Bruno Alencastro é formado em jornalismo pela Universidade do Vale dos Sinos e é Mestre em Ciências da Comunicação. ele trabalhou com fotojornalismo por 6 anos no ZERO HORA, um jornal importante do sul do país e hoje é Diretor de fotografia na Agência de Conteúdo Canarinho.

nos últimos 10 anos, Bruno vem trabalhado com a produção de NARRATIVAS VISUAIS. o objetivo é contar histórias em imagens, independentemente da técnica de captura ou forma de apresentação. o objetivo é EXPERIMENTAR.

ele produz de ensaios fotográficos a vídeos de 15 segundos para as redes sociais; captura imagens aéreas com drones para documentários; cria imersões em 360º; desenvolve estratégias para redes sociais, consultoria, cursos e treinamentos.

além disso, começou um projeto muito legal durante o lockdown que teve repercussão internacional. o nome do projeto é OBS-CU-RA e o link está aqui embaixo.

o bate-papo com o Bruno foi sensacional e recheado de histórias incríveis!

links do Bruno:

https://instagram.com/brunoalencastro

https://brunoalencastro.com.br

LIVROS CITADOS
PESSOAS CITADAS
  • Andre Passamani
  • Beatriz Grieco
  • Ricardo Stuckert
  • Lula
  • Dilma Rousseff
  • Barack Obama
  • Fidel Castro
  • Pete Souza
  • George Eastman
  • Kanye West
  • Pedro Rocha
  • Eduardo Seidl
  • Robert Frank
FRASES E CITAÇÕES
  • “Se você não sabe como se fazer feliz, faça os outros felizes” – Henrique

se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.

Henrique de Moraes – Fala Bruno, seja muito muito bem-vindo ao calma cara você foi muito bem recomendado pela Bia Grieco, vocês trabalham juntos, certo?

Bruno Alencastro – Isso aí, isso aí Henrique, pô obrigado pelo convite agora, pra mim é um privilégio assim, uma honra assim, sabe que atualmente são esses momentos assim mesmo que mediados pela tecnologia mas esses fóruns que a gente vai abrindo assim de oportunidades, de conversa, de troca que dão um alento assim, que dão um pouco de uma leveza né nesse momento que tá meio pesado, então agradeço a oportunidade de poder conversar um pouco e refletir, enfim, trocar junto que tem sentido bastante importante assim nesse momento.

Henrique de Moraes – Pô cara, eu que agradeço pelo seu tempo aí pela disponibilidade, fiquei super feliz, quando a Bia indicou eu vi, entrei lá nos seus perfis, entrei no seu site e vi seu trabalho cara eu fiquei bem impressionado inclusive, achei muito legal e também conhecendo um pouquinho da sua história já separei um monte de pergunta aqui que eu quero fazer, pontos que a gente vai abordar, antes inclusive de fazer a primeira pergunta, eu vi que você começou também alguns projetos na pandemia né, depois de loucura toda de lockdown, tem um que a gente vai falar em seguida que é o “obs-cu-ra”, mas antes eu vi que você também começou uma série de lives, certo?

Bruno Alencastro – Exato, eu tava no, enfim, logo que rolou o isolamento social mais forte aqui no Rio de Janeiro pra mim foi muito rápido assim que a chave virou mentalmente pra mim, eu converso com pessoas e eu sinto que tem pessoas que parece que demorou um pouco pra cair a ficha e entender que agora a vida ia passar a ser mais dentro de casa mesmo, e o que isso representa pra mim foi muito rápido assim, eu sou um cara de bastante produtividade, um cara inquieto, um cara que gosta de tá produzindo né, seja no trabalho ou seja fora dele a cabeça não para, então logo que rolou esse corte né, rompeu essa barreira de ficar confinado dentro de casa eu senti que aquilo tava começando a me fazer mal né pra saúde mental, mesmo de estar só vendo notícia, só recebendo essa contagem mórbida de números e transformando vidas em números, e aquilo tava me fazendo um mal muito grande, eu operei rápido eu pensei “Não, o que que eu vou fazer para conseguir sair um pouco só desse pensamento, disso que a gente acaba recebendo, bombardeado o dia inteiro e que me faça bem né, que eu vá me envolver, que eu vá pensar, produzir, pesquisar”, e aí eu inventei o que eu chamei de um despretensioso ou pretensioso “Festival Foto em Casa”, um festival de fotografia bem na ideia de um festival mesmo, de pensar na programação, pensar temáticas, e aí claro né, acabei optando por esse formato que vem sendo bastante difundido assim, de lives e que faz total sentido também né, pensar a plataforma que foi viabilizada através do Instagram e tal, e fotógrafos, a gente falando sobre imagem, falando sobre fotografia, e aí rolou foram 12 convidados ao longo de quase duas semanas né, um por dia e que teve vários papos, desde amigos mais próximos assim que eu já conhecia, até usar isso de pretexto para chegar em pessoas que eu admirava, que eu tinha, nesse mundo virtual assim a gente é contato às vezes nem se conhece de fato assim mas se segue, se acompanha, então pessoas que eu tinha uma admiração, um respeito e que usei o festival de pretexto para para chegar nelas, pra me aproximar e conversar, e rolou super bem, todo mundo que eu convidei topou e foi excelente, um experiência mágica nesse momento, de leveza e de troca mesmo.

Henrique de Moraes – Que legal, Eu tô na mesma linha né, eu tava com um projeto na verdade de fazer esse podcast já desde muito muito antes de tudo isso acontecer, mas você ter um projeto e colocar em prática são coisas completamente diferentes né, e aí eu tava assim, já tinha feito, criado uma apresentação, um convite pra falar com as pessoas, e logo que rolou também eu falei “Cara, acho que essa é a hora”, foi meio que instintivo também, eu fui e já mandei para algumas pessoas o convite e na hora que eu mandei o convite inclusive pras primeiras pessoas, foi até engraçado porque ainda não tava certo que as pessoas iam ficar confinadas, que ia ter esse isolamento social e ficou engraçado porque as pessoas ficavam assim “Ah, mas como é que a gente vai fazer? Vamos marcar, vamos esperar esse pico passar pra gente marcar presencialmente”, então as pessoas realmente não estavam preparadas, ninguém tava esperando o que de fato aconteceu assim eu acho, mas foi muito bom também ter começado exatamente por esse ponto que você falou né, que eu acho que foi uma oportunidade de fazer contato também com várias pessoas que eu admiro, pessoas que eu sempre quis de repente trocar essa ideia sabe, tipo bater um papo e saber um pouco mais da história, que eu tinha curiosidade né de fazer algumas perguntas para elas e acabou que isso possibilitou também, porque as pessoas estavam mais em casa, estavam querendo trocar sabe, e acho que acabou, é ruim falar isso, mas acabou ajudando né, não querendo falar que a tragédia me ajudou a conquistar alguma coisa, nada disso, mas acabou contribuindo de certa forma porque as pessoas estavam precisando, e eu também tava precisando trocar um pouco, enfim

Bruno Alencastro – Sim, acaba que eu sinto isso também né, a gente cuida para que isso não pareça uma, querer ver algo positivo assim né, porque a tragédia de fato ela é muito grande mas a gente tem que considerar a mudança que isso tá provocando né em cada um assim e passa muito por isso, acho que tem vários ensinamentos, cada um vai tirar o seu, mas tem um que é muito interessante, que eu acho que para mim já faz sentido né, de repente alguns ainda vão fazer sentido mas tem um que pra mim já faz sentido que é pensar essa questão da distância mesmo e de possibilidades que a gente tem que a gente já sabia que tinha, porque a gente é uma, vive uma sociedade hiperconectada mas mesmo assim às vezes a gente ainda coloca por conta de sei lá, vaidade, de receio, de insegurança, a gente ainda coloca algumas barreiras que eu acho que agora nesse momento pelo menos para mim eu comecei a derrubar algumas né, comecei a acabar com esse receio, com essa insegurança e ter o ímpeto maior de “Não, vou tentar falar com essas pessoas, vou tentar me aproximar delas, vou tentar desenvolver um projeto” e é interessante porque paradoxalmente a coisa tem evoluído assim de uma maneira né, de rolar essas trocas, de rolar essas possibilidades, da gente pensar em conexões que antes nem imaginava e ver que rola, e ver que dá certo, e relativizar essa distância, relativizar o acesso que a gente pode ter às pessoas assim, por exemplo o Festival Foto em Casa que eu eu desenvolvi através dessas lives, um dos convidados que eu queria muito conversar com ele, que admiro muito a trajetória dele é o fotógrafo Ricardo Stuckert, que vem de uma família inteira de fotógrafos ligados à política, fotografaram desde a redemocratização, fotografar praticamente todos os presidentes da República, o Stuckert ele foi fotógrafo do presidente Lula no primeiro e no segundo mandato dele, o irmão dele foi fotógrafo da presidente Dilma, enfim, os caras estão muito ligados à política e ao cenário da fotografia mundial porque uma vez estando colado assim num Presidente o cara passa a circular pelo mundo né enfim, junto com o Lula o cara teve a oportunidade de fotografar o Obama, de fotografar Fidel Castro, de fotografar ao Papa, enfim pro fotógrafo é muito interessante, é muito surpreendente assim a gente pensar num cara que pode documentar pra além, e aqui eu não tô saindo em defesa de partido político nem nada, eu digo pra além da questão partidária e política, ser fotógrafo de um presidente, atuar como fotojornalista político nesse cenário assim né, alguém que vai documentar a vida de uma personalidade é mágico, é único, é singular, é um em não sei quantos mil que vai ter essa oportunidade e eu sempre queria muito conversar com ele né, aí fui lá falei com o cara de boa, o cara foi lá tranquilamente, me recebeu e a gente conversou, foi uma conversa super, a gente também fica pensando, a gente admira as pessoas como profissionais e fica naquele receio de saber como é que elas são fora do profissional né, pessoalmente, e aí um cara super generoso, um cara super atencioso pra uma live simbólica assim né, perto da representação que ele tem com o trabalho dele, algo de certa forma menor mas não menos importante, não menos empenhado que ele tava em participar, em dar ideias, em trocar, e aí assim como ele todos os outros fotógrafos e fotógrafas que passaram pelo festival, a ponto de chegar lá no final e eu fazer uma contagem do impacto de público que teve, participação de pessoas, e eu cheguei assim, aproximadamente fazendo uma contagem meio grosseira, mas somando os acessos que essas lives tiveram, cheguei ao número de 7 mil pessoas. Então assim, fiquei imaginando “Poxa sabe, o quanto que às vezes num evento regular né em tempos normais de cotidiano da nossa sociedade, a gente vai desenvolver um evento vai organizar algo e vai impactar sei lá, o tamanho de um auditório”, e aí esse auditório vai ter capacidade para sei lá, 100, 200 pessoas quando muito, um evento maior que tem um auditório grande, um teatro, vai receber 1000, 1500 pessoas, e eu da sala da minha casa fiz um evento que impactou 7000 pessoas, então assim, não tem como a gente estar vivendo tudo isso e não começar a repensar modelos né, repensar formas de fazer as coisas, repensar distâncias, repensar espaço e conexões né que a gente pode fazer que às vezes por um motivo ou outro a gente acaba que se sabota, ou então tem receio, tem insegurança, tem algum medo e isso para mim já tá fazendo total sentido. Eu antes de acabar tudo isso, e não vejo a hora que tudo isso acabe, mas por enquanto né já tô tendo essa tomada de consciência assim´, imagino tudo que a gente vai sair de diferente né depois que tudo isso passar.

Henrique de Moraes – É, com certeza é cara, acho que você tocou em pontos, em alguns pontos muito importantes, sobre o fotógrafo eu acho que, como você falou né, sem pensar em partido, qualquer pessoa que tiver a oportunidade de viver a vida de uma figura que é  tão importante, não tem como você não ter uma experiência incrível independentemente do que aconteça inclusive com essa pessoa né, então tudo que acontecer, se for trágico ou se for muito bom, vão ser momentos únicos e você vai estar ali presenciando um momento histórico de qualquer jeito né, então acho que a oportunidade realmente que pouquíssimas pessoas vão ter e mais do que isso eu acho que é uma oportunidade de também você ficar um pouco humilde em relação às coisas né, imagino que uma pessoa que trabalha com pessoas públicas tão influentes né, acho que eu não consigo, consigo pensar em pessoas mais influentes que o Presidente sim, mas ainda assim é uma figura muito importante e eu acho que você acaba tendo também um senso de humildade sabe, tipo de olhar para o mundo de uma forma um pouco diferente porque você está vendo as coisas acontecendo ali né, não sei como é que deve ser isso, deve mudar um pouco o olhar de quem tá por trás de toda a história né, acho que você enxerga o mundo de maneira diferente.

Bruno Alencastro – Total assim, e eu sempre fui na verdade um entusiasta dessa forma de trabalho que pode ser oportunizada à um fotógrafo né, uma fotógrafa, que é ser responsável pelo desenvolvimento da imagem de uma personalidade, de uma banda que seja, acompanhar a turnê de uma banda e aí a gente tem uma geração de fotógrafos pós Woodstock assim, de décadas de 70, 80, 90, caras que acompanhavam assim essas turnês grandiosas assim, de Rolling Stones, Sex Pistols, enfim, caras que estavam lá junto com as bandas e vivendo isso com elas e documentando todo dia, tendo essa incumbência assim de gerar novas imagens todos os dias nos hotéis, nos backstages, no shows, enfim, dentro do palco, fora do palco, e aí isso também, pensando numa figura pública qualquer que seja assim também, essa coisa de estar em campanha, de estar percorrendo agendas, enfim, eu sempre olhei com muita admiração pra esse caminho que a fotografia pode oportunizar um profissional de imagem que é estar colado em alguém né, ser responsável por desenvolver assim a fotografia de alguém e no caso do Stuckert foi isso né, o cara que enfim né, teve oito anos de agenda pública política acompanhando de tudo e o mais importante na verdade né, de novo, para além de qualquer questão partidária e tal, a minha admiração com ele se dá principalmente pela linguagem empregada assim né, e ele é um cara que do ponto de vista de linguagem, de técnica, ele inaugura, praticamente inaugura uma nova forma de narrar essas imagens né, que se aproxima muito a um outro cara que também é referência na fotografia política, jornalística, mas também documental porque ele extrapola o fotojornalismo e a fotografia política, e a fotografia dele a gente tem que considerar já como uma fotografia documental assim o que ele tá fazendo de tão outro nível que é, que foi o fotógrafo do Barack Obama que é o fotógrafo que se chama Pete Souza o nome dele, e é um cara que, eu falei isso pro Stuckert durante a live, é um cara que eu vejo muito próximo da fotografia, acho que a fotografia de ambos se aproximam no sentido de que a gente vê muita intimidade, muita proximidade, como são caras que ficaram convivendo intimamente com essas personalidades ao longo de anos assim, ao longo de vários anos, uma vida inteira pública e política, e como você falou né, o Stuckert por exemplo é um que continua até hoje com o Lula então assim, tudo que passado o período dele como presidente vem acontecendo na vida dele, a prisão, agora recentemente a soltura, enfim tudo está sendo documentado por ele, então a fotografia, acaba que esses caras eles já quase que já passam despercebidos assim por essas figuras públicas, e aí conseguem atingir um nível de intimidade e de proximidade nessas fotos que é muito bonito, é muito poético, é muito íntimo assim ver essas pessoas, por exemplo o Barack Obama com as pernas em cima da mesa da escrivaninha da Casa Branca sabe, atingir esse nível de intimidade pra conseguir essas fotografias, então é uma admiração que eu tenho, na verdade acho que é até uma vontade que eu tenho ainda em desenvolver como profissional de imagem, seria acompanhar alguma personalidade, alguma figura pública ou alguma banda, algum artista durante um vasto período de tempo assim, pra conseguir chegar nesse nível de fotografia.

