calma! #1 com Saulo von Seehausen
Saulo von Seehausen é cantor e compositor e já passou por diversas bandas, incluindo a Hover, que dividiu palco com alguns dos maiores nomes do rock no Brasil. hoje ele toca seu projeto solo, chamado Saudade, que eu super recomendo que você ouça assim que acabar essa entrevista! você pode encontrar seu trabalho no Spotify, Deezer, Apple Music, Youtube e muito mais. e nas redes sociais, siga ele no Instagram. o projeto tem músicas em parceria com diversos outros compositores super talentosos, incluindo Gustavo Bertoni, da banda Scalene.
além disso, Saulo trabalha atualmente como gerente de Synch & Licensing na gravadora BMG – e ele explica o que significam esses termos ao longo do episódio.
no bate-papo a gente falou sobre música (é claro), processos criativos, sobre suas experiências passando por momentos difíceis e muito, muito mais. eu adorei bater esse papo com o Saulo! ele é um cara super criativo, com um olhar aguçado que captura as sutilezas do dia a dia e transporta direto para suas músicas.
LIVROS CITADOS
- Sapiens: Uma breve história da humanidade – Yuval Harari
- Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã – Yuval Harari
PESSOAS CITADAS
- Paul McCartney
- John Lennon
- Jules Lennon
- Heitor Villa-Lobos
- Vitor Kley
- Gabriela Pugliesi
- Rique Azevedo
- Ivete Sangalo
- Lucas Silveira
- Kanye West
- Rick Rubin
- Avril Lavigne
- Drake
- Steve Jobs
- Helado Negro (Roberto Carlos Lange)
- Jorge Drexler
- Devendra Banhart
- Lorena Chaves
- Quincy Jones
- Frank Sinatra
- Snarky Puppy
- Jacob Collier
- Rashida Jones
- Carl Sagan
- Yuval Harari
- Renata Lo Prete
- Beethoven
- Jéf (Jéferson de Souza)
- Felipe Vassão
- Atila Iamarino
- Tim Bernardes
- Barack Obama
FRASES E CITAÇÕES
- Você tem que ser o dono da régua que mede seu próprio sucesso – citado por Henrique
- Create, don’t hate – citada por Saulo
- A ressaca nada mais é que quando você tá bêbado, você tá pegando emprestada a alegria do dia seguinte – citado por Saulo
- Impaciência com ações, e paciência com resultados – citado por Henrique
- “Você só pode conectar os pontos olhando pra trás, nunca pra frente” – Steve Jobs
- “Dada a vastidão do espaço e na imensidão do tempo, é uma alegria poder compartilhar um planeta e uma época com você” – Carl Sagan para sua esposa Annie
se você curtir o podcast vai lá no Apple Podcasts / Spotify e deixa uma avaliação, pleaaaase? leva menos de 60 segundos e realmente faz a diferença na hora trazer convidados mais difíceis.
Henrique de Moraes – Fala Saulo, bem-vindo ao Calma!, queria já começar sabendo, perguntando, como é que tão as coisas aí, como é que tá sendo a quarentena para você aí cara?
Saulo von Seehausen – É cara, agora deu uma acalmada assim, primeira semaninha foi meio pesado, os primeiros três dias principalmente. Acho que rola até uma adaptação sei lá, do corpo mesmo, de gastar menos energia que o normal e acho que essa energia acumulada, que fica assim gera uma ansiedade, uma angústia e fora isso esse momento de incerteza né cara, de preocupação com quem tá em situações piores e enfim, todas essas coisas deixam a gente bem impactado com tudo isso. Mas final de semana já foi mais tranquilo, hoje foi mais tranquilo, eu acho que começando uma adaptação já.
Henrique de Moraes – Legal. E como é que você tá gastando essa energia acumulada cara? Isso é difícil, né? Pra não gastar comendo?
Saulo von Seehausen – Pô, exatamente cara, dá vontade. Eu normalmente nem tenho comida disponível o dia todo assim né, então foi uma coisa que para mim é ruim, hoje já comi uma porrada de coisa à tarde tipo amendoim, coisas assim que eu não comeria normalmente durante o dia na rotina. Mas cara, tô tentando fazer várias coisas assim, na verdade montei um esquema aqui em casa de duas estações de home office, uma de trabalho da BMG uma outra de gravação de músicas, instrumentos funcionando, e aí fico trocando durante o dia assim de 10 às 18 fico mais na BMG e fazendo as coisas que tem para fazer e à noite ou até de manhã antes de eu começar as coisas da BMG eu gravo, faço umas coisas, tinha muitas coisas que eu tinha começado e não tinha dado sequência que eu tô aproveitando para revisitar agora. E de exercício físico também cara, eu tô fazendo umas coisas em casa aqui com orientação online, essas paradas assim para também dar uma gastada na energia, senão você fica com insônia e dá uma pirada, né?
Henrique de Moraes – Verdade, tem que ser criativo agora, aproveitar tudo que a gente tem de ferramenta online aí, e aproveitar também que tá rolando muita promoção de aplicativo de exercício
Saulo von Seehausen – Exatamente cara, promoção de aplicativo, de livro, várias coisas assim que estão rolando, pacotes aí para ter mais conteúdo para consumir, ou coisas para ajudar de aplicativo, tipo yoga, meditação, coisas para ajudar aí na manutenção da nossa cabeça.
Henrique de Moraes – Verdade. É engraçado porque muita coisa que a gente poderia fazer no nosso dia a dia normal acaba que a gente vai postergando, né, vai preenchendo com compromissos e atividades com a galera né, encontros enfim. Isso tá sendo também, esse período tá sendo bom para gente conseguir colocar aquelas coisas em prática mesmo né, pegar tudo tava parado né, que a gente tem tempo livre e sozinho para colocar tudo para frente. Esse podcast está sendo um projeto nesse sentido também.
Saulo von Seehausen – Pois é cara, e tava falando isso com uma amiga hoje mais cedo, como a gente fica meio que trocando de urgências né, a gente está sempre se afogando de coisas urgentes que tem que fazer, e na verdade meio que inverte alguns valores do que que é urgente do que não é. E esse período aí tá sendo bom para mim para isso, refletir no modo de vida, quais são as urgências e prioridades e tudo mais né. É um privilégio também né cara, sei que tem muita gente que tá nesse momento cara fudido, correndo atrás de, sei lá, manter a sobrevivência financeira da família e o caralho, então tenho total consciência desse privilégio que é poder usar esse tempo também para reflexão e rever certos modos de vida assim, mas tenho feito isso, aproveitado para isso também.
Henrique de Moraes – Boa. E fora que tem gente que está trabalhando, gente que tá na rua, não tem escolha, isso que eu acho que é mais difícil também.
Saulo von Seehausen – É, exatamente.
Henrique de Moraes – Enfim. Cara, você falou que tá aproveitando esse tempo para organizar as coisas e projetos de composições essas coisas, eu queria entender como é que é a sua forma de compor, como é que você costuma criar, se você tem algum processo que você segue ou se é muito intuitivo, como é que funciona isso cara, para você?
Saulo von Seehausen – Cara, eu tenho sei lá, duas maneiras assim, tem um livro que fala sobre isso assim, que fala de dois métodos de composição assim, que é tipo o do surfista que tá sempre na água ali esperando vir uma onda, e o cara que fica pescando né, acho que na verdade, esqueci, não sei se é o mesmo, esqueci agora, mas tipo, ou você tá, tipo, você usa aquela inspiração que vem e de repente é esse o da onda assim, surfa aquela onda até onde ela vai, ou é uma coisa que você tá sempre ali alimentando né, tipo jogando e pegando pequenas coisas assim, então tipo eu tento fazer as duas coisas, tô sempre fazendo pequenos registros assim, ideias curtas, seja de frase mesmo só a letra, ou cantarolar uma melodia diferente, ou pensar em uma batida, sei lá. Eu uso o Evernote, é um aplicativo que você pode fazer blocos de notas e áudio, e separar no mesmo, então é lotado dessas pequenas ideias, volta e meia eu dou uma organizadona assim, tipo escuto tudo, salvo as que acho que tem mais potencial tal e vou fazendo. Mas às vezes acontece de cara, pegar uma parada que surge assim, 15 minutos sai uma música mesmo, inteira e tal. Então não tem muito processo assim, acho que o único processo para mim é estar constantemente tentando assim sabe, constantemente pegando o violão e fazendo coisas despretensiosamente, ou no piano, que são os instrumentos que componho mais, e de repente alguma coisa ali gatilha alguma coisa de inspiração, seja uma mudança de acordes ou um jeito de tocar, mudar uns acordes que eu já tocava antes, não sei, meio que inspira para seguir alguma coisa.
Henrique de Moraes – Você lembra o nome do livro?
Saulo von Seehausen – Putz, não cara, eu posso procurar lembrar e pesquisar e te falar para você incluir depois, não me lembro agora.
Henrique de Moraes – Não, tranquilo. Quando você tá compondo uma música, você penas na música como um todo, ou você vai por partes, como é que funciona isso? Porque eu sei que tem gente que quando compõem já tem tudo, todo o arranjo na cabeça , já sabe o que o baixista vai fazer, o que o baterista, ou qualquer outro instrumento né, e tem gente que não, tem gente que compõe mais a parte da melodia e usa alguns instrumentos de harmonia e depois junta com a galera para finalizar. Como é que funciona esse processo?
Saulo von Seehausen – Como além de compor eu produtor também, normalmente já vai tudo meio junto assim, sacou? Vou construindo uma coisa meio toda pensada já assim e isso era até uma dificuldade para mim de estar numa banda né, que demanda coisas mais coletivas e não vou falar democráticos, mas tipo mais ou menos isso né, vários vieses de ideia assim, porque normalmente quando eu pensava nas coisas eu já pensava muito encaminhado, tipo, as deixas assim sabe, de batera, enfim, e aí acabava que na banda, na Hover, isso às vezes não era legal assim, faz com que as pessoas que estão tocando com você não fiquem tão motivadas de participar porque às vezes elas não sentem que é uma coisa delas e tal, então é uma dificuldade mas sempre foi meio que meu jeito assim de compor, já pensava mas no todo. Hoje em dia mudou um pouco assim, até porque eu fui para um lado de composição mais de canção, vindo de uma coisa mais crua, menos pensado em como ela vai ser executada, e mais pensada na existência dela mais pura mesmo assim sabe, então se mudou um pouco assim, mas normalmente o meu jeito de compor ele é muito, construo tudo ao mesmo tempo assim né, não é uma coisa de tipo eu faço uma melodia e depois encaixo a letra ou eu faço uma letra aí vou tentar fazer melodia, normalmente vou fazendo tudo meio junto, achando ali aquela história, aquela melodia com a letra já, com tudo mais ou menos assim, e daí eu vou lapidando, mas normalmente já vai meio que tudo sendo colocado de pé ao mesmo tempo, é um processo meio caótico.
Henrique de Moraes – Eu perguntei isso exatamente porque eu também já toquei né, e uma das coisas que eu sofria com o vocalista da minha banda e compositor, que é nosso amigo em comum era isso, porque ele também vinha já com tudo pronto assim e ele queria que eu executasse né, o que ele tinha feito, o que ele tinha criado, e isso me dava uma frustração porque eu queria colocar a minha parte criativa também, queria contribuir criativamente né, e eu sempre tive a música como uma, assim, o que me motivava era isso, era a parte criativa, e eu acabei trocando isso quando eu fui trabalhar com comunicação, acho que até por isso eu parei de tocar, porque eu fui substituindo toda a parte criativa que eu gostava quando eu tinha a banda, quando era músico, pela parte criativa hoje sendo dono de agência. Então, o que me motiva é a criatividade no final das contas, eu percebi isso né, mas eu sofria muito com isso então eu entendo o lado deles mas também entendo o seu porque imagino como é que também deve ser meio frustrante você de repente criar, e pensar numa coisa assim, já tem uma ideia na cabeça, e o pessoal vai e puxa uma coisa que não tem nada a ver com o que você pensou
Saulo von Seehausen – É assim, uma parada que tem dois lados né, às vezes porra, é do caralho, às vezes super funciona uma ideia que a outra pessoa tem e melhora a parada, e leva para um lado que você não levaria e é maneiro, mas às vezes é mega frustrante para os dois né, que não enxerga aquilo daquela maneira e você enxerga, enfim, é uma é uma parada difícil de alinhar, ter banda é difícil e essa é uma das coisas que pesam assim né, no lance do compor e ter um processo artístico no coletivo, e no meu caso eu sempre compunha muito sozinho, então era tipo levar para os caras mil idéias, então às vezes eu tinha uma produtividade maior assim do que dentro do coletivo, quando tinha que botar aquilo para fora demorava pra caramba então às vezes eu me sentia sempre atrás, dois anos atrás do que daria para estar se estivessem saindo as coisas mas individualmente assim, entende? Às vezes o lance de estar no coletivo era uma demora, mas era do caralho, tinham muitos aspectos incríveis, isso que eu falei né, tipo às vezes o pensamento do outro e a perspectiva do outro porra, enriquece pra caramba o que você criou, o que você imaginou, mas às vezes é meio que lidar com essas duas possibilidades da melhor maneira possível né.
Henrique de Moraes – É, é uma escolha né, e uma escolha é uma renúncia, no final das contas, aquele velho ditado aí, e quando você (eu tinha uma pergunta que eu acho que me fugiu então vou pular ela e depois eu volto se lembrar), como é que, você falou aí sobre seus métodos que você tem né na hora de compor, você anota no Evernote, vai cantarolando melodias, cada uma sai de um jeito né, cada parte puxa outra né, mas se você fosse dar uma dica por exemplo pra alguém que tá começando a compor assim, você teria alguma dica que pudesse ajudar? Essa mesmo de anotar, por exemplo, é legal né, mas você tem mais dicas?
