calma! #49 com Flavio Tavares
Flavio Tavares é CEO da Upper, Fundador do Welcome Tomorrow , fundador do Instituto PARAR e ganhador do prêmio de Influenciador para a mobilidade sustentável no Brasil.
LIVROS CITADOS
- So Good They Can’t Ignore You – Cal Newport
- First Thing First – Stephen Covey
- Princípios – Ray Dalio
- A Cabana – William P. Young
- O Evangelho Maltrapilho – Brennan Manning
- A Coragem para Liderar – Brené Brown
PESSOAS CITADAS
- Walter Longo
- Marcela Ceribelli
- Nelson Mandela
- Seth Godin
- Simon Sinek
- Cal Newport
- Steve Martin
- Derek Sivers
- Stephen R. Covey
- Ray Dalio
- Adam Sandler
- Brennan Manning
- Murilo Gun
- Oprah Winfrey
- Luciana Gimenez
- Brené Brown
- Renan Hannouche
- Dante Freitas
- Jorge Paulo Lemann
FRASES E CITAÇÕES
- “Herança é o que você deixa para as pessoas, legado é o que você deixa nas pessoas” – citada por Flavio
- “Quem vive pelo dinheiro, quando dorme acorda e quando acorda quer dormir” – citada por Flavio
- “Quem vive pelo propósito, quando dorme ele descansa e quando acorda ele vive” – citada por Flavio
- “Não importa quanto tempo você tem, importa quanto de vida você aplica ao tempo que você tem” – citada por Flavio
- “Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?” – frase flavio
- “O sábio de hoje é o que entende que é um grande idiota, que não sabe absolutamente nada, e o idiota de hoje é o cara que se julga convicto de alguma coisa” – frase Walter Longo
- “Fazer o que ama é pros amadores, amar o que faz é o mantra dos profissionais” – frase Seth Godin
- “Se conteúdo fosse a salvação, todos nós seríamos milionários com barriga de tanquinho” – frase Derek Sivers
se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.
Henrique de Moraes – Grande Flavio, pô cara tô muito feliz de ter você aqui no calma!, eu vou te falar que eu tenho muita mas muita coisa pra te perguntar, é que eu fiz uma pauta enorme pesquisando para esse podcast, essa entrevista, eu vi tanta coisa legal que enfim a gente tem um tempo limitado aqui hoje inclusive e eu não vou perder tempo então já que tempo é nosso único recurso não renovável e já vou pular pra primeira pergunta, pode ser?
Flavio Tavares – Claro que sim cara, já manda aí e eu fiquei curioso de saber quantas coisas você já conseguiu saber pesquisando porque acho que sou um cara muito low profile, vamos ver o quanto eu consegui te surpreender então nas suas perguntas.
Henrique de Moraes – Boa, maravilha. A surpresa que é o legal desse podcast. Vamos lá cara, eu vou começar com uma pergunta que normalmente eu faço no final das entrevistas então quem até acompanha aqui vai achar esquisito mas ouvindo algumas das conversas que você tem aí né eu percebi que você tem, você enxerga o sucesso de uma maneira um pouco diferente e eu queria começar te perguntando o que que é ser bem-sucedido para você?
Flavio Tavares – Bom já começou bem hein cara, adoro responder esse tipo de pergunta aí e é legal que já dá um tom pro nosso papo né. Acho que a gente vive um período na sociedade muito complexo para responder esse tipo de pergunta, a gente vive hoje um período muito da, vamos chamar idolatria ao padrão financeiro né tipo assim, hoje todo mundo entende, uma grande parte das pessoas entendem sucesso de acordo com o número de recursos financeiros que você adquire então por isso você vê a galera postando no Instagram foto de avião, você sabe até uma curiosidade que eu descobri esses dias, que os jatinhos particulares em São Paulo alguns deles no período de pandemia eles eram alugados enfim, ainda são alugados ali no Campo de Marte pra galera ir lá produzir foto e postar em redes sociais. Então quando você vê esse padrão né de que bem-sucedido é isso num país tão desigual como o nosso né cara, num país onde mais de 20 milhões de pessoas não tem segurança alimentar, não sei se a galera sabe disso né mas insegurança alimentar é que o cara não sabe o que vai comer na semana, cada semana é um desafio para as pessoas se alimentarem e aí quando a gente vê isso de padrão a gente tem que questionar um pouco né. Eu tenho uma frase que eu gosto muito que é “Herança é o que você deixa para as pessoas, legado é o que você deixa nas pessoas”, o que será que a gente tá deixando enquanto legado né nossa história, nossa trajetória? Eu acho muito difícil não olhar o sucesso hoje além da perspectiva do quanto que você através do seu trabalho e da sua vida impacta a vida de outras pessoas, eu acho que a gente precisa passar por uma reinvenção muito profunda dessa lógica de ser bem-sucedido, ainda mais num país como o nosso. Nada contra a galera que ganha dinheiro, aliás acho muito legal ganhar dinheiro mas é mais legal quando você ganha dinheiro e você tem boas histórias para contar pros seus filhos quando você volta pra casa. Acho mais legal ganhar dinheiro e você souber, ter muita consciência sobre os valores, o impacto que você gera enquanto você caminha ao longo de sua jornada. Então bem-sucedido para mim, uma outra frase legal que eu uso muito em palestras minhas é “Quem vive pelo dinheiro, quando dorme acorda e quando acorda quer dormir”, e “Quem vive pelo propósito, quando dorme ele descansa e quando acorda ele vive”, acho que a gente precisa de mais pessoas que vivam, a gente precisa de mais pessoas que descansam, acho que a gente precisa de mais pessoas que se preocupam de forma profunda sobre qual a história que vão contar sobre você no dia em que você não estiver mais aqui né. Eu tenho quatro filhos Henrique, já falando um pouco da minha família, quatro, gêmeos recém-nascidos agora com cinco meses, 4 meninos, 4 moleques e me preocupo demais com isso cara, me preocupo muito com as histórias que eles vão contar para os meus netos quando eu não estiver mais aqui assim, essa é uma visão que eu tenho, começando do fim pro início né, uma visão que eu tenho há muitos anos assim, sempre me imagino fora desse planeta já, não mais aqui, imagino os meus filhos sentados num tapete no chão de uma sala junto dos meus netos em volta contando história sobre o vovô e eu fico pensando que tipo de histórias que eles vão contar, então sucesso para mim né, respeito todo mundo que pensa diferente mas sucesso para mim nunca vai estar atrelado ao quanto eu acumulei de recursos financeiros, o quanto de bens eu deixei pra minha família, é o quanto eu deixei nos meus filhos, não para os meus filhos, o quanto eu deixei nas pessoas que passaram na minha vida e não o quanto eu deixei para as pessoas que passaram na minha vida, é a diferença de herança para legado.
Henrique de Moraes – Quem ouve sempre aqui não deve mais me aguentar falando sobre uma frase que eu ouvi uma vez de uma entrevistada aqui no podcast em que eu fiz essa pergunta pra ela e ela colocou de uma maneira que me marcou muito, eu acabo trazendo sem querer né não tem jeito, especialmente quando a pessoa tá muito alinhada com isso que eu acho que é legal, que é “Sucesso é você se orgulhar da própria história”, eu acho que é exatamente isso que você falou né no final das contas, acho que todo mundo, difícil encontrar uma pessoa que não tenha caído na armadilha de deixar sua integridade de lado para fazer alguma coisa em prol do dinheiro né tipo, achando que tava fazendo uma coisa boa para sua empresa e não sei o que e tudo mais se você tá deixando sua integridade de lado, cara tipo assim, você vai se orgulhar disso depois? Então acho que isso pode ser, é um framework aqui eu coloquei aqui, adotei essa frase aqui do lado e toda vez que eu tenho que fazer uma escolha que envolve dinheiro eu me pergunto “Vou me orgulhar disso depois? Vou poder contar pra alguém?” então faz muito sentido isso que você falou
Flavio Tavares – Tenho uma história cara só pra fechar isso que você falou, quando meu primeiro filho nasceu, ele tem 12 anos, quando ele tinha dois meses de vida, um mês, nem tinha dois meses ainda, eu moro em Londrina, no Paraná e eu tava voltando de Curitiba de carro sozinho e aí tinha um caminhão andando a 10 km por hora e eu pensando se ultrapassava ou não ultrapassava, quando na faixa contínua mesmo eu fui e ultrapassei, achei que dava e ultrapassei, quando eu fiz a curva uma blitz parada lá na frente me esperando. Aí parei o carro, o guarda veio e pediu habilitação, minha habilitação sempre fica ali na carteira onde põe dinheiro, eu abri pra pegar e ele viu que tinha uma nota de R$ 50, o guarda puxou minha carteira de habilitação, os R$ 50, deu uma olhadinha e tal e falou para mim “Pô você viu o que você fez?”, eu falei “Vi e tal”, aí ele me devolveu a carteira de habilitação e falou “Você tá liberado”, e aí eu continuei e no que eu continuei eu não lembro cara, tava tocando alguma música na rádio sei lá, muito emocionante e quando eu comecei a olhar pelo retrovisor eu vi a cadeira do bebê-conforto do meu filho recém-nascido e na hora comecei chorar, comecei a pensar “Cara se meu filho estivesse aqui atrás, é isso que eu faria?” e é isso, igual você tem seu framework, talvez esse tenha sido um framework que mudou muito a minha história nesse dia, eu dei a volta, peguei o primeiro retorno que tinha e voltei lá, parei o carro, chamei esse guarda ainda com o olho vermelho, meio emocionado e falei “Não sei se o senhor tem filhos, eu tenho um em casa que acabou de nascer, a cadeirinha dele aqui e eu preciso viver uma vida como se meu filho estivesse o tempo inteiro olhando o que eu faço, eu preciso ter uma vida como se meu filho estivesse o tempo inteiro do meu lado e o que você fez é errado, o que eu fiz é errado, preciso que o senhor me devolva o dinheiro e aplique a multa porque esse é seu papel e é a história que vai contar pro seu filho quando chegar em casa e essa é a história que eu quero contar pro meu filho quando chegar em casa”, então essa coisa do framework acho que talvez esse tenha sido o momento, eu sempre falo isso numa palestra minha, dos momentos que dão gatilhos assim na sua história e sempre quando eu tô diante de um dilema, diante de uma situação eu tenho esse sentimento assim, se meus filhos estivessem me vendo agora eu faria isso, faz sentido? Então é como se eles estivessem o tempo inteiro me vendo, me observando, participando comigo e tal né porque eu lembro de uma reunião que eu tive com um grande banco e eu falei isso, os caras queriam que eu mudasse a palestra inteira porque eles não queriam que falasse de propósito, queriam que falasse um monte de outra coisa e não sei o que, uma reunião com vários diretores e eu falei isso pra eles, falei “Cara se tivesse uma câmera agora filmando a conversa que a gente tá tendo e os seus filhos e meus filhos estivessem vendo a nossa conversa, os meus filhos teriam orgulho de mim porque eu tô aqui lutando pelo que acredito, agora me desculpe o que eu vou falar” eu falei para eles, “Os filhos de vocês teriam vergonha de vocês, vergonha de vocês de abrirem mão de seus valores de maneira tão fácil por causa do dinheiro, por causa da meta, por causa do resultado e tal” eu falei “Prefiro viver a vida como se tivesse uma câmera aqui porque mesmo que não tenha, essa é a história que eu conto em casa, eu não sei quais que vocês têm para contar, nem sei se vocês estão preocupados em contar mas eu tô”, então acho que essa consciência né, pra mim essa coisa da paternidade é muito forte nesse símbolo, do tipo, do seu papel no mundo, você tem filhos?