Henrique de Moraes – Legal cara, e é engraçado porque quando eu tava vendo a sua história, você passou por muita coisa, fez bastante coisa já né, agora parando aí em publicidade né, por enquanto, parou não né, chegou na publicidade agora, parando jamais, e eu percebi que você realmente, como você falou no início né, você é bem inquieto assim, você gosta de estar sempre se movimentando fazendo as coisas, e essa foi uma característica sua que eu achei bacana e queria explorar um pouco mais, porque por exemplo, você falou que chegou no Rio e já foi se envolvendo com galera de fotografia, com comunidade, movimentos, e eu acho que esse é um tipo de atitude que falta muito nas pessoas, não sei se falta, porque acho que não existe uma regra né, mas que eu sinto que as pessoas poderiam se beneficiar mais sabe, tipo de repente fazer mais networking, conhecer as pessoas sabe, se envolver, e eu queria entender se você sempre fez isso naturalmente, se você não precisou cultivar isso ou de alguma forma você cultivou isso, você leu em algum lugar ou você aprendeu a fazer networking e a se envolver nessas coisas de alguma forma sabe, se você aprendeu isso em algum lugar, e como que isso te ajudou também, como você vê que isso contribuiu pra sua carreira né?

Bruno Alencastro – É interessante porque com isso assim, perguntado dessa maneira eu tô aqui fazendo uma regressão e pensando, tentando pensar em origens disso e eu tô me dando conta na verdade que acho que sempre me acompanhou, eu sempre tive essa inquietação que por um lado ela vem de uma, que eu vejo uma necessidade mesmo de estar pensando em planos alternativos pra caso um dia eu seja surpreendido, pra caso um dia alguma coisa dê errado eu ter pra onde correr né, trocando em poucas palavras assim, eu acho que um pouco tem isso assim, um pouco tem uma autopreservação minha com relação ao mercado né, porque a gente está dentro do mercado da comunicação que por um lado em profundas mudanças assim, desde sempre, desde que eu me formei a gente vem acompanhando essas profundas mudanças tecnológicas, econômicas, sociais e que interferem diretamente no nosso mercado de trabalho, mas por outro também um mercado de alguma forma né, em alguns modelos de negócios, em decadência né, justamente por isso, por essas mudanças alguns modelos de negócio em decadência e aí a gente acompanha eventualmente demissões e alterações nesse modo de trabalhar, então eu acho que por um lado assim sempre foi uma autopreservação minha de tentar ok, estar empregado, ter meu emprego lá tradicional, convencional né, minha principal fonte de renda, aquilo que eu gosto de fazer e que me dá o meu sustento, mas por outro abrir, sempre tentar abrir portas e planos alternativos pra caso um dia isso acabe, isso mude e sei lá, ou eu mesmo canse daquele modelo e possa experimentar outras coisas, no sentido até de se testar sabe, no sentido de ter o meu trabalho mas ao mesmo tempo estar testando, experimentando e tentando ver se por acaso eu não poderia encontrar uma realização, uma felicidade maior num outro lugar assim sabe, acho que eu sempre, pensando agora sim perguntado dessa maneira, é uma coisa que sempre me acompanhou, aí se for pensar na minha trajetória eu me formei vai fazer 10 anos agora, me formei em 2010 em jornalismo lá no Rio Grande do Sul e logo que eu me formei eu fiquei dois anos, logo já entrei no mercado, trabalhei como fotojornalista e depois de dois anos no mercado, depois de dois anos de formado eu voltei para a universidade para fazer a minha pós-graduação, para fazer o meu mestrado e aí fiz o mestrado de 2012 até 2014 né, ao longo desses dois anos e logo que eu terminei o mestrado já abriu uma seleção para professor e eu encarei essa seleção e entrei, consegui ser aprovado para dar aula na universidade e aí fiquei compatibilizando as duas coisas assim, trabalhava tanto como fotojornalista durante o dia, quanto à noite né, no horário no horário noturno dava aula lá na universidade, e isso sempre foi muito tranquilo assim para mim, essas mais de uma frente e isso foi indo, isso começou eu tô falando lá em 2012, 2014 mas sempre depois que pensando assim, mesmo depois que algumas coisas foram mudando na minha vida, agora moro aqui no Rio de Janeiro mas logo que eu cheguei aqui também já fui tentar ir em busca de fotógrafos, conversar com gente, abrir possibilidade de trocar experiências através de workshops, de cursos de fotografia, de escolas, sentir o mercado, fazer parcerias assim, conhecer outros profissionais, contratar gente, contratar freelancer também para conhecer gente e isso é uma coisa que para mim é muito natural assim, acaba que eu tô lá no meu lugar de origem mas eu gosto de estar experimentando, de estar olhando para o lado por conta disso, por conta primeiro de uma experimentação mesmo, tentar provar outros sabores mas também por uma auto-defesa de saber que o mercado também tá, a roda tá girando, ele tá em transformação e daqui a pouco essa situação que a gente está vivendo agora pode ser que mude e a gente não pode ficar parado né

Henrique de Moraes – Perfeito, e eu acho que é uma forma de enxergar o mundo que é natural para você mas que mais gente poderia aproveitar, tipo olhar para isso e primeiro, ter curiosidade como você falou né, de testar coisas novas, de não se conformar com o que faz e buscar sempre informação, pessoas, porque quando você troca você acaba aprendendo um pouco né e isso também te constrói de certa forma, você tá sempre em construção, então quanto mais gente você conhece, quanto mais gente você troca mais a gente cresce tanto como ser humano como também nossa profissão, nosso ofício, e fora que é isso também, você conhecendo pessoas você tem mais oportunidades, não tem como negar, isso é matemático eu acho, que quanto mais gente você tem na sua rede, mais pessoas você conhece, mais fácil de você contar com essas pessoas se você precisar de alguma coisa e tentar resolver seus problemas.

Bruno Alencastro – Sim, total, e tem uma filosofia que eu nem tenho tanta propriedade pra falar sobre ela porque é muito recente na minha vida mas uma das minhas mudanças, outras mudanças provocadas com essa mudança geográfica que foi vir do Rio Grande do Sul aqui para o Rio de Janeiro né, entre tantas outras, de abandonar o frio e não saber mais o que é inverno né, aproveitar a vida ao ar livre até altas horas da noite, tudo isso que são mudanças de comportamento mas mas teve uma outra que também me foi propiciada com a vinda pra cá, que eu comecei a fazer algumas aulas de yoga, ainda sou novato, sou um apenas um cara que olha para isso com ainda uma curiosidade e um apreço, distante assim, alguém que está se aproximando mas uma das primeiras coisas que me encantou e que me fisgou pra continuar nessa prática e tendo curiosidade de saber mais sobre ela é um ensinamento de ter a compreensão de que a gente é tão ínfimo e pequeno no sentido de ter criatividade e imaginação para o mundo inteiro de coisa que pode acontecer e que a gente nem sabe assim. É um papo meio viajandão assim, um papo meio doido de abstração, mas eu acho ele muito verdadeira e para mim faz total sentido pensar que aquele momento de meditação, de relaxamento que a gente não tem nem poder de criatividade pra imaginar tudo que a vida pode nos oferecer, eu concordei muito com isso, pra mim serviu total o chapéu e eu acho que é por conta muito disso que a gente tá falando assim, a gente começa a se aproximar de pessoas, a gente começa a abrir caminhos e possibilidades que vão nos levar para um lugar que daqui a pouco a gente nem sabe ao certo e não sabe nem em que momento, mas foi a partir disso, foi a partir de uma gravação num podcast que eu fiz com Henrique que daqui a pouco eu tô sendo chamado ou eu tô sendo convidado para entrar numa outra história lá que eu nem imagino que veio a partir dessa nossa conversa, mas que veio.

Henrique de Moraes – É verdade. Cara, muito legal esse ponto de vista que você trouxe e eu acho que é importante também, eu sempre tenho a sensação né, você falou muito mais no sentido da criatividade, da criatividade da gente não ter nem noção do quanto que é possível né, mas mesmo no sentido físico assim de você, por exemplo toda vez que eu ando de avião eu olho pra baixo, toda vez eu tenho a mesma sensação e eu acho que eu tenho que sei lá, tatuar isso em algum lugar ou gravar de alguma forma pra eu não esquecer assim que eu desci do avião, que é, eu olho pra baixo e vejo as casas pequenininhas, os carros, principalmente quando tá decolando ou quando tá pousando, e eu fico “Cara, a gente trabalha a vida inteira pra comprar uma merda dessa?”, que é tão pequenininho sabe, tipo uma porrada de espaço, a gente pode fazer o que quiser e a gente fica naquele naquele ciclo, naquela roda de hamster, trabalhando e pagando conta, pagando boleto, pra ter um apartamento que é um pedaço do ar, você não tem nem um terreno, tem um pedaço do ar, cara e sempre me dá um bug assim, me faz refletir assim sobre como a gente vive numa vida que foi imposta pela sociedade, enfim, não vou tentar filosofar tanto aqui mas é isso, a gente acaba vivendo uma coisa que é o normal né, que botaram pra gente que é o certo e a gente não questiona essas coisas né, a gente não para pra falar “Cara, tô me matando para isso aqui, vale a pena?” sabe, tipo eu posso viver com menos e ser mais feliz, ter mais liberdade ou não, você pode tentar moldar a sua vida da sua maneira mas de qualquer jeito é importante ter essas perspectivas, você enxergar sua vida de outro ângulo para você conseguir olhar pro todo e falar assim “Cara isso que eu tô fazendo faz sentido?”, tanto que eu acho esse momento nosso tá sendo muito isso né, a gente tá olhando para tudo com um ângulo completamente diferente, e aí tá todo mundo repensando tudo sabe?

Bruno Alencastro – Total, totalmente, todos os os amigos e as conversas que eu tenho feito neste momento elas se pautam exatamente sobre isso assim né, tá todo mundo pensando desde hábitos de consumo, alimentação, ao lugar onde vive.

Henrique de Moraes – Às vezes é uma coisa que é, a gente precisa de um choque desse né pra colocar as coisas em pauta de certa forma, e eu sei que para mim também tem sido muito importante, tenho aprendido muito e inclusive eu tava até escrevendo sobre isso, eu agora coloquei o compromisso de escrever um texto por dia e postar nas redes sociais, o postar nas redes sociais é só para poder ter o compromisso, porque a partir do momento que você fala que vai postar todos os dias você acaba se obrigando a postar todos os dias, e aí eu vou escrevendo coisas que eu vou observando, enfim, depois vou transformando em textos e eu tava escrevendo esses dias exatamente sobre isso, que o meu medo é de quando tudo voltar ao normal, da gente esquecer tudo o que a gente passou, sabe, porque eu não sei se você já teve essa sensação, de repente você fez uma viagem por exemplo, enquanto você tá viajando você tá assim “Caraca, minha vida mudou, preciso lembrar disso, a partir de agora vou mudar isso, mudar meus hábitos, mudar minha vida e vou ser uma pessoa diferente por causa dessa experiência que tô tendo aqui”,e aí você volta, pisa o pé no aeroporto e já tá tudo normal de novo.

Henrique de Moraes – É cara, pior que tem isso mesmo. Eu tava justo agora também por conta desse novo projeto que é o “obs-cu-ra” que daqui a pouco a gente vai falar dele mas que eu tava falando com alguns amigos fotógrafos e um deles falou exatamente isso assim, ele veio com essa visão um tanto até pessimista de uma maneira, mas que não deixa de ter um pouco de realismo nela que é sei lá assim, imaginar que daqui a pouco com sorte as pessoas, pesquisadores e pesquisadoras realmente consigam desenvolver alguma cura, alguma vacina, algum sistema de conter essa pandemia e quando voltar, a coisa volte a ser como era antes sabe, eu tendo a ser um pouco mais otimista que ele mas não deixo de perceber também o quanto que tem de consciência neste pensamento que que o ser humano é um bichinho bem complicado mesmo e tomara, tomara que a gente esteja enganado e tomara que isso tudo faça um sentido maior assim e perene, algo que fique mesmo e que deixe algum legado positivo.

Henrique de Moraes – Eu acho que cabe também a todo mundo, a cada um né, conseguir colocar essas lições e aprendizados no papel e registrar isso de alguma forma sabe, pra também não esquecer porque a gente, e tô me colocando aqui nesse cesto, a gente tende a esquecer as coisas muito rápido, então especialmente as coisas que são mais difíceis, eu acho, acho que tudo na verdade, a gente esquece tudo. As lições a gente esquece, a gente fica com a memória romântica das coisas e então um exercício que eu tenho tentado fazer é esse, de colocar as coisas no papel pra primeiro registrar né, pra isso internalizar mas também para lembrar depois, ter um registro e poder voltar nisso e falar “Caraca, escrevi isso aqui na época e não to vivendo nada, não tô fazendo nada disso que eu falei que ia viver na vida”, tipo quais eram minhas metas, então uma coisa que tem mudado muito a minha vida, eu tive uma filha há pouco tempo, minha filha tem 10 meses, e acabou que eu tenho aproveitado muito o tempo com ela, por mais que às vezes sejam pequenos momentos, de eu estar trabalhando e aí eu vou na sala e ela tá ali com a minha esposa e eu brinco um pouquinho com ela e ela ri, sabe, faz uma diferença no meu dia enorme, eu fico assim “Porque eu ficava no escritório o dia inteiro antes?”, então essas coisas eu acho que se a gente não registrar, conforme as coisas forem voltando ao normal e começar a rolar cobrança inclusive, de que as coisas voltem ao normal, porque a gente não consegue ter uma gerência tão grande na nossa vida, sobre a nossa vida, acaba que tudo o que acontece externamente influencia diretamente nossa vida, então talvez por isso a gente esqueça também né, mas acho que tenho uma coisa que todo mundo poderia fazer, tipo tentar anotar e registrar bastante assim, tentar internalizar tudo que tá aprendendo nesse período para não deixar que essas coisas fiquem para trás e como você falou, que sejam mudanças mais perenes né.

Bruno Alencastro – Ai que bom, é uma ótima, é uma ótima estratégia mesmo e que está acessível a todo o mundo e seja escrita, seja no meu caso aqui pensando visualmente né, e aí tem uma infinidade de projetos e de trabalhos também que estão pautados por conta dessa pandemia, tem uns mais objetivos e diretos, até meio duros assim né que são essas fotografias estão sendo produzidas, outros através de uma visão mais artística, mais conceitual assim de fotógrafos que também estão abstraindo e contando sobre isso que tá acontecendo ou seja, seja através de texto, escrita, de linguagem visual, de alguma forma registrar isso para lembrar, excelente.

Henrique de Moraes – Com certeza. Mas cara, vamos voltar aqui pra sua história. Você se formou em 2010 né, que você falou, e 2010 foi o ano de lançamento do iPhone 4 e foi o ano de lançamento do Instagram, ou seja, quem já se achava ali super fotógrafo profissional com uma câmera digital postando no Facebook, com o Instagram teve certeza né? “Sou foda, sou o melhor fotógrafo que existe, não preciso mais de ninguém”, e a gente, o momento do Instagram acho que foi uma das maiores rupturas nesse sentido né, e acho que a gente foi tendo, com passos de formiga, teve Fotolog, teve câmera digital, teve Orkut, teve Facebook mas acho que a partir do Instagram a imagem, a foto, se tornou mais relevante para as pessoas e eu queria entender um pouco se você sentiu alguma mudança, e se você sentiu, que mudança foi essa e como impactou no seu trabalho, na sua percepção inclusive do que você faz?

