calma! #12 com Helena Galante
Helena Galante é criadora do podcast Jornada da Calma, editora das revistas VEJA SÃO PAULO e VEJA COMER & BEBER e colunista da rádio CBN SP.
no bate-papo falamos bastante sobre sua carreira como crítica gastronômica e passamos pela sua transição até chegar no podcast, começando pela coluna “A Tal Felicidade”, da Veja, que aos poucos foi gerando essa comichão pra criar algo novo, culminando no “Jornada da Calma”.
a conversa foi uma delícia e só de ouvir a voz da Helena dá pra perceber que ela tá no lugar certo! a gente fica mais tranquilo só ouvindo ela falar.
para conhecer o Jornada da Calma, acesse esse link: https://vejasp.abril.com.br/tudo-sobre/jornada-da-calma
e siga a Helena no Instagram: https://www.instagram.com/helenagalante
LIVROS CITADOS
- A Incrível Ciência das Vendas – Luiz Gaziri
- A Coragem de Ser Imperfeito – Brené Brown
- Um Curso em Milagres – Helen Schucman
- Como ser pleno num mundo caótico: práticas mindfulness para a vida real – Tim Desmond
- Comer Rezar e Amar – Elizabeth Gilbert
- Grande Magia – Elizabeth Gilbert
- The War of Art – Steven Pressfield
PESSOAS CITADAS
- Luiza Caspary
- Luiz Gaziri
- Marcela Ceribelli
- Brené Brown
- Arnaldo Lorençato
- José Saramago
- Steve Jobs
- Tim Desmond
- Mia Couto
- Elizabeth Gilbert
- Jesus
- Buda
FRASES E CITAÇÕES
- O crítico come com a boca emprestada dos outros. frase de Arnaldo Lorençato
- Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos. José Saramago
- Você não consegue ligar os pontos olhando pra frente, você só consegue ligá-los olhando pra trás – Steve Jobs
- A gente se acende é nos outros – Mia Couto
- Impaciência com atos e paciência com resultados – citado por Henrique
- Escolhas fáceis, vida difícil; escolhas difíceis, vida fácil – citado por Henrique
- A vida é macia – citado por Helena
se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.
Henrique de Moraes – Olá Helena, seja muito, muito bem-vinda a esse inception de calma que tá rolando aqui, eu tô muito feliz por você ter topado participar, tô mega empolgado pra gente já começar esse bate-papo.
Helena Galante – Fiquei muito feliz Henrique, Jornada da Calma e Calma!, como a gente não tinha se encontrado antes né, temos que fazer esse inception logo
Henrique de Moraes – É verdade, engraçado que quando eu fui fazer, quando eu comecei o podcast, não tem muito tempo, tem acho que um mês e meio, por aí, eu comecei a procurar né, quando veio essa ideia de “calma”, eu comecei a procurar e eu não encontrei o seu podcast, por isso que é muito louco né
Helena Galante – Gente, gravíssimo!
Henrique de Moraes – Pois é, eu esbarrei muito em um que era alguma coisa como “calma gente chata”, “pera aí gente chata”, sei lá, um negócio assim
Helena Galante – Outra pegada
Henrique de Moraes – É, exatamente, era outra proposta, mas foi depois eu ter descoberto o seu, porque cara eu tô ouvindo aqui, tô tentando maratonar no meio dessa loucura toda e tenho tirado muitos insights, inclusive o último que foi do rapaz que falava sobre felicidade, qual era o nome dele?
Helena Galante – Sim, o Luiz Gaziri, que ele fala de ciência da felicidade, tem o livro A Ciência da Felicidade e falou de motivação, eu achei muito necessário para mim também, para o momento que a gente tá vivendo ouvir, e que legal que você tá ouvindo, legal.
Henrique de Moraes – É bom, e engraçado que você falou né, até me distraí aqui, saí um pouco do que eu ia falar mas que a gente faz o podcast muito também para conseguir esse auto conhecimento né, para a gente aprender com as pessoas.
Helena Galante – A gente é o primeiro que escuta né, quem tá falando é o primeiro que se escuta depois, e autoconhecimento eu acho que eu tinha isso quando surgiu o Jornada da Calma, que a gente precisa de mais disso, tá faltando, então acho que começando com calma ajudaa, eu acho sempre que quando a gente fica um pouco mais tranquilo a gente aprende mais, escuta mais, mas certamente é um processo que começa, começa pelo próprio podcaster né, não sei o que que você acha disso Henrique, você tá mais calmo depois desse um mês e meio?
Henrique de Moraes – Olha, eu não sei, eu acho que vai oscilando né
Helena Galante – Justo
Henrique de Moraes – Alguns momentos a gente fica mais nervoso, porque assim, vai vendo que a gente criou mais um compromisso para nossa vida
Helena Galante – Um grande compromisso né
Henrique de Moraes – Exatamente, mas assim, eu ouço algumas entrevistas, aí eu ouço algumas mais uma vez, e eu vejo assim a riqueza da conversa que eu tive com uma pessoa que eu admiro, e eu trago muito pessoas que eu curto, que admiro de alguma forma né, eu fico “cara, isso não tem preço”, se não fosse pelo podcast eu não tivesse a oportunidade de conversar com essa pessoa
Helena Galante – Sim, é muito bom, quando eu tava conversando com Marcela Ceribelli ela falou “E a gente ainda pode chamar isso de trabalho, isso é muito privilégio”, eu falo “Tem razão, é realmente um privilégio”
Henrique de Moraes – É verdade. Tem uma pergunta aqui que eu tinha colocado separado, que ia ser mais para frente, mas eu vou até já inverter a ordem das coisas aqui
Helena Galante – Boa
Henrique de Moraes – Eu queria saber assim quando você resolveu né, fazer o podcast, que começou o projeto, eu ouvi a história, mas uma coisa que eu não consegui tirar de quando você contava assim, como é que foi o processo né, com seu chefe, que ele aceitou bem rápido né na verdade inclusive, depois você pode até falar um pouquinho sobre isso, mas eu queria entender assim o que te motivou, eu sei que você tava num processo ali de autoconhecimento, mas foi muito, mais assim por curiosidade de tentar entender um pouco mais como ter calma, ou até encontrar um pouco mais, se encontrar um pouco mais nesse processo de autoconhecimento, ou foi mais para você divulgar o que você tava aprendendo sabe, as pessoas com quem você tava aprendendo isso?
Helena Galante – Vamos lá, vamos lá, que eu acho que as coisas foram meio misturadas, como elas sempre eu acho que surgirem na vida né, é bonito quando a gente volta para contar a história que a gente dá uma ordem para as coisas, mas na verdade elas acontecem bem misturadas né, o primeiro enfim, a primeira mudança profissional que rolou na minha carreira quando eu comecei a falar de assuntos que tinham mais a ver com o autoconhecimento veio com a coluna Tal Felicidade, da Vejinha, então eu comecei entrevistando pessoas sobre felicidade, conversando com elas, algumas pessoas escreviam artigos, outras pessoas eu entrevistava e depois transformava essa conversa em artigo, e eu comecei a ver que toda a busca que eu já tinha de autoconhecimento tinham muitas outras fontes muito legais, e que as pessoas não estavam sabendo disso. Quando veio a ideia do podcast, e era curioso porque eu não era nem ouvinte de podcast assim, eu não era exatamente uma fã de podcast, mas eu já tinha ouvido falar e tava num momento no ano passado, agora o Jornada da Calma vai fazer um ano, tava no boom de podcast né, 2019, depois de muitos anos que ficou se discutindo qual era o ano do podcast, eu acho que todo mundo concordou que 2019 era o ano do podcast aqui no Brasil porque enfim, Globo lançou podcast, o número de procura pelo termo podcast no Google disparou, enfim, quando a gente tava no meio dessa discussão eu tava pensando num projeto maior, que tinha a ver com felicidade, e eu sugeri que a gente tinha que fazer mais alguma coisa que não podia ser só sobre felicidade, felicidade talvez às vezes as pessoas também entendem como uma ditadura da felicidade né, uma obrigação, de que você tem que ser feliz o tempo inteiro, eu não queria dar esse tom, e eu pensava “O que que a gente poderia fazer, que tem cara de felicidade mas tem uma cara mais próxima assim, que todo mundo precisa?”, e aí veio essa esse nome, foi uma inspiração “Jornada da Calma” e eu sugeri, demorou um tempo para ele sair do papel ainda, até ter essa mensagem que eu conto em entrevistas, que eu mandei para o meu chefe porque eu tinha sugerido, enfim, uma empresa grande demora, muitas etapas ali pras coisas serem aprovadas acontecerem, já tinham passado dois meses aí eu falei “Ah, quer saber? E se eu só tirar do papel e depois a gente vê como as coisas funcionam?”, e mandei uma mensagem para o meu chefe falando “Posso? Posso tirar do papel,posso fazer?” e ele “Claro, querida” eu falei “Olha aqui, tá vendo, a dificuldade tava mais na minha cabeça do que de fato nas coisas”, só que junto com isso o que tava acontecendo, era um, é que é curiosíssimo falar, era um grande momento de crise, porque hoje 2020 a gente tá vivendo um momento de crise e a gente fica reavaliando todas as crises anteriores que a gente já teve né, mas enfim, foi um momento muito delicado, era o momento que a empresa estava passando por muitas reestruturações e cortes, e processos muito complicados, tinha questões familiares complicadas acontecendo também, tudo que eu achava que era muito firme tava bem bambo assim, sabe? Falei “E agora, o que vai acontecer?”, e eu via que tava todo mundo mais ou menos nesse momento, eu acho que foi quando eu senti que autoconhecimento não era uma firula assim sabe, uma coisa que você pode procurar e “Ah, que luxo agora que a gente tem”, eu percebi que não, que as ferramentas que eu tinha e que tinham a ver com autoconhecimento eram o que estavam literalmente me mantém de pé quando tudo parecia estar desmoronando, só que eu vi as pessoas do meu lado, e as pessoas no trabalho, as pessoas com quem eu conversava, e tava todo mundo muito fragilizado, todo mundo desesperado mesmo, e eu pensava nisso assim, as pessoas têm que saber que tem jeitos de passar por todas as tempestades, um pouco mais sereno, e isso não quer dizer que a gente não vai passar por tempestades, ou que a gente não vai enfrentar crises, mas que a gente pode fazer isso de uma outra maneira, tem que ter um outro jeito de passar por tudo isso, e foi daí que surgiu então, era quase uma necessidade que eu tinha junto com uma vontade de ajudar, junto com “acho que se eu não tivesse feito também eu não teria conseguido passar por tudo isso também”, aí foi esse bololô mas deu certo assim, hoje a hora que eu olho é uma, sabe uma sensação de “era isso que eu tinha que estar fazendo, nesse momento que eu tinha que estar fazendo, para essas pessoas”, a hora que você começa podcast, acho que você deve ter sentido Henrique, quando a relação com o ouvinte é uma coisa muito diferente né, a pessoa fica ouvindo a gente de foninho assim, num momento muito íntimo né, às vezes que é só dela e fica nossa voz ali falando tanto tempo né, no ouvido dela, é uma relação muito próxima, e as pessoas mudam depois de ouvir uma conversa, não é só a gente que tá conversando que muda, quem tá ouvindo muda também e eu acho isso muito poderoso assim, hoje eu falo que eu não gostaria de estar fazendo nenhuma outra coisa, nem profissionalmente, nem da vida, eu já acho que é tudo a mesma coisa assim sabe, tinha que, tinha que ser o Jornada da Calma, não tem jeito.