Saulo von Seehausen – Cara, eu acho que é manter a antena criativa sempre ligada assim, sacou? Não é “Ah não, vou sentar para compor”, acho que isso funciona sim, você se dispor a sentar para compor mas eu acho que é meio que manter sempre ligado essa antena criativa de tipo canalizar ideias que tão por aí voando, numa música. Então é, isso às vezes você tá na fila do banco e aí a batucada que alguém tá fazendo ali te dá uma ideia, e aí você de uma maneira vai registrar aquilo para seguir fazendo depois, falando em batucada começou aqui o panelaço. Mas quando eu comecei a trabalhar na vida assim né, tipo jovenzinho, eu não tinha esses recursos assim, não tinha celular na época, tipo eu tinha uns 15 anos, ainda tinha celular, quem tinha era assim porra, o pai do cara rico do colégio tinha um celular que era aquele tijolões assim, maior do que um telefone fixo sabe, e muito menos existia uma ferramenta dessa de gravador de áudio assim né, então cara eu comecei a trabalhar numa papelaria, e aí uma das funções que eu tinha lá era tirar xerox, e a máquina de xerox ela era muito louca, ela fazia uns barulhos muito doidos assim, e eu sempre ficava cantarolando em cima, ela fazia meio que uma batida doida assim, aí eu ficava anotando meio que partituras pequenininhas assim sabe, de uma ideia de melodia ou de um riff de guitarra, então isso é uma parada que eu faço já há muito tempo assim, de registrar pequenas ideias para depois ela se desenvolverem. Às vezes elas nem se desenvolvem mas, depois de um tempão numa música você lembra daquilo ali e encaixa, então acho que minha dica seria estar sempre meio que conectado criativamente né, funcionando criativamente e registrar essas coisas para não perder, e estar sempre trabalhando na verdade, de uma certa forma.
Henrique de Moraes – Ah legal, dica boa mesmo, muita gente que eu vejo e que trabalha com criatividade fala muito sobre isso, sobre observar tudo e anotar e trazer essas coisas né, para criação
Saulo von Seehausen – Tem até uma história que o Paul McCartney conta assim, que é maneira, que ele tava indo visitar o John na casa dele e quando ele tocou a campainha, abriu a porta o Jules, que é o filho do John Lennon né, e aí o Paul fez assim “Hey, Jude”(cantando), e aí ele falou “Caraca, legal isso”, aí virou Hey Jude, sacou? A música.
Henrique de Moraes – Só isso né, só virou Hey Jude.
Saulo von Seehausen – Essas pequenas jogadas assim que você vai “Ah, isso é legal”, e Paul McCartney muito menos tinha uma parada para lembrar disso, anotar ou gravar ali rapidão, mas acho que é meio isso, sempre constantemente meio que trabalhando de certa forma ali no background da tua cabeça tá funcionando o aplicativo de compor, sabe?
Henrique de Moraes – Legal. Eu lembrei a pergunta que eu ia fazer antes. Quando você, eu não sei se você sempre teve um projeto paralelo ou se você só montou agora assim, eu imagino que você sempre compôs e guardava algumas músicas para uma outra hora né, porque nem tudo que você compõe normalmente encaixa com a banda, inclusive, mas não sei se você sempre teve algum projeto mas agora que você tem o seu projeto solo né, você acha que o processo é de fato mais rápido ou também é só uma coisa que meio que engana a gente a gente pensa que vai ser muito mais fácil quando tiver com o banda, mas na verdade a gente passa por um processo também muito complexo e de autodestruição e de se auto flagelar para sair música no final?
Saulo von Seehausen – Cara, é mais fácil em vários aspectos e mais rápido em vários aspectos, e mais difícil e mais lento em vários outros assim, tipo, na verdade a Hover ela começou como um projeto paralelo assim tipo, lá atrás eu tinha uma banda que chamava Spritz, que era uma banda com amigos, uma das primeiras bandas que eu tive assim, mais levando à sério, ensaiando bastante e fazendo música própria e tal, só que eu comecei a fazer umas músicas em inglês, e nessa banda Spritz eu era guitarrista só, não era vocalista, tinha um vocalista, aí eu comecei a fazer umas músicas em inglês, que era o que eu gostava de cantar e tal, e aí na época eu falei que pô precisava lançar de alguma forma né, tipo registrar que essas músicas estão rolando e tal, e aí eu não queria criar outra banda, eu não queria também lançar lá “Saulo”, sabe, uma parada assim, aí eu falei “Pô, eu vou inventar um nome”, e aí eu inventei um nome, tipo um pseudônimo, que era Maurício Lago. E aí eu mostrava para galera na cara de pau assim tipo “Pô, conhece esse cara aqui?”, aí manda assim, e era meio que para até ter uma opinião honesta das pessoas tipo, ninguém era “Ah beleza, sua banda”, “sua música”, e a galera começou a curtir, e aí começou a ter realmente um retorno, na época era Myspace, uma galera começou a curtir, na época era bem mais jovem, tinha mais esses encontros assim social, churrasco na casa de sei lá quem, e aí começou começava a tocar as músicas no churrasco e tal, até que virou uma banda, e aí uma hora não fazia o menor sentido mais a banda se chamar Mauricio Lago e a gente mudou para Hover e aí virou a Hover, mas começou meio que nessa pegada que depois virou o saudade, que era mais ou menos a mesma iniciativa que era tipo, eu queria o desafio de compor em português mas sem ter menor compromisso com estéticas ou fazer encaixar dentro da Hover, da proposta que já existia sabe, era tipo realmente uma parada de auto conhecimento artístico, descobrir uma identidade artística diferente e tal e foi aí que eu comecei com o saudade, totalmente desprendido de estética tal de expectativas e tal e acabou se tornando hoje em dia o projeto principal, a Hover existe assim, mas tipo, a gente faz coisas bem esporádico porque eu tô em São Paulo, o Leandro, baixista tá em Niterói, meu irmão tá no Rio, aí o batera e o guitarra tão em Petrópolis, então tipo ficou uma parada difícil de conciliar assim sabe, e a verdade é que toma muito tempo né cara, o saudade assim, como sou só eu colocando de pé as coisas né, então, a diferença principal é que ao invés de sócios eu tenho parceiros, e isso tem vantagens e desvantagens né, uma empresa que é só você, aí o investimento é só seu, a responsabilidade é só sua, mas ao mesmo tempo funciona no teu ritmo né, o negócio, aí era uma coisa que eu encontrava dificuldade de fazer nas outras bandas que eu tinha assim, ritmo e visão né, depois desse período todo do saudade de descobrir a estética, o caminho e a minha identidade artística, depois que isso passou eu comecei a ter muito claro assim o caminho, então “estar sozinho” na parada quando você tem o caminho definido é legal né, então os parceiros eles ajudam a manter o prumo das coisas e também trazer ideias criativas, mas a coisa não depende deles para funcionar, então eu sinto que estou no melhor dos mundos agora né, então para os parceiros né, tipo o Leandro que é baixista, e colaborador, a gente compõe juntos e tal, o Bruno, batera e o Renan, então para eles é legal porque eles tão fazendo parte de uma parada que tá rolando com responsabilidade quase exclusiva de só tocar, e ensaiar, tirar música, toda parte administrativa e de investimento mesmo é minha, e para mim é vantagem é essa, eu peço ideias e opiniões deles mas no final das contas a minha visão da parada meio que é a que norteia, tanto de velocidade quanto de conceito artístico e criativo. Então tá sendo legal cara, tá sendo um momento bom assim.
Henrique de Moraes – São diferentes tradeoffs né, não tem jeito, cada um tem sua vantagem e sua desvantagem, e cada um vai se encaixando né, encontrando seu caminho. E de onde veio o nome saudade?
Saulo von Seehausen – Cara são três coisas, são três, aquela coisa de institucional, são três pilares, são três explicações assim, a primeira de todas mesmo assim é que quando eu comecei o saudade, meu desafio era escrever em português, então eu achei muito maneiro usar uma palavra que não tem no inglês para começar tudo né, então era tipo começar deixando claro que era o extremo oposto assim né, do inglês, que é uma coisa que não existe no inglês mesmo, uma palavra assim, e além disso tem a parada que a proposta estética da parada é pegar a música brasileira antiga, raiz afetiva da música brasileira, da bossa nova, MPB, samba e indo até mais para trás, a música clássica, tipo que veio lá com Villa-Lobos e mais para trás ainda inspirada na música clássica francesa, isso foi tudo uma coisa que nessa minha descoberta, mergulho assim na música brasileira eu fui meio que indo para trás assim, e a minha vontade é usar essa memória afetiva de uma maneira 2020 né tipo, de uma maneira atual, repaginada, então é uma revisitada na nostalgia, na saudade daquele tempo que não volta mais, de qualquer forma, mas que pode voltar com uma cara nova e original, essa é a proposta da parada e achei que Saudade conta essa história e a terceira coisa é que tem o mesmo radical do meu nome né que é “Sau”, Saudade, Saulo, então também era meio que um jogo disso, assim. São essas três coisas.
Henrique de Moraes – Você pode ter inventado isso tudo, mas foi muito bom, a explicação foi boa hahaha
Saulo von Seehausen – Inventei com propriedade haha
Henrique de Moraes – Aproveitando o gancho, vamos falar do projeto, eu queria assim, eu ouvi muito, pelo menos as músicas disponíveis no Spotify, inclusive eu e minha esposa Gabi, a gente tá com as músicas na cabeça, a gente não para de cantar
Saulo von Seehausen – Que maneiro, irado
Henrique de Moraes – A gente já curtia antes, já tinha assistido seus shows, mas agora parei pra ouvir com mais calma
Saulo von Seehausen – Vocês foram no primeiro show né? Primeirão mesmo né
Henrique de Moraes – Fomos em Niterói e em São Paulo também, e a gente já curtia bastante, a Gabi vive falando, relembrando esses shows, e as letras são muito boas cara, eu fiquei muito preso à sensibilidade e percepção das coisas, muito nessa vibe que você falou de como você enxerga pequenos detalhes e vai colocando nas letras
Saulo von Seehausen – Pô, obrigado
Henrique de Moraes – Quem ainda não ouviu por favor, procure Saudade no Spotify, e em todas as plataformas, não sei mais aonde tá mas,
Saulo von Seehausen – É, tá em todas aí
Henrique de Moraes – Mas cara, uma delas ficou muito na minha cabeça assim, e especialmente por ilustrar muito, eu acho, situações atuais assim, eu vou ler aqui, acho que vai ser um momento meio estranho para você, sabe alguém recitando a sua letra
Saulo von Seehausen – É bom ver outra pessoa lendo
Henrique de Moraes – Deve ser meio esquisito, mas vamos lá, a letra é a seguinte:
“Seria mais fácil se não existisse a depressão
E o dia lá fora me atraísse como um ímã
Trocaria a insônia por sono, sonho ou diversão
O medo da perda eu curaria com umas fotos no parque
Uma volta na praia faria bem”
Aí vem um refrão né
“Eu não sei dizer
Isso de outro jeito”
Aí volta
“As cores e as formas
O cheiro e o sabor
Liberariam uma substância
Um banho no córtex faria bem”
Aí volta o refrão
“Eu não sei dizer
Isso de outro jeito”
Aí volta para música e, que é o break, na verdade, aí vem
“A verdade é que eu sei mais do que não me atrai
E o que me conforta é saber de novo, não sou só eu
Cara, tem tanta coisa nessa letra que me chamou atenção assim, pra começar, você fala “seria mais fácil se não existisse a depressão”, e aí depois você fala de coisas que as pessoas fazem né, tipo, “o medo da perda eu curaria com umas fotos no parque, uma volta na praia faria bem”, eu queria entender de onde surgiu isso, essa percepção, e me parece de certa forma, não sei se é uma crítica às pessoas que vivem uma vida superficial, que parece que só porque ela postou uma foto no parque a vida tá melhor, ou se de fato são coisas que você gostaria de ter quando tá passando por momentos mais difíceis sabe, se você gostaria de aproveitar isso como as outra pessoas? Me fala um pouquinho sobre essa letra.