Henrique de Moraes – Tenho duas filhas, duas meninas
Flavio Tavares – Então você entende a força da paternidade nessas reflexões mais profundas né sobre nosso papel no mundo.
Henrique de Moraes – Sim, totalmente. Você falou uma coisa ali que é, a gente precisa de mais pessoas que vivam né, e aí eu levantei aqui alguns dados de pesquisas que você já mencionou em palestras, podcasts e duas que falam tipo que 49% dos colaboradores abririam mão de 10% do que ganham pra trabalhar mais perto de casa e teve uma pesquisa que acho que vocês que desenvolveram em algumas das empresas que você trabalhava que era sobre prêmios nas empresas que tinham, ah tipo um carro zero, viagem pra Disney mas 82% das pessoas escolheram 6 meses de sextas-feiras livre né e aí você traz um questionamento que eu acho interessante que é você se perguntar “Será que eu tenho aplicado vida ao meu tempo?”, e aí eu fico me perguntando exatamente, pega essas pessoas que responderam essas pesquisas, que falaram que gostariam de mais tempo, a pergunta que eu tenho pra você é, será que essas pessoas saberiam o que fazer com esse tempo? Porque assim, eu vou dar o meu exemplo, eu organizei minha vida inteira há 2 anos, 3 anos atrás, pra morar do lado do meu trabalho, e sabe o que acabou acontecendo? Comecei a trabalhar mais, comecei a sentir falta do tempo que eu levava pro trabalho, de ouvir um podcast, botar um audiobook, comecei a lamentar a perda desse tempo. Então você acha que as pessoas hoje, mesmo que elas reclamem dessa falta de tempo, você acha que elas estão preparadas, se perguntam inclusive o que fariam se tivessem mais tempo?
Flavio Tavares – Interessante que nessa pesquisa, quando a gente fez, como tudo começou né, o Walter Longo é meu sócio em alguns projetos e aí há uns 4, 5 anos atrás o Walter me mandou um e-mail me cobrando, perguntando sobre alguma coisa que eu tava devendo pra ele e ele termina o e-mail e escreve “take your time”, cara foi muito profundo isso pra mim, muito profundo porque eu falei “Take your time?”, eu falei “O cara tá me cobrando um negócio e fala “Take your time, vai no seu tempo?” e lembro que depois eu fiz uma palestra que o título era “Take your time”, porque eu falei cara a coisa mais bonita que existe na vida é o respeito pelo tempo do outro, porque se tempo é vida, quando a gente perde tempo o que a gente tá perdendo é a própria vida, não estamos perdendo tempo então ele falar “Vai no seu tempo” né, cada um tem seu tempo. E quando a gente começou a se aprofundar nisso e começou a falar sobre “tempo é vida”, muito no conceito da mobilidade né porque a gente tava desconstruindo todo o conceito de mobilidade no Brasil, a gente não queria olhar a mobilidade pelo modal, a gente queria a mobilidade pelas pessoas, não importa o modal, se é bicicleta, carro metrô, como você anda, importa como você se locomove, como você cuida do seu tempo. Ninguém se preocupa porque tá preso no trânsito por causa do trânsito, se preocupa por causa do tempo, quer chegar mais cedo em casa, queria fazer coisas e aí entra nesse aspecto do que você falou agora, uma coisa muito interessante que a gente vê no movimento agora atual quando a gente olha o tempo, a gente tem que olhar o tempo perto do indivíduo né, o Walter até tem um livro que fala da Idade Média pra Idade de Mídia né, a gente sai da Média e começa a ir pra Mídia, que cada um agora é uma mídia, cada um pode falar, se expressar, cada um tem voz, você vai lá no twitter que é o único que tá funcionando aliás hoje
Henrique de Moraes – Esses monopólios
Flavio Tavares – Pra quem não sabe vai lembrar desse dia quando estiver ouvindo o podcast lá na frente, hoje é aquele dia que o WhatsApp ficou caído mais tempo na história que eu me lembre, porque já caiu 1 hora mas a gente tá aqui há 6 horas acho sem WhatsApp, pessoas morrendo aí pelo mundo afora porque não conseguem sobreviver sem rede social. Mas o interessante de que quando você vai pra esse conceito da mídia, você olha por um olhar da individualização, então quando a gente fez essa pesquisa que você citou, a gente fez, dentro dela tinha outra pergunta que falava “Se você tivesse mais tempo, o que você faria com ele?”, que aí é o lance do indivíduo, é uma coisa que a gente provoca pessoalmente muitos CEOs e diretores de empresas, quatro respostas ficaram empatadas ali em primeiro lugar e é interessante isso porque uma parte falou “Eu estudaria mais”, outra parte falou “Eu empreenderia”, outro falou “Eu faria atividade física, uma academia” e outro falou “Eu ficaria mais tempo com a minha família”, porque é interessante os quatro em primeiro? Traz essa coisa do olhar individual, não tem uma resposta né, não tem uma resposta pronta sobre o que é importante pro tempo de cada um, tem uma frase da Gol que a gente trouxe como um mantra também que é “Não importa quanto tempo você tem, importa quanto de vida você aplica ao tempo que você tem” né e aplicar vida ao tempo é individual. Às vezes aplicar tempo para algumas pessoas assim é ficar sem fazer nada e tá tudo bem cara tipo assim isso é seu, se você tem mais tempo o que você faz, que maneira você manifesta vida, qual o tempo que você tem? Claro que entra em outra coisa na esfera que é a questão do movimento que é muito importante para mim que eu falo “Muita gente na inércia, o tempo tá passando e a pessoa não tá se movendo”, importa que caminho, a gente precisa ensinar as pessoas a criarem movimentos, a se moverem. Mas dentro desse aspecto o que eu acho que a gente precisa é assim, isso que você acabou de falar, a gente vivia procrastinando a vida, não o tempo, procrastinando, “Ah não consigo fazer academia porque não dá tempo”, “Não consigo ter mais tempo com meus filhos porque não tenho tempo”, “Não consigo não sei o que” e no final a gente vê no home office que todo mundo continua sem tempo do mesmo jeito, mesmo as pessoas sendo mais senhores e senhoras do próprio tempo, eu agora sou senhor do meu próprio tempo e mesmo assim aquilo que eu me eximia da minha responsabilidade e dizia que era culpa do meu trabalho, do deslocamento do trânsito, de isso e aquilo pra não fazer as coisas você acaba por nao fazer. Agora, tem muita gente que soube aproveitar melhor esse tempo, eu sei que muita gente melhorou a qualidade de vida, conseguiu criar uma rotina nova, conseguiu aproveitar mais o tempo, então acho que tem um despertar individual, óbvio que a gente tem que respeitar o tempo, o take your time de cada um aí mas acho que tem uma reflexão aí né do quanto que a gente não se escravizou tanto nessa coisa de não seremos donos do nosso tempo que quando a gente tem o tempo a gente fica meio perdido sem saber o que fazer e acaba entrando num loop infinito do que nos é oferecido, no caso é o trabalho porque esse movimento ano passado foi muito forte, isso que você falou, muito forte. Tem uma pesquisa que o Great Place To Work fez assim que aumentou demais a carga horária das pessoas em home office, as pessoas começaram a trabalhar horas a mais, óbvio que tem uma razão, da insegurança né, a economia em crise, a pessoa querendo mostrar serviço, sendo mais percebida como era antes, trabalhando, ralando mais para poder mostrar serviço mas tem uma coisa também dessa falta nossa da nossa disciplina né, de falar “Pera aí cara, não preciso trabalhar tanto tempo”, agora por exemplo né eu tô evitando o máximo possível fazer coisas à noite porque eu tô com gêmeos recém-nascido em casa, minha esposa precisa do meu apoio lá e tal, então é uma disciplina, às vezes não dá, às vezes não consigo mas vou lutando pra administrar melhor esse tempo porque eu sei que esse tempo meu, disponível é importante para minha esposa e é importante pra minha família. A gente tem que ir equilibrando esses pratos.