Henrique de Moraes – Cara, que legal isso, história muito, assim, tem tanta coisa que eu queria te perguntar, só desse trechinho dessa história.
Helena Galante – Pode perguntar tudo
Henrique de Moraes – Mas você falou sobre, por exemplo, algumas algumas ferramentas de autoconhecimento que você já tava usando né, e que te ajudaram a passar pela crise, tem alguns exemplos assim, específicos talvez, que as pessoas possam buscar, por exemplo?
Helena Galante – Claro, eu acho que são posturas mentais né, a gente não, acho que agora um pouco isso tá mudando, e esses, até esses termos estão um pouco mais difundidos assim as pessoas conhecem mais, mas eu acho que a gente tem muito pouco conhecimento de como a nossa própria mente funciona, por exemplo, assim ó, a gente imaginar cenários ruins, imaginar cenários terríveis ou que sempre a pior coisa vai acontecer, parece meio “natural”, entre muitas aspas, até você entender que na verdade você treinou a sua cabeça para ela pensar desse jeito, e não necessariamente é o único jeito pra pensar. Então você dividiu, o que que é uma imaginação sobre o que pode acontecer, e o que tá acontecendo de fato. Era um treino que eu que vinha me propondo, e quando eu tinha essa sensação por exemplo, que eu sentia que tudo estava desmoronando, tinha horas que eu tinha que parar e falar “Não, pera aí, onde é que eu estou agora?”, “tá, agora tô na minha sala, não tá acontecendo nada, as pessoas que eu amo estão aqui, o que pode mudar amanhã?” “Pode mudar amanhã, mas agora nada nada mudou, então eu vou ficar no agora” ,assim, que é uma coisa simples, quando a gente fala, às vezes até parece meio óbvio, muitas vezes eu falo isso no Jornada da Calma, que, são coisas óbvias que a gente tá falando, só que no momento que você tá no meio da bagunça alí, que você tá dando muita fé na sua imaginação, achando que ela é muito real, não parecem, então tem cenários muito terríveis que a gente pensa por exemplo, que não necessariamente vão se concretizar, então separar imaginação de realidade, por exemplo, foi uma das coisas que eu percebi que me ajudavam a lidar só com o que tava acontecendo sabe, não com a minha imaginação. Não sei se ficou concreto ou não ficou concreto o exemplo, você me fala Henrique, porque eu falo muito, se você deixar eu fico aqui horas.
Henrique de Moraes – Não, tudo bem, a gente tá aqui para te ouvir, não para me ouvir, eu já me ouço o tempo inteiro, já tô de saco cheio de mim mesmo
Helena Galante – Eu não, por favor
Henrique de Moraes – Bom, sobre esse exemplo, basicamente o que eu entendi é que você tava quase que se treinando, né, para passar por essas situações. Como você falou, é óbvio né, isso parece muito natural, mas na verdade o que as pessoas não percebem é que todo treino que você faz, inclusive um atleta profissional, ele treina para o que parece óbvio né, no final das contas, porque, eu tava ouvindo alguém falando sobre isso, ou li, não lembro mais, mas que era, que um atleta ele não treina para não se sentir cansado né, mas para entender o que que ele vai fazer quando ele se sentir cansado, e é uma diferença sutil que as pessoas às vezes não percebem, né, e que tem tantas coisas no dia a dia., (barulho) essa minha filha tá?
Helena Galante – Muito bom, tá participando também
Henrique de Moraes – Verdade. Tem tanta coisa no dia a dia que a gente precisa parar para analisar o que está acontecendo, sabe, e tomar atitudes em vez de ir no automático né, e acho que é esse o maior erro que as pessoas cometem, elas não percebem o que tá acontecendo, elas só reagem, ficam em modo reativo o tempo inteiro e aí com isso você acaba deixando que todos os sentimentos, tanto os bons quanto os ruins, eles tomem conta de você, de certa forma
Helena Galante – Isso mesmo. “Treino é treino, e jogo é jogo”, né? Não sei, não sou exatamente do esporte mas falam isso, mas eu gosto muito dessa noção de treino e de aplicação do treino, porque de fato assim quando, e é curioso porque um atleta ele sabe né, que ele vai passar por aquilo, que ele vai passar por uma prova, ele sabe qual vai ser o esforço que ele vai ser submetido, a gente na vida não sabe muito pro que a gente tá se preparando né, a gente de repente só vai se preparando, e aí acontece alguma coisa e você fala “ah, entendi, então era para eu poder dar conta disso aqui que eu estava me preparando”, só que se você não treina, você fica realmente refém desse jeito de pensar, que é automático, e muito reativo, exatamente isso que você falou, quando a gente tem esse, esse jeito de reagir só às coisas, o que acontece é, a hora que tudo fica ruim a gente começa a reagir da pior maneira possível, a gente não consegue propor nada para a cena que tá acontecendo né, parece que tá pegando fogo e a gente vai lá e joga mais gasolina né, e enfim, a gente faz muito isso, e eu percebi, enfim, que tava pegando fogo, que o mundo tava pegando fogo, e que eu queria ser da turma dos bombeiros sabe? E é bem, é complicado às vezes até, de explicar isso assim, porque são coisas sutis, eu acho que vale para momentos de causa e crise muito grandes, mas vale para as coisas muito pequenas também, uma das coisas que eu me toquei muito sobre como as coisas funcionavam era que enquanto uma pessoa tava falando comigo, a minha cabeça já tava pensando no quê que eu ia responder para essa pessoa, e aí teve um dia que eu caí a ficha e falei “Gente, eu não estou ouvindo o que a pessoa tá falando”, enquanto a gente está fazendo uma gravação de podcast, por exemplo, não funciona isso, isso não funciona nunca em nenhum momento, mas assim, tá muito gritante quando você tá fazendo uma entrevista por exemplo desse jeito, que isso não funciona, então eu tive que aprender a ouvir, aprender a conversar com as pessoas, e foi um treino também, é um treino que eu me proponho e que eu começo a perceber “Tá, agora então, a hora que o Henrique tá falando, eu tô conseguindo ouvir ele até o final, ou eu já tô pensando no que que eu vou responder?”, porque se eu não tiver ouvindo ele até o final não vale a pena, eu quero entender o que você tá falando, independente do que eu venha falar depois, se eu tiver que falar “Não, peraí, fala de novo, deixa eu pensar aqui de novo” não tem problema, mas eu quero me comunicar, eu quero conseguir entender de verdade, então isso tudo foram coisas que fui entendendo que começavam com a auto percepção, e eu acho que a Jornada da Calma tem muito disso assim, esse momento em que você percebe “Tô no piloto automático”, esse momento em que você percebe “Tô reagindo desse jeito, porque eu sempre reagi desse jeito”, nesse momento em que você percebe, aí eu acho que abre a caixa de Pandora e tudo pode mudar, mas sem essa auto-percepção a gente não consegue sair do modo reativo, então muito do Jornada da Calma também, é uma conversa que, eu acho que o Calma! traz isso também para as pessoas, a hora que você se propõe a conversar com gente de todas as áreas, que tão procurando jeitos de ficar mais calmos, que lidam com felicidade, com ansiedade de um outro jeito, pode dar um estalinho assim na pessoa: “Olha, tem razão, essa pessoa aqui faz isso desse jeito? Eu faço de outro, porque será que eu faço de outro?”, aí eu acho que tudo pode acontecer, sabe?
Henrique de Moraes – Com certeza, essa coisa do modo reativo, tem um exemplo que eu vi esses dias, daquela Brené Brown, é esse o nome dela?
Helena Galante – Sim, sim
Henrique de Moraes – Eu tava ouvindo um podcast com ela, inclusive, em que ela fala que ela e o marido, eles tiveram que criar um sistema para um lidar com os problemas do outro assim, da melhor maneira possível né, então o que que eles fazem, vamos supor, eles chegaram em casa, e vamos supor que o marido esteja estressado. E aí ele vira e fala assim “Ó, eu tô aqui um 3”, e aí ela fala “Beleza, eu consigo fazer os sete para a gente ficar 10, sabe? E eles ficam o tempo inteiro tentando se auto completar ali né, tipo um ajudar o outro para eles estarem sempre no 10, que seria o nível ideal e isso é muito legal porque o que acontece na verdade né, com casais, é que você chega em casa do trabalho estressado, e aí você passa o estresse para sua esposa e aí sua esposa fica estressada e passa o estresse pro filho, e assim vai né
Helena Galante – Coloca gasolina no fogo né, é isso mesmo
Henrique de Moraes – Exatamente. Então, essas ferramentas acho que a importância delas é exatamente essa, você conseguir criar trilhas ali, entender, qual é o momento que você precisa parar antes de só reagir e colocar algum desses exercícios em prática né.
Helena Galante – É, eu nunca tinha ouvido, eu tô terminando de ler “A Coragem de Ser Imperfeito”, da Brené Brown, mas eu nunca ouvi podcast com ela, tenho que ouvir, mas acho tão bonito, porque, de novo, a hora que a gente fala assim parece óbvio, né “Não, claro, a gente é um casal, então a gente se completa e a gente se ajuda”, só que são tantas coisinhas que tem que acontecer para isso poder dar certo, primeiro você reconhecer que você tá num 3, não é que você tá ótimo não, a coisa tá pegando ali para você, você pedir ajuda para outra pessoa né, falar “Ó, tá faltando aqui, será que você consegue completar?”, a outra pessoa ter a generosidade de falar “Ok, eu posso dar um pouquinho a mais agora para gente poder se juntar e se firmar”, são muitas coisinhas que são treináveis né, porque também é isso, a gente só se dispor a isso não significa que amanhã a gente não vai descontar alguma coisa que a gente está sentindo na pessoa que está do lado que a gente ama, mas enfim, ali naquele momento sobrou para ela, né. Que legal, adorei essa, vou adotar.
Henrique de Moraes – E é engraçado né, porque isso serviria para quase qualquer tipo de relacionamento né, por exemplo no trabalho, você chega no trabalho e já fala “Pô gente, ontem meu dia foi difícil, tô meio estressado”, sabe tipo assim “Deixa eu ficar na minha aqui”, eu acho que já ajuda também né, e as pessoas, dependendo, acho que também parte muito de cultura de empresa, essas coisas, mas se essas pessoas tiverem liberdade de também passarem isso, os outros né, e deixar isso claro, isso ajuda bastante porque normalmente você tem que chegar na empresa e se fechar, e se mostrar ali proativo e ser imbatível, você tem que cumprir todas as metas, todas as tarefas, e você não pode reclamar, não pode falar, se colocar vulnerável né, então acho que parte muito da cultura da empresa também, mas acho que a cultura da empresa também pode partir das pessoas que trabalham nela, a começarem a propor esse tipo de situação né.
Helena Galante – Nossa, com certeza.
Henrique de Moraes – Deixa eu te fazer uma pergunta. Você falou aí sobre as percepções que você teve né, assim, como você teve que, a jornada que está sendo na verdade o Jornada da Calma pra você né, de você ter essas conversas, e você ter que prestar atenção, então esse é um detalhe que pouca gente percebe que faz isso naturalmente né, de você estar conversando já pensando no que você vai falar, por exemplo, mas é, eu tenho percebido que gravar o podcast tem sido assim, o maior causador de autoconhecimento assim, sabe? Porque cara, você percebe todos os seus defeitos, todos os seus erros, sabe? Tipo, eu não sei, eu não sei se sou só eu, mas tem sido muito rico e muito duro para mim também porque eu nunca me vi nessa posição, na verdade eu comecei muito pela vontade de fazer, mas eu nunca tinha me imaginado entrevistando pessoas sabe, por exemplo. Eu nunca treinei para isso, nunca estudei para isso e eu percebi que é muito mais difícil inclusive do que eu imaginava, e acho que o pior é você perceber suas falhas. Você tem algum, você sente isso também quando você tá entrevistando, especialmente quando você ouve as entrevistas, você percebe assim, coisas que você de repente, gostaria de ter explicado melhor, ou gostaria de ter perguntado e não perguntou, sabe essa coisa de ficar voltando e falando “Pô, podia ter falado isso melhor”, “Porque que não veio isso na minha cabeça naquela hora”?
