antes de começar, preciso dizer que a news de hoje não é feita pela Bruna, diretora de criação da wee!. ela é escrita pela Bruna, mulher negra, inserida no mercado publicitário, e que acredita que precisamos falar sobre racismo em todos os meses, mas que também sabe que em novembro todo mundo espera que a gente fale disso.

falar sobre racismo na publicidade nunca foi confortável. e não deveria ser. a transformação de estruturas historicamente excludentes exige desconstrução, e isso dói. mas o que dói mais é perceber que, enquanto alguns avanços foram feitos, a luta por inclusão racial no nosso mercado tem perdido força. e como pessoa negra em posição de liderança, acredito que precisamos falar sobre isso também aqui.

EU SINTO NA PELE, MAS TAMBÉM NOS DADOS

historicamente, a população negra tem sido mal representada na publicidade. um estudo realizado pela Heads Propaganda em parceria com a ONU Mulheres revelou que, em análises de comerciais veiculados em canais de alta audiência, homens brancos protagonizaram 84% das campanhas, enquanto mulheres brancas ocuparam 74% dos papéis principais. em contrapartida, as mulheres negras apareceram em apenas 22% das peças publicitárias e os homens negros em apenas 7%. esses números evidenciam não apenas a falta de representatividade, mas também o modo como as pessoas negras são frequentemente retratadas.

PARECE QUE A INCLUSÃO ESTACIONOU

a promessa há alguns anos era de mudança. empresas declararam compromissos públicos em prol da diversidade e inclusão racial, com campanhas que geraram buzz. só que, três anos depois, o entusiasmo arrefeceu. a falta de continuidade desses esforços é um reflexo de como o mercado encara diversidade como tendência, e não como necessidade.

quer um exemplo real? tente comparar a quantidade de conteúdos relacionados à raça que você tem acesso em novembro, com os conteúdos em março. e daí vem uma revelação que pode surpreender muitas marcas e o cenário publicitário: existem pessoas negras o ano inteiro (se não ficou claro, contém ironia).

PARA ONDE VAMOS?

a publicidade precisa sair do campo das boas intenções e entrar no território da ação estratégica. diversidade não pode ser só um case premiado. ela precisa estar presente na estrutura das empresas, na liderança, no casting e nas campanhas. e isso não é só sobre responsabilidade social – é sobre relevância e conexão com uma sociedade que exige mudança.

para mim, a grande pergunta é: como a publicidade pode recomeçar esse movimento com mais força e comprometimento genuíno? porque o mundo não parou de ser racista. então, por que nós, como mercado, paramos de lutar?