Saulo von Seehausen – Então, vamos ver por onde começar. O banho no córtex, a parada é, quando a gente recebe um banho de serotonina no nosso cérebro, que dizem que é a substância da felicidade né, a substância química que faz a gente sentir prazer nas coisas, e pessoas que têm depressão, eu me enquadro nesse quadro, a minha depressão não é grave a ponto não ter este estímulo de serotonina, como têm pessoas que não tem mesmo, tem que tomar remédios pesadíssimos para regular essa substância né, a pessoal ela realmente fica num estado de não sentir nada né, quase assim, então o banho no córtex seria isso assim, e quando eu falo ali no início “seria mais fácil se não existisse a depressão” ,então quando eu digo isso é, se eu não tivesse isso que eu tenho, acho que todas essas coisas que eu cito depois disso, elas fariam bem, elas me fariam feliz assim né. Então na verdade quando eu compus isso era o oposto do que eu sentia, eu sentia que uma volta na praia, as fotos no parque, todas essas coisas elas não, elas passavam para mim sem fazer diferença assim, tipo “se o dia lá fora me atraísse como um ímã”, era essa coisa que eu senti, só que era o extremo oposto assim, e na verdade a crítica não é nem às pessoa fúteis que você falou né, as pessoas que acham que estão vivendo a vida, a crítica é mais à o que as pessoas dizem para quem tem depressão né, que é tipo “Ah cara, vai lá dar uma volta no parque, vai andar na praia, isso vai te fazer bem”
Henrique de Moraes – Como se a culpa fosse sua, né
Saulo von Seehausen – É, e não sei se você já esteve num estado depressivo, porque existe essa diferença também né, no estado depressivo, que é tipo um contexto marcado por um acontecimento e tal, existe realmente uma incapacidade do cérebro de produzir substâncias que fazem você sentir prazer, e sentir vontade de viver, e tudo mais, não vou me aprofundar tanto porque eu não sou também especialista, não quero falar nenhuma besteira aqui e instruir mal quem tá ouvindo, mas a minha é mais circunstancial assim né, tipo, tive momentos ao longo da vida, tô em um ainda assim, de tipo, eu vim morar em São Paulo tem dois anos, e desde que eu vim para cá eu tive uma desregulada assim, na cabeça, em relação à ansiedade e tal, que acaba levando a depressão também. Então essa letra é um pouco disso assim né, tipo o refrão na verdade fala isso né “eu não sei dizer de outra maneira”, que é a maneira, “eu não sei dizer de outro jeito” que é o seguinte, tipo “eu queria muito fazer isso tudo que eu tô falando, que seria bom, mas eu não consigo”, porque no início da música eu falei “seria mais fácil se não tivesse”, a depressão e a ansiedade né, unidas assim elas te colocam num estado de paralisia mesmo assim né, muitas vezes, então esse papo de “Pô, mas também só fica deitado”, o estar deitado não é a causa, é a consequência na verdade né. Então a letra é sobre isso, bem sobre esse esse momento assim que você queria muito estar sentindo a vontade e a força que você precisava para levantar para ir lá fora, para tirar foto no parque, para dar uma volta na praia, e a depressão aliada à ansiedade ela faz uma coisa, e eu me enquadro totalmente nisso que é, você entra numa espiral de pensamentos críticos assim né você pensa tipo “Não consigo fazer tal coisa porque tenho que emagrecer” ou “Ah, a minha voz é assim”, você começa meio que super analisar você e o que tá o teu redor, questionar se as pessoas que são suas amigas realmente te amam, sei lá, você entra numa loucura neurótica de achar que você não merece nada de bom que você tem, ou de que você não tem coisas melhores porque, e aí você fica meio que destrinchando esses motivos assim, é por isso que eu falo “A verdade é que eu sei mais do que não me atrai”, por que é isso, você foca tanto no que não te atrai, no que é o não, no que é negativo do que ao invés de “Pô, beleza, já sei que eu não gosto dessas coisas, mas eu vou buscar o que eu gosto, gosto disso e tal”, tenta mudar um pouco a perspectiva, e no final eu falo uma frase que eu falo numa outra música, que é “Botões”, que eu falo “O que me conforta é saber que não sou só”, por isso que eu falo “A verdade é que eu sei mais do que não me atrai e o que me conforta é de novo saber que não sou só eu”, tipo eu citei a outra música, que foi a primeira que eu lancei que é “Botões”. Então é toda essa narrativa assim, de uma pessoa que tá passando por uma coisa de depressão e ansiedade, mas que acha, encontra conforto em saber que não é só ela, que ela não tá sozinha e de que isso não é uma coisa exclusiva sua né, porque acho que quando você tem uma, um transtorno psicológico como depressão e ansiedade você muitas vezes se sente sozinho né, se sente meio alienígena, você sente meio “Cara, as pessoas não vão me entender”. Ainda mais quando você vê, tipo Instagram e tal, você vê todo mundo feliz, todo mundo aproveitando, vivendo, escutando “O Sol” do Vitor Kley, e você é o extremo oposto, você é o Loki do, como é o nome? Aquele filme? Me esqueci, o irmão do Thor, você é aquele cara naquele momento, o sol é seu inimigo nesse momento, enfim, essa sensação de solidão e achar que só você tá passando por isso, que ninguém vai te entender, então saber que tem outras pessoas nessa mesma condição e que vão ter empatia e tentar te ajudar, ou no mínimo compreender, te faz sentir mais pertencente, porque acho que a depressão e ansiedade fazem muito isso, tiram a gente do mundo real, e te faz ficar no mundo meio que das ideias, porque você vive extremamente conectado com as suas expectativas e dentro da sua cabeça assim né, então é uma parada meio que de desconexão com a realidade, e quando você vê que tem pessoas próximas passando por isso, se torna mais acho que real, assim.
Henrique de Moraes – Inclusive, é um dos objetivos de eu estar fazendo o podcast, porque eu observo muito é que muita gente passa por muitas situações e elas são muito parecidas e as pessoas sempre acham que só elas estão passando por aquele problema ou aquele tipo de dificuldade, então assim, a gente aqui, eu tô abordando vários assuntos, com empreendedores, músicos, enfim, gente de diversas áreas, para exatamente trazer esse contexto, de que você pode aprender com as dificuldades dos outros, ver o que que eles fizeram para superar, mas também não se sentir mal e não achar que só você que passa para essas coisas, na verdade.
Saulo von Seehausen – É, se não você se sente meio o esquisito né, da parada, e eu acho que é isso cara, na verdade, isso ajuda muito, eu tive muito problema a vida toda assim com essa parada de não me sentir pertence, isso pra mim é uma questão assim, por isso que acho que até falei em duas músicas, o que me conforta é saber que não sou só eu, e não é nem no sentido de “Ah não sou só eu que tô fudido”, é no sentido de “Cara, essa parada é real, são várias pessoas passando por isso, isso existe”. Então te dá uma força até para lutar contra, você ver a jornada das outras pessoas em relação aquilo, então também te dá forças e te dá ferramentas né, para se engrandecer perante essa condição.
Henrique de Moraes – E a internet, ela tem seu lado bom e seu lado ruim, como tudo na vida, mas acho que o lado bom é isso, você também encontrar pessoas que passam pelas mesmas coisas que você, você encontrar pessoas, inclusive, que gostam das mesmas coisas que você, então nesse sentido ela conecta muito né, você consegue encontrar uma tribo muito específica, eu gosto, sei lá, de jogar botão que é feito de um material específico, nem sei se as pessoas jogam botão ainda, mas você vai encontrar alguém falando sobre isso, você vai tipo poder comentar ou você pode criar seu próprio conteúdo e as pessoas que se conectarem vão seguir, então assim, essa é a parte boa.
Saulo von Seehausen – É, união das tribos assim mesmo, né
Henrique de Moraes – Exatamente, você não precisa mais ficar dependente da sua localização geográfica né, das pessoas ao seu redor, e antigamente você tinha que ficar muito dependente disso né, tinha que sei lá, jogar futebol na rua porque não tinha ninguém fazendo música, por exemplo
Saulo von Seehausen – Pô, e era uma parada horrível né, um país como o Brasil assim cara, quem não jogava futebol era o esquisitão, eu sempre gostei de futebol, inclusive no colégio essa era a coisa que me salvava assim, porque apesar de eu já ter coisa de ansiedade desde novinho assim, o futebol era meio que o porto seguro para mim assim tipo eu não sofria bullying por causa disso, porque eu jogava futebol bem, então era meio que, tava naquele seleto grupo dos atletas do colégio, a galera que jogava futebol assim, tinha um pouco isso. E eu vejo meu primo que é da mesma idade que eu que não jogava futebol, cara ele era o cara que, e aí entram vários outros níveis de discussão, mas tipo, ou ele era amigo das meninas, e ele era o gay, ou ele ficava sozinho ou tinha os amigos nerds né, que era a galera que não gostava de futebol, então essa época de colégio é bem louca, essas determinações assim de tribo né.
Henrique de Moraes – Verdade, eu queria saber como tá hoje em dia, mas acho que não mudou muita coisa, né cara
Saulo von Seehausen – Não faço ideia
Henrique de Moraes – Acho que piorou com a internet, na real, porque agora as pessoas podem fazer bullying sem olhar na sua cara, né
Saulo von Seehausen – É, isso é um aspecto bizarro, mas ao mesmo tempo eu acho que essas gerações mais novas, elas têm bem mais consciência das coisas assim, pelo menos, conversando com meus primos mais novos e filhos de amigos, amigos mais velhos que têm filhos de 10, 12, 15 anos, eu vejo que rola uma, os moleques e as meninas nascem já com uma, cara, um chip tipo um sistema operacional atualizado em relação ao nosso, sabe, de questões que para gente era super tabu, tipo isso, andar com menina era coisa de gay cara, não existia amizade entre meninos e meninas, a não ser com segundas intenções. E várias coisas de homofobia, de racismo, de coisas que eu vejo que eles já tem uma outra percepção.
Henrique de Moraes – Que bom, né? Essas coisas fazem muito a diferença. E deixa eu te perguntar, a gente falou sobre o lado bom de conectar, mas tem também o lado mais difícil, você até comentou né, de como você tá num momento como esse, e não só você e não só pessoas que estão passando por isso, acho que isso todo mundo sofre né, que é com você se comparar muito né, nas redes sociais especialmente, e por isso até que eu perguntei se isso era uma crítica ou alguma coisa nesse sentido, porque a gente tem que tomar esse cuidado também né, de não ficar o tempo inteiro olhando para o que acontece nas redes sociais e se comparando, eu sei porque eu já sofri muito com isso, especialmente no âmbito profissional, o LinkedIn ele é um, acho que é uma rede de pessoas que se deram bem na vida e estão fazendo coisas incríveis, por exemplo. Você entra lá e todo mundo só publica realizações, o que que fez, se eu tenho 700 pessoas no LinkedIn todo dia vai ter gente falando sobre uma realização, assim como no Instagram vai ter sempre gente viajando, alguém na praia, e aí você começa a desenvolver a doença do século, que é o “fear of missing out”, e como é que você lida com isso cara no dia a dia, eu tô nem falando em períodos específicos, mas como é que você lida no dia a dia, você tem alguma coisa que você faz, você criou algum mecanismo, pra isso não passar por cima de você, ou não, você deixa rolar?
Saulo von Seehausen – Cara eu acho assim, que a primeira coisa, e acho que esse período de quarentena tá servindo isso para gente assim em vários aspectos, de aprender a usar as ferramentas mesmo assim né, eu acho que o problema não é o Instagram em si, não é internet em si, é como a gente usa, e acho que a gente na verdade não sabe usar porque é muito recente mesmo né cara, então acho que todo mundo passa um pouco por esse lance de você seguir alguém que você admira e tal, e às vezes esse negócio ele extrapola a admiração e inspiração, e passa a ser uma parada de “Porra, por que que eu não tenho isso?”, você começa a comparar e se diminuir né, tipo achar que aquela pessoa tá vivendo aquilo ali e você não é porque ela tem determinada qualidade e você não, que ela é talentosa e você não, ou que ela, dependendo do que for, ela é bonita e você não, sei lá sabe, depende muito do viés assim, mas cara eu comecei a lidar, primeira coisa que eu acho que eu fiz assim foi tipo dar uma boa peneirada em o que eu sigo assim, quem eu sigo sabe, que tipo de conteúdo que eu tô tendo acesso assim, por exemplo esse negócio de Instagram, se você é uma mulher ansiosa vai ficar seguindo todas as modelos, Gabriela Pugliesi pra que, sacou? Pra você ficar ali todos os dias sendo lembrada das suas inseguranças, no meu caso com artistas, é porque são questões bem diferentes né, mas às vezes acontecia tipo eu ver um artista e tipo, você faz um post, você super se dedicou e ele tem 10 comentários, e aí o cara faz um post com nada e tem mil, aí você fala: “Caralho, porra”, às vezes você entra nessa dinâmica, mas aí, tem um amigo meu que, é um grande amigo assim, se tornou um grande amigo apesar da gente não ser amigo a tantos anos assim, a gente se conhece há uns dois anos assim, que é o Rick Azevedo, um cara que a gente tá fazendo juntos a direção artística do meu disco, um cara que é meu mentor assim, hoje em dia, e ele falou um negócio que mudou muito a minha percepção em relação à isso, rede social, carreira no geral, ele falou “Cara, carreira é igual uma maratona, você já viu o cara da maratona olhando para frente pra ver se tem alguém correndo na frente dele?” Irmão, ele treinou o tempo dele, ele vai fazer no tempo dele, no ritmo dele, se chegar no final e ele precisar correr um pouquinho mais, se ele tiver gás ele vai correr, mas ele não tá olhando para o lado, não tá vendo “Pô, fulano tá aqui”, sabe, tipo ele tá fazendo o dele. Então é isso bicho, faz o teu, se você tiver pessoas que te inspirem e que você possa aprender delas e melhorar o que você faz, é do caralho, se você entrar na dinâmica de inveja, às vezes nem é inveja mas é tipo de duvidar do seu potencial, do seu trabalho, de você, por causa do trabalho do outro, aí cara para de seguir, faz um detox digital, sei lá, porque aí é muito destrutivo assim sabe, e a gente que é músico tem um pouco isso assim né tipo, sei lá você vai no show e você vê um cara tocando para caralho bateria e você fala “Caralho bicho, não vou ser igual esse cara nunca”, e não pode ser assim, a gente tem que aprender a admirar as coisas né, sem entrar num estado de cobiça do outro, o cara que tá ali, ele teve outros meios e outros contextos de vida que empurraram ele, outras prioridades, enfim, uma outra história, e você tem a sua, com as suas qualidades, e acho que o grande lance é você jogar com isso, como que você tem, aprendendo, melhorando, se aprimorando, mas sem pirar muito no que os outros estão fazendo sabe, sei lá, eu tento viver um pouco mais assim hoje em dia.
Henrique de Moraes – É, e tem um lado bom também né, que quando, se você conseguir encarar da maneira correta, isso pode te motivar, e se está te motivando, maravilha, agora foi o que você falou, se tá te causando, tá deixando pra baixo, aí tem que fazer um detox mesmo, até porque acho que uma coisa que falta muito nas redes sociais, e que as pessoas não percebem é contexto, né? Você não sabe exatamente o que a pessoa passou, quais foram os passos que ela deu para chegar até ali, quais foram as dificuldades, a gente tende a enxergar só a parte do sucesso, e aí tem essas brincadeiras que as pessoas fazem de tipo “Ah, o sucesso do dia para noite”, que na verdade a pessoa sei lá, tentou 10 anos coisas diferentes até que uma coisa fez sucesso em sei lá, 5 anos, mas não, “o sucesso foi do dia para a noite”.
Saulo von Seehausen – Ralar a vida toda, pra “fazer sucesso do dia pra noite”.