Helena Galante – Sabe que tem uma coisa que você falou assim “Ah, não estudei para isso”, e é engraçado né, que eu fiz faculdade de jornalismo, mas a sensação que eu tinha era que eu também não tava preparada para fazer isso desse jeito, quando eu comecei a primeira entrevista, eu tinha uma intuição, eu acho que era mais isso na minha cabeça, até porque eu não ouvia tanto podcast mas depois comecei muito a ouvir, e eu entendi que os podcasts que funcionam, vai, os podcast que as pessoas gostam, o que acontece é que ali tem a pessoa inteira, não adianta ser só, só uma pergunta, para você parecer o cara mais inteligente porque você fez aquela pergunta, e você colocou o cara contra a parede, e não sei o que, isso não funciona, o que funciona é quando a gente está inteiro, que é o raio da vulnerabilidade, que a Brené Brown fala tanto, que você se expor vulnerável, você mostrar que você tem vulnerabilidades também, que eu nunca tinha pensado nisso, desse termo, mas eu pensava assim “Vou ter que ser eu falando, vai ter que ser a Helena”, não adianta eu me colocar atrás de uma proteção no final que acaba sendo, do meu cargo “Ai, então eu sou editora, “Então eu sou colunista”, “Então eu sou apresentadora”, e agora eu me resguardo aqui, e a bola tá só com entrevistado então ele que vai ter que se expor aqui. Você fala “Não, num podcast você também se expõe, você tem que ser você, as pessoas vão se relacionar com você”, e foi uma coisa que eu fui entendendo que foi me ajudando nessa vozinha crítica que tantas vezes surge depois né de “Ah, porque que eu fiz isso, porque que não fiz aquilo, devia isso, devia aquilo”. Quando surge essa voz crítica, eu paro para prestar atenção assim ó: muitas vezes quando eu vejo o entrevistado, às vezes a pessoa dá uma volta para responder, às vezes ela engasga, às vezes ela tosse, às vezes ela ri, às vezes ela chora, enfim, tudo isso que ela, que a pessoa com quem eu tô conversando expressa, me conta sobre ela, me conta sobre como pensa a cabeça dela assim, como é que ela funciona, e eu acho isso rico, eu sempre puxo nas entrevistas muito da pessoa mesmo assim sabe eu acho que é legal a gente falar dos trabalhos que as pessoas fazem porque são entregas que as pessoas fazem para o mundo, acho muito legal falar de trabalho, mas eu não queria falar só do trabalho assim sabe, eu queria entender mais da pessoa que estava ali na minha frente, e a hora que você vai para pessoa às vezes tem bagunça ali né, às vezes tem coisas, perguntas que a pessoa não tem muito claro a resposta, são coisas que ela nunca respondeu antes, que ela tá pensando ali no momento, e eu acho isso rico, eu sempre achei que as pessoas se relacionavam muito com as histórias pessoais assim, sabe, mais do que só com informação dura, objetiva, quando você trazia informação pelo caminho subjetivo, pelo caminho da pessoa, era mais fácil de se relacionar com isso, só que, enfim, eu fui entendendo que isso valia para mim também, então eu também ia ter que falar, se eu tinha dúvida, se eu tinha medo, se eu tinha ansiedade, se eu tinha variações de humor, se às vezes antes de começar uma entrevista, assim, fechamento de revista, agência também não deve ser muito diferente né Henrique, mas enfim, às vezes a coisa tá pegando fogo, literalmente, tá tudo terrível, e aí você para e fala “Agora eu vou gravar o Jornada da Calma”, e aí no começo da entrevista ter que falar “Olha, tava tudo péssimo, tava tudo, eu não sei onde é que eu tava com a minha cabeça mas agora tô aqui, então agora a gente vai conseguir”, e eu percebo muito isso assim ó, que quanto mais eu consigo só mostrar tudo mesmo assim, só falar “Essa sou eu e é assim que tá esse momento agora, e eu tô treinando sabe gente, se agora eu tropecei, amanhã eu espero não tropeçar e tudo bem”, eu sentia que as pessoas iam gostando mais, aí a gente para de querer ser perfeccionista, assim sabe, com a gente mesmo e começa a se aceitar mais. Hoje em dia é mais, é mais natural, assim, eu escuto, às vezes e falo “Hmm, ok, beleza, segue o jogo, é isso mesmo”. A gente vai ficando mais gentil com a gente mesmo, a gente é muito, muito pouco gentil com a gente, e a gente podia ser mais, né.
Henrique de Moraes – Sim, verdade. Eu ainda tô aprendendo a lidar com isso
Helena Galante – Mas calma, tá começando
Henrique de Moraes – É, e ainda sou eu que edito né, então cara, editar a própria voz é, é um processo doloroso, porque você percebe todos os, assim, todas as palavras você usa a mais que você não precisaria, manias que você tem, enfim, todos os ganchos, os apoios que você tem né, falando
Helena Galante – A verdade é que a gente tá de bunda de fora, né
Henrique de Moraes – Exatamente, a sensação é exatamente essa
Helena Galante – Mas ok, estamos todo mundo assim, na hora que você começa a ver, é porque a gente tá se ouvindo, e gravando e depois editando, mas no fim todo mundo que está andando por aí também tá né, as pessoas estão o tempo inteiro contando o que que elas, no que elas acreditam, o que elas pensam, quais são as muletas que elas, enfim, e você tá mandando muito bem, mesmo! Fica tranquilo.
Henrique de Moraes – Obrigado, obrigado, já dá um alívio no coração. Tá, tanta coisa aqui para perguntar, eu vou fazer o seguinte, vou mudar um pouquinho, queria voltar na sua carreira né, porque você trabalhou, você ainda trabalha com a crítica gastronômica ou você parou hoje em dia?
Helena Galante – No dia a dia hoje, não mais. Trabalhei dez anos na Veja Comer e Beber, na edição gastronômica, só avaliando restaurante. Mas eu te interrompi antes de terminar a pergunta, me conta
Henrique de Moraes – Não, tudo bem, foi bom que contextualizou. Eu, assim, eu criei uma teoria de que parte da calma que você desenvolveu, e dessa sua, do seu jeito sereno, e assim, pra quem tá ouvindo acho que vale a pena até procurar vídeos da Helena, porque ela tem até o semblante sereno, não é a só a voz, não é só o movimento do podcast, mas assim, ela tem um semblante assim que traz uma paz, não sei porque, e eu fiquei tentando encontrar um motivo e eu falei “Cara, talvez tenha sido toda essa comida boa que ela comeu.”
Helena Galante – Eu adorei essa teoria, vou adotar!
Henrique de Moraes – Como é que era isso assim,seus amigos invejavam muito sua vida? Como é que foram assim esses 10 anos, fala um pouquinho sobre isso, por favor
Helena Galante – Olha, eles começaram muito, muito por acaso, não sei dá para dizer por acaso vai, eu não acredito tanto em acaso assim. Quando eu entrei na Vejinha, eu tô há 13 anos né, na Vejinha, agora em 2020, entrei em 2007 lá, tinha 19 aninhos. Eu queria trabalhar com jornalismo cultural, eu fazia teatro antes, tinha estudado teatro, foi a primeira entrevista de emprego, para o estágio que eu fiz, e aí eu podia escolher entre três vagas que tinham abertas na Abril, uma vaga na Veja Nacional, então para falar de política, de economia, dessas coisas, uma vaga na Exame, e uma vaga na Vejinha, e a hora que eu cheguei lá na entrevista eu falei “Não, Vejinha, eu quero a Vejinha”, e quando eu entrei, para mim parecia assim, o mundo dos sonhos, você fala “Uau, todas as coisas que eu gosto da cidade, tem cultura, tem coisas para fazer legais”, eu achava tudo maravilhoso mas eu nunca tinha pensado, nem considerado a possibilidade de jornalismo gastronômico. Quando eu estava já eu acho no primeiro ano de estágio eu fazia teatro infantil, eu ia à peças infantis, avaliava, e como eu já tinha estudado teatro, para mim era até natural, assim, tive que aprender muito a fazer isso, e fui muito orientada, mas já era uma coisa mais natural, mas eu lembro que nessa época tinha uma repórter de comidinhas, que é uma das seções de gastronomia, e ela saiu, e eles chamaram uma outra repórter, que não tinha nenhuma experiência na área e aí eu lembro de só de ter aberto um portinha na minha cabeça falando assim “Então é assim? Então qualquer pessoa pode aprender qualquer coisa e começar a trabalhar nessa área?”, foi nesse nível de “ Uau, Eureka!”, e eu fiquei com isso na cabeça, mas ok, aí tinha entrado essa outra repórter e eu tinha 19 anos e não tinha nenhuma experiência nisso, porque que eu ia fazer? E eis que essa repórter saiu de férias, e eu vi uma movimentação ali entre os editores da revista “E agora, quem que vai fazer, vamos chamar um freela, quem será que pode?”, e eu levantei a mão e falei “Deixa eu”, falei “Olha, eu tô aqui, se alguém me ensinar”, e é verdade porque eu não sabia assim, eu falei “Se alguém me ensinar, eu posso né, posso tentar”, e eu acho que na época ali foi uma solução econômica, porque eu já era estagiária, já tava ali dentro, já tava, enfim, aprendendo a escrever do jeito que a revista escreve, e toparam. Aí o que aconteceu foi, o Arnaldo Lorençato, que é editor sênior de gastronomia da revista até hoje falou “Bom, então eu vou com você, né, não vou deixar você sozinha para fazer isso”, e ele começou a me treinar, acho que a primeira coisa que a gente fez juntos, a gente foi tomar um café aqui no Octavio Café, que tinha acabado de abrir na Faria Lima, e aí a gente combinou de tomar um café e ele falou “Você já tomou o café especial?”, eu falei “Não, o que é o café especial?”, e ele enfim, pediu lá dois expressos e eu fui direto no açúcar para colocar no café e ele falou “Não, não, calma, calma, calma, peraí ó, antes vamos fazer isso aqui ó, primeiro presta atenção nesse café, como é que ele está”, um exercício de observação da xícara assim né, e você fala “Meu Deus do céu, eu nunca tinha olhado para os cafés que eu tomava na vida, eu sempre gostei de café mas eu nunca tinha parado pra observar desse jeito, “Ah, sente o cheiro dele, como é que tá o cheiro, agora mexe um pouquinho, dá um golinho, depois você põe açúcar se você quiser, mas primeiro só dá um golinho”, e eu lembro de tomar um golinho e falar “Esse café não precisa de açúcar, que coisa louca!”, só que assim, eu sempre tive uma coisa muito de, de me jogar assim, sabe, de quando eu, quando eu me interessei eu falei “Nossa agora eu estou muito interessada, eu mergulho, então eu vou atrás, com muita sede assim, ao pote, e aí quando eu fui fazer esse mês de, é, cobrindo férias em comidinhas, eu percebi que eu não sabia as coisas que eu precisava saber para esse fato, mas que eu poderia aprender, e que eu tinha ali do lado o Arnaldo, e o Arnaldo além de editor lá da revista ele é professor, então ele tem uma, ele já tem mais natural nele isso de ensinar, e aí tudo que um professor quer é um aluno que quer aprender né, então deu um match maravilhoso ali, e então eu fui, eu fui aprendendo muitas coisas durante esse mês, então café, chocolate e a gente começou a ir em muitos lugares, isso a Vejinha tem de muito legal que, enfim, visita todos os estabelecimentos, paga suas contas para poder fazer as avaliações e tudo, então tinha muita possibilidade de conhecer as coisas, na hora que terminou esse mês eu estava extasiada, falando “Eu só quero fazer isso, eu quero estudar isso, eu quero aprender isso, eu