Henrique de Moraes – Eu tenho a sensação de que, e eu falo até bastante sobre isso aqui no podcast que as pessoas andam muito em piloto automático né e é isso, quando tem uma mudança, na verdade o que elas fazem é tipo “O que eu já faço normalmente eu já vou fazer mais” tipo só muda uma chavinha ali mas ela não para pra refletir sobre como fazer as coisas né e a gente vê isso muito em tudo né porque você fala assim, os próprios exemplos que você usou tipo “Ah preciso me alimentar melhor, fazer musculação, exercício” e a pessoa fala “Não tenho tempo pra isso”, mas se você vai ver quanto tempo ela passou no Instagram por exemplo e deu 1 hora, 1 hora e meia às vezes
Flavio Tavares – 5 horas e 40 cara, é o tempo que o brasileiro gasta, a população hoje no mundo segundo uma pesquisa do ano passado, que mais consome redes sociais e aplicativos no planeta, 5 horas é 40 é muito né cara, pensa só, você dorme 8 horas na média, sobram 16 horas e essas 16 horas a gente passa 5h40, a gente tá falando de um terço da nossa vida útil, no dia, a gente tá na rede social, no WhatsApp, no Instagram, no Facebook, sei lá aonde consumindo conteúdo, é exatamente isso
Henrique de Moraes – E curiosamente, antes de entrar aqui no bate-papo chegou uma news pra mim ali da Marcela Ceribelli inclusive que tem um podcast bem legal que chama “Bom Dia, Obvious” e ela fala, ela conta a história de uma amiga dela que trabalhava numa agência, agência todo mundo sabe que é uma loucura né tipo, horários infinitos, trabalha até 3 da manhã, essas coisas, aqui na agência graças a Deus isso não acontece mas enfim, a gente sabe que é a realidade da maioria das agências, e que ela passou pro cliente, então ela saiu da agência e foi pro cliente, que é bem comum também nesse universo de publicidade, as pessoa saem da agência e vão pro cliente o tempo inteiro. E no cliente ela tem hora pra sair, tem hora pra acabar de trabalhar e faz parte da empresa, tem que acabar, fechar o computador e ir embora e ela começou a se sentir culpada essa amiga dela porque ela falou assim “Como eu, uma pessoa bem sucedida não tô trabalhando até tarde, não tô exausta, não tô quase num Burnout”, se sente uma fraude olha que loucura, a gente inverteu tudo, os valores se inverteram, você precisa pra se sentir bem sucedido, generalizando né gente então assim pegando a geração que a gente vê das pessoas, da meritocracia, não que eu não acredite em meritocracia mas assim, se tornou uma coisa tão popular né o hustle, você ter que trabalhar muito e se dedicar muito, muitas horas e virar a noite e tudo mais que a pessoa se sente mal por descansar, isso é muito louco cara, é a inversão maluca né do que faz bem para você, do que é bom para você e o que não é, a gente vive num piloto automático
Flavio Tavares – Muito piloto automatico cara, e esse é o desafio. Tem uma palestra minha que é “Em terras de robô quem tem coração é rei” eu falo isso, o quanto que será que a gente tá sendo robotizado por essa tecnologia, por esse algoritmo a gente fica com tanto medo do robô tomar nosso lugar né e dele ocupar os espaços de trabalho hoje de um modo geral mas como será que nós não estamos nos tornando robôs né, o quanto será que a gente não ligou esse piloto automático e tá levando a vida nesse piloto automático. Tem uma frase que eu falo muito né, “Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?” né, quando será que a gente está se despertando para o novo né, para novas experiências, para novas coisas. A pandemia foi um processo de descoberta para todo mundo né, uma descoberta curiosa assim por exemplo, eu sempre fui muito urbano, nunca fui muito rural, nada rural, bicho, mato e tal e cara teve um período da pandemia que eu comecei a querer desbravar cachoeira com meus filhos, tava maior curtindo, minha esposa achava inacreditável assim ela falava “Como ele tá querendo isso?” e eu curtindo entrar no meio do mato, todo ralado, os bichos comendo a gente pra achar a cachoeira e meus filhos também curtindo né, como será que a gente tá se abrindo sabe para essas novas experiências, pras novas coisas, olhar o mundo por outras óticas e outras percepções né e justamente para quebrar um pouco essa coisa do piloto automático, que a gente fica tipo “só quero isso”, “só vejo assim”, é a história da polarização hoje né, as pessoas estão muito convictas sobre o que elas acreditam, sobre o que é certo, sobre valores, vai lá nas redes sociais e critica outra que pensa diferente dela, fica se posicionando mas ela não percebe que ela tá numa bolha assim, quando será que ouvir alguém que pensa completamente diferente de você não pode te abrir novos portais, não pode abrir novos horizontes? Ou será o quanto que a gente tá disposto ao aprendizado, os novos aprendizados né, talvez essa coisa do piloto automático é também esse exercício e o quanto que a gente está aberto para aprender
Henrique de Moraes – Sim, eu ouvi uma história esses dias que eu achei bem interessante que é o seguinte, é uma escritora que fala sobre negociação, pesquisadora e escritora e ela tava no carro com o filho dela e o sinal tava fechado e ela tava ensinando cores e leis de trânsito pro filho porque ela morava num lugar muito movimentado e ficava com medo de acontecer alguma coisa com ele e tava tentando ensinar, ele tinha 3 anos e ela virou pra ele e falou “A gente parou no sinal, que cor tá o sinal”, e ele falou assim “Verde”, ela falou “Não o sinal não tá verde, a gente tá parado, qual cor tá o sinal?”, aí ele falou “Verde”, aí ela “Ué, estranho ele costuma enxergar bem, não tem nenhum problema com cores” e começou a fazer uma pesquisa pra saber se ele era daltônico, começou a tentar entender o que tava acontecendo. Aí uma semana depois eles pararam no mesmo sinal e ela tava sentada atrás porque a sogra dela tava dirigindo o carro, e ela percebeu que onde eles sentavam, onde tava a cadeirinha dele ele não conseguia ver o sinal da frente, só o do lado, e que de fato tava verde e aí essa história, o filho dela tem mais de sei lá 30 anos mas a história marcou tanto ela exatamente por ela perceber que dependendo de onde você senta, você pode de fato ter uma experiência diferente, pode ver coisas diferentes e isso abriu muito ela a inclusive se fazer essa pergunta “O que eu não tô enxergando?” e a perguntar pros outros “O que eu não tô vendo aqui?”, porque ela até dá um exemplo de uma pessoa às vezes sentada, 5 pessoas sentadas na mesma reunião podem estar vendo coisas diferentes por causa do background delas, porque elas estão prestando atenção na parte que é responsabilidade delas e de repente elas não prestaram atenção no que é responsabilidade do outro, então elas podem estar na mesma reunião e todas elas terem enxergado coisas diferentes ou tiveram uma conversa antes com o CEO que você não teve então assim, é muito difícil e você precisa de fato estar aberto pra entender o que você não tá enxergando e não ficar fechado, não polarizar totalmente e falar “Eu tô certo, essa pessoa tá errada e eu não vou nem ouvir”, tenta entender o que você não tá enxergando, qual é o problema dessa pessoa que você não tá enxergando? O que ela viveu que você não sabe? E a partir daí você tenta ver como você pode fazer
Flavio Tavares – E mesmo que você descubra né que a visão dela é diferente da sua e que você assuma que você prefere caminhar com seu ângulo de visão do que do outro, respeitar o ângulo de visão do outro né, aquilo que nos une do que aquilo que nos separa. A gente ter um foco mais no que nos une do que no que nos separa eu acho que traria uma compreensão maior sobre o todo né, sobre esse olhar um pouquinho mais humano, um pouquinho mais compreensivo sobre o momento do mundo que a gente tá vivendo hoje então eu acho que tem desafio grande aí. E aí entra no learning, entra muito no learning, entra num conceito de lifelong learning, entra muito nesse conceito de que a vida é um aprendizado né, o Walter Longo tem uma frase que eu gosto muito que ele fala que “O sábio de hoje é o que entende que é um grande idiota, que não sabe absolutamente nada, e o idiota de hoje é o cara que se julga convicto de alguma coisa”, e é exatamente, há 20 anos atrás a gente era acostumado ao contrário, o sábio tinha o conhecimento, você mandava uma pergunta, era o google há 20 anos atrás né, aquelas pessoas intelectualmente mais preparadas, mais maduras, mais vividas e o idiota era o que não sabia nada. Hoje é o contrário, o cara que acha que sabe tudo e que talvez saiba é um grande idiota né enquanto que o cara que sabe muito, o grande sábio de hoje é o cara que tem a humildade pra dizer ‘Cara me fala mais sobre isso”, que tem essa compreensão. Eu fui pra África do Sul em 2019 com minha família e aí eu fui fazer um tour sobre a história do Nelson Mandela com meu filho e várias histórias legais mas teve uma que eu fiquei assim “Caraca que história boa essa”, ele falando sobre exemplo de liderança, ele contava e o grande exemplo de liderança pro Nelson Mandela era o pai dele, o pai dele era tipo o cacique de uma tribo indígena, de uma colônia lá na África do Sul e ele falou que o pai dele o seguinte, todas as discussões que eles tinham eles sentavam em círculo, o pai dele ouvia todo mundo e só falava no final, o pai dele nunca falava antes, ele respeitava a opinião de todo mundo, ele ouvia todo mundo e no final ele falava algo, e ele falava que esses dois movimentos de liderança era uma coisa que sempre impressionou muito ele na figura do pai, apesar do pai ser a maior autoridade lá ele nunca sentava numa posição em que as pessoas ficavam de frente pra ele, ele num púlpito conversando, sempre em círculo em que ele era mais um ali naquela roda e ele sempre falava por último, ele queria ouvir todo mundo pra depois falar, cara muito atual né, podia ser muito atual pra gente olhar pra liderança de hoje né, o quanto será que a gente precisa voltar a sentar em círculo, o quanto será que a gente precisa aprender a ouvir mais, falar no final, é um bom exercício pra gente aprender que talvez a sabedoria esteja muito mais presente em movimentos como esse do que nessa grande massa convicta sobre direita/esquerda, comunismo/fascismo, essas grandes convicções que a gente vai levando por aí sem ter um olhar sobre o todo, sobre o humano né. Até falei no começo né, num país tão desigual será que não tem mais coisas pra nos unir agora do que pra nos separar, será que não tem mais coisas pra gente fazer juntos do que a gente ficar discutindo de que lados opostos nós estamos? Acho que é tudo uma percepção, óbvio que eu tenho as minhas convicções, tenho meu olhar que às vezes eu me revolto dentro de mim, minha esposa insiste comigo que eu não tenho que me posicionar e minha esposa é muito sábia nisso porque cada vez que eu me posiciono em relação à qualquer convicção que eu acho que eu tenho, é uma maneira que eu tô de alguma forma ofendendo o outro que pensa diferente de mim e aí eu não tô nessa busca concreta do tipo “O que nos une é mais forte do que o que nos separa”, é tão constrangedor pessoas que pensam diferente de você e você de alguma forma se conectar com ela. Eu lembro que, sei lá quem que fez, acho que foi aquele site Quebrando o Tabu, que ele fez um encontro do Fernando Henrique lendo o que as pessoas criticavam ele lá no twitter, ele lia todas aquelas informações e no final eu ficava pensando “Cara aquele ali é um cara que xinga ele com aquelas palavras tão odiosas é um avô igual ele, um pai igual ele ou ele é um marido igual ele ou ele é um filho igual ele” e esses caras em muitas situações são muito parecidos e semelhantes. Corinthians e Palmeiras, tem dois opostos mas os caras tem muito mais coisas em comum, às vezes tem um cara lá que passou por uma dificuldade enorme na vida e outro também e você fala “Meu esquece o clube, vamos pensar naquilo que nos conecta né”, esse deveria ser um caminho aí das grandes instituições que a gente devia ter na humanidade.
