olá, @! Bru por aqui para dizer que nem sei se tenho roupa para o texto de hoje. definitivamente a news da Bru chegou a “oto patamar”. isso porque quem vai dar a voz por aqui hoje é a I’sis Almeida do Portal Black Fem, uma startup de jornalismo e design premiada até pelo Google – deu pra entender que estamos chiques demais, né?

então, chega de me ouvir (no caso, ler) e vamos para esse conteúdo muito especial.

POV: FUNDADORA DO PORTAL BLACK FEM ESCREVE SOBRE O DAILY

#InstagramDaily. este é o título da tendência que viralizou recentemente no TikTok – surpreendentemente -, quando adolescentes começaram a gravar vídeos mostrando e contando que possuem um perfil público e outro fechado no Instagram, este último, restrito apenas para amigos e familiares. basicamente essa é uma abordagem que incentiva postagens mais frequentes e autênticas na rede social, valorizando momentos do dia a dia em vez de apenas os destaques. mas qual é o significado disso? qual o contexto dessa tendência?

no Instagram e no Facebook, principais redes sociais entre brasileiros, as cem celebridades mais populares do país perderam cerca de oitocentos mil seguidores em 2020. o dado faz parte de um levantamento realizado por pesquisadores do Núcleo de Inovação em Mídia Digital (NiMD), da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em parceria com a Socialbakers. o estudo indicou que os usuários podem estar se cansando das redes e do excesso de informações que circulam nelas. esse estudo apresenta trimestralmente o comportamento das 100 marcas e celebridades com mais interações no Facebook e Instagram, e os relatórios estão disponíveis no site. contudo, o excesso de informações já tem um nome em português há bastante tempo e se chama infoxicação.

daily

VOCÊ SABE O QUE É INFOXICAÇÃO?

cunhado por Alfons Cornell, um físico espanhol em 1996, o termo infoxicação é resultado da fusão das palavras informação e intoxicação. ele corresponde à sobrecarga de conteúdos que recebemos diariamente e não conseguimos absorver, causando dispersão, estresse e ansiedade.

analisando as pesquisas mais recentes sobre o uso de Internet e redes sociais, vale lembrar que o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de países que mais acessam as redes. entre as quinze redes sociais mais utilizadas no país em 2023, o Instagram só perde o posto para o WhatsApp, conforme aponta a pesquisa Digital.

infelizmente, estudos já relacionam o uso excessivo das redes a problemas de saúde. “a imposição de modelos de estética pessoal e estilos de vida, por exemplo, está relacionada a problemas psicológicos, como a tendência a desenvolver depressão”, aponta uma publicação do Senado Federal brasileiro. segundo os dados da mesma publicação, entre 2020 e 2022, houve um aumento de 31% no tempo médio que os brasileiros passam nas redes.

filtros do instagram

CADÊ A FOTO DE PAISAGEM COM FILTRO SÉPIA QUE ESTAVA AQUI?

diante desse cenário, não apenas aqueles que vivenciaram o início do Instagram se sentem nostálgicos em relação ao seu objetivo inicial. para quem não sabe, a palavra “Instagram” é uma combinação dos termos “instant camera” (câmera instantânea) e “telegram” (telegrama), que remete à captura e compartilhamento de fotos instantaneamente. porém, o primeiro nome da rede foi “Burbn”, e seu objetivo inicial era se tornar um aplicativo de check-in semelhante ao Foursquare, que tinha um sistema de pontos para premiar quem saísse com amigos.

ao ser lançado no Brasil e em outros países, nos acostumamos a apreciar fotos de animais fofos como cães e gatos domésticos, fotos de comida e paisagens com os antigos filtros da rede. contudo, agora, pessoas diferentes, de faixas etárias variadas, estão demonstrando cansaço com o uso da plataforma e migrando para redes vizinhas ou até mesmo usando a rede social de forma alternativa, criando um perfil onde apenas pessoas “autorizadas” podem acessar os conteúdos. parece que o jogo mudou, não é mesmo? extrovertidos estão preferindo a discrição, ou, no mínimo, algumas pessoas não estão dando conta de uma rede social que oferta múltiplas funções, tais como publicações de foto única, carrossel, espaço para trocar mensagens diretas, entrega de conteúdo patrocinado e muito mais.

após o termo #daily se tornar viral, até eu, I’sis Almeida, fundadora e diretora do Portal Black Fem, comecei a buscar informações mais aprofundadas sobre a tendência. no entanto, apesar de me deparar com inúmeras publicações, a maioria delas partia do princípio da experiência de jovens com seus perfis privados (dos quais pessoas desconhecidas não têm acesso).

⚠️ [ALERTA DE GATILHO NOS PRÓXIMOS PARÁGRAFOS] ⚠️

com o processo de imersão e pesquisa, também me lembrei de um primo que infelizmente minha família perdeu para a depressão no segundo semestre de 2023, e que provavelmente teve um #daily em vida – talvez porque nunca tive acesso ao perfil privado indicado na bio do público – não fui uma das pessoas selecionadas em sua curadoria de “íntimos”, motivo pelo qual me senti extremamente culpada durante um longo período.

me questionei em muitas noites “por que não cliquei naquele perfil?” “por que não solicitei seguir?” “por que não me predispus a acessar sua intimidade?” “e se eu tivesse seguido, será que me depararia com conteúdos que expressavam seus pedidos de ajuda? ou não?” “as aparências desse perfil me enganariam tal como a do perfil público confundiu muita gente?” “será que ele se sentia seguro naquele perfil e com aquelas pessoas selecionadas para estar nele?” perguntas que nunca terão respostas. então, decidi criar o meu daily. queria entender que sensações um perfil privado e que não fosse dedicado a informações profissionais poderia me causar. o resultado, para mim, foi positivo.

no daily, encontrei um espaço seguro dentro do Instagram onde me sinto confortável em compartilhar partes da minha vida pessoal que jamais seriam compartilhadas em meus vários perfis públicos, que são, em suma, profissionais. encontrei um “lugar” onde me sinto acolhida e menos julgada, desnorteada – é assim que me sinto, por exemplo, no TikTok, ainda que eu seja uma GenZ. ali, no meu daily, que sequer tem minha identificação no perfil, e creio que tenha adicionado e liberado solicitações de no máximo dez pessoas para seguir.

isso não é um daily

infelizmente, mais recentemente, comecei também a observar uma cooptação da ideia do #daily por influenciadores majoritariamente brancos, utilizando a lógica da tendência só que em perfis abertos. o que retira toda a essência do daily e recai sobre a lógica dos perfis de #lifestyle (aquele que podemos chamar também de “aqui escancaro a minha vida e sou monotemático, falo só sobre mim”. mas fica o alerta: se você posta a sua vida, seu dia a dia nas redes sociais, em um perfil aberto e ainda por cima, para muitos seguidores, #issonãoéumdaily. se você faz um daily bonitinho, que tem um asthetic e um planejamento de publicação, #issonãoéumdaily. você apenas mudou o nome do que você faz a fim de captar recursos e se tornar um influenciador ou para reforçar a influência que você já tem através da tendência.

quem sabe em breve, a gente continue batendo esse papo com mais dados e mais impressões sobre o tema.

Portal Black Fem

(@portalblackfem) é uma startup de jornalismo e design de soluções focada em conteúdo para meninas e mulheres negras. é premiada pelo Google News Initiative (GNI) Startups Lab de 2023 – importante programa de aceleração de jornalismo do país.