Henrique de Moraes – É, exatamente, então é muito doido, e tem uma coisa que é muito legal também um, eu trabalhei um tempo atrás com um juiz federal aqui de Niterói, e que ele cria conteúdo, ele é palestrante, uma figuraça, gosto muito dele, e ele contava uma história na palestras, e eu assisti umas quinze porque eu trabalhava com ele, e ele sempre contava história e eu adorava, que é o seguinte: ele tava mal de saúde, e o médico dele falou “Cara, você precisa fazer exercício”, e ele falou “Tá, o que que eu vou fazer, né?’, e aí ele decidiu “Ah, vou correr”, começou a correr, foi correndo um pouquinho, foi gostando, foi pegando o jeito ali né, foi correndo mais, até que ele falou “Cara, vou correr uma maratona”, e colocou como meta pra ele correr a maratona. E ele foi, correu a maratona, e aí isso na palestra quando ele tá contando, ele sempre contextualiza, faz de um jeito que as pessoas riem, e ele fala “Adivinha em qual posição eu cheguei?”, e ele fala “Fui o penúltimo a chegar”, e aí todo mundo ri, e ele fala assim: “Ué, vocês estão rindo? Quantos de vocês já correu uma maratona?”, aí sei lá, 10% da galera levanta a mão, e ele fala “Então, tô na frente de vocês todos”, e aí ele fala assim, uma frase que me marcou muito, ele fala “Você tem que ser o dono da régua que mede seu próprio sucesso”, você não pode deixar que o mundo dite pra você o quão bem sucedido ou não você é, você que tem que saber, você que tem que ter o critério, né
Saulo von Seehausen – Eu acho que volta até o lance que eu falei de estar sempre trabalhando, sempre fazendo coisas assim, acho que quando você, normalmente quando você entra nesse modo assim, é que você não tá produzindo tanto assim né, e nem tô tipo, acho que nesse momento de quarentena é perigosíssimo, inclusive, esse discurso de produtividade porque cara, beleza, produtividade tem que ser balanceada com várias outras coisas, né, acho que é essa primeira semana foi muito disso né, de como usar o seu momento, seu tempo de quarentena, tempo livre sei lá, para produzir mais, e cara, eu tenho muitas restrições em relação à essa mentalidade, mas acho que é a parada do “Create, don’t hate”, sacou? Quem tá fazendo, quem tá na arena, quem tá dando a cara à tapa, normalmente não entra muito em onda de crítica, de se sentir pior ou ficar ali torcendo contra o outro, porque sabe que o trabalho que dá, e na carreira de música, de entretenimento no geral, porra é uma carreira que te faz ter escolhas difíceis e renúncias sabe, diversas assim, então quem tá no rolê normalmente não fica muito nessa pegada assim, normalmente quem critica, tinha até uma parada que fizeram, num canal, não vou lembrar qual canal agora, mas um canal lá do Reino Unido, que eles pegaram os tweets assim, que eram tipo “Porra, gol que sei lá quem perdeu eu fazia isso aí de costa”, eles pegavam a pessoa que twittou, levava para o estádio e botava a pessoa pra fazer, saco? Tipo assim, um maluco horrível assim, uma pessoa que não faz a menor ideia do que tá falando entendeu, e é isso às vezes também né, acho que quando você tá envolvido e fazendo um negócio levando a sério e profissional, você tende a ser mais brando com o que o outro está fazendo também sabe, você sabe a dificuldade e quanto de investimento de energia de tudo tá ali também, né
Henrique de Moraes – E é engraçado né, porque a gente também tende a ser muito hipócrita né, nessa crítica e nas decisões que a gente toma, então por exemplo, a gente fala que as pessoas são superficiais porque fizeram isso ou aquilo, porque elas postam foto só quando estão felizes, mas a gente também faz né, eu tô generalizando, é lógico né, não sei se você faz isso, mas eu sei que muita gente faz e muita gente faz pra se sentir bem, inclusive né, para poder ter aquela dose de dopamina quando a pessoa vai lá e curte, comenta, elogia, enfim.
Saulo von Seehausen – É cara, somos seres sociais que aprendem comportamentos vendo comportamentos né, tipo é inevitável de você hoje em dia estar no lugar foda para caralho, com o celular no bolso e não vai fazer um stories, é impossível. Obviamente, normalmente o intuito não é deixar os outros invejosos, é tipo “Olha onde eu tô, quero que todo mundo veja onde eu tô”, às vezes é para tirar onda, acho que não é o meu caso normalmente não mas às vezes é, a galera posta aquelas fotos com legenda tipo “tá muito difícil aqui” , meio isso assim
Henrique de Moraes – E muitas vezes também eu acho que as pessoas não pensam, vai muito no automático, também, foi o que você falou, a gente observa e reproduz. Então, você vai lá e faz assim, não está nem pensando na consequência ou impacto que vai ter, ou se não vai ter. A gente estava falando sobre isso nesses dias porque lá na agência a gente acabou fazendo um exercício de autoconhecimento, e a gente botou finalmente para fora o propósito da agência né, e nosso propósito é criar um mundo em que marcas sejam fonte de felicidade e não ansiedade, só que isso é um puta desafio, porque assim a forma que as marcas cresceram foi causando ansiedade mesmo e te excluindo, como se você não fizesse parte daquele grupo, e a gente está tendo assim muito desafio e tentando entender como é que a gente consegue criar um conteúdo, por exemplo, já que a gente é uma agência especialmente de conteúdo, como é que a gente faz um conteúdo que não causa essa ansiedade né, então por exemplo a gente atende uma academia, como é que você fala de musculação sem falar que a pessoa tá fora de forma, sabe? E nessa de começar a repensar, a gente começou a repensar muita coisa que a gente colocava também, e até no meu pessoal assim por exemplo, logo depois que a gente falou sobre isso, a gente “Caraca não, olha quanta coisa a gente coloca que não faz sentido”, que não acrescenta em nada e talvez só vai gerar ansiedade, e aí sei lá dois dias depois eu postei uma foto minha, porque eu dei uma pequena palestra num evento, eu fui lá postei as fotos do evento, e falei “Ontem, tive a oportunidade de falar etc” , porque que eu postei isso, depois fiquei pensando “Cara, eu não acrescentei nada a ninguém”, tipo assim, o que aquilo vai, o que alguém vai aprender com aquele conteúdo, sabe?
Saulo von Seehausen – É, mas é que a gente vive esse momento de tipo, se não tá no Instagram você não fez, né
Henrique de Moraes – Exatamente, então quando você para pra refletir na consequência que o que você faz, o conteúdo que você gera, pode causar nas pessoas sabe, nesse caso por exemplo, pode causar a mesma sensação que eu tive quando eu via várias outras palestrando, eu falava “Porque eu não tô palestrando?”, e nem foi uma palestra, foi rapidinho, foi o que eu falei, um trechinho né, então se a gente fosse parar pra analisar mesmo todas as coisas que a gente faz acho que a gente eliminaria muita coisa
Saulo von Seehausen – É, não, é muito louco achar esse lugar aí, esse meio termo né, do quero mostrar que tô aqui e tal, mas ao mesmo tempo mais como uma coisa informativa do que de marcar um território, que eu fiz a parada, sabe, é difícil de achar mas é maneiro que vocês estejam repensando, imagino o tamanho do desafio também, né cara? É uma parada muito estabelecida, né, a maneira como a publicidade surgiu né, de você gerar demandas de consumo né, fazer a pessoa querer pertencer, porque no final das contas você tá manipulando as nossas necessidades fisiológicas, né, que é tipo pertencer, ou querer transar, essas propagandas tipo de cerveja lá a pessoa com um monte de mulher, coisas assim, ou fome né, tipo sempre abusando das necessidades básicas assim, tipo dos seres humanos assim, e é difícil para caralho você converter isso de uma maneira que continue funcionando né, para os clientes, porque precisa vender, no fim das contas e para não acabar com a cabeça dos consumidores.
Henrique de Moraes – Sim, e acho que o mais difícil nisso é você convencer o cliente também né, porque eles, mais do que a gente, já tem formatações, eles já chegam com uma maneira ali, que sei lá, o concorrente dele fez ou que o mundo já fez, porque a gente já tem meio formatado né, a forma que a propaganda funciona ou funcionou durante muitos anos, e você conseguir convencer também e fazer com que o cliente aposte na sua loucura também é muito difícil, mas enfim. Voltando aqui pra música, você sofre com bloqueio criativo?
Saulo von Seehausen – Cara, eu não gosto muito desse termo assim porque eu acho que é o bloqueio criativo para mim ele, como é que eu posso responder isso de uma maneira mais rápida, mas tipo eu não acho que bloqueio criativo exista para mim porque eu não sinto que exista uma demanda obrigatória que eu crie, sacou? Acho que se eu estivesse sentado numa agência e aí falam assim “Cara, a gente tem criar campanha X, esse é o briefing e tal”, e eu não tivesse conseguindo fazer, aí talvez puder pudesse chamar de bloqueio criativo. Mas eu sinto tempos, tipo épocas às vezes que eu tô menos inspirado tipo, as minhas ideias elas são muito mais espaçadas e elas dão em coisas, não dão em nada às vezes durante mais tempo. Então eu demorei um pouco a entender assim esse meu processo, antes eu ficava nervoso assim tipo “Caralho, será que eu já compus tudo que eu tinha para compor, não vou compor mais?”, e aí um dia eu pegava e fazia seis músicas em dois dias assim sabe, então eu já relaxei em relação à isso, deixo bem, estou sempre ali pescando, botando a vara e o anzol na água, mas também ao mesmo tempo relax assim, só que sem a loucura de “Preciso criar, preciso fazer”, então é mais orgânico, então não sinto que tenho bloqueio criativo assim, eu sinto que às vezes eu me bloqueio criativamente por estar ansioso demais, que aí eu entro no processo de enquanto eu tô escrevendo pensar “Pô, mas será que vão gostar disso?”, você entra numa parada ali que é contra-intuitiva assim que acha aí acho que perde 70% do propósito para mim de escrever, sabe, que é tipo canalizar algo através da sua visão, algo, uma energia, uma coisa que já existe pairando no ar assim sabe, acho que quando você começa a botar muitos filtros e tentar olhar pela perspectiva do outro demais e pensar com a cabeça do outro, aí acho muito contraproducente assim sabe, às vezes eu entro nisso assim, e normalmente quando eu faço isso, eu largo e falo “Não, quando eu tiver com a cabeça mais clara assim, eu volto”.
Henrique de Moraes – É, tem alguns pontos sobre bloqueio criativo, mas acho que eu não vou falar não senão eu vou me alongar aqui, mas eu também não acredito no bloqueio criativo, acho que você já tem uma prática que te ajuda nisso, como você falou, você vai anotando as coisas, vai absorvendo, e vai observando, acho que isso já te ajuda, porque no final das contas você já tem vários pedaços, né, tem vários inícios e meios, enfim
Saulo von Seehausen – Fragmentos, né?
Henrique de Moraes – Fragmentos, exatamente, e isso já ajuda, o problema é quando a pessoa não faz isso e de repente quer sentar pra escrever a melhor música que ela já escreveu né, aí que tá o problema, na verdade, você sai escrevendo, vai fazendo, e vai escrevendo coisa ruim também, e sei lá, de 100 ruins, 1 boa vai sair, talvez.
Saulo von Seehausen – É, e aí você entra em outro tipo de processos, que nunca foi o meu assim, que é tipo tentar para caralho e ir pela quantidade, até sair alguma coisa, que é também super válido, nunca foi o meu porque eu não tenho, eu tenho o privilégio de não viver da música que eu faço financeiramente, mas não tenho o privilégio de viver da música que eu faço, então eu não tenho tanto tempo para ficar tipo fazendo 80 músicas e tirar 10 dali entendeu, então são dois lados assim da mesma moeda assim que eu não preciso necessariamente da minha arte para pagar minhas contas e isso me dá uma tranquilidade de tipo um dia que eu não estou criativo, não tô inspirado, eu largar, ter essa liberdade, digamos, artística, mas ao mesmo tempo ter um trabalho de 10h às 18h me dá menos tempo para exercitar esse lado, esse viés criativo, e de exercitar mais a feitura do negócio, então tem esses dois lados.
Henrique de Moraes – Tem alguma música que você lembre que foi assim, sei lá, mais difícil que você já escreveu, talvez não pela parte criativa, mas não sei, de sentimento mais difícil de colocar no papel, alguma coisa nesse sentido, qual foi a música mais difícil que você lembra?
Saulo von Seehausen – Cara tenho, tem uma música no meu disco que vai sair esse ano, a ideia era Maio, mas não sei aí com todos esses acontecimentos se vai dar tempo porque, enfim, a gente tinha que fazer clipes e na quarentena não tem como fazer, mas vai sair esse ano e tem uma música que chama “Cubra-se”, eu tava começando a viver uma crise assim no meu casamento, namoro na época, e aí no início dessa crise um casal de amigos terminou, se separou tal, e aí é um amigão mesmo assim tipo muito querido assim aí ele me ligou, a gente ficar mais de uma hora no telefone ele chorou e contou e falou “Pô, tô muito fudido”, e ficou falando as paradas e aí “Caralho, como é que vai ser?”, eles moravam juntos também e tal enfim, quando eu cheguei em casa eu comecei a tocar uma parada no piano e comecei a tentar meio que ser a voz dele ali cantando assim né, tipo o que que ele ia encontrar aquela noite ali né que é tipo, de não dormir com mulher, de não acordar com a mulher, essas primeiras coisas bem corriqueiras assim que acontecem numa separação e tal, e aí eu comecei a escrever, fiz um pedação na música assim, tipo um verso inteiro, pedaço de refrão e tal, e cara empaquei assim, loucamente na música, empaquei, empaquei pra caralho, não conseguia sair da parada, e aí cara, eu me separei, e aí eu terminei a música, o último verso já era a minha voz assim, na história, então ela foi bem difícil, eu tive que pegar uma perspectiva dele do que possivelmente aconteceria comigo, e aconteceu comigo, e depois contar a minha visão da história né, no final ali, que é o último verso, que já é uma parada mais específica da minha história, então essa foi uma das músicas mais difíceis assim de escrever, por todo esse tempo que durou e por que foi uma exaustão emocional bem grande assim para chegar ali onde ela chegou sabe, mas valeu a pena, o caminho de autoconhecimento, e a música também ficou bem maneira, então valeu a pena.
Henrique de Moraes – Boa,tô curioso para ouvir
Saulo von Seehausen – Vou te mandar quando estiver pronto.