Henrique de Moraes – Sim com certeza, sensacional cara. Vou dar uma virada aqui meio brusca mas pra te fazer uma pergunta, na verdade vou te pedir pra contar uma história, vou trazer uma frase do Seth Godin que eu gosto muito e acho que você vai já conectar qual é a história, senão eu dou uma dica, mas o Seth tem uma frase em que diz que “Fazer o que ama é pros amadores, amar o que faz é o mantra dos profissionais” e eu ouvi você contando a história do seu filho no posto que eu achei sensacional. Você lembra qual que é?
Flavio Tavares – Lembro, claro. Esse é um tema também muito recorrente em casa assim, coisas que a gente fala assim, é que tem movimento, só para contextualizar, não sei se quando você ouviu eu contextualizo isso mas eu falo sobre propósito há uns 12 anos e eu tive a oportunidade de ouvir quando ele começou, uma das primeiras palestras ele fez um TED e depois ele fez essa palestra, o Simon Sinek, ele tava começando, tava num evento lá nos Estados Unidos era um evento pequeno e ele foi contratado pra abrir ou fechar o evento e eu tava lá e quando ele me trouxe esse conceito do golden circle né, tão charmoso do porque você faz o que você faz, não só o que e como você faz e tal, lembro que não dormir essa noite assim, fui pra casa e falei “Caraca”, eu montei uma palestra, queria escrever um livro, eu fiquei muito impressionado com isso, me conectei direto assim, eu falei “Cara é muito profundo isso”, eu lembro que muitas das coisas que eu fiz na minha vida profissional foram despertadas ali e aí eu montei uma palestra e eu passei então muito tempo fazendo palestras sobre o que você tem que descobrir porque você faz e sabe, uma vez eu fui fazer uma palestra numa empresa uns bons anos atrás e eu tinha uma palestra maravilhosa, pra mim era maravilhosa sobre o propósito e tinha muito esse tema do porque mas eu envelopei ela e eu falava “Você tem que fazer o que você ama” e era uma empresa, talvez uma das piores empresas para trabalhar no planeta Terra deve ser. Eu lembro quando entrei lá no lugar a atmosfera já era pesada assim, tinha um salão gigante, tinham sei lá umas 300, 400 pessoas lá dentro e eu entrei e parecia um velório, tinha uma palestra de encerramento de um congresso dos caras e eu fui lá assim sentindo até um peso assim, quase que um negócio espiritual mas subi, fiz a palestra e cara botei meu coração, aquele clima. Depois quando eu fiz a palestra todo mundo ficou, algumas pessoas choraram e normalmente quando eu fazia uma palestra, sempre vem gente contar uma história e ali não, todo mundo ficou, entrei com clima de velório e saí com clima de velório e eu falei “Caraca tem alguma coisa errada” e depois conversando com uma amiga que trabalhava lá ela falou “Meu sabe que eu adoro você mas você acabou com as pessoas”, aí eu falei “Porque? Eu entreguei meu coração”, e eu entrego mesmo cara, aí eu falei “Mas porque?” e ela falou assim “Porque você disse que as pessoas tinham que fazer o que elas amavam, e todo mundo que tá ali odeia, as pessoas precisam trabalhar cara você tá louco, tô com medo de alguém se matar depois dessa palestra porque não tem solução mais na vida” e eu falei “Caraca meu Deus” e ali começou um pouco esse meu clique assim, então só contextualizando, essa coisa de provocar as pessoas a fazerem o que elas amavam baseado nessa concepção que eu co-criei junto com ele e elaborei uma tese eu levei muito tempo, então nesse processo começou uma desconstrução minha, o que é viver pelo propósito? O que é de fato? E aí foi esse lance da história, que já tava nesse processo de tentar melhorar minha compreensão sobre isso e é engraçado a sincronicidade da vida, eu falei sobre isso sei lá há uns 3 anos atrás, essa experiência que tive com meu filho e hoje vejo muitas frases relacionadas à isso, óbvio que a autoralidade não é minha, tem muito com a sincronicidade da vida, outras pessoas devem ter dito coisas iguais ou semelhantes, talvez eu possa até ter ouvido isso em algum lugar mas ela fez sentido para mim ali porque depois ficou aquele sentimento da autoralidade né, como eu não lembro de ter ouvido nada quando eu ouço qualquer coisa falando sobre isso eu falo “Me copiaram, ouviram isso de mim de algum lugar” mas não, eu tenho certeza que não, que alguém já tinha dito isso muito antes, mas eu tava num posto de gasolina com meu filho esperando encherem o pneu do meu carro porque a bomba de encher pneu ficava na bomba de combustível e aí veio um frentista e falou “Já vejo”, demorou uns 3 minutos e nada, veio outro e enfim a gente ficou um tempão lá e a gente via a má vontade das pessoas em ajudar e aí eu falei “Vamos embora, a gente enche o pneu em outro lugar” e aí meu filho me perguntou “Papai, porque as pessoas não amam o que elas fazem?”, aí que me deu um clique e eu falei “Caraca, é isso, as pessoas não precisam fazer o que elas amam, precisam aprender a amar o que elas fazem” e aí a minha tese é, quando você faz o que você ama, quem define você é o que você faz e aí comecei a lembrar de monte de amigo meu assim, um cara que trabalhava na Ford há uns 20 anos e tinha o maior orgulho de ser o cara da Ford, saiu da Ford, mandou o cara embora e ele não é mais o cara da Ford, a identidade dele tava naquilo que ele fazia e não quem ele era né e quando ele deixava de fazer aquilo que ele fazia, que ele pseudo amava porque era o que ele fazia, e aí eu comecei a falar “Cara então se você fica buscando fazer que você ama, quem define você é o que você faz, agora quando você aprende a amar o que você faz, independente do que você faz o que define você é quem você é”, e aí eu sempre conto a história de um amigo meu, Rafa que era um garçom que trabalhava, tem a mesma idade que eu mais ou menos, ele trabalho com 19, 20 anos num restaurante e o Rafa era o melhor garçom que existia, Rafa era o melhor garçom que existia. Era o cara que era humano, que perguntava, que não existe no mundo, é raro assim, quando você encontra fica constrangido, quer dar uma gorjeta de R$ 50, o Rafa era esse cara que lembrava de tudo que você tinha pedido, que te chamava pelo nome, era carinhoso, amoroso, perguntava da sua vida, sua família, se você tá bem, era um cara fora de série. E Rafa um dia atendendo um senhor, esse senhor termina o jantar, dá o cartão pra ele e fala “Você pode falar comigo amanhã cedo?” e quando Rafael olha o nome no cartão depois vê que é o presidente da Renault que tava passando pela cidade na época e que foi lá, foi contratado pela Renault, Rafa começou como aquele cara que faz a vistoria de entrega do carro novo, depois de vistoriador passou a ser analista, depois virou não sei o que, Rafa hoje é diretor da Renault e trabalha na França, depois de 20 anos. Agora o que é curioso de Rafa? Rafa é o mesmo garçom, cara eu tenho orgulho de falar isso, Rafa é o mesmo garçom, Rafa era vistoriador de carro? Era o mesmo garçom, porque o coração dele é o mesmo. Rafa trabalha hoje como diretor na Renault como ele trabalhava como garçom, o que quer dizer isso? Rafa ama o que ele faz, colocava o coração em tudo que ele fazia, independente do que ele fazia. Ele diretor da Renault coloca o coração, trata as pessoas com respeito, pergunta o nome, toda mulher que faz limpeza, ele conhece todo mundo na Renault. Fazia tempo que eu não falava com ele, eu fui pra Lyon em 2019 a trabalho e aí eu conheci uma mulher que trabalhava na Renault num evento que eu tava em Lyon e aí eu falei de Rafa e ela começou a falar de Rafa pra mim, “Você conhece o Rafa?”, “Conheço”, você não tem noção, Rafa, e aí ela começou a me contar, eu fiquei emocionado com ela contando, eu falei “Cara é o mesmo amigo meu que era garçom, o mesmo cara” e aí entra muito nessa coisa de “Em terras de robô quem tem coração é rei”, a palestra que eu faço porque você tem que colocar o coração. Pior que tem muita gente aí que tá indo buscar num final de semana, tenta descobrir e não sei o que, vai pra retiro, tira um sabático, procura um guru, vai atrás dos budas e não sei o que e fica acordando 4h57 da manhã pra ver os milagreiros da internet, os gurus de palco para te dar alguma receita do bolo para você ser a pessoa que vai encontrar seu propósito e o encontro é mais simples né, é muito mais simples, a gente precisa urgentemente aprender a colocar o coração em tudo que a gente faz, urgentemente, amar o que a gente faz, independente do que a gente faz porque só assim que o mundo vai te conhecer. Às vezes alguém tá ouvindo esse podcast agora e fala “Ah você não sabe, eu trabalho numa empresa igual aquela que você falou aí que parecia um velório quando você foi e tal”, cara eu queria voltar ao tempo e fazer a minha outra palestra que nasceu depois dessa minha consciência assim e voltar lá e ensinar as pessoas a amarem, tenho certeza que essas pessoas iam mudar o clima daquela empresa porque elas se subjugaram à aquilo, elas deixaram que a empresa definisse a identidade delas, elas estão nessa busca de “Nossa um dia tem que aparecer um lugar pra eu sair daqui porque eu não aguento, preciso fazer o que eu amo” porque ela tá se esquecendo de mostrar quem ela é ali, então aceitou essa condição e a gente precisa muito buscar isso.