Bruno Alencastro – Henrique eu me sinto um privilegiado na verdade de estar vivendo esse período histórico assim de desenvolvimento tecnológico que a gente, que eu tenho vivido assim dentro da profissão que eu escolhi para mim porque, e além de tudo também um sou apaixonado pela história e por entender essas rupturas que vão acontecendo ao longo da história da humanidade, ao longo da história da arte assim, se for pegar o campo da comunicação e sem dúvida eu pesquisei esse movimento tecnológico e quanto que ele impacta o comportamento das pessoas, e sinto isso na pele então eu acho brilhante assim que tu traz esse dado do surgimento do Instagram como um marco, como um paradigma novo que se instaura na questão de produção e reprodutibilidade das imagens e eu comparo ele na verdade é um fenômeno que guardadas as proporções, eu acho que ele é tão paradigmático assim que aconteceu que foi o surgimento do filme fotográfico né, esse rolo de filme quando o seu Kodak lá, o seu George Eastman né, criador desse império que depois veio a ser a Kodak, foi o cara que patenteou e desenvolveu o filme né, a bobina de filme pras pessoas colocarem dentro de uma câmera e aí sim democratizou o acesso das pessoas à produção visual, isso a gente está falando lá do final do século 19 assim, na virada para o século XX, foi esse cara que fez isso e aí mudou completamente, a vida passa a ser narrada e documentada por meio de fotografias né, até então nessa época, e aí a gente pega, passa lá um século depois a gente chega nos anos 2000 e instaura, inaugura esse novo marco assim que eu acho que pensando para o meio social e para sua época é tão paradigmático quanto, ou seja, chega um momento em que todo aquele desenvolvimento tecnológico que vem acontecendo lá desde os anos 90, fotografia digital começa nos anos 90, a internet discada, enfim, toda essa evolução culmina nos anos 2000 e nos anos 2010 precisamente com essa junção de smartphone, internet, fotografia, compartilhamento, Instagram, e aí a fotografia atinge um nível de produção, a linguagem dela passa a ser modificada, a gente passa a cada vez mais conviver com essa, lá no começo se falava muito dessa nova modalidade de fotografia que era o selfie, enfim, a fotografia mais “banal” do cotidiano, onde tudo é fotografado, tudo é documentado, cara eu vejo com muita empolgação assim eu olho para tudo isso primeiro como um cara pesquisador da imagem, alguém que gosta de ler e pesquisar sobre né, vejo essa admiração, mas depois como produtor né, ou seja isso condicionou totalmente a forma como que eu venho conduzindo meu trabalho ao longo desses 10 anos aí que eu tenho me dedicado à produção visual, e aí uma das consequências disso é chegar nessa maturidade já que dá para se dizer depois dessa caminhada por algumas experiências, com fotojornalismo, com vídeo, com fotografia aérea de drone, com fotografia 360 graus, com redes sociais, enfim,  eu olho para tudo isso e fica até difícil de me conceituar assim, de me categorizar como o que sabe, o que que eu sou no meio de tudo isso, eu chego nesse momentos de preencher formulário assim, vai chegar e fazer check-in no hotel tem que colocar lá profissão, é difícil para mim sintetizar isso, eu sou jornalista por formação, trabalho como produtor de imagem né, não só fotógrafo mas o cara que faz vídeo, cara que pensa estratégia e para mim é caro assim, tanto é que para mim hoje é mais fácil me definir como um cara sei lá, um especialista, alguém entusiasta de narrativas visuais né, para além da própria fotografia, eu gosto de pensar como narrativas visuais que independe do que vai ser, do formato que vai ser, de qual plataforma que eu vou ocupar esse meu trabalho, se vai ser impresso, se vai ser digital, se vai ser vídeo, se vai ter movimento, se vai ter som, enfim, moldou totalmente assim o jeito como eu penso, como eu vou conceber a imagem e como eu vou produzir ela sabe, eu tô total dentro desse universo e vejo ele com muito entusiasmo assim, me encanta olhar para a tecnologia e para imagem e ver esse casamento assim que hoje acontece e que não tem limite assim o que a gente pode fazer com essa poderosa dessa ferramenta e dessa plataforma que a gente tem na mão.

Henrique de Moraes – É verdade, e é engraçado né que você fala de narrativas, e acho que esse é o ponto que talvez as pessoas deixem passar né porque, tem um termo que eu ouvi alguns meses atrás que se chama “the good enough media”, que é um pouco desse universo que a gente vive em que às vezes vezes um meme tosco de um boneco de palito vale mais e vende mais pra uma marca, por exemplo, e como eu também sou do mercado de comunicação, vende mais pra uma marca do que por exemplo uma mega produção feita que gastou milhões de dólares, então as marcas estão tendo que se reinventar e entender seu papel no mundo neste novo modelo né, na verdade o que importa é a narrativa, como você conta sua história, como você envolve as pessoa e quão disposto você tá a participar das conversas e não tentarem impor o seu discurso, que é o que as marcas faziam e eu acho muito legal assim, achei muito interessante essa forma como você se define porque de certa forma se encaixa muito com o que eu acho que a publicidade deveria ser agora né, de você olhar para a sua marca, olhar para o cliente no nosso caso né, como agência, e entender qual é a história que você quer contar ali e em qual cenário você tá inserido sabe, qual movimento cultural tá acontecendo e como é que você encaixa todas as coisas e conta uma história que faz sentido nesse contexto, e eu acho que muita gente tem errado, não sei como é que você enxerga isso e especialmente se você consegue enxergar valor também nas imagens que são feitas que não tem o olhar profissional sabe, mas que tem o olhar do momento, porque por exemplo, nem sei se esse é um exemplo bom, mas quando eu vi esse termo “the good enough media” eu vi por causa do daquele rapper Kanye West, que a capa do CD dele foi uma foto que ele tirou com o iPhone dele, uma paisagem e isso trouxe uma reflexão em torno dessa coisa toda que antigamente você contrataria um designer ou uma empresa, uma agência pra fazer sua foto, sua capa do CD porque era aquela coisa importante, e o cara foi lá, pegou a foto dele, botou um textinho escrito à mão e “Cara, isso aqui é minha capa do CD”, e não teve nenhum impacto negativo no lançamento do CD dele pelo contrário, saiu uma repercussão positiva porque ficou, acabou virando assunto né, gerou mídia espontânea, então não sei como é que ele entendeu um pouco como você enxerga esse momento que a gente vive onde que às vezes um meme vai ser mais importante para gerar algum movimento cultural por exemplo do que uma produção de milhões de dólares de uma empresa.

Bruno Alencastro – Eu concordo totalmente assim, eu acho que aí vai muito também disso que a gente falava sobre sobre tecnologia sabe, eu acho que hoje com essa democratização do acesso né, positiva, benéfica que eu comemoro, que as pessoas hoje em casa poderem ser produtoras de conteúdo com muito pouco, não sou tão entusiasta assim também a ponto de ser esses puristas, idealistas que falam “Ah, só com celular a pessoa já pode fazer grande coisa”, ok tudo bem, só com o celular ela pode fazer muita coisa mas vamos complexificar um pouco mesmo que seja com algum microfone, uma câmera simples, uma estrutura muito simples, de fato as pessoas conseguem ter em casa um estúdio de gravação, de podcast, de vídeos, de vídeo aula, de o que quer que seja sabe, eu acho que essa democratização dos meios, tanto de acesso né, canais, cada um pode ter um canal pode ter um site, pode ter uma rede social enfim, quanto tecnológica mesmo né, se barateou mais os equipamentos da concorrência, fez com que também alguns deles ainda, muita coisa é muito cara, mas alguns deles fossem mais acessíveis então a partir desse momento em que todo mundo tem acesso aos equipamentos, e aí tem um caso pra mim que ele é muito simbólico também, que foi nesse período que eu trabalhava com fotojornalismo, o momento em que a empresa que eu trabalhava comprou um drone né, foi lá e adquiriu um drone no começo assim, quando o drone tava começando a ser um equipamento diferente, diferenciados, e aí estavam lá entusiasmados, animados né com essa nova possibilidade de olhar a cidade, de fazer fotos, chegar à lugares que antes era impossível ou então muito caros, tem que contratar um helicóptero para fazer imagem aérea e tal, e aí aquilo banalizou de uma maneira que tudo era fotografia de drone, o jornal só queria fazer fotografia com drone, drone, drone, agora vamos fazer imagem com drone, imagem com drone porque a gente tem esse drone, é diferente, não sei o que. Bom, passados alguns anos né, chegamos nos dias de hoje, nos anos 2020 e qualquer pessoa, qualquer aventureira, entusiasta tanto de aviação quanto de fotografia, a pessoa vai lá, entra em qualquer site aí, compra drones de todas as marcas possíveis e tá todo mundo fazendo imagem aérea com drones, ou seja, chega no ponto em que o equipamento ele não é mais o diferencial da coisa, não adianta tu achar que com o equipamento “Ah eu sou uma empresa, agora eu tenho equipamentos e vou conseguir construir algo único”, não, vai passar um tempo e todo mundo vai ter acesso, o acesso é fácil, é rápido, é democrático, e aí mais do que nunca o que se destaca no meio de tudo isso é um clichê né, mas eu acredito muito nesse clichê, que é o lance da ideia, não adianta, não vai, não tem como assim, não tem como num mundo globalizado, midiatizado, com todo mundo tendo acesso à informação,e produzindo informação e consumindo informação, a gente não destacar que o diferencial acaba que é uma ideia, não adianta né, é a partir desse, do profissional com seu repertório, com a sua bagagem, com o seu penso, ter um insight que daqui a pouco esse insight pode ser, esse exemplo do meme que tu trouxe assim né, mas pode ser algo simples, pode ser algo muito simplório mesmo, rudimentar, que exija muito um pouco do ponto de vista de custos, de captação, mas que tem uma concepção, um conceito e um penso muito estratégico para falar sobre aquele momento, pra sintetizar, pra impactar de uma maneira né, empacotar esse conteúdo de uma maneira que vai fazer total sentido assim, então é interessante que a tecnologia ela gera isso, ela gera primeiro, uma corrida em busca destes equipamentos, dessa qualidade, mas lá no fim o que vai valer acaba que volta a ser a parte do conceito, a parte da ideia, parte do storytelling e do penso né.

Henrique de Moraes – Sim, com certeza, a questão maior que a gente vive aí já bem dentro da nossa área né, é mudar o paradigma e de vender espaço de midia na TV né, que eu acho que aí tá o maior problema, porque a partir do momento que você tira a dependência do modelo atrelado a mídia né, você ser comissionado pela mídia, você pode pensar qualquer coisa, e aí foi o que você falou, qualquer ideia por mais simples que seja ela pode, e mais simples no sentido total né, de ser às vezes low budget, ser fácil de executar, rápida, e a velocidade hoje em dia é muito importante, tem um exemplo que eu acho que sensacional que é da Mutato, que eles atendem Netflix e quando tava tendo toda a loucura na época lá do impeachment da Dilma, eles postaram no perfil do House of Cards “Tá difícil competir”, cara qual custo tem isso? Cara, isso repercutiu de uma maneira muito melhor, muito maior do que qualquer investimento que eles fizessem em TV, maior do que qualquer filme que eles fizessem pra rodar em pre roll lá do YouTube, é surreal e é isso, é um pouco de você não estar focado tanto em como você vai ganhar dinheiro e sim em ter ideias legais pra marca, pra quem você tá atendendo, pro seu cliente e também do cliente apostar na sua ideia, porque isso poderia ter tido uma repercussão complexa né, e Netflix comprou a briga, e tiveram tweet piores que ele fizeram depois, mas esse é um exemplo que eu acho que é bem legal. Mas cara, voltando aqui pra sua história então. Eu li que você, depois que você se formou trabalhou 3 anos seguidos na Feira do Livro de Porto Alegre né, parece que no primeiro você foi lá para fazer legenda das fotos de alguém, de alguma pessoa que estava mais no comando lá e depois no ano seguinte você voltou para fazer a mesma coisa só que você já levou a câmera aí foi fazendo algumas fotos e algumas fotos foram publicadas e no terceiro ano você foi chamado como fotógrafo, é essa a história?

Bruno Alencastro – Exatamente, exatamente isso assim eu, enfim ainda quando cursava jornalismo e interessado por fotografia e pelo fotojornalismo começou a chegar no final do curso e eu comecei a ficar um pouco angustiado com relação ao mercado de trabalho né, já tinha um pouco essa realidade de mudanças e de diminuição das redações de jornal, essa coisa que durante muito tempo foi esse império, redações grandes, de muito dinheiro, de viagens e de tudo mais, eu já comecei a viver uma época em que por conta de toda essa concorrência que a gente tá falando né, de tecnologia de mudanças, as redações diminuindo, não sendo tão grandes quanto eram antigamente e eu pensando que eu precisava de alguma maneira me inserir nesse mercado e ser visto né, acima de tudo ficar conhecido e abrir oportunidade para mostrar meu trabalho, e aí foi isso, na época a primeira oportunidade que eu tive para trabalhar com fotografia foi no setor de fotografia, mas ainda não fazendo foto né, que é dentro desse evento que é super grande assim, tem uma repercussão estadual no Rio Grande do Sul que é a Feira do Livro de Porto Alegre mas que acaba impactando o estado inteiro né, que é a maior Feira do Livro a céu aberto da América Latina, um evento que dura 15 dias, quase 20 dias e gigante assim, ocupa boa parte das ruas no centro da cidade e tal, então um evento grande assim sim e aí a oportunidade que eu recebi por esse evento foi para trabalhar no setor de fotografia mas ainda não fazendo foto, legendando as fotos que chegavam lá e aí eu topei né, primeira oportunidade que tinha, eu “Não, vamos lá, vou estar trabalhando com fotografia de uma outra maneira”, e ainda estudante assim e aí depois logo depois de formado eu voltei inicialmente para fazer esse mesmo, desempenhar essa mesma função, de estar mais lá na parte da cozinha né por assim dizer, lá preparando o material e colocando ele, disponibilizando as fotografias para que os interessados pudessem, os jornais pudessem se abastecer dessas fotos, assessoria de imprensa mesmo do evento, mas aí ká levei a minha câmera junto, então fazia lá correndo a minha função e aí sobrava tempo para pegar a câmera e dar uma volta pela feira e fazer fotos que não eram fotos da agenda, não tinha nenhum evento que eu ia cobrir mas eu fazia fotos soltas assim, fotos de cotidiano, das pessoas e suas relações com a leitura, com o livro e isso começou a chamar atenção né desse setor de fotografia assim, principalmente na figura de um fotógrafo que era o coordenador dessa área toda e começou a ver essas fotos que eu tava fazendo assim sem compromisso, sem ninguém me pedir e começaram a ganhar repercussão, e aí de novo né a gente vai entrar no Instagram e justamente nesse momento que também eles criaram o Instagram da Feira do Livro, e aí já tem essa resposta direta das imagens, uma vez postada já tem a repercussão das pessoas curtindo, comentando, e aí começou a ganhar uma repercussão essas fotos a ponto de aí no outro ano né, a feira acontece todo ano, eles me contrataram aí sim na condição de fotógrafo para trabalhar no evento, para cobrir o evento, e aí foi uma experiência que eu guardo com muito carinho assim, bem gratificante para mim de pensar essa construção assim a curto e médio prazo em busca de um objetivo maior e ali eu acredito que foi esse evento, que ele tem uma repercussão estadual né que eu falei, que acabou me colocando também como fotógrafo conhecido assim nesse cenário para daí algum tempo depois entrar no primeiro jornal que eu trabalhei lá, um jornal super antigo e tradicional que tem no Rio Grande do Sul que é o Correio do Povo e mais tarde do Correio do Povo ter sido chamado para trabalhar no jornal Zero Hora, outro também bem conhecido lá no estado, principal jornal que tem lá no estado e que na verdade pertence à um grupo inteiro de comunicação, de rádio, de TV e de jornal, e que foi onde eu desenvolvi assim a maior parte da minha carreira como fotojornalista que eu fiquei lá ao longo de 6 anos.