Henrique de Moraes – Maravilha. Cara, me fala um pouquinho sobre como é seu trabalho lá na BMG, quais são as atividades que você tem
Saulo von Seehausen – Cara, lá eu faço dua coisas, tem uma que é a principal, que é sincronização, que é toda vez que você vai colocar música numa peça tipo, audiovisual por exemplo, um filme, comercial de tv, trilha de novela, a gente chama de sincronização. Eu cuido basicamente da parte para publicidade e cinema, e tem uma pessoa que é só para de novela, e pra cinema também tem uma pessoa que é minha dupla lá, na BMG, então sei lá, se você assistir um comercial do Itaú que tem uma música famosa, o nome disso é sincronização, alguém fez esse processo todo de licenciar, negociar os direitos autorais dessa música. Então essa é a minha principal função lá, nesse departamento de sincronização, e eu faço uma outra parte lá que é de A&R, que a gente chama de Artístico e Repertório, que é tipo levando novos contratos, prestando atenção nos artistas novos, artistas promissores, ou assinando contrato com artists grande já, para expandir o número de contratos que editora e gravadora tem, como se fosse captação de clientes artistas, clientes compositores e também fazer pontes criativas e artísticas entre eles e outros assim, por exemplo a Ivete Sangalo vai gravar um disco e ela tá precisando de repertório então a gente coloca esses autores para compor, para fazer parte desse repertório, ou se tem um artista americano procurando uma participação de artista brasileiro no briefing tal, nesse perfil tal, a gente faz esses matches também, artísticos. São essas atribuições.
Henrique de Moraes – Qual dos dois você gosta mais de fazer?
Saulo von Seehausen – Cara, os dois tem coisas que eu adoro e coisas que eu detesto assim, como qualquer trabalho, as duas partes tem uma parte super administrativa, de tipo contrato, ler contrato, revisar, fazer fatura, dar entrada em sistema, essas coisas assim são um saco, mas faz parte, mas na verdade elas estão bem conectadas assim eu acho, acho que um A&R que tem um pensamento para sincronização ele ajuda a trabalhar aquele catálogo do artista, compositor que ele tá contratando, e mais assim, porque ele vai saber “Pô, esse cara aqui faz um negócio que vai funcionar em publicidade”, “Esse cara faz aqui um negócio que pra cinema vai ser do caralho, série de tv”, e uma pessoa que é de sync, mas que também está muito ligada no artístico, tá conectado e vendo os artistas novos, as músicas novas, e está fresco na cabeça as tendências em música, vai ser também uma pessoa mais agilizada em oferecer possibilidades musicais para o que o cliente está procurando, tipo pra um comercial, para um filme e tal, então as áreas estão meio conectadas assim, mas se eu pudesse escolher acho que escolheria estar exatamente onde eu estou agora, que é no meio.
Henrique de Moraes – Entendi, boa! E como é que funciona assim na sincronização por exemplo, você recebe um briefing da agência e aí você manda uma lista, uma seleção, como é que funciona esse processo?
Saulo von Seehausen – Funciona de algumas formas, a mais comum é o cara já quer usar aquela música, ele descobriu que sou eu que administro os direitos autorais, então ele vai falar comigo, passar o escopo de campanha, e qual é o uso da música e tal, e eu vou passar para ele um orçamento e a gente vai negociar e aí fazer contrato e tal, é o modelo que eu gosto menos assim, porque tipo normalmente quando vem assim já é com prazos difíceis e budgets difíceis, e tal
Henrique de Moraes – E qual é o budget disso cara, por alto?
Saulo von Seehausen – Varia muito, cara porque varia da obra, da relevância da obra, varia de qual gravação vai usar, se vai regravar, se vai usar uma gravação original, qual o tamanho do cliente, o porte do cliente, o porte da campanha, qual a mídia em que vai ser veiculada, vai ser só TV, vai ser internet, quantos meses, vai querer que seja exclusivo, então são muitos detalhes, são escopos bem detalhados assim para ter estimativas de valor assim.
Henrique de Moraes – Entendi. E qual foi o mais alto que você fechou?
Saulo von Seehausen – Ah, não posso falar
Henrique de Moraes – Não pode né, imaginei.
Saulo von Seehausen – É sigiloso, mas tem números impressionantes, assim
Henrique de Moraes – E ainda vai um percentual bom pro artista? É pelo Ecad que ele arrecada ainda? Quando fecha direto com vocês ele arrecada pelo Ecad ou arrecada com vocês?
Saulo von Seehausen – Não, sincronização ela é, o Ecad arrecada quando tem execução pública, tipo cinema, série de TV tem Ecad, publicidade não tem Ecad, então por isso que os valores pra publicidade são bem mais altos né, porque é um valor que você paga ali pra usar a música e não paga mais nada né, você usa dentro daquelas condições de campanha e não paga mais nada, pra cinema são valores menores, mas enquanto tiver execução pública do filme, série de TV, novela tal, enquanto tiver ali execução da parada, você vai tá gerando valor para aquilo, mas enfim você pega, pô uma música do Queen, ou Beatles, coisas muito gigante assim, para clientes muito grandes tipo Itaú, você pode imaginar que foi muita grana, centenas de milhares de dólares assim, posso te dizer isso, dependendo da campanha, se for uma campanha muito grande, global aí é milhão, sacou? Depende muito, cara
Henrique de Moraes – De dólares, né?
Saulo von Seehausen – Dólar, dependendo do cliente.
Henrique de Moraes – Legal. E na parte de contratação cara, você, me corrige se eu estiver errado, mas acho que você participou da contratação do Fresno, não foi?
Saulo von Seehausen – Sim, na verdade o que eu participei foi do Lucas como compositor, foi até uma coisa que se desdobrou, porque a BMG é editora e gravadora, eu trabalho mais na parte da editora, e acabou que quando eu tava conversando com o Lucas para assinar o contato dele de edição, das obras dele, para cuidar dos direitos autorais dele como compositor, acabou que por timing da gravadora e do disco que eles tinham pronto, casou de se estender pra Fresno também lançar, foi o primeiro produto da BMG Brasil
Henrique de Moraes – Ah é mesmo? Caramba
Saulo von Seehausen – Então foi bem maneiro assim, mas dessa parte eu não participei, desse desdobramento pra gravadora, eu inclusive estava de quarentena na época, porque eu tinha sofrido uma lesão no tornozelo e tava trabalhando de casa, então essa quarentena que tá todo mundo vivendo aí, eu vivi ano passado também
Henrique de Moraes – Segunda quarentena, que parada né velho?
Saulo von Seehausen – Cara, segundo aniversário em quarentena, bicho
Henrique de Moraes – É cara, muita meditação aí pra conseguir botar a cabeça no lugar mesmo
Saulo von Seehausen – É, sair dessa parada saudável, tá tudo certo
Henrique de Moraes – Cara, aproveitando então, tem algum hábito que você implementou assim nos últimos, no último ano, talvez, para ter uma vida mais saudável, falando física e mentalmente, tanto faz pra qual das duas ou um desses aspectos?
Saulo von Seehausen – Cara, eu nos últimos, acho que principalmente nos últimos quatro anos assim eu melhorei muito meus hábitos alimentares assim, tipo, na verdade tem mais tempo assim, eu fui vegetariano durante 4 anos, acho que foi tipo de 2014 ou 15 até, enfim, um período aí de quase quatro anos, esqueci agora, e quando você, é quase invariável isso assim, quando você se torna vegetariano, você tem que aprender a comer bem, porque quando você come carne, você senta no restaurante, no comida à quilo e você bota arroz, feijão, salada, carne e vai, quando você é vegetariano acho que você começa a tomar outras precauções assim, tipo “Tô ingerindo ferro suficiente?”, “Tô ingerindo potássio?”, “Tô ingerindo sódio demais?”, você começa a ter mais preocupações, o que eu acho que não deveria ser assim, acho que todo mundo tinha que se preocupar, porque o excesso de ingestão de carne é nocivo pra caralho, sódio, ácido úrico, várias coisas aí que são nocivas, mas isso aconteceu comigo quando eu fiquei esse período vegetariano, então comecei a ir no nutricionista, comecei a me alimentar melhor, prestar atenção na alimentação, fazer exercício, exercício é uma coisa que para mim ainda é bem, é mais esporádico assim, tem momentos que eu acompanho e depois dou uma saída assim, para mim é difícil manter uma rotina assim, mas é uma coisa que eu tô trabalhando também. Além disso eu tô fazendo agora tipo, acompanhamento com um personal trainer, depois da minha lesão, que é um cara especialista em lesão, porque mesmo depois da alta, da fisioterapia, todas as coisas, eu ainda sentia uma insegurança muito grande no pé e não tive coragem, já tem um ano da lesão, eu não tive coragem de jogar futebol, então tipo quando tem uma parada, sei lá, corriqueiro do dia a dia, tipo correr para atravessar o sinal que tá fechando eu fico “Caralho”, meu pé tá 100%, talvez melhor do que ele era antes, mas é mais uma questão psicológica, tô fazendo pra ajudar, tô fazendo fortalecimento e tal. E cara, cortei álcool tipo 90% assim da minha vida também, eu tinha, junto com os meus picos de ansiedade, eu percebi que o álcool era um grande amigo da minha ansiedade assim, ele fazia um trabalho bom para mim, que era tipo me fazer relaxar, a semana inteira de trabalho, estresse e tudo mais, chegava na sexta e sábado eu bebia, relaxava e tudo mais, só que essa conta ela vinha na segunda, terça e na quarta tipo rasgando assim, sacou, então eu tinha queda de energia e altas de ansiedade muito grandes assim, muito, realmente muito preocupante assim por conta do álcool, e eu percebi isso na prática, quando eu comecei a cortar eu percebi que a minha estabilidade emocional é muito maior sem álcool, então, pô, eu gosto de beber, gosto do gosto, gosto do lance do relaxar, mas percebi que eu tinha ali uma propensão a exagerar, quase todo mundo né, você não senta no bar e fala assim “Tomarei quatro cervejas”, você bebe até ou acabar o seu dinheiro, ou o bar fechar, ou você não aguentar mais, né, são uma dessas três, e eu era assim também, e eu já ouvi uma vez uma frase que é “A ressaca nada mais é que quando você tá bêbado, você tá pegando emprestada a alegria do dia seguinte”, então ressaca é o dia seguinte, quando você não tem alegria nenhuma mais, porque você pegou emprestado na véspera
Henrique de Moraes – Muito bom
Saulo von Seehausen – É mais ou menos isso. Então cara, eu percebi isso, mas tipo, por exemplo, nesse período de quarentena eu tomei uma cerveja, uma mesmo assim, aqui em casa ontem tipo videogame,tentando achar aí o caminho meio né, tipo nem exagerar e ficar louco e sofrendo nos dias seguintes, mas poder tomar uma cerveja que eu gosto, comprar uma cerveja maneira diferente, sem esse lance da sangria desatada que a gente normalmente vai, né?
Henrique de Moraes – É, o bom quando você bebe menos também é isso, você pode se dar o luxo de comprar coisas que talvez você não fosse comprar, porque se fosse beber pra entornar você ia comprar uma cerveja mais em conta, assim
Saulo von Seehausen – Bicho, vou te falar uma parada, o personal trainer, eu comecei a conseguir fazer quando eu parei de beber
Henrique de Moraes – É mesmo?
Saulo von Seehausen – É, porque você para pra avaliar, porra, é caro pra caralho você fazer um personal trainer
Henrique de Moraes – É caro beber também
Saulo von Seehausen – Beleza, quanto eu gasto pra beber, velho? Por mês, quanto que eu gasto? Se eu saio 6 vezes por mês, que eu saia mais do que isso com certeza, cada vez é R$80, R$100, pô, pagou um personal e meio, quase.
Henrique de Moraes – É verdade
Saulo von Seehausen – E aí foi muito louco perceber isso, essa minha predisposição para gastar dinheiro numa parada que tá me fazendo mal, quando eu tava tipo, tendo que me convencer, numa outra que só me faria bem assim, muito louco nossos processos.
Henrique de Moraes – É, foi o que eu falei, se a gente parasse pra pensar em tudo que a gente faz, ia cortar muita coisa
Saulo von Seehausen – Porra, com certeza
Henrique de Moraes – E você falou uma coisa interessante, que foi, é, você cortou e depois você percebeu né, acho que um erro que as pessoas costumam cometer, e assim, todos os erros que eu tô falando aqui eu cometo também tá, não tô isento não, é que a gente tem a tendência a acrescentar coisas né, e você ter uma lista de coisas que você vai tirar, às vezes é mais importante do que as coisas que você vai acrescentar, especialmente no sentido de teste, então assim “Vou ficar um mês sem beber para ver como é que eu vou me comportar, como é que vai ficar minha saúde, ficar meu cérebro, meu funcionamento”, e ninguém faz isso né, isso para tudo, pra teste, é quase um teste científico que você com você mesmo, você vai lá bota uma premissa ali, você cria uma hipótese e fala “O que vai acontecer?”, “Eu quero atingir isso, será que vou conseguir fazer isso parando de beber?”, e você testa, se não funcionou, você vai testando coisas até você conseguir
Saulo von Seehausen – Exatamente, funciona de um jeito pra cada um né
Henrique de Moraes – Sim, com certeza, e talvez o efeito que você teve cortando álcool eu tenha cortando outra coisa na minha vida
Saulo von Seehausen – É, às vezes o álcool não é pra você o que é pra mim, da mesma maneira como tem gente que não pode beber mesmo, o cara não pode tomar uma cerveja
Henrique de Moraes – Sim, eu já vi isso acontecer
Saulo von Seehausen – Eu posso tomar uma cerveja, uma taça de vinho, isso não vai me desencadear a voltar e beber pra caralho e tipo, voltar pra estaca zero, mas tem gente que não, tem gente que, cada um é diferente, assim.
Henrique de Moraes – Verdade. Cara, assim, na sua carreira de cantor, compositor, músico, enfim, como você se denomina? Artista?
Saulo von Seehausen – É, músico, artista.
Henrique de Moraes – Qual é a maior dificuldade que você acha que você tem, que você enfrenta no dia a dia?