Henrique de Moraes – Boa, eu concordo bastante assim, eu tenho recomendado inclusive muito um livro que poderia ter sido escrito por você, que chama “So Good They Can’t Ignore You by”, do Cal Newport, um cara que eu gosto bastante e que exatamente, o título do livro inclusive é esse tipo assim “Se torne tão bom, tão foda que as pessoas não vão conseguir te ignorar” e que é uma frase do Steve Martin, que ficou sei lá, dez anos domingo fazendo standup, testando o método dele lá que não dava certo, não dava certo mas ele se tornou tão bom naquilo que ficou foda e as pessoas não conseguiram ignorar. E é muito legal o livro, ele fala exatamente isso né que quando você faz, você busca né tipo pautar sua vida, sua carreira no que você ama é isso, você acaba sendo muito definido pelo que você faz e também assim, você ser feliz não tá na sua mão, tá na mão da empresa, se você ama o que você faz vai ter que encontrar uma empresa que te traz felicidade, te traz satisfação, não se você ama o que faz, você aprende a amar tudo que você faz não, está nas suas mãos, você que tem que ser foda, você que tem que fazer então fica mais fácil né, você tem o poder ali e acho que faz bastante sentido e acho que casa com outra coisa também que é, essa galera dessa empresa que você citou, também tem que lembrar que as pessoas tem escolhas né, não é para você ficar mudando de emprego, buscando alguma coisa nesse sentido que vai satisfazer seu propósito, seu propósito pessoal que tá alinhado com o que você ama mas assim, às vezes a gente tem que lembrar que a gente tem escolha né, tem um texto do Seth Godin também que eu gosto muito que ele fala exatamente do final enfim, e ele vai falando sobre isso, sobre a diferença entre obrigação e escolha e aí ele fala assim: “Se é uma obrigação então você não tem uma escolha” então tipo assim, alguma coisa que você de fato é obrigado a fazer mas se você tem uma escolha e normalmente as pessoas que vivem em volta da gente elas têm né tipo assim, existem as pessoas que não tem escolha de fato mas a maioria das pessoas que vivem perto da gente elas tem escolhas, ela podem mudar então não trate como obrigação, e ele fala “own the choice” que é tipo “assuma suas escolhas” então é isso tipo assim cara, você tem uma escolha, ou você assume e ama o que você faz ou então muda, tão simples quanto isso e ponto.
Flavio Tavares – Exatamente.
Henrique de Moraes – Boa. Cara o que que é, eu não sei nem como eu falo isso, ADucation?
Flavio Tavares – ADucation, é a integração de advertising + education né, o quanto que a gente fala muito o quanto que o poder da publicidade, da propaganda pode se conectar ao propósito da educação. Aí é uma empresa nova né, a Upper que a gente fundou ano passado muito focada nisso assim, a Natura fala há 20 anos sobre sustentabilidade e conta as histórias através de propagandas incríveis que eles fazem, de fato eles devem fazer na Amazônia, projetos de biodiversidade, enfim mas quantas pessoas ali eles ensinaram sobre sustentabilidade né, então essa discussão do quanto que será que a gente não tem que começar a olhar a história da propaganda hoje né, a gente fala da quarta onda né, a gente sai do branded content e tem que entrar agora pro learning content, pro branding learning, a marca que ensina, a marca que gera aprendizado. Aí esse é um conceito que tá começando esse movimento no mundo né, nos Estados Unidos já se fala muito sobre esse conceito de learning organizations, como que as empresas vão ter que toda empresa ser uma empresa de educação, essa é nossa missão assim, toda empresa, não importa se ela é uma padaria da esquina, se ela é um hortifruti ou pra Natura, pra Petrobras, para as maiores empresas de planeta assim, todas deveriam ser uma empresa de educação, todas deveriam tangibilizar o seu propósito através da educação, aí esse é o conceito de ADucation, o conceito de ADucation é sai do branded content e vamos pro education, vamos tangibilizar a marca, vamos tangibilizar nosso propósito através de educação. E também uma nova educação, não dá mais pra olhar a educação pelo prisma e pela mesma ótica que a gente olhou aí nos últimos 50 anos, não da mais pra imaginar aqui dando uma aula, colocando EAD e tal a gente vai conseguir reter a atenção das pessoas a ponto delas se desenvolverem, crescerem, participarem né e conseguirem se engajar com esse novo aprendizado. Tem um estudo americano que diz que do aprendizado humano, 10% é conhecimento, e ele é um estudo de 1900 e alguma coisa e acho que faz muito mais sentido agora do que fazia na época então acho que por isso esse estudo nunca foi tão debatido, que o aprendizado humano, 10% é conhecimento, 20% conexões com outras pessoas e 70% são experiências que você vive ao longo da sua vida. Cara se parar pra pensar hoje né na enormidade de conhecimento que é gerado, pensa bem né o meu filho tem celular, ele tá com 12 anos e tem desde os 10 acho que foi quando a gente liberou pra ele, ele tem na palma da mão dele todo conhecimento do mundo, praticamente o conhecimento do mundo tá na mão dele, não existe pergunta sem resposta, ele aciona o que ele quiser, se ele não estiverem satisfeito com as aulas dele e quiser clicar numa Stanford e assistir alguma aula de Stanford ele vai assistir, ele tem o que ele quer na palma da mão, então o conhecimento em si não é mais o diferencial sobre o aprendizado, e aí quando você olha pra esse estudo você fala “Cara faz muito sentido né” porque a gente aprende muito mais trocando com o outro e a gente aprende vivendo nossas próprias experiências. Sempre gosto de contar história dos meus filhos, meu filho eu tô tentando que monte algum negócio, provocando ele assim, dando um incentivo e tal e eu queria que ele montasse um dropshipping então ele escolher um produto e a gente monta um marketplace, um dropshipping e faz parceria com a fábrica e você vende e tal, ele é louco por futebol e aí a gente tá há sei lá dois meses falando disso, eu vejo que ele, eu falo “Consegui um curso pra você, vai lá e faz” ele desanima, aí arrumei um cara que ia dar consultoria para ele, pedi pra ligar e ele não ligou e depois final de semana ele recebeu três amigos em casa, e aí tô lá fazendo hambúrguer para eles e tal, batendo papo com os moleques, super legal quando eles estão juntos aí eu falei “Vocês não querem abrir uma empresa de sócio com o Rique?” aí todo mundo, comecei a explicar o negócio, primeiro olhei pra ele e falei “Você topa ser sócio dos seus amigos?”, ele ficou todo empolgado. Henrique, cara isso no sábado à noite, hoje na segunda-feira, tudo que meu filho tá falando que vai fazer por dois meses ele fez em dois dias, montou um grupo com os amigos, já distribuiu tarefa entre eles, já passou o curso para assistirem juntos, fiquei refletindo sobre isso e falei “Cara olha isso”, é o lance das conexões, a gente não quer fazer sozinho, a gente quer fazer junto, a gente não quer mais aquela educação que é alguém falando, o pai falando para ele o que ele tem que fazer, dando dicas, caminhos e tal. Ele não, quando começou a trocar com os amigos eles estão descobrindo um caminho entre eles, como? Criando suas próprias experiências, então ele já me deu outras ideias que conversou com os meninos, que eles vão montar um canal no YouTube que eles acharam um cara que vai ajudar e estão dividindo as tarefas entre eles e aí tô nesse papel de facilitador, falei “Filho vai lá, se vocês precisarem de mim vocês me chamem, o que eu posso fazer, papai conhece muita gente pra ajudar, convidar pra dar uma aula, uma consultoria, ajudar” então faz muito sentido a gente olhar a educação hoje por essa perspectiva do fazer e tirar as pessoas da inércia. Você vê esse grande movimento aí das fórmulas de lançamento da vida né, cara o Hotmart faturou mais de 20 milhões o ano passado, agora o que são essas promessas? “Fique rico em 30 dias”, “Do mil ao milhão”, “Emagreça em uma semana”, “Aprenda a falar inglês em 45 dias”, é tipo um milagre, é osmose, as pessoas que ficam dizendo que desenvolveram um método, uma fórmula dos cinco passos que vai mudar sua vida só que 99,9% desses cursos são só conhecimento, não conecta ninguém e não provoca experiência nenhuma. Aí tem uma galera que tipo sei lá, de cada 1.000 você vai ter cinco pessoas que elas iriam viver a experiência independente do que for. Se você ensinasse o cara a fazer bolo é aquela pessoa que ela já ia pra cozinha montar o bolo, não tá preocupada em saber a receita, ela já queria viver