Henrique de Moraes – Cara, você falou né sobre curto, médio prazo, dessa construção que você fez e me chamou atenção quando eu li esse pedaço da sua história é que 2 a 3 anos né, que foram na verdade, pra quem tá começando no mercado hoje em dia e que vive esse mundo acelerado, é uma vida né, e eu fiquei pensando nisso, eu queria te perguntar inclusive se você acha primeiro, se quem tá se formando agora teria essa paciência né de fazer essa construção que você fez porque né, são 3 anos, a gente olhando agora pra trás parece rápido né, porque sempre quando a gente conta a história parece rápido né, parece um filme “Não, foram 3 anos ali, insisti e tal”, é que nem a gente fala de sucesso da noite pro dia né, que as pessoas falam “Não, o cara estourou do nada”, e aí você vai ver e o cara tem 10 anos empreendendo e tipo falindo empresa sabe, e se você acha que as pessoas teriam essa paciência a não ser você provavelmente contrata Três anos ali assistir tal é que nem a gente fala de sucesso da noite para o dia né que você fala não o cara foi estourou do nada aí você vai ver o cara tem 10 anos tem emprego e você você acha que as pessoas teriam essa paciência a não ser, você provavelmente contrata pessoas lá pra agência, lida com pessoas mais novas, você deve ter um pouco dessa sensação né, e se você acha que ainda é preciso dar tempo ao tempo sabe, como você fez ou se o próprio mercado hoje já também se adaptou à essa velocidade e exige um pouco disso também, como é que você enxerga isso?

Bruno Alencastro – Eu acho que na verdade mudou um pouco assim, eu acho que eu ainda tô falando de um contexto ali dos anos 2009, 2010, em que essa coisa tinha ainda, esse contexto tinha uma outra temporalidade assim sabe, acho que ainda a gente tava começando a caminhar pra esse mundo né, como a gente falou é nesse ano que surgiu o Instagram assim, esse paradigma né, então assim a coisa ainda tava começando a acontecer nesse cenário de conexões e de oportunidades e de velocidade mesmo da informação e por consequência a velocidade do mercado e de movimentação das agências, dos profissionais né, eu acho que eu ainda tava num momento em que isso acontecia numa outra temporalidade assim, a coisa de ter algumas oportunidades e naquelas oportunidades era aquele momento de brilhar, por exemplo é uma vez por ano que acontecia o evento e naquele momento tinha que brilhar porque depois só no ano que vem isso ia acontecer e também diz muito sobre um pouco do contexto onde eu estou inserido né, eu estava inserido naquele momento num contexto de um Estado que tem as suas manifestações artísticas e culturais mas ainda assim muito limitado a ponto de por exemplo eu trazer como caso esse da Feira do Livro que é um evento que se destaca no calendário assim, a gente não tá falando de uma capital também tão efervescente de eventos e de oportunidades em que ok, o fotógrafo vai lá, faz um trabalho nesse evento e depois já corre para o outro e aí o trabalho dele é visto no outro e por aí vai né, quando a gente tem uma produção maior de acontecimentos, nesse sentido eu vejo agora morando aqui no Rio de Janeiro uma visão de fora do Rio Grande do Sul assim, de um estado enfim, politizado, de um estado de leitura, intelectuais mas na prática assim vivendo lá não é bem assim, sabe, tem ainda muito o que caminhar no sentido de manifestações culturais, de programação, de agenda, que não acontecem tanto assim então eu acho que por conta disso e também por conta de ainda estar num começo de uma arrancada de comunicação e de negócios e de velocidade, esse tempo era diferente, eu  imagino que hoje nem eu tenha mais essa paciência de daqui a pouco apostar tanto, tanto, tempo no mesmo projeto sem essa certeza de que algo vai acontecer mas por outro lado também, acho que agora nesse cenário, nesse contexto na contemporaneidade nem precisa na verdade esperar às vezes tanto porque a coisa caminha numa velocidade que essa distância e tempo dá para ser encurtado hoje em dia né, é muito fácil a gente conseguir circular por eventos e criar redes e oportunidades sem ter que esperar esse tempo mais largo, e é claro, também tem que cuidar para não cair num outro extremo, e que eu sinto um pouco né, quando você me perguntou sobre os profissionais e às vezes eventualmente contratar gente, olhar para essa geração nova que vai se formar, que tá se formando, às vezes eu sinto um pouco uma ansiedade que daí já tem que cuidar para não ser tão exacerbada assim, uma ansiedade tão intensa e quase uma falta de paciência também com as coisas assim né, num outro nível daí, num radicalismo ao contrário assim, não é nem aquele tempo mais largo e mais tranquilo que a gente tinha há um tempo atrás mas também não é nem essa loucura frenética de ansiedade de achar que “Ah, eu tô aqui há três meses nesse emprego, nunca vou ser promovido, não vou ficar aqui minha vida inteira”, julgando como se 3 meses fosse uma vida inteira e já quer partir pra outra e já quer também achar que a coisa funciona de uma maneira que nem sempre é né, então eu acho que é tentar procurar balizar esse meio do caminho assim, entre uma coisa e outra pra não cair nesses extremos.

Henrique de Moraes – Verdade cara, às vezes eu fico dizendo, acho que nosso mercado de agência, de comunicação, isso ainda é mais evidente, as pessoas tem muita pressa, elas pipocam de um lugar pro outro muito rápido né, e mas eu acho que também é tudo misturado, o mundo, a velocidade do mundo, a velocidade das pessoas jovens que também estão, tô me sentindo um velho agora falando jovens agora, mas acaba que tem uma diferença né, das pessoas mais novas que tão entrando no mercado de trabalho agora, elas já vivem, já nasceram, foram criadas com a rede social e essa coisa da velocidade, de você ter gratificação instantânea né, então assim, a gente tá aprendendo a lidar com isso, a gente é meio velho e às vezes se irrita, a gente sabe que a gente é velho quando se irrita com isso, tipo assim “Ah, porra tô de saco cheio, o Instagram tá me deixando meio ansioso”, o que a pessoa nova nem percebe, o ansioso é normal pra ela, é meio esquisito. Cara, eu queria que você contasse a história da sua foto premiada do Superman, porque eu achei a história muito fantástica e como tudo se desdobrou, o que você fez com o prêmio, o que você ganhou enfim, você pode contar essa história?

Bruno Alencastro – Cara, muito legal é uma bela lembrança, uma bela recordação que eu guardo assim, na verdade tem algumas fotografias que eu olho para trás e vejo que são ao mesmo tempo em que elas são a confirmação de que eu fiz a escolha certa, pra mim eu sempre tive uma necessidade ao longo da minha trajetória né, que sempre nem sempre é de certezas, muito longe disso né, ela é de muita insegurança e parece que de comprovações assim que a gente quer para saber se a gente fez a escolha certa, se a gente está no caminho certo, tem algumas fotografias que eu olho para trás e que me mostram isso assim, o valor que que a escolha da minha profissão me deu e me trouxe não só para mim como para outras pessoas, e também como portfólio, é uma das fotografias que eu guardo com muito carinho assim como um portfólio de uma conquista de algo que fui eu que fiz assim sabe, um orgulho como profissional por um trabalho feito assim, tem esses dois pesos, esses dois valores pra mim, na verdade é uma fotografia que eu fui cobrir uma pauta de dia das crianças né, era um sábado de manhã e caiu lá para mim fotografar uma ação que aconteceu no hospital de criança né, na verdade no setor de oncologia de um hospital infantil que tem lá em Porto Alegre em que aconteceu uma ação nesse dia né, pra comemorar o Dia das Crianças, alguns não alpinistas assim, mas são os profissionais que trabalham na limpeza das janelas, das fachadas dos prédios, esses caras que tem que ter uma formação em alpinismo, agora não sei exatamente qual que seria o nome da profissão deles mas são esses caras que ficam pendurados ali fazendo rapel pelo lado de fora das janelas pra fazer a limpeza, esses profissionais, um grupo desses profissionais se juntou pra se fantasiar de heróis né, de super-heróis, então tinha lá o Batman, o Super-Homem, o Homem-Aranha, enfim, pegaram os principais super-heróis do imaginário infantil e se fantasiaram desses personagens, porque daí eles iam ficar passando pelo lado de fora da janela e essas crianças que estão lá em tratamento, muitas vezes isoladas e que não podem ter contato né, estão muito debilitadas, com imunidade baixa, pelo menos de alguma forma iam ter um pouco de magia, um pouco de encanto no dia das crianças, e aí eu fui cobrir essa pauta, caiu para mim lá um dia, a gente chega no jornal e não sabe o que vai acontecer e aí acabou que caiu para mim essa pauta e eu fui para lá, chegando lá eu e a repórter a gente estava um pouco com receio de ter chegado atrasado e aí de fato quando eu tava descendo do carro do jornal eu já olhei e os caras já estavam na metade da descida assim pelo lado de fora do hospital, e aí eu fiquei maluco assim “Eu não acredito, eu vou perder essa foto”, e na minha cabeça quando eu tava indo pra pauta, já me preparando né, já pensando qual a situação que eu ia encontrar, que lente que eu ia usar, como é que eu ia pensar essa fotografia né porque a gente vai pensando já como é que a gente vai criar e tal, obviamente depois chega no lugar e nem tudo sai como a gente planejou, mas pelo menos já vai criando alguma estratégia de como é que vai se comportar lá e tal, e aí para mim essa imagem ela tinha que acontecer de dentro para fora né, tinha que estar lá dentro dos quartos mostrando esses caras do lado de fora do prédio, e aí eu cheguei os caras já estavam descendo do rapel pela metade, e eu troquei a lente, achei que eu ia usar uma lente mais curta tive que colocar uma lente mais tele pra pegar à distância e comecei a fotografar alucinado sem parar pra garantir alguma foto pelo menos assim, e aí enfim, terminou a descida deles, eu não consegui entrar no hospital, fiz tudo pelo lado de fora e fiquei olhando muito frustrado assim, pro visor da minha câmera e vendo as fotos e só imaginando assim “Eu não acredito que eu não fiz essa foto lá de dentro”, e ao mesmo tempo olhando para os lados e percebendo que não tinha mais nenhum jornalista ali né, que era uma pauta que interessaria vários jornais e TV e não tinha ninguém ali do lado de fora, só tava eu, e aí eu ainda fiquei pensando “Gente, e ainda vou ser cobrado porque eu não tô com essa equipe que deve estar lá dentro fazendo essa foto”, enfim fiquei muito frustrado assim e já tava achando que não ia ter uma imagem para oferecer lá para o jornal de tão sem graça assim que ficou, só um personagem imagina, o que eu consegui traduzir é um cara vestido de super-herói colado num vidro sem ter emoção sem ter nada, contavam isso naquele momento, e aí a gente foi lá pra repórter fazer as entrevistas, conversar com as pessoas e assessora de imprensa nos olhou, viu nosso crachá, nos reconheceu como jornalistas e aí falou “Ah vocês chegaram? Já aconteceu a primeira descida, eles estão indo para fazer mais uma descida agora”, e aí eu nossa, minha vida mudou completamente porque aquilo que eu achava que tava perdido felizmente ia acontecer mais uma ação porque eles não deram conta de passar por todas as janelas do hospital, e aí iam fazer uma nova descida. E aí aconteceu o cenário, eu saí do pior cenário para o melhor cenário porque daí todos os jornalistas que estavam lá dentro, cinegrafistas, câmeras, TV, microfone, outros fotógrafos, todos eles saíram para o lado de fora para fazer essa imagem do lado de fora e eu apenas assim sozinho fui lá para dentro para fazer essa segunda descida só eu assim, então geralmente quando tem muitos profissionais juntos para documentar algum acontecimento, às vezes a gente não consegue fazer a foto que a gente imagina porque tem lá que dividir espaço, fica se cotovelando lá com outro cinegrafista, outro fotógrafo, dividindo, concorrendo pra quem é que vai fazer a melhor imagem e tal, e nesse caso eu não passei por nada disso, eles passaram por tudo isso quando estavam lá dentro e eu na segunda descida fiquei sozinho lá para fazer as minhas fotos, então eu pude me preparar, pude transitar pelos quartos, olhar onde é que eu tinha uma luz legal, onde é que tinha o personagem e tal e aí eu tive um feeling quando tava passando por alguns quartos, eu olhei para um garotinho numa cama, a cama dele bem encostada na janela bem perto da janela, e ele esperando porque ele não tinha visto ainda, ele não foi um dos contemplados na primeira descida, tava lá meio tristonho porque não tinha visto o super-herói, e o pessoal falando pra ele “Não, mas eles vão vir de novo, espera que ele vai vir”, então ele já tava mais ou menos se posicionando, coladinho na janela olhando curioso pelo lado de fora, e por conta do tratamento que ele vinha recebendo nesse momento né, o tratamento de quimioterapia, ele era um garoto de 6 anos né, por volta de 6 anos e tava completamente carequinha, sem cabelo, tava com a cabeça raspada, então uma imagem que acaba sendo muito impactante assim né a gente ver uma criança totalmente com a cabeça raspada e aí eu tive um feeling de ficar por ali, “Opa, acho que vou ficar por aqui porque né, acaba que essa característica física dele já revela um pouco do que ele tá vivendo, a imagem já vai dar conta disso assim sim né, a gente vai conseguir entender ela mais facilmente por conta disso e tal, enfim, tive um feeling de ficar por ali. E aí assim, é daqueles dias iluminados na nossa vida em que tudo parece que se alinha perfeitamente, foi de fato o melhor lugar onde eu podia estar, não demorou muito para um dos personagens, e aí foi o super-homem ainda para ser mais simbólico ainda, eu não calculei isso né, poderia vir qualquer super-herói por ali mas foi justo o super-homem também que veio descendo bem na janela dele, e o cara né que depois eu vim a conhecer, conversar com ele né, o protagonista ali que tava fantasiado de Super-Homem, um cara pai também né, pai de 3 filhos super sentimental e coração, um cara que se comoveu muito com a imagem do Vitor Gabriel que é o menino que tava ali sentado e ficou muito tempo ali, ele foi descendo, descendo pela corda e quando chegou na janela dele ele se emocionou de uma maneira que ele ficou um tempo ali trocando com o Gabriel assim através do vidro né, ficou tentando tocar ele, interagindo com ele ,e aí uma hora ele colocou a mão no vidro pelo lado de fora espalmada, colocou a mão aberta no vidro pelo lado de fora e o garotinho foi lá e também estendeu a mão dele e colocou junto a mão dele, os dois separados pelo vidro mas tentando de alguma forma trocar um pouco uma energia, um carinho naquele momento de isolamento e de distância que eles estavam e também esse simbolismo de um super-herói, de uma super força para conseguir vencer e superar esses momentos que ele tava vivendo assim, foi um alinhamento, acho que é uma foto que acontece, é um cometa né, Cometa Halley, que passa de não sei de quanto em quanto tempo, essa foto acontece e felizmente nesse dia eu tive a sorte de estar lá e ter oportunidade de registrar ela, estar preparado também né, não adianta nada também a imagem acontecer e a gente não estar preparado, não reagir tecnicamente pra escolher o melhor ângulo, melhor lente, o melhor foco, enfim, profundidade, tudo que a gente quer, um enquadramento e registrar isso, então tive a felicidade, tive a sorte, mas também tive a competência de conseguir garantir tecnicamente um bom resultado para essa imagem e enfim, voltei para redação e aí eu cheguei na redação e tive, pra mim tava certo que essa foto tinha que estar na capa do jornal do dia seguinte, só que enfrentei uma concorrência muito forte, uma concorrência desleal na verdade que acontece lá no Rio Grande do Sul, que é um jogo da dupla Grenal na verdade, jogo de futebol, e aí cara, quando envolve futebol naquele Estado e essa briga que tem de Grêmio e Inter, teve jogo de Grêmio e Internacional no mesmo dia, e aí o jornal do outro dia no geral assim, é regra, se tem um jogo de futebol, no outro dia o jornal Zero Hora vai dar na sua capa uma foto grande do Grêmio e uma foto grande do Inter falando como é que foram os jogos, e aconteceu que era isso, teve jogo, na verdade isso foi no sábado e teve rodada no domingo, isso era pro jornal da segunda-feira e aí eu tava perplexo “Não posso acreditar que eles vão fazer isso e tal”, e aí fui lá, eu também sempre fui muito apaixonado assim né, então fui lá, defendi pros editores a importância que tinha a gente publicar aquela foto, e aí felizmente não precisei argumentar muito porque eles também quando viram a foto tiveram a certeza de que nesse dia eles iam que abrir uma exceção e essa foto ganhar o maior destaque na capa e colocar as fotos de jogos secundárias, menores porque essa foto naquele dia era a foto mais impactante, mas simbólica, mais bonita pra oferecer pros leitores, então essa foto ocupou uma área super grande na capa do jornal e graças à isso né, graças à essa foto ter sido publicada eu pude concorrer à alguns concursos de fotografia depois né, no futuro com ela e ganhei dois concursos de fotografia e foi muito simbólico pra mim, um deles é o principal prêmio de fotografia que tem lá no Estado né, uma vez por ano uma fotografia jornalística é premiada e nesse ano foi a minha e eu não tava esperando, não esperava por isso e daí tem uma premiação simbólica de um troféu e tal e tem um valor em dinheiro, e essa premiação acontece no Natal, no final do ano, eles pegam todo o ano, as melhores fotos produzidas naquele ano, eu tinha feito a foto no dia das crianças em outubro, e aí no Natal aconteceu essa premiação e como eu não tava esperando essa premiação e como eu também tinha ficado muito tocado por essa foto e por todo esse cenário que aconteceu em função dela, me aproximei depois do Super-Homem né, do rapaz que tinha se vestido de super-herói, e a gente continuou conversando e me aproximei da vida dele também, enfim, acho que todo mundo saiu diferente daquele dia, daquela pauta, eu fiz questão de dividir de alguma forma esse prêmio com o Vitor Gabriel, então eu fui até o hospital, relutei um pouco porque eu tinha muito medo de infelizmente ser surpreendido com uma notícia triste dele, mas enfrentei esse medo, tenho uma dificuldade muito grande de lidar com a perda, de lidar com tudo isso, assim como todo mundo, mas enfim mesmo assim enfrentei isso e fui lá na esperança de que eu fosse trazer uma notícia boa e de fato eu tive, cheguei lá e as enfermeiras me informaram, ele vinha há muito tempo internado, ele tava muito tempo internado e eu recebi uma notícia de que ele ia durante o período de Natal e Ano Novo, ele conseguiu alta pra ir pra casa dele, continuar o tratamento em casa, ganhar um pouco de resistência e aumentar a imunidade dele, podendo sair pra rua, vendo os irmãos dele, enfim, tentar brincar um pouco e curtir esse fim de ano em casa pra voltar depois em janeiro e fazer um autotransplante, que é um tipo de transplante em que eles retiram a medula do próprio indivíduo, pra ele mesmo ser o doador, um sistema que o Vitor Gabriel mostrou que ele poderia desenvolver, ele mesmo poderia fazer esse autotransplante, então ele foi pra casa, ele não tava no hospital e aí eu pedi enfim pra equipe médica, expliquei a situação, eles fizeram contato com a mãe dele e ela falou que topava me encontrar, dar os dados, oferecer os dados dela pra que eu pudesse encontrar eles e aí eles me passaram o telefone dela e eu liguei e expliquei, falei “Olha, aconteceu isso, eu ganhei um prêmio e eu quero dividir com ele de alguma maneira, quero saber o que ele quer do Papai Noel, e aí ela me falou que justamente um ano antes o pai dele biológico tinha prometido pro garotinho que ele ia ganhar uma moto elétrica, essas motinhos elétricas de Natal, só que aconteceu que foi logo quando ele foi diagnosticado com a doença e o cara foi extremamente inconsequente e irresponsável e abandonou a família, não conseguiu conviver com essa doença né, rotina de hospital, e se mudar praticamente pra dentro do hospital e o cara sumiu, o cara abandonou a mulher, pra não dizer pior o cara foi um grande irresponsável na vida dele