quero, eu quero viver essa vida”. É claro, desde o começo tinha uma coisa dos amigos tipo “Ah, você quer é comer de graça, né, então você quer, ah que vida boa”, e eu falo “Não, peraí, não é sobre isso, é sobre, é sobre um jeito de perceber a vida que muda”, e é engraçado porque essa história do cafezinho, dessa sensação de, -para mim isso tem muito a ver com o Jornada da Calma de hoje assim-, você vive de um jeito que você vai só tomando café na vida e você nem para para ver o que que tá acontecendo, e na hora que você vai fazer crítica, vai fazer degustação, depende muito da sua observação estar muito ligada, você tem que estar muito atento, degustar é comer com atenção né, para você poder comparar, ter referências, aprender a contar para outra pessoa, descrever o que você tá experimentando ali para outra para saber como é que é, parece que eu comecei a, o que hoje chamamos de atenção plena, eu comecei a treinar isso com comida assim, sabe, e era muito mais gostoso viver desse jeito, prestando atenção. Aí depois enfim, essa repórter logo que ela voltou de férias, depois de algumas semanas ela pediu demissão, e aí como tinha funcionado comigo e, enfim, me deram um voto de confiança, porque de fato eu era muito nova para, para cuidar de uma sessão tão importante para a revista, a edição Comer e Beber é a edição mais importantes da Vejinha, uma revista anual que a gente sai com avaliações dos bares, do restaurantes, dos endereços de comidinhas, então ganhei um voto de confiança e aí eu estudar muito assim, acho que, fui estudar jornalismo gastronômico, fui estudar vinho, fui fazer degustação de todas as coisas possíveis e imagináveis de comida para aprender a ter referência, e trabalhei muito feliz com isso por 10 anos assim, foi uma escola mesmo, de jornalismo e de apreciação, eu acho que no fim o jornalismo gastronômico teve isso, quando teve essa mudança e, antes de eu entender sabe, o que tinha acontecido com a minha carreira, eu nem tinha entendido durante, que o que eu tava fazendo era uma transição de carreira, que eu estava mudando de uma área e indo para outra, era só mais uma das coisas que parecia que estava desmoronando assim, eu falando “E agora, mas eu não faço mais isso, mas a minha vida era almoçar e jantar e tomar café da manhã na rua tantas vezes”, e é cansativo isso também, viu, essa parte pouca gente conta que, durante o Comer e Beber, às vezes a gente tem que avaliar num período curto de 3, 4 meses, é, 800, 1000 estabelecimentos, é um trabalho puxado assim, é uma demanda grande, é uma equipe grande fazendo todas essas visitas e você tem que, às vezes só queria ir para casa, não comer nada e você tem que ir para algum lugar, então tem as suas dificuldades do trabalho, claro, mas quando, quando eu entendi que, tudo bem, que, que era uma parte muito legal mas que poderia também fazer outras coisas, já vinha de um caminho de busca na minha vida pessoal para autoconhecimento, a hora que isso deu deu liga ali com a área profissional, acho que agora eu sinto que eu tô nessa mesma fase, -lá atrás, quando eu me apaixonei, mergulhei de cabeça-, eu acho que agora estou nesse momento apaixonado e mergulhado de cabeça assim. Mas é muito legal, tem muita gente que ainda pensa no meu nome só ligado à gastronomia também, e eu fico muito feliz, muito orgulhosa assim, acho muito legal, tenho muito carinho por toda essa parte, mas hoje em dia não faço mais visitas, não vou mais em restaurantes para fazer as avaliações, tem lá a equipe de gastronomia da Vejinha que faz isso lindamente.
Henrique de Moraes – Maravilha. É engraçado né, que você falou dessa experiência do café, e depois você até falou, é exatamente uma percepção que eu tive, que é quase que um exercício de mindfulness, né?
Helena Galante – Exatamente. Não tinha esse nome,mas era.
Henrique de Moraes – É, pois é. Mas deixa eu te fazer uma pergunta, qual foi, quando você começou a visitar os restaurantes né, com o Arnaldo, talvez no início, qual foi o primeiro,a primeira coisa assim, o primeiro prato ou o, não precisa ser prato né, pode ser qualquer coisa que você tenha já provado, feito degustação, que assim explodiu sua cabeça, você lembra? Porque eu acho que depois de um tempo você acostuma né, e talvez você chegue num platô ali que você já valia muito mais tecnicamente, mas no início eu imagino que você ia nos restaurantes e você tinha experiências únicas,né?
Helena Galante – Olha, mas acho que todas as experiências no fim eram únicas, mesmo, mas eu gosto de contar, enfim, quando às vezes, coisas de palestra, aula, coisas assim, eu gosto de compartilhar, que é a minha relação com comida japonesa. Quando a gente começou, neste primeiro café com o Arnaldo, eu fui basicamente entrevistada né, ele era bom de querer descobrir as coisas, ele “Ah, tem alguma coisa que você não gosta, alguma coisa que você não come?”, aí falei “Ah, na verdade, comida japonesa”, e na época aqui em São Paulo tavam bombando as temakerias, as temakerias entravam na coluna de comidinhas, então para fazer avaliação de comidinhas incluiria ter que comer temaki, por exemplo, e eu tinha assim “Ai, não gosto, acho esquisito, não sei, a textura, muito estranho, não sei o que”, e eu tinha uma, uma convicção ali que eu não gosto de comida japonesa, e o Arnaldo não é de família japonesa mas ele desde criança tinha amigos da comunidade japonesa, ele comia comida japonesa local e, enfim, já foi para o Japão com o consulado para escrever livros, enfim, comida japonesa para ele é uma coisa muito importante e ele virou para mim e falou “Helena, eu não sei se é verdade que você não gosta de comida japonesa, o que que você já comeu de comida japonesa?”, comecei ali a contar e tal e ele falou “Não, pera aí, você não conhece comida japonesa, a gente vai, primeiro eu vou te apresentar e depois a gente vai conversar”, e eu lembro, a primeira vez que eu comi comida japonesa eu tava na Bahia, em Ilhéus, viajando com minha família, no Bataclã, sabe qual é? Um lugar que era um cabaré, enfim, que foi adaptado e virou um restaurante, tava já a comida japonesa aqui muito difundida, mas eu nunca tinha comido, e tinha um festival de sushi lá, e era terrível, péssimo, era de maionese pra baixo o negócio ali, uma coisa quente, horrível assim, hoje eu consigo, -que a memória fica muito bagunçada, né, depois de tantos anos, eu era criança ali-, mas eu lembro da sensação de comer aquilo e falar “Nossa, isso é muito estranho”, e essa memória ficou na minha cabeça e aí todos as vezes que eu tinha tentado alguma coisa depois, vinha aquela sensação, e eu não conseguia superar, e é muito curioso assim porque foi a primeira vez, quando eu tive esse histórico com a comida japonesa, que eu entendi que comida tem a ver com cultura, que tem a ver com alguém que te ensinou a comer alguma coisa, alguém te falou se isso era bom, se isso não era bom, e aí o Arnaldo me pegou na mão e a gente começou a ir em muitos restaurantes japoneses assim, é claro que ele começou a me levar em restaurantes japoneses muito mais refinados do que o Bataclã fazendo festival de sushi lá na Bahia, certeza que sim, mas não era tanto uma questão de preço, era uma questão de como comer, então ah, eu tacava um monte de shoyu no sushi porque eu achava que alguma coisa tinha que melhorar, então se eu colocasse muito shoyu devia melhorar, aí eu aprendi que não, que pera aí, que shoyu é no peixe, o shoyu não pode encostar no arroz, o arroz tem uma temperatura, tem um tanto de doçura, e tem um tanto de acidez, e tem uma textura do grão, tem uma temperatura do grão, que tem que estar mais morninho, o peixe uma temperatura mais fresca mas que também não pode estar gelada, o que é um peixe que tá bom, o que é um peixe que não tá bom, qual que é a combinação de temperos, e aí tudo que eu ia provando assim, abriu uma “Nossa, então é bom”, “Nossa, pera aí, isso é ótimo”, “Olha, eu gosto disso”, não, e eu fui convertida assim, eu brinco que eu fui convertida pela crítica gastronômica porque eu entendi qual que era a importância de saber, porque na verdade eu tinha uma afirmação que eu fazia sobre mim, que “eu não gosto disso”, e na verdade é “eu só não conhecia, só não sabia”, então alguém me ensinou que dava. Então eu acho que mesmo a gastronomia que, talvez a gente possa falar que “Ah, é um uma coisa supérflua” e não sei o que, não é, eu acho que a gente aprende coisas sobre a gente e amplia os nossos horizontes, essa era a sensação que eu tive. Então, comida japonesa para mim sempre foi depois disso, enfim, hoje gosto muito, mas para mim era sempre, sempre tem esse gosto de revelação de “Nossa, eu tinha uma ideia formada aqui que era muito mentirosa”, então é legal assim, acho que a única coisa que lá naquele café o Arnaldo tinha me falado que era necessário, era que eu não tivesse nenhuma restrição assim, sabe? Que falasse assim “Isso para mim não dá”, se você tiver alguma restrição alimentar você não pode trabalhar como crítica gastronômica, o resto, tudo é construção de referência e aprendizado, e isso se tiver alguém disposto a te ensinar tá tudo bem, a gente aprende, mas pra mim, enfim, a primeira vez que eu fui no Jun Sakamoto comer a degustação que ele faz ali no balcão, fui no Kan Suke, comer uma comida japonesa super tradicional, foram experiências assim que eu tenho guardadas para sempre, e não chegou em 10 anos não, nunca perdeu a graça assim, sabe, eu acho que isso é legal porque todo ano a gente visita todos os restaurante de novo, todos os estabelecimentos de novo, então não adianta assim a memória do ano passado, vale a do momento agora, aí como você tem que estar presente, bem uma coisa mindful eating ali, então toda vez era muito legal. Te respondi, Henrique? Agora eu fiquei na dúvida.
Henrique de Moraes – Sim, sim, respondeu. Seus amigos deveriam se dar bem né, porque tinham as melhores indicações haha
Helena Galante – Ah, não, e ainda tinha uma coisa, como você não pode provar um único prato, eu podia levar um acompanhante né que, enfim, como eu pedia muita comida eu podia levar alguém para poder, parecer mais lógico, às vezes eu não conseguia, alguém não podia no dia, e eu ia sozinha e pedia muito mais comida do que era necessário, recebi muitos olhares esquisitos de garçons, que achavam que eu estava grávida eu acho, que eu era muito louca, porque eu pedi uma quantidade absurda de comida e depois pedir a tudo para levar, mas muitos deles me acompanharam muitos, em muitos almoços, jantares e cafés nesses anos todos, e acho que foi um treino também muito legal de conversa, porque sempre foi uma confraternização no fim né, quando você vai almoçar com alguém, jantar com alguém, eu acho que restaurante faz muito parte da nossa, da estrutura da nossa vida em sociedade né, a gente encontra ali, é onde os namoros começam ou terminam, é onde as amizades são consolidadas, é onde tudo acontece ali né, tem muita ver com como a gente vive hoje, e era muito gostoso. Aagora é só por prazer, continuo indo, mas só a passeio.