Saulo von Seehausen – Cara, deixa eu pensar uma, eu já pensei alguns, mas acho que para mim o maior desafio é a constância, e acho que isso é uma parada muito difícil assim, eu vario muito assim, momentos que eu tô super inspirado, componho várias paradas e aí tipo hoje em dia Instagram, redes sociais né, eu uso muito mais Instagram, então sempre uso o exemplo do Instagram, mas ele meio que é uma atribuição assim né, tipo tanto quanto compor, então tipo, aí às vezes eu passo períodos postando direitinho, fazendo as paradas né, gerando conteúdo, essas coisas que a gente sabe que são importante para você ter um giro de audiência e tal, e aí tem épocas que eu fico assim três meses sem postar nada, porque, e aí eu descobri também num processo meu que o Instagram ele pode ser muito ansiogênico para mim, então quanto mais eu tô presente ali, mais isso vai meio que se acumulando até chegar num ponto que eu não aguento mais e aí eu fico 3 meses sem. Então aí eu preciso achar um lugar, que eu tô achando agora, que é tipo, beleza, como é melhor espaçar isso, de forma que continue constante mas sem que eu tenha que entrar nesses momentos de sofrer, sacou? Então acho que para mim essa é a maior dificuldade, até porque eu venho, como você, de uma geração que não existia Instagram, então pra artistas que são mais novos, isso para eles é igual para a gente é, sei lá bicho, tocar, tipo isso, tem que ensaiar, tem que tocar, é isso aí, faz parte da parada, e para eles isso faz parte da parada e para gente começou a fazer parte, então essa adaptação inicial foi difícil pra caralho para mim também, de entender que isso simplesmente se tornou parte do escopo de trabalho assim, mas para mim mais difícil é a constância, porque exige várias coisas, exige uma persistência de continuar acreditando no seu trabalho, ou sempre, ou quase sempre, e querendo colocar no mundo o que você tem para dizer e também não se abalar se alguma coisa sair errado, ou não sair como você esperava, ou também perceber que às vezes a gente espera demais, então todos esses ajustes assim né, de expectativa e realidade que são importantes e pra mim foram bem difíceis assim nos últimos anos, mas que no ano passado e esse ano eu já comecei a ajustar assim esse lance aí da maratona também sabe, de olhar e focar mais no que eu tô entregando e tal do que entrar em comparações e análise de dados demais.
Henrique de Moraes – E você tem alguma expectativa assim, uma coisa específica que você, sei lá, tenha criado e que causa algum impacto muito negativo, consegue identificar alguma coisa nesse sentido? Acho que assim, tem algumas que não são fáceis né
Saulo von Seehausen – Como assim? Não entendi.
Henrique de Moraes – Por exemplo, você falou aí de ajustar expectativa e realidade né, mas a gente gera diversas expectativas para gente, então você pode falar sei lá “Ah não, eu achava que quando eu lançasse meu álbum eu ia ter um milhão de downloads”, sabe? Tipo alguma, teve alguma coisa específica assim, ou tem alguma coisa específica que você se cobra muito, que você tem expectativa muito alta de resultado e que talvez isso te traga mais mais sentimentos negativos do que positivos?
Saulo von Seehausen – Cara eu não tenho mais, sinceramente. Eu tinha muito, e era uma coisa muito contraditória porque era assim ao mesmo tempo que eu não trabalhava o suficiente para aquilo ali ter mais engajamento né, no lado do marketing, publicidade da coisa, não no lado produção musical, e qualidade do que eu tô fazendo, ao mesmo tempo que eu não trabalhava direito nisso, porque eu achava que meu trabalho já tava feito se eu tivesse feito um bom produto, eu esperava um resultado diferente, é não assim que funciona. Se você tem um puta produto e você vende ele mal, ele não vai vender velho, normalmente é assim, e digo até mais, hoje em dia a qualidade do produto ela nem é a primeira importância assim, a gente vê vários exemplos aí de, o cara que fez no quarto dele, pegou a flautinha da música de bar, fez um beat no celular e bicho, foi a música mais tocada, um bilhão de visualizações e blá blá blá, eu não tô nem julgando qualidade musical, mas tipo, investimento de produção e esmero com a produção assim né, tipo, então isso não é mas, a parada rolou, e a gente vê vários casos assim né, só que eu sentia que eu não trabalhava esse segundo estágio da coisa, mas esperava resultados por causa do primeiro, então quando a gente lançou o disco da Hover foi assim, a gente se preparou pra tudo até lançar, e agente não se preparou pra dar sequência àquilo assim né, então isso foi uma coisa que aconteceu. Mas depois já com o Saudade foi bem diferente assim, no início, antes de lançar coisas ou até o primeiro lançamento eu ainda tinha um pouco isso assim, mas conforme eu fui lançando eu fui meio que cara, entendendo que a parada é uma construção, que é uma construção lenta, que o resultado e a visibilidade, a audiência, o retorno em números em números daquilo ali não pode me fazer duvidar da qualidade do meu trabalho, óbvio que depois de um tempo você olha e você fala “Putz, isso aqui poderia ser melhor”, mas tipo, quando você tá entregando, você tá entregando o melhor assim, pelo menos eu tento sempre entregar o melhor, eu não entrego uma parada e pensando “Poderia ter mudado isso aqui”, então acho que uma coisa não pode anular a outra assim, sabe? Seu resultado, tipo olhar lá para o Instagram do artista X e falar “Putz cara, por que que esse cara tem X mil visualizações e eu tenho X mil? Porque ele é bom e eu sou ruim?”, esse tipo de análise assim, de julgamento de valores assim que, putz, é a maior cilada do mundo, a não ser que você use como inspiração, tipo “Pô, o que que esse cara tá fazendo de diferente na divulgação dele?”, por exemplo, “Porque que está chegando à mais gente?”, sabe? Aí é do caralho, é o melhor dos mundos, mas se você entrar nessa de comparação de juízo de qualidade, de valor ou de desmerecer o outro, de falar “Porra, a música do cara é uma merda e tem visualização pra caralho”, ou “A minha é uma merda porque não tem”, acho que entrar nesses dois lados aí é furada total, assim.
Henrique de Moraes – Isso que você falou do esmero, da produção, enfim, outro dia eu vi um termo que eu achei muito interessante que é “the good enough media”, que é meio que a geração que a gente vive, as pessoas não estão mais preocupadas com a produção, elas tão preocupadas com a mensagem, com o sentimento que vai causar, ou até o momento, se for um momento oportuno, se for culturalmente relevante
Saulo von Seehausen – Zeitgeist
Henrique de Moraes – É, e é muito engraçado porque eu vi esse termo e eu achei muito maneiro, e veio de um cara falando sobre a capa do CD de um rapper que eu esqueci o nome, que é casado com alguma daquelas Kardashians, não lembro o nome dele
Saulo von Seehausen – Ah, o Kanye West
Henrique de Moraes – Kanye West, isso! E aí, que ele botou a capa do CD foi uma foto que ele tirou com o iPhone, e aí surgiu, alguém falou esse termo, “the good enough media”. Isso acontece inclusive com qualquer área, mas você pega por exemplo a área que a gente trabalha, que é criação de conteúdo, às vezes a gente vai lá, faz uma mega produção, um conteúdo super legal, que a gente acha que vai ser super bacana e não acontece nada, aí alguém vai, faz um meme super tosco, que levou sei lá, dois minutos pra fazer, com o Clipart
Saulo von Seehausen – É isso, tem uma entrevista do Rick Rubin que é muito maneira, que é um produtor musical, cara já foi desde sei lá System of a Down, à Slayer, à Kanye West, à Avril Lavigne, saca, tudo o que ele fez, gigante, o cara é foda
Henrique de Moraes – Ele é um monge, né cara?
Saulo von Seehausen – Ele é um monge, ele é tipo, o cara é uma lenda viva, assim, e tem uma entrevista dele falando, quando ele foi produzir Kanye West e tal, que ele percebeu assim e foi muito para ele, como é que fala, tipo um clash assim, foi muito de encontro ao que ele tava acostumado assim, ele falou que o Kanye West chegou no estúdio com umas demos e aí ele falou assim “Ah beleza, quando você queria começar?”, e ele falou “Se a gente pudesse começar, queria começar hoje, se você puder”, “Bom, beleza, e qual que é a tua ideia de lançar?”, aí ele “Não, daqui a duas semanas”, aí ele falou “Caralho, como assim, bicho?”, né, era um cara que tava acostumada a ficar ali velho, um ano produzindo um disco, é exatamente isso né, um esmero de produção né. A gente vê cara, o Drake, que é tipo o cara mais tocado no mundo hoje em dia assim, cara ele tem um disco, que a maior música tem 2 minutos e 10, sacou? O cara lança um álbum de 30 faixas de 2 minutos, porque vai ter mais play nas músicas. Cada música com menos tempo de alguém ouvindo, a outra música vai ter mais gente ouvindo, então a lógica é muito diferente hoje em dia, sacou, a lógica não é um timbre do caralho, óbvio que existe uma parte da parada do mercado, do ouvinte, que é isso, o cara quer ouvir lá o Radiohead e fala “Caralho, olha essa loucura, essa parada, esse tempo estranho, esse timbre de guitarra, esse sintetizador”, mas na música mainstream mesmo, de massa, é quantidade, é meme, é meme cara, a parada certa na hora certa, engraçado, pegou ali de alguma forma, seja no cômico ou no sexual, sabe, nesses lugares aí nossos assim, de consumo, e é isso.
Henrique de Moraes – Cara, muito bom. É meme!
Saulo von Seehausen – Cara, se parar pra pensar, o sertanejo é um meme. Sertanejo universitário é meme, velho, tipo, os caras eles têm essa arte mesmo assim de transformar meme em música. Jingle era isso, né?
Henrique de Moraes – É, verdade.
Saulo von Seehausen – Você pega ali, uma catchphrase, é meio isso assim, e acho que os caras fazem isso brilhantemente assim, sacou, pro tipo de resultado que eles esperam, pras prioridades deles assim, de uma maneira incrível, assim.
Henrique de Moraes – É, só para fechar o raciocínio que você tava falando né, de como você fazia as coisas e esperava um resultado né assim, às vezes você fazia uma parte bem e outra mal, enfim, você já explicou tudo, tem uma frase que eu gosto muito que fala assim “Impaciência com ações, e paciência com resultados”, e essa frase me marcou muito porque eu sou impaciente com tudo na verdade, todo mundo é né, e eu faço as coisas muito rápido, pelo menos uma parte da frase já tô atuando, tô botando em prática, mas você ter paciência com os resultados que é a chave também, não ficar se cobrando tanto e olhando o cada coisa que você faz, ficar tipo analisando o resultado, vendo se teve sei lá, um crescimento de 5% aí em cada coisa sabe, porque senão você fica nessa neurose e você acaba não deixando a criatividade fluir, e uma hora se de repente bater uma ideia legal que vai fazer sentido, que vai impactar, e vai entrar na hora certa né, você fica só ali focado na neurose de “Caralho, isso tem que dar resultado, tem que dar resultado”
Saulo von Seehausen – Aí que você bloqueia o criativo muitas vezes.
Henrique de Moraes – Verdade. Cara se você não estivesse fazendo música, ou trabalhando com música em geral, tem alguma outra coisa que você já pensou em fazer?
Saulo von Seehausen – Que eu já pensei, ou que eu faria?
Henrique de Moraes – Que você faria, talvez.
Saulo von Seehausen – Não.
Henrique de Moraes – Não? Simples hahaha
Saulo von Seehausen – Cara, e assim, eu não tô nem falando isso, declarando aqui que “Nossa, não vejo outra coisa”, porque eu não consigo velho, eu já tentei, eu sou de uma cidade do interior do Rio, que é Petrópolis, que é uma dessas cidades que se você não é dentista, advogado, médico, filho de comerciante, ou algo do tipo, dessas profissões bem formais assim, você não tem possibilidade de carreira lá, então tipo como um jovem músico, uma pessoa que gostava de música desde pequeno, as opções que eu tinha eram dar aula, tocar na noite e tal, barzinho, essas coisas assim ou, sei lá, se eu fosse fazer faculdade né, seguir uma parada mais acadêmica, fazer música clássica Regência, canto lírico, oboé, coisas do tipo, essas eram as possibilidades assim, então eu sentia meio que “bom, eu sei que eu gosto disso aqui, gosto de compor, gosto de escrever, gosto de tocar, mas eu não vejo como fazer uma carreira estruturada disso, então eu vou tentar andar pro lado”, então fui fazer Letras, “gosto de escrever, gosto de ler, tenho interesse por linguística e tal, vou fazer Letras”. Fiz três pedidos e vi que não era nada daquilo, que eu tava me formando para ser professor de português ou literatura, e eu não me envia fazendo aquilo, aí na época abriu faculdade de Produção Fonográfica, que tem a ver né, já tá mais dentro das indústria assim e tal, mas era bem no início do curso, esse curso hoje em dia já é outra coisa, mas era bem no início então sofria com infraestrutura, a gente tinha aula de Pro Tools, que é o software de gravação, não tinha caixa de som velho, imagina aula de Photoshop sem o monitor assim, era mais ou menos isso, sacou?
Henrique de Moraes – Você faz na Estácio?
Saulo von Seehausen – Na Estácio, é
Henrique de Moraes – Eu fiz lá, com o Airton?
Saulo von Seehausen – Com o Airton é, a minha turma foi tipo a segunda assim sei lá
Henrique de Moraes – Eu acho que eu fiz a primeira cara, se eu não me engano, primeira ou a terceira, porque eu não tava com você haha
Saulo von Seehausen – Cara, a gente chegou num cúmulo velho, que a Dani professora, ela não tinha um computador para ela mostrar pra gente o Pro Tools, então ela desenhava a interface inteira no quadro, mostrando as ferramentas, tipo assim, surreal.