Henrique de Moraes – Pode falar, um filho da puta

Bruno Alencastro – Exatamente, e o cara sumiu, então ela me falou isso “Olha, eu sei que tem isso, ele queria muito e não aconteceu”, daí eu “Ah, não se preocupa que esse ano vai acontecer”, e aí eu toquei pra um shopping center na última semana de Natal, aquela cena meio “Esqueceram de Mim”, sabe, não é nem “Esqueceram de Mim”, é aquele “Herói de Brinquedo”, em que o cara tem que correr atrás do último brinquedo lá, e aquela loucura, fui eu lá comprar, comprei a moto, levei pra minha casa, achei que ela já vinha montada, que nada, abri ela tinha um manual todo um esquema pra montar, passei a noite montando a moto pra daí no outro dia, véspera de Natal, eu me toquei numa pequena viagem, saí da capital e fui até o litoral, que era onde ele morava, uma viagem de duas horas, fui até lá pra entregar o presente pra ele, e aí foi mágico, foi muito bonito porque eu vi ele tentando isso, tentando resistir, tentando ganhar força, e aí a moto foi uma alegria pra ele, que eu fico pensando também que aquilo representou uma felicidade, uma vontade de viver que, só pra concluir a história e não me alongar tanto, logo depois ali na frente ele fez o autotransplante e é uma história com final feliz, ele se curou desse tratamento que ele tava fazendo e hoje tá um garotão cheio de saúde.

Henrique de Moraes – Agora você vai ter que comprar uma moto, uma CG para ele né

Bruno Alencastro – Cara, é muito louco assim, eu acho muito simbólico assim pra minha trajetória e não parou por aí, no outro ano eu ganhei um outro prêmio por essa foto cara, ganhei mais uma premiação com ela, mas aí eu falei “Beleza, o Vitor Gabriel já ganhou o presente dele agora é a vez de eu ganhar o meu presente”, aí eu fui lá e comprei um drone pra mim cara, tava falando de drone antes, comprei o drone para mim e fiz uma série de fotos durante o período que eu tava lá em Barcelona a partir de uma captação em 360°, fiz uma série de fotos de Barcelona, dos principais pontos turísticos da cidade em 360°, e postei no meu Instagram e a galera enlouqueceu com essas fotos, sites, o Buzzfeed, o El País, começaram a publicar essas fotos que eu fiz e essas fotos rodaram o mundo, tem um monte de publicação, se colocar meu nome no Google hoje, “Bruno Alencastro fotos aéreas Barcelona”, vai ter tradução pro chinês, vai ter isso em tudo quanto é língua, que depois eu tive que colocar no translate para entender onde é que estavam publicando as minhas fotos, porque chegou num ponto em que eu tive que parar de fazer a pesquisa por texto porque tinha alguns idiomas que eu não conseguiria buscar por texto mais a referência e eu comecei a fazer pesquisa por semelhança de imagem no Google Imagens pra daí saber onde que minhas fotos estavam sendo compartilhadas e fazer print disso tudo e guardar isso, cara foram mais de 20 países que eu contabilizei na época e pra mim é o Vitor Gabriel me devolvendo todo esse presente e me dando uma baita de uma visibilidade e difusão do meu trabalho.

Henrique de Moraes – Cara essa história é muito fantástica assim, e é legal que você falou sobre aquele momento ali da foto, foi um momento único né em que tudo se alinhou basicamente né, e você teve oportunidade de fazer a foto e assim, tem uma coisa que as pessoas não percebem, teve alguma hora que você falou sobre isso também, que você falou sobre você se preparar né, estar preparado pra pelo menos mesmo que a situação mude você ter algum planejamento, e é uma coisa que as pessoas não, ou elas atribuem muito do que elas fizeram à sorte ou elas não atribuem o suficiente, porque no final das contas são as duas coisas, a sorte ela tem um papel fundamental mas você tem que estar preparado pra aproveitar aquele momento né, e eu acho que nesse caso é um exemplo perfeito disso, que você se preparou, se ajustou pra realidade que você tava vendo e teve o momento, tava preparado e você conseguiu fazer a foto, e tem uma segunda oportunidade que você teve também né, que você também conseguiu enxergar, que foi de fazer essa, de dar esse presente pro Vitor Gabriel e de repente impactar a vida dele de uma forma que talvez você nem saiba né, você não sabe como isso pode impactar a forma dele enxergar o mundo, dele de repente se surgir uma oportunidade parecida se ele não vai também fazer a mesma coisa que você fez por ele, que essas coisas acabam tomando proporções que a gente não se liga né, a gente não entende. No final das contas também a gente faz isso um pouco pra gente né, porque tem uma frase que é um pouco clichê mas que eu acho legal que é aquela assim “Se você não sabe como se fazer feliz, faça os outros felizes”, então você acaba às vezes sendo mais beneficiado da felicidade que você causou do que a própria pessoa né, que talvez ele ia brincar com a moto ali dois dias e depois “Ah, essa merda dessa moto, quero minha CG vou esperar os 18 anos”, mas isso faz muito bem pra gente também né então talvez se você não tivesse feito isso você também não teria tido toda essa percepção que você teve inclusive com o que aconteceu depois, como essas coisas vão se desencadeando né, um momento acabou gerando vários outros, acaba que isso vai gerando ser um sentimento na gente que ele vai perdurando né durante muito tempo e pode espalhar, um pouco da corrente do bem aí.

Bruno Alencastro – Total, e também pra fazer sentido né, pra mim eu acho que faz também se sentir né, essa pretensão que se tem dentro do jornalismo mas a coisa da transformação mesmo, que nem sempre a gente consegue provocar uma mudança com o nosso trabalho e impactar de alguma maneira, ver de fato alguma coisa acontecer, às vezes é muito também uma angústia de que a gente não consegue assim né, eu fiquei oito anos trabalhando em redação de jornal e nem sempre a gente consegue ver isso na prática, ver de repente em outras profissões assim, que trabalham não com bem simbólico mas trabalham com produto, seja mais fácil de apalpar, de quantificar a sua produção e de ver isso realmente fazer sentido e mudar, então eu acho que um pouco desse meu jeito de trabalhar, que ele é mais por assim dizer com uma sensibilidade maior, com cuidado e com uma vontade mesmo de estar próximo e de ver as coisas de perto, acaba que essa comprovação vem, a gente consegue ver o sentido também do trabalho, acho que é um pouco por isso e o resto é consequência mas é vendo sentido naquilo que a gente tá fazendo e depois o quanto que isso gira e acaba reverberando na gente mesmo né.

Henrique de Moraes – Com certeza. Você mencionou esse seu momento, esse período em Barcelona né, e você tinha me falado que você fez um intercâmbio durante um tempo e que isso foi de certa forma como você foi parar na publicidade depois, eu queria que você falasse um pouco o que que você falasse um pouco sobre essa história, sobre inclusive porque você teve vontade de fazer, se foi uma vontade de fazer esse intercâmbio ou se foi uma necessidade, como é que surgiu isso tudo?

Bruno Alencastro – Legal. Cara, eu sempre fui um, eu tinha mal resolvido comigo a questão do intercâmbio, de morar fora né, não consegui fazer isso como alguns fazem no até no ensino médio né ou então no máximo na graduação que as pessoas acabam fazendo uma parte da graduação fora em outros países, eu sempre fui mal resolvido com isso de não ter feito, pra mim sempre fez muito sentido que eu pudesse ter tido essa oportunidade mas por conjuntura de tudo né, econômica, e às vezes até de oportunidade, eu não não consegui viabilizar isso quando era mais jovem né, fui fazer isso depois dos 30, mas eu senti essa necessidade, eu sentia que pra mim eu precisava, não sei muito bem explicar mas pra mim faria sentido viver essa experiência, eu queria ter tido essa oportunidade de experimentar, de provar, de me sentindo num outro lugar né, aquela coisa de morar com os pais mesmo que depois eu já não estivesse mais morando com eles, morava com a minha mulher mas enfim, essa coisa de sair um pouco do seu lugar, de provar um outro idioma, de provar outras coisas assim, eu tinha isso comigo muito forte. E aí na verdade é louco né, porque eu ao mesmo tempo não me arrependo das escolhas que eu fiz porque eu tenho consciência de que também foram elas que me levaram à experiência de ter ido para esse intercâmbio, de eu mesmo ter financiado né, não consegui nenhuma bolsa nem nada, fiz tudo por conta própria, de juntar uma grana, de conseguir viabilizar isso mas justamente por isso, porque eu achava que precisava. E aí foi isso, fui depois de 7 anos de formado, fui juntando grana até que chegou no ano de 2017 e eu falei pra minha mulher, ela tava terminando o mestrado na época, ou seja, no último semestre tinha apenas que fazer a parte, “apenas” né, ela que não me escute falar, “apenas” escrever uma dissertação, mas no sentido de que não tinha um compromisso de estar lá fisicamente na universidade né, poderia fazer isso de qualquer lugar então eu olhei para ela e falei “Olha eu acho que agora, eu acho que é esse momento que tu vai ter pra fazer a escrita dessa dissertação que eu vou ter pra procurar um curso que faça sentido para mim e vamos nessa”, e aí pra ela também na hora fez total sentido e a gente achou oportunidade em Barcelona por dois motivos assim né, primeiro pelo idioma que pra mim faria sentido fazer isso num lugar que tivesse o idioma espanhol que é um é uma predileção que eu tenho também, um carinho e uma admiração que tenho pela língua e pela cultura da Espanha, e também pelo cenário, pelo cenário cultural, artístico e de vanguarda quem também tem naquele continente, naquela região, especialmente região da Catalunha, região de Salvador Dalí e de muita efervescência  cultural, então eu fui pra lá e fiz uma especialização fiz uma especialização de 6 meses em fotografia social e fotojornalismo e foi mágico né, foi transformador para mim, tudo aquilo que eu imaginava elevado a uma potência ainda maior, poderia fazer um programa só para falar sobre a experiência que é a gente ter oportunidade de abrir uma agenda na nossa vida, um tempo na nossa vida para poder oportunizar isso, então sou um defensor de que as pessoas batalhem pra viver a experiência, que seja de uma semana, que seja de um mês, que seja de 6 meses, que seja de 1 ano, num lugar diferente e experimentar a loucura que é, o aprendizado que é viver um intercâmbio né. E aí voltando de lá foi muito curioso porque eu fui para lá justamente para fazer uma especialização, pra me aprimorar do ponto de vista educacional, buscar referências e tal e quando eu voltei para Porto Alegre por conta dessa crise que a gente falava antes também do mercado da comunicação eu acabei sendo desligado do jornal que eu trabalhava, fiquei apenas como professor universitário mas o jornal acabou me demitindo justo na volta desse intercâmbio, e aí para mim foi um baque, não tava esperando né, combinei com eles que eu faria essa pausa mas que pra mim todo sentido era voltar para lá pra colocar em prática esse aprendizado acumulado e adquirido mas não aconteceu, então teve aquele momento assim de quase arrependimento também, de pensar “Gente, o que eu fiz? Será que eu então devia ter ficado aqui, não deveria ter ido pra esse intercâmbio? Tinha certeza do meu emprego e agora não tenho mais, será que isso condicionou de alguma maneira a decisão deles?”, enfim aquele momento que a gente fica em crise assim mesmo tentando compreender a situação toda mas aí né, é aquilo que a gente falava também das coisas que a gente nem consegue imaginar e das possibilidades que a vida também pode nos abrir. Não demorou muito tempo para acontecer exatamente o contrário assim né, enquanto eu tava pensando no pior, na verdade que tava guardado para mim era uma situação ainda mais transformadora e melhor no sentido de que estando disponível no mercado né, rapidamente hoje aí também voltando a quando a gente falava sobre tecnologia e conexões e o tempo das coisas, hoje é muito rápido também das pessoas perceberem essas movimentações do mercado, enfim, eu fui desligado da empresa e visibilizei isso nas minhas redes pessoais até pra me colocar à disposição, pra ver como é que eu ia me recolocar no mercado, e não demorou muito felizmente, pra uma agência de conteúdo aqui no Rio de Janeiro fazer uma proposta para mim para vir para cá e assumir justamente a posição de alguém para cuidar da parte visual dessa agência, que eles estavam vivendo ali no ano de 2018 já daí né quando eu voltei, começo de 2018 estavam vivendo uma mudança ali dentro da agência, caminhando muito pra parte de narrativas visuais né, de fotografia e especialmente a parte de vídeo, desse conteúdo que tem esse nome bonito de branded content né, esse conteúdo patrocinado, e tava em busca de algum profissional para conseguir tocar essas coisas com eles, porque eles não tinham tanto essa expertise da imagem né, eles vêm mais de uma escola de texto, de infográficos, de outros produtos e não tanto a parte visual né, trabalhavam no sistema de freelancer, contratando gente esporadicamente para um projeto ou outro mas a coisa cada vez tava mais forte de visual, de vídeo e de propostas de trabalho que estavam chegando nessa área, então eles estavam justamente em busca de alguém pra ser o cara dessa história toda né, de comprar equipamento, montar equipe, vir com ideias, vir com a parte criativa também, propor, e aí fizeram uma proposta para mim e aí foi muito maluco, daqueles momentos da vida em que a gente sai lá do fundo do poço, acha que tá lá no fundo do poço, não sabe o que vai fazer da vida e no outro momento tá recebendo uma proposta que nem imaginava de uma transformação, uma guinada completa na vida e que mim faz total sentido, no sentido de que eu tava vindo, eu morava até então na região metropolitana de Porto Alegre, não morava na capital, eu morava na Região Metropolitana e trabalhava na capital e aí esse guri do interior, de uma região metropolitana que pisa em Barcelona e prova desse mundo cosmopolita e intercultural, efervescente, de uma vida muito ativa né, em vários âmbitos, voltar para esse interior, para essa região pacata por assim dizer lá do Rio Grande do Sul também foi um baque né, e aí essa proposta de vir pro Rio de Janeiro para mim é um pouco preencher essa coisa, esse experimento aí que eu gostei de provar que é de uma vida numa cidade grande, trabalhar no eixo Rio-São Paulo, de vir pra um cenário onde tudo que a gente faz tem uma repercussão e um impacto muito maior, entrar nesse ritmo de produção e de marcas e de projetos que agora não são mais regionais e passam a ser nacionais e às vezes até com eco e repercussão internacional sabe, então nossa, foi uma uma transformação que fez total sentido para minha vida, eu traço alguns paralelos assim entre Barcelona e o Rio de Janeiro, eu acho que tem muito a ver essas duas cidades e pra mim foi um presente muito grande poder fazer essa mudança na minha vida e agora estar aqui nesse lugar que tem aberto tantas oportunidades pra mim e de linguagem e de exercitar coisas que eu nem imaginava que eu poderia né, aquele cara que se formou lá há dez anos como jornalista e achando que ia ser fotojornalista para o resto da vida, agora olhar para esse mercado de publicidade, de marcas, de conteúdo, de redes sociais, de estratégias e de storytelling e ver que eu também posso render muito ainda mais nesse mercado.