Henrique de Moraes – Agora que tem todos os melhores restaurantes mapeados, tá até mais fácil, né?
Helena Galante – É bom que sempre surge coisa nova
Henrique de Moraes – E você já teve algum problema com crítica, de um dono de restaurante ou chef alguma coisa assim, ou isso não acontece, só em filme?
Helena Galante – Não. Quando você elogia ninguém vai contra você, se você critica, as pessoas questionam, curiosamente né, porque que será que isso acontece? Mas acho que sempre foi, isso tem uma vantagem de ser uma publicação tão antiga nesse nesse ramo da gastronomia aí, com tanta credibilidade, que as pessoas sabiam que se a gente tava falando era porque a gente tinha ido no lugar, e a gente tinha nota fiscal comprovando que a gente tinha pago a conta, e tinha comido aquilo, então qualquer questionamento era, enfim, era uma questão de opinião, mas a gente tinha ali documentos vai, que a gente tinha feito a avaliação, e que isso tinha sido desse jeito, quando eu tinha às vezes alguma dúvida, alguma insegurança de “Ah, será que é isso, será que não era aquilo”, a gente sempre podia voltar nos lugares, ou às vezes eu pedia para o Arnaldo vir junto comigo fazer uma visita novamente para a gente tirar uma dúvida, a gente sempre entendeu muito que muda a vida de um estabelecimento sabe, se ele ganha um estrela, se ele perde uma estrela, é um trabalho com muita responsabilidade envolvida, o nosso compromisso sempre, e isso é muito legal ter em mente, nosso compromisso sempre é com leitor, é sempre com a pessoa que vai gastar o seu dinheiro pra ir num lugar, e aí é o nosso trabalho falar “Olha, com esse mesmo dinheiro você pode ir nesse lugar aqui que é muito legal, ou nesse lugar aqui que não é tão legal”, então onde que vale mais a pena, o nosso compromisso sempre foi com o leitor, não é com assessoria de imprensa, não é com dono de restaurante, não é com ninguém, mas a gente tem ideia de qual que é o tamanho do peso dessa responsabilidade, então sempre ter cuidado de não fazer nada leviano, assim sabe, de uma coisa que às vezes você não sabe, e você fala sem saber e depois tem uma consequência. Mas ali, do jeito que a editoria de gastronomia é estruturada tem uma rede de proteção ali depois sabe, então quando eu estava aprendendo tinha muito isso de ser acompanhada, de ter outras visitas, de ter segundas opiniões, mas não sei, acho que não criei inimigos nesses 10 anos. Talvez eu só esteja enganada, talvez eu só não saiba, mas acontece né, faz parte.
Henrique de Moraes – Faz parte né, de qualquer trabalho. Mas pra mim, quando vejo você falando, e quando eu penso até como seria estar no seu lugar, por exemplo, eu acho que o mais difícil me parece é ser imparcial, né? Porque assim, tanta coisa influencia né, como você falou assim, você tem uma pessoa por exemplo, jantando ou almoçando com você, já faz diferença em como você vai perceber o prato que está chegando, então assim, como você fazia para se manter imparcial nesse sentido, para que nem o seu dia influenciasse na sua avaliação, como outro fatores, eu sei que tudo entra na avaliação, então se o garçom for mal educado isso provavelmente conta nota né, mas assim, mais fatores externos né, acho que isso é o mais difícil, e até seu gosto pessoal, talvez, né?
Helena Galante – Sim. O Arnaldo, quando ele tava me ensinando, ele falava que “o crítico come com a boca emprestada dos outros”, eu acho ótima essa frase. Porque não é nada sobre o seu gosto pessoal, é sobre a outra pessoa que vai comer né, então você tá comendo com a boca emprestada. Você tem ali a sua técnica de percepção mesmo, de coisas objetivas, temperatura, quantidade de sal, apresentação, tem coisas que são muito concretas ali que você tá vendo, e outras coisas que são mais intangíveis né, a cordialidade do atendimento, o quanto o tempo, o ritmo né, da refeição, o quanto a pessoa tá respeitando ali o andamento de toda a refeição, tudo isso conta, só que, era um treino mesmo, de novo essa história do treino e do jogo, mas era um treino de perceber tudo que estava acontecendo ao redor, que ao longo dos anos só faz ficando um pouco mais na verdade, porque no começo era muito raro eu ser reconhecida como a crítica da Vejinha, porque muito nova e, as pessoas não conheciam mesmo ainda no meio e quando eu comecei ainda não tinha rede social tão forte como agora, por exemplo, e no começo a gente tinha uma coisa inclusive de não mostrar a foto dos críticos, porque “não as pessoas não podem saber”, “elas vão reconhecer, aí vai mudar o tratamento da pessoa”, só que, enfim, isso começou a mudar e a revista começou a entender também que as pessoas precisavam saber quem eram os críticos, quais eram as pessoas que estavam fazendo esse trabalho, e que são pessoas que fazem tal, e a gente começou a ser mais reconhecido, eu comecei a ser mais reconhecida. E aí você tinha aqui para receber o que no tratamento era uma tentativa de bajulação, porque você é crítico e tal, e como é que você tira isso da frente, como começa a perceber o que que tá acontecendo nas mesas em volta, né, então, chegou uma entradinha para você que não chegou para outra pessoa, então espera aí, isso aqui não é a política do restaurante, isso é daqui a pessoa tentando com você fazer uma coisa, e tudo isso conta né, tudo conta porque no fim a gente quer que a experiência do cliente final seja boa né, é experiência bem cliente oculto ali que a gente faz. Mas era um treino de reconhecer quantas coisas simultâneas estavam acontecendo né, da cozinha, se tem gritaria ou não tem gritaria, e às vezes tinha, como funcionava o salão, se toda vez você tinha que ficar com a mão levantada muito tempo para conseguir atenção de um garçom ou não, tudo isso conta pontos né, mas é bem de manter a percepção aberta, acho que isso acontecia assim de treinar, olhar para tudo que está acontecendo para poder contar o máximo de coisas possíveis para o leitor.
Henrique de Moraes – Perfeito. Cara, que legal! Enfim, vou pensar aí, numa próxima vida.
Helena Galante – Quem sabe, nessa?
Henrique de Moraes – É, quem sabe. Última pergunta em relação a isso, eu queria entender como ficou a sua própria relação na verdade com a cozinha né, com a sua cozinha, depois que você começou a experimentar isso tudo né, porque você vê um mundo novo e eu imagino que cozinhar assim, quando você vai fazer a sua própria comida, como é que foi, como você olhava para o seu próprio prato depois disso tudo?
Helena Galante – Olha, muita coisa mudou. Era muito comum assim, das pessoas falarem “Ah, mas não vou te chamar para comer na minha casa então, porque você vai avaliar e vai achar que sou ruim, você come em restaurantes muito bons, então você não vai gostar da minha comida”, e isso é uma coisa até que, por trabalhar ali com comidinhas, eu trabalhava com lugares às vezes muito simples, uma barraca de pastel na feira, e trabalhar com avaliação de restaurante alta gastronomia, 5 estrelas, caríssimo. E você entender qual que é o momento, qual que é a proposta do lugar, e que é a entrega que ele faz, então não adianta eu cobrar que a barraca de pastel de feira não tem guardanapo de linho, é claro que não tem, não tem que ter, a proposta outra, mas também não dá para num restaurante de alta gastronomia não ter carta de vinhos adequada, por exemplo. Então você aprender qual que é o momento e o que está sendo proposto, e qual que é a entrega, era muito curioso assim, então é, a comida da minha avó, o café que ela servia, é claro que o café que ela servia era o café adoçado e de supermercado, e tava tudo bem, era um café delicioso porque tinha ela ali fazendo o café, e a proposta era essa e tudo bem. É claro que muita coisa eu aprendi e desenvolvi, de paladar mesmo, coisas que que mudaram, o café, por exemplo, ganhei da minha irmã um moinho de café depois de eu muito falar que não é mesma coisa o café quando não é moído na hora, não fica tão gostoso, e aí ela me deu de presente de Natal o moinho de café e hoje eu tomo café assim, compro o café em grão, moo na hora e faço coado, que é o meu jeito favorito de tomar. Virou um hábito, uma coisa que eu incorporei. Eu não cozinho exatamente, o que é uma surpresa às vezes, eu gosto muito de comer, mas eu mesma não cozinha tanto, cozinho pouco, mas aprendi muitas coisas ao longo desses anos todos conversando com chefs, entrevistando chefs, avaliando alunos de gastronomia, a gente fez uma websérie que se chamava “Chefs do Futuro”, que a gente conversou, entrevistava e comia o prato de estudantes de gastronomia, tudo isso ajudou a desenvolver muito o paladar, mas não necessariamente me ensinou a cozinhar, então eu acho que do prato do dia a dia não mudou, talvez, tanta coisa, mas são coisas pequenas assim, então o pão que eu gosto é de uma amiga que faz pão em casa, de fermentação natural, que entrega. Uma consciência talvez, isso muito recentemente, no começo do ano passado eu fiz uma matéria de capa na Vejinha sobre endereços veganos, que quando eu comecei lá atrás era impossível a gente ter uma categoria de veganos no Comer e Beber, tinham muito poucos restaurantes, e era considerado muito nichado, que as pessoas não gostavam, tudo muito feito à base de proteína de soja, muito ruim, e aí a hora que a gente foi fazer essa matéria de capa, de veganos, eram coisas incríveis que estavam acontecendo, e de novo, aí abre a cabeça falando “Nossa, tem razão, talvez tudo que eu tô comendo que tem carne, talvez não precise ter carne nessa receita, pode ser feita de um outro jeito pode ser testada de uma outra maneira”. Tudo vai sendo incorporado de um jeito ou de outro na nossa vida, mas se alguém quiser vir testar minha comida para ver se ela é cinco estrelas, talvez vá se decepcionar.
Henrique de Moraes – Tá bom, já sei que quando eu for em São Paulo vou te pedir um café,só!
Helena Galante – Pronto, o café eu garanto!
Henrique de Moraes – Muito bom. E, tem uma coisa que eu fiquei curioso, e aí é sobre tudo né, não só sua carreira como crítica, mas também já no Jornada da Calma, que você fala sobre sobre dois assuntos, que são importantes né, que estão muito presente na vida das pessoas, e eu tenho a impressão de quando você fala e quando, especialmente quando você se torna uma referência nesse assunto, as pessoas exigem de você um conhecimento total né, e esperam que você saiba tudo, e que tenha todas as respostas. Você já sentiu isso das pessoas? Mais ainda com o Jornada da Calma, que eu acho que é ainda mais subjetivo né, porque quando você vai falar de comida, tem a parte subjetiva mas tem as coisas ali real né, agora quando você vai falar de calma também tem, acho que tem muito mais esse lado, e eu acho que tem muito mais das pessoas te verem estressada por exemplo, e de repente falar “Mas você não é a pessoa da Jornada da Calma, como assim?”
