semana passada eu fiz a minha quinta tatuagem. com certeza essa é uma informação que não agregou nada na sua vida, mas já que você abriu esse e-mail [motivo pelo qual já sou muito grata] fica aqui para eu te falar porque quis te contar isso.

todas as minhas tatuagens têm significados muito importantes, [além de todas terem o desenho de um coração, não me perguntem o motivo, quando vi já era um padrão] mas essa representa algo muito maior do que a minha pessoa. representa a história e os sonhos que carrego comigo. encontrei na letra da música “trevo, figuinha e suor na camisa”, do Emicida, a frase que resume o motivo pelo qual eu acordo todos os dias, e então tatuei:

“EU SOU O SONHOS DOS MEUS ANCESTRAIS”

como vocês sabem [e se não sabem, é só olhar a minha foto no final dessa news] eu sou uma mulher negra, e como disse a personagem da Taís Araújo no filme Medida Provisória “a mulher negra é a mula do mundo”. somos nós que cuidamos nos filhos (nossos e dos outros), que precisamos abrir mão das nossas vontades para satisfazer outros, que somos vistas como serviçais até quando não há uma relação de poder. se é assim que o mundo me vê, eu decidi não aceitar esse lugar e quero ser vista pelos olhos de quem realmente importa: quem me fez chegar até aqui.

ser os sonhos dos meus ancestrais, significa que cada vez que eu conquisto alguma coisa é por cada mulher preta que veio antes de mim e precisou deixar o filho em casa chorando para cuidar de outra criança. é provar que o sonho da liberdade [não só física] dos escravizados se tornou real. é saber que minha mãe limpou a escola onde eu estudava para ganhar desconto na mensalidade e hoje eu estou graduada.

SÓ QUEM PASSOU A SUA SEDE, PODERÁ BEBER DA SUA ÁGUA

eu poderia ter aceito o meu lugar de “mula do mundo” e simplesmente seguir cumprindo o papel que esperavam de mim, porém, se não são essas pessoas que construíram a sangue e suor – literalmente – a minha estrada, porque eu deveria ser o que elas querem? como posso dar mais atenção ao pensamento de quem me renega ao invés de honrar quem fez a escada para eu subir?

esse texto fala sobre mulheres e negritude porque é onde tenho protagonismo, mas ele serve para qualquer pessoa, é só você se perguntar: “ eu estou vivendo para ser o sonho de quem?”. se questione qual legado você recebeu e qual você quer deixar no mundo. seja o sonho de quem realmente sonhou com você.

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