a experiência dela. Aí a galera pega esses cinco que iam fazer qualquer coisa porque já tá nata nela e ficam usando elas como os videozinhos que eles gravam pra falar “Mudei a vida daquele cara” e as outras 995 acreditam mesmo sem elas terem isso e entram lá, ficam sentadinhas no computador, assistindo a aulinha lá achando que por osmose, assim que terminar a aula um pó mágico vai brilhar e eu vou ficar rico, ficar magro, vou aprender a falar inglês e que tudo vai mudar na minha vida né. E a galera meio que deixa rolar isso, deixa acreditar que é por osmose, tá vendendo, botando aluno aí dentro, tão fazendo sei lá o número de alunos que eles fazem então o que foi o desafio nosso quando a gente falou do ADucation é, vamos trazer as empresas pro game, essas empresas sabem muito, tem muita sabedoria acumulada e um monte de negócio que pode mudar a vida de muita gente. Eu falo muito da Ambev, a Ambev tem o melhor modelo de gestão aí, segundo a própria Ambev e muita gente concorda com isso, mais de 400 mil bares e restaurantes quase faliram no período da pandemia, será que se a Ambev compartilhasse um pouco do conhecimento que ela tem de gestão com esses clientes, não poderia mudar a vida de alguns? Será que não tá na hora da gente olhar o learning como ferramenta diferencial competitivo para o mercado, com uma visão the advertising, então é um pouco isso que a gente faz. E o que a gente faz hoje na Upper também é criar um cenário full, desde o branding, conexão plataforma e tecnologia, a gente é sócio de uma empresa americana que desenvolve plataformas de streaming e daí a gente faz o White Label de OTT, a gente tem uma equipe de roteiristas, produtores, a gente produz conteúdo e a gente faz muita parceria com agências né então isso que eu falei quando eu vi que a wee! tem tudo a ver com a gente aqui de se aproximar e desenhar projetos juntos, chegar clientes aqui e a gente encaminhar e vocês ajudarem a envelopar, fazer o trabalho de comunicação de marketing digital, de posicionamento dessa área de educação porque a gente teve esse service meio forçado porque as empresas não estão preparadas para absolutamente nada do que a gente tá discutindo agora, então falar para eles montarem uma área de educação, produzir conteúdo, editar vídeo, produzir vídeo ou criar uma campanha de marketing digital para posicionar os projetos deles. A gente tem um projeto na área do sono com uma grande empresa de sono, que vende colchão e a gente falou “Você não tem que vender colchão, você tem que ensinar o brasileiro a dormir melhor”, “O seu propósito deveria ser esse, mais de 70% dos brasileiros dorme mal, esquece vender colchão, vamos transformar todos os vendedores em especialistas do sono, vamos criar um documentário sobre o sono, vamos criar o curso mais fabuloso do mundo sobre o sono, vamos de fato ensinar as pessoas a dormirem e como consequência você vai vender mais colchão, como consequência, não como objetivo final vai ser transformar o sono do brasileiro, e os caras super entenderam isso só que tem desafios, eles entenderam mas precisa da agência para fazer o marketing digital porque ele não encontra esse braço por isso que agência para nós é um, principalmente as que atuam mais no digital é um parceiro importante para gente assim de duas vias né, tanto para posicionar a Upper no mercado quando pra gente poder ter parceiros que ajudaram a construir projetos com a gente.
Henrique de Moraes – Boa. Vamos conversar depois daqui com certeza.
Flavio Tavares – Fica a dica aí para todo mundo que tem agência, upper.live o site pra quem quiser conhecer mais
Henrique de Moraes – Boa. Engraçado, você falou dessa coisa do conhecimento, das formas de lançamento e tudo mais, tem uma frase que eu acho muito engraçada, que eu adoro que é do Derek Sivers, ele diz que “Se conteúdo fosse a salvação, todos nós seríamos milionários com barriga de tanquinho”, e é bem isso cara porque é o que eles prometem né, só que no final das contas é o que você falou, o que vale é o movimento, o que vale é a ação, o que vale é você sentar e fazer e fazer a parte chata, todo mundo sabe, tem um amigo meu que fala isso, todo mundo sabe o que é preciso para você ficar sarado, você precisa comer bem e fazer exercício, só, tão simples quanto isso
Flavio Tavares – E quantos fazem né
Henrique de Moraes – Exatamente, é todo mundo procurando uma fórmula, “Não porque eu vi essa dieta, eu vi esse exercício” cara vai ser cansativo, vai ser chato e é isso, acabou, só assume, só resolve e aí faz o que a gente falou né tipo, ama isso, ama o processo, ama fazer isso, encontra, você pode até tentar encontrar um exercício que você ame mas é mais fácil você amar fazer exercício porque cara, é sempre cansativo, cansa mesmo, é pra suar.
Flavio Tavares – Engraçado que eu tava ontem falando com meu amigo isso, eu tava falando que preciso fazer exercício, tô mais sedentário agora e tal e tava falando pra ele “Cara, esse negócio de exercício eu preciso de alguém que estude o meu biotipo, eu não acredito que todo mundo tem que fazer tudo, então preciso de um nutrólogo pra fazer um exame de sangue, que veja meu DNA e entenda qual tipo de alimento que eu tenho que comer melhor, qual tipo de exercício que combina com meu corpo, não acho que todo mundo tem que fazer as mesmas coisas” e aí você falando agora eu falei “Cara tô dando um monte de desculpa pra não fazer o óbvio” que é tipo comer menos, fazer atividade física não importa qual e parar de querer ficar.
Henrique de Moraes – Pois é porque assim, eu acho que é ótimo e você consegue avançar depois, todos os estudos, essas pessoas são especialistas, elas tem razão pra ser, eu ja fui no nutricionista e foi excelente, foi a época que eu fiquei melhor mas a verdade é que eu comecei só tentando me alimentar melhor e correndo sabe, fazendo as coisas que eu deveria fazer e eu vou até colocar esse podcast aqui cara, o link do podcast onde o Derek fala sobre isso em que ele fala sobre sobre, no final das contas a conclusão dele é que o que você tem que fazer é simplesmente calçar o seu tênis e sair correndo porque ele fala sobre a diferença entre fácil e simples, em que ele fala o seguinte, que correr uma maratona é simples, você coloca a sua roupinha de correr e você corre 44 km, só que não é fácil né mas só que no final das contas assim o que vai fazer a diferença é isso, você calçar a porcaria do tênis e sair pra correr, tão simples quanto isso, só calça o tênis e sai, amarra o tênis e sai pra correr. Só que a gente fica botando desculpa, e a gente fala “Não, tem que comprar roupa, eu não tenho tênis adequado e não sei o que e tudo mais”
Flavio Tavares – Tem que ver o meu biotipo para saber se a corrida está adequada pra mim
Henrique de Moraes – Adequada, exatamente. Eu tenho um amigo que foi o cara que mais me ensinou sobre isso de fato na prática porque ele tava gordo com quase 100 kg, fumando, bebendo pra caralho, encontrou com um amigo que tava sarado e era gordo sedentário como ele, ele falou “Caraca o que você fez?”, “Eu saí e comecei a correr e me alimentar melhor”, aí ele “Então tá bom, vou fazer isso também” e de fato fez sem fazer nada, sem nutricionais, sem ir na academia ele corria na rua de All Star, correu um anos de All Star e depois comprou um tênis decente e ele fazia exercício na rua, nas barras de rua. Se eu te mostrar uma foto do maluco você não acredita, o antes e depois dele é inacreditável, o moleque ficou sarado mesmo e só fazendo isso
Flavio Tavares – Em quanto tempo?
Henrique de Moraes – Cara foi um ano e pouquinho que ele levou pra ficar daquele jeito. Mas cara é impressionante, você vê a foto do cara você não acredita, vendo a foto do antes então você acredita menos ainda e durante muito tempo eu ficava assim, comecei a fazer exercício com ele e às vezes eu falava assim “Pô tô sentindo falta às vezes de ir pra academia” e ele falou assim, “Henrique, faz, só faz, para de reclamar e faz”, “Quer ir pra academia? Vai mas só vai, não vem falar comigo que você precisa, está pensando, só vai e se não estiver funcionando faz outra coisa, só para de reclamar e vai fazer”. Flavio deixa eu te fazer duas perguntinhas aqui pra gente encerrar cara, uma que eu sempre pergunto pra todo mundo e que os ouvintes reclamam se eu não perguntar, que é quais são os 3 livros que mais impactaram a sua vida assim, e não precisa ser, pode ser qualquer coisa tá, pode ser auto ajuda, pode ser romance, qualquer coisa, não tem uma regra aqui não, tá?