Helena Galante – Nossa, acontece muito isso. Hoje de manhã eu abri o Instagram, e aí tinha uma mensagem de um ouvinte que eu achei maravilhoso, as pessoas são muito, muito generosas comigo, eu gosto muito de falar isso porque eu sou muito grata a como eu sou ouvida e vista com bons olhos, mesmo quando eu tropeço ou quando eu acho que eu tô errando muito, enfim, as pessoas sempre me olham com muita gentileza, sou muito grata à elas e para mim isso só mostra o quanto a gente tem essa capacidade dentro da gente, sabe, de olho para o outro buscando o melhor, vendo o melhor e vendo a intenção que estava por trás talvez de todos os atos ali. Esse ouvinte mandou uma mensagem muito fofa falando “Helena, você nunca errou, mas se você errar eu vou passar pano, porque você é maravilhosa, muito obrigado, eu aprendo muito com o Jornada da Calma, e tal” e eu falei “Meu Deus do céu né, como é que eu respondo essa mensagem?”, primeiro porque tem um carinho e uma fofura muito grande nisso, e isso é maravilhoso, tem um nível de engano também, “eu nunca errei?”, isso é uma mentira, não é verdade, e essa noção de passar pano, não passar pano, a gente vive numa uma coisa tão forte de julgamento né, de, a gente tem uma disposição muito grande para apontar o dedo para o outro, para a gente mesmo, e uma disposição consideravelmente menor de compreender. Então eu acho que eu fico lidando com isso, com expectativas que talvez as pessoas criam, mas tem uma coisa que eu me comprometi que é deixar que as pessoas me vejam no caminho e entendendo que é um caminho, e que é um passo de cada vez e que toda grande jornada começa com o primeiro passo, e que tudo bem, que a gente caminha lado a lado. Eu acho que isso a gente evoluiu muito, ainda bem, na desconstrução do paradigma de um guru, sabe, do mestre que sabe tudo, e que é o todo-poderoso, e você que tá lá atrás e nunca vai conseguir. Eu acho que o que eu entendi entrevistando muitas pessoas que eu considero que são muito sábias, que o conhecimento e a sabedoria tão no reconhecimento da nossa igualdade, igualdade entre todos nós, da nossa unidade e do que nos torna unos, e da nossa igualdade. Então nisso, a minha proposta é sempre caminhar lado a lado, e eu deixo as pessoas me observarem mesmo, e não é simples você se deixar observar porque tem isso, às vezes tem um momento em que você tem vontade de explodir, tem um momento que não, mas ter para mim essa consciência de que é um caminho compartilhado, que é um caminho conjunto, me ajuda. Já teve momentos ali no trabalho que, enfim, tinha uma situação acontecendo, e aí “Não, chama a Helena porque ela é a editora da felicidade” e eu falei “Meu Deus do céu, onde, como, que desafio foi esse que aconteceu na minha vida que agora eu sou editora da felicidade?”
Henrique de Moraes – Que responsabilidade!
Helena Galante – Só que ok, só que aí isso me fazia ter mais vontade de treinar falando “Não pera aí, então agora como é que eu me posiciono aqui de um jeito que eu acredito no que eu tô falando, que é coerente o que eu tô falando?”. E às vezes é só respirando muito fundo, às vezes é isso assim, é uma coisa que me tirou do sério e eu falo “Tá, ok, então agora tô fora do sério, então agora o que que eu vou fazer?”. E eu acredito muito que a gente aprende por exemplo, e aprender por exemplo, inclusive no momento em que a gente perde a calma ,se depois eu tenho um intenção de mesmo quando eu perco eu quero chegar nisso, eu quero chegar mais perto da serenidade, isso quer dizer que eu sou uma pessoa calma 100% do tempo, absolutamente serena, monge? Não, talvez as pessoas olhem e achem isso muitas vezes, mas eu faço questão de contar que não é assim, mas a minha intenção é essa, e eu acredito que é possível, eu sou uma otimista inveterada, sabe? Eu acho que é possível sim , então a gente vai aprender junto. Quando eu, é aquela história que a Brené Brown falou com o marido, que você comentou, do 3 do 7, tem horas que eu tô no 3 aí eu peço ajuda para chegar no 10, e tem horas que eu estou no 9 e beleza, eu entrego 9 e a gente chega no 10 juntos. Só que eu acredito muito nisso, que não é, eu acredito muito na, e a psicologia positiva hoje estuda muito isso né, quanto os relacionamentos são o fator principal na definição do nosso, da nossa satisfação, do nosso bem-estar e da nossa felicidade, quanto a gente tem de relacionamento, relacionamento com pessoas que a gente chama de mais próximas né, relacionamentos de família, de casamento, de amigos e até relacionamento com qualquer pessoa né, motorista, cobrador, porteiro, enfim, todas as pessoas, ouvintes, todas essas pessoas. Eu acredito muito nisso assim, que é num relacionamento, é a hora que a gente tá todo mundo junto, que aí a conta fecha, e isso para calma também, o que eu entrego é a minha disposição para sempre querer treinar, e quando a gente está junto essa disposição não falha muito não, sabe, quando eu tô sozinha às vezes no meu quarto ali eu tô viajando muito, pensando nas coisas terríveis e às vezes falha, quando eu lembro que a gente é junto aí completa, sabe? E aí a gente se diverte ao longo do caminho, que eu acho que é o mais importante.
Henrique de Moraes – Eu acho que o nome que você escolheu foi muito feliz, nesse sentido porque você não impõe nada, você tá falando que é uma jornada né, então, a proposta já é essa né, de estar aprendendo, de estar caminhando, estar construindo, e não de “tá pronto”
Helena Galante – Não tinha pensado em tudo isso não, quando veio o nome, só veio o nome, mas tem tem claramente isso mesmo, de que é uma de construção e um caminhar, aí tira o peso também, né?
Henrique de Moraes – Tem uma coisa que você tava falando, sobre essa coisa do guru, e das pessoas, e de como as pessoas estão mais dispostas a apontar o dedo né, eu tenho uma sensação de que a internet fez com que as pessoas ficassem muito binárias nesse sentido, de é sim ou não, eu gosto ou não gosto, e que ninguém tem aquela postura do meio-termo, de “Ah, eu não gosto disso aqui mas eu respeito quem curte” sabe, de “Não é minha praia, mas beleza, vou seguir aqui”,e o mais engraçado disso é que a internet te dá a possibilidade de se conectar com qualquer pessoa, com pessoas que tem interesses, os interesses mais curiosos você vai encontrar alguém que tem o mesmo interesse ali na internet, e eu percebo que muita gente fica, me parece, mais preocupada em encontrar na verdade, se conectar com pessoas que não gostam da mesma coisa, do que se conectar com as pessoas gostam da mesma coisa, sabe? E elas se juntam para falar mal, para reclamar, é muito doido
Helena Galante – Sim, tem isso mesmo. Eu fico observando assim, que a gente tem uma vontade de reclamar e de falar mal que é muito grande né, então a gente se junta mesmo para detonar outra pessoa que não goste e tal, mas eu tento encontrar, eu acho que, qual que é o lugar em que a gente passa inclusive as nossas afinidades de assuntos, inclusive as nossas opiniões contrárias porque eu acredito nisso, depois das nossas opiniões tem a gente mesmo, depois do que eu gosto, do que eu não gosto, da música que eu escuto ou do partido que eu volto, por trás de todas as coisas tem você. Tem uma frasezinha do Saramago na parede da minha cozinha, “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”, eu acredito muito nisso, nesse lugar não importa assim sabe você só olha e compreende todas as coisas e sente amor pela que pessoa é, mas é um treino, você tem tirar muita coisa da frente né, são muitas camadas, bem de cebola assim, que você tem que tirar na frente para poder chegar nisso, mas acredito que tem isso em todo o mundo, e é nesse lugar em que a gente pode falar de igualdade, que a gente pode falar de unidade, e é isso que eu fico tentando ver.
Henrique de Moraes – Tem muito da pessoa acabar se escondendo ali né, da pessoa eu falo de mim mesmo, todas as coisas que eu tô falando aqui são coisas que eu também faço, não são coisas que eu tô isento, mas tem muito disso da pessoa, da gente se esconder na critica ao outro né, e tentar mascarar as nossas, os nossos defeitos. Eu queria te perguntar uma coisa, que é o seguinte: como o nome é Calma! né, são duas calmas aqui, se você voltasse lá na Helena estagiária, quando você tava começando a carreira, pode ser em outro momento da sua vida, eu diria que 10 anos pra trás é um tempo bom assim para gente fazer uma análise, se pudesse falar para ela assim “Tenha calma nisso aqui”, em algum aspecto específico, qual seria?
Helena Galante – Nossa, eu acho esse exercício maravilhoso, da gente escrever uma carta para a gente mesmo do passado e falar o quê que eu falaria para mim no passado, e hoje o que eu acho que eu falaria é que “Tá tudo bem”, sabe? Tá tudo bem com tudo o que vai acontecer, porque quando a gente olha em retrospecto fica nítido como cada coisa contribuiu para você chegar aqui hoje, tudo que eu considerei terrível e que eu sofri muito, que eu chorei muito, me desesperei muito, hoje eu consigo olhar pro passado e falar “Ok, aconteceu desse jeito, e porque aconteceu desse jeito hoje eu tô aqui assim”, e eu sou muito grata a hoje como coisas chegaram e tá tudo bem. E é uma coisa fácil de olhar para o passado e falar isso né, “Beleza, tudo que aconteceu, aconteceu porque que que acontecer desse jeito, então não surta né, não pira, calma, tá tudo bem”, mas às vezes no futuro eu não tenho a mesma facilidade assim sabe, ou com o presente mesmo, de ter alguma coisa que tá acontecendo agora e eu tô julgando muito, falando que isso não devia tá acontecendo, porque que está acontecendo desse jeito, não queria que tivesse acontecendo desse jeito, queria que fosse de outro jeito, e eu fico lembrando e falando “Olha para o passado, olha quanta coisa aconteceu que você achou que não devia ter acontecido, mas porque aconteceu daquela maneira ficou tudo bem”, mesmo isso assim, quando eu saí da gastronomia, que a gente tava falando, eu tive um momento ali, um hiato que foi muito desesperado, que eu ficava assim “Mas o que que vai ser, mas e agora o que que vai ser, mas como vai ser, como vai ser?”, e hoje parece que quando a coisa passou, passou o turbilhão e aí eu entendi o que aconteceu eu vi que não precisava ter ficado tão surtada ali naquele momento, era só uma fase assim, que é um conhecimento que os budistas dão nome de impermanência né, que é você lidar com essa instabilidade, e achar estabilidade na instabilidade, que eu gostaria de ter isso pro futuro assim, sabe, que às vezes eu fico tentando me lembrar hoje mesmo, que eu posso olhar com esse olhar para o que tá acontecendo hoje, numa confiança de que no futuro eu vou entender sabe, mesmo que eu não entendo agora, no futuro eu vou entender. Você sabe o que você diria para você?
Henrique de Moraes – Engraçado que eu faço essa pergunta mas eu nunca me perguntei ela
Helena Galante – Responde!!
Henrique de Moraes – Cara, mas eu acho que seria também nesse sentido. O Steve Jobs tem aquela frase do discurso né, de que você só consegue conectar os pontos olhando para trás, né, não sei se você já assistiu esse discurso dele de Stanford?