Henrique de Moraes – Legal cara, e quanto tempo levou desde que você soube lá da demissão até ser contratado?

Bruno Alencastro – Foi muito rápido, foi tudo muito rápido, eu cheguei em março de volta ao Brasil e foi uma sacanagem porque foi pisar no jornal de volta e ser demitido no mesmo dia, então isso não demorou muito, foi na hora assim né, não voltei de fato, isso foi em março e aí continuei dando as aulas lá no semestre letivo que eu era professor universitário também e em junho eu já fiz o primeiro trabalho ainda no bate-volta, vim aqui pro Rio, fiz o trabalho, voltei, quase que piloto assim, meio probatório pra galera me conhecer, ver quem eu era, me conhecer profissionalmente trabalhando, depois voltei ainda em junho pela segunda vez, uma segunda viagem e em julho já passou a valer o contrato com carteira assinada, definitivo, mudança e toda essa loucura envolvida daí de mudar de vida.

Henrique de Moraes – Legal cara. Vou te fazer uma pergunta que eu faço pra todos os convidados, mas você pode colocar no período aí que você achar que faz mais sentido pra você, porque eu sempre pergunto se você pudesse voltar e falar com seu eu de 10 anos atrás, o que você diria pra ele ter mais calma, que é uma pegadinha com o nome do podcast, mas não precisa ser necessariamente 10 anos, então você pode pegar num timeframe que você achar que faz mais sentido, mas se você tiver algum momento no passado que você poderia ter falado assim “Cara, não se cobra tanto aqui, não espera tanto resultado imediato, não se estressa tanto com isso”, tem alguma coisa que você, em qual momento seria que você voltaria e o que você falaria?

Bruno Alencastro – Ter mais calma? Deixa eu pensar agora, é difícil de pensar dessa forma porque seria contradizer o que eu falei que sempre foi na verdade a minha movimentação, a minha forma de trabalhar que é essa de estar olhando para os lados, de estar procurando oportunidades, isso eu acho que em nenhum momento foi falta de calma, acho que foi estratégico, não vejo assim como um arrependimento assim, talvez eu acho que eu falaria para o meu eu lá de Barcelona então, não tanto tempo atrás, acho que ali em 2018 pra ter ainda mais calma com as coisas, ter curtido aquele tempo ainda mais devagar, não tão acelerado, ter parado mais pra contemplar as coisas e de curtir aquilo, mas mais num sentido de reviver esses momentos, ter calma eu acho que é quase que então para o meu eu de hoje assim de revisitar esses insights e essas experiências e tentar trazer isso um pouco não para o meu eu lá do passado, mas meu eu do presente, de ver o quanto que às vezes esses momentos, e ainda mais agora que a gente está nesse momento de confinamento de mudança, o quanto que essa reflexão e essa experiência de ter calma e de refletir e de deixar um branco mesmo na cabeça, porque às vezes precisa esse branco, faz sentido sabe, eu acho que traria para o presidente agora esse momento de calma para fazer eco à isso que a gente tá vivendo.

Henrique de Moraes – Legal cara, muito bom. Aproveitando que a gente está falando, a gente voltou pra atualidade, confinamento, isolamento social, você lançou o projeto né, que é o ‘obs-cu-ra”, que teve uma repercussão também mundial, eu tô com matéria aberta aqui de vários lugares bem diversos e eu queria que você falasse um pouquinho sobre o projeto, de onde surgiu a ideia e como que as pessoas acabaram se envolvendo também né, como é que você conseguiu fazer com que as pessoas se envolvessem tanto, porque são quantas fotos já que você tem?

Bruno Alencastro – São 13 fotografias de origem né, que fizeram parte do projeto e aí agora a segunda fase dele foi abrir para quem estiver disposto a fazer parte dele, então agora o futuro vai falar até onde ele chegar.

Henrique de Moraes – Legal, então fala um pouquinho sobre projeto cara, explica pras pessoas até como é que, eu sei que tem um vídeo no seu Instagram, quem quiser procurar inclusive pode ir lá né, tem um pouquinho sobre a história toda da fotografia inclusive, mas eu queria que você falasse um pouquinho sobre o projeto aqui, essa repercussão que ele teve e porque você acha que teve essa repercussão também?

Bruno Alencastro – Legal. Ainda foi durante esse período de confinamento que a gente tá, primeiro foi esse festival de fotografia que a gente falou antes que eu desenvolvi né no sentido de manter a mente ocupada e a saúde mental assim, de estar trocando com pessoas, conversando, interagindo, e aí passado esse festival veio um vazio assim, porque tava todo dia conversando com alguém e depois durante o dia ficava repercutindo como é que foi a conversa, e aí acabaram os meus entrevistados, eu até pensei em prorrogar e abrir mais ainda tempo, mas também achei que começou a saturar um pouco o modelo de lives, as pessoas começaram a ficar um pouco também cansadas desse modelo e achei que tinha dado o tempo dele né, e aí fiquei pensando no que eu poderia me ocupar né, infelizmente o período de confinamento foi estendido né, a gente viu que ainda ia ficar preso dentro de casa por mais tempo, e eu fiquei pensando no que eu poderia fazer para me ocupar nesse período e ao mesmo tempo como fotógrafo né, como produtor de imagem, eu também sentia necessidade de fazer algo, documentar de alguma maneira isso que a gente está vivendo, assim como tu falou Henrique da questão dos textos que tu vem escrevendo pra lembrar disso, eu também, eu sou um produtor de imagem que tem um equipamento em casa e que não estava produzindo nada, seja para documentar, seja para lembrar disso no futuro, não tava tendo ímpeto nem de pegar a câmera pra fazer sei lá, um diário aqui do que tem sido o nosso dia a dia né, eu e minha esposa, nada assim, eu tava com certo bloqueio criativo. Primeiro por achar que não teria nada relevante que eu pudesse fazer e segundo, por falta de inspiração mesmo, achar que tudo era meio mais do mesmo, não não tinha nenhuma ideia original até que um dia num desses momentos de pausa e foi justamente olhando para as paredes aqui de casa, olhando para as paredes de casa, no sofá e eu me dei conta do princípio da câmera obscura, que é o princípio que foi feito para se desenvolver a fotografia né, um princípio que vem lá do Renascimento ainda e que diz assim né, que se a gente está num ambiente completamente preto, escuro, pode ser uma caixa de papelão ou pode ser um ambiente maior, uma sala, um quarto completamente escuro e a luz só entra por um buraco, um pequeno buraco aberto por onde a luz possa entrar, acontece que aquele buraco ali ele vira um projetor e aí ele projeta toda imagem que está na rua, é projetada na parede de casa, isso é um princípio que os pintores usavam no Renascimento para conseguir ter mais realismo assim para suas pinturas, para seus retratos né, isso é física pura na verdade, não precisa nenhum aparelho nem nada assim, é só o princípio, tem um nome bonito pra isso que é o princípio da propagação retilínea da luz, que acontece exatamente isso, a luz ela se propaga por esse buraco que onde não tem luz, ela passa por ele e faz uma projeção desse ambiente externo no ambiente interior, só que de cabeça para baixo, o que que acontece com o resultado dessa imagem por conta dessa propagação dos raios luminosos, os raios eles se cruzam e aí projetam a imagem de maneira invertida nesse ambiente interno. Isso acabou que é a mãe da fotografia, é quem anos mais tarde depois só faltava desenvolver um filme né, algum material fotossensível para registrar essa imagem, mas o princípio ele já existe na verdade até antes do Renascimento, os primeiros registros assim do princípio da câmara obscura vão falar lá no século V antes de Cristo, mas ele como um dispositivo, como um aparelho mesmo que os caras foram lá e criaram um aparelho para produzir essa imagem, pela primeira vez foi no Renascimento e depois foi adaptado para ser a fotografia né, que é isso, ela passa pela lente, a imagem passa pela lente da câmera e é projetada ali, antes no filme e agora no sensor digital né, e aí tem um jogo de espelhos ali que inverte a imagem e deixar ela de cabeça “certa”, não de cabeça para baixo, não invertido, só que se a gente pegar esse princípio original, esse princípio que os caras faziam ainda lá no Renascimento e tentar reproduzir na nossa casa, vai acontecer exatamente isso né, e aí eu me dei conta disso, eu “Gente olha só”, nesse momento em que tá todo mundo nessa caixa, tá todo mundo fechado e o mundo tá de cabeça para baixo, nada mais adequado do que essa técnica, esse dispositivo, para produzir imagens que falam muito sobre esse momento que a gente tá vivendo, produzir uma imagem que ela, esse mundo que a gente tem contato agora ele não é real, ele é um mundo em que a gente quer contato com esse mundo externo e ele só se dá através de uma projeção, através do que a gente consegue ver pelas janelas né, não é palpável, a gente só consegue ver ele né, é só uma projeção do que ele representa e também tá de cabeça pra baixo, também tá invertido né, achei muito simbólico, muito forte revisitar este dispositivo, essa técnica e desenvolver ela nos dias de hoje pra falar sobre os dias de hoje assim né, e foi o que eu fiz, peguei e fiz um primeiro no teste aqui na minha casa, fechei completamente a minha sala, eu moro num apartamento, a parte boa de morar num apartamento pequeno é que é mais fácil de isolar a luz dele, se fosse uma casa ou um apartamento maior seria mais difícil né, felizmente minha sala não é tão grande pra esse fundamento aí então é uma janela praticamente, bem grande que tem e eu isolei ela completamente com lona, papel cartão, cartolina, papelão, tudo que eu tinha disponível assim eu fui colando e fechando toda a janela e aí deixei só um buraco aberto do tamanho de uma moeda, comecei fazendo um furo bem no diâmetro de uma moeda de 10 centavos, e aí achei que estava muito pequeno, não tinha ainda tanta luminosidade, e expandi um pouco mais para uma moeda maior, na verdade depois até foi maior do que uma moeda, foi a bobina de uma fita isolante, que eu usei toda a fita isolante para vedar o ambiente que aí sobrou só a bobina de papelão e foi aquele diâmetro que foi a minha “lente” por assim dizer né. E aí cara aconteceu na hora, eu conhecia a teoria mas eu nunca tinha feito a prática, não sabia como é que era a prática, e a prática aconteceu na hora assim, foi eu abrir esse buraco e a imagem lá da rua, do prédio que tem aqui em frente à minha casa e da árvore que tem aqui em frente, uma copa de uma árvore, apareceu assim projetada de cabeça para baixo na parede da minha sala, na verdade um 360 pelas paredes, pelo teto, ela acaba que toma conta do nosso ambiente interior esse mundo lá de fora, e aí eu fiquei maluco com esse resultado, fiz várias fotos né, uma vez a projeção acontecendo aí eu comecei a registrar isso com imagens né, coloquei no timer pra câmera fazer a foto sozinha, e aí posei também nas fotos eu e a minha mulher, tem uma até que o cachorro, nosso mascote aqui, posou junto, ficou paradinha, como é uma foto que ela precisa, não tem tanta luz assim, a gente precisa fazer ela com uma velocidade mais baixa, então tem que ficar parado ao longo de alguns segundos né, o cachorro ficou ali 3, 4 segundos paradinho também sem se mexer e apareceu super bem nítido na imagem e eu fiz essa primeira foto, eu gostei muito do resultado dela, fiquei louco assim, primeiro do ponto de vista estético né, a estética da imagem é muito interessante, essa imagem que a gente não tá acostumado a ver, uma casa com o ambiente exterior projetado, uma projeção dentro de casa, então é meio sei lá, meio fantástico assim, uma foto meio mágica né que tem esse efeito, primeiro estético e depois de discurso assim né, o discurso dela fala muito sobre o que a gente tá vivendo né, e aí o poder da arte né, da abstração que a gente tem com a arte que cada pessoa pode levar pra interpretações completamente diferentes e em níveis de complexidade né, a mais simples né que é pensar nesse mundo de cabeça para baixo, até filosofar sobre o real, sobre o que que é o mundo, sobre é o que que é esse mundo que tá lá fora e que vem para dentro da nossa casa, essa projeção que na verdade não é palpável, e aí vai né, toda essa filosofia que gente pode fazer através dessa imagem assim, e eu fiquei louco cara com o resultado, eu “Não, preciso levar esse trabalho a diante”, só que pela impossibilidade imposta agora desse confinamento eu não teria como fazer isso sozinho, imagina, não passou pela minha cabeça a possibilidade de estar indo na casa das pessoas cheio de papelão e lona e materiais altamente contamináveis, para invadir a casa das pessoas e colocar em risco essas pessoas e a mim também né, vi que não seria viável eu consegui continuar esse trabalho sozinho e aí a alternativa que eu encontrei fui convocar fotógrafos para também fazer isso nas casas deles, ou seja, eu fui em busca de uma diversidade de fotógrafos que eu tinha acesso né, que eu conhecia de alguma forma, uns mais intimamente outros nem tanto assim, mas pessoas que fossem diversas, então homens, mulheres, jovens, famílias, vários grupos familiares e que pudessem me contar através dessa imagem e dessa técnica como que eles vêm vivendo esse período de pandemia, e o resultado foi surpreendente, eu tinha aquilo que era uma ideia na minha cabeça se tornou um projeto complexo e muito bonito assim, de uma profundidade e de uma poética que eu não poderia ter desenhado melhor pra acontecer depois de ver o resultado.

