pode ser que você não esteja preparado para esta notícia, mas Julices chegou ao fim. hoje, teremos uma edição especial de despedida para discutir um assunto importante: nossa zona de conforto.

sair dela é como trocar uma cama quentinha e acolhedora, que se moldou ao seu corpo, por uma tábua de pregos repleta de riscos e incertezas. isso pode soar um tanto assustador, não é?

uma vez li que a zona de conforto é a assassina do nosso potencial. essa afirmação é certeira! o desconhecido, esse monstro temido, pode parecer como uma história de terror quando compartilhada ao redor de uma fogueira, e nosso crescimento – tanto pessoal quanto profissional – fica contido por uma coleira.

a jornada para fora desse espaço seguro pode se manifestar de diversas maneiras, desde reavaliar relacionamentos e mudar de emprego até trocar de cidade (ou até mesmo de país) ou simplesmente experimentar um prato novo em seu restaurante favorito. aproveitando o clima da fogueira, vou compartilhar minha história.

quando comecei a namorar meu marido, há quase uma década, decidimos experimentar algo fora do comum. usamos um cupom de desconto para visitar uma pizzaria chique, que normalmente ficaria fora do nosso orçamento limitado na época. estávamos muito animados – e famintos!

os sabores das pizzas não eram muito diferentes do que conhecíamos, mas as sobremesas eram uma verdadeira explosão de cores e sabores exóticos. eu, com um paladar mais infantil, escolhi a opção mais familiar do menu: um petit gateau com um picolé Magnum por cima. por outro lado, meu namorado via a escolha do prato como um desafio e optou por uma sobremesa recheada com frutas, um creme branco bastante azedo e diversas especiarias. eu experimentei e torci o nariz.

confesso que essa dinâmica persistiu por algum tempo no nosso relacionamento até que um dia uma porta grande e pesada começou a se abrir lentamente: meu medo do novo.

pouco tempo depois, enfrentei minha primeira grande experiência longe do meu ambiente habitual, quando mudei de país graças a uma bolsa da faculdade. meu novo lar era um apartamento antigo, frio e vazio, onde moraria completamente sozinha por algum tempo.

quando cheguei, com a temperatura próxima de 0ºC, percebi que não tinha agasalhos suficientes e muito menos aquecimento na casa. a falta de internet e televisão também foi um choque. e eu não conseguia evitar a pergunta “o que estou fazendo aqui?”. senti frio, medo, solidão, tédio, raiva e angústia.

no entanto, com o passar dos dias, comecei a encontrar alegria nas pequenas coisas. criei estratégias para enfrentar o frio, como aquecer minhas meias com o secador de cabelo. fazia longas caminhadas para passar o tempo e explorava os supermercados, maravilhando-me com produtos diferentes. descobri um sabonete com uma fragrância que ainda consigo sentir se me concentrar na memória do momento. tomar banho tornou-se um evento, tanto pelas minhas táticas para driblar o frio quanto pela experiência de experimentar novos cheiros e texturas. descobri que experimentar coisas novas poderia ser divertido. minha vida continuou assim, com desafios culturais e momentos de saudade misturados com a alegria de descobrir um mundo além da minha zona de conforto.

e eu me senti viva.

agora estou novamente diante de um novo desafio, sem cinto de segurança, e as pessoas me perguntam se estou animada. a verdade é que estou em pânico. e essa sensação é incrível. é um paradoxo, não é?

meu conselho para todos vocês? voem! deixem-se levar por aquele frio na barriga, pelo embrulho no estômago, e vivam uma vida plena.

obrigada por tudo, wee.

sentirei saudade!

com muito amor,

Julia Silvestrow