Helena Galante – Não
Henrique de Moraes – Não? Caramba, então recomendação, por favor tem que ver
Helena Galante – Tem que ver, tem que ver
Henrique de Moraes – É, tem que ver. São acho que 10 minutinhos assim, e cara, o discurso é incrível assim, todo ele, porque ele é muito bem construído, ele fala sobre coisas que fazem você refletir sobre sua vida né. Ele fala sobre isso, ele conta a história de que ele na faculdade largou a faculdade mas ele continuou morando lá e começou a fazer aulas aleatórias de coisas que ele se interessava, e ele fez aula de tipografia, aí quando ele foi lançar o primeiro computador que tinha esse visual gráfico, ele aplicou todo aquele conhecimento no programa, que depois se tornou o Word, o Microsoft Word e ele fala que se não fosse por aquele conhecimento talvez a gente estaria lidando com várias fontes horrorosas hoje em dia, então é um pouco disso mesmo, acho que eu também falaria, pensaria nesse sentido de “Cara, aprende mais, foca mais no aprendizado e menos em tentar entender para onde você tá indo”
Helena Galante – Sim, sim.
Henrique de Moraes – E tem alguma coisa que você falaria para ter pressa?
Helena Galante – Pra ter pressa? Olha, eu acho que é uma coisa que eu sempre fico dosando assim, eu acho que eu já tinha talvez alguma, alguma facilidade não sei se a palavra é essa, mas eu sempre valorizei muito a calma assim sabe, eu sempre achei muito importante a gente ter um tempo de respirar, de olhar e tal, só que acho que talvez no passado e talvez ainda no presente eu faça isso muitas vezes, de usar a procrastinação no meio dessa história, então falar “Não, não, é que eu só tô querendo olhar aqui melhor, tô querendo ter calma”, usar isso como uma desculpinha esfarrapada, porque no fim eu sei, e mentir pra si mesmo não dá certo gente, porque você sabe que você tá mentindo, como uma desculpa para não agir, sabe? Então eu acho que isso, eu não digo que é ter pressa assim sabe, mas para não não ter medo da ação, que tem horas que a gente precisa agir mesmo, não adianta ficar só na mentalização, a gente também faz parte da nossa experiência que é a ação, e agir com calma, não precisa ser nada reativo, mas tem que agir, não precisa demorar para agir, não empurrar as coisas com a barriga, não deixar as coisas paradas, colocar energia nas coisas mesmo, sabe, eu acho que é uma coisa que eu aprendi, que a calma ela é enérgica, ela não é letárgica assim sabe, de você ficar abandonado no sofá sem fazer nada, isso não é calma, isso é um ataque à você mesmo, sabe, tem um nível de mau-trato que a gente faz com a gente mesmo quando a gente não coloca nossa energia nas coisas, e é importante não confundir, eu acho que talvez no passado muitas vezes eu tenha confundido isso e deixado para depois coisas que eu poderia ter feito no momento, então, em vez de me culpar sobre o que aconteceu eu fico tentando lembrar agora, “Então tá bom, então agora eu vou pôr ação onde precisa pôr ação, vou pôr energia onde precisa ter energia”, mesmo com calma, mas não vai ser parado, vai ser agindo.
Henrique de Moraes – Perfeito. Tem uma frase que eu gosto muito assim, eu tenho anotado aqui do lado do meu monitor que é “Impaciência com atos, e paciência com resultados”, e eu levo muito isso, e veio muito daí na verdade, o nome do podcast.
Helena Galante – Não, peraí, fala de novo porque eu quero anotar.
Henrique de Moraes – É “impaciência com atos, e paciência com resultados” né, então é muito nesse sentido de assim, porque que você vai deixar para depois, postergar alguma coisa que você quer muito fazer, então se você quer isso, se você precisa fazer aquilo ali faz logo você não tá ficando mais jovem né, então vai lá e resolve. Mas também não acha que só porque você foi rápido e agiu rápido, o resultado daquilo ali vai vir de imediato. Então assim, continue agindo, não desanima, vai lá, continua tendo paciência, fazendo tudo que você precisa fazer, mas deixa o tempo das coisas acontecerem, tenha paciência com resultados.
Helena Galante – Perfeito.
Henrique de Moraes – Pois é, eu levo isso muito, comecei a levar isso pra vida, comecei a tentar a entender e internalizar isso, e o nome do podcast veio muito dessa frase, porque eu acho que muita gente observa pessoas que tiveram sucesso né, e vê assim histórias de revista principalmente que, são muito, são pegadinhas né assim, elas focam muito no que deu certo, e parece que foi rápido, e a pessoa, ela vai montar um negócio, por exemplo, vai começar um projeto, e ela acha que a história dela vai ser muito rápida, que tudo vai acontecer e tudo vai dar certo, e eu vejo que isso é um erro, e se as pessoas se atentassem mais à isso talvez elas não desistissem sabe, e muitos projetos teriam ido para frente, inclusive projetos meus teriam caminhados se eu tivesse tido essa sabedoria né, talvez, na época, se não me tivesse cobrado tanto resultados imediatos e me comparado tanto com a história dos outros.
Helena Galante – Nossa, amei, amei muito. Impaciência com atos e paciência com resultados, é um aprendizado, realmente.
Henrique de Moraes – É, essa é muito boa. E sobre livro? Você tem algum, ou pode ser mais de um, mas acho que limitando até uns três assim que, mudaram a sua vida de alguma forma?
Helena Galante – Bom, vamos lá, eu gosto muito, muito de livros. Eu conto no podcast, e vi até que você conversou com a Luiza Caspary, que também estuda na Coexiste, onde eu comecei os estudos de autoconhecimento seis anos atrás, e lá a gente estuda um livro que se chama “Um Curso em Milagres”, não é um livro simples de ler sozinho e de entender sozinho, a gente estuda ele no curso e foi um livro que muda minha vida até hoje, então acho um livro muito importante, mas tem outros dois, um que eu li recentemente que eu achei muito, muito legal que é “Como ser pleno num mundo caótico”, que é do Tim Desmond, ele fala sobre mindfulness, só que de um jeito muito mais profundo do que eu já tinha visto qualquer pessoa falar, sobre você pode aceitar todos os coisas estão acontecendo, que você entende que faz parte de você e do eu, que faz parte do não eu, que são só pensamentos que estão na frente. Ele tem uma escrita muito direta e muito aberta, ele tem uma experiência de conciliação, de mediação de conversas que eu acho muito bonita, enquanto ele estava escrevendo esse livro a mulher dele estava num tratamento de câncer e ao final do livro ela ela faleceu e ele conta sobre como ele entendeu com ela que tudo que ele precisava fazer era amar incondicionalmente, quando ele amava incondicionalmente ele sentia que ela tava perto também, enfim, um livro muito bonito, curtinho e simples de entender, difícil de aplicar todos os exercícios e práticas que ele propõe, mas acho muito bonito, é um livro que eu gosto muito, e um outro livro, que é da Elizabeth Gilbert do “Comer, Rezar e Amar” que eu adoro também mas não é essa indicação do livro dela mas, é um livro que chama “Grande Magia”, que é sobre criatividade e como você pode escolher o caminho do medo ou caminho do amor, e que viver de forma criativa é você não escolher pelo caminho do medo, e isso para mim é muito prático, como você pode não, não sucumbir à essa visão de “eu vou evitar riscos na minha vida só” e eu vou fazer as coisas por amor e por entrega, e aí o que vier com os resultados eu terei paciência sabe, mas eu tenho certeza que a minha entrega não foi pelo medo, foi pelo amor. É um livro muito bonito, muito bem escrito, acho divertido de ler, e mudou, foi o livro que eu fiz as pazes com literatura de autoajuda, que tinha muito preconceito, mas acho que tem coisa boa na literatura de autoajuda que eu acho importante e, enfim, acho que esses três livros, pronto.
Henrique de Moraes – Legal, perfeito. Tem um livro que eu tô lendo agora, tô terminando, que é bem legal, que se chama The War of Art,
Helena Galante – Eu não li esse, é legal?
Henrique de Moraes – Cara, é muito, muito bom, assim. Você falou desse da Elizabeth Gilbert, e eu lembrei desse porque acho que a proposta é um pouquinho diferente, mas tão muito alinhados, talvez sejam leituras complementares, eu vou pegar esse que você falou também
Helena Galante – Não é a arte da guerra, né, é a guerra da arte, é diferente
Henrique de Moraes – Isso, exatamente. É muito legal porque é, o cara que escreveu ele é escritor na verdade de roteiros e de romances, e ele começou a perceber tudo que fazia ele ter, ele postergar ou tentar, de certa forma, todos os medos que ele tinha, sabe, tudo que levava ele a não fazer alguma coisa, ou não fazer o trabalho que ele achava que era tipo a vocação dele fazer, então ele faz, são pequeno capítulos, todos de duas, três páginas, são pequenininhos assim, e sempre com ele, começa com ele mapeando tudo que faz você se paralisar, ele chama de resistência, né, você ter resistência. Cara, é muito legal assim, você vai vendo, você vai se reconhecendo em tantos momentos, e ele fala de tudo assim, ele consegue mapear muitos, não sei se ele conseguiu mapear todos mas assim, certamente não ficou nada sobrando na minha cabeça, sabe.
Helena Galante – Nossa, perfeito, quero ler.
Henrique de Moraes – Pois é, qualquer situação às vezes tipo, ele fala que a resistência, ele bota a resistência como se fosse um personagem, de certa forma, ele fala que a resistência, ela vai atuar, por exemplo, quando um amigo seu criticar o trabalho você está fazendo, ou quando ele brincar porque você tá fazendo, tá seguindo o seu coração. Isso acontece, quando você começa a ser mais você mesmo, as pessoas tendem a estranhar e começar a colocar, então assim, enfim, esse é só um exemplo, talvez um que esteja mais latente em mim, por isso eu tenha puxado, olha a psicanálise acontecendo, mas o livro é assim, é muito isso, ele vai mapeando e depois ele vai falando como você faz trabalho né, como você passa da resistência e se torna um profissional que ele chama, e um profissional num sentido bem de só uma pessoa que vai lá e faz, todo dia você vai, levanta e faz o que você tem que fazer, e não fica dando desculpa e colocando a culpa no universo por você não estar conseguindo realizar o que gostaria de realizar.
Helena Galante – Tá na lista aqui já, anotei!
Henrique de Moraes – Maravilha. E você tem alguma frase favorita? Não sei se é essa que tá na sua cozinha, você tem alguma que tenha impactado a sua vida de alguma forma, porque tem muita gente com preconceito hoje em dia, com frases de efeito, né? Eu adoro.
Helena Galante – Pra mim funciona também. Bom, eu tenho aquela na cozinha, essa frase do Saramago, mas eu tenho uma frase agora aqui no recém-montado escritório em casa, porque antes eu não trabalhava de casa, trabalhava da redação, mas enfim, agora por toda essa condição tô trabalhando de casa, quando eu fui montar o meu cantinho aqui no escritório eu pendurei um quadro que uma amiga minha fez, um lettering que ela fez, com uma frase do Mia Couto, “A gente se acende é nos outros”, e essa frase veio de uma conversa muito grande que a gente tava tendo, é uma amiga que eu conheci no jornalismo gastronômico, a gente tem quase 10 anos que a gente se conhece, então foi, ela trabalhava com isso na época também, e hoje também já não trabalha mais, mas o nosso relacionamento tem muita ver com, é um lembrete muito claro para mim, de como, se a gente não desiste das pessoas e não desiste dos relacionamentos, a gente aprende sobre quem a gente é e sobre quem as pessoas são, e traz uma luz que tem dentro da gente para fora, e eu acho essa frase do Mia Couto perfeita, “A gente se acende é nos outros”, pra mim é uma lembrança muito clara de que eu não sou sozinha, de que nós não somos sozinhos e que a gente tá aqui pelos outros, para os outros e com os outros, então para mim é uma frase que eu gosto agora porque eventualmente quando eu tenho que fazer gravação de live ela aparece aqui no fundo, e eu assino muito embaixo dela, “A gente se acende é nos outros”, essa é a frase que tem mais brilhado em mim, tá num quadrinho amarelo escrito em preto, e ser escrito pela mão de alguém que você ama também faz muita diferença, e para mim é um lembrete de que, de que a gente não tá nessa sozinho, sabe? Isso pra mim é o que me motiva sempre.