Henrique de Moraes – É cara, é muito muito maneiro, inclusive eu recomendo todo mundo que estiver ouvindo que vá lá no Instagram do Bruno, @brunoalencastro, ou então veja no site também né, que no site tem as fotos até com uma descriçãozinha e enfim, e cara tem uma foto que eu fiquei muito encantado assim, que é a do Pedro Rocha, acho que são duas crianças, eles tão de máscara

Bruno Alencastro – Sim, os filhos dele

Henrique de Moraes – Cara, essa foto é muito maravilhosa, é sensacional

Bruno Alencastro – Cara aí que tá a surpresa né, o quanto que o trabalho fez sentido pra mim convidando essas pessoas porque daí as surpresas que elas foram me oportunizando através desse trabalho, e essa foto do Pedro é uma delas, na verdade não só uma foto, é um ensaio do Pedro, ele me entregou um ensaio complexo assim de opções de fotos a partir dessa técnica, eu convidei ele por ele representar uma certa singularidade, alguém que tá vivendo de maneira diferente esse isolamento porque o Pedro na verdade já mora isolado, ele mora no interior do interior do Rio Grande do Sul, ele mora no meio do mato, como tem que ser dito mesmo, não tem nenhum sentido pejorativo nisso, ele literalmente mora no meio do mato, ou seja, ele já tá longe dessa loucura que tá acontecendo nas cidades e ele já tá vivendo esse isolamento de uma maneira diferente porque ainda com uma liberdade de quem optou por morar num lugar desses, então as crianças né ele tem dois filhos pequenos, a Lucia e o Mathias, eles já tem essa liberdade que ainda poder continuar, claro, não estão vendo os amiguinhos deles né, não estão indo à escola, mas eles tem essa liberdade de poder correr, andar de bicicleta e viver mais esse ambiente ao ar livre porque eles estão longe de outros vizinhos e pessoas e tal, então o Pedro para conseguir fazer essa foto e representar um pouco o que que é a vida dele mesmo nesse período, ele não fez na casa dele, ele construiu uma tenda, ele construiu literalmente uma tenda, pensa em construir um quartinho de 2×2 né, dois metros quadrados com bambu, madeira, lona, e fez uma câmera itinerante, então ele conseguia ter mobilidade de levar ela para os lugares, assim pelo pátio, pelo quintal da casa dele, também ali nas redondezas, e conseguiu fazer quase que um estúdio, uma câmera obscura virar um estúdio fotográfico para fazer o ensaio dele, e aí ele brincou com as crianças e fez um ensaio muito bonito, de uma leveza e de uma estética que é muito bonita que ele conseguiu empregar nessas fotos, e aí ele deu várias opções né dos filhos dele e não contente em já ter feito várias opções deles sozinhos, posando pra câmera, ele teve essa sacada de puxar essas máscaras que eles têm lá pra brincar, são duas máscaras de tigre que as crianças usam pra se divertir, pra colocar uma máscara da frente do rosto de animais, e ele brincou um pouco com isso dos animais no meio do mato usando, todo mundo falando em máscara mas a máscara que as crianças estão usando é uma máscara que nos remete à outra coisa, que nos remete ao lúdico, ao natural, à ecologia, à abrir pano pra uma manga de falar sobre tanta coisa diferente a partir dessa outra leitura que ele fez das máscaras nesse momento, então é fantástico cara, cada um, cada fotógrafo, teve um fotógrafo que fez a foto justamente no dia do aniversário dele, ele teva de aniversário naquele dia e ele fez a foto, e aí foi legal porque eu também participei através de vídeo chamada, de conversas no WhatsApp, eu também participava dando ideia, eles iam me mandando as fotos para eu ver o que que eu tava achando e eventualmente sugerir alguma mudança, alguma alteração, dar algum algum pitaco assim, e aí para esse fotógrafo eu falei que ele usasse alguma coisa que representasse isso né, poxa era aniversário dele e aí ele tá segurando uma velinha de aniversário sozinho, inédito, pela primeira vez na vida o cara tá vivendo um aniversário dessa maneira né, e aí cada uma é uma história, cada foto é uma história diferente, todas com essa unidade de uma mesma técnica, todas feitas a partir do princípio da câmara obscura.

Henrique de Moraes – Muito legal cara, as fotos são muito, cada uma tem uma particularidade que vale a pena né cara, você fica viajando e tentando entender inclusive o contexto, tentando entender como é que é a parte de fora né, que tá projetada ali na parede de certa forma, e o mais engraçado é que a sua foto foi a primeira que eu vi, e sensação que eu tinha era que você tinha tirado uma foto do lado de fora sabe, tipo um drone, e o vidro tava refletindo a parte de fora

Bruno Alencastro – Sim, ela dá essa impressão né, ela dá uma impressão de um reflexo, de uma coisa que não dá muito bem pra entender ainda né?

Henrique de Moraes – É, depois você repara assim e você vê que ela faz sentido porque ela tá acompanhando a parede, mas quando você olha rápido, à primeira vista eu entendi que pra mim era isso, tipo um reflexo do vidro, mas muito legal, tem uma aqui também do Eduardo Seidl que também ficou muito diferente porque a paisagem dele é meio verde, misturada com a parte urbana ali e a cama no meio, parece que ele montou, parece que ele botou sei lá, um fundo verde

Bruno Alencastro – Chroma key hahaha

Henrique de Moraes – Botou no chroma key, exatamente, muito maneiro, vale muito procurar. Bruno, a gente tá chegando em 2 horas de bate papo, eu tenho umas perguntas que eu faço mais pro final, que são teoricamente mais rápidas mas eu queria saber como é que tá seu tempo aí cara, pra também não tomar muito do seu tempo

Bruno Alencastro – Tá tranquilo cara, esse momento fez total sentido pra mim porque minha mulher também trabalha com comunicação e ela tá lá na sala, eu tô aqui num quartinho e ela tá lá na sala numa outra live agora, nesse momento, então tá cada um na sua, nesse mundo virtual, tá de boa

Henrique de Moraes – Tá beleza, eu vou tentar, vou pular algumas aqui mas vou pegar as que eu gosto mais pelo menos e a gente tenta matar isso em 15, 20 minutinhos, pode ser?

Bruno Alencastro – Beleza

Henrique de Moraes – Show, fechado, vamos lá. Então, qual foi o livro que mais impactou sua vida? E aí você não precisa falar só de 1, você pode falar até uns 3 eu acho que vale a pena mencionar, você tem assim algum livro que tenha tipo mudado muito a sua forma de enxergar o mundo ou que tenha te ajudado a crescer de alguma forma?

Bruno Alencastro – Cara tem um livro de fotografia que eu acho que ele é meio que um consenso entre os fotógrafos e para mim não foi diferente, que é um livro do fotógrafo Robert Frank, que ele desenvolveu uma pesquisa quase documental pelos Estados Unidos, rodou todos os Estados Unidos para falar sobre esse povo estadunidense, sobre o norte-americano que chama “The Americans” e é assim uma aula de documental, de fotografia documental e de edição fotográfica e de sabe, essa dedicação a um tema e para mim ele é recorrente assim, é um livro antigo né, uma uma linguagem analógica, fotografia em preto e branco mas que seguidamente ele precisa ser revisitado pra ajudar a pensar o processo de edição porque foi um cara muito vanguarda, e que traz ensinamentos e que tem eco tranquilamente nos dias de hoje.

Henrique de Moraes – Bacana. E quem é a pessoa que você mais admira e porque? E não precisa ser uma pessoa famosa, no sentido de não precisa ser alguém no âmbito profissional, pode ser qualquer pessoa mesmo tá, sua mãe entendeu, pode ser qualquer pessoa.

Bruno Alencastro – Pois é, essa pergunta é muito difícil, essa pergunta é difícil hein.

Henrique de Moraes – É difícil cara, se quiser a gente pular ela e depois se você lembrar de alguém a gente volta, pode ser?

Bruno Alencastro – Tá, vou ficar pensando, deixa eu ver de repente eu resolvo, acho que é difícil responder né, sintetizar assim numa pessoa

Henrique de Moraes – Sim, é sempre difícil uma pessoa só

Bruno Alencastro – É, acho que é muito o momento, às vezes a gente tem alguém que naquele momento tá fazendo uma diferença tão grande assim na nossa vida, de inspiração, de ideias e de conduta e que muda tanto né, daqui a pouco a gente também vai lá e por algum motivo ou outro acaba se decepcionando com essas pessoas, eu tenho em graus diferentes assim, ídolos por motivos diferentes que vão fazendo sentido assim na vida, mas eu acho muito difícil conseguir sintetizar numa pessoa, esse compromisso de referência e de integridade infinita né na minha vida, acho que tem momentos que a gente vai vivendo e que de repente nesse momento é a nossa mãe mesmo né, nossos pais, é a nossa mulher, é um músico que tá fazendo total sentido naquela época a inspiração que vem dele assim, nesse momento eu diria que são os criadores do The Office que são a minha principal fonte de inspiração e de carinho e apreço que eu tenho, nesse momento são esses caras que estão fazendo a alegria da minha quarentena.

Henrique de Moraes – Muito bom. Você lembra de algum conselho assim, e aí não precisa ser de uma pessoa, pode ser um trecho de livro que você leu, alguma coisa nesse sentido mas que tenha também feito muita diferença para você?

Bruno Alencastro – Conselho eu vou revisitar esse que eu falei no início da conversa, acho que essa filosofia meio yoga que daqui a pouco pode ter ecos e ser dita de outra maneira em sei lá, religiões diferentes ou até em forma de compreender a vida, mas eu acho que essa compreensão de que a gente tem tão pouco repertório por mais que a gente ache que conheça tudo, no fundo a gente tem tão pouco repertório e possibilidade de imaginar o que a vida pode nos proporcionar que é preciso estar aberto, é preciso deixar ser surpreendido pelo que tá guardado pra gente e pro que o futuro ainda pode nos oferecer.

Henrique de Moraes – Legal. Você tem algum hack, alguma coisa que tenha te ajudado nos últimos tempos? Vou dar um exemplo aqui pra ilustrar, esses dias eu descobri, por exemplo que quando a gente coloca, eu leio muito Kindle né, e aí eu queria mandar um PDF pro Kindle só que eu não queria que ele ficasse no formato PDF, e eu descobri que se você manda por email pro seu Kindle aquele PDF e coloca “convert” no assunto, ele converte para o formato de Kindle, magicamente. Então assim, esse foi um que eu descobri há pouco tempo, então você lembra de alguma coisa que você tenha aprendido nos últimos anos, que tenha feito uma diferença na sua vida?

Bruno Alencastro – Tenho cara, tem uma agora recente que é, produtor de imagem né, vai ter alguns truquezinhos aprendidos relacionado à fotografia, pra mim um que é uma descoberta recente é como enviar fotografias via WhatsApp sem tirar a qualidade dessas imagens

Henrique de Moraes – Esse momento é importante, calma aí, vou fazer uma preparação aqui, que rufem os tambores, vai cara, me conta porque eu fiquei muito curioso

Bruno Alencastro – O que acontece, quando a gente manda uma fotografia pelo WhatsApp como imagem né, vai ali na galeria do celular e puxa uma imagem pra mandar ela, busca ali da galeria e manda como imagem, a imagem ela vai ser comprimida e vai chegar lá para outra pessoa com uma qualidade que né, foi diminuída pra ter um tráfego mais rápido, mais fácil, sem consumir tanta banda e tal, mas quando a gente coloca ali pra abrir os anexos na hora de puxar um arquivo para mandar pelo WhatsApp, ele também tem uma opção de mandar um arquivo e não uma imagem, mandar um arquivo. E aí se a gente clica em mandar um arquivo e entra lá na mesma galeria e busca a mesma imagem, ele vai mandar aquela imagem na íntegra da qualidade que ela tá dentro do teu celular sem fazer nenhum tipo de compressão, ele não entende que aquilo ali precisa ser comprimido para mandar ela menor e tal, não, ele mantém a qualidade nativa da imagem, então se tu fez uma fotografia na melhor qualidade do celular, ela tem 7 MB né, uma fotografia super complexa, ela vai chegar lá na outra ponta, se for enviada com arquivo, com os mesmos 7MB, mesmo conjunto de características que ela tinha na origem.

Henrique de Moraes – Cara, muito muito obrigado por isso cara, vou bater palmas agora. Cara, a gente lá na agência né, a gente tem muito problema com isso porque cliente manda muito material pra gente pelo WhatsApp, e por mais que gente a gente peça “Não, manda por email pra não perder a qualidade”, então assim, eu não sei se os clientes vão ter, por mais que a gente peça né, cliente é meio difícil, mesmo explicando talvez eles não mandem, mas até para gente enviar, porque às vezes a gente fala “Não, manda por aqui mesmo”, e aí a gente fica “Pô a gente acabou de fazer”, especialmente quando você faz arte né, as cores vão pro cacete, destrói tudo então assim, tendo esse macete aí vai fazer uma diferença nas nossas vidas, então obrigado por isso, o bate papo foi maravilhoso, mas agora você lacrou, você fechou aqui com chave de ouro.

Bruno Alencastro – Só tenho um ranço disso, é preciso que se diga, tem um ranço de algumas pessoas em operar dessa maneira, por exemplo minha mulher fica maluca quando eu mando algum tipo de arquivo pra ela dessa maneira porque o que acontece daí, não aparece o thumb, não aparece a miniatura, vai aparecer um link que daí você vai clicar nele aí ele pede para fazer um download para o seu aparelho, aí primeiro baixa ele para o aparelho porque ele entende que é um arquivo aí depois sim visualiza a imagem normal, mas por exemplo nessa coisa corriqueira ali de WhatsApp de já querer ver o thumb da imagem, ver ela antes de clicar para ver maior assim, não vai aparecer, vai aparecer um nome de arquivo, então isso às vezes é meio o ônus da coisa assim, mas o bônus nem se compara, é mandar uma imagem com a qualidade natural dela né.

Henrique de Moraes – Cara amanhã a primeira coisa que eu vou fazer, vou acordar e vou testar isso, mandar a imagem com bastante rosa, vermelho e ver o que acontece, mas beleza. Próxima pergunta, você tem algum hábito que as pessoas estranham mas que você ama?

