certa vez eu contei aqui na news que quando chega alguém novo na agência temos um onboarding onde somos provocados a falar sobre nós, do que gostamos, uma curiosidade e por aí vai.

toda vez que acontecem essas apresentações, eu começo dizendo: “eu sou Bruna do Carmo, mulher preta de Salvador”. isso é a primeira coisa que eu quero que saibam sobre mim, pois acho que é a parte fundamental: meu nome (representa minha família), como me identifico enquanto raça (representa minha ancestralidade) e minha cidade (representa minha cultura). como disse, acredito que essas informações são a base de tudo o que eu sou, mas eu não sou só isso.

a vontade de escrever sobre esse tema na news surgiu depois que eu vi duas postagens: uma da Monique Evelle falando que as marcas só estavam esperando chegar novembro para trazer pessoas negras para a comunicação ou debater assunto sobre negritude, e outra do Spartakus Santiago mostrando como em junho (mês do orgulho LGBTQIA+) ele ganhava vários recebidos e convites, já nos outros meses, quase nada.

fora toda a discussão sobre o que as marcas estão fazendo efetivamente pelos grupos minorizados ou se só querem holofotes, isso me fez pensar muito como o outro (pessoas e marcas) enxergam os diferentes grupos apenas por um recorte do que eles são. eu acho imprescindível que pessoas negras falem sobre racismos, lgbtqia+ falem sobre homofobia, pcds falem sobre acessibilidade, mas em todos esses grupos existem pessoas que sabem muito sobre outros temas.

eu, por exemplo, adoro falar sobre temas relacionados às pessoas negras, mas também quero ser vista como alguém que pode contribuir quando o assunto for poesias ou livros de mistério. enxergar o outro para além das bandeiras que ele levanta, é demonstrar que enxerga o indivíduo por completo e respeita o que ele é, e não apenas o que ele pode te oferecer como fonte de conhecimento. 

importante lembrar que local de fala e protagonismo existem e devem ser sempre priorizados, então chamem as pessoas para os debates e conversas, mas lembrem-se que existem outros recursos para aprender sobre os assuntos além do seu amigo, familiar ou colega. tenha em mente que pode ser ruim para essas pessoas sempre ter que reviver momentos dolorosos só para satisfazer a sede de conhecimento dos outros.

todo mundo tem muito a ensinar e aprender. não deixe que rótulos limitem seu olhar sobre o mundo.

beijocas e até a próxima.

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