Henrique de Moraes – É, eu vi, eu assisti uma live sua, que uma pessoa mandou a frase, não foi? Um trecho na verdade né?
Helena Galante – Legal. E quem é a pessoa que você mais admira, e porque? E aí não precisa ser uma pessoa, figura pública, nada disso, tá? Poder ser alguém da sua família, alguém que trabalhou com você
Helena Galante – Pessoa que eu mais admiro? Ai ai ai
Henrique de Moraes – Essa é difícil né, às vezes?
Helena Galante – É difícil!
Henrique de Moraes – Você quer ficar com ela aí na cabeça e a gente pula?
Helena Galante – Eu acho que eu posso, eu vou falar ela e vou tentar não fazer tantas ressalvas, porque eu acho que a gente, enfim, a gente se desculpa muito pelas coisas que a gente fala, mas eu gosto muito de pensar em Jesus, e eu acho que assim ó, religião é uma coisa que é tão distorcida, eu acho bizarramente distorcida na nossa sociedade, como a gente consegue pegar frases e exemplos, e usar do jeito que a gente quer né, então a gente usa coisas que Jesus falou para justificar guerras, o que eu acho um absurdo, mas eu olho para a história de vida e para o que ele construiu e ensinou sobre amar as outras pessoas acima de tudo, e eu acho isso muito inspirador, em condições muito adversas né, na hora que você pensa como foi a vida dele e o que a gente aprende da história dele, do que aconteceu, e mesmo assim ser um exemplo de amor e de cuidado com os outros, eu acho lindo, acho que talvez seja uma referência porque na nossa sociedade hoje é uma figura mais perto, eu talvez não conheça tanto de Buda para saber como foi, ou de Shiva, ou de outras figuras assim que são tão simbólicas, mas acho que tem uma, tem uma força no aprendizado dele que é muito grande, eu evito falar às vezes porque eu sempre acho que a gente sempre pode, isso pode ser mal interpretado, como comunicadora eu fico tentando trazer coisas que sejam facilmente comunicáveis e entendíveis, mas acho que depois de toda essa conversa dá para entender do que eu tô falando e desse amor que eu admiro na figura dele.
Henrique de Moraes – Eu acho que é a figura, é o ser mais, que foi mal interpretado, ou que usaram os ensinamentos para coisas completamente diferentes né, foram desvirtuados assim, de certa, eu falava isso, pra uns amigos meus porque eu frequentei a igreja durante um tempo, e assim, eu via as pessoas justificarem qualquer coisa em trechos da Bíblia, era impressionante. E eu achava até engraçado, falava assim, por exemplo, as pessoas falavam “Ah não, porque Deus me deu meu carro, Deus me deu minha casa”, colocavam no carro né “foi Deus que me deu”, eu falava assim “Cara, quem falou para você que Deus queria que você tivesse uma casa?”, que ele te deu esse espaço todo e você murou e falou “É meu”
Helena Galante – Deus vai fazer o meu time ganhar, tô rezando
Henrique de Moraes – Exatamente!
Helena Galante – Jogador de futebol que tatua “Jesus”, você fala “Porque que Jesus tá torcendo para o seu time não para o outro, qual o sentido?”
Henrique de Moraes – Exatamente, tem umas coisas muito engraçadas assim que eu sempre me pergunto, que se você tivesse de fato olhando para coisa toda, você não estaria colocando seu adesivos em quase lugar nenhum, você estaria com vergonha, na verdade, de colocar esses adesivos, falando “Desculpa, Deus, coloquei isso aqui, foi mal!”
Helena Galante – Mas é, mas é.
Henrique de Moraes – Mas aí já é um assunto mais delicado. E, para fechar aqui, acho que essa é a pergunta mais difícil e aí se você quiser uns segundinhos pra pensar, mas se você pudesse colocar um outdoor em algum lugar, que milhões de pessoas passassem, ali na Paulista, talvez, com alguma mensagem ou um trecho de uma frase, de um parágrafo, sei lá, de um livro, alguma coisa assim, pra que você impactasse milhões e milhões de pessoas, qual frase seria, o que você colocaria, pode ser uma imagem também, pode ser qualquer coisa que venha à cabeça.
Helena Galante – Ai ai ai, cada pergunta difícil Henrique, que você faz.
Henrique de Moraes – Hahaha, desculpa.
Helena Galante – Não, tá tudo bem.
Henrique de Moraes – Eu tenho algumas que eu colocaria, por exemplo.
Helena Galante – Me conta, deixa eu ver.
Henrique de Moraes – Essa que eu falei, acho que é uma frase que eu colocaria, acho que eu teria dificuldade na verdade de escolher uma só, sou apaixonado por frases, tenho várias aqui do meu lado né, mas tem uma que fala também, que é “Escolhas fáceis, vida difícil; escolhas difíceis, vida fácil”, tá muito alinhado na verdade com essa coisa de você na verdade não ficar andando em modo reativo né, se você decide e toma, assume o controle das suas ações, talvez a sua vida se torne mais fácil mais para frente, né. Uma frase que eu gosto, tem algumas aqui, assim.
Helena Galante – Olha, eu acabei de pensar numa coisa aqui que é, enfim, tem uma historinha que talvez possa parecer contraditório com a frase que você acabou de falar mas, eu penso muito nisso. “A vida é macia”. Tem uma amiga minha que, enfim, uma vez o sobrinho tava tendo um chilique, porque ele queria uma coisa, ele queria, ele tava ali enfim, contrariado, brigando, discutindo, e aí ela começou a argumentar com ele, “João, porque não é assim, porque você tem que entender que a vida vida é dura, João”, aí o João responde “Não é dura, a vida é macia!”, e começou a chorar. E eu gosto tanto disso, porque tem uma pureza na visão da criança falando “a vida é macia”, e muitas vezes eu penso nisso, sabe, que a dificuldade a gente que coloca, a dureza a gente que coloca, mas a vida, estar vivo, tem beleza nisso, tem pureza nisso, tem maciez, então a vida é macia assim, sabe? Quando o meu sobrinho nasceu, ele nasceu prematuro, ficou um tempo no hospital, enfim, mas eu lembro de quando ele veio para casa e eu segurei ele pela primeira vez no colo, e eu lembro de olhar para ele e falar “Olha que coisa mais preciosa, tá vivo, é pequenininho num corpinho bem pequenininho”, e não faz mais nada além de mamar e respirar, agora por enquanto, mas tá vivo, olha que bonito, olha que lindo, quanto amor existe nisso, e dá uma vontade de cuidar e uma vontade de só amar e a gente esquece disso, que a vida é macia. Hoje ele tá com 5 anos, e faz arte de vez em quando, você tem vontade de gritar, de falar “Não faz isso, pelo amor de Deus”, e tem horas que eu paro e falo “Não, pera aí, calma, independente de todas as ações, de tudo que tá acontecendo, tem vida aqui, deixa eu olhar para essa vida”, e quando eu acho que a gente tem essa consciência de uma vida que tá ali, de uma vida que é macia, de uma valorização da vida mesmo, eu acho que tudo passa de um jeito melhor, eu acho que quando você fala desse jeito sobre as escolhas, sobre a vida, eu acho que traz isso sobre ação, que é muito importante. e eu acho que tem que ser feito mesmo. Mas mesmo as nossas ações, acho que elas não podem desconsiderar qual que é a natureza da vida assim, sabe, a gente tá vivo agora independente do que tá acontecendo, independente de todas os dificuldades que a gente está enfrentando, de todas as decisões, e de todos os problemas que a gente vai ter que resolver na vida, a gente está vivo, esse é lindo, isso é muito bonito, e muitas vezes eu acho que a gente se desconecta disso, quando a gente não tá se sentindo muito grato pelas coisas, às vezes vale a pena lembrar disso assim ó, “tô respirando”, e isso é bom, “eu tô falando, e você tá ouvindo”, e isso é bom, a gente existe e isso é bom. A gente desfruta agora do privilégio da existência e eu acho que se a gente não se esquecesse disso, a gente talvez tomaria melhores decisões e melhores escolhas e aprenderia mais pelo amor do que pelo medo, então talvez eu falaria a frase do João, que “a vida é macia”.
Henrique de Moraes – “A vida é macia”, acho que não tem lugar melhor para gente encerra esse bate-papo. Muito bom. Eu queria só pedir para você falar onde as pessoas podem te encontrar, e assim, todo mundo que estiver ouvindo por favor, ouçam o podcast Jornada da Calma, maravilhoso.
Henrique de Moraes – Acho que ouvi uns 5 episódios até agora, ainda tenho um caminho aí, uma jornada pela frente, mas os que eu ouvi foram muito legais assim, já tirei muito aprendizado, eu anoto tudo e coloca tudo num caderninho aqui meu.
Helena Galante – Que legal!
Henrique de Moraes – Depois eu compartilho com você inclusive, algumas coisas que saíram.
Helena Galante – Obrigada. Bom vamos lá, o Jornada da Calma tá no Spotify, no Deezer, no YouTube, tá no site da da Vejinha também, quem quiser só procurar, ele ainda não tá no Apple Podcasts, porque a gente conseguiu resolver isso com o publicador, mas enfim, é fácil de achar. O caminho mais rápido que eu tenho assim, de conexão direta com as pessoas é meu Instagram, é onde eu compartilho muito do que eu tô vivendo, e tô vendo, e tô sentindo, que é @helenagalante, é onde eu divulgo também todos os podcasts que saem sempre na segunda-feira de manhã, todos os textos do A Tal Felicidade tão no blog A Tal Felicidade da Vejinha, a Veja São Paulo, que também é um caminho para gente se comunicar e eu vou deixar meu e-mail de trabalho aqui também porque né, estamos falando sobre trabalho e sobre carreira eu acho que é importante também, é um jeito antigo de se comunicar, mas funciona, hgalante@abril.com.br, é uma caminho para gente conversar, acho que não tem nada que eu goste mais na vida do que conversar, ouvir as pessoas e trocar. Então, quem se inspirou aqui depois de ouvir o Calma!, vem atrás que a gente conversa mais, certamente.
Henrique de Moraes – Maravilha. A gente sabe que a gente chegou no futuro quando a gente se dá conta que o e-mail é uma ferramenta antiga.
Helena Galante – Antigo, antigo, me senti assim, muito vintage, de dar meu e-mail. Mas é verdade, tá aqui meu e-mail!
Henrique de Moraes – Helena, muito, muito obrigado pelo seu tempo, foi um prazerzaço, aprendi muito, espero que a gente de repente consiga fazer um daqui a um ano e reviver e tentar falar mais sobre os aprendizados deste último ano aí, quem sabe? Helena Galante – Combinado, eu vou amar! Muito obrigada Henrique, muito obrigada pela sua disposição de topar fazer uma coisa tão diferente do que você fazia antes, e com seu coração inteiro, e eu acho que é por isso que funciona tanto, por isso que traz calma para quem tá ouvindo, então obrigada, obrigada mais uma vez pelo convite e obrigada para todo mundo que ficou ouvindo a gente aqui conversando muito muito muito, falando muito, indo para muitos caminhos, mas eu tô saindo muito feliz e inspirada desse papo, então muito obrigada!