Henrique de Moraes – Surreal mesmo
Saulo von Seehausen – E aí isso me desanimou muito, eu vi que bom não tava rolando, e caro pra caralho, morando no Rio, e todas essas condições, meus pais na época passando por uma dificuldade financeira fudida, aí falei “Vou voltar, não vou ficar aqui, destruindo a vida financeira dos meu pais por uma faculdade que tava um lixo”, sacou? Vou voltar pra Petrópolis e encarar a realidade que é tentar outra parada, vou fazer Direito. Aí fui fazer Direito, e só que assim cara, pega o meu caderno de Direito assim a letra de música, ideia de música, era tentando só tentando fugir de uma parada que não tem como cara, é tipo sou eu, a parada tá dentro, eu não existo sem isso, e é isso, então eu fiz três períodos e saí, e falei “Cara, foda-se”, vou dar aula, aí comecei a dar aula de guitarra e trabalhava num site, que era uma parada nada a ver mas que pagava uma graninha, era um site tipo um WebMotors assim, que é de classificado de automóveis, aí eu trabalhava nesse site dava aula de guitarra, então tinha uma renda de boa assim. Cara, e aí eu comecei a perceber, o tempo passando, e Petrópolis é uma cidade super fechada, lotada de pessoas talentosas, mas uma cidade que ao mesmo tempo que é lotada de talentos, é tipo uma cidade de pessoas, de talentos atrofiados assim, as pessoas elas ficam ali, e eu tava sentindo que estava isso estava acontecendo comigo assim, e aí eu falei “Cara eu preciso tentar outra parada, ir pro Rio pelo menos”, acho que qualquer carreira, se você vai ser jogador de futebol, cara se você só jogar no niteroiense futebol clube, você vai ficar lá velho, se tu não tentar ir pro Botafogo, Flamengo, Vasco, tipo pra capital, no mínimo, tua carreira vai ter um muito rápido, então era meio o que eu sentia aí falei “Preciso ir pro Rio”. E aí na época eu dava aula nesse estúdio, e tal, nessa escola de música e estúdio, eu conversei com o cara que era dono, o Gargamel e falei “Quero muito para o Rio, você conhece alguém que tem estúdio lá, eu tô sei lá, qualquer trabalho de assistente, enrolar cabo, pra começar mesmo e tal, e eu vou fazer faculdade de Publicidade”, sei lá na minha cabeça aquilo ia ajudar de alguma maneira da minha música também, aprender a meio que vender, sei lá, fiz uma conexão, e aí ele falou “Pô, tem um amigo meu que tinha uma produtora de trilha sonora pra publicidade e tal, vou dar um toque nele, ver se ainda rola e te falo”, e aí cara tipo, coincidência excelente da minha vida assim, tipo é uma das maiores produtoras do Rio assim, que é a Sonido, e aí eu fui meio que pra bater um papo lá, e estava começando a fazer a faculdade né, aí mostrei umas coisas que eu tinha feito e tal, e aí o dono falou assim “Cara, você é amigo do Gargamel, fica à vontade, se vira aí e tal, pra conhecer, aprender, fica à vontade”, meio que assim, muito informal, aí eu falei “Não cara, tô aqui em busca de um estágio mesmo, assim, posso começar segunda-feira de 10h às 17h?” e aí ele “Beleza, mas eu não posso te pagar nada agora”, eu falei “Não, beleza”, e aí eu fiquei assim 8 meses, fazendo faculdade e tal, e aí depois comecei a ganhar uma salário lá na Sonido baixo assim, de assistente mesmo, e aí continuei a faculdade, comecei a trabalhar mais na Sonido, quando eu entrei foi como assistente de estúdio mesmo, e aí depois eu fui para uma outra parte mais executiva e tal, enfim, fiquei lá 6 anos, aprendi para caramba e foi o que me levou para BMG, então contei quase a história da minha vida profissional aqui mas tipo, tudo isso pra dizer que eu tentei muito fugir da música e fazer outras coisas mas não faria hoje em dia porque eu sei que eu não consigo e não existe isso para mim.
Henrique de Moraes – Mas você chegou a se formar em publicidade?
Saulo von Seehausen – Não me formei cara, fiz quatro faculdades e não me formei em nenhuma
Henrique de Moraes – E de alguma delas você guardou alguma coisa, alguma coisa ficou e te ajudou na sua carreira ou você acha que não?
Saulo von Seehausen – Sim, cara. Você já viu “Quem Quer Ser um Milionário?” E tipo isso, eu sei várias paradas muito randômicas de várias coisas, então tipo, me deu uma geral. Lá na Faculdade de Letras eu estudei sei lá, behaviorismo, sei lá, na faculdade de direito estudei direito da família, várias coisas que eu gostei no caminho que eu aprendi e guardo, e que me foram úteis para caralho assim, até para escrever e pra ser a pessoa que eu sou, e ter a cultura que eu tenho, não tô falando que é muito o que é pouca, mas é que eu tenho assim, então foram ótimos, tipo eu gostaria muito de não ter demorado tanto a ter a clareza de visão que eu tenho agora assim, principalmente nos últimos dois anos mas enfim, foi a minha jornada, o meu caminho até aqui. Queria muito ter essa visão que eu tenho agora com 10 anos a menos, mas não rolou nessa vida.
Henrique de Moraes – Nas outras duas entrevistas que eu já fiz pro podcast, os dois entrevistados falaram sobre a discurso do Jobs em Stanford, você já viu?
Saulo von Seehausen – Acho que não
Henrique de Moraes – Pô cara, eu vou te mandar então, porque vale a pena assistir, eu mando para todo mundo, enfim, eu sou meio defensor, acho que todo mundo tem que assistir porque tem uma hora que ele fala o seguinte, ele fala que, ele conta um pouco da história dele né, que ele foi também fazer faculdade, que ele largou a faculdade, só que ele continuou morando no campus e ele começou a frequentar vários cursos aleatórios que ele gostava, começou a frequentar as aulas que ele tinha interesse e não as que eram da grade dele, né. E ele fez caligrafia, fez umas coisas assim, e ele fala que não fazia ideia de como aquilo ia se encaixar na vida dele, e que quando eles foram lançar o primeiro computador com interface gráfica, que ele trouxe tudo aquilo pro computador, especialmente pro programa de edição. E ele até brinca, ele fala “Ou seja, se eu não tivesse estudado, talvez o Windows nunca tivesse essas fontes que eles têm, já que eles imitam tudo que a gente faz”
Saulo von Seehausen – Cara, é isso
Henrique de Moraes – E aí ele falou uma frase que é muito legal, é a frase que todo mundo citou nas entrevistas, que é “Você só pode conectar os pontos olhando pra trás, nunca pra frente”, acho que é muito legal porque de fato é isso, você não consegue, você não entende, essas escolhas que você fez onde é que vão te levar mas na verdade todas elas, mesmo as que parecem que foram falhas, elas te acrescentaram alguma coisa, te fizeram ou aprender alguma coisa que foi relevante ou então pelo menos te ensinar que você não quer fazer mais aquilo, isso é importante para caramba também.
Saulo von Seehausen – Cara, e é exatamente isso, você saber por onde não ir é importante pra caralho assim, é muito importante cara.
Henrique de Moraes – Cara, a gente já está chegando aqui já no final, quase duas horas de entrevista, não quero te prender muito mais, eu vou te fazer umas perguntas que são perguntas mais rápidas assim, você não precisa responder rápido, se você quiser alongar, eu já falei, o formato do podcast é longo mesmo, então quem quiser que vá escutar até o final hahaha, mas é só por que são perguntas talvez não tão profundas, talvez a primeira seja, mas o resto nem tanto. A primeira é, o que te traz felicidade?
Saulo von Seehausen – Música.
Henrique de Moraes – Música, bom. É, se você pudesse dar uma dica prática pras pessoas que sei lá, uma dica que as pessoas pudessem aplicar amanhã na vida delas, pra serem mais felizes, você teria alguma dica?
Saulo von Seehausen – Se presentear ouvindo música, ao invés de se presentear comendo uma barra de chocolate, se presentear ouvindo música ao invés de se presentear de outras formas, assim porque, isso é uma parada que eu aprendi recentemente que é cara, você teve um dia horrível no trabalho, e você chega em casa e fala “Caralho foda-se, hoje eu vou comer aquela parada porque eu mereço, porque eu me fodi”, cara se presenteia ouvindo uma música que você gosta, ou comprando um vinil que você curte, sei lá, se fosse dar uma dica bem que, uma coisa que eu posso comprovar que funciona, é se presentear ouvindo música assim, serve para qualquer contexto, eu acho.
Henrique de Moraes – Com certeza, eu sou suspeito né, também sou apaixonado. O que que você costuma fazer no tempo livre assim, especialmente pra desligar de tudo, sabe, pra esquecer o mundo? Ouvir música hahaha
Saulo von Seehausen – Eu ia falar isso, mas porra, caralho também né? Não cara, às vezes é importante não ouvir música assim, porque na minha rotina eu escuto muita música assim, dentro do trabalho e no dia a dia, então às vezes eu fico meio bitolado e começo a ficar com dificuldade de me conectar com as músicas que eu tô ouvindo, que eu já fico pensando “Puta, como aquela música funciona?”, e sei lá, começo a pensar com a cabeça do trabalho assim, mas no dia a dia o que me desconecta mais é videogame, eu gosto de jogar jogos bem longos e com histórias grandes e detalhadas, tipo The Witcher 3 assim, tô jogando pela segunda vez agora, que aí me desconecta total assim, até não dá para ouvir música jogando, então também me tira um pouco da, desse lugar assim.
Henrique de Moraes – Maneiro. Eu queria gostar de jogar videogame cara, porque todo mundo que eu conheço que joga, assim, parece ser um momento tão feliz, só que eu não consigo cara, é muito doido.
Saulo von Seehausen – É, às vezes é achar o jogo certo, né
Henrique de Moraes – Pode ser
Saulo von Seehausen – Não sou gamer assim, sacou, tipo conheço para caramba, entendo, joguei mil jogos, é mais alguns jogos que pegam mesmo, assim.
Henrique de Moraes – Pode crer. Cara, qual foi o melhor conselho que você recebeu, e assim, pode ser, pode ter lido num livro, ouvido num podcast, tanto faz, não precisa ser de alguém específico.
Saulo von Seehausen – Cara, acho que até do que eu falei, que o Rick Azevedo me falou, que é isso né, que a carreira musical é uma maratona, não é uma corrida de 100m, então tipo, é sobre constância, se preparar e saber o seu próprio ritmo sem olhar para os lados muito, e sem pressa de chegar rápido assim, sacou? E isso eu acho muito que é a vida, sabe, eu levo isso para um âmbito muito maior do que só a carreira musical assim sabe, tipo, e se for uma maratona também daquelas de revezamento né que você entrega para o cara da frente a parada, melhor ainda, né? Acho que esse conselho mudou muito minha percepção assim das coisas.
Henrique de Moraes – Pergunta que não pode faltar cara, o que você ouve? Ou o que você aconselha que as pessoas procurem, pelo menos?
Saulo von Seehausen – Tá cara, deixa eu abrir meu Spotify aqui, que eu escuto muita coisa e ano passado naquele wrap up do Spotify aparecia que eu descobri 900 novos artistas, obviamente é coisa de trabalho, tem que vir muita coisa e tal, mas obviamente eu tenho muito o hábito de ouvir disco mesmo, assim, eu não sou uma pessoa de ouvir single, só o trabalho, que vou lá, escuto uma música, não serve para aquilo que eu tô procurando passo pra próxima, mas eu gosto muito de ouvir disco assim, e o último disco que eu ouvi, que me bateu loucamente assim, deixa eu ver aqui, cara vou indicar esse aqui que é o Helado Negro, é um cara que se eu não me engano ele é, equatoriano, deixa eu ver aqui no Spotify se diz sobre. Na verdade ele não é equatoriano, ele é da Flórida, tem uma herança equatoriana da família e tal, e ele faz várias coisas diferentes assim, o nome dele na verdade é Roberto Carlos Lange, e ele tem esse pseudônimo que é Helado Negro, e cara eu indico muito o disco dele chamado “This is How You Smile”, que é incrível, é de 2019 e tem uma música que é talvez a música que eu mais ouvi esse ano, que é “País Nublado”, que é em espanhol e inglês assim a música, e cara é sensacional assim, a voz dele é, ele tem uma onda que lembra um pouquinho sei lá, um Jorge Drexler, um Devendra Banhart, essa galera assim, é muito foda. E também vou dar uma dica de um artista nacional que eu curto muito, que eu tenho ouvido bastante, até foi a partir do trabalho assim, mas que bateu legal que é a Lorena Chaves, um artista de BH, já lançou várias coisas, e ela tem um disco chamado Petricor, que é muito maneiro, é um disco curtinho, um EP de seis músicas, e tem uma música que se chama Orquídea, que é uma das minhas preferidas da vida assim, já. Então, essas duas dicas aí.
Henrique de Moraes – Muito bom, já vou colocar aqui na lista, assim que acabar já vou botar pra ouvir, inclusive. Cara, quem é a pessoa que você mais admira e porque?
Saulo von Seehausen – Caralho, dificílima
Henrique de Moraes – Essa é pesada, né? Você quer ir pensando aí enquanto a gente vai falando sobre outras coisas?
Saulo von Seehausen – Não, cara, assim, dá pra responder várias coisas né, posso escolher mais de uma pessoa?
Henrique de Moraes – Pode, claro.