Flavio Tavares – Cara muitos livros, eu sou um cara que, eu tenho uma coisa que eu falo muito com o time aqui todo, que eu falo da co-criação, eu adoro co-criar, quando eu pego um livro muito bom é um desespero porque eu invento muito junto com o livro, vou criar uma palestra, vou ter um insight, vou reunir todo mundo aqui e vou ter outra ideia e a gente vai mudar o rumo da empresa, sou muito de co-criar assim
Henrique de Moraes – Não conheço ninguém assim não
Flavio Tavares – Fico marcando as coisas e falo “Caraca”, eu me envolvo mesmo e gosto de co-criar e acho que é pra isso que todo mundo escreve coisas, não é porque alguém vai dar receita, nunca acreditei nisso, nunca tive um livro que foi do meu guru e mudou minha vida mas deu muitos insights assim, então lembro muito do “First Things First” do Stephen Covey, que é um livro que marcou muito minha vida assim, “Primeiras coisas em primeiro lugar” que falava muito sobre princípios que eu fiz muitas reflexões sobre ele
Henrique de Moraes – Como é que é o nome?
Flavio Tavares – First Things First
Henrique de Moraes – E aí assim tem muitos cara, livros de gestão que me deram insights, falei do Simon Sinek aqui que a palestra do cara já era o livro então li o livro e parece que já tinha visto tudo. Tem uma galera que também enche linguiça no livro e num resumo de 10 páginas já parece o livro inteiro, mas como o livro tem que ter 200 páginas o cara cria histórias e fica escrevendo um monte de coisa, porque a tese já tava ali né mas esse livro Princípios, esqueci o nome do autor agora, vou pesquisar aqui
Henrique de Moraes – Ray Dalio
Flavio Tavares – Ray Dalio, um livro também que eu curti muito, e livros que não tiveram tanto peso mas que me ajudaram, gostei muito do “A Cabana”, que depois virou um filme, ele virou meio um mantra em casa assim, uma vez por ano eu e a minha esposa a gente assiste esse filme porque a gente foi muito impactado pelo livro e depois a gente viu o filme e é um livro que traz outro tipo de reflexão né, esse livro que eu não fico co-criando junto, você co-cria emoções né, é legal isso assim, é um livro que, e por fim “A Cabana” traz uma reflexão muito interessantes assim pra paternidade, pra essa visão do que é importante, é igual um filme do Adam Sandler, “Click”, aquele filme é um filme que eu falo “É o maior bobo” mas é um filme que eu me derreto, já assisti 50 vezes e fico “Se eu tivesse um controle”, aquelas cenas no final das escolhas que ele vai fazendo e depois ele perde a família, perde todo mundo eu falo “Jesus”, aquele filme eu acho muito legal.E tem um livro que se chama “O Evangelho Maltrapilho”, é um livro mais cristão mas numa pegada completamente desconectada assim da religião em si, é a história de um ex-alcoólatra, ele se chama “O Evangelho Maltrapilho”, do Brennan Manning, ele é um ex-padre, sacerdote que sempre foi alcoólatra, a vida inteira ela foi sacerdote e era alcoólatra e tal e um dia ele encara o alcoolismo. Esse livro me fez viver uma experiência muito especial assim, eu li esse livro e tive uma outra compreensão sobre meu papel, quem eu era, humildade, sobre uma série de valores assim e eu quis visitar uma vez o AA porque eu fiquei tão impressionado né cara os Alcoólicos Anônimos, até aquela oração deles no começo dos Alcoólico Anônimos é um negócio cara, um das orações mais profundas que tem, quem não conhece tem que conhecer aquela oração que os caras fazem na abertura. Eu tava fazendo uma viagem, tava impressionado ainda com essa coisa de cocriar emocionalmente com o livro, eu tava ali pensando como que minha vida podia se adequar ao que eu tinha sido impactado naquele livro, eu tava em Campo Grande no Mato Grosso numa viagem a trabalho e um dia à noite eu falei “Cara vou visitar o Alcoólicos Anônimos” e aí eu procurei e fui visitar, eu entrei lá e tive que mentir, pessoal que estiver ouvindo aí me perdoa, se alguém sabe que eu tava lá, falei que eu tinha um problema com bebida, não tinha nada mas cara foi uma experiência muito transformadora porque ali cara, tipo é uma galera que não tá lutando muito para cuidar da sua vaidade, para mostrar pro mundo que é, é sem máscara cara, ali é pessoa o que ela é na mais plenitude de sua vulnerabilidade, das suas falhas, seus defeitos, o que é mais impressionante e que fiquei até emocionado só de falar é o quanto que essas pessoas se ajudam sabe, o quanto que a pessoa, eu tava lá e uma pessoa tinha caído, tinha bebido e tal, não sei quanto tempo sem beber e ela conta que bebeu, naquela hora todo mundo abraça ela e fala “Você continua sendo amada”, é um negócio emocionante, eu saí dali transformado assim, eu falei “Porque o mundo não é assim?”, “Porque a gente não é mais vulnerável?”, “Porque a gente não tem a liberdade de dizer quem nós somos e a gente ter mais esses encontros vulneráveis né com outras pessoas, o Murilo Gun, é muito amigo né eu lembro que uma vez eu estava na casa dele e ele tava mostrando, há uns dois anos atrás, o Murilo agora está de guru né, um guru mais espiritual, o Murilo tá vivendo uma busca incansável pela sua nova espiritualidade e mais ou menos uns 2 anos atrás eu tava na casa dele e ele tinha feito uns negocinhos de conversas profundas, era tipo uns tabletezinhos que guarda copo e que tinham perguntas mais profundas e ele falava “Cara vem aqui em casa e a gente fala”, “Escolhe um aí, sorteia” e tinha perguntas do tipo “E aí, qual seu maior sonho?”, “Qual a maior dor que você já viveu até hoje?”, ele falou “Cara porque senão os encontros são todos do tipo “E seu time de futebol?”, e faz um churrasquinho”, cara e só na superfície, às vezes você tá com um amigo seu de um tempão e ninguém faz uma pergunta do tipo “Cara, teve alguma dor profunda que você sentiu?” e é engraçado isso porque os Estados Unidos trazem muito isso né, você vê Oprah nos Estados Unidos, Oprah, um programa lá pros Estados Unidos sei lá tipo o programa da RedeTV lá da Luciana Gimenez, óbvio que com suas devidas proporções mas lá os caras falam assim “Então eu quase morri e eu fiz uma reflexão sobre quem eu era no mundo”, tudo é muito profundo, sempre tem uma discussão a mais assim e a gente fica muito né, então fechando aí já fazendo quase um podcast dando uma resposta pra você, esse livro “O Evangelho Maltrapilho” eu indico muito para fazer uma reflexão maior assim sobre o que de fato importa assim sabe na nossa história. E tem aí agora também a Brené Brown também cara, tô impactado com a Brené Brown, impactado, “Coragem para Liderar”, tem uma história muito profunda, esse papo da vulnerabilidade, eu sou muito amigo do Renan Hannouche e Dante Freitas, a gente fala sobre vulnerabilidade e amor, às vezes a gente marca um papo assim a cada 15 dias, 20 dias e a gente fica uma hora e meia falando só sobre isso, vulnerabilidade e amor, tipo “Vamos falar sobre isso?” e a gente fica e é muito legal porque a gente se conecta e a gente fica falando “Cara, a gente precisa de mais amigos assim né, ter mais essa liberdade pra ter essas conversas mais vulneráveis.”
Henrique de Moraes – Sim totalmente, e as mais profundas também, acho que é muito importante. Assim, por sorte eu acho que eu tenho amigos que gostam disso então toda vez que a gente se encontra a gente acaba indo para lugares muito loucos assim de, desse tipo de pergunta mesmo, de tentar questionar as coisa mais óbvias assim, essa coisa do piloto automático que a gente tava falando e meus amigos são completamente diferentes então isso ajuda bastante, eu tenho um que anda descalço na rua e tipo que não liga para nada, não se importa com dinheiro, tem um que trabalha, é executivo numa mega empresa, tem eu que sou empreendedor e me fodo todo dia então assim, cada um está numa vibe completamente diferente então a gente acaba trocando muito e se ajudando muito né, trazendo perspectivas diferentes também né para tipo, pro executivo não idealizar a vida achando que a vida do cara que não liga para dinheiro é a mais legal, porque isso acontece né tipo “Ah porque você, eu tinha que ser músico mesmo, tinha que fazer isso, tinha que curtir a vida que nem você” mas falo “Cara você ia de repente de vez em quando atrasar a conta de luz, você está disposto?” sabe, tipo “Então não né”, ter esses perspectivas diferentes assim acho que é interessante a gente ficar discutindo isso e se aprofundar nisso é bem legal. Cara última pergunta aqui, se você pudesse falar com o seu eu de 10, 15 anos atrás tem alguma área, alguma esfera da sua vida que você falaria “Flavio, mais calma nisso aqui”?, calma, a perguntar é qual seria a área que você pediria para você ter mais calma, mais paciência ou mais sabedoria, talvez?
