cada segundo e tô realmente espremendo aqui mas uma outra coisa pra seguir cara, e não é sacanagem, pega alguma coisa viva na sua casa e segue ela também que nem você segue influenciador digital, tem filho para seguir né então isso já é muito maravilhoso, mas quem não tem filho em casa pra acompanhar a evolução, acompanha a evolução de uma planta, vê como é que muda, quais luas, quais etapas do ano, porque isso é muito legal também, a gente acompanhar as coisas que são vivas. Pra quem mora em apartamento, pega um vasinho de planta e acompanha ele também, não acompanha só online não, acompanha offline também.

Henrique de Moraes – Sim, é engraçado né isso que você falou sobre acompanhar, você falou de filho e eu tenho uma filha de 1 ano e eu tava falando isso com a minha esposa esses dias né, que quando você de fato para e fica presente no momento só você e ela, no caso eu e ela, às vezes me percebo muito egoísta no sentido de tudo que a gente coloca de expectativa em relação ao que a gente quer que nossos filhos sejam né, e quando eu paro e olho pra ela eu falo “Cara, ela é um universo” sabe, é um universo inteiro ali dentro cara, ela tem tudo, ela é uma coisa nova, que é completamente diferente de mim sabe, eu tenho o meu universo, eu também sou meu próprio mundo e ela é o mundo dela e às vezes a gente fica com essa coisa de botar muita expectativa nos nossos filhos pra que eles estejam o que a gente gostaria que eles fossem a gente tem que parar com isso,  eu acho pelo menos que a gente tem que parar de fazer isso e sim pra gente aproveitar e viver a vida com eles e aproveitar quem eles são e incentivar que eles sejam quem eles são, incentivar esse mundo, esse universo enfim, uma viagem pra final de episódio

Guilherme Lito – É isso cara, agradecer a oportunidade, é sempre bom dialogar com pessoas interessantes e interessadas, muito maneiro com certeza.

Henrique de Moraes – Eu que agradeço, agradeço pela sua generosidade com o tempo inclusive, a gente passou do tempo que a gente tinha combinado e pô cara, obrigado por tudo que você tem feito, obrigado por ter topado participar, fiquei muito feliz de fato assim, meio que inclusive realizado porque já tinha vontade de ter esse bate papo contigo há muito tempo e acabou que consegui colocar isso para frente, a gente conseguiu ajustar isso, então tô muito feliz, obrigado pelo seu tempo e vamos ver se quem sabe a gente não faz mais um, eu sempre falo isso no final com as pessoas que eu gosto de conversar, quem sabe a gente não faz mais um daqui a alguns anos né, para de repente rever tudo isso e ver quem era o Lito de alguns anos atrás, o Henrique de alguns anos atrás e como que isso mudou.

Guilherme Lito – Tomara que a gente tenha vergonha de quem a gente é hoje, no futuro.

Henrique de Moraes – Verdade. Obrigado, Guilherme

Guilherme Lito – Abração

Henrique de Moraes – Um abraço

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