o que tarô, arte e terapia podem ter em comum? fica aí que vou explicar.

há alguns anos eu fiz um curso bem inusitado chamado “soulcollage”, que é basicamente uma arteterapia focada em autoconhecimento. um “mergulho pela alma”, como alguns dizem. as instruções são simples: colocar à frente revistas, jornais e recortes velhos e ter em mãos um retângulo de papel, tesoura e cola.

a ideia é fazer uma colagem livre deixando de lado toda a censura e perfeccionismo, pegar elementos que “te chamam” e sobrepor da forma que seu feeling pedir – sem tentar fazer disso a próxima Capela Sistina. o objetivo final é utilizar essas várias colagens como um “baralho de tarot”. a mecânica também não tem segredo: você pode meditar ou apenas se concentrar na área da vida em que gostaria de ter uma resposta, e então escolher uma das cartas que, claro, devem estar com a face virada para baixo.

e essa é a melhor parte: é você que interpreta as próprias obras, agora analisando cada elemento e o que aquela composição te convida a refletir. e o ideal é ser em voz alta, como se estivesse expondo a situação pra outra pessoa. parece papo de doido? parece. mas é um processo catártico e bem divertido. e eu posso falar: funciona!

no primeiro dia do curso foi muito, muito difícil agir de forma espontânea. a gente tenta alinhar as imagens, forçar conexões, criar uma paleta de cor e acaba buscando por padrões. soltar o volante e se entregar ao processo não é uma tarefa das mais fáceis, porque somos assim: pessoas controladoras e confusas.

“ah, mas eu posso fazer as cartas e dar de presente?”. não, não pode. a magia está aqui: narrativas pessoais que saem de quem as criou. só você tem as respostas das suas perguntas. e o interessante é que todo mundo ali pareceu ter entendido algo muito sutil sobre arte: a obra de alguém não tem que fazer sentido pro outro.

tarô, arte

sinto em te dizer, mas van Gogh não pintou “a noite estrelada” pra você.

e não adianta parar em frente a criação de alguém e tentar espremer seu significado, ou tentar confabular histórias heroicas ou depressivas ou aterrorizantes ou românticas sobre a intimidade do artista. nada – absolutamente nada – daquilo é sobre a sua vida.

arte é um sentimento. uma expressão. arte não tem que fazer sentido pro observador. arte não tem que parecer com nada. não tem obrigação. arte não tem que ser entendida. arte não tem que ser realista. arte não tem que ser bonita. beleza é subjetivo. arte não “tem que”. arte pode ser complexa. arte pode ser simples. arte pode ser um instrumento. arte pode comunicar. pode te tirar do eixo. e uma coisa a arte é: livre. arte pode ser trabalho que “até uma criança faria”. criança faz arte. arte pode ser qualquer coisa. arte pode não ser qualquer coisa. arte pode tudo. pode tudo. tudo. todo mundo pode produzir uma obra de arte.

arte é arte. e pra apreciar com respeito você só precisa deixá-la se aproximar, como um animal selvagem em seu próprio habitat.

fica em silêncio.

baixa a  guarda.

deixa a fera chegar de mansinho.

ela vai te cheirar e, com sorte, vocês vão virar bons amigos.

beijujubas e até a próxima (se ficar com saudades até lá, tem mais julices clicando aqui)

ah! e já que hoje #sextou vou deixar aqui uma super dica do que assistir no final de semana: é o documentário “lixo extraordinário”, que conta a jornada do renomado artista plástico Vik Muniz no maior aterro sanitário do mundo, localizado em Duque de Caxias (RJ). a produção recebeu vários prêmios e mudou a vida de muita gente. vale a pena conferir!

(de nada)