Flavio Tavares – É engraçado o tema desse podcast porque eu sou visto como um cara calmo né, todo mundo que me conhece fala “Você é um cara calmo, o jeito que você fala” mas ao mesmo tempo eu sou muito acelerado, muito acelerado e é engraçado essa pergunta porque é a resposta que eu falei pro meu filho agora, esse final de semana a gente estava falando sobre com os amigos e eu falei isso para ele, “Cara se eu pudesse voltar a 20 anos atrás”, não é que eu mudaria minha vida por causa de grana e tal, fechar com uma história vai, eu adoro contar história, há 5 anos atrás tava visitando um empresa que queria que eu palestrasse sobre mobilidade, não sei se você já deve ter ouvido essa palestra nas pesquisas que você fez. E aí eu tava numa empresa gigante em São Paulo, tava com o presidente e mais 6 diretores na sala e eles “Cara você tem que falar sobre mobilidade, um evento gigante que eles iam fazer e os caras queriam que eu fosse um dos palestrantes principais e tal. E eu lisonjeado tava lá ouvindo os caras e eles me pautando “Não porque a gente quer que você fale sobre isso, sobre carro autônomo, sobre não sei o que, sobre o robô e tal” e eles levaram um monte de documento, eles queriam minha opinião sobre o evento e queriam pautar minha palestra. E eu o tempo inteiro falava “Cara não vou”, não entendiam o que eu tava querendo dizer ali e ele insistiu, o presidente estava incomodado assim porque ele falou “Cara que pessoas assim, eu quero que você fale sobre o transporte do futuro e tal” e aí nisso entra uma senhora para servir café, a gente tava no meio da reunião e ela entra com a bandeja cheia de xícara e tal e para um pouco a reunião ali porque ela fazendo barulho, servindo a xícara e eu aproveitei aquele momento e começo a conversar com ela, pergunto “Como é seu nome?” e ela “Dona Maria”, “Ô Dona Maria prazer, meu nome é Flavio. Dona Maria me responde uma pergunta, como que é a rotina da senhora casa-trabalho, trabalho-casa e tal, quanto tempo demora saindo de casa para chegar aqui e ir embora?”, “Ah meu filho é muito puxado, eu demoro duas horas para chegar e duas horas para ir embora”, eu falei “Nossa dona Maria, 4 horas a senhora gasta se deslocando casa/trabalho, trabalho/casa?” e ela “Sim filho, 4 horas” e eu falei “Dona Maria, como é a rotina? Que horas a senhora acorda?” aí ela “Acordo 5 horas da manhã, preparo o café dos meninos, 6 horas tenho que sair, saio 6 horas da tarde e chego 8 horas da noite, preparo a janta, o almoço do dia seguinte, fico um pouco com os meninos e vou descansar”, eu fale “Dona Maria deixa eu fazer uma pergunta para a senhora que eu não quero que você se sinta constrangida para responder”, aí perguntei quanto tempo ela trabalhava aqui e ela “35 anos”, “35 anos que trabalhava na empresa, prestes a se aposentar”, falei “Dona Maria nesses 35 anos que a senhora trabalha aqui, alguém dessa sala ou de qualquer lugar dessa empresa se preocupou com o tempo que a senhora gastava se deslocando casa-trabalho ou trabalho-casa?”, eu tive que perguntar três vezes porque ela não respondia, na terceira vez o presidente da empresa bateu na mesa porque ele queria ouvir a resposta, fazendo “Fala Dona Maria”, aí a Dona Maria só balançou a cabeça negativamente, e aí nessa hora eu fui e dei um abraço apertado na Dona Maria, Dona Maria saiu e eu volto para aquela sala e falo pra eles “Deixa eu falar um negócio pra vocês, pra mim não há legitimidade nenhuma em vocês fazerem evento de mobilidade enquanto vocês não aprenderem a cuidar da Dona Maria, eu não tenho interesse nenhum em falar sobre tema nenhum que vocês tão dizendo aqui enquanto vocês não puderem olhar para Dona Maria e cuidarem da Dona Maria, então é o conselho que eu dou pra vocês, cancelem o evento de vocês, aprendam a cuidar da Dona Maria e depois vocês vão falar por algo que vocês fazem aqui na companhia porque por enquanto a Dona Maria tá há 35 anos passando 4 horas se deslocando casa/trabalho, trabalho/casa e vocês não tiveram nunca nem a dignidade pra perguntar para ela qual era o tempo que ela gastava se deslocando. É óbvio, terminou a reunião né meio tensa, um diretor falou “Te acompanho até a saída”, peguei minha mochilinha, minha companheira que levo pra todo lugar que eu vou, peguei a mochilinha e tô indo. E aí era longe para caramba, uma empresa grande, até chegar na saída eu chamando um táxi ali pra esperar, um silêncio, esse diretor não falava nada, aí chega na porta, na saída assim ele olha para mim e fala “Posso te dar um abraço?”, aí ele vem me dá um abraço e fala no meu ouvido “Eu também sou a dona Maria” e cara, Dona Maria virou um mantra assim tipo, eu queria escrever um artigo “Somos todos Dona Maria”, lembro que eu fui fazer uma palestra na Ambev um dia e eu disse que para mim Dona Maria é muito mais importante que Jorge Paulo Lemann, do que muita gente, e porque que eu tô contando essa história? Porque essa pergunta que você me fez, eu acho que por mais romântico que pareça assim, eu acho que eu queria ter prestado mais atenção nas duas Marias ao longo da minha história, eu queria ter muito mais o seu João, Seu Joaquim, eu queria ter valorizado mais as histórias de pessoas que realmente me ensinam muito mais ao longo da minha caminhada do que esses gurus, esses caras que escreveram aí, os bilionários da vida assim. Eu queria ter sido mais jovem, um cara que tivesse prestado mais atenção nas Donas Marias, acho que isso teria mudado muita coisa para mim, não só porque eu acho que seria importante pras Donas Marias e seu João, mas eu acho que teria causado em mim talvez uma sensibilidade ao aprendizado que teria me feito acertar mais coisas assim, que teria me feito escolher melhor os meus caminhos, que teria me feito ter uma percepção maior assim sobre meu papel no mundo, sobre o papel dessas pessoas. Tem um projeto nosso que se chama “Invisíveis extraordinários” assim que eu sou louco para fazer há muito tempo assim, de contar a história desses invisíveis extraordinários. E aí para fechar, 6 meses depois eu volto nessa mesma empresa por uma outra razão, patrocínio de outro projeto que a gente tava envolvido, tô lá sentado na sala de espera e quem passa? Dona Maria, chamo Dona Maria e Dona Maria senta do meu lado e a gente em 10 minutos de conversa ela me conta que era semianalfabeta, tinha vindo do Nordeste sem nada, só sabe escrever seu próprio nome, mas Dona Maria começa a falar dos filhos dela e Dona Maria não reclama de absolutamente nada. Dona Maria fala de um filho que se formou em Direito, outro que tinha entrado em arquitetura, Dona Maria começar a contar para mim o orgulho que ela tem dos meninos serem voluntários, trabalham em projetos sociais, de dignidade, dos valores e enquanto Dona Maria fala eu começo a ficar com meu olho vermelho e começo a chorar porque tudo que eu quero ser para os meus filhos é o que a Dona Maria foi, Dona Maria abriu mão de exatamente tudo o que ela tinha, tudo que ela tinha, Dona Maria nunca ligou por ficar 4 horas, eu liguei por ela, porque ela gastava se deslocando, Dona Maria na verdade ela tinha orgulho pelos filhos que ela formou e pelos filhos que ela gerou no mundo. Então nunca vai ter um livro escrito sobre a Dona Maria, nunca vai ter um filme sobre a Dona Maria, Dona Maria nunca vai ser pauta de nada a não ser falando da Dona Maria, mas a Dona Maria pode ter gerado dois filhos pro mundo que podem fazer muita diferença né na história, não sei, quem sabe né e quantas Donas Marias a gente não teve ao longo da nossa história né, que acreditou em nós quando nem nós mesmos acreditávamos né, quantas pessoas simples e humildes que não apostaram em nós né, quantas pessoas que não olharam a gente com atenção? Então eu acho que eu teria, respondendo e fechando essa pergunta, eu teria olhado mais as Donas Marias.
Henrique de Moraes – Boa, acho que é um ótimo lugar pra gente fechar, eu acho que faz total sentido inclusive porque se você parar pra pensar naquilo que a gente falou lá no início né que ser bem sucedido é se orgulhar da sua própria história, acho que a Dona Maria e muitas outras pessoas como ela talvez se tivessem escolhido ganhar mais dinheiro né não teriam conseguido criar os dois filhos da maneira que ela se orgulha tanto né
Flavio Tavares – Às vezes muita gente tem que abrir mão de algumas coisas em prol de outros né cara e é bonito isso né
Henrique de Moraes – Exatamente, cada escolha uma renúncia né já diz o clichê mas muitos clichês acabam sendo verdade né então acho que faz total sentido e muito bonito isso inclusive de, a sua reflexão porque é isso, acho que a gente tá vivendo um momento até no mundo da publicidade em que as marcas estão perdidas porque elas tiveram o poder comprar a mídia ali durante muitos anos né e elas colocavam dinheiro para ter suas mensagens espalhadas e agora no momento em que creators, a internet, tudo isso surgiu e mostrou que elas estão perdendo o poder pra pessoas que estão surgindo do nada e que nunca existiram e elas investindo sei lá em mídia já há 100 anos, 50 anos, 30 anos que seja e perdendo força para essas pessoas, o que fica muito claro é que assim, esse discurso, essa postura top down onde um monte de gente numa salinha decide o que vai ser a próxima coisa, próxima mudança cultural, já não funciona mais tão bem né e vai a cada dia funcionar menos, então você ouvir as pessoas e conversar com as pessoas e entender o que tá acontecendo, entender de fato os problemas delas e tentar resolver problemas de verdade e não ficar achando que você tem a solução para tudo ali então conversar com pessoas pode ser inclusive a solução e se você acha que todo mundo que conversar com os donas Marias e seus Joões como você falou do mundo aí, cara tem tanta coisa para aprender, tanto história boa, tanta história de sucessos inclusive sabe tipo assim, que pode te ajudar bastante, ajudar todo mundo e me ajudar também, eu tenho aqui meu mea culpa porque eu também pratico pouco isso mas toda vez que eu faço de fato uma descoberta ali de muito aprendizado, então faz total sentido cara. Obrigado pela sua participação, obrigado por ter disponibilizado seu tempo para isso aqui inclusive, generosidade aí no seu tempo que eu sei que é escasso e cara foi um prazerzaço, aprendi bastante, obrigadão
Flavio Tavares – O prazer foi meu Henrique, obrigado você, obrigado todo mundo aí que gastou vida né ouvindo esse podcast, todo mundo que ficou até o final, agradecer demais aí a participação de todos e tô sempre à disposição, vamos ver se a gente faz mais coisas juntos, tá?
Henrique de Moraes – Fechado