Bruno Alencastro – Cara, eu sou canhoto, e aí eu sou um canhoto orgulhoso de ser canhoto, que veste a camisa mesmo, que gosta quando saem aquelas listas assim de “Pessoas canhotas são assim, são assado”, você se sente mais importante por isso, e pra complexificar ainda mais a coisa eu comecei a me testar para algumas funções, algumas atribuições, até tentar ser ambidestro, então para mim uma diversão é tentar ficar me forçando a fazer as coisas com o outro lado da mão, da perna, pra também dar uma brincada às vezes com cérebro, então eu sou ambidestro pra algumas coisas, como as pessoas estranham nesse sentido, vou escovar os dentes e eu escovo cada lado dos dentes com uma mão diferente, com a contrária assim e por aí vai né, sei lá cada um com suas maluquices então tem isso, rola isso de ser um canhoto empolgado e meio metido à ambidestro.

Henrique de Moraes – Muito bom, essa de escovar os dentes é bom porque você pode pegar duas escovas e adiantar né.

Bruno Alencastro – Não é perfeito, minha irmã que é dentista adora, ela falou que eu tenho uma precisão diferenciada

Henrique de Moraes – Precisão é ótimo, muito bom cara, você seria um bom baterista.

Bruno Alencastro – Olha aí, boa estratégia

Henrique de Moraes – Você já pode pensar aí, se quiser entrar no mundo da música, já sabe qual o instrumento inicial, se bem que em todos os instrumentos é importante você ter habilidade nas duas mãos né, mas enfim. Você tem algum filme ou documentário favorito? Esse é difícil também de ter um só, mas você pode falar mais de um, não tem problema não.

Bruno Alencastro – É difícil cara, mas tem um que ganhou um destaque nos últimos tempos na minha vida, que ele ganhou algumas léguas de vantagem assim, documentário que é esse que foi o ganhador do Oscar, o “Free Solo”, que é sobre um, não é o Oscar desse ano, é o Oscar do ano passado, que fala sobre um tipo de alpinismo que tem né, que os atletas desenvolvem, que é sem os aparelhos, sem os ganchos, sem as cordas, e aí por isso o nome “Free Solo” e aí o documentário acompanha a trajetória de um desses caras em busca de uma tentativa de superação dele, de conquistar uma subida lá nos Estados Unidos agora não lembro exatamente o morro a montanha que ele, que ele coloca como meta para ver se ele vai conseguir isso sim, e é de uma grandeza, de novo né, o fotógrafo, primeiro do ponto de vista de fotografia mas depois entra em questões profundas assim do ser humano né, da vida, pô o cara tá colocando em limite ali a vida dele, e aí vai falar sobre todos essas questões filosóficas da vida e ainda o bônus, de pensar que por trás desse documentário também tem um paradigma da linguagem mesmo ou seja, o quanto que pelo fato de ter uma equipe ali com esse cara filmando ele e documentando isso, o quanto que isso também vai interferindo em ele querer continuar ou não a conquistar esse objetivo, e aí a equipe começa a rever também o que que eles estão fazendo da vida deles que daqui a pouco eles vão estar lá “forçando” um cara né a seguir naquilo e arriscar morrer, e aí o que que vai ser da vida desses caras se o cara não conseguir atingir o objetivo dele, cara é muito profundo e tem várias camadas assim de interpretação né, por isso que ele ganhou umas léguas assim de vantagem ultimamente e nesse sentido eu não tenho problema em citar um só porque ele tá bem acima, é muito bom.

Henrique de Moraes – Boa, vou procurar, não conhecia, nas verdade eu não sei nem se já tinha ouvido falar.

Bruno Alencastro – Vale a pena

Henrique de Moraes – Show, perfeito. Você faz alguma coisa assim no seu dia a dia, eu não vou nem considerar o tempo de isolamento porque eu acho que a gente acabou mudando um pouco as rotinas, mas quando você tá no seu dia a dia normal, indo pra rua, você tem alguma coisa, uma rotina para manter a cabeça no lugar, pra se manter mais centrado, ou menos ansioso, tem alguma coisa que você faça nesse sentido?

Bruno Alencastro – Cara, esporte né, e aí tem sido a dificuldade nos últimos tempos assim, que é uma descoberta tardia também pelo tênis, eu me tornei aficionado, entusiasta e empolgado com o esporte tênis, tanto pra assistir quando pra praticar que tem feito um bem muito grande assim pra mim disso, terapia mesmo, terapia do esporte, adrenalina, concentração, tudo isso e que agora infelizmente tô impedido né de seguir com ele, não vejo a hora de poder voltar

Henrique de Moraes – Esse é o ponto, acho que pior pra mim também, embora eu não seja um super esportista mas eu sinto que eu tô ficando sem vontade de fazer as coisas em casa, eu comecei tentando malhar, fazer uns exercícios mas depois eu parei porque eu gosto de ir pra rua pra fazer isso, sabe, gosto de correr na rua, de sair, ver as coisas, enfim, tem sido complicado, a barriguinha não tá legal não

Bruno Alencastro – Total, e aí perde a motivação, acaba que não faz sentido também, tá igual cara, aqui só muda o endereço, não vejo a hora, e o triste é que eu ao mesmo tempo tenho consciência de que ele é bem problemático, ele é muito contagioso, a bolinha é de feltro e não tem como seguir assim, suor, não dá, por mais que esteja cada um de lado da quadra ele é bem problemático, ele não é um esporte coletivo mas ele tá na lista dos mais problemáticos assim, eu acompanho também notícias, torneios cancelados e tal e o que se fala é bem isso, ele é um dos últimos que vai pode voltar à sua normalidade por conta de tudo isso

Henrique de Moraes – Caramba, não sabia, curioso. E você tem alguma recomendação de podcast, app, pessoa pra seguir, enfim, alguma coisa que você admire nesse sentido que você queria dividir com o mundão?

Bruno Alencastro – Pois é, essa sim é mais difícil porque o que que eu faço, eu acabei criando um sistema pra mim de organizar tudo isso num só lugar, eu achava meio caótico essa coisa de ter os seguidores no Twitter, assinar os canais no YouTube, fazer essas coisas fracionadas, eu tentei ir assinando, eu sou do tempo de assinar os RSS, de compilar tudo isso num só lugar, e ir tacando tudo na mesma plataforma pra eu ser notificado sempre das coisas que vão aparecendo e entrando e hoje acabei ficando refém disso, do Feedly, mas então ele é a dica que eu posso dar, eu até hoje sou um viúvo do Google Reader, que o Google descontinuou a função que ele tinha de fazer isso não sei porque, não fazia mal à ninguém, o Google foi lá e acabou com essa possibilidade de ter o Reader e aí eu migrei pra plataforma Feedly, que vai fazer uma brincadeira com “feed”, o Feedly é um site/aplicativo que faz um conglomerado assim, você vai assinando as atualizações de sites, blogs, e várias contas e vai caindo tudo nele assim, então para mim a dica não é um fim específico mas é um meio de chegar nisso que é esse site/aplicativo, que daí a gente vai achando coisas e vai colocando nele, vai assinando, vai trazendo praquele lugar e pra mim ele é, todo dia assim né, começa o dia abro meu e-mail, vou falando com os contatos e aí no primeiro momento de pausa e de ócio eu abro ele para ver o que que foi entrando de atualizações, e aí assino tags e coisas específicas que são do meu interesse né, aí vou me atualizando de tudo isso assim.

Henrique de Moraes – Legal cara, e por último, se você pudesse dar uma mensagem para quem tá ouvindo assim, se tivesse uma oportunidade de mudar a vida dessas pessoas com uma mensagem, sem pressão tá? Assim, se pudesse passar uma mensagem para as pessoas sabe, ou qual mensagem que você gostaria que sua vida passasse de alguma forma, você tem alguma coisa nesse sentido, já refletiu sobre isso?

Bruno Alencastro – Acho que mais do que nunca assim eu tenho me convencido, e aí acho que é uma superação que agora eu consigo formalizar porque eu tive que primeiro superar isso assim, mas que hoje eu entendo que eu tenho isso quase que resolvido para mim, acho que nunca tá completamente resolvido mas eu já evolui bastante assim no sentido de resolver isso, primeiro pra mim mesmo que é assim a atitude da gente ter o ímpeto assim, da gente tentar, da gente batalhar, da gente ia atrás, da gente dar a cara, e aí tem várias formas de falar isso assim né, ou seja ter a coragem, tomar a iniciativa, propor, tentar, experimentar, enfim, tem várias maneiras de falar isso mas o que eu quero dizer com esse pensamento, com essa reflexão é o lance de ter iniciativa mesmo, de não se deixar, e isso é caro, é difícil né, eu falo isso que eu ainda estou em tratamento desse processo porque não é fácil assim a gente sair dessas amarras de insegurança, de dúvida, de medo, de receio, de auto-sabotagem, de tudo isso assim que a gente às vezes vai colocando e nem sabe porque vai se sabotando mesmo assim, então eu acho que eu evoluí muito nesse sentido, hoje eu sou mais carudo assim, hoje eu sou mais sem vergonha no sentido de ir lá e tentar, e propor, e daqui a pouco não ter receio de entrar no LinkedIn pra ver quem é o manager do Spotify e tentar marcar uma hora pra sentar com esse cara e conversar e oferecer um projeto para ele assim sabe, e dane-se, vamos ver no que vai dar, o cara pode me ignorar ou o cara pode pensar assim “Quem é esse maluco que tá vindo falar comigo aqui e vamos tentar marcar uma conversa com ele ver o que ele tem para me falar” sabe, eu acho que é disso que em pequenas ou grandes proporções a gente vai conseguir ir conquistando mudanças assim na nossa vida e melhorias, e novos projetos e as coisas vão acontecendo.

Henrique de Moraes – Perfeito cara, eu concordo completamente com você e recomendo muito que todo mundo também siga essa filosofia cara, vai lá, mete a cara, tenta, tem aquele clichezão né que é o “O não você já tem”

Bruno Alencastro – Mas é total isso

Henrique de Moraes – Você já tem isso, a inércia já tá aí, então vai lá e faz, se a pessoa não responder beleza, se ela falar que não melhor ainda, prefiro quando as pessoas respondem do que quando deixam no vácuo, e acho que responder educadamente então melhor ainda, mas assim cara é isso, a gente não tem muito a perder assim, é só tentar manter a cabeça no lugar, tentar não se frustrar com as negativas porque é engraçado né, se você não faz nada, nada acontece e você fica bem, mas se você faz alguma coisa e nada acontece você fica mal sabe, parece que você falhou e não, não aconteceu sei lá porque, foi o momento, mas continua tentando

Bruno Alencastro – Exato, e aí com a negativa vai vir a outra frase pronta mas que também de importância, que é necessária, que é de aprender com os erros e daqui a pouco testar a abordagem e não foi dessa maneira mas pelo menos agora lá o fulano já sabe quem eu sou né, já tem na cabeça dele quem é esse cara, e aí amanhã ou depois isso pode reverberar de uma outra maneira e vai tirando aprendizado das negativas, então é mal nenhum assim que a gente tem ao correr esse risco assim, pelo contrário, só vai vir coisa boa a partir disso.

Henrique de Moraes – Sim, e tem uma questão também que é importante que é da gente também ter um pouco de empatia né, tanto com a gente quanto com os outros porque você tá falando com uma pessoa, você não sabe como é que tá a vida da pessoa, que correria tá então assim, às vezes a pessoa ou não responde ou fala não, por mais que eu reclame quando as pessoas não me respondem mas eu entendo que às vezes a pessoa tá num outro momento de vida, tá numa correria ou então tá passando por alguma coisa que eu não faço a menor ideia, todo mundo tem essa parte também, tá passando por alguma dificuldade que você não faz ideia então assim, seja empático né, não sei se a frase é exatamente essa, mas serve.

Bruno Alencastro – Cada pessoa é um universo de coisas que tão acontecendo e a gente tem que ter essa clareza né

Henrique de Moraes – Tem que ter essa clareza e com você também, então assim, não se frustra e a magia disso tudo que eu vejo pelo menos, é que você vai encontrar algumas pessoas no caminho que tão dispostas a trocar com você e vai ser mágico.Eu tenho um exemplo disso que eu saio mandando mensagem pras pessoas, cara, agora então com o podcast melhor ainda porque pelo menos tem algum motivador maior por trás, mas eu sempre mandei, sempre falo “E aí cara, posso te pagar uma cerveja, um café pra gente conversar” ou então vou puxando um assunto, faço uma pergunta no LinkedIn, no Instagram e vejo qual é a resposta pessoa e vou tentando criar, construir um relacionamento a partir dali e aconteceu isso comigo e com um dos entrevistados, foi o penúltimo se não me engano, convidado do podcast que foi o André Passamani da Mutato, que é uma agência que pô, eu como agência pequena eu olho para eles com admiração e eu já tinha ouvido entrevistas do Passamani que eu tinha adorado assim, eu tinha achado ele um cara sensacional e tinha vontade de conversar com ele sobre várias questões da nossa área e não só disso, e eu comecei a trocar mensagem com ele no Linkedin e ele respondia e a gente ia conversando, falando e tal, até que um dia eu falei “Cara, tô indo pra São Paulo, pô queria pagar uma cerveja pra você, topa?”, aí ele “Topo”, e eu fui pra São Paulo e a gente foi, sentou e ficou 3 horas conversando sabe, sobre a vida, sobre tudo, e aí depois há pouco tempo atrás eu mandei uma mensagem pra ele perguntando se ele podia participar, se ele toparia participar do podcast e ele topou, em compensação assim, eu mandei mensagem pra um monte de gente que não me respondeu, gente que falou que não, gente falou que sim e sumiu, acontece sabe, então não sei o que aconteceu na vida da pessoa que falou sim e sumiu, não vou também ficar julgando. Então é isso, é você aceitar e lidar com a fazer o melhor que você pode né cara, não tem muito erro, enfim,

Bruno Alencastro – Total, total.

Henrique de Moraes – Cara, então pra encerrar queria só pedir pra você falar pra galera onde as pessoas podem te encontrar, onde é melhor inclusive que elas te encontrem né, porque sempre tem uma rede social favorita ali né, que você prefere que as pessoas sigam ali

Bruno Alencastro – Sim. Cara, eu como produtor de imagem assim, como um cara interessado em narrativas visuais eu continuo muito fiel ao Instagram, então felizmente eu não tenho nenhum homônimo assim de representatividade na fotografia, então é fácil de me achar nas redes assim né, meu nome e meu sobrenome, que é @brunoalencastro, direto assim @brunoalencastro seja pra Instagram, LinkedIn, Twitter, Facebook, Gmail, é só o meu nome e sobrenome e eu tenho as redes todas abertas, o cara que pregou aqui né ao longo dessa conversa a importância de estar aberto, de conversar com as pessoas não poderia ter seus dados e sua comunicação fechada, então meus canais estão todos abertos, meu celular tá no Instagram, meu e-mail está no Instagram, enfim meu site tá lá aberto também que é brunoalencastro.com.br, de uma maneira ou de outra é fácil de chegar em mim e trocar alguma ideia, tirar alguma dúvida né ou então me trazer dúvidas, enfim, a gente oportunizar esses momentos que são tão importantes assim na vida de todo mundo que tá envolvido né, quem chega e quem participa desse processo.

Henrique de Moraes – Perfeito. Pô Bruno, obrigadaço foi um prazer cara, curti bastante, aprendi bastante, inclusive e queria te agradecer pelo seu tempo mais uma vez

Bruno Alencastro – Que isso Henrique, eu que te agradeço aí também cara, foi sem papinho assim, mas o que eu falei lá no começo é real assim, esses momentos é que tem sido um pouco de calma assim né pra usar o nome do programa, mas também de leveza e de curtir um pouco esse momento mais tranquilo, pensando né, acaba que me fazer essas perguntas me levou para lugares que foi muito gostoso assim de revisitar assim e de pensar sobre eles e de relembrar né a importância que eles têm, então certamente pode sair tranquilo assim que tu oportunizou tudo isso assim para mim, muito legal

Henrique de Moraes – Ah que bom cara, fico feliz. Até a próxima então.

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