Henrique de Moraes – Cara, acho que é inevitável admirar os pais né, tipo minha mãe, meu pai assim, tipo, criaram dois filhos difíceis para caramba assim, questionadores, e malas, e exigentes, e da melhor maneira como eles poderiam, e hoje em dia finalmente cheguei nesse lugar de entender mais né, as coisas, e sair daqui lugar de filho de “Porra, meus pais eram foda”, você deve estar passando bastante isso agora sendo pai né, entendendo várias coisas do outro lado, de ser pai e tal. Minha mãe, acho que principalmente assim, tipo, pessoa guerreira pra caralho, teve uma criação dificílima, meu avô uma pessoa super machista, e óbvio né, naquela época quase todos né, extremamente opressor, prendeu minha mãe até ela casar, sabe, então tipo, minha mãe sofreu muito assim com essa ditadura em casa assim, meu avô era militar e tudo mais, e depois passou coisas parecidas no casamento e tal, não tão grandes assim, mas tipo, passou uma separação super difícil, e viveu para ter a independência total dela, uma mulher foda e independente e tal. E cara, de carreira assim, porra vou falar de novo aqui do Rick assim cara, o Rick é uma das pessoas para mim realmente assim, é um cara que é pra mim mentor, referência assim, quando eu tô com alguma, algum perrengue assim, tipo “Pô Rick, vamos tomar um café amanhã 8 da manhã lá na padoca?”, aí a gente vai, conversa, e ele é um cara muito centrado e já viveu muita coisa, a gente tem uma sensibilidade muito parecida assim pras coisas, então é um cara que eu admiro muito, assim, e é um cara que além de produtor musical ele tem um perfil de ser meio que um, essa palavra se tornou amaldiçoada mas é meio que um coach assim, sacou, de tipo uma mentoria artística e de descobrir dentro de você onde está ali a tua identidade artística, no meu caso não foi nem de descobrir porque né, já sou velho, mas tipo de tipo falar “Cara, é isso aqui teu lugar”, e tipo, enfatizar pra mim as coisas eu já sabia, ou me dar segurança, onde eram coisas que estavam ali para mim ainda incertas, então me ajudou muito nesse processo assim do meu redescobrimento, redescoberta artística e tal, então eu citaria o Rick assim, pessoa importantíssima, eu falo isso pra ele sempre que eu posso.
Henrique de Moraes – Isso é importante né, as pessoas esquecem de falar, e acho que isso faz uma diferença até pra sensação de realização da pessoa né, e pra você também demonstrar gratidão, acho que é importante, você se sentir grato é importante também
Saulo von Seehausen – Total, cara, total, é muito importante assim, acho que a pessoa saber também, né, que às vezes a gente entra, outro dia aconteceu isso comigo assim tipo, uma menina me mandou uma mensagem, uma menina que foi a gente foi muito próximo durante um tempo assim, que nós dois namorávamos, muito tempo atrás assim, quase 10 anos atrás, ela tinha namorado eu tinha uma namorada e a gente tava num mesmo tempo ali, separações assim, então a gente conversou muito na época, a gente ficou bem próximo e tal, e aí passou todo esse tempo e tal, e aí um casal de amigos nosso, que foi como a gente se conheceu, teve um filho, e aí eu sou o padrinho e ela é a madrinha desse menino, do Pedrinho, e aí a gente tem essa conexão assim né, tipo que continua sendo quando a gente se encontra, coisas do Pedrinho, e aí ela me mandou uma mensagem super bonita assim, super inesperada, falando disso assim tipo, que ela queria que eu soubesse que eu fui muito importante numa fase muito importante da vida dela, que tipo eu fiz a diferença, que ela era muito feliz de ser madrinha do Pedrinho eu ser padrinho, que a gente teria esse vínculo especial para sempre, foi tipo muito maneiro assim, mensagem que eu li umas dez vezes assim, “Caralho, como eu respondo isso, assim?”, foi uma parada muito maneira, então isso faz muita diferença na vida das pessoas, né cara, quando você é grato por uma pessoa, quando alguém é grato por você, então tipo é uma parada que faz muita diferença mesmo assim, a gente deixar claro essas gratidões.
Henrique de Moraes – É, tinham que praticar mais, a gente fica muito preso no dia a dia e esquece desses detalhes, dessas sutilezas.
Saulo von Seehausen – Total
Henrique de Moraes – Cara, você tem algum filme, documentário favorito?
Saulo von Seehausen – Documentário, o que eu vi ultimamente? Cara, eu tô, com todos esses acontecimentos assim eu tô tentando ver coisas leves assim, tipo The Office, coisas bem que não exijam muito da minha da minha energia de pensar assim, porque senão fudeu, né? Mas, cara vou precisar de um tempo agora pra essa. Essa é a última?
Henrique de Moraes – Não, tem mais umas duas, três
Saulo von Seehausen – Ah não, já sei, tem um documentário que acho que todo mundo tem que ver, documentário do Quincy Jones, que é animal, e eu indico esse aí pra ver pelo menos três vezes assim, porque Quincy Jones, ele cara é uma das maiores lendas da música viva assim, ele tá vivo, e ele era um cara que ele era tipo, assim, resumindo muito assim, ele era arranjador, e aí ele começou a fazer arranjo, e ele foi trabalhar com Sinatra, e aí ele “Ah não, vou fazer trilha de cinema”, aí fez trilha do Pulp Fiction, “Ah não, eu vou ser produtor de discos”, produziu Thriller, sacou, tudo que ele fez ele foi tipo muito foda em tudo, e agora ele tem um projeto incrível assim que é o museu da história afro-americana, que é uma parada sensacional, queria muito ter visto assim, mas não consegui ver ainda pessoalmente, e ele tem um lance se chama Ground Up Foundation, que ele, é tipo uma, não sei como eles se denominam, se é uma ONG, mas é tipo uma instituição que financia músicos e artistas talentosos, tipo o Snarky Puppy faz parte, o Jacob Collier surgiu dessa paradas, vários artistas, então ele é um cara muito incrível que tá vivo, e é um desses caras que a gente tem que homenagear muito assim, e ele é pai da Rashida Jones, que tá em The Office também, então fica aí essa ligação.
Henrique de Moraes – Rolou uma conexão aí, né. Mas eu vi o documentário, assisti uma vez só, vou ter que agora fazer o exercício de assistir mais de uma vez, mas achei muito foda também, muito bom. Você tem alguma frase cara, que impactou muito a sua vida, tipo te marcou, que você vive sua vida por ela, alguma coisa nesse sentido? Pode ser trecho de música, no seu caso.
Saulo von Seehausen – Cara, eu gosto muito daquela frase do Carl Sagan, vou pegar até ela aqui inteira pra não falar nada errado, que eu acho bonitona assim, que pra mim é muito, dá uma perspectiva ao mesmo tempo da nossa pequeneza, mas da nossa grandeza de estar vivendo o que a gente vive, que é aquela “Dada a vastidão do espaço e na imensidão do tempo, é uma alegria poder compartilhar um planeta e uma época com você”, ele falou isso para mulher dele né, que é a Annie, então tipo, cara de todas as possibilidades de épocas e de contextos que poderia ter vivido, eu viver o que eu tô vivendo com você é tipo muito especial, acho muito foda essa frase, assim.
Henrique de Moraes – Muito boa mesmo, especialmente quando contextualiza né
Saulo von Seehausen – É cara, num mundo de oito milhões de pessoas, e acho que isso pra mim, eu sofri um acidente em 2016, que botou muito em perspectiva assim as coisas que eu faço, com quem eu faço, assim tipo, cara das milhares de coisas que eu poderia estar fazendo, eu tô aqui falando com você 2 horas sobre várias coisas maneiras assim, então tipo pra mim eu tô aqui 100% aqui, engajado em fazer o que eu tô fazendo assim, eu tento fazer isso na minha vida assim sabe, não fazer nada, tirando no trabalho que às vezes você tem que fazer coisas que não queria ou que você tem que fazer, eu tenho fazer tudo com muito, e mesmo assim no trabalho eu tento fazer com muito cuidado, e tipo, envolvimento e carinho assim né, e dá trabalho fazer isso né cara? Acho que é muito mais fácil entrar no automático, e às vezes eu entro, e tento sempre lembrar disso assim né, tipo o quanto a nossa existência é milagrosa, e não no sentido religioso da coisa, mas no sentido científico, de tipo toda essa, bilhões de anos de evolução, fazer a gente chegar, estar aqui nesse momento trocando essa ideia à distância, isso é muito louco assim né, então fazer as coisas tendo noção de que essa existência é especial assim, mudou minha vida assim essa frase, pensando nisso assim.
Henrique de Moraes – Maneiro. Cara, penúltima pergunta, prometo
Saulo von Seehausen – Cara, relax
Henrique de Moraes – Não, porque por mim eu fico aqui, e vou até amanhã
Saulo von Seehausen – Eu gosto de escrever, então gosto de falar pra caralho, também
Henrique de Moraes – Você tem alguma recomendação de livro, podcast, app, pessoa pra seguir, qualquer coisa nesse sentido, pode ser qualquer recomendação, além das que você já passou?
Saulo von Seehausen – Tenho todas essas, cara. De livro, cara eu, já virou clichê citar ele também mas que acho que todo mundo deveria ler é o “Sapiens: Uma breve história da humanidade”, do Harari, tipo o livro que é depois dele, que é o “Homo Deus”, eu acho
Henrique de Moraes – Eu não sei a ordem também
Saulo von Seehausen – É o “Homo Deus”, que é mais sobre o futuro, uma breve história do amanhã, é isso aí, é mais incrível ainda, esse eu não terminei ainda, tô no meio assim
Henrique de Moraes – Até porque eles são longos, né?
Saulo von Seehausen – Incrível. É, longo e denso pra caralho, dá vários mindfucks, assim.
Henrique de Moraes – É verdade
Saulo von Seehausen – Agora podcast que eu indicaria, tem vários cara, tem um que é muito bom que eu tenho ouvido muito agora nessa época de coronavírus aí que é “O Assunto”, da Renata Lo Prete, que é cara, aquele padrão Globo de jornalismo assim, informação foda, só especialistas falando, e é um podcast 25 minutos sobre, sobre o assunto do momento, então tipo coronavírus agora é um dos principais, mas aí é tipo “Como o coronavírus pode impactar na economia”, “Como o coronavírus pode impactar a sua vida no dia a dia”, sei lá, “250 anos de Beethoven”, entendeu, vários assuntos assim, é bem maneiro. E mais voltado para música tem dois, um é o “Sobre Canções”, do Jéf, que é um amigo meu, que entrevista compositores e amigos artistas, amigas artistas, é bem legal, e também de música tem um que chama “Anatomia da Canção”, do Felipe Vassão, que é um amigo, parceiro, também produtor musical, que é do caralho, que ele meio que fala sobre música, sobre a estrutura de música, e fala, músicas que acordes parecidos, e qual a função daqueles acordes, qual é a conexão daquilo com o sentimento, o que eles querem causar, é bem maneiro também, tem poucos episódios por enquanto assim, tem uns 10 se não me engano, 9, mas é fodasso, Felipe é um cara assim, sabe pra caralho, experiente em várias vertentes, é um cara incrível também. Então acho que seriam esses. E qual era o outro, aplicativo?
Henrique de Moraes – É
Saulo von Seehausen – Cara, me indicaram um hoje que eu nem usei ainda, mas parece ser maneiro que é um da Nike de exercícios em casa, que nesse momento de coronavírus aí também é maneiro né, não podemos sair, deixa eu ver, não sei se é Nike Running, Nike Track, eu não sei, tô indicando a parada que eu não usei também, né.
Henrique de Moraes – Tranquilo. E você tem alguma pessoa que você aconselha a galera a seguir?
Saulo von Seehausen – Cara, eu falaria para seguir o Atila Iamarino, não sei se você conhece, é um cara que, ele é, eu conheci ele há um bom tempo já, ele participava de um canal que eu sigo há tempão que chama “Nerdologia”, que é um canal de curiosidades e coisas de cultura geral, cultura nerd e tal, só que acontece que esse cara é um dos maiores especialistas de imunologia do país, então ele tá sendo tipo uma das principais vozes agora nesse momento aí do coronavírus, então ele tá fazendo várias lives e falando várias coisas, dando informações com dados e baseados em cruzamento de dados do que aconteceu na China, ou do que aconteceu na Itália, o que está acontecendo no Brasil, então é super importante, não indico para as pessoas que estão muito ansiosas com tudo que tá acontecendo, porque enfim, a realidade é dura para caralho, dessa parada, e ele dá as devidas atenções para a realidade verdadeira da parada, então é difícil, pode ser meio foda, assim, você ficar super ansioso, mas eu indico. O Twitter dele, Instagram, é @oatila, o cara vale a pena seguir. E de música, se você quiser que eu indique alguém de música também.
Henrique de Moraes – Pode falar
Saulo von Seehausen – Cara, eu sigo um, deixa eu pensar em alguém brasileiro, eu gosto muito do Tim Bernardes no Instagram, acho que o Instagram dele bem maneiro, ele não tem postado tanto assim, mas normalmente são conteúdos divertidos e ideias legais assim das coisas, eu curto a maneira como ele faz as coisas no Instagram dele.
Henrique de Moraes – Bom, pra quem nunca parou pra ler os livros do Yuval, e quiser ter um, só uma provinha do conteúdo, vale assistir o TED dele, que ele fala sobre o Sapiens, acho que são 18 minutos, e que ele quase que resume o livro de uma maneira incrível, não sei nem como é que ele conseguiu fazer aquilo também, que cara, ou você vai ver e vai falar “Nossa, que foda”, e vai explodir sua cabeça e você vai falar “Beleza, vou seguir minha vida”, ou você vai falar “Preciso ler o livro”, então vale muito a pena.
Saulo von Seehausen – Cara, realmente é foda, a pesquisa ali, sociológica muito incrível, antropológica assim tipo, o maluco realmente tá colhendo frutos num trabalho muito foda mesmo, porque na contracapa do livro tem recomendação do Barack Obama, assim
Henrique de Moraes – Só, né? Cara, por último, como é que as pessoas podem te encontrar online, onde você tá?
Saulo von Seehausen – Cara, basicamente eu tô bem mais no Instagram, tenho Facebook e Twitter, mas uso porcamente assim, uso mais pra me informar do que pra interagir e gerar conteúdo, então escolhi mesmo assim focar mais no Instagram, que é @osaudade, então por lá você também se encontra link pra YouTube, ouvir no Spotify, bem fácil assim, tá tudo à mão lá.
Henrique de Moraes – Show
Saulo von Seehausen – E se tiver coisas de perguntas e querer trocar ideia, pode mandar por e-mail também que a gente fala, o email é saulovsl@gmail.com
Henrique de Moraes – Maravilha. Saulo, obrigadaço cara, foi muito, muito maneiro, curti pra caralho e espero que você tenha curtido também e assim que sair eu te mando Saulo von Seehausen – Maravilha cara, valeu pelo convite, foi ótimo falamos para caramba, espero que mais gente curta aí, como eu curti fazer.